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sábado, abril 30, 2016

CONVERSA AFINADA

Estreia: No programa Sala de Som, que estreia na TVE amanhã, Alexandre Leão entrevista vários músicos sobre o que importa: música

Alexandre Leão e Aderbal Duarte: papo bossa nova
Na sociedade do espetáculo, a arte importa pouco ou quase nada.

O que importa mesmo é o “artista”, ou melhor: sua vida privada, as cirurgias plásticas, o “corpão”.

Felizmente, ainda há iniciativas que botam a arte no centro da atenção. O programa Sala de Som, da TVE, é uma destas iniciativas.

Apresentado pelo cantor e compositor Alexandre Leão, o Sala de Som estreia amanhã, às 16 horas, com reprise às quintas-feiras (às 23 horas).

No estúdio, o apresentador receberá diversos músicos para entrevistas e performances.

O papo, porém, não abordará a biografia do artista, e sim, seu ofício, seu instrumento, suas técnicas, sua sabedoria acumulada pelo estudo e pela prática.

Não a toa, o convidado da estreia é um dos maiores estudiosos da bossa nova no mundo: o violonista e arranjador Aderbal Duarte.

“A ideia é escolher sempre um tema, que pode ser um instrumento, sua técnica e sua história ou um gênero musical”, conta Alexandre Leão.

“Olha, achei ótimo participar, a entrevista foi bem legal. Alexandre é traquejado pra isto”, garante Aderbal.

“O mais importante é isso, falar do ofício do artista. O que mais vale pra mim é minha pesquisa, o trabalho dos arranjos. E a entrevista é sobre isto”, afirma.

Para Alexandre, que até então nunca tinha tido a experiência de apresentar um programa, a oportunidade foi prazerosa. “Não vou mentir: foi fácil pra mim”, afirma.

“Por que são assuntos que eu amo e pesquiso informalmente. Então eu tinha o que perguntar. E sendo músico, me coloquei no lugar dos aficionados: que dúvidas e curiosidades eles teriam”, conta.

Alexandre, Álvaro Assmar, Diego Orrico e Eric Assmar: papo blues
Nascido no Teatro do Sesi, o Sala de Som foi criado por Alexandre e a produtora Rosa Villas-Boas, como um programa de sete minutos para a internet.

“Depois, a TVE Bahia mostrou interesse. Afinal, é um  educativo. Aí ele ganhou um formato de vinte minutos e regravamos tudo nos estúdios da TVE”, conta Rosa.

Com uma primeira temporada de 12 programas já pronta para ir ao ar, haverá uma bela diversidade de temas na tela.

Além de Aderbal descomplicando a bossa nova, tem Juliana Ribeiro fazendo um balanço do samba na Bahia, Maviael Melo abordando o cordel, Armandinho Macedo explicando a guitarra baiana, Margareth Menezes representando o afropop e Fábio Cascadura falando do rock baiano.

“O critério (de escolha dos artistas) é o conhecimento”, afirma Rosa. “Como Juliana Ribeiro, que fez uma dissertação de doutorado em História sobre o samba”, acrescenta.

Como é um programa sobre música e o fazer musical, Alexandre conta que fez questão de estabelecer um alto nível também no quesito técnico: “Fiz questão de levar um técnico e equipamento específico. Não podia fazer um programa de música, se não fosse com uma qualidade de som impecável”, afirma o músico.

Com a expectativa em alta pela estreia, Alexandre e Rosa ainda não sabem se o programa terá continuidade após a exibição da primeira leva de episódios.

“Tanto a TVE quanto nós temos interesse, mas tem os custos. No que depender de nossa vontade, haverá segunda temporada”, conclui.

Alexandre, Lula Gazineo, Elisa Goritzki e Ricardo Marques: papo chorinho
Sala de Som / Domingos, 16 horas/ Reprises às quintas-feiras, 23 horas / TVE (Canal 2) / Estreia: 1º de maio

Ordem de Exibição do Sala de Som:

Aderbal Duarte (Bossa Nova) – 01/05 e 05/5
Juliana Ribeiro (Samba na Bahia) – 08/05 e 12/05
Lula Gazineo, Ricardo Marques e Elisa Goritzki (Chorinho) – 15/05 e 19/05
Álvaro Assmar, Eric Asmar e Diego Orrico (Blues) – 22/05 e 26/05
Maviael Melo (Música Nordestina e Cordel) – 29/05 e 2/06
Gabi Guedes e Alexandre Lins (Percussão) – 05/06 e 09/06
Armandinho Macedo (Guitarra Baiana) – 12/06 e 16/06
Fábio Cascadura (Rock na Bahia) – 19/06 e 23/06
Jarbas Bittencourt e Luciano Bahia (Trilhas Sonoras) – 26/06 e 30/06
Mário Ulloa e Jana Vasconcelos (Violão Clássico) 03/07 e 07/07
Cássio Nobre (Viola Machete) 10/07 e 14/07
Margareth Menezes (Afropop) 17/07 e 21/07

sexta-feira, abril 29, 2016

DISTOPIA SOTEROPOLITANA

HQ baiana Cidade-Motor tem lançamento com sessão de autógrafos hoje, na loja RV

Que futuro tem uma cidade de terceiro mundo como Salvador – sufocada por carros, construção civil sem controle, lixo e uma classe política que lucra com este cenário? Pra lá de Mad Max, não é mesmo?

É este futuro distópico, à espera dos soteropolitanos, que a HQ baiana Cidade-Motor prevê.

Publicada pela comic shop e galeria RV Cultura & Arte, Cidade-Motor é o primeiro trabalho conjunto do trio Camilo Fróes, Moreno Pacheco (roteiro) e Bruno Marcello (desenhos).

O lançamento com sessão de autógrafos é hoje mesmo, na própria RV.

Na trama, acompanhamos Moema, uma jovem motogirl que se vê emaranhada em um perigoso jogo de interesses depois de sofrer um acidente de trânsito envolvendo dois policiais: um corrupto, do controle de trânsito, e outro, civil e honesto, chamado Celso.

Este último coloca a jovem sob sua proteção em uma comunidade de perfil autossustentável e marginal, onde a menina, da classe-média decadente, vê outra realidade.

“Eu e Moreno tivemos essa ideia reclamando do trânsito”, conta Camilo, que adotou a bicicleta como meio de transporte.

“Falamos sobre o que pode acontecer se ninguém nunca tiver uma atitude para o bem, no sentido de reverter esse cenário em que tudo fica em função do carro”, afirma.

"Aí pesquisamos bastante sobre o assunto e depois conseguimos inscrever um projeto para o Fundo de Cultura. Fomos aprovados e daí passamos a separar um ou dois dias por semana para tocar e escrever o projeto. Finalmente, agora está pronto", relata.

Artista com ligações na música e no teatro locais, Camilo  se espanta com a velocidade com que o cenário da HQ se aproxima da realidade.

“Soube que a Prefeitura abriu licença para mais quatro ou cinco shoppings na cidade. É um processo louco, que não contempla a convivência entre as pessoas. E para resolver, os governantes planejam grandes avenidas. É como se, em vez de fazer regime, uma pessoa gorda comprasse uma calça mais larga e achasse que está resolvido”, reflete.

Alerta urgente

Para uma HQ de estreia, o resultado de Cidade-Motor é bem respeitável.

Além do assunto, urgente para o leitor local, rendem pontos para o trio realizador a ótima caracterização da cidade – irreconhecível como um emaranhado de auto-estradas sempre engarrafadas por motor-homes (veículos-residência) gigantescos (sim, as pessoas passam a morar nos carros).

"Sobre esse lance de deixar Salvador irreconhecível, até pensamos muitas vezes em colocar meio escondido um Farol da Barra ou algo assim, mas a única coisa reconhecível da cidade que fizemos referência é um shopping famoso da cidade, que na HQ chamamos de Igautama. Foi uma forma de dar chance as pessoas de fazerem essa conexão: a única coisa que conecta essa Salvador da HQ com a nossa é o shopping, o que diz muito do modelo de desenvolvimento que vivemos", afirma Camilo.

"Acabou que isso viro o cenário da historia, que também não poderia ficar tão panfletária, senão, não ficaria interessante. Afinal, é uma aventura", pontua.

A arte de Bruno Marcello é também digna de aplausos, com seu design de veículos a la Moebius e um traço ágil e funcional  nas cenas de ação.

Viabilizada pelo Fundo de Cultura das Secretarias da Fazenda e de Cultura da Bahia, Cidade-Motor deveria ter uma tiragem extra para ser distribuída não apenas entre estudantes, mas também entre os legisladores baianos, dado seu caráter de alerta urgente.

Lançamento: Hoje, 18 horas / RV Cultura e Arte (Av. Cardeal da Silva 158, Rio Vermelho) / Entrada gratuita

Cidade-Motor / Camilo Fróes, Moreno Pacheco, Bruno Marcello / RV Cultura e Arte / 128 p. / R$ 19,90

quarta-feira, abril 27, 2016

CLÁSSICOS DO CANCIONEIRO PUNK BREGA EM NOVA ROUPAGEM

Em Wanclub, Wander Wildner atende aos fãs e reúne os hits da carreira

Wander Wildner, pronto para decolar mais uma vez. Foto Fernanda Chemale
Vinte anos depois da estreia solo com o  clássico álbum Baladas Sangrentas (1996), o Rei do Punk Brega Wander Wildner revisita os clássicos de sua discografia no ao CD vivo Wanclub: Música para Dançar - Volume 59.

Apesar de ser gravado ao vivo, Wander e sua banda gravaram as faixas na tranquilidade de um estúdio em Porto Alegre, sem a presença (e a gritaria) de uma plateia.

Quem ganha é o ouvinte, que pode ouvir, sem interferência, os ótimos novos arranjos para pérolas do rock brasileiro como Um Lugar do Caralho, Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo, Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro, Quase um Alcóolatra e Bebendo Vinho, entre outras.

Lançado e distribuído pela Deck, Wanclub é também a primeira experiência do veterano punk gaúcho com crowdfunding.

Financiado por 417 fãs que tem seus nomes eternizados no encarte do CD, o projeto via plataforma Kickante levantou R$ 48 mil.

“O projeto é baseado nessa ideia de fazer um disco para os fãs, com as músicas que eles mais gostam”, afirma Wander, por telefone.

“Na verdade, foi uma amiga minha que me perguntou por que eu não tocava mais algumas músicas no show. Falei que elas não representam mais pra mim como na época (em que foram feitas). Aí ela disse que os fãs adoram. E que são eles que pagam ingressos e compram  discos”, diz.

A chamada da amiga fez efeito e Wander se rendeu à ideia de um álbum pensado e feito para os fãs.

“Me dei conta dessa verdade. O artista está sempre querendo promover as músicas mais novas, mas o publico gosta é das que eles gostam, mesmo. Aí resolvi regravar as mais antigas e perguntei (no Facebook) quais eles queriam no disco”, diz o ex-Replicantes.

"Fora que minha discografia é quase toda independente, só teve um pela Trama, que já saiu de catálogo como todos os outros, então não tem nem CD mesmo. Para quem gosta de ter o disco, esse é um bom registro", acrescenta.

Hits rearranjados

Um gaúcho elegante. Ft Fernanda Chemale 
No estúdio, Wander e sua banda, Os Comancheros, retrabalharam os arranjos de canções já bem conhecidas dos fãs, dando-lhes novo relevo.

Bebendo Vinho virou um animado ska com direito a solo de kazoo (espécie de apito) de Wander. Eu Não Consigo... ganhou um toque David Bowie graças ao elegante sax de King Jim. Já Arthur de Faria tocou acordeom em Amigo Punk e Rodando El Mundo.

 Eterno punk, Wander diz que não houve “preocupação nenhuma” em relação às novas roupagens.

“Foi tudo feito junto com a banda, pessoas amigas que tocam há muito tempo comigo. Algumas já estavam diferentes no show. Em outras, mexemos mais”, diz.

Lançado em Porto Alegre com um show no tradicional Bar Opinião no último dia 10, Wanclub já tem show marcado em Salvador, onde ele conta com fidelíssima plateia: 16 de junho, no Portela Café.

Como não é possível viajar com a banda, aqui ele se apresenta (bem) acompanhado dos irmãos Rogério e Rodrigo Gagliano, da banda de surf rock Ivan Motosserra.

“É impossível viajar com a banda. Não tenho um grande público que pague os custos de passagem, hospedagem, alimentação e cachê dos músicos. No máximo, consigo ir com eles até São Paulo”, diz.

“Então, a maneira de fazer mais shows é eu sozinho, ou acompanho de bandas locais. O que é muito bacana também, pelo menos eu viajo e faço bastante show pelo Nordeste”, acrescenta.

"Na  verdade, estamos em um país onde as pessoas, ou melhor, boa parte delas, são burras. Minha música não toca nas rádios, por que elas não cumprem seu dever de servir a comunidade. As TVs são a mesma coisa, é tudo ao contrario neste país", acrescenta.

Ainda assim, é sacrificada a vida do artista independente: “Mesmo pelo Sul, é difícil. Meu publico é cada vez menor. Sobrevivo por que me mexo, fazendo show por bilheteria. Me arrisco o tempo todo. O sistema não é justo e vai ser cada vez mais assim”, afirma.

Há quase dez anos, o blogueiro entrevistou Wander para o finado Phodcast Rock Loco em Transe (gravado nas suntuosas instalações do Estúdio Em Transe, daí o nome), no qual Wander falou que parte de sua luta era ajudar a estabelecer no Brasil um circuito intermediário de artistas e shows, que nem estão no underground, nem no grande esquema das gravadoras etc.

De lá para cá, infelizmente, Wander diz ter visto pouco avanço nesse esforço. "Acho que não avançou, não. Cada vez mais diminui meu público, tem cada vez mais gente fazendo música, as pessoas vão se dividindo em gostos cada vez mais específicos. Mas não me considero underground. Nem gosto dessa palavra. Eu sou alternativo. Busco vias alternativas. O underground está debaixo da terra, então eu vou por vias alternativas, como é no resto do mundo. Só que lá fora existe uma estrutura. No Brasil, não, aqui é difícil conseguir show sem ser sexta e sábado. Tudo no Brasil é ao contrário, é errado e cada vez é mais assim", afirma.

"A ideia desse disco não é quanto a vendagem, é mais quanto a turnê, é pra vender show. Mas imagina só, eu lancei o disco na semana (da votação) do impeachment (na Câmara dos Deputados). Então foi uma coisa absurda: coloquei 220 pagantes em Porto Alegre, minha cidade. 80% eram amigos e convidados. Você me pergunta por que as pessoas não foram? (Irritado:) Não sei, nem me interessa saber! Por que? Eu só sei que aconteceu. Acho que foi uma semana indigna. Guardei dinheiro e paguei o show, mas só tive 220 pagantes às 21 horas de uma quarta-feira em Porto Alegre", conta.

Já que ele tocou no assunto, não custa perguntar: como ele viu o espetáculo deprimente da votação do impeachment na Câmara?


"Não vejo, não faço parte disso, sou um alternativo e vivo do meu jeito. Nunca fiz parte dessa sociedade, isso não me diz respeito. O mote das pessoas é 'não vai ter golpe'. Mas, primeiro de tudo, já houve um golpe em 1964 e nós vivemos até hoje (as consequências) desse golpe, o país não é livre, não é uma democracia, vive uma colonização americana e mundial que começou em 1964 e as pessoas focam no 'não vai ter golpe'. Já é um golpe. Tudo depois de 64 foi uma coisa irrisória. Tancredo morre ou foi morto logo no início (da redemocratização). Se as pessoas acharam que estavam numa democracia, foram ingênuas. Sempre achei que Brasil é a maior colônia americana ou mundial dos grandes monopólios industriais bélico, farmacêutico e cultural. E as pessoas querem ir contra isso dizendo não a isso? É um erro de conduta! Primeiro, eu nunca vou dizer não a alguma coisa e sim, sim a alguma coisa. Se me pedem uma sugestão, sugiro que digam: eu quero acabar com esse sistema político. Não preciso de negação para querer alguma coisa. Diga o que tu quer. É como se você me perguntasse, 'Wander, do que você não gosta?' Ora, o que eu não gosto, eu não penso. Ouço por alguns segundos, até desligar o aparelho. Eu penso no que eu gosto e vou atrás disso. As pessoas vivem um sistema de trabalho, emprego, salário, rotina, uma casa. Eu vivo na estrada, faz muito tempo que estou nessa, sou um viajante. Crio coisas com os amigos e vou fazendo. Não fico parado esperando alguma coisa de bom. Mesmo com meu público diminuindo, tento avançar, pois sei que ele existe, que tem gente que gosta", conclui.

Wanclub: Música para Dançar – Volume 59 / Wander Wildner / Deck / CD: R$ 19,90 / disponível nas principais plataformas digitais

terça-feira, abril 26, 2016

ROCK COM PEGADA POP, OS INFORMAIS SÃO ATRAÇÃO DA 2ª EDIÇÃO DO ROCKAMBO

Rapeize d'Os Informais, foto Jacó Birges
A coluna O blog tenta, mas dar conta da exuberante cena do rock baiano é, por incrível que pareça, tarefa quase infinita.

Vejam só essa banda, Os Informais. Esses caras estão na ativa desde 2006 e já tocaram bastante – e o colunista estava meio que alheio à sua existência até uns meses atrás.

Só quando o baterista e videomaker Glauco Neves (da Vendo 147, vista aqui semana passada) enviou um link com um clipe da faixa Respiro Fundo, dirigido pelo próprio Glauco, foi que minha atenção, por fim, se focou neles.

O clipe, bem produzido e dirigido, traz Pedro Pondé (Scambo) atuando como um personagem meio suicida, ao som de um rock contemporâneo linha Foo Fighters, produzido por andré t.

“Em 2015 lançamos um single com as músicas Tarja Preta e Respiro Fundo, um trabalho mais consciente e maduro, produzido por andré t”, conta o vocalista Daniel Calumbi.

“O clipe, um trabalho belíssimo do diretor Glauco Neves com atuação de Pedro Pondé, ficou tão bom que decidimos engatar já a pré-produção do álbum cheio pra ser gravado no segundo semestre”, acrescenta.

Daniel é o fundador da banda e o único integrante original desde 2006. “O que juntou todo mundo foi a vontade de tocar e viver com a música mesmo. Ninguém era profissional, mas a necessidade de criar falou mais alto, e a banda perdurou”, afirma.

“De lá pra cá muita coisa mudou. Saíram integrantes e entraram outros. Hoje divido os palcos com Elton Cardoso na bateria, Wagner Campello no baixo e Juan Sampaio e Mário Borba nas guitarras”, conta.

"Aprendemos que um monte de coisa vai dar errado no meio do caminho, mas que se a cabeça tiver no lugar certo, tudo se ajeita! E que as vezes é preciso não se levar tanto a sério... afinal, somos Informais!", diverte-se.

Nada de rótulos

Apesar de ter as influências mais ou menos claras – o som fala por si – Daniel prefere não rotular o som d’Os Informais.

“Não acreditamos em rótulos. Somos uma banda de rock mas cada músico tem influências  diversas, do reggae ao rock progressivo, que fica difícil definir um estilo específico”, diz.

“É notável a influência do rock brasileiro no nosso interesse em fazer músicas sempre em português, assim como percebe-se o rock inglês, o blues e o folk nas guitarras. Hoje experimentamos novos timbres e estilos para a confecção do álbum”, afirma.

Nesta sexta-feira, Os Informais se juntam a outras duas ótimas bandas baianas na segunda edição do evento Rockambo: Semivelhos (de Juazeiro) e Ronco, uma boa oportunidade para conhecer mais bons sons  do rock local.

"Com o lançamento do novo álbum, a ideia é cair na estrada novamente. A banda tem hoje uma formação sólida e está preparada pra mostrar seu trabalho nacionalmente. É também uma atividade do dia-a-dia ajudar a fomentar a cena musical soteropolitana, nossa eterna cidade, participando e divulgando eventos como o Rockambo, tão importantes pra que novos artistas continuem mostrando sua voz!", conclui.

Rockambo – Com Semivelhos,  Os Informais e Ronco / Sexta-feira, 22 horas /  Taverna Music Bar / R$ 15 / R$ 10 com nome na lista amiga

www.facebook.com/osinformais



NUETAS

Jimmy e os Modernos 

Falsos Modernos e Jimmy Six são as atrações do Quanto Vale o Show? hoje. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto quiser.

Grande Biggest Fest

Maurão e Pedro Bó. Ft: Eládio Machado
Rogério Big Bross Brito & sócios aproveitam as bandas de passagem pelo Nordeste para o Abril Pro Rock e trazem a cidade o psychobilly supimpa da curitibana  Sick Sick Sinners e o punk rock paulista zangado da Questions. A primeira se apresenta na sexta-feira, com os Retrofoguetes (22 horas, R$ 20). No domingo, a Questions se junta às locais Aphorism, Pastel de Miolos e Derrube o Muro (17 horas, R$ 20). O passaporte para os dois dias de festança rocker no Dubliner’s Irish Pub sai por R$ 30. Vendas antecipadas no local, Duendes Tattoo e Afreeka.

RIP Pedro “Bó” Rocha

A coluna O blog lamenta o falecimento de Pedro Rocha, baixista e fundador de bandas legais da cena local, como Dinky-Dau e Sangria (na foto ao lado, com o vocalista Mauro Pithon). Amigo do blogueiro, Pedro faleceu na noite da última quinta-feira (21), após um ataque cardíaco. Deixo aqui meus pêsames à família e amigos.

segunda-feira, abril 25, 2016

SOBRE POLÊMICAS, MAMADEIRAS E MARÉS

Em A Fúria do Mar, seu nono registro fonográfico, Baia celebra chegada de filha e questiona delações premiadas 

Baia: ao sabor das ondas. Foto Duda Simões
Mais afeito ao noticiário dos cadernos culturais, sites e revistas de música, Maurício Baia se surpreendeu quando sua música Suíte Bourbon 1407 foi parar nas colunas dos bastidores da  política de revistas como Veja e Exame.

Com letra inspirada nos vai-e-vens da Operação Lava-Jato do juiz Sérgio Moro, a faixa está no seu novo álbum, A Fúria do Mar, seu terceiro pela major Som Livre.

Em ritmo de folk rock à base de violão slide e gaita, Baia questiona o uso indiscriminado das famosas  delações premiadas: “O inquisidor pergunta ao preso / Se ele quer sair ileso / E lhe empurra um acordo / Que endurece os seus dez dedos / E assim de forma acuada / O réu assina a delação premiada / Que aplaudida ou vaiada / Quebra o fecho e vaza / O baú dos segredos   / (...) / Será que a justiça acordou ou será que a justiça justiçou?”.

“Com certeza, é o assunto mais ‘na contramão’ sobre o qual já escrevi. Na época, há mais um menos um ano, não conhecia ninguém que tava falando disso dessa forma”, percebe o músico por telefone, do Rio de Janeiro.

“Mas fico feliz em quebrar a unanimidade. Me informei bastante e vi que aquilo ia acabar em coisas maiores, no sentido de as ilegalidades ocorridas no processo até o anularem  mais a frente”, diz.

Com os ânimos acirrados, Baia lamenta que a chance de debates civilizados no Brasil pareça cada vez menor.

“Você não pode dizer essas coisas sem ser rotulado de bandido ou petista. Isso tira a minha vontade de debater. Só fica a vontade de cantar. O que tenho a dizer está na música”, diz.

Licença-paternidade

Baia: ninguém controla as marés. Foto Duda Simões
Mas nem só de política se sustenta o novo álbum do cultuado compositor, que é  nascido em Salvador e criado no Rio de Janeiro.

A Fúria do Mar, é, como ele mesmo diz, seu álbum da licença-paternidade, já que foi composto e gravado entre o nascimento e o primeiro ano de sua primeira filha, Dora – prontamente homenageada com uma faixa homônima, celebrando sua chegada.

“A chegada de um filho é um lance muito sério”, percebe. “Venho há mais de duas décadas (desde a banda Baia & Os Rockboys) trabalhando discos – que não deixam de ser filhos. Quando ela nasceu, tirei um tempo para cuidar dela em casa. Recebia muitas visitas e ficava tocando pra ela”, diz.

E foi nessas visitas de amigos e parceiros musicais que Baia foi construindo o repertório que hoje está no álbum.

Curiosamente, ou talvez justamente por estar tão ocupado com fraldas e mamadeiras, A Fúria... é o álbum com menos faixas assinadas pelo músico.

De treze, apenas cinco levam seu nome: as já citadas Dora e Suíte Bourbon 1407 (com Renato de Moraes), Malabar (com Gabriel Moura), Tem Fila (com Moura, Jovi Joviniano e Carlos Negreiros) e Ladrão Que Rouba Ladrão (com Gustavo Macacko e Luciano Luck).

Entre as outras sete, há composições de Pedro Luís (Caio no Suíngue), Nestor Capoeira (Vagabundo Confesso) e  André Saisse (Namoro), entre outros.

“Essas faixas que escolhi, eu gosto muito, por que dialogam com meu trabalho. Ao incluí-las, eu tô colocando no disco coisas de mim que estavam no mundo. Por exemplo, faixas como Toda (de Marcos Bassini) e Muda (de André Gardel e Luis Carlinhos) tem uma poética muito condizente com a que costumo usar”, observa.

Baia tem razão. Não apenas essas, mas também outras, como Caio no Suíngue e Vagabundo Confesso poderiam muito bem ser composições suas, não fossem os nomes dos autores no encarte.

Mesmo com a diversidade de autores, sua marca e seu estilo estão impressos em todo o CD.

"Elas (as canções) criam o ambiente do disco que é A Fúria do Mar, que transborda na fúria das massas, e, tudo que está além do nosso controle, como nascimento, morte, as mudanças políticas, os cataclismos. E a gente fica teorizando, mas as coisas acontecem acima de nossa vontade. Então tem muito disso no disco que é sobre a fragilidade humana. É sobre a força e a fragilidade. Mudou meu lugar no mundo, o sol se deslocou e a rotina se reverteu em função dela (a filha). Fiquei mais medroso e mais corajoso ao mesmo tempo. Vivo um dia após o outro. Algumas preocupações sumiram e outras vieram, como a responsabilidade adulta de prover em um mundo velho. Tem tudo isso, tudo está dentro d'A Fúria do Mar. Tudo o que te coloca na beira do abismo, na roda viva é condizente com o momento do Brasil e do mundo", reflete Baia.

Dono de plateia fiel em Salvador, Baia planeja trazer seu show à Bahia em julho: “O lançamento é dia 30 de abril no Circo Voador. No dia 15 de julho, tenho reserva para fazer em Salvador, mas o lugar ainda não tá fechado. No dia seguinte, vou a São Gabriel (a 480 quilômetros da capital). Depois tenho shows em Curitiba, São Paulo e cidades do interior, Recife e Vitória. Em agosto faço miniturnezinha por Portugal, pela quinta vez”, conclui Baia.

A Fúria do Mar / Baia / Som Livre  / Em  CD e  Streaming iTunes, Deezer, Google Play, Spotify e RDIO / Preço não divulgado

sexta-feira, abril 22, 2016

PEQUENO NA EMBALAGEM, INFINDO NA GENIALIDADE

Por volta de 1980. Photo Deborah Feingold / Corbis
O Príncipe Púrpura do Pop podia ser baixinho (não chegava a 1,60m), mas não abaixava a cabeça para absolutamente ninguém.

Do controle absoluto da carreira e da produção dos seus discos, à luta para se libertar das gravadoras major nos anos 1990, Prince não cedia um milímetro em suas convicções e ideais artísticos.

A certa altura, em plena batalha judicial com a gravadora Warner Brothers, substituiu seu nome por um símbolo impronunciável e passou a circular publicamente com a palavra "slave" (escravo) rabiscada no rosto – um desafio à indústria fonográfica que tolhia sua criatividade e um verdadeiro escândalo em um país como os Estados Unidos.

Outra peraltice inesquecível foi a capa do álbum Lovesexy (1988), na qual aparecia peladão e sem culpa nenhuma na expressão cândida estampada no rosto, quase um Adão pré-maçã de Eva em alguma pintura renascentista.

O resultado, claro, foi ter o disco recolhido de inúmeras lojas nos estados mais conservadores e religiosos dos EUA.

O artista de quem ontem nos despedimos, aliás, era um verdadeiro mestre na fina arte de falar de sexo quente com altas doses de espiritualidade – talvez seu maior ponto em comum com outro ídolo contemporâneo, Madonna.

Aqui e ali em sua obra, a experiência sexual é comparada ao êxtase religioso. Prince via o sexo como um presente de Deus (ou seja lá que divindade ele acreditava - se é que acreditava). Não a toa, estava sempre cercado de lindas mulheres, como um sultão.

Toda a sexualidade que parecia reprimida em Michael Jackson explodia quando o showman Prince entrava em cena com sua guitarra – um símbolo fálico eternamente em riste –, mulheres seminuas no palco e letras carregadas de sugestões sexuais.

Mas para além de toda a provocação sexo-conceitual, no que Prince era bom mesmo era na música.

Parte da pequena cena musical de sua cidade natal, a gelada e sonolenta Minneapolis, ele e alguns parceiros se lançaram em meados dos anos 70 com a banda Grand Central, com a qual apresentava números de funk da pesada, como Tower of Power, Sly and The Family Stone e The O'Jays.

Mais para o fim da década, com o brilho individual obviamente superior ao dos companheiros de banda, assinou um contrato solo para compor músicas comerciais para um estúdio local.

O resultado: seu primeiro número um nas paradas, com o inesquecível hit de 1979 I Feel For You, na voz de Chaka Kan.

No palco com sua então esposa, Mayte Garcia. Photo Redferns
No mesmo ano, já gravava para a Warner seu primeiro álbum solo, não por acaso intitulado For You.

Seu primeiro álbum solo saiu um ano antes, não por acaso intitulado For You.

Ali, começou a moldar o que viria a se tornar o R&B contemporâneo, graças a sua pesquisa com sintetizadores e baterias eletrônicas.

Mas Prince nunca quis ser apenas um cantor de hits dançantes.

Acima de tudo, era um músico inigualável e insaciável, do tipo que assinava todas as composições, arranjos e ainda tocava todos os instrumentos em alguns de seus álbuns.

Com a guitarra em punho, era tão inspirado que chegou, a certa altura, a ser comparado a Jimi Hendrix.

Mas Prince nunca quis ser apenas mais um guitar hero. Rocker, funky, hipster, sexy, barroco, fashion, ele desconhecia rótulos e barreiras.

Assim como outro gênio perdido este ano, David Bowie, Prince era múltiplo, era muitos, era todos os rock stars em uma embalagem pequena no tamanho, mas infinda em seu escopo artístico.

Quando ouvir Prince, não tenha dúvidas: faça como Chico César e dance. Dance como se fosse 1999 (como ele cantava no hit de 1982). Dance como se não houvesse amanhã.

quinta-feira, abril 21, 2016

A OUTRA FACE

Aos 69 anos, o ídolo popular Jerry Adriani arrisca um novo repertório em DVD filmado em P&B

Jerry e suas maracas. Foto: Débora 70
Artistas consagrados, com público fiel e décadas de carreira, geralmente, seguem um de dois caminhos.

Ou se acomodam no trono como um rei, gravando a mesma obra por anos a fio, ou se arriscam por novos caminhos artísticos, já que não tem mais nada a provar.

Jerry Adriani reafirma, em seu novo DVD ao vivo, que segue o segundo caminho. Não por acaso, o título da obra, lançada em CD e DVD, é Outro Jerry Adriani.

"Estamos vivendo uma época em que o artista tem que se desafiar para não cair na mesmice", acredita  Jerry  por telefone, do Rio de Janeiro.

"E até a mesmice, que na verdade, é fazer as coisas de acordo com seu estilo, não cabe mais nos esquemas de execução de rádio. Tá tudo muito diferente. Tem que tentar novos caminhos para chamar atenção, mostrar outros lados", acrescenta.

Gravado em um distinto preto & branco, em um estúdio sem plateia, o show traz Jerry muito à vontade, desfiando um repertório que parece se situar  entre a memória afetiva do cantor e canções incluídas para “surpreender” os fãs.

Entre as primeiras há You’ve Changed (sucesso na voz de Nat King Cole), Lembra de Mim (de Ivan Lins e Vitor Martins), Resposta ao Tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc) e Georgia on my Mind (grande hit de Ray Charles), entre outras.

As surpresas ficam por conta de Sugar Man (de Sixto Rodriguez, o cantor folk resgatado pelo premiado documentário Searching for Sugar Man), A Medida da Paixão (Lenine e Dudu Falcão) e e Judiaria, de Lupicínio Rodrigues.

“Nos meus momentos de folga, eu canto essas músicas em saraus, em casa. Eu toco piano, então a esposa do Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, me ouviu cantando Georgia on My Mind e sugeriu que fizéssemos um CD com esse repertório”, conta Jerry.

Para quem já fez álbuns dedicados aos repertórios de Elvis Presley em português (Elvis Vive, 1990) e Legião Urbana em italiano (Forza Sempre, 1999), a ideia não seria nada estranha.

“Eu sou uma pessoa com uma formação musical bem eclética”, afirma Jerry.

“Quando eu era menino, ouvia as canções italianas da minha avó. Na minha casa também tinha serestas, pois vários parentes tocavam instrumentos. Sabe a (atriz) Matilde Mastrangi? Ela é  minha prima e os pais dela tocavam, então  eram reuniões musicais com muito Orlando Silva, Chico Alves. Tudo isso acrescentou”, conta.

"Quando minha avó faleceu, eu era pequeno e ficava aos cuidados de uma família de espanhóis enquanto minha mãe trabalhava de dia. Aí vieram outras canções, os cantores do rádio, os americanos, Cauby. Fui criando isso, estudei canto lírico, criei uma tecelagem musical. Meu primeiro disco foi de canções italianas pelas minhas raízes e também em função do grande sucesso da música italiana no brasil dos anos 60, que concorria com Beatles e a música americana. Por isso, vim com o nome Adriani como cantor de rock", relata.

Letras polêmicas

"Gravamos um também fado do António Zambujo, Guia, que é belíssimo, muito bem construída a letra, uma coisa que hoje tem pouco espaço em rádio. As letras mais bonitas não são executadas,
tem uma fórmula de sucesso que se você sai... Minha opinião é que há uma infinidade de grandes artistas e letristas que precisam ser valorizados, as coisas mais trabalhadas não são muito fáceis. As diferenças que existe na musica de hoje é que, a música de consumo fácil da época da Jovem Guarda retratavam uma mudança comportamental, tinha uma crônica social. Quem entendeu logo isso foi Bethania, que passou para Caetano e eles passaram a assimilar a coisa da Jovem Guarda, por que viam o potencial popular daquilo. A contrapartida é que você tinha coisas fantásticas do outro lado da MPB, era uma loucura: Paulo Sérgio Valle, Vitor Martins... Hoje, não que não exista, o que acontece é que não é divulgada", percebe.

Não bastasse, o veterano jovem guardista ainda se dá ao luxo de cantar em cinco línguas diferentes: português, inglês, francês, italiano e espanhol.

“Algumas músicas eu mesmo escolhi, aí fomos compondo (o repertório) de acordo com essa pluralidade de estilos. Por isso, não poderia deixar de cantar em italiano, aí escolhi uma do Pino Daniele que não é muito conhecida, Quando. O triste é que, ao escolher a música, descobri que ele tinha morrido”, conta.


Cuidadoso em tempos de intensa vigilância midiática, Jerry quase deixa de fora as canções de Lupicínio, Sixto Rodriguez e Raul Seixas & Paulo Coelho (Medo da Chuva).

“Raul e Paulo fizeram essa música para mim, na época, mas eu não quis gravar por causa do trecho do padre (Eu não posso entender / Tanta gente aceitando a mentira/ De que os sonhos desfazem aquilo / Que o padre falou), conta.

Já a  do Lupicínio tem uma mensagem mais forte: “Eu estou lhe mostrando a porta da rua / Pra que você saia sem eu lhe bater”.

“Acabei cantando uma música que tem mensagem que eu sou contra, Judiaria. Falei: 'olha a Lei Maria da Penha, gente. A mulherada vai me bater'. Mas eu sou um intérprete, não sou a favor disso é uma coisa que retrata uma época e uma realidade que existiu, não faço apologia de nada", afirma.

"Já a do Sugar Man eu não queria gravar, questionei por que é a história de um traficante, fala de cocaína, mas eu não faço apologia de nada disso. Como não gosto de fazer cópia, demos uma mudadinha nesse ritmo. Em vez de rock, fizemos um salsa merengue. Sempre gostei de salsa, então fomos construindo assim”, conclui Jerry.

Outro Jerry Adriani / Jerry Adriani / Coleção Canal Brasil - Deck Disc / DVD: R$ 29,90 / CD: R$ 20,90

terça-feira, abril 19, 2016

VENDO 147 VOLTA SEM CLONE DRUM, MAS COM NOVA FORMAÇÃO E O TANQUE CHEIO

Alô? Sai uma formação nova pra banda instrumental? Foto Glauco Neves 
Surgida no final da década passada, a banda Vendo 147 se notabilizou por duas características próprias.

Um: ela tinha dois bateristas.

Dois: ela faz rock instrumental – mas não do tipo surf music e sim, numa pegada pesada de hard rock.

O esquema dos dois bateras, que tocavam um de frente para o outro, compartilhando o mesmo bumbo – e batizado por eles de clone drum –, infelizmente, não está rolando mais.

“Dimmy Drummer” da Silva, que fazia o clone de Glauco Neves na banda, saiu do país para investir em sua carreira de chef de cozinha.

“Acredito que tenha sido uma decisão bem difícil pra ele, por tudo que já construímos e conquistamos, inclusive pelos planos que vínhamos traçando para a banda. Mas é isso, ele ainda é um membro da Vendo 147, pode voltar quando quiser. É a vantagem do clone drum”, diz Glauco.

Além da bateria, as guitarras também tiveram suas dificuldades, com um certo entra-e-sai de músicos. O elogiado Enio Nogueira chegou a integrar o grupo, mas logo saiu.

“Ele entrou depois da saída de Pedrinho e Duardo, os guitarristas originais do EP e do (álbum) Godofredo. Junto com ele, veio Bruno Balbi”, conta.

“Depois disso, ainda tivemos mais uma dupla, Jordan e Eduardo César (da TenTrio), até chegar na nossa formação atual, com Gabriel Lobato e Samir Carvalho, ex-membro da banda Acord”, relata.

Com um ótimo álbum e muitos shows pelo Brasil na bagagem, o agora quarteto voltou aos palcos sexta-feira passada, com um show no Dubliner’s.

Foi a estreia da nova formação, com Glauco e o fiel baixista Caio Parish apresentando os novos guitarristas e as músicas que deverão entrar no próximo álbum da banda, já intitulado Negro.

“A gravação está prevista o segundo semestre. As músicas já estão prontas, agora é gravar e finalizar. As músicas são mais diretas, com uma pegada que remete ao início da banda, algumas inclusive compus na época do EP (2009), além de músicas de todos os integrantes. Acredito que seja um disco de rock, puro, com várias influências clássicas”, descreve.

Combustível

Gato escaldado, Glauco sabe que a luta da banda de rock pra frente é dura, mas também é consciente do seu valor.

“O lance de ter uma banda não é fácil, ainda mais um projeto instrumental de rock, na Bahia. Não é pra qualquer um”, vê.

“Acho que a nossa maior alegria é fazer a música que gostamos e saber que muitos gostam da gente. É o nosso combustível pra continuar. Espero que nenhum integrante saia depois dessa entrevista”, ri.

www.vendo147.com



NUETAS

Game Over, Canalhas

Os Canalhas e Game Over Riverside são as atrações de hoje do Quanto Vale o Show?. 19 horas, Dubliner’s, pague o quanto quiser

Modus, Declinium, Jato

Modus Operandi, Declinium e Jato Invisível se apresentam sábado no  Bukowski Porão Bar. Rock 20 horas, gratuito.

Batera do Sepultura na city

Baterista atual do Sepultura, Eloy Casagrande vem à cidade apresentar um workshow no Teatro Sitorne (R. Deputado Cunha Bueno, 55, Rio Vermelho). Os ingressos já estão à venda na Foxtrot: R$ 40 (1º lote). No dia, sai por R$ 50. No dia 13 de maio, 19 horas.


ENTREVISTA COMPLETA: GLAUCO NEVES (VENDO 147)

Por que Dimmy foi embora? - da banda, eu pergunto. Do Brasil, a resposta é óbvia. Foi uma decisão difícil? Como a banda recebeu a notícia?

Glauco, 3º da esq. p/ dir. e a nova formação da V147. Foto Glauco Neves
Glauco Neves: Quando Dimmy comunicou que teria que deixar a banda neste momento, acredito que não ficamos surpresos e sim sentidos com sua saída. Como somos todos amigos, acompanhamos a trajetória pessoal de cada um e no caso dele era evidente que estava buscando crescer na sua profissão como chef de cozinha.  Para isso, foi necessário tomar algumas decisões. Sair da banda foi uma delas, assim como sair do país. Acredito que tenha sido uma decisão muito difícil pra ele, por tudo que já construímos e conquistamos, inclusive pelos planos que vinhamos traçando para o futuro da banda. Mas é isso, ele ainda é um membro da Vendo147, pode voltar quando quiser...essa é a vantagem do Clone Drum (risos).

A Vendo 147 não é mais uma novata na cena. Nesse momento em que a banda se reinventa, que balanço você faz de sua trajetória?

GN: Olhando pra trás, desde de quando comecei a compor sozinho em uma sala, sem pretensão de nada, ainda como projeto virtual e vendo hoje tudo que a banda já realizou, eu fico realmente muito feliz e satisfeito. Já tocamos nos mais importantes festivais de música no Brasil e rodamos bastante pelo país. Essa foi uma época em que a banda estava consistente, onde um EP de 4 faixas fez a gente deslanchar e divulgar nosso nome. Na sequência lançamos o nosso primeiro álbum (Godofredo/2011) e fizemos uma tour pelo país. Mas a Vendo147 nunca parou, o que aconteceu durante esses anos pós-Godofredo foi uma incansável saída e entrada de novos integrantes na banda, o que não facilitava a consolidação de um novo disco. O lance de ter uma banda não é fácil, ainda mais um projeto instrumental de rock, na Bahia (risos). Não é pra qualquer um. Mas superamos essa fase e a banda está definida há um tempo e, finalmente, estamos prontos para gravar o novo trabalho. Dessa vez, a saída recente de Dimmy não afetou o processo de produção do novo disco, pois o mesmo já estava encaminhado, além dele também ter participado das composições novas.

Ouvi no Soundcloud de vocês a faixa Poletense, gravada em 2014, ainda com Dimmy. Esse material que vocês já vinham trabalhando será retrabalhado nessa nova configuração? Ou será descartado para começar tudo do zero? Ou já existe um repertório novo?

GN: Poletense foi o nosso primeiro single do novo disco, o Negro, que seria lançado em 2015. Mas foi justamente o período em que tivemos algumas baixas na banda e atrasou todo o nosso planejamento. Poletense continua sendo uma música presente no disco novo e agora, mais do que nunca, estará nele como faixa bônus do Negro, já que todas as outras músicas irei gravar sozinho na bateria. Com certeza foi necessário adaptar os arranjos de bateria para essa nova configuração, inclusive as músicas mais antigas, principalmente do Godofredo, que eram mais progressivas.  O nosso repertório hoje é uma mistura do Ep Vendo 147(2009), Godofredo (2011) e Negro (2016), que apesar de não estar gravado ainda, estamos tocando nos shows.



Qual a previsão para gravar e lançar o disco com a nova formação? Conceitualmente, em que ele vai diferir do Godofredo?

GN: A gravação do NEGRO está prevista para ainda este ano, no segundo semestre. Apesar de rolar um pouco de trauma em declarações desse tipo (risos), as músicas já estão prontas, apenas precisando serem gravadas e finalizadas. Ah, e os integrantes permanecem, então tudo indica que em breve tem novidades (risosss). Sobre as músicas do novo disco, elas são mais diretas, com uma pegada que lembra mais o início da banda, algumas inclusive compus na mesma época do EP (2009) e nunca foram gravadas, além de músicas de todos os integrantes da banda. Acredito que seja um disco de rock, puro, com várias influências clássicas.

O breve line up com Bruno Balbi e Enio (nas extremidades) Ft: Nina Fonseca
Vocês também já tiveram algumas trocas de guitarristas, né? Da última vez que chequei, Enio estava na banda. Como chegou nos guitarristas atuais e quais são suas referencias (já tiveram banda antes)?

GN: Como falei antes, tivemos algumas entradas e saídas de integrantes, o que inclusive atrasou bastante os trabalhos da banda. Enio entrou logo depois da saída de Pedrinho e Duardo, os guitarristas originais da época do EP e do Godofredo. Junto com ele veio Bruno Balbi. Depois disso ainda tivemos mais uma dupla de guitarristas, Jordan e Eduardo César, da Tentrio, até chegar na nossa formação atual de guitarristas, com Gabriel Lobato e Samir Carvalho, antigo membro da banda ACORD. Deu pra perceber que guitarrista é um bicho problemático, né? rs... Hoje os membros da Vendo 147 são Caio Parish (Baixo), Samir Carvalho (guitarra) , Gabriel Lobão (Guitarra) e eu, Glauco (Bateria). Sinto que os membros atuais possuem afinidades em relação a gosto musical, que vai desde de coisas clássicas do rock até bandas mais modernas...Uma regra da banda é amar o Led Zeppelin e o Black Sabbath e isso todos fazem (risos).

A V147 voltou para ficar agora? Podemos esperar shows mais frequentes e uma maior presença da banda na cena? Pretende fazer shows pela crescente cena do interior também?

GN: A Vendo147 nunca parou, de fato. As vezes a banda não tocava em Salvador, mas estava em Natal, por exemplo, tocando no Festival Instrumental e outros festivais, porém, numa frequência menor. É verdade que deixamos de tocar em Salvador durante um bom tempo, principalmente por estarmos focados em produzir algo novo ao invés de ficar fazendo o de sempre. Mas agora o que queremos é produzir o novo disco e fazer muitos shows, tanto em Salvador como no interior do Estado da Bahia e  Brasil a fora. Acho que a nossa maior alegria é poder fazer a música que gostamos e saber que muitas pessoas gostam da gente. Esse é o nosso combustível maior pra continuarmos criando (Espero que nenhum integrante da banda saia depois dessa entrevista, risooossss).

sábado, abril 16, 2016

PODCAST ROCKS OFF DISCUTE THE BYRDS: A MELHOR BANDA AMERICANA EVER?

The Byrds e os pássaros, provavelmente em Londres
Nei Bahia, Osvaldo Braminha Silveira Jr. e Márcio Rocks Martinez ouvem e discutem a soberba banda californiana liderada por Roger McGuinn nos anos 1960.

Reverenciada por basicamente todo mundo - dos Ramones às bandas mais recentes do folk rock - os Byrds foram uma all-star band que ainda reuniu nomes como David Crosby, Gene Clark e Chris Hillman.

São considerados por muitos como os melhores intérpretes das canções de Bob Dylan, entre várias outras honrarias.

Passaram pelo folk, pelo country rock e pela psicodelia - sempre com a mesma personalidade e genialidade.

Aqui, você fica sabendo um pouco mais sobre a banda de hits eternos como Younger Than Yesterday, Turn Turn Turn e claro, Mr. Tambourine Man.

Enjoy.

sexta-feira, abril 15, 2016

POLICIAL PARA UMA NOSTÁLGICA SESSÃO DA TARDE

Estreia: Baseado no clássico infanto-juvenil, O Escaravelho do Diabo é bonitinho, mas não convence

Hugo Foguinho (Cirillo Luna) e Alberto (Thiago Rosseti) , irmãos na trama
Leitura obrigatória para quem cresceu entre os anos 1970 e 80, o policial infanto-juvenil O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida (1910-2005), tirou o sono de muito moleque com sua trama de um psicopata que só mata pessoas ruivas.

Sua adaptação cinematográfica, porém, dificilmente deixará alguém acordado dentro dos cinemas.

Apesar de bem-intencionado, o filme dirigido por Carlo Milani tem alguns pecados.

O primeiro é o elenco, cujos atores parecem operar no piloto automático, recitando suas falas sem determinação.

Mesmo artistas consagrados, como Marcos Caruso e Jonas Bloch, rendem mal, comprometendo a imersão do espectador que tenta acreditar no que vê na tela.

A produção em si parece ser barata – apesar de ter a Globo Filmes entre seus realizadores.

A cantora Verônica (Bianca Müller), ruiva, grava um clipe na cidade. Má ideia
O clímax, com direito a uma igreja em chamas, chega a ser constrangedor, lembra cena de novela da própria Globo, só que dos anos 1980.

Detetive batutinha

Mas o maior de todos os pecados contra a verossimilhança tenha sido a alteração do personagem principal, Alberto.

No livro, ele é um jovem estudante de medicina – portanto, alguém na faixa dos 20 anos, ou perto disso.

No filme, Alberto é um menino de 13 anos metido a detetive – interpretado por Thiago Rosseti, de interpretação artificial.

A edição original da Col. Vaga-Lume
Após ter seu irmão  mais velho Hugo "Foguinho" (Cirillo Luna) assassinado, Alberto resolve “investigar”.

A princípio, o detetive batutinha não recebe nenhum crédito do Inspetor Pimentel (Caruso) pela descoberta de que as vítimas do psicopata que aterroriza a idílica cidade de Vale das Flores são todas ruivas e recebem um escaravelho.

Claro que, até a tela preta com os créditos finais, Alberto será recompensado com afagos na cabeça e um beijo inocente da namoradinha, Rachel.

Enfim, O Escaravelho do Diabo é uma doce sessão da tarde que poderá ter algum apelo junto a adultos nostálgicos que leram o livro pela Coleção Vaga-Lume, mas dificilmente convencerá millennials viciados nos bilionários filmes de super-heróis.

O Escaravelho do Diabo / Dir.: Carlo Milani / Com Marcos Caruso, Thiago Rosseti, Jonas Bloch, Cirillo Luna / UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela, UCI Orient Shopping Barra, Cinemark, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinépolis Bela Vista / 12 anos

quinta-feira, abril 14, 2016

BLOGS, SELOS E ARTISTAS CONTRA O GOLPE

Em 1992, quando fomos às ruas pra apear Collor do poder, fomos, como hoje, movimentados pela mesma revista Veja e pela mesma Rede Globo. A favor da nossa consciência, Collor cometeu o equívoco de ele mesmo se beneficiar do esquema de corrupção desenhado pelo seu tesoureiro Paulo César Farias. PC pagava contas pessoais do presidente e da primeira-dama com grana de propina. Uma CPI foi instaurada na Câmara e os deputados saíram com provas de que Collor, já na presidência, utilizava-se desse dinheiro para benefício próprio. Era o tal crime de responsabilidade que justificou seu impeachment: o presidente dolosamente e diretamente utilizava do seu cargo pra conseguir benefícios indevidos.

Piorou quando PC Farias e Collor forjaram documentos pra tentar provar que a grana usada pras despesas do casal mandatário vinha de um empréstimo do Uruguai. Virou falsificador.

Tirar Collor do poder foi pouco traumático pra democracia brasileira, ainda cheirando a talco de neném, na sua primeira eleição direta à presidência depois da acintosa ditadura militar que durou mais de vinte anos. Itamar Franco assumiu, arrumou um plano econômico que ajustou a moeda nacional e fez seu sucessor. Que se reelegeu. Então um novo partido venceu as eleições e elegeu um novo presidente, que fez sua sucessora. Que dois anos atrás também se reelegeu.

Para então estarmos diante novamente de um processo de impeachment. Diferentemente de Collor, Dilma não tem nada contra. Nesse meio tempo, entre sucessores e reeleições, muitos escândalos de corrupção apareceram. Teve o da reeleição, Banestado/Lava Jato, privataria tucana, mensalão petista e mensalão tucano, petrolão/Lava Jato, HSBC, CARF, Panama Papers e nada, em nenhum deles, o nome de Dilma aparece.

A sua chapa está enrolada em tramoias envolvendo obras públicas e a Petrobras. Seu nome não aparece como beneficiária direta de um centavo sequer. Ao contrário, seus delatores, seus acusadores e seus opositores, grande parte deles, em especial os protagonistas (Eduardo Cunha, presidente da Câmara; Renan Calheiros, do Senado; Michel Temer, vice-presidente da República; Aécio Neves, líder da oposição etc.), estão todos enrolados, indiciados ou acusados. Pois é, “a gente somos corruptos”.

Na falta de um crime tão compreensível pra população como o de Collor, arrumaram um “crime fiscal” pra justificar o injustificável, o golpe, a destituição de uma presidente eleita pelo povo, democraticamente, legitimamente: as “pedaladas fiscais”, que a grande maioria talvez nem entenda ou queira entender.

Dificultando a compreensão do “crime”, entra a mídia pra inflar a ira da turba, pregando no partido da presidente a pecha de bandido, o que para a grande massa acaba sendo a mesma coisa. Ela não fez nada, mas as informações e a narrativa são para misturar tudo num balaio só. Ela virou uma bandida sem crime. Já está condenada antes mesmo de qualquer julgamento.

A chamam de ladra, de louca, de anta, de nomes impronunciáveis. Uma covardia. Enquanto não se provar nada contra ela, enquanto não tiver uma mísera prova de que ela é corrupta, o máximo que se pode dizer dela é que Dilma é incompetente, mas isso vai da visão de cada um. Um governo incompetente ou impopular se tira no voto, não por impeachment. Acontece que os derrotados de 2014 não souberam esperar e inventaram uma série de artimanhas para tirá-la do poder.

Primeiro, recontagem de votos. Deu em nada. Depois, os crimes vinculados à Lava-Jato. Até agora, nada do nome dela aparecer. Ainda existe a saída pelo Tribunal Superior Eleitoral, já que delação premiada de um empreiteiro acusa sua chapa de usar dinheiro de propina na eleição. Uma delação, nenhuma prova, por enquanto. É esperar.

Enquanto isso, arrumaram esse “crime fiscal” que ninguém entende e forçam a barra para que achem que é roubo. Não é. Nem crime é.

Não podemos ser a favor disso. O que vale em resumo desse texto é: impeachment com crime não é golpe; sem crime, é. O dela é golpe. Não há crime.

E há promessa de coisa pior: dessa turma de golpistas, grande parte investigada e suspeitada pela Lava-Jato, espera-se que as investigações sejam estancadas. Tirado o PT do poder, encerra-se tudo, não investiga-se mais ninguém, já era, todo mundo se salva, e ainda expulsa-se quem a mídia queria expulsar. Não é um processo contra corrupção, portanto. Se fosse, Dilma não estaria nessa situação, já que ela não é nem mesmo citada num escândalo em investigação.

Por incrível que pareça, doze anos depois, por falta de provas, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal dos crimes de peculato, falsidade ideológica e corrupção passiva. Um inocente diante da Justiça. Ou um sortudo diante de uma polícia incompetente.

Não se pode dizer o mesmo agora. A Polícia Federal tem autonomia, investiga, prende gente graúda (senadores, empreiteiros), gente de grana. Mesmo assim, não chegou em nada que comprometesse Dilma.

A sanha de poder dos golpistas não pode encontrar eco em quem tem um pingo de bom senso. Músicos, jornalistas, políticos, empresários, centrais sindicais, estudantes, juristas, cineastas, atores, atrizes, escritores, rappers, tem muita gente contra esse processo. Nós aqui, entre blogues, sites e selos musicais e arrobas do Twitter também nos manifestamos contra o golpe.

Texto de Fernando Augusto Lopes

https://blogseseloscontraogolpe.wordpress.com/

CONY, 90 ANOS: "É UMA IDIOTICE PENSAR EM NOVA INTERVENÇÃO MILITAR"

Monumento vivo da literatura e do jornalismo brasileiros, Carlos Heitor Cony completou 90 anos no último dia 14 de março.

Para comemorar, a Editora Nova Fronteira está relançando seus livros em edições novas e revistas.

O mais recente a chegar às livrarias foi justamente seu primeiro romance, O ventre (1956).

Considerado um marco do neorrealismo brasileiro, o livro foi preterido de uma premiação à época, por ser considerado “forte demais”.

Nesta entrevista exclusiva ao Caderno 2+ do jornal A Tarde, Cony fala destas reedições e conta como retirou seu apoio inicial ao golpe de 1964, tendo sido preso por seis vezes na ditadura.






ENTREVISTA: CARLOS HEITOR CONY

Aos 90 anos, o senhor não para, escrevendo colunas para a Folha, comentando na rádio CBN, relançando suas obras. Qual a receita para tanto vigor? O senhor não pretende se aposentar, correto?

Carlos Heitor Cony. Foto: Divulgação Nova Fronteira
Carlos Heitor Cony: Não tenho tanto vigor assim. Repito os versos de Orestes Barbosa: “Meu avó morreu na luta, o meu pai pobre coitado fatigou-se na labuta por isso nasci cansado”.

Fui informado que o senhor acompanha de perto a reedição de suas obras. O senhor tem alguma exigência quanto a essas reedições, como textos auxiliares, fortuna crítica, aspectos gráficos?


CNC: Acompanho discretamente as reedições da minha obra. Às vezes mexo numa palavra ou acrescento outra. Mas não acompanho o trabalho das editoras ou das gráficas. Meu problema é fazer um texto que me agrade. O resto é com as editoras, os críticos e os leitores.

A editora acaba de relançar O Ventre, seu primeiro romance. Como o senhor mesmo o avalia hoje? Ainda mais à luz do ocorrido em 1956, quando ele foi impedido de ganhar um prêmio literário por ser considerado "forte demais"?

CNC: Não tenho uma perspectiva exata dos meus livros. O editor Enio Silveira, da editora Civilização Brasileira sempre considerou “O ventre”, o meu melhor livro. Realmente num concurso promovido pela Academia Brasileira de Letras e a Prefeitura do então Distrito Federal (Rio de Janeiro), foi considerado o melhor daquela safra, mas não me deram o prêmio porque fui considerado indecente para aquela época (1956).

É verdade que o senhor, inicialmente, apoiou a queda de João Goulart em 1964? O que fez o senhor notar que o apoio aos militares, logo retirado, foi um erro? Em que momento e por que "a ficha caiu" para o senhor?

Carlos Heitor Cony. Foto: Divulgação Nova Fronteira
CNC: Nunca apoiei a queda de Jango. Como editorialista do jornal Correio da Manhã, durante muito tempo fazia os editoriais do jornal que criticava violentamente o governo. Quando veio o golpe, em 1º de abril de 1964, presenciei, junto com o poeta Carlos Drummond de Andrade, uma cena de violência contra um operário que dera um grito de “Viva Jango”. Um oficial da Marinha sem farda mas armado, deu um tiro para o alto e começou a chutar o operário que já estava no chão. No dia seguinte, escrevi uma crônica narrando o fato e me senti culpado de não ter feito nada. Indo para a redação, escrevi meu primeiro artigo criticando o golpe. Foi minha primeira crônica sobre política e a primeira que foi escrita contra o regime que se instaurava. Este foi o fato de ter sido o primeiro a condenar aquele golpe. Alguns historiadores e comentaristas daquela época, sempre realçaram que esta primeira crônica foi também a primeira, na imprensa brasileira a condenar o movimento militar. Basta consultar os livros de Alfredo Bosi, Nelson Werneck Sodré, Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis e Ruy Castro.

O senhor foi detido seis vezes durante a ditadura. Por conta disso, com todo direito, o senhor recebe uma indenização mensal do governo. Alguns colegas seus a recusaram, como Millor, com aquela famosa frase "Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?”. Como vê a recusa - e o questionamento do Millor?

CNC: A Constituição de 1988 criou uma indenização para todos os que foram presos, torturados, se exilaram e ficaram sem emprego. No entanto a Constituição não estipulava um critério que reparasse a iniqüidade que sofreram muitos jornalistas, intelectuais, artistas, e até mesmo alguns militares. Só mais tarde, no governo de Fernando Henrique Cardoso, é que o artigo constitucional foi regulado, estabelecendo os critérios para o valor das indenizações. O próprio FHC e Lula, foram cassados e exilados também receberam um tipo de indenização de acordo com os critérios estabelecidos pelo governo que complementou o texto constitucional. O caso de Millôr Fernandes revelou o ressentimento dele. Nunca foi preso, não perdeu nenhum emprego. Aqueles que foram indenizados, no momento em que tomaram a decisão de criticar o novo regime, sabiam que estavam arriscando a própria pele, uma vez que a expectativa na época era radical: seriam mortos ou torturados. O próprio Millôr, que editava um tablóide chamado “Pif-Paf”, reclamou que eu condenava a ditadura e no entanto escrevia diariamente contra o golpe de 64. Seria uma loucura prever, que em 1988, a nova Constituição indenizaria aqueles que sobreviveram aos anos de chumbo.

Neste momento sombrio em que vemos o Brasil, há setores da sociedade que pedem uma intervenção militar, com a certeza que estaríamos melhor em uma ditadura de viés direitista (não que uma de esquerda seja melhor, claro). O que pensa desse tipo de posicionamento?

CNC: É uma idiotice pensar em nova intervenção militar para consertar a crise que hoje atravessamos. Ao apelar para a intervenção militar, as vivandeiras de quartel ainda hoje acreditam que uma ditadura militar seria a melhor coisa que poderia acontecer no Brasil.

Um trabalho do senhor que me chama muito a atenção são aquelas adaptações, dirigidas ao jovens, de livros clássicos da literatura universal, a maioria lançada pela Ediouro nos anos 70 e 80. Por que não há mais incentivo à leitura de qualidade para os jovens?

CNC: Realmente, sempre houve adaptações de obras clássicas para aqueles que estão chegando à idade da razão, vale dizer que o público infanto-juvenil pode tomar conhecimento das obras primas da literatura universal. No passado remoto, houve até edições de “A Divina Comédia” “adusum delphini”, que eliminava trechos do poema de Dante. No meu caso pessoal, tomei conhecimento de “Dom Quixote de la Mancha”, “A Divina Comédia”, “ As viagens de Gulliver”, “Os Lusíadas” (soberba adaptação de Rubem Braga) e da própria Bíblia feita por diversos autores e em várias línguas e épocas. No Brasil, destacaram-se as adaptações de Monteiro Lobato.

O senhor tem acompanhado a literatura brasileira contemporânea? Algum autor (ou obra) o chamou a atenção? O que pensa da produção literária contemporânea no Brasil?

CNC: Estou em fase de releituras. Infelizmente, sobra-me pouco tempo para acompanhar a literatura contemporânea. Nunca li nem pretendo ler Garcia Marques. Quanto à nova literatura brasileira, leio e admiro os livros de Dalton Trevisan, Ruy Castro, Heloísa Seixas e alguns outros.

O brasileiro é malandro mesmo ou só usa essa ideia pré-concebida para justificar (e manter) a bandalheira generalizada em que se vive neste país? Neste momento tão complicado, como o senhor avalia o caráter do brasileiro?

CNC: Não faço bom juízo do caráter do brasileiro, nem mesmo do meu. O brasileiro típico é um Frankenstein composto de pedaços contraditórios. Se alguém está no estrangeiro e num grupo de homens há alguém coçando o saco, pode ter a certeza de que é um brasileiro.

A que o senhor atribui a pobreza de argumentos no debate político atual?

CNC: O lugar-comum garante que o pior de uma ditadura é a sua herança. Isso explica a corrupção de uns e a prepotência de outros.

terça-feira, abril 12, 2016

GAME OVER RIVERSIDE RETORNA DE HIATO, FIEL À PROPOSTA DE ROCK ALTERNATIVO

Game Over Riverside, foto Fernando Fernandes
Original da cena underground da década passada, a Game Over Riverside cumpre a trajetória de tantas outras bandas locais: após alguns anos parada por que os integrantes precisavam cuidar da vida (leia-se trabalhar, estudar etc), ela anuncia seu retorno com shows e um CD para breve.

Entre o grunge tardio e a estética faça-você-mesmo do punk, a GOR pratica um rock alternativo com letras em inglês bem legal, que deve agradar fãs de bandas como Sonic Youth, Nirvana e congêneres.

No Bandcamp do quinteto já tem duas faixas para ouvir e baixar: Deep Waters e Sadness Online.

Lançadas como singles virtuais, ambos tem capa assinada pelo fotógrafo Fernando Fernandes, sendo que o “modelo” é ninguém menos que o popular Rodrigo Sputter Chagas, da The  Honkers.

E não é que o rapaz leva jeito?

“Sim, é uma homenagem. Sputter sempre nos incentivou, nos deu força, sempre nos cobrou um registro de nossas músicas. Foi umas das poucas pessoas que, durante o tempo que estivemos parados, cobrava o nosso retorno”, conta o baterista Leo Cima.

Caos, drama, deboche

No mês que vem, a GOR lança seu primeiro registro, um EP com seis faixas (incluindo as duas já citadas), ainda recuperado o repertório da primeira fase do grupo.

“Todas as canções que estão no CD foram compostas antes de pararmos. Tínhamos uma espécie de débito com elas e preferimos grava-las para firmar a existência de cada uma e porque acreditamos no potencial delas”, conta.

“Pretendemos voltar ao estúdio no final do ano para gravar a outra metade do nosso repertório que ficou de fora. Antes, queremos tocar o quanto pudermos. Temos algumas datas dentro do que a gente apelidou como The Grunge Days are Gone Tour (Turnê Os Dias do Grunge Acabaram)”, acrescenta o baterista.

Formada por Leo, André Gamalho (baixo), Leko Miranda  e John-John Oliveira (guitarras), Sérgio Moraes (vocal e guitarra base), a Game Over Riverside se apresenta de hoje a oito (dia 19) no Quanto vale o Show?, de Rogério Big Bross Brito.

Definida por Leo como “caótica, dramática e ao mesmo tempo debochada”, a GOR é uma banda que vale a pena ser acompanhada.

Quanto Vale o Show? com Game Over Riverside e Os Canalhas / Terça-feira (19 de abril), 19 horas / Dubliner’s

www.gameoverriverside.bandcamp.com



NUETAS

RestGate no Irish

Todas quarta-feira, a  banda RestGate Blues toca a noite  Blues na Faixa, às  22 horas, gratuito. Já no dia 22 (sexta), rola a Blues Feelin' Night, com a RestGate, Celso Dutra & Blues House, Soir e participação de Eric Assmar. Dubliner’s Irish Pub, 22 horas, R$ 20.

Vendo 147 reestreia

A Vendo 147 se notabilizou pelos seus dois bateras. Um deles (Dimmy Drummer), porém, deixou o país. Sábado, a nova formação estreia com show no Dubliner’s. A night ainda conta com Du Txai e os Indizíveis. 22 horas, R$ 20.

Frabin, Mapa etc.

O catarinense psicodélico  Frabin se junta à banda local Mapa para dois shows. Sábado Sexta-feira, no Taverna Music Bar, com DJset da SOFT PORN, 21 horas, R$ 15. E domingo sábado em Camaçari, no John Sebastian Bar, com Declinium e DJ Pivoman, 21 horas, R$ 15.

ENTREVISTA: LEO CIMA (GAME OVER RIVERSIDE)

A banda surgiu no início da década passada, depois parou e agora está de volta. O que houve para banda parar? E por que decidiram voltar?

Leonardo Cima – A banda parou por questões externas. Éramos muito jovens quando surgimos e paramos em uma época na qual dois de nós (a G.O.R. tinha seis músicos) tiveram que priorizar os seus compromissos pessoais e profissionais com mais afinco e acabaram saindo, aí ficou difícil manter o grupo. Também não queríamos substitui-los, não havia sentido em continuar com aquele trabalho sem eles. A Game Over Riverside era uma banda de palco, caótica, dramática e ao mesmo tempo debochada, era aquela coisa da tão falada química entre os integrantes que não fazia sentido dar continuidade faltando algumas peças. Em três anos de atividade, construímos para nós mesmos algo bom e significativo, em uma época em que o cenário era de certa forma efervescente (mesmo com condições piores das que a de hoje) em meio a ótimas bandas como The Honkers, Sine Qua Non, Machina e Costeletas de Fogo, e concluímos que o melhor a se fazer era deixar a coisa quieta em seu canto. Mesmo assim eu, Sérgio Moraes (vocal), Ricardo Cidade (ex-baixista) e Leko Miranda (guitarrista) seguimos adiante e continuamos com a música em um projeto mais pesado e experimental, juntamente com o vocalista Gil Dantas (ex-Mistery). A Hardrons, que chegou a contar com John-John Oliveira (guitarrista) na sua fase final, levou dois anos para tomar forma. Lançamos um single com duas canções que teve uma boa receptividade na cena, fizemos um punhado de shows e terminamos por divergências nas nossas agendas. Sérgio foi o único nesse hiato que não parou com a música, mantendo até hoje o seu projeto de música eletrônica que ele possui desde o ano de 1999, o Atakama Project. Mesmo uma volta não estar em nossos sonhos mais molhados por muito tempo, decidimos nos reunir por saudade mesmo de estarmos juntos fazendo música e tocando as nossas velhas canções. Com mais idade no couro e com mais maturidade para lidar com os dilemas do dia a dia, em 2014 conseguimos nos organizar para fazer alguns ensaios e ver no que ia dar. Já no primeiro deles a vibe foi tão boa que os planos para o futuro começaram a surgir. Levamos um pouco mais de tempo para se apresentar porque Ricardo teve que sair da banda por motivos pessoais e nesse movimento acabamos passando por um novo período de adaptação, com André Gamalho saindo de uma das três guitarras e assumindo o posto de baixista. Com essa readaptação vieram os primeiros shows em 2015 e estamos aí, para a alegria das ex-virgens da cidade baixa.

Vocês cantam em inglês em uma estética bem rock sujo, influenciada pelo grunge. Podem dizer o que motiva a opção por essa estética e que bandas influenciam a GOR?

Game Over em clima de descontração, foto Fernando Fernandes
LC – Quando nos conhecemos nos colégios e ruas da cidade baixa, éramos uns garotos de dezesseis, dezessete anos de idade que, por uma boa coincidência, ouviam quase as mesmas bandas, que por sinal eram estrangeiras. Até as bandas daqui de Salvador que ouvíamos cantavam em inglês (brincando de deus e The Dead Billies). Então foi natural a incorporação do inglês nas nossas composições no momento em que formarmos o grupo, isso anos depois do nosso primeiro encontro. Não existiu uma razão especial por optarmos por esse idioma, simplesmente decidimos em ter letras em inglês e assim foi. Sempre escutamos grunge, ao mesmo tempo em que escutamos muito britpop também. Somos de uma época que dava (e ainda dá) muito prazer em pesquisar novos sons, então descobríamos bandas das mais variadas vertentes do rock. Todo sábado no final da tarde nos reuníamos para assistir o Lado B da MTV a procura de uma novidade. Era certo rolar no cd player Nirvana e Beatles, Ramones e Pink Floyd, Sonic Youth e Radiohead, Smashing Pumpkins e Blur, Kyuss e Supergrass. Tentávamos assimilar de tudo, mas o resultado final ficava sempre em algo sujo mesmo, entre o punk e o psicodélico e isso sempre nos agradou. Imagine um bando de “punks” tentando tirar um som “Ok Computer”, ou um som “The Dark Side of the Moon”, não quero dizer que somos uma banda de punk, mas a dinâmica que a gente conseguiu aplicar seguiu esse caminho e funcionou para nós. Nunca tomamos sequer uma aula de música, tudo o que sabemos veio do “do it yourself”, então não poderia ser diferente. Na virada dos anos 2000 surgiram bandas como At the Drive-in e Trail of Dead, que ajudaram a fortalecer essa ideia na gente. Mas não nos prendemos só ao passado, ainda ficamos atentos aos passos dos nossos queridos clássicos sim (os novos do Deftones e do Massive Attack estão excelentes), porém sempre estamos atentos às novidades: Mastodon, Baroness, Vintage Trouble e Alabama Shakes aparecem com frequência nas nossas playlists. Tame Impala também, apesar do mais recente deles ser bem chato.

Quais os planos? Vocês estão para lançar (ou já lançaram) um álbum?

LC - Lançaremos um disco entre o final desse mês de abril e início de maio, nele estarão os dois singles que já disponibilizamos na web e mais quatro faixas. Todas as canções que estão no cd foram compostas antes de pararmos, tínhamos uma espécie de débito com elas e preferimos grava-las para firmar a existência de cada uma e porque acreditamos no potencial delas. Para esse debut, trabalhamos com o produtor e multi-instrumentista André Araújo, profissional competente que saca muito de som e tem um feeling muito bom para captar ideias musicais. Ele entendeu muito bem o que queríamos para as faixas e conseguimos extrair o melhor delas, não inventamos nada de última hora, não adicionamos nada a elas que não existia antes, não fizemos firulas, fomos muito fiéis às composições em sua sonoridade e ao contexto da época na qual foram feitas, e ainda assim o resultado soou bem atual. Pretendemos voltar ao estúdio no final do ano para gravar a outra metade do nosso repertório que ficou de fora, mas antes queremos tocar o quanto nós pudermos fazer isso, temos algumas datas marcadas dentro do que a gente apelidou como “The Grunge Days are Gone Tour”. Divulgar a nossa música e o disco, reencontrar os velhos amigos e fazer novos, e, quem sabe, atravessar a fronteira de Salvador e dar as caras pelo interior da Bahia e pela região metropolitana também estão dentro de nossas intenções. Novas composições estão nos nossos planos, já temos algumas engatilhadas, mas é só uma questão de tempo para investirmos nelas.

Nosso amigo Rodrigo Sputter adorna as capas de dois singles lançados por vocês. Por que? É uma homenagem ou uma declaração?

LC - Rodrigo é um grande amigo de muitos anos. Nos conhecemos há bastante tempo e, mesmo antes de formarmos nossas bandas, ele já era uma figura carimbada pelos bairros da cidade baixa e muito popular no colégio onde estudávamos, e sempre foi esse cara de grande coração que ele é. É uma homenagem? Sim. Quando decidimos colocar em prática tudo o que não havíamos feito antes, pensamos em trazer todos aqueles que nos apoiaram para participar de alguma forma. Ele sempre nos incentivou, nos deu força, sempre nos cobrou um registro de nossas músicas, isso sem pedir nada em troca. Sputter foi umas das poucas pessoas que, durante todo o tempo que estivemos parados, cobrava o nosso retorno e quando soube desse fato comemorou muito e ressaltou a importância de uma gravação. Ao fecharmos o conceito das capas dos singles, a primeira pessoa que veio à nossa cabeça para ser o nosso modelo nelas foi ele, que aceitou o convite para participar sem pensar duas vezes. Ele se saiu muito bem como top model diante do olhar fantástico e sensível do fotógrafo Fernando Fernandes e o resultado superou as nossas expectativas. É uma declaração? Sim, podemos considerar também. É uma declaração de respeito e de amor a essa amizade de tantos anos. É falta de educação deixar os amigos para trás, esquece-los. É sempre bom retribuir de alguma forma o apoio que lhe foi dado um dia e essa foi uma maneira, mesmo que pequena, de fazer isso. Acho até que ele merece mais, da G.O.R. e de muita banda que está por aí!



Você também faz um site que cobre a cena rock local, o Soterock (ex-Soterockpolitano). Como consegue mante-lo? Como vê a cena atual?

LC - Mantemos ele na cara e na coragem, com muito gosto pelo que realizamos por lá e sem ganhar um centavo por isso. Tudo começou com Kall Moraes, irmão de Sérgio, há quase dez anos atrás e que é o grande cara por trás do site, que se chamava Musikall FM Online. Ele fazia podcasts sobre música em geral, tocando discos clássicos do rock e outros com programação diversificada. Com o tempo ele convidou Sérgio para participar do site, também com podcasts, mas acrescentando artistas baianos na programação e cuidando do layout da página. Em 2012 fui convidado pelos dois para fazer parte da equipe e completar o time em um podcast chamado Rota Alternativa, que tratava só de bandas locais. Na época, foi bem interessante fazer esse podcast, era uma mesa redonda divertida e contava também com a participação de quase toda banda (foi mais uma atividade do grupo nesse hiato). Por coincidência, em meados de 2013, a frequência desse programa foi ficando menor na medida em que fui me arriscando nos primeiros textos, fui pegando o gosto pela coisa e acabei decidindo que em todo show de rock no qual eu estivesse, ele se transformaria em uma resenha. Daí para escrever sobre discos e fazer entrevistas foi um pulo, e tem sido assim até hoje. Os podcasts ainda existem no site e são realizados em temporadas, para este ano estamos preparando algo novo para os moldes que vínhamos fazendo. Quanto a cena, a vejo com muito respeito e acredito que vivemos um bom momento, apesar das dificuldades que todos sabem que existem. Foi nesse exercício do Soterorock que percebi que estava começando a acontecer algo novamente por aqui. O cenário hoje tem bandas com melhor qualidade sonora, com material mais bem gravado, pensando melhor as suas composições e apresentações, formando público, mais disciplinadas, mais comprometidas com seus compromissos e de estilos mais variados, o que é bem interessante e característico daqui. Os últimos anos têm sido bem agitados por aqui, com festivais do gênero acontecendo na capital e no interior, que por sinal vem se fortalecendo cada vez mais ao longo do tempo. Ainda existe um baixo número de casas que abriga a música rock e isso é um problema em vários sentidos? Sim, mas pelo menos elas têm uma estrutura melhor para receber os grupos que lá se apresentam. Me considero inserido na cena desde a década de noventa e experimentei os seus altos e baixos nos mais diversos pontos de vista, como público, músico e comunicador, portanto não há um entusiasmo vazio quando digo acreditar que essa boa fase se mantenha firme por muito tempo.

Bicho, pode dizer aqui o que você quiser, mas eu não perguntei.

LC – Gostaria de deixar dois recados, mas primeiro gostaria de te agradecer pelo espaço que você nos deu para divulgar a música da G.O.R., fico grato por termos passado por aqui e contente em ver você abrindo espaço para a música independente local. O primeiro recado vai para as bandas. Mãos à obra! Se você que está lendo essa entrevista tem uma banda de rock, se faça a seguinte pergunta: A Bahia é o pior lugar no país para se fazer rock? Pense, só pense a respeito. Não precisa se responder agora, somente reflita sobre essa questão. Pode não ser o melhor, mas será que é mesmo o pior? Realizar algo nesse sentido por aqui é difícil mesmo, a labuta é pesada, conseguir pauta não é uma das coisas mais fáceis de realizar da forma que se deseja, formar um público é um exercício contínuo e árduo. É necessário um pouco de paciência. É bom também, depois de você fazer a sua apresentação, ficar no recinto e prestigiar a banda com a qual você está dividindo o palco. Isso faz bem e fortalece os laços, nunca se sabe quando e onde uma boa oportunidade pode surgir. Levante da cadeira e vá além da música, faça o merchan da sua banda, empreenda mesmo e faça contato com outros grupos. Se você não sabe, você faz parte de um exército. Costumo dizer para as pessoas que aqui na Bahia tem mais bandas de rock do que de qualquer outro gênero e isso é um fato. Enquanto você lê essas linhas com certeza tem alguém fazendo um barulho bom por aí. O segundo recado vai para o público. Vá aos shows! Se você gosta do gênero, seja curioso(a), seja testemunha ocular da música do seu tempo, tenho certeza que você vai se esbarrar com algum som foda em uma simples investida descompromissada a um show de rock local. Se você descobriu e gostou de verdade de uma banda daqui no seu serviço de streaming favorito, vá atrás dela e compre o cd que ela fez com tanta dedicação ao ponto de mexer com a sua emoção. É certo dela estar te esperando de braços abertos dando o melhor de si para te receber.