terça-feira, agosto 01, 2006

A AREIA GROSSA DA PRAIA DE BOGARY

Um dos clichês mais imbecis sobre a Bahia - e mais largamente disseminados pelos meios de comunicação locais, oficiais ou não - é que aqui, se mescla muito - e bem - tradição com modernidade. Fico sempre meio atônito quando neguinho vem com essa conversa. Não sei de onde essa gente tirou essa noção, tamanho o disparate. Será que é dos discos do genial Carlinhos Brown? Das experimentações eletrônicas de Daniela Mercury? Bom, viagens alucinantes à parte, que agradável é constatar que o talento de Fábio Cascadura, provavelmente o maior nome do rock baiano desta década (e da passada também?), só amadurece e se cristaliza com o passar dos anos. E mais agradável ainda é perceber com que destreza, inteligência e talento genuínos ele consegue fazer o cruzamento - a mescla, enfim - do rock setentista que norteou seus dois primeiros discos (ainda nos anos 1990), com as influências contemporâneas que ele vem agregando à banda, de Vivendo em grande estilo (2003) para cá. Ouvindo Bogary, o fã mais esperto e escolado percebe perfeitamente que as generosas e tradicionais doses de Thin Lizzy, Humble Pie, James Gang e Allman Brothers agora convivem em deliciosa harmonia com fartas porções de Queens of the Stone Age, Teenage Fanclub e Strokes, entre outros sons de anos mais recentes. Isso sim, senhoras e senhores, é mesclar tradição com modernidade à vera. Imagino que valiosos pontos nessa concepção exata - e enxuta - de Bogary devem também ser creditados aos parceiros de Fábio: os produtores andré t e Jô Estrada e seu baterista e parceirão Thiago Trad. O negócio tá tão bom e redondo, que não fiquei nem um pouco surpreso de não encontrar, ao longo de todo o álbum, a exceção à regra, aquela faixa de que não gostei - Vivendo em grande estilo tinha Sparkle girl, confesso. Aqui, isso não há. Claro que tem aquelas que a gente sempre gosta mais e outras, que gosta menos, mas, neste aqui, de um modo geral, dá pra pirar com todas as faixas. Como não se render à pegada beatle-byrdiana de Mesmo eu estando do outro lado, que ainda conta com o auxílio luxuoso de Morotó Slim na steel guitar? À melodia pegajosa (no melhor sentido da palavra) com levada irresistível de 12 de outubro? Ao romantismo deslavado e absolutamente sedutor de Juntos somos nós? Ao melotron de andré t em Onde aprendeu a andar (que eu jurava que eram cordas de verdade, só sei que é um melotron por que tá na matéria da Outracoisa, já que essa edição do disco veio sem encarte), uma outra pérola de melodia celestial. Claro que Bogary não é só balada. O nível se mantém nas faixas de andamento mais agressivo, sem quedas bruscas na qualidade geral do disco.Se alguém o ver parado abre Bogary com uma paulada na orelha do ouvinte. Senhor das moscas e Ele, o super-herói são outros coices nos colhões. O que dizer do drive épico de Desconsolado, com seu coro final à la Brian Wilson e letra perfeita: "Mas há um Deus / que muitos tentam me vender / e que não nos conduz / Justo por que / quase nunca ele nos vê / cego com a própria luz / Como acreditar nisso / que castra / que pune / que mata (...) Deus de medo e castigo / E o medo pra mim é a danação"? O fecho com o dixieland de Adeus, solidão! é a cereja do bolo, um derradeiro e melancólico brinde (de uísque, claro) com o feliz ouvinte. Diante de Bogary, mentes mais simples (como a minha) ficam a divagar: como é possível: a) alguém fazer rock tradicional, sem mistura de ritmos, b) na Bahia, a meca do pagode rasteiro, c) nos dias de hoje, d) muitas vezes, falando de amor e e) ainda soar maravilhosamente bem? Talvez a resposta - nem gosto muito de ficar citando jornalista, mas foda-se, isso aqui é só um blog - esteja neste trecho da matéria de Luiz César Pimentel na Outracoisa - que é bom lembrar, botou essa jóia nas bancas de todo o Brasil, a preço justo: "Quando as canções terminam, parece que elas sempre existiram. E na realidade, sempre existiram mesmo - compositores com esse talento apenas as extraem do inconsciente coletivo, qual fenômeno sobrenatural".

PS: E quanto àqueles que ainda confundem mescla com merda, meu conselho à eles é que sigam o dito do mestre Wilson Melo escondido no finalzinho do disco e façam bom proveito da areia grossa da praia de "Bugary". Areia grossa por que fica na península, na baía. Na costa oceânica, a areia é mais fina...

CASA DOS HORRORES É PINTO - Pilha total pra assistir esse novo filme da dupla Robert Rodriguez / Quentin Tarantino, Grind House. Para quem ainda não sabe, trata-se de um filme de duas horas dividido em dois médias metragem de cerca de uma hora cada, sem nenhuma ligação entre as duas histórias. O de Tarantino chama-se Death Proof, e é um "terror com psicopatas". Já Planet Terror é um "horror com zumbis" (YESSSSS!!!), dirigido por Rodriguez. E é dessa metade do filme o espetacular pôster aí do lado, com a atriz Rose McGowan envergando a prótese mais invocada de todos os tempos. Entre um episódio e outro, diz que vão rolar alguns trailers fictícios, que dependendo da recepção do filme, podem (ou não) serem transformados em novos filmes para os Grind House 2, 3... A onda, como não poderia deixar de ser, é retrô total, com aquela estética suja dos filmes de terror dos anos 70. Grind House estréia dia 6 de abril nos EUA. Ainda não há data de lançamento no Brasil. Leia mais detalhes sobre Grind House aqui.

AGENDÃO

Todas as Terças - Noites de Blues - Agora o fiel público de Blues já tem um encontro marcado todas às terças feiras a partir do dia 1º de agosto de 2006.O Objetivo do projeto é trazer com força total a cena do blues baiano, onde contaremos semanalmente com a presença da Banda do gaitista Luiz Rocha e a proposta é trazer semanalmente um convidado para dividir o palco, os melhores e os mais conceituados cantores de Blues de Salvador Horário : 21:00hs, Bond Canto (Travessa Lídio Mesquita - Nº51), Ingresso:10,00(Mulheres) e 15(Homens) - Consumação mínima R$10,00

ZecaCuryDamm - banda baiana que está conquistando uma legião de fãs apaixonados pela boa música, pelo rock, pela sonoridade flower.Depois da apresentação, DJ e festa sem hora para acabar. 05.08 Sábado, Horário: 21:30 hs. Ingresso: R$ 10,00, com direito a uma cerveja. Casa da Dinha, (Lgo. de Sant'ana, Rio Vermelho)

Terreiro Circular - Lampirônicos, Mosiah e participações de Vjs e Djs, SÁBADO, 05.08, Horário: 22:00 Ingressos: R$ 15,00 (R$ 20,00 depois de meia noite), Horário: 22h00, Ingresso: R$ 15,00 (até meia noite) e 20 (0:01h), Záuber (Ladeira da Misericórdia, atrás da prefeitura).

Brinde, Starla e Matiz - sábado, 05.08, Dublinners? Irish Pub (Porto da Barra).

OTTO (e banda) DE GRÁTIS - Domingo, 06.08, no Parque da Cidade, 11h.

16 comentários:

cebola disse...
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cebola disse...

Captou, mestre chico.
Cascadura botando pra fuder com areia grossa.
Sem apelar pra atabaques, agogô, afoxé e berimbau, nem minha Bahia linda e mano Caê.
Recomenda-se, após Bogary, só pra ficar na letra "B" da seleta lista do rock perfeito:
Doses cavalares e sem pudores de Byrds, Big Star, BadFinger e, é claro, Beatles!

Reclame publicitário:
Logo mais, no www.oculosdecebola.blogspot.com, entrevista exclusiva com um outro Fábio gênio: O Golfetti, da melhor banda da década de 80 prá cá: Violeta de Outono!!

Franchico disse...

Porra, Cebola, cê cursou a faculdade errada, man! Tá apavorando, mô pai!

Franchico disse...

Ô Miguel, não sabia que aquele grafite "axé music" era seu, não malandro! Pirei qdo o vi pela primeira vez, na ladeira do Calypso, muito legal. E parabéns pelo blog, que tb está bala! Abraço!

Nei Bahia disse...

Quanto ao Cascadura, não vou chover no molhado, esse avião tem que voar já!!

Em tempo:
OTTO NEM DE GRAÇA!!!

osvaldo disse...

grande chico, excelente a analise do disco, fabio tava ontem no ya dog na mtv e fez show ontem mesmo com os cachorros grande, mais tarde noticias sobre a parada, sacumé neguinho ta dormindo ainda.

Franchico disse...

porra perdi esse ya dog com os Cascas! Brama, cê teria com conseguir aquele programa da Trama pra nóis vê? será que rola no you tube ou algo assim?

Nei, vamo lá tomar umas cerva domingão ao som do (pr)Otto(zoário) de grátis, pô! larga mão de ser murrinha! "já estive em acidente / capotei / parei num canavial"...

mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas disse...

chico, pode ver o programa da página da trama virtual, na seção de vídeos, procure por visitando a cena: salvador, coisa assim...

www.tramavirtual.com.br

Franchico disse...

Valeu, Miwky!

Franchico disse...

Fui lá, na página do programa e em Visitando a Cena, só tem um trecho com Gilberto Monte apresentando um projeto social lá, que eu não sei qual é por que não tenho como ouvir o áudio. Quem quiser ver, o end. é esse:

http://www.tramavirtual.com.br/naTvDetalhe.jsp

osvaldo disse...

o show dos cascas foi na terça no clube belfiori, novo point do rock, com os cachorros e a fresno, com candinho e nego play e foi foda por todas as resenhas, falta o casca emplacar nas radios, mas ai eh outro departamento

Franchico disse...

Departamento financeiro, né Brama?

mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas disse...

oxe, tem dois links pra visitando a cena salvador, vc está no primeiro, na ordem de leitura.

mas se ligue: é na seção de vídeos da página da trama virtual

Franchico disse...

Achei, Miwky! Consegui ver, finalmente, ficou legal mesmo!...

cebola disse...

novo post no www.oculosdecebola.blogspot.com. Visitem.

Franchico disse...

Retificaçãozinha tardia: no trecho "agora convivem em deliciosa harmonia com fartas porções de Queens of the Stone Age, Teenage Fanclub e Strokes, entre outros sons de anos mais recentes", onde se lê Strokes, leia-se Foo Fighters...