Bronx, meados dos anos 1970. Kool DJ Herc usa duas pick-ups pela 1ª vez |
Em Hip Hop Genealogia 1970’s - 1981, o quadrinista norte-americano Ed Piskor oferece sua versão do estabelecimento dessa cultura nas ruas de Nova York.
Antes de tudo, vale ser didático. Hip hop é uma cultura urbana que engloba música e poesia (rap), artes visuais (grafite), dança (break), moda e ativismo político através da conscientização dos povos de origem africana quanto à sua condição de explorados.
Em Hip Hop Genealogia, Piskor parte de uma modesta, porém bem fundamentada bibliografia de seis livros sobre o tema, para montar um grande e detalhado painel, no qual segue as trajetórias paralelas (às vezes entrecruzada) dos principais personagens dos primórdios do hip hop.
O plus é a estética com que Piskor embala sua reportagem. Sua arte é um misto de influências dos quadrinhos dos anos 1960 e 70, tanto mainstream (Marvel, via Jack Kirby) quanto underground (o onipresente Robert Crumb).
Para aproximar ainda mais sua arte de suas influências, as páginas são artificialmente amareladas e a impressão, reticulada (pontilhada).
Tudo para dar a impressão de que se está folheando uma revista em quadrinhos dos anos 1970.
O resultado é uma HQ dinâmica e colorida, que enche os olhos ao tempo que ilustra o leitor quanto às figuraças que iniciaram o hip hop, suas andanças e peripécias.
Não a toa, a série da Netflix The Get Down, sobre o mesmo assunto, tem a HQ de Ed Piskor como uma de suas fontes.
A edição da Veneta em parceria com o coletivo Sumário de Rua é de luxo, com capa dura, papel de alta gramatura, prefácio de Emicida, bibliografia, discografia básica, índice remissivo, pin-ups de astros do rap por artistas convidados e outros extras.
Vale destacar também o trabalho de tradução de Mateus Potumati, que adaptou o palavreado das ruas do Bronx dos anos 1970 para a gíria corrente do hip hop brasileiro, aproximando a obra do seu publico leitor contemporâneo.
No final do livro, o leitor ainda encontra os textos originais em inglês dos raps apresentados na HQ, possibilitando a comparação de um e outro.
Impacto social
Quem só curte o rap contemporâneo talvez se decepcione um pouco com Hip Hop Genealogia. O que é um alívio.
Kanye West e sua megalomania egocêntrica ainda eram um sonho muito distante quando Kool Kerc, DJ das festas mais loucas do Bronx em meados dos anos 1970, começou a chamar a atenção com sua técnica de loops infinitos, influenciando outros manos em sua quebrada, como Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa.
Ciente do poder incendiário das batidas na pista de dança, esses e outros DJs se aplicaram cada vez em técnicas de sampling, scratching e demais truques para levantar o povo.
Além disso, Bambaataa, especialmente, foi um dos primeiros a notar o impacto social afirmativo do nascente movimento em um ambiente dominado pelo gangsterismo.
O próprio Bambaataa, então líder de uma das gangues mais temidas do bairro, os Black Spades, se vale de sua liderança natural e de seus beats para dissolver a gangue, convertendo-a no primeiro coletivo do hip hop, Zulu Nation.
Outro ponto de interesse no livro é o aprofundamento que Piskor dá à questão do grafite e sua transmigração dos muros da cidade para as galerias de arte.
A figura central aí, desconhecida para os brasileiros que não militam nesta área, é o grafiteiro Fred Fab Five Brathwaite – que assinava como Bull 99 nas paredes do bairro de Bedford-Stuyvesant.
Neto do pioneiro ativista jamaicano Marcus Garvey (1887 - 1940), Fred matava aulas para frequentar galerias em Manhattan – e foi o primeiro a notar que a pop art de Roy Lichtenstein (1923 - 1997) não era muito diferente dos murais de grafites underground que pipocavam pela cidade.
Expressão legítima de um povo, o hip hop transcendeu suas origens, foi cooptado pelo sistema e se comercializou – assim como o samba, o rock, o punk e outras expressões revolucionárias.
Porém, assim como o samba, o rock e o punk, seus ideais intactos sobrevivem no underground – aquele mesmo de onde surgiu.
Hip Hop Genealogia / Ed Piskor / Veneta - Sumário de Rua / 128 páginas / R$ 99,90 / www.lojaveneta.com.br
O jornalismo golpista se volta contra seus próprios jornalistas.
ResponderExcluirhttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/editora-tres-dispensa-equipes-de-jornalistas-de-revistas-e-troca-por-free-lancers/
Justiça poética? Pior que não, só mais uma tragédia do pós-golpe.
E 2017 só vai piorar.
E as panelas seguirão silenciadas.
Feliz Natal para quem puder.
Brasil, um país de canalhas e psicopatas.
O jornalismo golpista se volta contra seus próprios jornalistas. Parte 2
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