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quinta-feira, julho 31, 2014

HERÓIS ESPACIAIS PARA UMA NOVA GERAÇÃO

Aposta ousada da Marvel, o filme Guardiões da Galáxia traz para o primeiro plano grupo obscuro das HQs, com um gostinho de Star Wars

Gamora, Peter Quill, Rocky, Drax e Groot
Guardiões da Galáxia, o novo (e divertidíssimo) filme da Marvel que estreia hoje, nasceu de uma impossibilidade.

Financeiramente quebrada na segunda metade dos anos 1990, a editora vendeu os direitos de filmagem de algumas de suas mais famosas propriedades intelectuais para grandes estúdios de cinema.

O Homem-Aranha ficou com a Sony. X-Men e Quarteto Fantástico couberam à Fox. Ambos os estúdios detém os direitos sobre esses personagens até hoje e não dão sinal de largar o osso tão cedo.

A partir da criação dos estúdios de cinema da própria editora (Marvel Studios) e do sucesso estrondoso de Homem de Ferro, Thor e Capitão América, desembocando em Vingadores, a Marvel se viu defenestrada de alguns dos seus personagens mais queridos para fazer mais filmes e uní-los todos em um universo ficcional coeso, como já o faz nos seus quadrinhos.

Impossibilitada de fazer Homem-Aranha, Wolverine e Homem de Ferro se encontrarem em um mesmo filme, só restou à Marvel fuçar em seu vasto catálogo, que conta com mais de cinco mil personagens.

Os antigos Guardiões
E foi de lá que seus executivos saíram com essa pequena pérola de FC juvenil amalucada que é Guardiões da Galáxia.

Criada em 1969 por Arnold Drake (roteiro) e Gene Colan (desenhos), a equipe foi ativada e desativada pela editora por algumas vezes ao longo das décadas seguintes – além de ter surgido com uma formação completamente diferente desta que se vê no filme.

Em 2008,  a editora apostou (pela terceira ou quarta vez) em um novo gibi dos Guardiões, escrito pela dupla Dan Abnett e Andy Lanning, especializada em FC, apresentando pela primeira vez a formação que está no filme. Apesar das boas críticas, a  HQ só durou 25 números e foi novamente cancelada.

É nas HQs dessa fase que os Marvel Studios foram se basear para o filme que estreia hoje. Com o filme já em produção, a editora relançou mais uma vez a HQ do grupo – publicada no Brasil na revista mensal Universo Marvel (Panini).

Pois bem. Salvo exageros, é bem possível que Guardiões da Galáxia, o filme, tenha para a molecada de hoje o mesmo efeito que Guerra nas Estrelas - Star Wars teve para a molecada de 1977.

Por que tudo o que tornava Star Wars mágico aos olhos de crianças e adolescentes está em Guardiões.

Naves e batalhas espaciais de tirar o fôlego
Há o  herói improvável, atingido pela tragédia (Peter Quill, interpretado pelo engraçadíssimo Chris Pratt, da sitcom Parks & Recreation).

Há a interação cômica instável entre os personagens – a velha mecânica de começarem se detestando e terminarem unidos.

Há um vilão poderosíssimo (Ronan, O Acusador, interpretado por Lee Pace) com um outro, ainda mais poderoso, controlando tudo da sombra.

Há os efeitos espaciais emprestando realismo a planetas estranhos, criaturas alienígenas bizarras e batalhas espaciais de tirar o fôlego.

Tudo começa quando Peter Quill, a serviço de um grupo de contrabandistas espaciais aos quais deve dinheiro, invade um  templo abandonado em um planeta morto e  rouba uma esfera metálica com um objeto muito valioso em seu interior.

Rocky e Groot, uma dupla foda pra caralho
Depois de muita perseguição, porrada, tiroteios laser e tiradas cômicas, Quill é jogado em uma penitenciária intergaláctica com a mortal Gamora (Zoe Saldaña), o grandalhão Drax (Dave Bautista), o guaxinim falante e pavio curto Rocky (voz de Bradley Cooper) e a árvore ambulante Groot (voz de Vin Diesel).

Eventualmente, o grupo se une – mesmo a contragosto inicial – foge da Lemos Brito espacial e começa seu périplo para recuperar o tal objeto e, claro, salvar o universo.

Para antigos leitores da Marvel, as referências e aparições de personagens cósmicos da Marvel são uma atração a parte.

Lee Pace está perfeito como o Kree fundamentalista Ronan, O Acusador
Aqui e ali aparecem o Colecionador (Benicio Del Toro), o Guardião original Yondu (Michael Rooker), a vilã Nebulosa (Karen Gillan),a Tropa Nova e até mesmo um Celestial (deus espacial).

Em tempo: este filme tem a melhor citação de Footloose - Ritmo Louco em todos os tempos.

E para quem não conhece nada, tenham o prazer: esta é sua nova Star Wars. Divirtam-se.

Guardiões da Galáxia / de James Gunn / Com Chris Pratt, Zoe Saldaña, Bradley Cooper, Vin Diesel, Dave Bautista, Michael Rooker, Lee Pace, Benicio Del Toro / Em cartaz

CONHEÇA SEUS GUARDIÕES

Peter Quill - Senhor das Estrelas - Abduzido da Terra por uma nave no dia da morte de sua mãe, Peter é o bravo guerreiro líder do grupo – além de um puta gaiato e fã de soul music
Drax, o Destruidor - O grandalhão da equipe, obcecado em vingar a morte de sua mulher e filha nas mãos de Thanos, o titã louco. Ainda assim, é até um sujeito doce e sensível
Gamora - A fêmea mais mortífera da galáxia é outra obcecada em se vingar de Thanos, que após destruir seu mundo, a adotou como filha. Está aprendendo a dançar soul com Peter
Groot - Basicamente uma árvore que anda, estica galhos que usa como armas e cresce flores que dá de presente. Diz apenas uma frase: “Eu sou Groot” - que pode ter vários significados, quase sempre com efeito cômico. Amigo de Rocky 

Rocky Racoon - Guaxinim geneticamente modificado e com implantes cibernéticos que ainda é atirador de elite. Casca-grossa, língua solta, mal- -humorado. O mais carismático da gangue.





quarta-feira, julho 30, 2014

MAIOR & MILLÔR

Homenagens na FLIP, exposições, relançamentos, novos livros: aos  90 anos (se vivo fosse), Millôr Fernandes segue incontornável e irresumível

Esse negócio de homenagem é complicado. Adoniran Barbosa (1910-1982) uma vez fechou a questão: “Chega de homenagens. Quero dinheiro”.

Mas – assim como Adoniran – certos homenageáveis são simplesmente inescapáveis (com o perdão pela rima). Millôr Fernandes (1923-2012) é um deles.

Este ano, quando o  escritor, cartunista, dramaturgo, humorista, tradutor e inventor do frescobol (entre outras funções) faria 90 anos, é o homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty - FLIP 2014, que começa hoje e vai até domingo, na cidade colonial fluminense.

Intitulada Millôr - 90 Anos de Todos Nós, a homenagem tem uma vasta exposição dividida em quatro módulos: Compozissõis imfãtis, De Vão Gôgo ao guru do Méier, Cada exemplar é um número e Um elefante no caos.

Cada módulo aborda uma fase de sua vida ou faceta de sua obra. A primeira mostra a descoberta dos quadrinhos e os trabalhos  feitos na juventude.

De Vão Gôgo... traz o Millôr inicial na grande imprensa, em revistas como A Cigarra e O Cruzeiro. Cada Exemplar... mostra os trabalhos na antológica revista Pif-Paf, fundada por ele e precursora do Pasquim.

E Um Elefante no Caos aborda sua faceta dramatúrgica e de tradutor erudito, responsável por verter para português acessível  obras de Shakespeare e Molière.

E mais: a cada dia da FLIP será distribuído o jornalzinho Daily Míllor, com textos e desenhos de Reinaldo, Antonio Prata, Chico Caruso, Luis Fernando Verissimo, Ivan Fernandes (filho de Millôr), além do próprio Guru do Méier.

“Espero mesmo que a cidade fique toda pintada de Millôr”, diz por telefone Paulo Werneck, um dos curadores da FLIP.

“Uma homenagem tradicional, careta, é tudo o que ele não gostaria. Ele dizia: ‘Quero tudo, menos status’. Então pensamos em uma homenagem bem calorosa e divertida, sem esse caráter de  estátua”, acrescenta.

“A obra dele é muito viva neste momento de muita  politização no Brasil. Andei relendo umas coisas e é impressionante como seus comentários se encaixam. Era um crítico incansável, que nunca deixava de pegar no pé dos poderosos”, vê.

Além da FLIP, a Companhia das Letras e Instituto Moreira Salles lançaram alguns livros  que deverão vender bem em Paraty.

Pela Companhia, são quatro clássicos: Esta é a verdadeira história do Paraíso, Essa cara não me é estranha e outros poemas, A vaca foi pro brejo (The cow went to the swamp) e Tempo e contratempo.

Já o IMS recorreu ao acervo de quase 8 mil obras de Millôr para compor Millôr 100 + 100: Desenhos e Frases.

O jornalista  Sérgio Augusto garimpou 100 frases luminares e o cartunista e pesquisador Cássio Loredano, 100 desenhos igualmente espetaculares para casar com as frases pinçadas pelo primeiro.

“Loredano fez um trabalho esplêndido ao casar as imagens com o texto do Millôr”, aplaude Sérgio, do Rio. “A ideia do projeto, a editoração gráfica –  foi um projeto muito feliz”, diz.

“Obviamente, os critérios (para escolher 100 frases) foram altamente subjetivos. Quais são as melhores frases em um universo de 3,5 mil, 5 mil? Simplesmente escolhi as melhores mesmo”, garante Sérgio.

De sua parte, Loredano diz por que é importante lembrarmos de Millôr nos seus 90 anos: “Pra ir lembrando até o centenário”, demarca.

Millôr era um absurdo

Nascido Milton Viola Fernandes em 16 de agosto de 1923, o carioca iniciou cedo no jornalismo: aos 14 anos  já estava na redação da revista O Cruzeiro.

Sérgio Augusto lembra que o conheceu em 1963 e testemunhou o histórico imbróglio em torno do material que deu origem ao livro Esta é a verdadeira história do Paraíso, sua visão do livro do Gênesis.

“Ele parou a redação para ler aquilo. Quando foi publicado, foi um bombardeio dos leitores carolas. A revista, em vez de ignorar, disse que Millôr publicou o material sem seu conhecimento. Ele pediu demissão, processou e ganhou, claro”, relata.

“Mas o  Millôr pode ser lembrado todo dia. Foi  a pessoa mais inteligente que eu já conheci – e olha que já conheci e convivi com muita gente culta: Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis, Antonio Callado...”, afirma.

Sérgio está certo. Porque Millôr não era só muito inteligente ou muito talentoso. Era ambos.

“Era completo. Desenhava muito, artista gráfico extraordinário. Humorista, dramaturgo, grande frasista. Por tudo isto,  é mais que os outros. Oscar Wilde, por exemplo: era um gigante do teatro. Mas  não desenhava porra nenhuma. Saul Steinberg, outro gênio - mas não tinha essa produção do Millôr”, nota Sérgio.

"Ele tinha uma total clareza nas coisas que dizia. Se você puder escrever algo com quinze palavras, tente escrever com onze. Aí ele vinha e escrevia com nove. Uma outra coisa que acho muito engraçada dele são os seus Provérbios Prolixos, que contraria toda essa maneira de escrever enxuto. Ele pegava esses ditados comuns, tudo 'à noite todos os gatos são pardos' e faz toda uma explicação, uma definição em 200 palavras - e é engraçado pra cacete. Era a deformação de tudo o que ele pregava: a concisão, a clareza", cita Sérgio Augusto.

Até a grande polarização política que o Brasil vive agora, Millôr já previa, garante Sérgio. "Ele era contra o Lula desde o inicio. Ele duvidava, achava ignorante, achava até que não ia dar certo. Mas não naqueles termos preconceituosos do Paulo Francis, Millôr não era reacionário. Ele só estava decepcionado - e tinha horror a vacas sagradas. Duvidava de tudo e de todo mundo", conta.

“Com 14 anos, já estava n’O Cruzeiro. Com 20, criou a Pif Paf. Fez tudo que você puder imaginar. Você  vê a  obra de algum humorista e pensa: Millôr  fez isto nos anos 50. É um dos grande filósofos brasileiros. E muito mais divertido. Millôr era um absurdo”, define o jornalista.

Sérgio lembra a convivência com Millôr no Pasquim, a partir daquela história de alguns anos atrás, quando perguntaram a ele se, a exemplo de Ziraldo e Jaguar, ele também ia pedir indenização ao governo pelos perrengues da época da ditadura, ao que ele respondeu: "Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?"

"O Millôr era engraçado, sempre tinha comentários irônicos e tal, mas não era de contar piada. Era muito inteligente, observador, muito simpático comigo. Agora, no Pasquim, tirando eu, Francis e Ivan Lessa, todos tiveram problemas com Millôr. Mas comigo nunca teve nada, não. Eu fiquei no Pasquim até 1979. A partir do fim da censura prévia, eu fazia um editorial na página 3 com críticas a imprensa. Esculhambava mesmo e fazia críticas ao próprio Pasquim. Numa dessas, Jaguar me demitiu. Disse que não vesti a camisa, tal. Adoro Jaguar, mas teve isso. Liguei para o Ziraldo e ele tava de porre. Nem Jaguar nem Ziraldo se mexeram. Meses depois, ele me pediu desculpa. Eu falei não, tudo bem, é o seguinte: o Pasquim me deve dinheiro aí. Entrei na justiça - e o Millôr foi depor em meu favor! Ele tinha essas coisas. Era extremamente honesto e íntegro com negócio de dinheiro. Me ensinou demais. Ele dizia: se você tiver condição de exigir aumento, faça isso, por que ajuda todos os seus amigos, você sobe o patamar de pagamento. Já mais velho, sem saco, Millôr ficava em casa e volta e meia alguém pedia a ele algum trabalho. Aí ele pedia um preço absurdo, tipo 50 mil por duas laudas, só para se sair. Aí o cara topava e ele ficava totalmente sem graça", relata Sérgio Augusto.

Cartunista de A TARDE, Cau Gomez o conheceu em um jantar entre humoristas. “Estávamos diante de um gigante, que tinha um clarão no olhar”, nota.

“Foi  um caso raro onde artista e pensador passaram por uma fusão. Não houve temor profissional em cruzar a fronteira entre texto e imagem”, diz.

“Millôr era bem humorado porque sabia o que sabia”, conclui Loredano.

Millôr 100 + 100: Desenhos e Frases / S. Augusto e C. Loredano (Orgs.) / Instituto Moreira Salles / 264 p. / R$ 50 / www.lojadoims.com.br 

Esta é a verdadeira história do Paraíso / Millôr Fernandes / Cia das Letras/ 152 p./ R$ 56/ www.companhiadasletras.com.br

Essa cara não me é estranha e outros poemas / Millôr Fernandes / Cia das Letras / 192 p. / R$ 27

A vaca foi pro brejo (The cow went to the swamp) / Millôr Fernandes / Cia das Letras / 128 p. / R$ 33
Tempo e contratempo / Millôr Fernandes / Cia das Letras / 128 p. / R$ 52

terça-feira, julho 29, 2014

PROFESSOR DOIDÃO & OS ALOPRADOS: ROCK DE GENTE MADURA PARA TODAS AS IDADES


Isaac (centro) é o Professor Doidão - e seus Aloprados, na foto de Dan Borges
Dizem que rock é coisa de adolescente espinhudo. Mentira.

Hoje, o rock é o novo jazz. Coisa de homens feitos, que já curtiram na  juventude e, agora, dinheiro no bolso, vida estável, refazem suas coleções com  relançamentos remasterizados de clássicos em edições de luxo.

Os jovens? Hipsters de bigode curtem a “nova MPB”. O resto se esbalda no axénejo. Daí dizer que o rock é o novo jazz.

Só que nem todo roqueiro velho se satisfaz apenas em decorar suas prateleiras. Vejam o senhor Isaac Fiterman.

Por uma questão de elegância, o colunista não perguntou a idade do homem (mentira: ele esqueceu mesmo), mas pelo prateado que adorna sua basta cabeleira, Isaac já passou dos 50.

Em 2008, cursando psicologia em uma faculdade local, ele se intitulou “Professor Doidão” e formou uma banda com alguns colegas, Os Aloprados.

Demais, né? Não é todo mundo que tem essa energia, esse desprendimento. Dono de postura irreverente, ele parece mais moderno que muito hipster de calça colada que tem aí.

Isaac, que é funcionário público, ator e escritor, andou ocupado na época e só no ano passado retomou o projeto da banda.

“Minha trajetória é toda  ligada a arte. Sou ator. A coisa da música aconteceu na faculdade. Falei ‘tenho umas letras, vamos fazer um som’. Dai veio o nome, por que dizem que  psicólogo é maluco, aloprado”, conta.

Neto Lobo (A Cacimba) o ajudou no início, musicando algumas letras. “Sempre curti muito o rock nacional: muito Raul, Legião, Ira! Capital Inicial, Roberto  do início, Erasmo”, lista Isaac.

Sonhar e ser feliz

Há alguns dias, o Professor & Aloprados lançaram com um show no Bar 30 Segundos  seu primeiro registro, o EP Quero Reunir os Meus Mundos (ouça no Soundcloud, vale a pena).

No dia 9 eles se apresentam no festival Big Bands, com uma pá de outras bandas legais.

“Música para mim, assim como  teatro, é uma  terapia. Não tenho ilusões de  sucesso,  mas sei lá, vamos curtir, ser feliz. Mas vamos sonhar também, né? Vai que algo acontece”, pensa Isaac.

“Gostaria de dizer que existe muita coisa boa e nova sendo feita, independente da idade de quem faz”, garante.

A banda é Isaac Fiterman (voz) Dan Borges (violão), Juliana White (baixo), Eliana (backing), Tony Lopes (bateria) e Felipe Britto (guitarra).

Professor Doidão & Os aloprados no  Big bands / Com Zefirina Bomba (PB), The Sexy Drivers (PE), The Honkers, The Pivos, Novelta e Reverendo T & OS Discípulos Descrentes / 9 de agosto (sábado), 18 horas / Dubliner’s Irish Pub (Rio Vermelho) / R$ 10

www.facebook.com/professordoidao


 
NUETAS

Big Bands no FFS

Domingo (dia 3), o  festival Big Bands 2014 começa visitando o  evento Faustão Falando Sozinho, do Irmão Carlos. Além do próprio Irmão com sua banda O Catado, o palco público do Marback recebe duas ótimas bandas do interior: Sanitário Sexy (Juazeiro) e Inventura (Alagoinhas). Confira a programação do BB2014 que volta a partir do dia 8 no Dubliner’s, que está muito legal. Domingo é de graça, a partir das 15 horas.

Casca com Lo Han

Cascadura lança  clipe da música O Delator com show no Portela. Lo Han faz as honras da casa. Sábado, 23 horas, R$ 20.

Hard rock night

A sempre divertida King Kobra faz show com Stormbringer (Deep Purple cover) no Dubliner’s. Sexta, 22 horas, R$ 15.

segunda-feira, julho 28, 2014

PODCAST ROCKS OFF DÁ UM RELAX E OUVE NOVIDADES

A disco funk faraônica dos Mummies está no Rock Off de hoje, amiguinhos
Gravado no dia 17 de julho último.

Nei Bahia, Osvaldo Braminha Silveira Jr., Miguel Cordeiro e o convidado frequente Franchico (este blogueiro) batem um papo mais tronquilo, lamentam a morte de Johnny Winter e mostram uns aos outros algumas novidades.

Temos Here Come The Mummies, Orange Poem, Janiva Magness, Baia, Sharon Von Etten, Jack White e... não lembro mais agora, sorry.

Então ouve aí, doidão.


CLÁSSICO DOS ANOS 90 - SEM TALVEZ

Edição comemorativa de 20 anos de Definitely Maybe,  belo álbum de estreia do Oasis, chega com o tradicional tratamento “remasterização com faixas bônus”

Oasis nos tempos dos Cigs & Alcohol. Foto: Michael Spencer Jones
À frente da banda, o vocalista tem os braços cruzados atrás de si e o rosto virado para o alto.

Por trás dos óculos escuros, a voz juvenil e marrenta garante: “Tonight , I’m a rock ‘n’ roll star”. Esta noite, sou uma estrela do rock.

A profética Rock ‘n’ Roll Star é a faixa de abertura de Definitely Maybe, primeiro álbum da banda inglesa Oasis, que, lançado em 1994, ganha agora o tradicional tratamento “edição de luxo, remasterização e faixas-bônus”, comemorativo dos seus 20 anos.

A óbvia influência dos Beatles é admitida nos textos do encarte: "Beatles é onde tudo começa e tudo termina para o Oasis", afirma Noel Gallagher. Aqui e ali ainda há piscadelas para T. Rex e Bowie.

De fato, é um belo álbum de rock clássico e mais do que isso: resume o que a banda faria pelos próximos 15 anos, resume a época em que foi lançado e resume a (com o perdão da má palavra) “atitude” do grupo em si.

E tudo isso está ainda mais resumido na já citada faixa de abertura, Rock ‘n’ Roll Star: a abertura com riff marcante, a levada com uma parede de guitarras em cascata, a cozinha discreta, a letra arrogante, o final em loop interminável que vaticina: “It’s just rock ‘n’ roll, it’s just rock ‘n’ roll”...

A partir daí estava aberta a cancela para a subsequente dominação mundial , uma década de bagaceira regada a sexo, drogas e brigas de soco, a rivalidade (meio fabricada pela imprensa britânica) com os colegas da banda Blur, a megalomania.

Enfim: uma história de rock ‘n’ roll clássica para uma banda de rock ‘n’ roll clássico. Só faltou algum membro morrer de overdose para a receita ficar completa.

Geri das Spice Girls, circa '97
Britpop & Cool Britannia

Quando saiu, Definitely Maybe ajudou a cristalizar o subgênero do rock independente proveniente do Reino Unido: o britpop.

Suas origens datam desde os anos 1960, quando bandas como os Beatles e The Kinks trouxeram sentimentos e climas tipicamente britânicos em canções como Rain (1966, Beatles) e Waterloo Sunset (1967, Kinks).

Era o rock, invenção norte-americana, ganhando as cores locais dos ex-colonizadores.

Nos anos 1980, essa tendência gerou bandas hoje clássicas, como The Smiths e The Jesus & Mary Chain.

No fim dos anos 1980, novo fôlego com o movimento Madchester, que revelou a geração mancuniana dos Stone Roses, Happy Mondays e Inspiral Carpets.

Mas foi só a geração subsequente, nos anos 1990, que cristalizou de vez a tendência, com Oasis, Blur, Suede, Supergrass etc.

Sempre ávida por novidades, a imprensa musical britânica logo tratou de colocar essas e muitas outras bandas sob o mesmo guarda-chuva, como uma resposta britânica à invasão do grunge de Seattle, o novo rock alternativo americano e o funk metal do Red Hot Chili Peppers e Faith No More, que dominaram aqueles primeiros anos da década de 1990.

Corta para 1994: Kurt Cobain está morto, o Blur lança o fantástico Parklife e o Oasis estreia com Definitely Maybe.

O que parecia ser álbuns soltos de bandas nada similares ganha ares de movimento. Em 1997, o trabalhista Tony Blair é eleito primeiro ministro, encerrando quase 20 anos de dominação conservadora.

Na sua posse, Liam Gallagher aparece e posa ao seu lado - para desespero do irmão / rival, Noel.

De repente, era cool ser britânico novamente. Cool Britannia. Foi divertido enquanto durou.

Definitely Maybe / Oasis / SONY-BMG / Deluxe edition - Box com 3 CDs: R$ 49,90 / www.sonymusic.com.br








Top Ten: Beabá do Britpop 90's para iniciantes

Supergrass - I should Coco (1995) - Eles são jovens, eles são livres, eles são legais. O hit Alright precedeu mais esta incrível estreia que conjugava Who e punk com entusiasmo.


Suede - Coming Up (1996) - Os dois primeiros LPs do Suede já eram lindos, mas foi este terceiro que trouxe os hits Trash e The Beautiful Ones.


Pulp - Different Class (95) - Depois de alcançar a excelência sônica com His ‘n’ Hers (1994), Jarvis Cocker & Cia radiografaram a sociedade inglesa com esta obra-prima da ironia terna.


Blur - Parklife (1994) - Em seu terceiro LP, o Blur estourou de vez e garantiu seu lugar ao lado do Oasis como representante máxima do estilo Britpop.


Ride - Carnival of Light (94) - Remanescente da geração shoegaze, o Ride teve seu auge artístico neste lindo álbum de tintas setentistas.


Elastica - Elastica (95) - A estreia do Elastica iniciou, anos antes dos Strokes,  o revival anos 1980 via pós-punk e new wave.


Teenage Fanclub - Grand Prix (95) - O belíssimo quinto LP dos escoceses do TF foi o cruzamento do shoegaze inicial com a linha Beatles adotada dali em diante.


The Verve - Urban Hyms (97) - O hit Bitter Sweet Symphony rendeu um processo dos Rolling Stones, mas valeu sucesso mundial ao grupo.


Radiohead - The Bends (95) - Depois do hit inicial Creep, esta coleção de angústias majestosamente sonorizadas rendeu aclamação geral.


Oasis - (What's The Story) Morning Glory? (95) - Wonderwall. Don’t Look Back in Anger. Champagne Supernova. Cast No Shadow. Dizer mais o que?

quinta-feira, julho 24, 2014

MÚLTIPLO, VISIONÁRIO

Próximo de completar 120 anos de nascido (no dia 26), Aldous Huxley tem 15 de suas obras mais importantes reeditadas no Brasil

Aldous Huxley dava seus pulinhos. Foto de Philippe Halsman
Hoje em dia, quando todo mundo parece querer posar de intelectual de Facebook, ler um livro de Aldous Huxley é como tomar um choque no cérebro.

Com boa parte de sua obra sendo agora relançada em novas edições pela Biblioteca Azul, esses choques de real inteligência são mais do que bem-vindos.

Selo da editora GloboLivros, a Biblioteca Azul já lançou seis títulos, de quinze previstos: o clássico absoluto Admirável Mundo Novo, os romances Contraponto, Sem Olhos em Gaza e Também o Cisne Morre, mais o ensaio Os demônios de Loudun e Contos Escolhidos.

A caminho, joias como As Portas da Percepção, O Tempo Deve Parar etc.

Nascido em 26 de julho de 1894 (120 anos em 2014, portanto), morto em 1963, Huxley tem origem em uma família de intelectuais ingleses que incluem um prêmio Nobel de Medicina (Andrew) e o primeiro diretor da UNESCO, Julian Huxley, ambos irmãos de Aldous.

“Aldous Huxley deve ser lido porque é um escritor que não oferece entretenimento apenas”, afirma o escritor baiano e membro da Academia de Letras da Bahia, Hélio Pólvora.

“Seus raciocínios auxiliam o leitor a compreender sua época, a sociedade em que vive, os caminhos por onde segue a horda humana. Mais que um romancista, foi um pensador, um filósofo. Pertencia, aliás, a uma família de eruditos – cientistas e homens de letras”, reitera.

A opinião de Pólvora encontra eco perfeito na de Ana Lima Cecílio, editora do selo Biblioteca Azul: “Huxley era um grande escritor, mas também alguém a quem se pode chamar de intelectual no melhor sentido da palavra”, afirma.

“No sentido de pensar sua época e debater uma infinidade de assuntos em ensaios e palestras. Era muito aberto ao debate, tinha aquela postura que os franceses chamam de ‘intelectual na praça pública’. No You Tube tem muitas falas dele na TV e no rádio falando de tudo. Huxley não se escondia, estava sempre interessado nessa troca de ideias com o público”, diz.

"Huxley é autor de romances muito densos e importantes, sobretudo muito significativos de sua época. Era um super pensador que estava atento a tudo a sua volta - e seus romances davam forma a esse pensamento, a essa matéria filosófica", observa.

"Seus temas seguem atuais", confirma Hélio Pólvora. "Já enfermo, dedicou-se a estudar a mescalina, a buscar nesta planta efeitos alucinógenos. Isso numa época em que predominava o movimento hippie, desejoso de libertação por via da fuga aos padrões estabelecidos de normalidade. Em um de seus livros mais conhecidos (Admirável...), Huxley escarneceu, pela sátira contundente, da submissão humana à tirania da burocracia científica. Foi, nesse sentido, um companheiro de George Orwell, no famoso 1984", afirma.

Distopia, humor, romances

O jovem Aldous
Entre os seis livros já lançados, o mais famoso é Admirável Mundo Novo, classificado por Ana Lima como “uma  das três maiores distopias já criadas, ao lado de 1984 (George Orwell) e Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)”.

“Esse livro é uma espécie de síntese de toda a filosofia que há por trás de sua  obra – e apesar de ser o mais famoso, é muito diferente dos outros livros de sua carreira. Até por que ele não era um autor de ficção científica, como Ray Bradbury”, nota.

Ambientado em um futuro no qual o governo controla tudo e todos com mão de ferro através da engenharia genética e estimula a desumanização do indivíduo através da adoração ao industrial Henry Ford, Admirável Mundo Novo torna difícil não ver paralelos com o mundo de hoje, no qual industriais como Steve Jobs e Bill Gates são vistos como gurus, entre outros absurdos.

“O Admirável Mundo Novo (verso de Shakespeare, em inglês ‘O Brave New World!’), antecipa, a bem dizer, as pesquisas genéticas atuais. Sob certos aspectos, é um relato de horror. Seres humanos fabricados em série, com um propósito definido (geralmente político) ainda assustam, por mais que a vida atual supere a imaginação”, nota Hélio Pólvora.

Mas Huxley foi muito mais do que um pessimista autor de distopias. “Ele era um autor muito múltiplo e vasto nos seus interesses. Ele tinha uma sobriedade pessimista que se reflete até hoje - no bom sentido de ser muito lúcido”, observa Ana.

O que pode surpreender os leitores  novatos é o quanto ele podia ser bem humorado em suas sátiras – de forma meio cruel e tipicamente inglesa, mas engraçado.

“Lembro-me de Freiras ao Almoço, inserido numa antologia do conto mundial em português. Esqueço o assunto, mas ficou-me até hoje a certeza do ficcionista de humor tipicamente britânico, com inclinação ao sombrio”, vê Hélio.

Já Ana destaca o romance Também o Cisne Morre, o qual, assim como o Cidadão Kane de Orson Welles, foi inspirado na opulência em que vivia o magnata William Randolph Hearst.

“Assim como Welles, Huxley o visitou em seu palácio na Califórnia. Enquanto no filme de Welles, ele é um magnata da comunicação, no livro de Huxley, ele é um milionário com fixação pela ciência, com uma equipe de cientistas dentro do palácio dele, buscando uma fórmula da vida eterna. É divertidíssimo e super bonito”, conta Ana.

Entre  outros romances, Hélio destaca Contraponto, “no  qual desenvolve a técnica da narração multívoca (várias vozes) e dos pontos de vista dissociados”.

“Esse é um romanção. Contraponto, Sem Olhos em Gaza e Também o Cisne Morre são grandes romances, cheios de personagens e cada personagem é uma fatia da sociedade, através dos quais ele faz todo um discurso social e filosófico", complementa Ana.

"Já A Condição Humana (a sair em breve) é uma reunião de 12 palestras que ele fazia nas universidades, sobre os mais variados temas, um livro de pensamento, mesmo. Os Demônios de Loudon um longo ensaio sobre um episódio de possessão no século 18, na França”, acrescenta.

"Cada livro É sempre um Retrato do Século 20, com os temas mais importantes: a guerra, a ciência, a luta de classes, a informação - sempre com essa perspectiva da consciência dessa época que a gente vive e que desembocam em obras-primas absolutas em termos do quanto ele consegue ver o futuro", conclui Ana.

Admirável mundo novo / Aldous Huxley / Tradução: L. Vallandro, V. Serrano / Biblioteca Azul / 312 p. / R$ 39,90 / E-book: R$ 27,90

Contraponto / Aldous Huxley / Tradução: Erico Verissimo, L. Vallandro / Biblioteca Azul / 688 p. / R$ 59/ E-book: R$ 41,90

Sem olhos em Gaza / Aldous Huxley / Tradução: V. Miranda de Reis / Biblioteca Azul / 608 p. / R$ 52,90
Os demônios de Loudun / Aldous Huxley / Tradução: Sylvia Taborda / Biblioteca Azul / 400 p. / R$ 49,90
Também o cisne morre / Aldous Huxley / Tradução: P. M. da Silva/ Biblioteca Azul / 352 p. / R$ 39,90

Contos escolhidos / Aldous Huxley / Tradução: Eliana Sabino / Biblioteca Azul / 548 p. / R$ 59,90 / E-book: R$ 41,90 / www.globolivros.globo.com

terça-feira, julho 22, 2014

BARRUNFO DO SAMBA É A FAVOR DA LEGALIZAÇÃO, DA DIVERSÃO E DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Barrunfo do Samba, foto Flora Rodriguez
Opa, que cheiro é esse? Ih, pintou sujeira na Coletânea no Rock Loco!

É o pessoal da banda Barrunfo do Samba? Ah, tranquilo, deixa os meninos chegarem.

Não se assuste, eles não mordem.

O Barrunfo do Samba é, basicamente, um grupo de samba formado por ex-membros de bandas de rock locais que tem as letras mais hilárias do gênero desde Os Virgulóides.

Vê só a letra de Fui no Inferno e Voltei: “Fui no Inferno e voltei (ah, voltei) / Só tava esperando o começo de mês (outra vez) / Bebendo schin só pra ter caganeira / Prefiro água da torneira”.



O resto, infelizmente, é impublicável, mas já deu pra ter uma ideia da crasse dos meninos.

“Bicho, essas letras é o que a gente vive. Quando sai pro reggae é isso mesmo, é loucura”, afirma Lucas LP (baixo e bandolim).

“Falamos do que vemos, dos amigos, coisas que acontecem. Aí, vamos escrevendo e... tamos aí. É muito natural”, acrescenta.

Lucas é o mais novo membro da Barrunfo. Antes, era da banda Teenage Buzz (vista neste espaço há algum tempo). “Saí por que deixou de ser diversão”, diz.

“Conheci o pessoal no baba, Paulo (voz e cavaco) e Mira (pandeiro). Resenhando e tal, comia água, saía junto, Mira me chamou pra entrar no grupo”.

Ele conta que a banda foi formada no verão entre 2012 e 2013.

“Paulo tinha um cavaquinho em casa, aí começou a tocar com Mira: Bezerra e Moreira da Silva. Aí chegou Tripa 77 (bateria, agogô e caixa), Golias (cuíca), Frota, (tamborim) e Terk (surdão). O último que entrou na banda fui eu”, relata.

Na Escadaria do Paço

Lucas está satisfeito por ter trocado o rock em inglês da Teenage Buzz (que o colunista ainda acha ótima banda, diga-se de passagem) pelo sambão old style emaconhado do Barrunfo.

“Cara, foi muito bom. Expandiu, sabe? Meu pai e meu tio tocam, tinham uma banda, a Sambrasil, tocaram cm Ederaldo Gentil, Gerônimo. Então foi fácil, tá no sangue”, conta.

A conexão com Gerônimo os colocou no palco semanal do homem, na Escadaria do Paço. Parece que ele achou... diferente.



“Começamos com (a música) O Bloco da Prensada, aí já  subiu uma névoa. A galera mais jovem curtiu, os coroas disfarçaram, outros caíram no samba. O Gerônimo eu acho que não gostou tanto.  Ele ficou meio intrigado, prestando atenção. Foi engraçado”, diverte-se.

Só para deixar claro, Lucas garante que, apesar de, enquanto banda, a Barrunfo ser totalmente a favor da legalização da maconha, eles não fazem apologia.

“Aí é uma questão de liberdade individual, né”? Ô!

Veja mais: Barrunfo do Samba.


NUETAS

Callangazoo, bigode

O colunista O blogueiro sempre teve como regra de ouro nunca confiar em pessoas de bigode (seja homem ou mulher). Quando a odiosa taturana subnasal se tornou modinha hispter, aí sim, a antipatia pelo acessório só piorou. Portanto, vá – mas não me convide – para a Festa do Bigode, com a banda Callangazoo. Brincadeira: a banda é ótima e a festa vai bombar. Além do som e do agito, ainda rola um bazar cultural. Quinta-feira, na Casa Preta. 20 horas, R$ 12 e R$ 6.

Help Toinho now

Na quinta-feira o Portela Café recebe a segunda edição da festa beneficente Help Toinho, com renda revertida ao tratamento de saúde do músico Toinho Senna (Beatles in Senna), acometido por um AVC. Com Lo Han, Garotas de Liverpool, Chilli Band, Beatles In Senna, Cavern Beatles, Álvaro Assmar e Valdir Andrade. 21 horas, R$ 20.

sexta-feira, julho 18, 2014

O NEOXILOGRAVURISTA, A COLORISTA E O EDITOR DO MAURÍCIO

No projeto Narrativas Gráficas, a comic shop / galeria RV traz à cidade grandes nomes dos quadrinhos e da ilustração brasileira

Além de abrigar exposições de arte descolada e esvaziar os bolsos dos incautos (e encantados) nerds que ousam adentrar suas instalações, a comic shop / galeria RV Cultura & Arte vem promovendo uma série de eventos em torno da HQ e ilustração, sempre com convidados de alto nível, da Bahia e de fora.

É o projeto Narrativas Gráficas, viabilizado pelo edital de  Dinamização de Espaços Culturais da SecultBA.

Desde março, já ocorreram diversos eventos, como o Bate-papo de fã para fã: A moda das ruas para os mangás, com o grupo Ba Love Juku e a Oficina infantil de HQ, com o quadrinista Sávio Roz.

A programação continua neste mês e em agosto com três convidados muito representativos do atual momento da HQ e da ilustração no Brasil.

São eles: o múltiplas vezes premiado ilustrador e xilogravurista gaúcho Samuel Casal, o editor Sidney Gusman (da Maurício de Sousa Produções e do site Universo HQ) e a colorista Cris Peter, que tem vários trabalhos publicados pela Marvel e DC, além de ter sido indicada ao prêmio Eisner por  Casanova, de Matt Fraction, Fábio Moon e Gabriel Bá.

Samuel ministra workshop de xilogravura no dia 26, Sidney vem bater papo e avaliar portfolios (atenção, desenhistas) no dia 16 de agosto  e Cris vem lançar o livro O Uso das Cores no dia 30 de agosto, além de também conversar com a galera.

Xilogravura, cores, portfolios

A neoxilogravura pop de Samuel Casal
Basicamente um carimbo, a xilogravura é uma técnica ancestral que ganha ares pop e modernos nas mãos de Samuel Casal.

Seu workshop, ele garante, não é só para quem já é artista: “Não é necessário o domínio de técnicas de desenho. Já tive alunos artistas e pessoas sem nenhuma experiência que tiveram bons resultados”, conta.

“As vezes o conhecimento muito evoluído de  técnicas de desenho dificulta a assimilação do novo. O aluno mais aberto, sem um método já dominado, consegue desenvolver de forma igual o trabalho na gravura”, diz Samuel. “Claro que uma noção de desenho facilita, mas não é determinante”, ressalva.

Em 2012, Casal esteve em Salvador com a mostra Gravado no Osso, na mesma RV. “Parece que a região Nordeste assimila de forma um pouco dividida a xilogravura contemporânea do restante do país, talvez justamente por estar mais próxima da cultura popular, do Cordel. Tenho a impressão que não alcança o mesmo impacto que no Centro do país”, percebe.

“É uma técnica primitiva,  que se sobressai mais em ambientes de desenvolvimento tecnológico e urbano mais agressivos. Posso estar enganado, mas  Salvador  passou uma sensação de raízes, algo mais naïf  talvez, que é onde surge o entalhe, a arte manual. Isso é ótimo, é um desafio para o artista, já que só dominar a técnica não determina o efeito que seu trabalho terá sobre o público”, diz.

Com seu livro O Uso das Cores saindo do prelo, a colorista Cris Peter reflete um pouco sobre este trabalho: “O objetivo do livro é tentar unir o raciocínio do uso das cores em várias plataformas. Percebi, ao longo dos meus estudos, que existem várias informações de teorias cromática pelas livrarias, porém todos muito restritos em determinado contexto”, afirma.

“O uso das cores nos quadrinhos não é diferente de seu uso em fotos, ou no design gráfico, ou no ramo audiovisual. A área na qual trabalhamos é simplesmente o que determina nossas ferramentas, e a teoria cromática vai muito além das ferramentas”, observa.

Já o editor Sidney Gusman, que vem avaliar portfolios, aconselha os jovens artistas: “O importante é sempre a pessoa escolher o que acha que produziu de melhor até agora. Não dá pra levar 300 páginas, mas é legal se tiver artes de diferentes etapas de sua carreira, que evidenciem sua evolução”.

“Mas o encontro não tem este fim específico (buscar novos talentos). E sim, trocar ideias e, quem sabe, poder orientar novos talentos”, conclui.

Veja  a programação completa do projeto Narrativas Gráficas no www.rvculturaearte.com

EXTRAS: ENTREVISTAS COMPLETAS

Sidney Gusman, o "Sidão" do UHQ. Foto: Valentiino Melo
SIDNEY GUSMAN

Como vai ser o encontro com os baianos? Vejo que tem bate-papo e leitura de portfolios. A MSP está em busca de novos talentos pelo Brasil?

SG: Eu acompanho autores de todo o Brasil, para possíveis parcerias nas Graphics MSP. Mas esse encontro não tem este fim específico, mas sim trocar ideias e experiências e, quem sabe, poder orientar novos talentos.

Que dica vc pode dar para o jovem que quer te mostrar o portfolio? Selecione poucos trabalhos, mantenha a calma...?

SG: O importante é sempre a pessoa escolher o que acha que produziu de melhor até agora. Claro que não dá pra levar 300 páginas, mas é legal se tiver artes de diferentes etapas de sua carreira, que evidenciem sua evolução.

Desde o lançamento e subsequente estouro da versão mangá da Turma da Mônica, a MSP parece ter entrado em uma nova era de ouro, diversificando bastante a linha de HQs, incluindo graphics com grandes talentos do quadrinho brasileiro. Agora vem aí uma segunda série de graphics. A expansão da MSP vai até aonde? Filmes live action? A conquista do mercado externo? O que podemos esperar da MSP nos próximos anos?

SG: A ideia de "abrir o leque" funcionou e, penso eu, que continuará a todo vapor por muito tempo, pois os personagens do Mauricio são tão cultura pop, que permitem facilmente essas releituras. Estamos, sim, de olho no mercado do exterior (Astronauta - Magnetar já saiu, pela Panini, na Itália, Espanha, França e Alemanha), mas também em outras mídias. O projeto Graphic MSP não nasceu para ficar restrito ao papel. E vem mais coisas legais por aí. Fiquem de olho!

SAMUEL CASAL

Samuel em seu ateliê, foto Julio Cavalheiro
Como vai ser o workshop? É mais indicado para quem nunca fez uma xilogravura ou para quem já tem alguma noção artística?

SC: A xilogravura basicamente parte de um princípio básico que é a criação de um "carimbo" de madeira. Mas esse princípio, mesmo parecendo simples, requer, além de um domínio de ferramentas e suportes específicos, também a re-educação do método de desenhar, que muda do preto no branco, para o branco no preto, trabalha também a inversão da imagem na composição, por exemplo, e é tudo isso que a oficina demonstra, além da própria técnica básica e macetes aprendidos depois de alguns anos gravando . Portanto, não é necessário o domínio de técnicas de desenho, eu mesmo já tive alunos artistas e pessoas sem nenhuma experiência que tiveram bons resultados. As vezes o conhecimento muito evoluído de outras técnicas de desenho já estabelecidos dificulta a assimilação do novo e o aluno mais aberto, sem um método já dominado, consegue desenvolver se forma igual o trabalho na gravura. Claro que uma noção de desenho pode facilitar um resultado mais rápido, mas não é determinante.

O que te inspira para criar uma xilogravura? Vejo que você cria muitas imagens de animais, mas sempre com alguma ironia, um certo humor.

SC: Eu decidi fazer xilogravuras depois de já ter explorado bastante o ambiente digital e também por estar trabalhando como ilustrador profissional por muitos anos, por isso a gravura é para mim um momento de criação 100% autoral e também de libertação criativa. Além da tecnologia que eu uso diariamente e com mais frequência no meu trabalho como ilustrador, que é o computador, também me liberta dos briefings, formatos, textos pré-estabelecidos, ou seja, do desenho com objetivo. Não tem uma inspiração clara ou motivo estabelecido, gosto de sentar e gravar, tanto que quase nunca faço rascunhos ou projeto as matrizes. Prefiro começar a entalhar desde o início e ir vendo o que acontece. Mas também não é regra. Na verdade a regra é não ter regra. Quanto aos animais, eu estive muito tempo envolvido com causas de proteção, sou vegetariano e tenho muito respeito pelos animais. Talvez seja uma espécie de tributo, ou também uma tentativa de mostrar que não somos tão superiores como imaginamos, que eles também podem nos achar bem irracionais em muitas situações.

A partir de uma matriz pronta, quantas cópias você produz e assina de uma xilogravura? A matriz é reaproveitada de alguma forma depois?

A Girafa do Samuel
SC: Quem determina isso é o próprio artista, e é o que acabará limitando a edição e  muitas vezes valorizando mais ou menos uma gravura. Eu costumo fazer tiragens de no máximo 30 peças, salvo exceções. No começo eu fazia tiragens bem menores, mas percebi que aumentando a tiragem eu poderia ter um preço menor e tornar o trabalho mais acessível as pessoas, o que também é um dos princípios da arte da gravura. Já fiz até tiragens declaradas como infinitas, para ter gravuras com preço que possibilitasse quem nunca comprou uma arte, poder levar uma gravura autêntica para sua casa. Desde o começo de 2012 eu comecei a estudar a transformação das matrizes em peças únicas, e consegui bons resultados, inclusive entalhando relevos com a mesma técnica já com o objetivo de criar uma espécie de escultura. Mas eu acho que o entalhe precisa sofrer uma interferência significante para deixar de ser uma matriz de reprodução, não imagino eu vender uma das minhas matrizes, da forma natural que elas são impressas. Sempre trabalho com tintas em camadas, recortes, betumes e outros elementos para fazer essa transformação.

Há algum tempo, você trouxe a mostra Gravado no Osso para a mesma RV aonde vai fazer o workshop. Foi legal esse contato com o público baiano?

SC: Foi também a primeira vez que estive em Salvador e foi muito legal. É também um pouco diferente, parece que a região Nordeste assimila de forma um pouco dividida a xilogravura contemporânea do restante do país, talvez justamente por estar mais próxima da cultura popular, por conta do Cordel, as vezes tenho a impressão que não alcança o mesmo impacto que no Centro do país. É uma técnica primitiva, e que se sobressai mais em ambientes com desenvolvimento tecnológico e urbano mais agressivos, e, posso estar enganado, mas na minha rápida passagem, Salvador me passou uma sensação mais de raízes, algo mais naifi talvez, que é onde surge o entalhe, a arte manual, o que é ótimo, pois é um desafio para o artista, já que só dominar uma técnica, não determina o efeito que seu trabalho terá sobre o público.

Como se relaciona com os fãs do seu trabalho? O pessoal pede dicas etc?

SC: Hoje em dia, com as redes sociais, todos nós ficamos mais acessíveis, e, apesar de você ter que impor alguns limites, é muito legal ter um feedback, contato, trocar idéias com pessoas que seguem seu trabalho. Com responsabilidade, é muito tranquilo de administrar uma relação saudável pessoal e profissional. Muitos pedem dicas de material, querem mostrar seus primeiros resultados, eu mesmo já fiz isso com artistas de quem sou fã, e é muito legal. Também é muito interessante esse veículo tão moderno de comunicação promovendo uma técnica tão primitiva, como a xilogravura

CRIS PETER

Cris Peter, colorista
O seu livro é mais indicado para quem quer seguir pelo caminho da colorização profissional ou também para quem se interessa pelas cores de modo geral, seus significados etc.?

CP: O objetivo do meu livro é justamente tentar unir o raciocínio do uso das cores em várias plataformas diferentes. Percebi, ao longo dos meus estudos sobre o tema, que existem várias informações de teorias cromáticas riquíssimas pelas livrarias, porém todos muito restritos em um determinado contexto. De qualquer maneira, eu sempre consegui enxergar conteúdos ricos pra minha carreira dentro dessas leituras. Pra mim o uso das cores nos quadrinhos não é diferente de seu uso em fotos, ou no design gráfico, ou no ramo audiovisual. A área na qual trabalhamos é simplesmente o que determina as nossas ferramentas, e a teoria cromática vai muito além das ferramentas. Muitas vezes um conhecimento sobre tintas realmente pode acrescentar conteúdo para um profissional que trabalha com fotografia, por exemplo. Portanto acredito que meu livro é indicado para qualquer profissional que trabalhe com o uso da imagem.

Quando vc trabalha para uma grande (Marvel DC etc) é possível encontrar espaço para exercer alguma criatividade ou o negócio é mais rígido, tendo que obedecer aos padrões e climas de cada personagem?

CP: As editoras norte-americanas em geral são muito tranquilas de se trabalhar. A maioria dos trabalhos que faço para a DC Comics são para o selo Vertigo (que contém histórias mais adultas e não trabalha muito com super heróis), já quando trabalho com os personagens mais icônicos da editora (Superman, Batman, Robin) o controle do meu trabalho acaba sendo mais rigoroso. Eu acabo por não buscar muitos trabalhos com a parte mais mainstream da DC justamente para não ter muitas limitações. Já a Marvel me dá liberdade total, assim como a Vertigo.

É gratificante para você o contato com os fãs nesses encontros?

CP: Com toda a certeza. Trabalhar como freelancer é bastante solitário. O contato que tenho com o público em convenções, encontros, e até mesmo na internet é muito valioso pra mim, pois consigo trocar idéias e receber um feedback direto do meu trabalho. Eu, pessoalmente, sempre gostei de ensinar, e conversar com o público me ajuda a ter novas idéias e criar novos projetos.

O que vc está colorindo neste momento?

CP: Estou envolvida em três projetos que ainda não posso divulgar, continuo colorindo Hinterkind para a Vertigo (publicação internacional), vou fazer parte do coletivo 3 2 1 onde vou desenhar e colorir uma história de 3 páginas, estou trabalhando no roteiro de uma HQ online com Ana Koehler chamado Patas Sujas que ainda não tem previsão de publicação online, mas que será meu próximo projeto pessoal depois do livro teórico que estou encerrando agora. Também estou trabalhando no segundo volume do álbum Astronauta das Graphic MSP ao lado do Danilo Beyruth e do Sidney Gusman.

quarta-feira, julho 16, 2014

ROCKS OFF: NEW ORLEANS



Bourbon Street, o quarteirão mais musical do planeta
Nei Bahia, Miguel Cordeiro e Osvaldo Braminha Silveira Jr. falam daquele pedaço de terra norte-americano que deu origem ao jazz, ao blues, à porra toda.

Para variar, uma aula.










Bônus: tema de abertura de Treme, espetacular série da HBO sobre New Orleans pós-Katrina.


PERCPAN DE LARGO

Depois de quatro anos sem acontecer, PercPan volta em sua vigésima edição: na praça, de graça e com atrações populares fechando cada noite

Letieres Leite, Beth Cayres e Guilherme Bellintani ontem, na coletiva do PP
O filho pródigo. Foi com essa imagem, da cria que retorna ao lar, que a vigésima edição do PercPan - Panorama Percussivo Mundial foi lançado na tarde de ontem, durante entrevista coletiva no gabinete do prefeito Antonio Carlos Magalhães Neto.

“O PercPan é o filho que foi embora e rodou o mundo, mas é importante que ele esteja de volta”, afirmou Guilherme Bellintani, secretário de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador.

“Ele se alinha perfeitamente na atual política cultural de Salvador, que quer pensar o novo, mas também não quer jogar fora o que deu certo, como o PercPan”, declarou.

Depois de quatro anos sem ser realizado na cidade em que foi criado, o festival volta diferente, com cara de festa de largo soft: três dias de shows no Terreiro de Jesus, abertos ao público, gratuitos e sempre com grandes atrações de apelo popular fechando a noite (veja os destaques da programação mais abaixo).

Leilía, grupo feminino de percussão da Galícia, Espanha, também vem pro PP
“O PercPan ficou quatro anos sem acontecer. Se o poder público o tivesse apoiado, isso não teria acontecido”, disse o prefeito.

 “Agora, estamos reiniciando o festival do zero, oferecendo mais uma data no calendário de eventos com um evento de referência nacional”, disse.

Ele ainda destacou que “Salvador é a capital nacional da percussão. Então, jamais podemos abrir mão de um evento desse porte e com esse caráter universal”.

Concluindo sua fala, o prefeito disse que, no governo anterior, o orçamento municipal para a cultura (em 2012) foi de R$ 500 mil. “Este ano, entre aporte público e privado –  através do poder público – este orçamento será próximo de R$ 40 milhões”.

Volume mais baixo

O alabê Gabi Guedes vai comandar uma pá de convidados no último dia
Estavam lá também a criadora do PercPan, a produtora Elisabeth Cayres e um dos curadores do festival, o músico Letieres Leite, que trabalhou ao lado do músico e escritor José Miguel Wisnik e do produtor Alê Siqueira.

“Agora que fomos para a rua, vamos trabalhar nos moldes dos festivais de rua do resto do mundo, então a primeira preocupação foi abaixar o volume”, disse Leite.

“A segunda foi promover uma troca dinâmica de atrações. Cada artista visita o outro. A última música de cada show já contará com o artista seguinte participando no palco. Então a percussionista da Galícia participa de uma música das Ganhadeiras de Itapoan, por exemplo”, contou.

Já Beth Cayres disse que levar o PercPan do teatro para a rua sempre foi um desejo dela. “Percussão é rua”, notou.

Ela ainda revelou que uma das atrações, o grupo feminino Orquestra Obìrin, formado especialmente para o festival, “já foi convidado para ir à França gravar um disco”, concluiu Beth.

O sempre invocado Mano Brown, ao lado de sua foto preferida de Malcolm X
PercPan 2014 - de 25 a 27 de julho, no Terreiro de Jesus. Cada dia, um tema
25 de julho (sexta-feira):  Percussão - Voz, Corpo e Palavra. Dia dedicado aos artistas que criam e exercem a percussão a partir da voz e dos batuques no próprio corpo

Banda de Boca (BA)
Barbatuques (SP)

Vocal Sampling (Cuba)
Mano Brown (SP)

26 de julho (sábado): Panorama Percussivo Feminino - Dia dedicado às mulheres

As Ganhadeiras de Itapuã (BA)
Leilía (Espanha)
Sayon Bamba (Guiné Conacri)
Orquestra Obìrin (BA)
Banda Didá (BA)
Margareth Menezes (BA)

27 de julho (Domingo): Das Matrizes às Batidas Contemporâneas. A percussão que vai do terreiro à eletrônica, do ancestral ao digital

Aguidavi do Gegê (BA)
Marcio Victor & Samba Chula de São Braz (BA)
Percussivo Mundo Novo (BA)

Gabi Guedes (BA), Dj Cia (SP) e convidados
Marcelo D2 & Banda (RJ)

terça-feira, julho 15, 2014

DESRROCHE, BANDA DE GÓTICO INDUSTRIAL, FAZ OS SHOWS MAIS IMPRESSIONANTES DA CENA LOCAL

Desrroche, foto Fernando Lopes
No último domingo, pouco depois do tetra alemão, sirenes de ataque anti-aéreo soaram no Pelourinho.

As pessoas não entenderam direito o que estava acontecendo, enquanto ouviam o som de aviões e helicópteros que pareciam sobrevoar o local.

Fumaça. Em meio ao público, homens acorrentados, trajados como o elenco de Mad Max, surgiram, e auxiliados por um outro sujeito vestido de forma extravagante, se livraram das correntes e subiram ao palco.

Tudo isso foi só o início do show da banda local de rock gótico industrial Desrroche, que se apresentou no Largo Pedro Archanjo com as bandas Síncope e Os Jonsóns.

Foi uma intervenção”, conta Lexpedra, o vocalista e responsável pelo “resgate” dos outros membros da banda.

Fizemos um ato, como se os caras estivessem em um campo de concentração, encapuzados e acorrentados. Criamos um ambiente de guerra mesmo, eu puxando a corrente no meio do publico, aí rolava o sinal de ataque aéreo, eu mandava todo mundo se agachar, ninguém sabia o que estava rolando. Cara... foi demais”, diverte-se.

"Devemos voltar a nos apresentar no Pelô no Halloween, mas ainda vamos confirmar. Mas daqui pra lá com certeza outras coisas, outros shows devem acontecer", garante.



Rammstein com Kiss

Atualmente contando com Lexpedra, Lucius Dark (sintetizador), Ninovski (baixo), Rada Horus (guitarra), Luca Oliver (violino) e Moka (bateria), a Desrroche é uma daquelas bandas que se esmeram no visual, inspirando-se no sentido de espetáculo do Kiss e no estilo neoexpressionista heavy industrial dos alemães do Rammstein.

"Kiss e Rammstein são nossas bandas preferidas”, afirma Lex.

“Os caras fazem espetáculo. Você  não sabe se bate cabeça ou se presta atenção. É performance, teatro, interação com o público, cinema expressionista, pirotecnia, iluminação – tudo muito organizado. Isso me cativou. Coisa bem feita, a galera assiste e sai impressionada”, diz.

Na atividade desde 2002, a banda já tem dois CDs e alguns EPs gravados – sempre com letras em português.

“O rock é universal, tem que ser cantado em todas línguas”, afirma Lex.

"A Desrroche vem de outra banda. Eu era de uma banda punk nos anos 1990, e o pessoal me chamou para tocar baixo. Mas eles tavam mesmo precisando de um vocalista, só que a minha linha não era exatamente o punk. Na época eu gostava muito de grunge, psicodélico e tal. Enfim eu queria fazer um projeto dentro disso, envolvendo tanto o punk quanto outra música mais peculiar. Sugeri montar outra banda, e a Desrroche saiu disso", relata.

"Aí em meados de 2000, 2001, eu conheci o Rammstein. Já conhecia Marilyn Manson, Rob Zombie etc, que eu gostava muito e procurava aqui em Salvador quem fizesse esse tipo de som. Ninguém fazia isso por aqui. Eu vou ter que fazer. Eu gosto e tenho que encontrar quem goste também. Esse foi um dos motivos para montar esse projeto. Tava cansado de ir para o show e só ouvir a música. Isso pra mim é tedioso. Prefiro pôr o CD e ouvir em casa", afirma.

"Aí nos shows rolam umas pirotecnias, uns fogos indoor quando é possível, tem que ter autorização, claro. Mas sempre que dá, usamos. Tentamos fazer um espetáculo mesmo, é uma coisa totalmente insana", garante Lex.

"Nesse sentido, o Kiss é muito importante pra gente. Foi uma época muito boa do rock, toda aquela fantasia, isso é muito bom, uma influência grande. Nosso baixista é louco por Kiss desde antes de entrar. Ele já gostava da Desrroche, e quando surgiu o convite ele ficou felizão", conta.

"Uma coisa nova legal foi a entrada do violinista Luca Oliver. Ontem (domingo) foi a estreia dele e foi perfeito. Na música Se Eu Morresse Amanhã arrancamos lágrimas do público. Foi muito forte, muito emocionante, uma pegada louca, cara", conta.

"No início desse ano lançamos um single chamado Canção Nova. Agora  estamos batalhando para gravar um outro EP com mais 4 ou cinco músicas”, diz.

Batalha, mesmo. “Por show, a banda gasta uns R$ 2 mil em produção”, garante o cantor.

“Tem bandeiras, cilindros de gás, macacão com faróis, toda uma parafernália que a gente mesmo monta”, conclui.

Ouça: www.facebook.com/BandaDesrroche



NUETAS

Dia do Rock local

Os brasilienses da Madre Negra
Madre Negra (DF), Pâncreas, Overdose Alcóolica e Scream For Maiden se apresentam neste domingo, no Largo Pedro Archanjo, em comemoração atrasada (por conta de Copa etc) ao Dia Municipal do Rock. A partir das 15 horas já tem bate-papo com os músicos. Leve um quilo de alimento ou um agasalho.

Camisa com Lo Han

O Camisa de Vênus segue nova temporada (a terceira) aos sábados no Dubliner’s. Esta semana, o hard rock da  Lo Han abre a night. 22 horas, R$ 30.

Scambo com Oriente

A banda local Scambo recebe a niteroiense Oriente para um show na casa The Hall neste domingo (20), às 16 horas. A formação da Oriente é inusitada, prometendo algo diferente: Nissin (vocal), Chino (vocal), Bruno Silva (Baixo, Violino) e Geninho (beatbox, vocal de apoio). R$ 30 (pista antecipado), nas lojas Midialouca (RV), HC3 (Shopping Iguatemi) e BBZen (Pituba).