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quinta-feira, dezembro 08, 2016

DOIS DIAS CANTORIA E POESIA NO PELOURINHO

Celebração da cultura popular em sua face mais legítima, o Encontro de Cantadores do Pelô chega à quarta edição

Maviael Melo: organizador cantador, foto de Antônio Nykiel
Cantor e cantador não é a mesma coisa. Para saber a diferença, vale conferir a partir de amanhã hoje o Quarto Encontro de Cantadores no Pelô.

Serão dois dias com uma fina seleção de artistas populares de primeira linha, com entrada franca.

Organizado pelo cantador Maviael Melo e pelo jornalista Antônio Nykiel, a quarta edição do festival equilibra bem artistas de renome com outros mais novos ou ainda pouco conhecidos pelo público local.

Entre os destaques, grandes nomes da cultura popular como Xangai, Raymundo Sodré, Juliana Ribeiro, Aiace (na grade de sexta), Pereira da Viola (MG), Em Canto & Poesia (PE), Cláudia Cunha (PA) e Celo Costa (amanhã).

Sem financiamento via edital nesta edição, o Encontro deste ano acabou descolando apoio entre vários parceiros diferentes.

“Por ser a quarta edição, o Encontro já tem a credibilidade de alguns parceiros, empresas que doaram valores referentes a cachês de alguns artistas”, conta Maviael.

Os irmãos Marinho, do trio Em Canto & Poesia (PE) Foto Renata Melo
“O governo do estado acabou entrando via Bahia Gás, que vê o projeto como um grande espaço de integração da cantoria. A APLB (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado) contribui com ajuda nas passagens e hospedagens, bem como a CCPI (Centro de Culturas Populares e Identitárias) na cedência da pauta da praça, entre outros parceiros que cederam  impressões de camisas, banner, divulgação e mídia”, detalha.

Além disso, amigos e fãs ainda contribuíram via crowdfunding. “Pessoas físicas contribuíram diretamente numa campanha de financiamento do Kikcante, e assim o encontro foi se formando. Claro que é sempre mais difícil trabalhar sem um recurso certo, até porque os valores que serão pagos aos artistas não é o valor real que cada um merece, e sim uma ajuda de custo”, diz.

Artista ele mesmo e dono de sólida carreira na cena da cantoria, Maviael ainda acumula a função de curador do festival, que é um dos maiores do Nordeste em sua seara.

“Essa talvez seja a parte mais difícil, principalmente quando não se tem o recurso assegurado. Por outro lado ajuda também, pois a gente sabe com quem pode contar na hora que não se tem grana para cachê”, afirma.

“Esse ano realizamos a Varanda dos Cantadores no SESI  Rio Vermelho, já pensando no encontro. Ela serviu de vitrine para que pudéssemos conseguir  parceiros para o Encontro. Com isso, assumimos o compromisso de colocar no encontro todos que passaram pela varanda, por justiça poética e reconhecimento da parceria”, detalha Maviael.

Flavia Wenceslau (PB), foto Celo Gandra
Se há uma lógica para os cantadores que estão se lançando, esta também se aplica aos já consagrados.

“Vamos na mesma ótica de trazer os mais próximos, como Maciel Melo, Raymundo Sodré e Pereira da Viola, que estreia no Encontro junto com o grupo Em Canto & Poesia, que promete ser a grande surpresa desse ano – e ainda Dani Lasalvia, que vem de São Paulo”, diz.

Para quem pensa que cantador é luxo exclusivo do Nordeste, chega a causar surpresa descobrir que esses artistas florescem em todas as regiões do Brasil.

"Teremos cantadores de três regiões diferentes do Brasil: Nordeste (BA, PB, PE), região Norte (PA) e região sudeste (SP, MG). Mas já tivemos em outras edições cantadores também da região Centro Oeste. O termo Cantador vem de cantor popular do Nordeste, oriundo das disputas entre repentistas que improvisavam versos em cantorias de pé de parede (encontro de dois cantadores repentistas se apresentando pra uma plateia diversa em alguma varanda de fazenda ou em espaço de formação poética) e / ou festivais de violeiros. Com o tempo, alguns versos de improvisos foram ganhando formas musicais e, a cada encontro de repentistas, alguns cantadores faziam a abertura musical. Depois do LP Cantoria (1984) com Elomar, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Xangai, a palavra cantador passou a ser utilizada também para os cantores regionais, que levam nas suas músicas o cheiro da sua terra, a marca das lutas, as dores e as alegrias", explica Maviael.

Raymundo Sodré em foto de Rodrigo Petterson
"O encontro já na sua primeira edição sempre buscou a diversidade musical da música brasileira, por se tratar de um termo muito ligado as coisas do interior, do campo. Tivemos algumas críticas por colocar a chula de Raymundo Sodré dentro desse contexto, como também de trazer um grupo totalmente urbano como o 4Cabeça (RJ, do cantor Maurício Baia). Na proposta do encontro, a cantoria transcende o ritmo e os temas são diversos por entendermos que o cantador trabalha com a sua realidade local, sua raiz. Assim, teremos esse ano cantadoras como Aiace, que já traz um pouco da cantoria urbana, assim como Flávia Wenceslau com o lirismo poético da Paraíba. Também o Em Canto & Poesia, que vem como a proposta do cancioneiro regional, com levadas mais dinâmicas e versos da poesia popular. Por fim, é essa mistura que proporciona novos olhares sobre a musicalidade que o Encontro apresenta. Além de fomentar o surgimento de novas parcerias, o que mais nos direciona nessas escolhas é a atitude e a palavra. Todos os cantadores e cantadoras envolvidos carregam, em si, a responsabilidade com o social e com a formação do pensamento crítico através das suas canções e poesias", afirma o organizador cantador.

Incelente maravia

Pereira da Viola (MG), foto Marco Aurélio Prates
Cantador e violeiro consagrado em sua terra, Pereira da Viola traz em sua arte a tradição da Comunidade Quilombola de São Julião (Teófilo Otoni, Minas Gerais).

“Já estive em Salvador outras vezes, mas desta vez sinto que será muito especial. Principalmente pelo momento em que a parcela majoritária da humanidade se vê enterrada no individualismo e consumismo, ter a oportunidade de fazer parte de um evento que se propõe o inverso é muito bom. Estou preparando uma performance especial e o meu desejo é que seja uma ‘incelente maravia’, afirma.

Representante feminina (entre cinco cantadoras) no Encontro, Aiace (Sertanília) destaca a importância da cultura do sertão.

“É a oportunidade que temos de cantar e saudar raízes bem profundas, um recorte cultural importante da nossa história, mas que nem sempre tem papel de destaque. Essa música que tem sua origem longe do mar, no sertão, estará no meu repertório. Faremos músicas do Sertanília,  do mestre Elomar e algumas coisas do meu trabalho solo também”, conta.

Aiace Félix, foto Leo Monteiro
“Acho que hoje estamos mais atentos e abertos para receber os trabalhos dessas mulheres. E o Encontro de Cantadores, nesse sentido, já vem nesse movimento de trazer cantadoras há algum tempo, o que é super importante para fortalecer esse espaço que, embora tenha as suas representantes, ainda é muito mais masculino do que feminino. Representatividade importa muito e ter esse espaço dentro da programação desse Encontro é bem precioso”, afirma.

Mas afinal, o que difere um cantador de um cantor?

"Acredito que a essência da cantadora é a ligação com um tipo de música que tem sua origem longe do mar e dialoga com tradições bem antigas. É referenciar toda essa riqueza presente na nossa música nordestina, é cantar, cada uma da sua forma, um pouco sobre o lugar de onde viemos", arrisca Aiace.

Pereira da Viola tem outra - e incelente - resposta: “Cantador não escolhe o seu cantar, canta o mundo que vê e que sente. Canta a dor, canta a vida, canta a morte e canta o amor”, conclui.

Quarto Encontro de Cantadores no Pelô / Hoje e amanhã, 18 horas / Largo Pedro Archanjo / Gratuito

2 comentários:

  1. Francisco está certo:

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/papa-compara-uso-da-midia-para-difamar-rivais-politicos-a-excitacao-por-excrementos/

    O povo da mídia come cocô!

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  2. http://www.msn.com/pt-br/noticias/crise-politica/v%C3%ADdeo-de-bolsonaro-contra-jean-wyllis-%C3%A9-falso-aponta-per%C3%ADcia/ar-AAljjky?li=AAggXC1&ocid=mailsignout

    mas tem quem vai dizer que foi verdade...

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