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terça-feira, outubro 30, 2018

MANDINGA CURATIVA HIPNÓTICA

Baterista Jorge Dubman, o Dr. Drumah, lança álbum solo sem contra-indicações

O Doutor Batera na foto de Glauco Neves
Frequentadores dos shows da IFÁ e de boa parte das bandas  de reggae que se apresentavam   na comunidade da Rocinha (Pelourinho) certamente são familiarizados com a batida precisa e sofisticada do baterista Jorge Dubman.

"Além da IFÁ, faço parte atualmente de um projeto chamado Coquetel Banda Larga, com integrantes da extinta Navio Negreiro. Na cena soteropolitana já acompanhei inúmeras bandas de reggae, praticamente todas as bandas que se apresentavam na Rocinha, dentre estas a Red Meditation, Moa Anbesa e Semente da Paz. Fui fundador do coletivo Dubstereo, já toquei com Radiomundi, Lucas Santtana, Kalu, Luiz Natureza, Dionorina, entre outros", enumera Jorge.

O que talvez muitos não saibam é que Jorge vem desenvolvendo, em paralelo, uma interessantíssima carreira solo sob o pseudônimo Dr. Drumah (“Doutor Batera”, mal traduzido da fala jamaicana).

Esses dias Jorge / Dr. Drumah anunciou seu terceiro trabalho: Creation & Foundation, lançado pelo selo californiano 77 Rise  em fita cassete e digital.

Com quinze faixas, o disco é uma mandinga curativa hipnótica instrumental digna de tracks históricas do dub jamaicano safra  1970’s.

“Defino (meu trabalho) como hip hop instrumental, mas com várias ramificações. Dialoga com  jazz, soul, nu-jazz, neo soul e música brasileira. No Creation & Foundation, o dialogo é com a música jamaicana, com foco no dub e  sound system”, conta Jorge.

Mais do que um baterista, Jorge pode hoje ser considerado um beatmaker (fazedor de batidas), alguém que utiliza diversos recursos (analógicos e digitais) para criar beats e tracks.

E foi através de outro beatmaker que ele teve seu trabalho conhecido por um selo undeground lá na Califórnia.

“Conversando com um amigo de São Paulo, também beatmaker, o Sono TWS, sobre o desejo em lançar meu trabalho em cassete, ele me disse que conhecia o pessoal do 77 Rise Recordings, que é  especializado em cassete”, conta.

 “Na época ele apresentou o (meu álbum) 90’s Mindz ao 77 Rise, que acabou lançando-o e, para minha surpresa, foi uma das tapes mais vendidas do selo em 2017. Depois disso veio o álbum Drumahmental, que saiu em CD e vinil pelo selo inglês IBMCs, relata.

Pesquisar para começar

Jorge, o Dubman, foto Heder Novaes
Ouvidos leigos nas químicas dos estúdios de gravação (como os deste colunista) podem ficar com a impressão errônea de que um trabalho como o do Dr. Drumah é pura colagem de sons e batidas sem muito critério. Nada mais longe da realidade.

"Esse trabalho tem todo um processo. Sempre começo pelos discos. Escuto muita coisa antes de produzir e fico sempre com os ouvidos atentos pra um loop perfeito. Quando acho esse recorte já começo a fazer o beat pra dá um ritmo e achar o caminho na composição. Daí vem os outros instrumentos adicionais como baixo, teclados, synths e efxs pra somar com o sample. Sempre começo pelo sample, é o que me chama mais atenção nesse processo de produção", descreve.

“No meu caso, utilizo o sample (amostra ou trecho de alguma música). Esse é o meu ponto de partida e é como começo a desenvolver meu som. Vamos dizer que isso é a única coisa que seja uma ‘colagem’ no meu trabalho”, afirma.

“Fora isso, tem toda uma pesquisa e tudo é elaborado de forma original, desde o beat que faço na MPC (bateria eletrônica) aos sons dos outros instrumentos, tocados através de um software ou gravados organicamente. No álbum Creation & Foundation convidei amigos músicos para participarem de tracks, como Bruno Buarque (Karina Buhr), que gravou vários instrumentos (piano rhodes, clavinett, OP-1 e percussão) na faixa Jungle Station. Átila Santtana (IFÁ) e Danilo Japa (Dubfree) gravaram guitarra e órgão na faixa título Creation & Foundation. Sanzyo da banda pernambucana Bom Sucesso Samba Clube gravou escaleta na track Invazion. Sempre mesclo sample com instrumentos tocados nos meus álbuns”, detalha.

Em breve, o Dr. Drumah atenderá seus pacientes ao vivo, com banda.

"Estou me organizando pra isso, mas pretendo mostrar ao vivo no formato mais orgânico (banda), misturando também com os elementos eletrônicos como samplers. Estou estudando a melhor maneira de mostrar esse trabalho. Já recebi algumas propostas de apresentação dentro e fora do Brasil e isso acaba me motivando mais para realizar essas apresentações", conta Jorge.

Aguardemos.



NUETAS

Gamboa, só de boa

O violonista George Christian e convidados apresentam nesta quinta-feira o show Secretos Universos, uma experiência sonora e visual no Teatro Gamboa Nova. 19 horas,  R$ 20. E sábado tem Afrika Jump, com os  nigerianos  Okwei Odili (cantora) e Teekay Tha Newbornno (rapper). Classe.

Circo de Marvin, bye

De mudança para São Paulo, a promissora Circo de Marvin faz show de despedida de Salvador nesta sexta-feira. Portela Café, 18 horas, R$ 22.

Rivera & Rivermann

Madame Rivera faz show no  Bardos Bardos Casa da Trinca sexta-feira, 18 horas, pague quanto quiser. E no dia seguinte, nos mesmos bat-local e horário, tem a ótima Rivermann, de pegada pós-punk.

sexta-feira, outubro 26, 2018

A FORÇA BLACK DE UMA ARTISTA INDEPENDENTE A TODA PROVA

Anelis Assumpção e banda fazem hoje o show Taurina, no Largo Pedro Archanjo. Guitarrista de sua banda, o músico paraense Saulo Duarte abre a noite apresentando seu show Avante Delírio

Anelis, foto Caroline Bittencourt
A voz quente, as letras provocadoras e o som inclassificável de Anelis Assumpção  são as atrações de hoje no  Largo Pedro Archanjo.

Filha do inesquecível Itamar Assumpção, Anelis traz à Salvador seu novo show autoral, Taurina. Antes de Anelis, o paraense Saulo Duarte faz o show de abertura.

Guitarrista da banda de Anelis, Saulo apresenta em formato power trio o show do seu álbum Avante Delírio, um apanhado de levadas encharcadas do suíngue típico das regiões Norte e Nordeste.

“(Eu e Saulo) Somos navegantes em busca de um norte seguro nesse mar revolto que é viver de música no Brasil”, afirma Anelis.

“Saulo trouxe um tempero diferente pro meu som. Trouxe açucarose. Açaí. Nos demos bem de cara. Somos mestiços. Entendemos de outros sofrimentos”, detalha.

Artista já “adotada” por uma boa parcela do público baiano, Anelis faz show em Salvador ano sim, ano também. O último, na Caixa Cultural, foi um projeto em tributo à obra do seu pai.

Neste, a ênfase é no álbum novo: “Tenho feito a maioria dos shows com repertório de Taurina – pelo momento do lançamento, mas na sexta (hoje) faremos algumas que não são do disco. Até para aproveitar já que não venho tanto a Salvador”, conta.

No zodíaco e além

O paraense Saulo Duarte, foto Paola Alfamor
Elogiadíssimo pela crítica, Taurina já foi até premiado, abocanhando os prêmios de Melhor Disco e Melhor Capa pelo Superjúri do Prêmio Multishow 2018.

“Fico feliz em sentir que um disco tão cuidadosamente pensado e produzido seja recebido com esse calor. Representa pra mim que posso continuar”, afirma Anelis.

Terceiro álbum da artista, Taurina tem no seu título – e nas canções, óbvio – uma óbvia referência ao signo do zodíaco, mas não só: também se presta a metáforas diversas, incluindo a objetificação feminina.

“O bicho vaca. A taurina. Fêmea generosa e silenciosa. Vaca brava. Sagrada. Leite puro branco queijo carne couro. Mulher bicho. Mulher bicha. Bicho coisa. Universo. Medos. Fragilidade. Tesão”, enumera Anelis.

"Creio que a evolução seja Orgânica. Assim como os dias e os pensamentos. Eu me sinto mais madura. Estou mais perto dos quarenta do que dos trinta. Passei por mortes e partos. Estou mais segura, menos iludida, mas não necessariamente mais madura. Hoje tenho mais medos. Ou novos medos. Assim é a vida", observa.

No palco, a cantora se apresenta acompanhada de seis músicos: Lelena Anhaia (guitarra), Mau (baixo), Saulo Duarte (guitarra), Ed Trombone (trombone e percussão), Daniel Conceição (bateria e percussão) e Zé Nigro (teclados).

“Amo estar aqui! Volto muito nutrida de esperança no ser humano.  Sempre sou bem tratada por todos e fico honrada em perceber que minha música tem espaço pra ser ouvida nessa Bahia mãe de tantos artistas maravilhosos do nosso cancioneiro”, conclui a cantora.

Anelis Assumpção: Taurina / Abertura: Saulo Duarte / Hoje, 20 horas / Largo Pedro Archanjo / R$ 25 a R$ 70 (Sympla)

terça-feira, outubro 23, 2018

ANTES NA FOSSA (MESMO QUE NOVA) DO QUE NO FOSSO...

De São Paulo, baiano Murilo Sá lança terceiro álbum pelo selo gaúcho 180: Fossanova

Murilo Sá, o Falcon (loiro) baiano, em foto de Carlos Tupy
O baiano Murilo Sá é o maior nome do rock gaúcho – feito fora do Rio Grande do Sul.

Não à toa, lançou há poucos dias seu terceiro álbum pelo 180 Selo Fonográfico, de Passo Fundo, a maior cidade do norte do Rio Grande do Sul.

Fossanova, terceiro e mais maduro entre os trabalhos de Murilo, é um tratado ligeiro (30 minutos) e bem humorado que conecta as desilusões amorosas do artista com esses Tempos Esquisitos (nome da faixa de abertura do disco).

“O álbum faz menção aos tempos esquisitos que vivemos, ainda que de um ponto de vista pessoal de quem estava numa fossa geral”, ri.

“Foram canções compostas numa mesma leva, cada uma como um capítulo de uma história em que as coisas não estavam muito favoráveis. Falar disso com sinceridade, certa ironia e rindo de mim mesmo foi o caminho pra processar tudo isso”, acrescenta Murilo.

Indie lo-fi psicodélico urbano jovemguardista, Fossanova foi todo gravado no apartamento onde o músico mora em São Paulo, na Rua Augusta.

E agora  aquele momento cultural sobre “estética lo-fi”, cortesia do professor Murilo: “Lo-Fi se refere a low fidelity (baixa definição sonora). Uma linguagem onde talvez a textura seja mais relevante que a alta fidelidade (hi-fi) sonora, e as limitações de equipamentos, ruídos e efeitos são usadas como opção estética”, conta.

“Foi o disco que eu mais gostei de produzir, por ter aprendido muita coisa nova no caminho e ter feito tudo com total liberdade”, afirma.

Sul, Sudeste, Nordeste

Fla sério, o cara é muito Falcon. Foto Carlos Tupy
O fato de ter sido proveitoso não quer dizer que foi fácil. Aliás, geralmente é assim que se aprende: com esforço e dificuldade.

“Foi mais difícil e trabalhoso, cuidar sozinho de muitos processos. A vantagem é que tive tempo para experimentar até ficar satisfeito com a sonoridade de cada canção”, conta Murilo.

Residente em São Paulo há mais de uma década, o músico infelizmente se apresenta pouco em Salvador, mas conta que tido uma boa aceitação do seu trabalho nas regiões Sudeste e Sul.

“Sinto que o trabalho vem sendo bem recebido por aqui e em outras cidades onde passo, e sim, é o terceiro álbum que lanço pelo Selo 180, que vem fazendo reedições em vinil de nomes como Raul Seixas e lançando também novos artistas”, conta.

“Apesar da distância, eles fazem um excelente trabalho de distribuição digital”, afirma.

Agora Murilo segue divulgando o trabalho em SP mas no verão ele diz que deve pintar por aqui com seu novo show: “Estou com saudades da minha cidade, e no verão, penso em armar um lançamento do álbum novo por aí”, diz.

Ouça: www.murilo-sa.com/fossanova



NUETAS

Vive Jean-Claude!

Figura fundamental no underground baiano desde os anos 80, quando dirigia o bar Paris Latino, o francês Jean-Claude Wolpert ficou mais conhecido da galera com seu inesquecível Calyspo, inferninho em que todo o rock baiano bateu ponto por mais de dez anos no Rio Vermelho. Amanhã, nosso bonhomme será homenageado com festinha no Mercadão CC. Vai ter jam com membros do King Kobra, Os Mizeravão e Theatro de Seraphin, DJ BigBross. 19 horas, pague quanto puder.

Anelis sexta, Pelô

A sensacional  Anelis Assumpção traz o show Taurina sexta-feira, no Largo Pedro Archanjo. Abertura do paraense Saulo Duarte. 20 horas, ingressos: R$ 25 a R$ 70.

Encontro de Selos 

De quinta-feira até sábado acontece na cidade o I Encontro de Selos de Música Experimental: Tecnologias Sustentáveis para Música Móvel. Oficinas, debates, laboratório criativo, feiras e shows rolando na Ufba e na Casa Preta. Programe-se: www.esmeril.ufba.br.

sábado, outubro 20, 2018

ROGER REPRESENTOU

Apresentação do ex-líder do Pink Floyd em Salvador provou que dá para entreter sem se alienar. De quebra, emocionouo público e a si próprio com show inesquecível e homenagem a Moa do Katendê

Ele, o senhor Rogério Águas. Fotos (péssimas) do blogueiro 
Quem juntou seus caraminguás para pagar o ingresso do show de Roger Waters na Itaipava Arena Fonte Nova na última quarta-feira deve ter voltado para casa satisfeito.

Foi tudo o se esperava: um espetáculo multimídia emocionante, cheio de hits, luz, efeitos, performance e mensagens políticas.

Corrigindo: todos voltaram satisfeitos - menos os eleitores de um dos candidatos à presidência.

Juízo de valor político à parte, o show quase todo foi um grande ato antifascismo, com direito a discurso emocionado e homenagem a Moa do Katendê, mensagens de incentivo à resistência e torpedos ridicularizantes ao principal alvo de Roger: Donald Trump.

Durante a música Pigs (Three Different Ones), o presidente norte-americano foi mostrado no telão de todo jeito: pelado (com um bingulim diminuto, claro), como um bebê chorão e de outras formas até o final com a frase em bom português estourada no telão: "Trump é um porco".

Mas começando do começo: o homem subiu no palco precisamente às 21h10 gerando uma onda de euforia ao abrir o show com uma sequência matadora de clássicos do Pink Floyd: Speak To Me, One of These Days, Time, The Great Gig in The Sky.

Esta última, um lindíssimo (e dolorido) vocalise sem letras tornado lendário pela cantora Clare Torry na gravação original, foi assumido no palco pelo duo indie Lucius, fazendo um frila na banda do seu Roger.

"Seje humano", cabra!
Jess Wolfe e Holly Laessig mandaram bem, mas criaram seu próprio desenho melódico, o que pode ter decepcionado quem esperava ouvir algo igual ao disco.

Depois de uma versão empolgante para outro clássico - Welcome to The Machine - Waters mandou duas do seu album mais recente, Is This The Life We Really Want? (2017): The Last Refugee e Picture That.

Duas observações: a essa altura, Roger já tinha largado o baixo e assumido uma guitarra.

O sorriso enorme no rosto e a empolgação com que se movimentava não deixou dúvidas: esse velhinho (75 anos) tá se divertindo adoidado aqui.

Segunda observação: foi aqui que o tom político começou a dominar o show, com as letras das canções sobre a crise dos refugiados na Europa e as imagens do telão indo na mesma toada.

O baiano, que tava lá para ouvir os hits, não prestou muita atenção e deu uma dispersada, mas não por muito tempo: a próxima foi Wish You Were Here, provavelmente um dos maiores hits em rodas de violão e luaus de todos os tempos.

Eis que, finda a canção, uma dúzia de pessoas vestidas com os macacões laranja de prisioneiros de Abu Ghraib e as cabeças cobertas por capuzes pretos se enfileiram na frente do palco.

A fábrica de Animals com suas chaminés sob as projeções psicodélicas
Another Brick on The Wall levantou o povo, que se animou ainda mais quando, no auge da música (o coro infantil), os prisioneiros arrancaram os capuzes, revelando a meninada do Projeto Axé.

Os macacões laranja caem na sequencia, revelando camisas pretas com a palavra de ordem da turnê: RESIST. O povo delira e berra "ele não" de volta.

Foi tanta emoção, que foi preciso um intervalo de vinte minutos para o show voltar.

Quando volta, o palco já tinha assumido outra configuração, praticamente reproduzindo ao vivo a capa do álbum Animals (1977), com direito as torres de fábrica de verdade se erguendo por detrás do palco, soltando fumacinha e tudo. Na lateral, assomava o porco flutuando sobre tudo.

Dogs levantou a galera novamente, seguida de Pigs e o ataque direto ao senhor Donald. A essa altura o fervor antifascista já tinha tomado a Arena. Houve quem torcesse o nariz, mas fazer o que?

Vamos raciocinar: o que esses senhores esperavam? Que ninguém com estatura moral e alcance mundial os ridicularizasse da forma que merecem?

Waters incomoda tanto justamente porque é um inimigo à altura, que se dispõe a ridicularizar a plutocracia que manda e desmanda no planeta para todo mundo ver e ouvir em uma superprodução. Não é pouca coisa.

O show se aproximou do fim com a música tema da turnê, Us and Them - curiosamente, sem Roger no palco, com Jonathan Wilson, o  guitarrista quase-clone de David Gilmour assumindo os vocais, tarefa que já havia aliás dado conta em outras canções.

Moa no telão
A sequência final contou com a nova Wake Up and Smell The Roses, as maravilhosas Brain Damage e Eclipse. E aí veio a homenagem a Moa do Katendê, que praticamente botou abaixo a Fonte Nova.

Emocionado, Roger fez um discurso sobre igualdade e a importância de votar a favor dos Direitos Humanos. A parte que deu para ouvir, entre os berros de "ele não", claro.

O show ainda reservava mais uma surpresa, uma canção do álbum The Final Cut (1983) que fez sua estreia na turnê em Salvador: Two Suns in The Sunset. Confortably Numb encerrou a maratona pinkfloydiana com um deslumbrante jogo de lasers formando uma pirâmide sobre o público.

Roger, a casa é sua, volte sempre. Você nos representa.

quarta-feira, outubro 17, 2018

HOJE: NÓS E ELE

Oportunidade única e imperdível para fãs do rock de todas as idades, o show Us + Them de Roger Waters chega hoje à cidade, com direito a participação de crianças do Projeto Axé

Fotos Kate Izor / Divulgação
Artista de primeira grandeza no Olimpo do Rock, Roger Waters assumiu a liderança do Pink Floyd no início dos anos 1970, quando o líder original Syd Barret foi expulso da banda devido ao abuso de alucinógenos. Hoje, ele traz  Salvador boa parte do repertório que o elevou ao posto.

O show Us + Them é uma daquelas oportunidades que qualquer fã de rock – de qualquer idade – simplesmente não deve perder.

Além de trazer uma lenda viva executando os clássicos da carreira, é ainda um espetáculo totalmente audiovisual de ponta, algo só comparável ao show do Paul McCartney apresentado na mesma Itaipava Arena Fonte Nova há um ano atrás.

Na verdade, segundo o próprio Luiz Oscar Niemeyer, promotor brasileiro de ambos os shows, o de hoje é ainda mais de ponta.

“Em termos de produção, é até maior  do que o show do Paul. É um grande espetáculo audiovisual, com um telão de 70 metros de largura por 14 de altura, mais efeitos de laser etc”, detalhou anteontem  o CEO da produtora Time 4 Fun, já em Salvador.

“A produção é enorme, totalmente audiovisual, com som surround no estádio inteiro, ou seja: além de sair das torres de PA (power amplifier, as caixonas acústicas para shows de grande porte), o som também vai direto para as arquibancadas”, afirma.

Fotos Kate Izor / Divulgação
No palco, Roger se apresenta acompanhado de numerosa banda de músicos à altura, desfiando repertório de clássicos, a começar pela música que dá título ao show, mais Speak to Me, Breathe, One of These Days, Time, The Great Gig in the Sky, Wish You Were Here, Another Brick in the Wall, Dogs, Pigs (Three Different Ones), Money e por aí vai, além de umas duas ou três canções de seu disco solo mais recente, Is This The Life We Really Want? (2017).

Um plus na apresentação baiana será a participação de 12 crianças do Projeto Axé, uma das ONGs mais famosas da Bahia, para cantar o coro infantil de Another Brick in the Wall com Roger.

“Não saberia te dizer detalhes sobre como surgiu esta oportunidade, mas sei que foi nossa produção local que sugeriu a participação das crianças do Projeto Axé. Roger, que geralmente faz esse número com universitários, topou na hora. Vai ser um momento bem emocionante do espetáculo”, aposta Luiz Oscar.

Outro momento que tem gerado muita expectativa é a parte mais política do show– na verdade, a apresentação inteira é de fundo político antifascista –, mais especificamente o momento em que ele exibe no telão nomes de lideranças políticas mundiais de inspiração fascista, incluindo certo candidato à presidência do Brasil.

Se em São Paulo o que mais se ouviu neste momento foram sonoras vaias, em Brasília, por outro lado, foram estrepitosos aplausos – que inclusive levaram Roger a se emocionar no palco.

“Ah, ele está tranquilo (quanto a isso). Na realidade, ele não estava a par de quão acirrados estão os ânimos aqui no Brasil, essa divisão toda”, diz Luiz Oscar.

Fotos Kate Izor / Divulgação
“Mas em São Paulo, foi como ele falou no (programa) Fantástico (deste último domingo), a  #elenao surgiu no telão em um momento que não estava previsto. Isso não foi legal. Mas a posição dele está clara, todo mundo já sabe e ele inclusive reafirmou no Fantástico”, acrescenta.

Salvador no circuito

Este show do Roger Waters é a terceira produção da T4F para um grande show internacional na Bahia. As outras foram as apresentações da banda Maroon 5 (em março de 2016) e Paul McCartney (2017).

Segundo Luiz Oscar, as vendas de ingressos para o Roger tem sido satisfatórias: “(Na segunda-feira) Ainda temos dois dias para vender ingressos. Está dentro do que imaginamos. O objetivo é botar 32 mil pessoas na Arena. Já vendemos 25 mil, então já está dentro dentro das projeções”, afirma.

“Inclusive, foi uma sugestão nossa incluir Salvador na turnê. Fomos bem felizes com o Paul ano passado e achamos que mercado de Salvador está maduro o suficiente para trazermos o Roger para cá”, diz.

Luiz Oscar ainda lembra que Salvador é a única capital de sua região a receber o espetáculo: “Sim, é a única cidade do Nordeste  nesta turnê. A boa experiência do ano passado foi a principal motivação”, diz.

Fotos Kate Izor / Divulgação
Agora é se entregar à experiência desta noite e aguardar as novas produções do bravo Luiz Oscar em terras baianas: “A possibilidade de trazer novos shows é grande, a ideia é essa, o mercado está respondendo. Havendo uma nova oportunidade, incluiremos Salvador no roteiro. Até porque ficar três a quatro dias por aqui não faz mal à ninguém”, conclui. Tamo junto, irmão.

ROGER WATERS – US + THEM TOUR / Itaipava Arena Fonte Nova / Hoje, 21 horas / Abertura dos Portões: 17 horas / Ingressos de R$ 90 a R$ 710 / Classificação etária: De 10 a 15 anos permitida a entrada acompanhado de responsável. A partir dos 16 anos é permitida a entrada desacompanhada

terça-feira, outubro 16, 2018

NADA NOVO, MAS TUDO BEM

Alex Pochat & Os 5 Elementos lançam segundo álbum dez anos depois do primeiro

Rodrigo, Alex, Cris, Túlio e Flash na foto de Emilia Suto
Tesouro escondido da música baiana, Alex Pochat lançou nas plataformas digitais o segundo álbum com sua banda Os Cinco Elementos: Nada Novo.

O primeiro, autointitulado, saiu em 2007 e é – na humilde opinião deste colunista – algo de genial.

Nada Novo, lançado agora, dez anos depois, traz o mesmo Alex positivão e de som caleidoscópico, mas talvez mais urgente em composições e arranjos – que aliás, seguem  complexos e épicos.

Apesar disso, é uma obra mais enxuta: apenas sete faixas (o de 2007 tinha 13).

Mas como quantidade não significa qualidade, o fato é que Nada Novo bate um bolão: cada faixa é uma mini-suíte de rock psicodélico com toques de música indiana, regional  e jazz.

“Se comparamos esse disco com o primeiro, podemos perceber uma abordagem um pouco diferente sobre o mesmo tema: como podemos mudar o mundo de acordo com a nossa própria atitude e quão atentos a essa transformação devemos estar”, afirma.

“No primeiro álbum, acho que essa mensagem foi passada de maneira mais leve e sutil. Em Nada Novo talvez eu tenha pegado um pouco mais pesado, e acho que isso é refletido tanto nas letras como nas músicas: do jeito que andam as coisas, não temos mais muito tempo a perder”, diz.

Cândido 'Amarelo' Neto e Alex Pochat em ação, foto Marcelo Moraes
Onde começa a mudança?

Nas letras, Alex, que além de formado em Composição & Regência (pela Escola de Música da UFBA), é também professor de yoga e da doutrina indiana Brahma Kumaris, aplica o que aprendeu e vem ensinando nos últimos 15 anos.

Enquanto você lê esta matéria, aliás, Alex está em sua peregrinação anual lá na Índia.

“Isso (a urgência) pode ser notado, por exemplo, na faixa  Os 5 Elementos em Fuga, que se refere à tomada de volta, por parte da natureza, daquilo que achávamos – mas que nunca foi – nosso. Ou na própria Nada Novo, que lembra que: “Se nada vai mudar se eu não mudar em mim / É melhor começar, depois não dá pra voltar / Não quero ter que ouvir / Nada novo”, diz.

"Apesar de um álbum mais enxuto, em termos de instrumentos, do que o primeiro, tentamos misturar ainda mais, de forma sutil ou explícita, elementos da música regional e de concerto com um 'roquezinho antigo que não tem perigo...'. Tanto nas composições, como no instrumental. Seja como no repente a la country indiano Martelo à Beira-Mar, ou na utilização livre de técnicas típicas, como o stretto, na Fuga", detalha o músico.

Na década que separou o primeiro do segundo álbum, Alex fez  e aconteceu, solo e em grupo: lançou os álbuns Loqui in Mousiki (solo,  música de concerto), Viratrupe (grupo de praticantes de meditação Raja Yoga de todo o Brasil).

Ainda atuou na organização da série de eventos Música de Agora na Bahia (2012 e 2014).

“Ainda estou devendo a mim mesmo um álbum instrumental de sitar para ajudar a serenizar minha própria mente – e a de quem possa ouvi-lo. Agora pretendo, seguindo o lema de fazer tudo ao mesmo tempo, voltar a compor músicas de concerto e voltar aos palcos com os 5 Elementos, mostrando esse novo trabalho. Agora é assim, lançamos primeiro na rede, depois fazemos uns showzinhos”, diz.

Pochat toma fôlego para dar uma sopradinha, foto Emilia Suto
“Não posso deixar de citar os nomes de meu parceiro e irmão Tadeu Mascarenhas, responsável por todas as gravações e produções musicais que tenho feito até hoje, e do querido amigo e grande designer baiano e mundial Daniel Wildberger, que interpretou em forma de capa-obra-de-arte as músicas desse disco. Mas, principalmente, todo o louvor desse trabalho vai para os caras com quem tive a honra de construir, em conjunto, esse álbum Nada Novo: Candido 'Amarelo' Neto (guitarra e vocais); Cristiano Macchi (teclados); Gigito (banjo e bouzouki); Humberto Monteiro (marimba e vibrafone); Igor Galindo (bateria); Paulo Rios Filho (bateria); Ricardo 'Flash' Alves (guitarra e bandolim); Rodrigo Fróes (baixo); Tulio Augusto (guitarra, gaita e vocais). Além do próprio Tadeu, em toda a engenharia de áudio e no órgão Hammond da Fuga, de quebra”, conclui Pochat.

Ouça: alexpochat.com Google PlayDeezerSpotifyApple Music



NUETAS

Supla aqui sábado

O papito traz seu show recheado de hits ao Groove Bar neste sábado. No repertório, só clássicos:  Humanos, Garota de Berlim, Green Hair (Japa Girl), Encoleirado, Motocicleta Endiabrada e releituras de David Bowie, Billy Idol, The Clash. Mais divertido, impossível. Sexta, 22 horas, R$ 20 (Sympla), R$ 40 (na porta).

Casulo de Cultura Popular gratuito

Bule Bule, Raymundo Sodré, Dona Nildes, João do Boi, Antonio Queiroz, Seu Jurivaldo da Feira, Téo Guedes, Geruza Guedes e o grupo de samba chula Tombo de Couraça são as atrações musicais do Casulo da Cultura Popular. O projeto vai ocupar escolas públicas e o Coreto do Largo 2 de Julho (Centro) neste sábado, a partir do meio-dia. Haverá ainda barraquinhas com cordéis, xilogravuras, artesanato e comidas típicas. Salve a cultura popular! Evento gratuito.

segunda-feira, outubro 15, 2018

É O FIM DO MUNDO

Sinal dos tempos: a ficção pós- apocalíptica nunca pareceu tão popular. Aqui, duas grandes obras: Oryx & Crake, de Margaret Atwood (O Conto da Aia) e A Terra dos Filhos, de Gipi

A Terra dos Filhos, de Gipi
A ficção especulativa pós-apocalíptica deve  ser hoje o subgênero mais popular da cultura pop.

De The Walking Dead a’O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale), o fim do mundo como o conhecemos nunca pareceu: a) tão apreciado e b) tão próximo, que medo.

Duas excelentes obras ambientadas no pós-apocalipse vem engrossar essa mitologia: Oryx & Crake, romance de Margaret Atwood (mesma autora de Handmaid’s) e a HQ A Terra  dos Filhos, do italiano Gipi.

Apesar de serem de autores completamente diferentes, que utilizam suportes diferentes (palavra escrita versus narrativa sequencial), as duas obras dialogam de forma razoavelmente interessante.

Ambas as narrativas se desenvolvem em um ambiente arrasado e completamente modificado pela ação do homem.

Os personagens tanto do livro quanto da HQ vivem em andrajos, lutando para sobreviver um dia por vez.

As perspectivas de retorno à normalidade de quem ainda tem memória do mundo pré- apocalipse são nulas.

Além desses, há também os filhos do apocalipse, nascidos após a hecatombe e desprovidos de traços básicos de humanidade.

Para além das similaridades narrativas, ambas as obras refletem ainda pontos em comum entre os autores: seu profundo humanismo, suas preocupações com o futuro e um senso de humor bizarro.

O Homem das Neves

Margaret Atwwod, foto Jean Malek / Divulgação
Primeiro livro da chamada Trilogia Maddadão, Oryx & Crake é mais uma amostra da imensa criatividade da escritora canadense Margaret Atwood.

Só um aviso: quem achava a distopia de The Handmaid’s Tale horripilante, ainda não viu nada.

Em um futuro não-determinado mas certamente próximo, acompanhamos as andanças do único sobrevivente humano de uma peste que dizimou a humanidade.

Vestido apenas com um lençol, ele vive entre os novos habitantes da Terra: uma raça de pessoas geneticamente modificadas, os Crakers, que o chamam de Homem das Neves.

No passado, o Homem das Neves se chamava Jimmy e vivia com seus pais em um mundo dominado pelas megacorporações.

Mundo este que se dividia entre  cidades fortificadas construídas pelas empresas e o resto: a Plebelândia, onde não havia  governos, só a lei do mais forte.

Em seu mundinho à parte, o pai de Jimmy trabalhava como engenheiro genético desenvolvendo novas espécies de animais e vegetais para alimentar o planeta.

Obviamente, todo tipo de monstruosidade resultava dessas experiências. Quem protestava ou sumia, ou era exilado.

Com absoluta habilidade, Atwood conduz o leitor entre o presente do Homem das Neves e a vida de Jimmy, desde a infância até se tornar um trapo humano vestido de lençol.

Acompanhamos Jimmy fazer amizade com um colega de escola, Glenn, que mais tarde veio a se chamar Crake, identidade que costumava assumir nos games on line que os dois meninos jogavam juntos.

E juntos, já adolescentes, os dois conhecem a menina que veio se tornar Oryx, também on line, só que à venda, em um site ilegal de prostitutas menores de idade.

Nas idas e vindas da narrativa, Jimmy, Crake e Oryx acabam, de forma muito infeliz, se tornando um triângulo amoroso.

Contar mais seria estragar a história, mas o fato é que o trio tem tudo a ver com a peste que acaba por eliminar o que restava de  humanidade no planeta, liberando-o para as novas espécies artificiais.

Visão aterradora de um futuro cada vez mais verossímil, Oryx & Crake é obra cheia de questionamentos éticos com a marca da prosa refinada e irônica de Atwood, hoje cultuada graças ao fenômeno The Handmaid’s Tale, livro e série.

Obviamente, Oryx & Crake e suas continuações, O Ano do Dilúvio e Maddadão, já tiveram seus direitos de adaptação para a TV adquiridos pela Paramount Television. Agora é ler o livro e aguardar a estreia.

Crueza e esperança

Conceituadíssimo na Itália, o quadrinista, cartunista e cineasta Gian Alfonso Pacinotti, o Gipi, finalmente chega ao Brasil com sua obra A Terra dos Filhos, uma HQ tão bela quanto cruel sobre a vida de um pai e seus dois filhos em um ambiente pós-apocalíptico inundado (provavelmente pelo degelo polar, mas a HQ não entra nesses detalhes).

O pai tenta ensinar os filhos a sobreviver em um mundo absolutamente hostil, sem demonstrar afeto: algo que, ele crê, poderá enfraquece-los.

Muito visual e com poucos diálogos, A Terra dos Filhos é um show de narrativa sequencial de Gipi, dono de traço muito rico e expressivo.

Apesar da dureza (e crueza) de muitas situações, Gipi consegue concluir sua fábula sobre paternidade com um aceno de esperança, um alívio mínimo em dias tão duros.

Oryx e Crake / Margaret Atwood / Rocco / Tradução: Léa Viveiros de Castro / 352 p. / R$ 39,90

A Terra Dos Filhos / Gipi / Veneta / Tradução: Michele Vartulli / 288 p. / R$ 99,90

terça-feira, outubro 09, 2018

"TUDO TENSO NOS LUGARES, NOS BARES, NAS RUAS"

Tesouro enterrado do rock baiano volta à superfície no inédito Cravo Negro ‘92

Luisão, Marcos, Cau e Artur na foto de Haroldo Abrantes
Um capítulo esquecido do glorioso rock baiano dos anos 1990 acaba de surgir nas plataformas digitais: Cravo negro ‘92, disco nunca lançado pela banda então liderada pelo indefectível Luisão Pereira, hoje mais conhecido pela banda Dois Em Um e pela passagem pela banda Penélope.

Luisão, para quem não sabe, formou a Cravo Negro ainda nos anos 1980 e com ela gravou dois discos.

Apenas um foi lançado (em LP de vinil, hoje raro). Este outro, gravado em 1992 e até outro dia engavetado, é o segundo.

Para os fã do rock local, há diversas razões para ouvir o disco com atenção.

Na época, a formação contava com Luisão na guitarra, Marcos Moraes (bateria), Cau Barreto (baixo) e Artur Ribeiro (vocais).

Artur, hoje aos 60 anos e na Theatro de Seraphin, é uma lenda viva do rock baiano e um de nossos melhores letristas desde sempre.

À época, ele tinha acabado de sair de outra grande banda da época, a Treblinka, com a qual havia gravado o antológico Indução Hipnótica (1990), uma joia punk funk noise.

"O Cravo Negro começou em 1987, daí fomos convidados para participar da coletânea Conexão Bahia (com as bandas de rock da Bahia da época). Depois participamos da coletânea Rock 96, que foi um disco de uma rádio rock daqui de Salvador que tocava bandas locais. Na sequência, começamos a pensar no primeiro LP. Fizemos uma especie de crowdfunding analógico, com cupons de vale-disco e show de lançamento de recompensa, e deu certo. Em 1990 lançamos o primeiro disco. A formação até então era Carlinhos (voz e guitarra), Cau Barreto (baixo), eu (guitarra e voz) e Marcelo Brasil (bateria)", relata Luisão.

“Em 1990 lançamos (a Cravo Negro) o primeiro disco. Mas não fiquei feliz com o resultado. Eu era fã do Treblinka, banda que Artur cantava e compunha. Eu já tinha feito umas três músicas em parceria com ele e ate toquei guitarra em uma faixa do Indução. Ficamos amigos e um dia ele chegou lá em casa e contou que o pessoal tinha posto ele pra fora da banda. Não pensei duas vezes e o convidei pro Cravo Negro”, relata.

Na época, a entrada de Artur na Cravo consolidou a transição da banda dos anos 1980 para os 90, com uma virada no som.

“Sim, foi uma banda que mudou quase tudo, menos o nome. Estávamos influenciados pelo surgimento da Úteros em Fúria (que fez uma de  suas primeiras apresentações na abertura de um show do Cravo) e partimos pra um som mais pesado, visceral, que combinasse com as letras de Artur”, relata Luisão.

“A entrada também de Marcos Moraes na bateria fez uma diferença incrível pra sermos mais coesos enquanto banda”, acrescenta.

Cravo Negro, foto Haroldo Abrantes
O resultado que se ouve nos fones é um híbrido muito interessante da poética melancólica / raivosa 80’s de Artur com um som mais pesado e funkeado, na linha das bandas que surgiam então, como a já citada Úteros em Fúria.

Um exemplo espetacular é a faixa Como Atravessar a Rua e Não Cair na Primeira Esquina, que combina uma levada suingada com uma letra que, infelizmente, soa atual como nunca: “Solto a voz a alma tensa, o corpo dói mas o nervo aguenta / Vou reagir a apatia, meu mundo cai n’outra armadilha / Tudo tenso no lugares, nos bares, nas ruas / Tudo calmo nos lugares, nos apartamentos da cidade / Como saber se há perdão, se vamos poder sair ou não / Do labirinto da solidão que nos abraça em confissão?”.

“Acho que as letras de Artur sempre foram ímpares dentro do rock baiano. ele é um poeta / cronista sensacional”, diz.

Selo Festim, Peu Sousa

Gravado em apenas quatro dias no Estúdio Tapwin, Cravo Negro ‘92 não foi lançado à época por conta de uma prática muito comum naqueles dias: a enrolação das gravadoras.

“Na época havíamos acertado de lançar pela Radical Records, uma gravadora de São Paulo. O pessoal enrolou muito e acabou não saindo. Ficamos com as masters, mas naquele tempo era quase impossível lançar sozinho”, diz.

“Agora em 2018 criei o selo Festim. Lançamos uma caixa com a discografia do sambista Ederaldo Gentil, dois discos de trilha sonora que compus (para os filmes Um Casamento e Negros, ambos de Monica Simões) e temos mais dois lançamento previstos para este semestre. Quando re-escutei o Cravo Negro, tive a certeza que devia lança-lo também”, diz.

"O Tapwin era considerado 'o segundo melhor estúdio da Bahia', mas eu entrei com uma certeza grande que iríamos tirar o melhor som possível pra época, o que acabou acontecendo. Como já fazíamos alguns shows com um cache razoável, conseguimos juntar uma grana e a própria banda acabou pagando o estúdio. Fernando Gundluch (engenheiro de som do disco) abraçou o projeto com a gente também. O que viabilizou também foi que gravamos as bases da banda ao mesmo tempo e finalizamos tudo em quatro dias", lembra.

Outra curiosidade do disco é que ele registra a primeira gravação do saudoso guitarrista Peu Sousa (morto em 2013), com passagens brilhantes pela Dois Sapos & Meio e Pitty, na faixa Na Boca dos Leões.

“Guardei comigo as fitas originais e também os slides com a sessão de fotos da época, feitas por Haroldo Abrantes. Dai estava dando uma entrevista sobre Peu e lembrei que neste disco foi a primeira vez que ele entrou num estúdio de gravação. Me surpreendi com o resultado daquele material gravado ha 26 anos atrás. Chamei Artur pra escutar e resolvemos lançar. Inclusive, ele já estava mixado da época. foi preciso apenas uma masterização para o digital”, detalha.

"Por enquanto não faremos nenhum evento presencial para o lançamento. O disco está disponível nas principais lojas virtuais: Spotify, Deezer, Apple Music, Google Play, Napster, Shazam, Tidal, YouTube Music, dentre outras. Talvez haja uma possibilidade, assim como foi com o primeiro disco, de lançar uma versão em vinil", conclui.

Cravo Negro ‘92 / Cravo Negro / Selo Festim / Disponível no Spotify, Deezer, Apple Music, Google Play, Napster, Shazam, Tidal, YouTube Music

NUETAS

Beatles for Kids

Neste dia das crianças, a banda cover Five Beatles faz matinê especial do espetáculo  The Beatles for Kids, especialmente para a garotada conhecer (e gostar) dos Fab  Four. Sexta-feira, 15 horas, no Portela Café – Rio Vermelho. R 30 (no Sympla) e R$ 40.

Mizeravão Groove

Quem também marca presença no dia 12 é a banda Os Mizeravão, mas essa festa é para os adultos. Além dos Mizera, também se apresenta a banda cover de Mamonas Assassinas Arlindjos Homis. Groove Bar, 22 horas, R$ 20.

Matanza: a saideira

A turnê de despedida da banda carioca Matanza passa por Salvador e Serrinha. Aqui é sábado, 20 horas, no Alto do Andu (Paralela). R$ 62 + 1 quilo de alimento (Sympla).

Domingo de volta


Tradicional reduto alternativo soteropolitano, o Domingo de Cabeça pra Baixo está de volta já neste fim de semana. No palco:  Irmão Carlos, Coquetel Banda Larga e Trincados. Destaque para o anfitrião funk soul brother Carlinhos e a banda Trincados, que reúne novos talentos como Thiago Ronco e Duda Spínola detonando clássicos do rock baiano. Domingo, no  Espaço Cultural Dona Neuza (Marback, setor 2) 16 horas, R$ 10 e R$ 5. Gratidão ao Edital ArteTodo Dia (Fundação Gregório de Mattos).

sábado, outubro 06, 2018

NÓS (LÁ ELES) SOMOS VENOM

Estreia: Vilão do Homem-Aranha, Venom ganha seu próprio filme – sem direito a ter um antagonista à altura para chamar de seu. O resultado é pífio e divertido. Ninguém esperava nada diferente, mesmo 

"Quem é dentuço? Repete se tu for homem"
Um dos maiores homens sábios deste país já dizia há quase um século: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”. A frase, do imortal Barão de Itararé, resume bem a maior estreia cinematográfica da semana: Venom, produção da Marvel via Sony Pictures.

Estrelada pelo ótimo Tom Hardy (Mad Max: Estrada da Fúria), Venom traz como protagonista às telas de cinema não um herói, mas um vilão oriundo das HQs do Homem-Aranha.

E antes que alguém pergunte: não, o Teioso não aparece no filme. Ah, mas por que?

Nossa, é complicado, mas vamos lá.

Nos anos 1990, então à beira da falência, a Marvel vendeu os direitos cinematográficos de alguns de seus personagens para grandes estúdios de Hollywood.

A Fox “comprou” os X-Men e o Quarteto Fantástico. A  Sony comprou o Homem-Aranha. Detalhe crucial: quando um estúdio “compra” um personagem, leva junto todo o seu universo: vilões, aliados etc.

Michelle Williams e Tom Hardy como Annie e Eddie Brock
Sob a batuta da Sony, o Homem-Aranha estrelou cinco filmes entre 2002 e 2014: três estrelados por Tobey Maguire e dois por  Andrew Garfield.

Venom inclusive já havia aparecido em Homem-Aranha 3 (2007), vivido por Topher Grace (o bobão Eric Forman, da série That 70’s Show).

Mais de uma década depois de vender esses personagens, a Marvel, já recuperada, criou seu próprio estúdio e lançou em 2008 seu primeiro filme, Homem de Ferro (2008).

De lá para cá, conquistou o mundo de vez com seu universo narrativo compartilhado, no qual coabitam os Vingadores, os Guardiões da Galáxia etc.

Depois disso, a Sony acabou entrando em acordo com a Marvel Studios e liberou – “emprestou” – o Homem-Aranha para aparecer em filmes como Capitão América: Guerra Civil, Vingadores: Guerra Infinita e até no solo Homem-Aranha: De Volta Para Casa.

Tudo indicava que a Sony tinha largado o osso, mas que nada: vendo o sucesso e o apelo que o Escalador de Paredes ainda tem, logo começou a desenvolver novos produtos em um universo Marvel à parte relacionado ao Aranha.

De onde menos se espera...

"O senhor poderia virar só um pouquinho pra lá? Esse teu bafo é de matar"
E aí finalmente chegamos à Venom.

A ideia do filme é esdrúxula por si só: um vilão sem seu nêmesis – o Homem-Aranha, ainda emprestado à Marvel, que já prepara um segundo filme do personagem.

Daí a frase lá do primeiro parágrafo se aplicar tão bem à situação deste filme: ninguém esperava muito dele mesmo.

Isso quer dizer que é um filme horrível, como muitas críticas já decretaram por aí? Nem tanto, aí depende das expectativas de cada um.

Quem procura uma mera diversão pipoca para passar tempo e dar boas risadas sem pensar muito em furos de roteiro – ou mesmo o quão primário este parece ser – pode cair dentro de Venom sem medo.

É tão “bom”  quanto o último filme da franquia Predador, por exemplo: ação e diversão descerabradas para desopilar o fígado em um fim de semana especialmente tenso.

Roteiro primário

Criado por David Michelinie e Todd MacFarlane ainda nos anos 1980, Venom surgiu nos quadrinhos como uma versão anabolizada, sombria e maléfica do Homem-Aranha.

O personagem é basicamente uma gosma alienígena senciente que na Terra só consegue viver de forma plena quando em simbiose com outro ser vivo: seres humanos, gatos, cachorros etc.

Fez imenso sucesso entre os leitores e ganhou inúmeras versões “hospedeiras” ao longo das décadas.

Agora, no filme de Ruben Fleischer (Zumbilândia), Venom é encarnado pelo seu primeiro e mais clássico hospedeiro das HQs: o jornalista Eddie Brock (Hardy).

Eddie Brock entrevista Carlton Drake (Riz Ahmed)
Vivendo em São Francisco depois de se envolver em um escândalo em Nova York, Brock até que leva uma vida boa na Costa Oeste, trabalhando em um site de notícias no qual ele é a estrela do momento e namorando a bela Annie (Michelle Williams).

Esta é advogada a serviço de  uma megacorporação tecnológica, a Fundação Vida, dirigida com mão de ferro pelo ambicioso Carlton Drake (Riz Ahmed). Este é quem tem em seu poder a tal gosma senciente que vem a ser Venom.

Eventualmente – não vamos estragar (mais) o filme com spoilers – Brock entra em contato com Venom e se torna seu hospedeiro.

Os principais problemas de Venom são dois.

O primeiro é o roteiro: o indigitado é tão primário e cheio de clichês que parece ter sido escrito a partir de um template (modelo) básico ensinado na disciplina inicial de alguma faculdade de cinema.

O segundo problema que realmente incomoda em Venom é que o protagonista simplesmente não tem um vilão à altura. Este, quando aparece, é praticamente nos vinte minutos finais da película – e quase não diz a que veio.

O que se salva, então? Tom Hardy, muito divertido e engraçado – tanto solo, quanto possuído por Venom. E a ação em si, razoavelmente bem orquestrada entre perseguições pelas ladeiras de São Francisco (Bullit, alguém?) e os confrontos super-humanos de praxe.

"Me beija como se não houvesse amanhã!"
Resumo: assista por sua conta e risco, mas não espere nada tão bem feito quanto os filmes mais recentes da Marvel. Ah, aguarde até o final dos créditos: há duas cenas indicando os próximos passos do universo Marvel da Sony.

Venom / Direção: Ruben Fleischer / Com Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Scott Haze e Reid Scott / Em cartaz: Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / 110 minutos / Classificação indicativa 14 anos

sexta-feira, outubro 05, 2018

REDUTO LIBERTÁRIO HISTÓRICO DO ICBA É PALCO PERFEITO PARA IFÁ E LAZZO

Projeto TOCA!, realizado no pátio do Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), traz o encontro imperdível da banda IFÁ com o cantor Lazzo. No repertório, sucessos do segundo e o suingue do IFÁ

IFÁ, foto Fernando Gomes
Uma das melhores novidades da música baiana desta década se encontra com um dos maiores cantores que esta terra já ouviu: é hoje, é imperdível, é a banda IFÁ convida Lazzo no pátio do Instituto Cultural Brasil Alemanha (Corredor da Vitória).

O encontro, que promete ser histórico, acontece na série de shows TOCA!, que já trouxe Jaloo (PA) e Ana Muller (ES) ao mesmo espaço.

Até o fim do ano  estão previstas ainda as atrações Francisco El Hombre (SP, dia 26), Ronei Jorge e Tuyo (PR) dia 23 de novembro, Metá Metá no dia 30 seguinte e um encerramento em 12 de dezembro, atração a ser definida.

Mas hoje a night é de IFÁ e Lazzo, encontro que traz muita felicidade aos membros do octeto, fãs de longa data do cantor: “Já tivemos a experiência de tocar com Lazzo em Salvador anos atrás. Era um sonho pra gente dividir o palco com ele. Recentemente, o Sesc - SP nos convidou pra um espetáculo e convidamos Lazzo e Gabi Guedes. Ali nascia o projeto”, conta o baixista Fabricio Mota.

“Como desdobramento, estamos produzindo com ele uma faixa e recebendo  convites pra mostrar o show em outras cidades”, acrescenta.

Punhos ao alto

No palco, Lazzo e IFÁ tocarão juntos alguns sucessos do primeiro: “O show é um encontro de gerações da música feita na Bahia. Uma honra, um momento de reverência e parceria com um artista que é ao mesmo tempo inspirador e nosso contemporâneo”, afirma.

“Nessa edição, Lazzo figura como convidado cantando algumas músicas de sucesso, em momentos específicos do espetáculo. Os demais ficam por conta do groove do IFÁ”, detalha Fabrício.

Além da música em si, que certamente será celestial, o show de hoje ganha ainda mais significado pelo momento e pelo local em que acontece: às vésperas de uma eleição que poderá ter graves reflexos no futuro do país – e no mesmo ICBA que no anos 1970 era reduto de artistas e pensadores progressistas.

“De imediato topamos embarcar no fortalecimento de um espaço que tem tanta importância como cenário de resistências e lutas anti-ditadura. Não podemos esquecer, por exemplo, que o Movimento Negro teve no ICBA um território de livre expressão e organização do Núcleo de Cultura Afro Brasileiro, essencial na reestruturação do ativismo negro em plena década de 70”, diz Fabrício.

“Pra nós vai ser uma experiência muito forte,  afinal atravessamos um momento angustiante com o ressurgimento de candidaturas fascistas, redução de direitos sociais e novas investidas contra a liberdade de expressão. Estamos do lado de quem ainda tem coragem de lutar pela dignidade, pela cidadania e pela liberdade”, conclui.

TOCA! apresenta: IFÁ convida Lazzo Matumbi / Hoje, 20 horas / Pátio do Goethe-Institut / R$ 40 e R$ 20 / Lote 2: R$ 50 e R$ 25 / Vendas: sympla

*Programação TOCA! 2018.2:*

- 14/09: Jaloo (PA)
- 28/09: Ana Muller (ES)
- 05/10: IFÁ (BA) convida Lazzo Matumbi (BA)
- 26/10: Francisco El Hombre (SP)
- 23/11: Ronei Jorge (BA) e Tuyo (PR)
- 30/11: Metá Metá
- 14/12: encerramento (atração a definir)

ENTREVISTA COMPLETA: IFÁ

Como vai ser o show? É a banda e Lazzo juntos o show inteiro ou Lazzo só faz uma participação em algumas musicas? É grande a satisfação dessa parceria com ele?

Fabricio Mota: O show é um encontro de gerações da música feita na Bahia. Uma honra, um momento de reverência e parceria com um artista que é ao mesmo tempo inspirador e nosso contemporâneo também. É uma das mais belas lições que aprendemos com Lazzo: estamos no mesmo barco! Nessa edição, Lazzo figura como um convidado cantando algumas músicas de sucesso, em momentos específicos do espetáculo. Os demais ficam por conta do groove do IFÁ. É sempre uma satisfação tocar com o mestre Lazzo Matumbi. Um dos maiores cantores do Brasil, Uma página rica de nossa História da música.

Lazzão, foto Djalma Salntos
Como surgiu essa parceria com Lazzo? Ela pode se estender para outros projetos ou fica só nesse show mesmo?

Fabricio Mota: Essa apresentação faz parte de um projeto nosso, o ANCESTRALIDADES. A ideia é convidar ícones da música negra, pessoas cuja trajetória influenciou nosso trabalho, nossa formação. Já tivemos a experiência de tocar com Lazzo em Salvador anos atrás. Era um sonho pra gente dividir o palco com ele. Recentemente, o SESC SP nos convidou pra um espetáculo e convidamos Lazzo e Gabi Guedes. Ali nascia o projeto. Como desdobramento, estamos produzindo com ele uma faixa e recebendo outros convites pra mostrar o show em outras cidades. A ideia é levar esse encontro pra outros espaços, fortalecendo o trabalho construído por ele nesses anos todos.

O primeiro disco da IFÁ saiu em 2015. Já há planos para o segundo disco da banda? Qual a previsão?

Jorge Dubman e Fabricio Mota: Nosso primeiro álbum instrumental é de 2016, o IJEX∆•FUNK•∆FRØBE∆T. Vamos lançar um single nas próximas semanas, chamado "Manifesta" que sairá pelo selo Microgrooves em vinil (compacto 7"). Ele vem puxando outras faixas que vão compor um novo disco autoral a ser lançado no próximo ano, seguramente. Como sempre, deixamos a música definir o ritmo das coisas...

O show é no ICBA, que tem na sua história o fato de ter sido um reduto de liberdade artística e intelectual nos anos mais difíceis da ditadura militar. É simbólico termos essa série de shows neste espaço neste momento?

Fabricio Mota: Sem dúvidas!! Quando recebemos o convite pensamos exatamente nesse significado! De imediato topamos embarcar no fortalecimento de um espaço que tem tanta importância deste como cenário de resistências e lutas anti-ditadura. Não podemos esquecer, por exemplo, que o Movimento Negro teve no ICBA um território de livre expressão e organização do Núcleo de Cultura Afro Brasileiro, essencial na reestruturação do ativismo negro em plena década de 70, até a criação embrionária do que seriam as comemorações ao redor da data histórica do 20 de novembro.  Pra nós vai ser uma experiência muito forte, sem dúvidas, afinal atravessamos um momento muito angustiante com o ressurgimento de candidaturas fascistas, com a redução de direitos sociais, com novas investidas contra a liberdade de expressão. Por outro lado, estamos do lado de quem ainda tem coragem de lutar pela dignidade, pela cidadania e pela liberdade! Esse show, seguramente vai ser marcante pra todo mundo!

Como está o movimento da IFÁ? Tem feito shows pela Bahia e fora dela?

Jorge Dubman e Fabricio Mota: A IFÁ está sempre em movimento. Desde o final de 2017, estamos tocando em alguns circuitos fora de salvador, a exemplo dos festivais em Brasília e Rio de Janeiro (Circo Voador), Recife (Porto Musical e Rec Beat), em São Paulo no consagrado palco do Instrumental Sesc Brasil e Sesc Pinheiros com a participação de Lazzo e Gabi Guedes. Nessas idas e vindas, aqui em salvador produzimos o "IFÁ & Negra Força Feminina" que nessa edição contou com as participações da Luedji Luna e a Tássia Reis (SP), e o baile Manifesta. Mas, buscamos concentrar nossas energias aqui no estado por uma questão de viabilidade mesmo. Sentimos, como artistas, o peso que a crise provocada no cenário político brasileiro nos trouxe nos últimos anos, e como os cortes nas áreas da cultura afetam as possibilidades de interação e integração do nosso trabalho no país e fora dele. Por outro lado, seguimos fortalecendo parcerias e fechando propostas que comportem nossa big band em alguns festivais nos próximos meses e no ano que vem. Não ficamos parados! Estamos sempre buscando circular e divulgar a nossa música, um trabalho que tem o seu lugar na cena da música baiana e no  Brasil.

terça-feira, outubro 02, 2018

QUEM NÃO TÁ DOIDO NÃO ESTÁ ENTENDENDO NADA

Professor Doidão & Os Aloprados lança segundo manifesto: A Vida é uma Doideira

Juliana, Isaac, Mateus e Lucas em foto de Marcelo Moraes
Vamos ser francos? A coisa tá tão fora de controle que quem não está à beira da loucura não está entendendo nada.

Mas calma, amiguinhxs! Temos a solução!

Siga nosso sábio guru Isaac Fiterman, o Professor Doidão e sua banda, Os Aloprados.

Psicólogo de formação, aos 56 anos, o Professor distribui lições de vida à la maluco beleza para todos os lados em suas músicas.

Agora, Isaac e seus fieis aprendizes  Juliana Rosa (baixo e backing vocal), Lucas Kelsch (guitarra e backing vocal) e Mateus Gomes (bateria) se preparam para lançar seu segundo trabalho, o EP A Vida é Uma Doideira.

No You Tube já é possível curtir o clipe do primeiro single, Pela Estrada – uma delícia neohippie de riff marcante, muito tchap-tchura e direito até a uma Kombi psicodélica.

Fiel ao espírito estradeiro, esta semana o quarteto está em São Paulo, tocando pelas ruas e em points underground.

“Faremos um evento na Rádio Planet Music em Santo André e gravaremos nosso segundo clipe, com a música Lembranças. O evento de lançamento é no próximo dia 5 (sexta-feira), na Escotilha Casa de Cultura e Artes”, conta Isaac.

O tesão move o mundo

O Professor Doidão em transe, foto Marcelo Moraes
Em A Vida é Uma Doideira, o Professor Doidão & Os Aloprados seguem basicamente a mesma linha hippie rock do primeiro EP, Quero Reunir os Meus Mundos (2014), mas agora com mais... método.

“Em relação ao anterior, é um EP com mais qualidade e melhor elaborado, sem perder de vista o nosso estilo hippie rock. Continua sério e divertido ao mesmo tempo”, afirma.

"Também marca a despedida de nosso mestre Tony Lopes e da nossa doce backing vocal, Eliana Assumpção, que partiram pra novas  empreitadas, respectivamente a Bardos Bardos e o Pão de Mel  da Liliu", acrescenta.

Aos 56 anos, é quase sempre a pessoa de mais idade nos shows que comanda.

“Quando faço shows, olho em volta e vejo que sou o mais experiente – seja na banda, no público ou da equipe do estabelecimento que sedia o evento. Isso me move. O tesão move o mundo e eu continuo querendo gozar, mas não sozinho. Continuo acreditando no fazer arte como fonte da juventude”, diz.

Se essa lição de vida não foi o bastante para você, seguem mais duas: “Os tempos sombrios que vivemos não nos podem intimidar. Precisamos reagir com a arma que temos, que é a arte. Levamos alegria (sem alienação) com letras sérias e impactantes como em Fake e Mundo Cão. Mesmo que o momento fosse feliz, acredito que nós continuaríamos na mesma pegada pra não deixar a peteca cair”, conta.

Fiel ao ideário raulseixista, o Professor Doidão conclui: “’Nunca é tarde quando se tem a noite’, porque ‘sonhar não é loucura, é acreditar no que se procura’”.

Palavras de salvação.

www.facebook.com/professordoidao



NUETAS

Thiago Trad hoje

O ex-Cascadura Thiago Trad faz show de lançamento do seu álbum solo Moscote hoje, na Sala do Coro do TCA. 20 horas, R$ 30 e R$ 15. 

IFÁ com Lazzo sexta

O projeto TOCA! do Instituto Goethe  apresenta IFÁ convida Lazzo Matumbi. Tá bom ou quer mais? Pátio do Goethe-Institut, sexta-feira, 20 horas. R$ 40 e R$ 20.

Eddie com Radio Mundi

O Intercenas Musicais bota  Eddie e RadioMundi no palco do Largo Tereza Batista. Sexta, 20h30. R$ 20 e R$ 10

Ódio e Tiro sábado

Punk rock com Todo Meu Ódio e Tiro Na Rótula: sábado, 19 horas, no Buk Porão,  R$ 5.