Para comemorar, a Editora Nova Fronteira está relançando seus livros em edições novas e revistas.
O mais recente a chegar às livrarias foi justamente seu primeiro romance, O ventre (1956).
Considerado um marco do neorrealismo brasileiro, o livro foi preterido de uma premiação à época, por ser considerado “forte demais”.
Nesta entrevista exclusiva ao Caderno 2+ do jornal A Tarde, Cony fala destas reedições e conta como retirou seu apoio inicial ao golpe de 1964, tendo sido preso por seis vezes na ditadura.
ENTREVISTA: CARLOS HEITOR CONY
Aos 90 anos, o senhor não para, escrevendo colunas para a Folha, comentando na rádio CBN, relançando suas obras. Qual a receita para tanto vigor? O senhor não pretende se aposentar, correto?
Carlos Heitor Cony. Foto: Divulgação Nova Fronteira |
Fui informado que o senhor acompanha de perto a reedição de suas obras. O senhor tem alguma exigência quanto a essas reedições, como textos auxiliares, fortuna crítica, aspectos gráficos?
CNC: Acompanho discretamente as reedições da minha obra. Às vezes mexo numa palavra ou acrescento outra. Mas não acompanho o trabalho das editoras ou das gráficas. Meu problema é fazer um texto que me agrade. O resto é com as editoras, os críticos e os leitores.
A editora acaba de relançar O Ventre, seu primeiro romance. Como o senhor mesmo o avalia hoje? Ainda mais à luz do ocorrido em 1956, quando ele foi impedido de ganhar um prêmio literário por ser considerado "forte demais"?
CNC: Não tenho uma perspectiva exata dos meus livros. O editor Enio Silveira, da editora Civilização Brasileira sempre considerou “O ventre”, o meu melhor livro. Realmente num concurso promovido pela Academia Brasileira de Letras e a Prefeitura do então Distrito Federal (Rio de Janeiro), foi considerado o melhor daquela safra, mas não me deram o prêmio porque fui considerado indecente para aquela época (1956).
É verdade que o senhor, inicialmente, apoiou a queda de João Goulart em 1964? O que fez o senhor notar que o apoio aos militares, logo retirado, foi um erro? Em que momento e por que "a ficha caiu" para o senhor?
Carlos Heitor Cony. Foto: Divulgação Nova Fronteira |
O senhor foi detido seis vezes durante a ditadura. Por conta disso, com todo direito, o senhor recebe uma indenização mensal do governo. Alguns colegas seus a recusaram, como Millor, com aquela famosa frase "Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?”. Como vê a recusa - e o questionamento do Millor?
CNC: A Constituição de 1988 criou uma indenização para todos os que foram presos, torturados, se exilaram e ficaram sem emprego. No entanto a Constituição não estipulava um critério que reparasse a iniqüidade que sofreram muitos jornalistas, intelectuais, artistas, e até mesmo alguns militares. Só mais tarde, no governo de Fernando Henrique Cardoso, é que o artigo constitucional foi regulado, estabelecendo os critérios para o valor das indenizações. O próprio FHC e Lula, foram cassados e exilados também receberam um tipo de indenização de acordo com os critérios estabelecidos pelo governo que complementou o texto constitucional. O caso de Millôr Fernandes revelou o ressentimento dele. Nunca foi preso, não perdeu nenhum emprego. Aqueles que foram indenizados, no momento em que tomaram a decisão de criticar o novo regime, sabiam que estavam arriscando a própria pele, uma vez que a expectativa na época era radical: seriam mortos ou torturados. O próprio Millôr, que editava um tablóide chamado “Pif-Paf”, reclamou que eu condenava a ditadura e no entanto escrevia diariamente contra o golpe de 64. Seria uma loucura prever, que em 1988, a nova Constituição indenizaria aqueles que sobreviveram aos anos de chumbo.
Neste momento sombrio em que vemos o Brasil, há setores da sociedade que pedem uma intervenção militar, com a certeza que estaríamos melhor em uma ditadura de viés direitista (não que uma de esquerda seja melhor, claro). O que pensa desse tipo de posicionamento?
CNC: É uma idiotice pensar em nova intervenção militar para consertar a crise que hoje atravessamos. Ao apelar para a intervenção militar, as vivandeiras de quartel ainda hoje acreditam que uma ditadura militar seria a melhor coisa que poderia acontecer no Brasil.
Um trabalho do senhor que me chama muito a atenção são aquelas adaptações, dirigidas ao jovens, de livros clássicos da literatura universal, a maioria lançada pela Ediouro nos anos 70 e 80. Por que não há mais incentivo à leitura de qualidade para os jovens?
CNC: Realmente, sempre houve adaptações de obras clássicas para aqueles que estão chegando à idade da razão, vale dizer que o público infanto-juvenil pode tomar conhecimento das obras primas da literatura universal. No passado remoto, houve até edições de “A Divina Comédia” “adusum delphini”, que eliminava trechos do poema de Dante. No meu caso pessoal, tomei conhecimento de “Dom Quixote de la Mancha”, “A Divina Comédia”, “ As viagens de Gulliver”, “Os Lusíadas” (soberba adaptação de Rubem Braga) e da própria Bíblia feita por diversos autores e em várias línguas e épocas. No Brasil, destacaram-se as adaptações de Monteiro Lobato.
O senhor tem acompanhado a literatura brasileira contemporânea? Algum autor (ou obra) o chamou a atenção? O que pensa da produção literária contemporânea no Brasil?
CNC: Estou em fase de releituras. Infelizmente, sobra-me pouco tempo para acompanhar a literatura contemporânea. Nunca li nem pretendo ler Garcia Marques. Quanto à nova literatura brasileira, leio e admiro os livros de Dalton Trevisan, Ruy Castro, Heloísa Seixas e alguns outros.
O brasileiro é malandro mesmo ou só usa essa ideia pré-concebida para justificar (e manter) a bandalheira generalizada em que se vive neste país? Neste momento tão complicado, como o senhor avalia o caráter do brasileiro?
CNC: Não faço bom juízo do caráter do brasileiro, nem mesmo do meu. O brasileiro típico é um Frankenstein composto de pedaços contraditórios. Se alguém está no estrangeiro e num grupo de homens há alguém coçando o saco, pode ter a certeza de que é um brasileiro.
A que o senhor atribui a pobreza de argumentos no debate político atual?
CNC: O lugar-comum garante que o pior de uma ditadura é a sua herança. Isso explica a corrupção de uns e a prepotência de outros.
Todo ano tem bafafá na cerimônia do Rock 'n' Roll Hall of Fame. A deste ano teve como protagonistas o veterano Steve Miller (homenageado) e os caras do Black Keys...
ResponderExcluirhttp://pitchfork.com/news/64693-steve-miller-rips-the-rock-and-roll-hall-of-fame/
...que se arrependeram amargamente da hora em que concordaram em participar.
http://www.rollingstone.com/music/features/black-keys-we-regret-inducting-steve-miller-after-rock-hall-insults-20160413?page=2
Esse RnRHoF é uma bela bosta, vai contra tudo que o rock representa. Um erro, simplesmente. Devia ser abolido. O rock não precisa dessas frescuras, porra.
...mais baixaria do Rock 'n' Roll Hall of Shame:
ResponderExcluirhttp://www.spin.com/2016/04/gene-simmon-ice-cubes-rock-and-roll-hall-of-fame-induction-comments/