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terça-feira, outubro 09, 2018

"TUDO TENSO NOS LUGARES, NOS BARES, NAS RUAS"

Tesouro enterrado do rock baiano volta à superfície no inédito Cravo Negro ‘92

Luisão, Marcos, Cau e Artur na foto de Haroldo Abrantes
Um capítulo esquecido do glorioso rock baiano dos anos 1990 acaba de surgir nas plataformas digitais: Cravo negro ‘92, disco nunca lançado pela banda então liderada pelo indefectível Luisão Pereira, hoje mais conhecido pela banda Dois Em Um e pela passagem pela banda Penélope.

Luisão, para quem não sabe, formou a Cravo Negro ainda nos anos 1980 e com ela gravou dois discos.

Apenas um foi lançado (em LP de vinil, hoje raro). Este outro, gravado em 1992 e até outro dia engavetado, é o segundo.

Para os fã do rock local, há diversas razões para ouvir o disco com atenção.

Na época, a formação contava com Luisão na guitarra, Marcos Moraes (bateria), Cau Barreto (baixo) e Artur Ribeiro (vocais).

Artur, hoje aos 60 anos e na Theatro de Seraphin, é uma lenda viva do rock baiano e um de nossos melhores letristas desde sempre.

À época, ele tinha acabado de sair de outra grande banda da época, a Treblinka, com a qual havia gravado o antológico Indução Hipnótica (1990), uma joia punk funk noise.

"O Cravo Negro começou em 1987, daí fomos convidados para participar da coletânea Conexão Bahia (com as bandas de rock da Bahia da época). Depois participamos da coletânea Rock 96, que foi um disco de uma rádio rock daqui de Salvador que tocava bandas locais. Na sequência, começamos a pensar no primeiro LP. Fizemos uma especie de crowdfunding analógico, com cupons de vale-disco e show de lançamento de recompensa, e deu certo. Em 1990 lançamos o primeiro disco. A formação até então era Carlinhos (voz e guitarra), Cau Barreto (baixo), eu (guitarra e voz) e Marcelo Brasil (bateria)", relata Luisão.

“Em 1990 lançamos (a Cravo Negro) o primeiro disco. Mas não fiquei feliz com o resultado. Eu era fã do Treblinka, banda que Artur cantava e compunha. Eu já tinha feito umas três músicas em parceria com ele e ate toquei guitarra em uma faixa do Indução. Ficamos amigos e um dia ele chegou lá em casa e contou que o pessoal tinha posto ele pra fora da banda. Não pensei duas vezes e o convidei pro Cravo Negro”, relata.

Na época, a entrada de Artur na Cravo consolidou a transição da banda dos anos 1980 para os 90, com uma virada no som.

“Sim, foi uma banda que mudou quase tudo, menos o nome. Estávamos influenciados pelo surgimento da Úteros em Fúria (que fez uma de  suas primeiras apresentações na abertura de um show do Cravo) e partimos pra um som mais pesado, visceral, que combinasse com as letras de Artur”, relata Luisão.

“A entrada também de Marcos Moraes na bateria fez uma diferença incrível pra sermos mais coesos enquanto banda”, acrescenta.

Cravo Negro, foto Haroldo Abrantes
O resultado que se ouve nos fones é um híbrido muito interessante da poética melancólica / raivosa 80’s de Artur com um som mais pesado e funkeado, na linha das bandas que surgiam então, como a já citada Úteros em Fúria.

Um exemplo espetacular é a faixa Como Atravessar a Rua e Não Cair na Primeira Esquina, que combina uma levada suingada com uma letra que, infelizmente, soa atual como nunca: “Solto a voz a alma tensa, o corpo dói mas o nervo aguenta / Vou reagir a apatia, meu mundo cai n’outra armadilha / Tudo tenso no lugares, nos bares, nas ruas / Tudo calmo nos lugares, nos apartamentos da cidade / Como saber se há perdão, se vamos poder sair ou não / Do labirinto da solidão que nos abraça em confissão?”.

“Acho que as letras de Artur sempre foram ímpares dentro do rock baiano. ele é um poeta / cronista sensacional”, diz.

Selo Festim, Peu Sousa

Gravado em apenas quatro dias no Estúdio Tapwin, Cravo Negro ‘92 não foi lançado à época por conta de uma prática muito comum naqueles dias: a enrolação das gravadoras.

“Na época havíamos acertado de lançar pela Radical Records, uma gravadora de São Paulo. O pessoal enrolou muito e acabou não saindo. Ficamos com as masters, mas naquele tempo era quase impossível lançar sozinho”, diz.

“Agora em 2018 criei o selo Festim. Lançamos uma caixa com a discografia do sambista Ederaldo Gentil, dois discos de trilha sonora que compus (para os filmes Um Casamento e Negros, ambos de Monica Simões) e temos mais dois lançamento previstos para este semestre. Quando re-escutei o Cravo Negro, tive a certeza que devia lança-lo também”, diz.

"O Tapwin era considerado 'o segundo melhor estúdio da Bahia', mas eu entrei com uma certeza grande que iríamos tirar o melhor som possível pra época, o que acabou acontecendo. Como já fazíamos alguns shows com um cache razoável, conseguimos juntar uma grana e a própria banda acabou pagando o estúdio. Fernando Gundluch (engenheiro de som do disco) abraçou o projeto com a gente também. O que viabilizou também foi que gravamos as bases da banda ao mesmo tempo e finalizamos tudo em quatro dias", lembra.

Outra curiosidade do disco é que ele registra a primeira gravação do saudoso guitarrista Peu Sousa (morto em 2013), com passagens brilhantes pela Dois Sapos & Meio e Pitty, na faixa Na Boca dos Leões.

“Guardei comigo as fitas originais e também os slides com a sessão de fotos da época, feitas por Haroldo Abrantes. Dai estava dando uma entrevista sobre Peu e lembrei que neste disco foi a primeira vez que ele entrou num estúdio de gravação. Me surpreendi com o resultado daquele material gravado ha 26 anos atrás. Chamei Artur pra escutar e resolvemos lançar. Inclusive, ele já estava mixado da época. foi preciso apenas uma masterização para o digital”, detalha.

"Por enquanto não faremos nenhum evento presencial para o lançamento. O disco está disponível nas principais lojas virtuais: Spotify, Deezer, Apple Music, Google Play, Napster, Shazam, Tidal, YouTube Music, dentre outras. Talvez haja uma possibilidade, assim como foi com o primeiro disco, de lançar uma versão em vinil", conclui.

Cravo Negro ‘92 / Cravo Negro / Selo Festim / Disponível no Spotify, Deezer, Apple Music, Google Play, Napster, Shazam, Tidal, YouTube Music

NUETAS

Beatles for Kids

Neste dia das crianças, a banda cover Five Beatles faz matinê especial do espetáculo  The Beatles for Kids, especialmente para a garotada conhecer (e gostar) dos Fab  Four. Sexta-feira, 15 horas, no Portela Café – Rio Vermelho. R 30 (no Sympla) e R$ 40.

Mizeravão Groove

Quem também marca presença no dia 12 é a banda Os Mizeravão, mas essa festa é para os adultos. Além dos Mizera, também se apresenta a banda cover de Mamonas Assassinas Arlindjos Homis. Groove Bar, 22 horas, R$ 20.

Matanza: a saideira

A turnê de despedida da banda carioca Matanza passa por Salvador e Serrinha. Aqui é sábado, 20 horas, no Alto do Andu (Paralela). R$ 62 + 1 quilo de alimento (Sympla).

Domingo de volta


Tradicional reduto alternativo soteropolitano, o Domingo de Cabeça pra Baixo está de volta já neste fim de semana. No palco:  Irmão Carlos, Coquetel Banda Larga e Trincados. Destaque para o anfitrião funk soul brother Carlinhos e a banda Trincados, que reúne novos talentos como Thiago Ronco e Duda Spínola detonando clássicos do rock baiano. Domingo, no  Espaço Cultural Dona Neuza (Marback, setor 2) 16 horas, R$ 10 e R$ 5. Gratidão ao Edital ArteTodo Dia (Fundação Gregório de Mattos).

3 comentários:

  1. "O fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos. Mais que corrupção, o fascista pratica a maldade."
    .
    Norberto Bobbio (1909-2004). Filósofo, cientista político e jurista italiano. (De Brenda Silveira)

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  2. Detalhe, quem falou isso não foi um "esquerdista":

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Norberto_Bobbio

    mas pra olvaim ele é...aliás, até obama era comuna...aliás, até olavinho era...HUAHuahUAhuaHU...mas pra ele só hitler e mussonilini que diziam que era e continuaram sendo até o fim da vida...

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  3. otalmente desnecessária a chamada da notícia...parece que nick é um coxinha bundão, criticou roger de outra maneira...


    https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2018/10/11/nick-cave-relembra-tempos-de-sp-e-alfineta-roger-waters-em-coletiva.htm

    https://oglobo.globo.com/cultura/musica/minha-musica-nao-pode-resolver-mundo-deixo-para-roger-waters-ironiza-nick-cave-hospedado-no-mesmo-hotel-que-ex-pink-floyd-23151552

    https://oglobo.globo.com/cultura/musica/nick-cave-relembra-morte-do-filho-rebate-mito-sobre-vida-no-brasil-22658958

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