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terça-feira, dezembro 27, 2016

THE HONKERS COMEMORAM 18 ANOS COM SHOW SEXTA, NO NHL ESPECIAL

Rogério, Brust, T612, Tripa 77 e Sputter, em foto de Jane Figueiredo
The Honkers, a melhor banda de rock de garagem do Brasil, já pode ser considerada patrimônio cultural da Bahia.

Ícone da cena, a banda liderada pela figuraça / vocalista / poeta / filósofo de bike Rodrigo Sputter Chagas comemora 18 anos com um super show nesta sexta-feira, com Ivan Motosserra, Fracassados do Underground e DJ Ivan Motosserra.

O show marca o fim de um ano meio sabático para os Honkers, sendo apenas o segundo que eles fizeram em 2016 – o primeiro foi em junho.

Para 2017, Sputter, Felipe Brust (guitarra, voz), T612 (baixo), Rogério Gagliano (guitarra) e Tripa 77 (batera) vão tentar lançar um álbum novo, prometido há tempos.

Mas agora, a ideia é lavar a alma deste ano caótico.

“Vamos expurgar vibrações negativas e fazer com que não criemos musgo e vamos rolar por aí, ladeira acima. Tocar, tocar e tocar. Ver as pessoas dançar e tirar a caretice que está impregnada em alguns setores do rock”, promete Sputter.

Caos, destruição e diversão

Carecas barrigudos desdentados by Jane Figueiredo
Uma das últimas bandas da geração 1990 ainda em atividade, os Honkers chegam aos 18 com fôlego para mais 18, garante o vocalista.

“Fôlego tem, não sei saúde. Chegamos aos 18 barrigudos, sem grana, carecas, sem dente. Mas com um tesão da porra em cima do palco. Coloque-nos em cima do tablado e saberemos como destruí-lo”, diz.

Do alto de quase duas décadas de atividades, é hora de fazer um balanço da trajetória da banda.

“Difícil dizer quantos shows, cidades e estados nós tocamos, pois no Brasil só não tocamos na Região Norte, mas com certeza foram centenas, não duvido ter chegado aos quatro dígitos. Tocamos no Brasil e na Argentina, agora convites pra tocar por esse mundo não faltou, falta é $$ pra ir. O balanço é positivo, pelas amizades que fizemos com as pessoas e bandas, nos divertimos muito, tanto é que nunca enjoamos de subir no palco, toda vez que subimos parece que é a primeira vez e a última, pois tocamos numa intensidade como se não houvesse amanhã. Gostaríamos de ter ido mais longe do que fomos, mas as dificuldades são tamanhas, muitas vezes além do que sonhamos / desejaríamos. Mas posso dizer sem tiração de onda, que por onde passamos, deixamos nossa marca e as pessoas pensando 'que diabos foi isso que aconteceu no palco???'”, afirma.

Formada em 1998, os Honkers são hoje uma das últimas bandas formadas naquela década ainda em atividade.

"Creio que da metade dos anos 90 pro final, que ainda tá na ativa junto conosco, e nunca parou, é a Modus Operandi (se não me engano, os caras tem 20 anos). A Declinium creio que tem a nossa idade, mas nem mesmo os caras sabem dizer ao certo o tempo de banda deles, então fica difícil calcular. De 1998 pra cá, tanta coisa mudou, melhorou, piorou... O que me intriga tanto é como que a tecnologia ajudou tanto as bandas, as pessoas, a terem acesso, se conectarem, pesquisarem, sem precisar sair de casa, do celular, sem ter que escrever carta, pagar interurbano caro, juntar um trocado pra comprar um disco, gravar uma fitinha K7, imaginar como era tal banda e tal disco. Mas, ao mesmo tempo, não saem de casa para ir num show, não se encontram ao vivo pra ver as ruas, trocar uma ideia, enxergar o mundo lá fora. Antes, ir numa loja de discos era uma coisa inimaginável para as pessoas jovens de hoje, mas, toda vez que você ia, conhecia alguém, idéias novas, um universo se abria. Hoje, temos o universo em um clique, mas a mente fechada no mesmo instante. Alguns vão dizer que é perigoso sair na rua, mas antes era madrugar, dormir no ponto, pegar um milagroso pernoitão perdido na noite. Hoje em dia, com tantos carros engarrafando as ruas, aplicativos para chamar veículos para te levar em sua residência e as pessoas preferem ficar entulhadas, enclausuradas, fazendo sabe-se lá que diabos em casa. Enquanto o mundo gira ao seu redor. As pessoas antigamente, por mais difíceis que fossem as informações para se acessar, eram mais antenadas do que hoje em dia, se não eram, desculpe-me, prefiro um anos 90 'ilhado' do que um século 21 'enclausurado' no seu celular. Contato humano muitas vezes zero, creio que por isso o povo do rock atual tá nessa onda reacionária, não conhece as ruas sinuosas, o povo de sua cidade. Sem contato humano e vive arrotando pseudo-filosofia de facebook. Seja offline, seja herói", discursa Sputter.

"Em termos de importância histórica, a tour que fizemos de carro em 2005, saindo do bairro de Roma (Cidade Baixa) e indo parar em Pilar (na argentina), rodando o Brasil 'todo' (com exceção da região Norte) foi algo inédito até então. Cinco caras numa Santana Quantum, com cinco malas, três guitarras, dois baixos, ampli, ferragens de batera e outras bugingangas, creio que nenhuma banda nacional tinha feito, depois, um monte fez, mas nessa pegada de viajando 38 dias e tocando, nunca tinha ouvido falar antes. Só não fomos até Uruguai e Paraguai porque os shows terminaram sendo cancelados, mas de Roma até Pilar, o universo era pequeno e o infinito nos esperava. Sobre o (nosso momento) menos glorioso, penso em que ontem foi uma porcaria e amanhã vai ser excelente, o que foi ruim passou, tocar dia 30 (e tocar mais ainda em 2017) vai ser mágico. A formação atual tá com uma pegada monstra, mais punk impossível, nunca tocamos tão alto e rápido, nem parece que alguns membros da banda já passaram dos 40 e eu tou quase lá. PJ, o membro honorário da banda e nosso oráculo, já tá com 50, por isso pra ele sair da Cidade Baixa fica difícil, só aparece nos momentos especiais", conta.

O colunista é testemunha. Depois dos Dead Billies, os Honkers sempre fizeram os shows mais arrasadores e imprevisíveis. Não raro, Sputter termina o show pelado, entre escombros.

“'Sempre diferente, sempre o mesmo', é o lema da Fred Perry, conosco não é diferente. Nem mesmo O Sombra sabe o mal que habita na apresentação dos Honkers. Então é ver pra crer, caos e destruição, diversão garantida. Leve sua armadura e se jogue no meio da esbórnia. Mas ninguém vai se machucar. Não seriamente, pois há respeito e amizade em nossos shows. E vamos tocar uma baladinha, pra poder refrescar os corações”, conclui.

NHL ESPECIAL / The Honkers, Ivan Motosserra, Fracassados do underground e DJ Ivan Motosserra Pamponet / Sexta- feira (30), 22 horas / Dubliner’s Irish Pub / R$ 10 (poste seu nome na página do evento), R$ 15



NUETAS

Big Niver é hoje

O aniversário de Rogério Big Bross é só dia 30, mas o homem aproveita seu evento Quanto Vale o Show? e comemora hoje mesmo. No palco do Dubliner’s, Martin (guitarrista de Pitty) com Cadinho Almeida (baixo) e Leo Bittencourt (bateria), mais Du Txai & Os Indizíveis e DJ Bruno Aziz. 20 horas, no Dubliner’s, pague quanto quiser.

Minha 400ª coluna

Por coincidência, a última coluna Coletânea de 2016 é também a quadricentésima assinada por mim desde que assumi este espaço em 2008, ainda no saudoso Caderno Dez!. Sim, tenho as 400 registradas e arquivadas. Iniciada na década passada por Luciano el Cabong Matos, por aqui já passaram também Ricardo Cury, Mário Jorge Heine, Lucas Cunha e Gabriel Serravale. Da MPB ao death metal, a Coletânea é o lar da música independente. Espero poder continuar dizendo isso daqui a um ano. Feliz 2017!

quarta-feira, dezembro 21, 2016

SURGEM OS REIS DA RUA

Documento em quadrinhos do surgimento de uma cultura, o álbum  Hip Hop Genealogia traça as origens do movimento que mudou a cara da arte pop

Bronx, meados dos anos 1970. Kool DJ Herc usa duas pick-ups pela 1ª vez
O momento de nascimento de uma cultura é sempre controverso, cheio de versões conflitantes e contradições.

Em Hip Hop Genealogia 1970’s - 1981, o quadrinista norte-americano Ed Piskor oferece sua versão do estabelecimento dessa cultura nas ruas de Nova York.

Antes de tudo, vale ser didático. Hip hop é uma cultura urbana que engloba música e poesia (rap), artes visuais (grafite), dança (break), moda e ativismo político através da conscientização dos povos de origem africana quanto à sua condição de explorados.

Em Hip Hop Genealogia, Piskor parte de uma modesta, porém bem fundamentada bibliografia de seis livros sobre o tema, para montar um grande e detalhado painel, no qual segue as trajetórias paralelas (às vezes entrecruzada) dos principais personagens dos primórdios do hip hop.

O plus é a estética com que Piskor embala sua reportagem. Sua arte é um misto de influências dos quadrinhos dos anos 1960 e 70, tanto mainstream (Marvel, via Jack Kirby) quanto underground (o onipresente Robert Crumb).

Para aproximar ainda mais sua arte de suas influências, as páginas são artificialmente amareladas e a impressão, reticulada (pontilhada).

Tudo para dar a impressão de que se está folheando uma revista em quadrinhos dos anos 1970.

O resultado é uma HQ dinâmica e colorida, que enche os olhos ao tempo que ilustra o leitor quanto às figuraças que iniciaram o hip hop, suas andanças  e peripécias.

Não a toa, a série da Netflix The Get Down, sobre o mesmo assunto, tem a HQ de Ed Piskor como uma de suas fontes.

A edição da Veneta em parceria com o coletivo Sumário de Rua é de luxo, com capa dura, papel de alta gramatura, prefácio de Emicida, bibliografia, discografia básica, índice remissivo, pin-ups de astros do rap por artistas convidados  e outros extras.

Vale destacar também o trabalho de  tradução de Mateus Potumati, que adaptou o palavreado das ruas do Bronx dos anos 1970 para a gíria corrente do hip hop brasileiro, aproximando a obra do seu publico leitor contemporâneo.

No final do livro, o leitor ainda encontra os textos originais em inglês dos raps apresentados na HQ, possibilitando a comparação de um e outro.

Impacto social

Quem só curte o rap contemporâneo talvez se decepcione um pouco com  Hip Hop Genealogia. O que  é um alívio.

Kanye West e sua megalomania egocêntrica ainda eram um sonho muito distante quando Kool Kerc, DJ das festas mais loucas do Bronx em meados dos anos 1970, começou a chamar a atenção com sua técnica de loops infinitos, influenciando outros manos em sua quebrada, como Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa.

Ciente do poder incendiário das batidas na pista de dança, esses e outros DJs se aplicaram cada vez em técnicas de sampling, scratching e demais truques para levantar o povo.

Além disso, Bambaataa, especialmente, foi um dos primeiros a notar o impacto social afirmativo do nascente movimento em um ambiente dominado pelo gangsterismo.

O próprio Bambaataa, então líder de uma das gangues mais temidas do bairro, os Black Spades, se vale de sua liderança natural e de seus beats para dissolver a gangue, convertendo-a no primeiro coletivo do hip hop, Zulu Nation.


Outro ponto de interesse no livro é o aprofundamento que Piskor dá à questão do grafite e sua transmigração dos muros da cidade para as galerias de arte.

A figura central aí, desconhecida para os brasileiros que não militam nesta área, é  o grafiteiro Fred Fab Five Brathwaite – que assinava como Bull 99 nas paredes do bairro de Bedford-Stuyvesant.

Neto do pioneiro ativista  jamaicano Marcus Garvey (1887 - 1940), Fred matava aulas para frequentar galerias em Manhattan – e foi o primeiro a notar que a pop art de Roy Lichtenstein (1923 - 1997) não era muito diferente dos murais de grafites underground que pipocavam pela cidade.

Expressão legítima de um povo, o hip hop transcendeu suas origens, foi cooptado pelo sistema e se comercializou – assim como o samba, o rock, o punk e outras expressões revolucionárias.

Porém, assim como o samba, o rock e o punk, seus ideais intactos sobrevivem no underground – aquele mesmo de onde surgiu.

Hip Hop Genealogia / Ed Piskor / Veneta - Sumário de Rua / 128 páginas / R$ 99,90 / www.lojaveneta.com.br



terça-feira, dezembro 20, 2016

TRIO PSICODÉLICO BAGUM É BOA APOSTA PARA 2017

Rapaziada da Bagum, em foto de Liz Dórea
Apesar de ser uma banda novinha no cenário local, o trio instrumental Bagum já andou mostrando a que veio.

Formada em janeiro último e com apenas um EP de duas faixas lançado, Dá Um Tapa e Corre, os meninos estão prestes a lançar mais um, enquanto se preparam para se apresentar em seu primeiro grande festival, o No Ar Coquetel Molotov, dia 14 de janeiro,  ao lado de nomes como Ava Rocha, O Quadro e Boogarins, no Museu Du Ritmo.

“Aconteceu uma indicação baseada em opinião popular. A partir daí, a produção do festival nos ouviu na coletânea da NHL Music e nas nossas plataformas online e entraram em contato com a gente”, conta o baterista Gabriel Burgos.

“Estamos felizes com o convite e ansiosos pra ver a reação do público. Com certeza, será o maior show da banda e foi muito bom ter esse reconhecimento com tão pouco tempo de trabalho. Será uma honra tocar no mesmo palco que bandas e artistas de destaque nos cenários nacional e internacional”, acrescenta.

Sem limite

Afiliado ao grupo em torno da produtora independente NHL (leia-se Kairo Melo), o Bagum pratica um som psicodélico etéreo, com alguns toques sutis de jazz e música baiana.

É um som muito agradável aos ouvidos, sem deixar de buscar a  instigação, a criatividade.


O trio em ação no Dubliner's em julho passado. Foto Cairo Melo
"A pesquisa em relação aos timbres é recorrente de maneira mais natural, menos intensa, nossa dedicação maior dentro do estúdio acaba sendo em relação à busca pelas referências e pela maneira como podemos mistura-las. Não há um acordo de por onde vamos seguir, quais ritmos vamos estudar em conjunto, cada um de nós tem gostos diferentes e é justamente do bom diálogo entre eles que surgem nossas identidades. Até então todas as nossas composições surgiram dentro do estúdio, onde as primeiras frases, riffs, melodias e ritmos acabam saindo, a partir daí, levamos pra casa, por gravação de celular, o que saiu do ensaio e no seguinte continuamos até terminar a música", detalha.

“Quando começamos, nossa pequena pretensão era menos abrangente em relação às referências. A vontade era mesmo de tocar o hip hop instrumental”, conta Gabriel.

“Com o passar do tempo, foi aparecendo a vontade de tocar outras coisas, e acabou virando um divertimento, inclusive característica da banda, essa adaptação das referências pro suporte (baixo, guitarra, bateria) que a gente tem. Mas a gente não se limita a esses instrumentos e estamos sempre procurando somar outros elementos, com participações tanto vocal quanto instrumental”, afirma.

Além de Gabriel, a Bagum é Pedro Tourinho (ex-Une.Versos) no baixo e Pedro Leonelli (ex-HAO) na  guitarra.

A banda é novinha sim, em abril deste ano  lançamos nosso primeiro EP, Da Um Tapa e Corre e a partir de agosto fizemos 6 shows, contamos com a ajuda da NHL Produções para fazer nossos primeiros. Depois, outros amigos nos convidaram pra tocar em seus eventos abertos e independentes em diversos pontos da cidade. Em setembro produzimos nosso próprio evento na Casa Antuak, chamado Bagunça e tivemos uma resposta muito boa do publico, que lotou a casa. Por enquanto não fizemos shows fora de Salvador mas já esta em nossos planos”, conclui.



NUETAS

Cobra com Glauco

O Quanto Vale o Show? de hoje é uma galhofa só, com Cobra City e Glauco Neves & Sua Orquestra Elegante. Muito riso e muita alegria no Dubliner’s Irish Pub. 19 horas, pague quanto quiser.

Martin, Du Txai etc

A já tradicional festa de aniversário de Rogério Big Bross traz Martin (Pitty) com Cadinho Almeida e Leo Bittencourt, Du Txai & Os Indizíveis e DJ Bruno Aziz. Terça-feira (27), 20 horas, no Dubliner’s, pague quanto quiser. 

Honkers, Ivan & Cia

E  dia 30 tem The Honkers, Ivan Motosserra e Fracassados do Underground. Dia 30 (sexta-feira), 22 horas, R$ 10 (nome na lista) ou R$ 15 (na hora), Dubliner’s Irish Pub.

sábado, dezembro 17, 2016

MICRO-RESENHAS FILHA DA PUTA! PRESENTEIA OS RICO! COSPE NOS POBRE!

Space opera brasuca

Espécie de Stephen King brasuca, Vianco investe na FC linha Star Wars em Dartana, que abre uma nova trilogia. Em um planeta onde as pessoas são incapazes de acumular conhecimento, o esperado nascimento de um  deus e um conflito interdimensional dão o tom da aventura que apenas começa. Dartana / André Vianco / Fábrica231 / 784 p. / R$ 59,50 / E-book: R$ 29,50







Esse sabia tudo

Mestre da narrativa ágil, do conto e da livro infanto-juvenil, Lessa (1903-1986) tem reunidos neste pequeno volume  alguns dos seus contos mais memoráveis, como Esperança Futebol Clube (um dos primeiros a abordar o esporte nacional) e o genial (e super-atual) Mal-entendido, no qual põe, em pé de igualdade, um menino branco rico e um negro favelado nas areias de Copacabana. Madrugada / Orígenes Lessa / Global / 72 p. / R$ 32





Vamos a'Os Fatos

Um dos maiores escritores americanos vivos, Roth (Pastoral Americana) faz ensaio autobiográfico para rememorar cinco momentos  decisivos. Entre eles, a infância em Nova Jersey e seu conflito  com a comunidade judaica por conta do polêmico livro  Adeus, Columbus. Os Fatos / Philip Roth / Companhia das Letras / 208 p. / R$ 44.90 / E-book: R$ 30.90







Tropical carioca suave

Ex-Fino Coletivo, Álvaro (irmão do Domenico) Lancelllotti chega ao segundo álbum solo com um trabalho de sonoridades delicadas, aliadas à um certo balanço tropical carioca. Vale ouvir O Passo e Dia Dia (com Sandyalê). Alvaro Lancellotti / Canto de Marajó / Independente / Preço não informado






Somos América

De Caxias do Sul (RS), o duo CComa faz um sacudido catado de ritmos diversos do Brasil e da América Latina. Tem cumbia (Hecha La Ley), AOR (Mira me), bugio (Casamento da Doralícia). Elaborado e divertido. CCOMA / Subtropical Temperado / Natura Musical / Preço não informado






Indie folk de responsa

Referência da cena HC de Nova York a frente da Gorilla Biscuits, Walter Schreifels estreia solo em um melodioso manifesto indie folk. Vale ouvir Arthur Lee’s Lullaby, Shootout, Requiem e Overjoyed. De bônus, uma releitura para o clássico When You Sleep, do My Bloody Valentine. Um belo álbum. Walter Schreifels / An Open Letter To The Scene / Hearts Bleed Blue / R$ 29,80






Entrando numa fria

Um jovem e seu único amigo embarcam em um navio pesqueiro na costa da Islândia. Pegos por uma tempestade, o amigo morre de frio na embarcação. Desiludido, o rapaz parte para uma jornada de autoconhecimento pelos fiordes. Paraíso e inferno / Jón Kalman Stefánsson / Companhia das Letras / 200 p. / R$ 44.90 / E-book: R$ 30.90







Aventura e fantasia no Brasil Colônia

Um explorador holandês e um ex-escravo se aventuram pelas matas e vilas do Brasil colônia nesta agitada narrativa do escritor norte-americano radicado em Porto Alegre. Premiada no exterior, a aventura se vale de criaturas e lendas do folclore com inteligência. A Bandeira do Elefante e da Arara / Christopher Kastensmidt / Devir / 326 p. / R$ 44







Vamos ao feto

Narrada por um feto de dentro da barriga da mãe, esta estranha história ecoa Shakespeare ao aliar o tio e a genitora do narrador para assassinar seu pai, um poeta decadente, dono de valioso imóvel. Humor refinado do elogiado escritor inglês. Enclausurado / Ian McEwan / Companhia das Letras / 200 p. / R$ 39,90 / E-book: R$ 31,90






HQ fofa para meninas

Segunda HQ da “digital influencer” Bruna Vieira, muito popular entre os jovens graças ao seu canal no You Tube. Aqui, ela conta como foi que ela se enturmou na primeira festa que foi após entrar em um novo colégio, aos 14 anos. O destaque é a arte de Lu Cafaggi (Turma da Mônica: Laços), delicada e sem nanquim. O mundo de dentro / Bruna Vieira e Lu Cafaggi / Nemo/ 80 p. / R$ 36,90 / E-book: R$ 16,72






Sergipe rules, cabra!

Cada dia mais arretado, os sergipanos do The Baggios chegam ao terceiro álbum com sua melhor obra. Blues rock, surf music, progressivo: cabe tudo nesse rock do cão. Ouça Estigma, Medo, Desapracatado. Ótimas participações de Érica Martins, Jorge Du Peixe e outros. Um dos discos do ano. The Baggios / Brutown / Baixe: www.thebaggios.com.br / CD: R$ 20






O mundo pede mais

Em 2016, a banda norte-americana Pity Sex faz indie rock clássico, como se fosse 1992. Que mal há nisso? Nenhum. Entristeça-se com estilo ao som de Burden You, Plum e Wappen Beggars. O mundo de hoje pede é mais rock triste. Pity Sex / White Hot Moon / Hearts Bleed Blue / R$ 29,80







Flutuando no espaço

Experiente na trilha sonora de temas espaciais (Cosmos, Bade Runner), o grego Vangelis musica a missão da sonda Rosetta, que pousou em um cometa. Música ambiente estilo space opera, para ouvir de olhos fechados: Albedo 0.06 e Sunlight. Vangelis / Rosetta / Universal / R$ 29,90







Pojuca é punk

De Pojuca, este quinteto de punk rock pratica  hardcore linha old school: reto, direto e metendo o dedo na ferida. São quatro faixas furiosas em cinco minutos e pouco: Caos e Destruição, Assalariado, Cárcere Privado e Monzamon (Genocídio). Retado. Motim 13 / Motim 13 / Brechó Discos / R$ 10







Bossa jazz do K7

Morto em 1976, Hamleto Stamato, o Mileto, tocava sax com Hermeto e Martinho da Vila. Neste CD, seu filho, pianista, arranjou as músicas que o pai deixou rascunhadas em uma fita Basf 60. Bossa jazz classuda, deve nada aos mestres. Hamleto Stamato / Tributo a Mileto / Independente - Tratore / R$ 30







Direto do túnel...

Gravado em 2008, o  DVD ao vivo dos gaúchos Ultramen só saiu agora. Jogando em casa (Bar Opinião), torcida na mão,  o funk rap soul rock  do octeto surge aqui em toda sua glória. Suingue com Bico de Luz, Preserve e Robot Baby. Ultramen / Máquina do Tempo / Hearts Bleed Blue / CD + DVD: R$ 39,80







"Essa tristeza me mata"

A voz atormentada do poeta Artur Ribeiro cantando suas dores e as guitarras em camadas de Candido Soto se insinuam e tomam conta do ouvinte neste terceiro e lindo trabalho do quarteto local. Melancolia ao sol da Bahia. Theatro de Séraphin / Décadas / Independente / Baixe: www.theatrodeseraphin.com







Diversidade sonora no punk rock

Subintitulada Street Punk Brasil, esta bem cuidada coletânea traz 14 faixas de 14 bandas, a maioria de São Paulo. Ganha pontos ao investir na diversidade do punk rock e evitar a predominância do HC monocórdico com ótimas faixas como Velhos Trapos (Fibonattis) e Whisky & Sangue (Lobos Insanos). Vários artistas / Para Incomodar Vol. 2 / Hearts Bleed Blue / R$ 24,80






Amante à moda antiga

Em seu segundo álbum, o cearense Daniel Groove caminha melancólico, porém bem acompanhado por um repertório ora nostálgico, ora romântico – linha Roberto Carlos / Peninha. Vale ouvir Canção pra fazer você ficar mais e Morrer de Novo. Daniel Groove / Romance pra depois / Sete Sóis / Preço não informado







Mar de calmaria

Ligado ao universo do choro, o clarinetista Alexandre Ribeiro ousa em um álbum experimental, valendo-se do uso de pedais. Percussivo e intimista, navega suave. Alexandre Ribeiro / De Pé Na Proa / Borandá / R$ 31,90

quinta-feira, dezembro 15, 2016

CAU GOMEZ: VIVEMOS CEGOS DIANTE DO SMARTPHONE

O cartum que rendeu mais um troféu a Cau
Detentor de múltiplas premiações por suas charges e caricaturas em salões e concursos em diversas partes do mundo, o mineiro baiano Cau Gomez deve estar precisando abrir espaço na prateleira.

No dia 22 de novembro, ele ganhou mais um troféu de peso ao conquistar o segundo lugar no 33rd Aydin Dögan International Cartoon Competition em Istambul, na Turquia.

A obra premiada, que pode ser vista nesta página (assim como o troféu), foi feita a partir do tema do concurso: “Refugiados”.

De volta à Salvador, onde mora há mais de vinte anos (15 deles trabalhando em A TARDE), Cau fala nesta entrevista sobre como se sente sobre o tema, o que viu e sentiu em Istambul e o que planeja fazer em breve.

Você levou o segundo lugar em um concurso internacional de cartuns com o tema "Refugiados". Como é o processo para chegar até esta ideia? Quantas ideias você descartou antes de chegar na vencedora?

Não podia assistir aos terríveis acontecimentos sem fazer nada. Abordei o tema sobre os refugiados porque uma mágoa e uma inquietação me consumiam, me impulsionando ao mesmo tempo para a prancheta, papel, lápis, pincéis e tinta gouache. Fiquei extremamente gratificado quando finalizei este cartum. Ele é a minha mensagem de protesto ilustrada, que personifica os autores das atrocidades e instiga o olhar de cada pessoa que o observa. O júri do Aydin Dögan International Cartoon Competition, que é um dos cinco maiores e tradicionais neste segmento de humor gráfico no mundo, viu isso e contemplou este meu trabalho em meio a centenas de outros desenhos, inclusive premiando cartuns de outros dois brasileiros, Rodrigo Rosa e Raimundo Rucke, que levaram menções honrosas.

Cau  após a premiação em Istambul
Cartuns podem ser instrumentos poderosos para levar à reflexão sobre questões importantes. Como você vê o alcance de um trabalho como o seu no Brasil hoje?

Os meus cartuns e charges mais contundentes são como alertas para mim, e servem para acordarmos e denunciarmos a intolerância e outras mazelas desse mundo ordinário, que não percebe o predominante crescimento da xenofobia e da fome em várias partes do mundo. Por aqui, seguimos na mesma batida. A violência não nos choca mais, e vivemos cegos diante de um smartphone.

A Turquia é um país que sofreu uma tentativa de golpe há alguns meses, sofre com atentados terroristas e, mesmo assim, é o país que mais acolhe refugiados no planeta. O que você viu / aprendeu nesta estadia lá, convivendo com estrangeiros do mundo todo?

A situação é gravíssima, um imenso martírio enfrentado pelos refugiados, desesperançosos e famintos vindos de diversas partes do mundo. As pessoas estão assustadas e o aumento da segurança para se entrar em todos os locais de Istambul, não só no aeroporto, foi visivelmente diferente do que quando estive lá em 2010. Apesar do esforço da população turca, a situação política duvidosa do governo Erdogan e os atentados terroristas afastaram os turistas, desarmonizaram a população e deixaram uma atmosfera de insegurança. Há muita rigidez e controle nos aeroportos, museus, mesquitas, centros comerciais e outros pontos turísticos. O lado positivo disso tudo é que ainda é possível sobreviver a este período infernal sem perder a alegria na hospitalidade. Os turcos e os brasileiros são bem parecidos nesse aspecto.

Você chegou a ver algum acampamento de refugiados na Turquia? O que vc viu / sentiu por lá relativo a esta questão?

Creio que os acampamentos ficam afastados do roteiro turístico de Istambul, apesar ter detectado famílias dormindo no aeroporto de Attatürk. O período de estada na maior cidade turca foi muito curto dessa vez. Ficamos restritos à programação estabelecida pela Fundação Aydin Dögan.

A arte do cartum tem estado em discussão nos últimos tempos, especialmente graças ao semanário satírico francês Charlie Hebdo, que publicou charge de Maomé e depois teve parte de sua equipe massacrada naquele atentado. Depois, todos que se solidarizaram com o veículo se voltaram contra ele, quando publicou uma charge de mau gosto, relativa às vítimas de um terremoto na Itália. Como você vê esta questão? O cartum deve se curvar ao "politicamente correto"? Qual é o limite do humor?

O cartum e a charge bem elaborados não devem ter limites editoriais e precisam ter espaço nos veículos. Mas o cartunista tem de ser responsável e se ater à veracidade das informações, e checá-las antes de “botar o bloco na rua” e fazer uma crítica mais severa.
O episódio do semanário ilustra bem o quanto as pessoas, depois da internet e das redes sociais, passaram a querer dominar todos os assuntos. Existe uma gritante diferença entre os fatos e as maneiras divergentes de interpretação. Daí o conflito, a rusga. Para mim, definitivamente, o politicamente correto e a auto-censura vão estar entrelaçados no final das contas, caso não tenhamos liberdade criativa e sagacidade para nos expressarmos.

O que você tem feito, Cau? Está publicando regularmente em algum veículo ou só frilando? Pretende publicar algum livro, revista, algo assim?

Recentemente fiz a capa para o Le Monde Diplomatique Brasil, que narrava a “primavera secundarista”, referência às ocupações nas escolas públicas. Colaboro também com o Courrier International, na França. Tenho me dedicado a fazer trabalhos diversificados e explorado as várias possibilidades gráficas: design gráfico e capa de livros, ilustração editorial e infanto-juvenil, charge política para internet, caricaturas para exposições, cartuns para veículos diversos e incrementei o portfolio com um imenso graffiti para a fachada da “Borracharia”, uma conhecida e badalada danceteria alternativa soteropolitana, no Rio Vermelho. Mas confesso, naturalmente, que aceito tudo com uma certa dose de sossego e bom prazo para a entrega da arte-final, em contraponto à correria diária de jornais impressos. Finalmente, ainda planejo publicar um livro contando os meus 30 anos de profissão dentro das artes gráficas.

terça-feira, dezembro 13, 2016

INDIE ROCK PAULISTA DE BOA CEPA, O ALASKA VEM PARA O ROCKAMBO DE NATAL NESTA QUINTA

Alaska, foto Renan Bossi
Uma das boas iniciativas surgidas na cena local este ano, o Rockambo começou com a proposta de realizar um intercâmbio entre bandas da capital e do interior do estado – ora trazendo as últimas para tocar em Salvador, ora levando as primeiras para se apresentar em outras cidades baianas.

Na edição deste mês, o braço do produtor / band leader da Ronco Thiago Guimarães se esticou mais um pouquinho e puxou a banda paulista Alaska para se apresentar com a própria Ronco, a camaçariense master Declinium, o duo Búfalos Vermelhos & a Orquestra de Elefantes e DJ Sputter (que promete não ficar pelado).

Além da finíssima seleção de bandas locais, vale conferir a Alaska, boa atração inédita por estas bandas.

De cara, chama atenção o vocal super afinado de André Ribeiro, que um ouvinte  desavisado poderia achar ser mulher cantando (isto é um elogio, a propósito).

“A gente é de São Paulo mesmo, alguns de nós são amigos de infância. Nossa  história é meio clichê nesse sentido”, ri Nicolas Csiky (bateria).

“Estamos juntos há seis anos e somos totalmente independentes. A gente ouvia as mesmas bandas na época do emo e do hardcore melódico, coisa de moleque aos 15 anos. O Alaska surgiu quando duas outras bandas acabaram e os membros remanescentes se juntaram para iniciar uma outra proposta”, explica.

Onda

Após um EP lançado em 2013 cujo resultado não agradou muito, eles reformularam sua estética mais uma vez.

O resultado, agora aprovado, está no álbum Onda (2015), indie rock com ecos de HC, Thrice, Muse e post rock.

“A gente não consegue achar muita definição. Temos influências diferentes com um pouquinho de pop”, diz Nicolas.

Além dele e André, completam o Alaska André Raeder (guitarra), Vitor Dechem (teclado, guitarra) e Wallace Schmidt (baixo).

Rockambo de Natal / Com Declinium, Búfalos Vermelhos & a Orquestra de Elefantes, Ronco, Alaska (SP) e Dj Sputter / Quinta-feira, 20 horas / Dubliners Irish Pub / R$ 15, R$ 10 (lista) /  www.alaskamusic.com.br



NUETAS

H-Drix, Seguidores

H-Drix e Seguidores Roots são as atrações do Quanto Vale o Show de hoje no Dubliner’s Irish Pub. 19 horas, pague quanto quiser.

Úteros no CineBagaço

O documentário Úteros Em Fúria: Uma Videobiografia (2000), de autoria do blogueiro, que o produziu como projeto de fim de curso (TCC) ao se formar na Faculdade de Comunicação da Ufba, terá uma rara exibição pública amanhã (quarta, 14) no projeto Cine Bagaço, do bar Bagacinho, na Barra. Após a exibição, bate-papo com a galera. 19h30, gratuito.

RestGate Acústico

A banda RestGate Blues faz o show Acústico < Blues nesta quinta-feira, a partir das 20 horas, na loja  3K Motorcycle Shop (Alamedas Praia de Camburiú, 3, Stella Maris). R$ 5.

Dreary Night II

A superbanda de heavy metal Drearylands promove no sábado a Dreary Night II (cartaz ao lado). No palco, além da banda anfitriã, as referências Malefactor, Insaintfication e Electric Poison. Dubliner’s Irish Pub, 22 horas, R$ 17 (Sympla, lote 1).

segunda-feira, dezembro 12, 2016

OBRA DE AFIRMAÇÃO FEMININA, MAMBA TRATA DE AMOR E MORTE

Ex-Madame Saatan, a cantora paraense Sammliz envereda pelo stoner em ótima estreia solo pelo Natura Musical

Sammliz, foto Júlia Rodrigues
Musa do rock pesado nacional à frente da banda paraense Madame Saatan, Sammliz inicia nova fase na carreira com seu primeiro álbum solo, Mamba (Natura Musical).

Obra de afirmação, Mamba conjuga com habilidade a voz poderosa da cantora ao stoner rock contemporâneo, mais letras pessoais e até um namoro com características brasileiras, como referências às religiões de matriz africanas (Oyá, Lupita) e (mais sutilmente) ao som brega do Pará (Quando Chegar o Amanhã).

Um dos poucos discos realmente interessantes do rock brasileiro de 2016, Mamba também traz a artista mais livre para se expressar como mulher do que em sua antiga banda, abordando temas como o amor, a morte e a própria feminilidade como uma força.

“É claro o distanciamento do que fazia em meu antigo projeto, ainda que esteja inserida entre muitas camadas de guitarras e dramaticidade. Distanciamento para mim natural. O que eu fazia antes tinha a ver com minhas influências do metal dos anos 1970 e 80, em comum com meus antigos parceiros”, afirma Sammliz.

“O que acontece a partir de agora é que deixo vir à tona outras influências. Questão de liberdade e  de deixar meu som ser o que sou e vou sendo. O que eu fazia antes não me resumia, o que faço agora também não. Na música, busco experimentar as sonoridades que me influenciam, gosto, pesquiso e me desafiam”, acrescenta a cantora.

Sombrio no clima e na sonoridade, a estética de Mamba chega dialogar com referências do rock pálido, como Nick Cave e PJ Harvey.

“Era como eu estava sonoramente no momento, refletindo e exorcizando algumas sombras interiores. Nick Cave está entre artistas que me influenciam, certamente, mas não bebi especificamente dessa ou aquela fonte. Não busquei nada. Deixei fluir. É um disco de fechamento de ciclo e abertura de novos trabalhos”, afirma Sammliz.

Curiosa, Sammliz não nega que tem lido as resenhas de Mamba. E tem ficado feliz com o que lê: "Sim, tenho lido algumas resenhas, até pra saber como o trabalho vem sendo recebido e olha, tem sido muito boas. Fico feliz, claro. Nos shows que fiz até então, tenho sido muito bem recebida com esse  trabalho novo e quero muito conseguir levá-lo  muito mais por aí. Tenho total consciência que estou partindo novamente do zero e tem por aí muita estrada e batalha nova pela frente".

Caldeirão sonoro maluco

Sammliz ao vivo em BH, foto Liliane Pelegrini
Não deixa de ser curiosa a orientação musical da artista paraense, dado que, quando se fala na música do Pará, logo se pensa no tecnobrega e demais misturas regionais.

“O Pará é uma vastidão cultural e Belém é uma metrópole onde essa vastidão está de uma forma ou outra conectada. Acho natural que perguntem logo pelo brega, carimbó e que isso seja tido como cara da cidade, até por que é. Mas em uma observação que nem precisa ser profunda, em uma visita à cidade, ou escutando playlists do povo daqui, você constata o quanto tem de cosmopolita na música que é feita em Belém, inclusive por músicos e artistas que se utilizam dos tais elementos tidos como estereotipados, dando uma linguagem mais pop e até experimental”, afirma.

“Veja bem, até eu com meu som faço isso de uma maneira sutil.  Mas muita gente também não faz e mantém seus trabalhos em linguagens fora de qualquer coisa ligada ao lance regional. Acho ótimo também. Não acho que dificulte me enxergarem aqui por não fazer o que talvez muita gente espere encontrar de som vindo do Pará, nem quando tinha uma banda de metal sentia isso. Sinto-me contemplada e incluída nesse caldeirão sonoro maluco que temos na região. O Pará é brega, carimbó, guitarrada, rock, eletrônico, tambor, pop, encantarias de sons. A cena está de novo em uma daquelas fases ótimas, com muita gente boa produzindo, como: Lucas Estrela, Orquestra Pau e Cordista, Strobo, Molho Negro, Aíla, Felipe Cordeiro, Jaloo, D. Onete, Zimba Groove, Arthur Espíndola, Pelé do Manifesto. Muitas bandas de rock em atividade,muitas festas de tambores e carimbó, festivais etc”, acrescenta.

Ciente das dificuldades que assomam no horizonte para os artistas independentes, Sammliz agradece o apoio da Natura, mas sabe que isso é só o início de mais uma longa batalha.

"Artistas independentes vão continuar produzindo de qualquer forma. De qualquer maneira, sempre foi assim. plataformas sensacionais como a Natura Musical não abarcam a imensa produção musical, em várias frentes que ocorrem no Brasil. Não cabe nem o começo nesse funil. E aí, vai fazer o que? Esperar ser aprovado em uma Natura, Skol Music da vida? Não dá, nunca deu. Tem sim, que lutar por políticas públicas culturais, se inscrever também nos editais que houver e onde seu trabalho se enquadrar, e continuar no corre da sua própria carreira da melhor maneira que conseguir. Mercado independente é corre, luta e adaptação e vejo ele continuar mais assim ainda, em tempos sombrios para a cultura", analisa.

Ainda sem data para show em Salvador, Sammliz espera voltar em breve à cidade: “Ah, quero muito voltar, adoro essa cidade, tenho amigos e ótimas recordações.  Vamos ver o que rola esse ano, vou trabalhar pra isso”, conclui.

Mamba / Sammliz / Natura musical - Doutromundo Discos / Baixe, ouça: www.sammliz.com.br

quinta-feira, dezembro 08, 2016

DOIS DIAS CANTORIA E POESIA NO PELOURINHO

Celebração da cultura popular em sua face mais legítima, o Encontro de Cantadores do Pelô chega à quarta edição

Maviael Melo: organizador cantador, foto de Antônio Nykiel
Cantor e cantador não é a mesma coisa. Para saber a diferença, vale conferir a partir de amanhã hoje o Quarto Encontro de Cantadores no Pelô.

Serão dois dias com uma fina seleção de artistas populares de primeira linha, com entrada franca.

Organizado pelo cantador Maviael Melo e pelo jornalista Antônio Nykiel, a quarta edição do festival equilibra bem artistas de renome com outros mais novos ou ainda pouco conhecidos pelo público local.

Entre os destaques, grandes nomes da cultura popular como Xangai, Raymundo Sodré, Juliana Ribeiro, Aiace (na grade de sexta), Pereira da Viola (MG), Em Canto & Poesia (PE), Cláudia Cunha (PA) e Celo Costa (amanhã).

Sem financiamento via edital nesta edição, o Encontro deste ano acabou descolando apoio entre vários parceiros diferentes.

“Por ser a quarta edição, o Encontro já tem a credibilidade de alguns parceiros, empresas que doaram valores referentes a cachês de alguns artistas”, conta Maviael.

Os irmãos Marinho, do trio Em Canto & Poesia (PE) Foto Renata Melo
“O governo do estado acabou entrando via Bahia Gás, que vê o projeto como um grande espaço de integração da cantoria. A APLB (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado) contribui com ajuda nas passagens e hospedagens, bem como a CCPI (Centro de Culturas Populares e Identitárias) na cedência da pauta da praça, entre outros parceiros que cederam  impressões de camisas, banner, divulgação e mídia”, detalha.

Além disso, amigos e fãs ainda contribuíram via crowdfunding. “Pessoas físicas contribuíram diretamente numa campanha de financiamento do Kikcante, e assim o encontro foi se formando. Claro que é sempre mais difícil trabalhar sem um recurso certo, até porque os valores que serão pagos aos artistas não é o valor real que cada um merece, e sim uma ajuda de custo”, diz.

Artista ele mesmo e dono de sólida carreira na cena da cantoria, Maviael ainda acumula a função de curador do festival, que é um dos maiores do Nordeste em sua seara.

“Essa talvez seja a parte mais difícil, principalmente quando não se tem o recurso assegurado. Por outro lado ajuda também, pois a gente sabe com quem pode contar na hora que não se tem grana para cachê”, afirma.

“Esse ano realizamos a Varanda dos Cantadores no SESI  Rio Vermelho, já pensando no encontro. Ela serviu de vitrine para que pudéssemos conseguir  parceiros para o Encontro. Com isso, assumimos o compromisso de colocar no encontro todos que passaram pela varanda, por justiça poética e reconhecimento da parceria”, detalha Maviael.

Flavia Wenceslau (PB), foto Celo Gandra
Se há uma lógica para os cantadores que estão se lançando, esta também se aplica aos já consagrados.

“Vamos na mesma ótica de trazer os mais próximos, como Maciel Melo, Raymundo Sodré e Pereira da Viola, que estreia no Encontro junto com o grupo Em Canto & Poesia, que promete ser a grande surpresa desse ano – e ainda Dani Lasalvia, que vem de São Paulo”, diz.

Para quem pensa que cantador é luxo exclusivo do Nordeste, chega a causar surpresa descobrir que esses artistas florescem em todas as regiões do Brasil.

"Teremos cantadores de três regiões diferentes do Brasil: Nordeste (BA, PB, PE), região Norte (PA) e região sudeste (SP, MG). Mas já tivemos em outras edições cantadores também da região Centro Oeste. O termo Cantador vem de cantor popular do Nordeste, oriundo das disputas entre repentistas que improvisavam versos em cantorias de pé de parede (encontro de dois cantadores repentistas se apresentando pra uma plateia diversa em alguma varanda de fazenda ou em espaço de formação poética) e / ou festivais de violeiros. Com o tempo, alguns versos de improvisos foram ganhando formas musicais e, a cada encontro de repentistas, alguns cantadores faziam a abertura musical. Depois do LP Cantoria (1984) com Elomar, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Xangai, a palavra cantador passou a ser utilizada também para os cantores regionais, que levam nas suas músicas o cheiro da sua terra, a marca das lutas, as dores e as alegrias", explica Maviael.

Raymundo Sodré em foto de Rodrigo Petterson
"O encontro já na sua primeira edição sempre buscou a diversidade musical da música brasileira, por se tratar de um termo muito ligado as coisas do interior, do campo. Tivemos algumas críticas por colocar a chula de Raymundo Sodré dentro desse contexto, como também de trazer um grupo totalmente urbano como o 4Cabeça (RJ, do cantor Maurício Baia). Na proposta do encontro, a cantoria transcende o ritmo e os temas são diversos por entendermos que o cantador trabalha com a sua realidade local, sua raiz. Assim, teremos esse ano cantadoras como Aiace, que já traz um pouco da cantoria urbana, assim como Flávia Wenceslau com o lirismo poético da Paraíba. Também o Em Canto & Poesia, que vem como a proposta do cancioneiro regional, com levadas mais dinâmicas e versos da poesia popular. Por fim, é essa mistura que proporciona novos olhares sobre a musicalidade que o Encontro apresenta. Além de fomentar o surgimento de novas parcerias, o que mais nos direciona nessas escolhas é a atitude e a palavra. Todos os cantadores e cantadoras envolvidos carregam, em si, a responsabilidade com o social e com a formação do pensamento crítico através das suas canções e poesias", afirma o organizador cantador.

Incelente maravia

Pereira da Viola (MG), foto Marco Aurélio Prates
Cantador e violeiro consagrado em sua terra, Pereira da Viola traz em sua arte a tradição da Comunidade Quilombola de São Julião (Teófilo Otoni, Minas Gerais).

“Já estive em Salvador outras vezes, mas desta vez sinto que será muito especial. Principalmente pelo momento em que a parcela majoritária da humanidade se vê enterrada no individualismo e consumismo, ter a oportunidade de fazer parte de um evento que se propõe o inverso é muito bom. Estou preparando uma performance especial e o meu desejo é que seja uma ‘incelente maravia’, afirma.

Representante feminina (entre cinco cantadoras) no Encontro, Aiace (Sertanília) destaca a importância da cultura do sertão.

“É a oportunidade que temos de cantar e saudar raízes bem profundas, um recorte cultural importante da nossa história, mas que nem sempre tem papel de destaque. Essa música que tem sua origem longe do mar, no sertão, estará no meu repertório. Faremos músicas do Sertanília,  do mestre Elomar e algumas coisas do meu trabalho solo também”, conta.

Aiace Félix, foto Leo Monteiro
“Acho que hoje estamos mais atentos e abertos para receber os trabalhos dessas mulheres. E o Encontro de Cantadores, nesse sentido, já vem nesse movimento de trazer cantadoras há algum tempo, o que é super importante para fortalecer esse espaço que, embora tenha as suas representantes, ainda é muito mais masculino do que feminino. Representatividade importa muito e ter esse espaço dentro da programação desse Encontro é bem precioso”, afirma.

Mas afinal, o que difere um cantador de um cantor?

"Acredito que a essência da cantadora é a ligação com um tipo de música que tem sua origem longe do mar e dialoga com tradições bem antigas. É referenciar toda essa riqueza presente na nossa música nordestina, é cantar, cada uma da sua forma, um pouco sobre o lugar de onde viemos", arrisca Aiace.

Pereira da Viola tem outra - e incelente - resposta: “Cantador não escolhe o seu cantar, canta o mundo que vê e que sente. Canta a dor, canta a vida, canta a morte e canta o amor”, conclui.

Quarto Encontro de Cantadores no Pelô / Hoje e amanhã, 18 horas / Largo Pedro Archanjo / Gratuito

terça-feira, dezembro 06, 2016

RESIDENTE EM ESTOCOLMO, CONTRABAIXISTA BAIANO RUBEM FARIAS FAZ SHOW COM FILÓ MACHADO E ERIK SÖDERLIND NO SESI

Rubem Farias, foto de Paulo Rapoport
Pouco conhecido em sua própria terra, o contrabaixista e virtuoso baiano Rubem Farias é um vencedor na vida e na arte.

Na próxima segunda-feira, ele, que reside em Estocolmo, volta à cidade natal para uma apresentação especial com outros dois músicos de altíssimo calibre: o cantor e multi-instrumentista Filó Machado (de Ribeirão Preto - SP) e o guitarrista sueco Erik Söderlind.

O trio, acompanhado do baterista Victor Brasil e do percussionista Sebastian Notini, apresenta o espetáculo Triálogo – parte de um projeto de colaboração entre os governos​​ sueco​ e brasileiro. Além de Salvador, o show também rola no Rio de Janeiro e São Paulo.

A oportunidade de ver esses cinco grandes músicos juntos em um palco é rara e imperdível para os fãs do jazz.

Voltando ao Rubem, eis por que poucos aqui o conhecem: aos 10 anos, ele, a mãe e três irmãos subiram em um ônibus e foram morar em São Paulo, onde o pai já os aguardava.

"Eu comecei em Salvador com meu pai Áureo, ele tocava a guitarra na igreja, então eu fui pro baixo pra acompanhar ele, mas comecei estudar violão e baixo juntos. Quando percebi, já estava na bateria e no teclado, depois estudei um pouco de trompete, passei pelo trombone, mas sempre colocando o baixo como primeiro instrumento", conta.

“Mudei para São Paulo com a minha família em uma época que a situação financeira da minha família em Salvador estava muito difícil, meu pai desempregado resolveu tentar a vida em SP e viajou 6 meses antes. Conseguiu um emprego no primeiro mês, guardou dinheiro, alugou uma casa e mandou as passagens de ônibus para minha mãe e os quatros filhos. Fizemos uma farofa de galinha, nos despedimos dos familiares e amigos e fomos para SP. Isso em 1996 eu tinha 10 anos”, relata o músico.

Lá, o rapaz se aplicou e conseguiu estudar com alguns dos melhores professores da cidade, graças à sua vocação natural para a música.

Filó Machado, um talento que o Brasil precisa conhecer mais
"No ano seguinte, comecei aulas com um professor de guitarra em São Paulo, o Ricardo Miranda, que também tocava baixo. Dei minha bicicleta pra ele em troca de aula. Fiz dois meses de aula e no final do segundo mês ele devolveu minha bicicleta e me chamou pra tocar com ele. Então pude praticar muito mais, comecei fazer uns trabalhinhos de casamento, eventos das igrejas, até que esse professor me chamou pra fazer uma prova na ULM, antiga Universidade Livre de Música Tom Jobim. Fomos juntos fazer a prova pra tentar estudar lá. Eu tinha 13 anos, a fila do teste dava a volta no quarteirão subia o prédio até o quarto andar e só tinha 2 vagas. Chegamos cinco horas da manhã, entramos na fila que já era gigante. Eu vi que não era o melhor candidato ali, tinha vários músicos profissionais para fazer o teste, querendo estudar. Mas eu vi que eu era o mais novo da fila. Quando entrei na sala  estavam os professores Itamar Colaço, Izaías Amorim, Marinho Andreotti e a lenda viva do contrabaixo Gabriel Bahlis. Todos os professores me fizeram perguntas do tipo faça a escala tal, leia isso, o que é aquilo, o que significa isso. O Gabriel olhou pra mim e disse toca, eu toquei alguma coisa simples, e recebi um telefonema, que o Gabriel tinha me aprovado e que eu ia estudar com ele. Nesse dia, minha vida mudou, porque comecei a ver o meu sonho se tornar realidade pois aos 12 anos eu já tinha decidido ser músico profissional. Ainda tinha muita coisa pra superar, como por exemplo ter dinheiro para ir para as aulas conciliar com o horário da escola. Tive que começar trabalhar em uma padaria para pagar minha passagem no começo", relata.

Logo, começou a tocar em bandas e como músico de acompanhamento para grandes nomes, como o trombonista Bocato, o próprio Filó Machado e muitos outros no circuito jazz / MPB.

"Então conheci a banda RED, que foi minha primeira banda profissional. Aos 14 anos, gravei o primeiro single da banda, em seguida gravamos o disco que foi indicado ao Prêmio Tim de Música Brasileira, na final com 14 Bis e Roupa Nova. Comecei meus projetos de música instrumental e a me dedicar 200% a música e ao baixo. Aí veio a oportunidade de trabalhar com músicos importantes da cena instrumental brasileira. Trabalhei muitos anos com o trombonista Bocato, gravei dois discos dele. Filó Machado também me chamou pra banda dele e então eu comecei acompanhar com vários artistas em seguida. Tive a honra de fazer um lindo show com Gilberto Gil, Cidinho Teixeira, um grande pianista que vive em Nova York e o grande baterista Nenê no Bourbon Street, que também é uma das mais importantes casas de concerto do Brasil. Trabalhei muitos anos no Jazz Quartet do Bourbon Street e também junto com o lendário baterista Sérgio Della Mônica. E assim fui tocando com artistas do cenário pop, do cenário instrumental, do jazz, do funk, artistas internacionais e a vida foi me me testando e eu fui dando o meu melhor sempre. Até chegar onde estamos foi muito chão, muito aprendizado e muita gente pra agradecer", acrescenta Rubem.

Uma paixão em Estocolmo

Rubem e seu inseparável instrumento de trabalho
Em 2011, foi à Suécia e se apaixonou por uma local, Magdalena Strömgren. Rubem e Magdalena se casaram, foram morar em Estocolmo e tiveram um filho.

"Eu fui a primeira vez para Suécia em 2011 a trabalho e, resumindo, me apaixonei por Magdalena Strömgren e em seguida, pela cultura sueca. Desde então, passei a conhecer músicos maravilhosos e receber convites para fazer turnês pela Europa. A situação ficou de um jeito que já estava viajando quatro vezes por ano pra Suécia, mas em 2015 tudo mudou. Já estávamos morando juntos em SP quando eu e Magdalena recebemos a maravilhosa notícia que nosso pequeno Carl Jamie Thelonious Strömgren Farias estava a caminho, nosso primeiro filho. Então conversamos e ela se sentia melhor passar o período de gestação e os primeiros anos do nosso pequeno J na Suécia. Então ela foi na frente e eu terminei minha turnê aqui no Brasil, peguei um voo pro México pra fazer meu último show, que foi no Teatro Metropolitan com o maravilhoso cantor baiano Daniel Boaventura e, de lá peguei um voo pra Suécia, para onde tinha direcionado os trabalhos seguintes", relata.

"Quando saí do Brasil, os artistas que estava acompanhando eram Filó Machado, Mafalda Minozzi, Ana Cañas, Paulo Ricardo, Daniel Boaventura e participando de vários projetos da cena instrumental brasileira. Respirei fundo, levantei a cabeça me preparei para o inverno rigoroso e fui para a Escandinávia cuidar de minha família e trabalhar nessa região. O que deu super certo, o projeto que fiz com Steinar Aadnekvam e Deodato Siquir (Freedoms Trio) começou a viajar muito pela Europa por diversos festivais. Também começou a chegar mais e mais convites para turnês e shows, e em pouco tempo eu tinha que colocar na agenda o mês que não queria trabalhar para cuidar da família e do meu bebê, que chegou nesse tempo. Também conheci o grande guitarrista  que é o primeiro convidado do projeto A Música dos povos e a Linguagem do Jazz, Erik Söderlind", conta Rubem.

"Eu e o Erik tocamos juntos na Suécia, fizemos gravações. E com o Filó, são quase 10 anos tocando juntos. Eu, junto com Magdalena Strömgren, fizemos a produção musical do Brazilian Day em Estocolmo em agosto desse ano e levamos o Filó para tocar. Fiz o show com o Filó e o Erik assistiu e se apaixonou. Muitos suecos nunca tinham visto a música Brasileira do jeito que Filó Machado fazia, diversos músicos que já sabiam do Filó se encarregaram de espalhar que ia ter o show de um dos músicos mais importantes do Brasil. Então a praça lotou de músicos que queriam vê-lo, e foi lindo. Em seguida, gravamos o disco de uma super cantora que vive a muitos anos em Estocolmo, Deise Andrade, no qual o Erik participou junto com o Filó também. Pra completar o Sebastian Notini eu conheci no Brazilian Day. Ele fez uma participação no show da Fabiana Cozza, que eu também acompanhei e de lá pra cá mantemos contato. Sem duvida, ele é o sueco mais baiano que conheço. Sobre o Victor Brasil, pra mim vai ser uma honra tocar com esse super batera de uma família de músicos incríveis, que tanto orgulho dá pra nossa Bahia e o Brasil", elogia.

Erik Söderlind, foto Kenth Wangklev
“Nesse show em Salvador ouviremos composições de Filó Machado, de Erik Söderlind e minhas, junto com alguns standards suecos e também alguns standards que do repertório brasileiro. Tudo isso envolvido pelo jazz com a improvisação em forma de triálogo, onde as palavras são acordes e as frases são melodias ditas com diferentes sotaques. Eu e o Erik tocamos juntos na Suécia. Com o Filó, são quase 10 anos tocando juntos. Nesse encontro em Salvador, teremos a oportunidade de levar ao público todo o carinho que temos pela música de Filó Machado”, detalha.

Atento ao noticiário recente sobre o Brasil, Rubem faz um paralelo sobre o que vem acontecendo aqui e na Europa.

"A Suécia também vive um momento político e social bem complicado, assim como toda a Europa. Aliás, o mundo vive um momento político e social bem complicado, e sinto que, quando as pessoas de lá olham para o Brasil, eles entendem que, o que o Brasil está passando faz parte de um contexto de dimensões globais. É necessário enxergar além da cortina de fumaça, apelar pra inteligência e enfrentar os reais problemas, que são as contradições políticas e sociais em nosso país", conclui.

Rubem Farias & Erik Söderlind convidam Filó Machado em: Triálogo / Segunda-feira (12), 20 horas / Teatro SESI (Rio Vermelho) / R$ 50, R$ 25



NUETAS

Levante com Big

A banda Levante e o DJ BigBross são as atrações do Quanto Vale o Show de hoje. Dubliner’s Irish Pub, 19 horas, pague quanto quiser.

Tributo ao Casca

O pessoal que sente falta da Cascadura (e quem não?) pode curtir o Tributo ao Cascadura nesta  Quinta Combo. No palco, Du Txai & Os Indizíveis convidando Duda Spínola, Thiago Trad e Cadinho Almeida. Quinta-feira no Dubliner’s às 21 horas, R$ 10.

Cássio Nobre: sexta na Tropos
Cássio Nobre aos 20

Super instrumentista, o ex-Dois Sapos & Meio Cassio Nobre celebra duas décadas de música com show na Tropos Co. Em grande  fase, Cássio voltou recentemente de uma turnê de 120 datas de Norte a Sul do país, pelo Sonora Brasil do Sesc. No repertório, músicas dos seus quatro álbuns solo, mais convidados como Enio, Jorge Solovera e outros. Sexta-feira, 21 horas, pague quanto quiser. Pagando R$ 10, leve uma cerveja Sol. Pagando R$ 20, leve a cerveja e concorra ao sorteio de um instrumento do acervo do artista.