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sábado, outubro 20, 2018

ROGER REPRESENTOU

Apresentação do ex-líder do Pink Floyd em Salvador provou que dá para entreter sem se alienar. De quebra, emocionouo público e a si próprio com show inesquecível e homenagem a Moa do Katendê

Ele, o senhor Rogério Águas. Fotos (péssimas) do blogueiro 
Quem juntou seus caraminguás para pagar o ingresso do show de Roger Waters na Itaipava Arena Fonte Nova na última quarta-feira deve ter voltado para casa satisfeito.

Foi tudo o se esperava: um espetáculo multimídia emocionante, cheio de hits, luz, efeitos, performance e mensagens políticas.

Corrigindo: todos voltaram satisfeitos - menos os eleitores de um dos candidatos à presidência.

Juízo de valor político à parte, o show quase todo foi um grande ato antifascismo, com direito a discurso emocionado e homenagem a Moa do Katendê, mensagens de incentivo à resistência e torpedos ridicularizantes ao principal alvo de Roger: Donald Trump.

Durante a música Pigs (Three Different Ones), o presidente norte-americano foi mostrado no telão de todo jeito: pelado (com um bingulim diminuto, claro), como um bebê chorão e de outras formas até o final com a frase em bom português estourada no telão: "Trump é um porco".

Mas começando do começo: o homem subiu no palco precisamente às 21h10 gerando uma onda de euforia ao abrir o show com uma sequência matadora de clássicos do Pink Floyd: Speak To Me, One of These Days, Time, The Great Gig in The Sky.

Esta última, um lindíssimo (e dolorido) vocalise sem letras tornado lendário pela cantora Clare Torry na gravação original, foi assumido no palco pelo duo indie Lucius, fazendo um frila na banda do seu Roger.

"Seje humano", cabra!
Jess Wolfe e Holly Laessig mandaram bem, mas criaram seu próprio desenho melódico, o que pode ter decepcionado quem esperava ouvir algo igual ao disco.

Depois de uma versão empolgante para outro clássico - Welcome to The Machine - Waters mandou duas do seu album mais recente, Is This The Life We Really Want? (2017): The Last Refugee e Picture That.

Duas observações: a essa altura, Roger já tinha largado o baixo e assumido uma guitarra.

O sorriso enorme no rosto e a empolgação com que se movimentava não deixou dúvidas: esse velhinho (75 anos) tá se divertindo adoidado aqui.

Segunda observação: foi aqui que o tom político começou a dominar o show, com as letras das canções sobre a crise dos refugiados na Europa e as imagens do telão indo na mesma toada.

O baiano, que tava lá para ouvir os hits, não prestou muita atenção e deu uma dispersada, mas não por muito tempo: a próxima foi Wish You Were Here, provavelmente um dos maiores hits em rodas de violão e luaus de todos os tempos.

Eis que, finda a canção, uma dúzia de pessoas vestidas com os macacões laranja de prisioneiros de Abu Ghraib e as cabeças cobertas por capuzes pretos se enfileiram na frente do palco.

A fábrica de Animals com suas chaminés sob as projeções psicodélicas
Another Brick on The Wall levantou o povo, que se animou ainda mais quando, no auge da música (o coro infantil), os prisioneiros arrancaram os capuzes, revelando a meninada do Projeto Axé.

Os macacões laranja caem na sequencia, revelando camisas pretas com a palavra de ordem da turnê: RESIST. O povo delira e berra "ele não" de volta.

Foi tanta emoção, que foi preciso um intervalo de vinte minutos para o show voltar.

Quando volta, o palco já tinha assumido outra configuração, praticamente reproduzindo ao vivo a capa do álbum Animals (1977), com direito as torres de fábrica de verdade se erguendo por detrás do palco, soltando fumacinha e tudo. Na lateral, assomava o porco flutuando sobre tudo.

Dogs levantou a galera novamente, seguida de Pigs e o ataque direto ao senhor Donald. A essa altura o fervor antifascista já tinha tomado a Arena. Houve quem torcesse o nariz, mas fazer o que?

Vamos raciocinar: o que esses senhores esperavam? Que ninguém com estatura moral e alcance mundial os ridicularizasse da forma que merecem?

Waters incomoda tanto justamente porque é um inimigo à altura, que se dispõe a ridicularizar a plutocracia que manda e desmanda no planeta para todo mundo ver e ouvir em uma superprodução. Não é pouca coisa.

O show se aproximou do fim com a música tema da turnê, Us and Them - curiosamente, sem Roger no palco, com Jonathan Wilson, o  guitarrista quase-clone de David Gilmour assumindo os vocais, tarefa que já havia aliás dado conta em outras canções.

Moa no telão
A sequência final contou com a nova Wake Up and Smell The Roses, as maravilhosas Brain Damage e Eclipse. E aí veio a homenagem a Moa do Katendê, que praticamente botou abaixo a Fonte Nova.

Emocionado, Roger fez um discurso sobre igualdade e a importância de votar a favor dos Direitos Humanos. A parte que deu para ouvir, entre os berros de "ele não", claro.

O show ainda reservava mais uma surpresa, uma canção do álbum The Final Cut (1983) que fez sua estreia na turnê em Salvador: Two Suns in The Sunset. Confortably Numb encerrou a maratona pinkfloydiana com um deslumbrante jogo de lasers formando uma pirâmide sobre o público.

Roger, a casa é sua, volte sempre. Você nos representa.

2 comentários:

  1. https://br.noticias.yahoo.com/ministro-da-cultura-rebate-waters-221800868.html

    essa é "boa"...

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  2. Há 3 anos eu "brincava" com Chico Castro sobre Bolsonaro no 2o turno, eu tinha medo de acontecer...errei no Aécio, mas infelizmente acertei no Bolsonaro e muita gente achando que eu tava paranóico:


    http://rockloco.blogspot.com/2015/09/edbrass-radicaliza-experiencia-estetica.html?m=1

    Eu lembro de falar que tava assustado com o tal do Nando Moura ganhando milhoes de seguidores, que guri naquela época já votaria hj com 16, que um milhão de gurizada teclando no "mito" ia dar merda...enganei-me com a gurizada...e me passei com as outras pessoas "adultas" que votaram nele. Ainda dá tempo de um milagre acontecer. Ou um meteorito cair na terra ...ou na cabeça do nazi e do vi e dele .

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