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segunda-feira, julho 28, 2014

CLÁSSICO DOS ANOS 90 - SEM TALVEZ

Edição comemorativa de 20 anos de Definitely Maybe,  belo álbum de estreia do Oasis, chega com o tradicional tratamento “remasterização com faixas bônus”

Oasis nos tempos dos Cigs & Alcohol. Foto: Michael Spencer Jones
À frente da banda, o vocalista tem os braços cruzados atrás de si e o rosto virado para o alto.

Por trás dos óculos escuros, a voz juvenil e marrenta garante: “Tonight , I’m a rock ‘n’ roll star”. Esta noite, sou uma estrela do rock.

A profética Rock ‘n’ Roll Star é a faixa de abertura de Definitely Maybe, primeiro álbum da banda inglesa Oasis, que, lançado em 1994, ganha agora o tradicional tratamento “edição de luxo, remasterização e faixas-bônus”, comemorativo dos seus 20 anos.

A óbvia influência dos Beatles é admitida nos textos do encarte: "Beatles é onde tudo começa e tudo termina para o Oasis", afirma Noel Gallagher. Aqui e ali ainda há piscadelas para T. Rex e Bowie.

De fato, é um belo álbum de rock clássico e mais do que isso: resume o que a banda faria pelos próximos 15 anos, resume a época em que foi lançado e resume a (com o perdão da má palavra) “atitude” do grupo em si.

E tudo isso está ainda mais resumido na já citada faixa de abertura, Rock ‘n’ Roll Star: a abertura com riff marcante, a levada com uma parede de guitarras em cascata, a cozinha discreta, a letra arrogante, o final em loop interminável que vaticina: “It’s just rock ‘n’ roll, it’s just rock ‘n’ roll”...

A partir daí estava aberta a cancela para a subsequente dominação mundial , uma década de bagaceira regada a sexo, drogas e brigas de soco, a rivalidade (meio fabricada pela imprensa britânica) com os colegas da banda Blur, a megalomania.

Enfim: uma história de rock ‘n’ roll clássica para uma banda de rock ‘n’ roll clássico. Só faltou algum membro morrer de overdose para a receita ficar completa.

Geri das Spice Girls, circa '97
Britpop & Cool Britannia

Quando saiu, Definitely Maybe ajudou a cristalizar o subgênero do rock independente proveniente do Reino Unido: o britpop.

Suas origens datam desde os anos 1960, quando bandas como os Beatles e The Kinks trouxeram sentimentos e climas tipicamente britânicos em canções como Rain (1966, Beatles) e Waterloo Sunset (1967, Kinks).

Era o rock, invenção norte-americana, ganhando as cores locais dos ex-colonizadores.

Nos anos 1980, essa tendência gerou bandas hoje clássicas, como The Smiths e The Jesus & Mary Chain.

No fim dos anos 1980, novo fôlego com o movimento Madchester, que revelou a geração mancuniana dos Stone Roses, Happy Mondays e Inspiral Carpets.

Mas foi só a geração subsequente, nos anos 1990, que cristalizou de vez a tendência, com Oasis, Blur, Suede, Supergrass etc.

Sempre ávida por novidades, a imprensa musical britânica logo tratou de colocar essas e muitas outras bandas sob o mesmo guarda-chuva, como uma resposta britânica à invasão do grunge de Seattle, o novo rock alternativo americano e o funk metal do Red Hot Chili Peppers e Faith No More, que dominaram aqueles primeiros anos da década de 1990.

Corta para 1994: Kurt Cobain está morto, o Blur lança o fantástico Parklife e o Oasis estreia com Definitely Maybe.

O que parecia ser álbuns soltos de bandas nada similares ganha ares de movimento. Em 1997, o trabalhista Tony Blair é eleito primeiro ministro, encerrando quase 20 anos de dominação conservadora.

Na sua posse, Liam Gallagher aparece e posa ao seu lado - para desespero do irmão / rival, Noel.

De repente, era cool ser britânico novamente. Cool Britannia. Foi divertido enquanto durou.

Definitely Maybe / Oasis / SONY-BMG / Deluxe edition - Box com 3 CDs: R$ 49,90 / www.sonymusic.com.br








Top Ten: Beabá do Britpop 90's para iniciantes

Supergrass - I should Coco (1995) - Eles são jovens, eles são livres, eles são legais. O hit Alright precedeu mais esta incrível estreia que conjugava Who e punk com entusiasmo.


Suede - Coming Up (1996) - Os dois primeiros LPs do Suede já eram lindos, mas foi este terceiro que trouxe os hits Trash e The Beautiful Ones.


Pulp - Different Class (95) - Depois de alcançar a excelência sônica com His ‘n’ Hers (1994), Jarvis Cocker & Cia radiografaram a sociedade inglesa com esta obra-prima da ironia terna.


Blur - Parklife (1994) - Em seu terceiro LP, o Blur estourou de vez e garantiu seu lugar ao lado do Oasis como representante máxima do estilo Britpop.


Ride - Carnival of Light (94) - Remanescente da geração shoegaze, o Ride teve seu auge artístico neste lindo álbum de tintas setentistas.


Elastica - Elastica (95) - A estreia do Elastica iniciou, anos antes dos Strokes,  o revival anos 1980 via pós-punk e new wave.


Teenage Fanclub - Grand Prix (95) - O belíssimo quinto LP dos escoceses do TF foi o cruzamento do shoegaze inicial com a linha Beatles adotada dali em diante.


The Verve - Urban Hyms (97) - O hit Bitter Sweet Symphony rendeu um processo dos Rolling Stones, mas valeu sucesso mundial ao grupo.


Radiohead - The Bends (95) - Depois do hit inicial Creep, esta coleção de angústias majestosamente sonorizadas rendeu aclamação geral.


Oasis - (What's The Story) Morning Glory? (95) - Wonderwall. Don’t Look Back in Anger. Champagne Supernova. Cast No Shadow. Dizer mais o que?

6 comentários:

  1. Ernesto Ribeiro10:14 AM

    Bom texto. Bom artigo. Boa objetividade. Bom jornalismo.


    Péssima meia década.


    A segunda metade dos anos 90 fedeu tanto quanto o cadáver de Kurt Cobain, nosso Last Action Hero, simbolizando a putrefação avançada da música pop sem vida e do rock sem miolos deste século.


    Duas coisas nesta página me levantam o moral: o corpo bem embalado de Geri Spice e a estréia do Elastica.


    O resto, podemos jogar num paredón e passar fogo.

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  2. Ernesto Ribeiro10:21 AM

    .


    Senhor Chico Castro Jr.,


    Como leitor deste prestigiado jornal,

    Venho por meio desta contribuir com sua coluna no ATARDE ao lhe fazer uma sugestão para a próxima pauta recomendando uma grande reportagem sobre uma personalidade brilhante, corajosa, empreendedora e absurdamente talentosa; uma verdadeira heroína do Rock Baiano.


    Eis um bom título:


    "Carol Ribeiro — tudo o que ela TOCA vira Rock & Roll."


    Em meus comentários de posts anteriores, estão as linhas gerais que resumem a trajetória heróica da nossa pequena e poderosa Formiga Atômica que muito nos enche de orgulho e que honra a cena Rocker soteropolitana desde 1997 em diversos projetos, bandas e atividades.


    É assunto suficiente para encher um especial de 3 páginas.


    Tenho 100% de certeza que o Caderno 2 + do jornal A Tarde será ainda + engrandecido com essa fantástica matéria que somente um escritor jornalista mercurial como você tem o poder de realizar.


    Noves fora, pense nos números. É uma boa soma de talentos.


    O testemunho acima é verdadeiro e boto fé in ocê, pai.


    O desafio está lançado!


    Carol Ribeiro :

    Guitarrista Solo — Tecladista — Compositora

    Expert em Punk Rock — Hard Rock


    Fundadora e Líder das Bandas : SHES — LOU — Foxy Ladies


    Apresentadora e Repórter do quadro Amplificado (sobre rock, é claro) no programa Soterópolis na TV Educativa.


    Repórter de Cultura Alternativa e editora de videos no IRDEB.


    SHES


    Desafio!

    http://www.youtube.com/watch?v=xuAqTaRDeHY



    Spam!

    http://www.youtube.com/watch?v=YXi8ZmU8H58



    YOUTUBE — Videos da banda Lou e Reportagens na TVE:

    http://www.youtube.com/user/carolribeiro/videos


    Fotolog das 3 Bandas:


    http://www.fotolog.com/carol_ribeiro/17953330/

    http://www.fotolog.com/carol_ribeiro/16811307/

    http://www.fotolog.com/carol_ribeiro/21732710/


    http://www.fotolog.com/carol_ribeiro/mosaic/210/

    http://www.fotolog.com/carol_ribeiro/mosaic/240/

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  3. Ernesto Ribeiro1:04 PM

    Após o show do Camisa de Venus, no barzinho exterior do Dubliners Irish Pub, eu e Rogério Big Boss temos nossa conversa: longa, animadíssima, reveladora e emocionada, que começa do lado de fora, prossegue lá dentro e vai para a rua.


    Concordamos em TUDO.


    As verdades que Rogério Big Boss me revelou mudaram os meus conceitos sobre ele e aprofundaram radicalmente outros, sobre tantas pessoas que eu PENSAVA conhecer totalmente --- e que é melhor não citar aqui.


    Seja como for, ao me contar a VERDADE assombrosa sobre a trajetória de figuras carimbadas do Rock Baiano desde os anos 90 (com os altos e baixos, sucessos e fracassos, justos e injustos), BB é o meu principal e mais precioso informante.


    No final, eu estava de cabeça baixa, uivando de tanto desgosto.


    Rogério pôs a mão no meu ombro, tentou me consolar e me disse:


    "Não vale a pena chorar por causa disso, cara. Eu mesmo já parei de sofrer pelo rock baiano faz muuuuuuuuuuito tempo..."


    Eu disse a ele: "Você deveria escrever um livro contando tudo o que sabe."


    Big Boss: "O título é: "EU NEGO TUDO." rarara..."


    Viver no Terceiro Mundo nunca foi tão doloroso como agora. Oh, que vergonha.


    Ai de nós.

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  4. Teenage Fanclub eterno no "S2" lol
    Chico, aproveitando o ensejo dos anos 90 (mas não do britpop) outro dia ouvi um clássico perdido e desconhecido dessa década que me deixou de queixo caído: da banda Silkworm o disco "Firewater". Daqueles discos que deixa você angustiado por saber que vai morrer e não vai ouvir tudo de bom que já foi gravado nesse mundo. Sonoridade próxima do som que caracterizou a década, que se convencionou chamar de grunge, mas mais prum post-hardcore/rock alternativo. Coisa linda de se ouvir, letras, arranjo. Se me permite a recomendação, diria que é uma audição essencial.

    grande abraço

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  5. Ótimo artigo, Chico. Seleção de primeira!

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  6. Valeu, Victor!

    Cebola, que saudade ve-lo por aqui. Abraço, master!

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