Páginas

segunda-feira, março 06, 2017

O SONHADOR FAZ 100 ANOS

Memória: Nascido em 1917, Will Eisner revolucionou os quadrinhos, angariando respeito a uma forma de arte até então desprezada. Conheça o criador do Spirit

Hoje bem que poderia ser considerado o Dia Mundial das Histórias em Quadrinhos.

É que exatamente hoje, há 100 anos, vinha ao mundo aquele que é talvez o maior quadrinista de todos os tempos: Will Eisner (1917-2005).

Ele é mais lembrado como o criador do cultuado personagem The Spirit em 1940 – o  que já seria o bastante, já que suas HQs são verdadeiras aulas de narrativa sequencial, desenho, arquitetura e urbanismo, entre outras disciplinas.

Mas seu currículo vai muito, muito além da criação do Spirit. Para começo de conversa, Will Eisner foi o homem que, com seu trabalho (e alguma militância) transformou a narrativa sequencial (outro nome para histórias em quadrinhos) em uma forma respeitável de expressão artística.

Life, ilustração de 1980
Não a toa, é seu o nome de uma das principais premiações das HQs, o Eisner Awards, espécie de “Oscar” dos quadrinhos, criado em 1988.

A trajetória de Will Eisner se confunde com a própria história da narrativa sequencial no Ocidente (é que no Japão a história é outra), abrangendo desde o início da indústria de quadrinhos inocentes e patrióticos dos anos 1930 e 40, até sua redescoberta nos anos 1960 / 70, que o trouxe de volta da aposentadoria precoce para um inacreditável e extremamente frutífero segundo tempo em sua carreira, a partir dos anos 1970.

Foi ele que, em 1978, criou o formato  graphic novel (romance gráfico) com a obra-prima Um Contrato Com Deus e Outras Histórias de Cortiço – ainda que a obra trouxesse, na prática, quatro contos.

Seu biógrafo, Michael Schumacher, lembra em Will Eisner: Um Sonhador nos Quadrinhos (Biblioteca Azul, 2013) que há quem defenda que, na verdade, o formato foi criado por Arnold Drake em sua obra It Rhymes With Lust (Rima com Luxúria), de 1950.

Ainda assim, Eisner leva o crédito por ter encarado o desafio, por acreditar que as histórias em quadrinhos poderiam atingir outro patamar artístico – e de ter lutado por isto pelo resto de seus dias criando muitas obras de nível equivalente a Um Contrato, além de escrever livros didáticos que são referência na área.

Da infância ao Brasil

San Diego Comic Con foto Patty Mooney / Wikicommons
Nascido William Erwin Eisner, filho de imigrantes judeus (pai austríaco, mãe romena), o criador do Spirit encontrou nos quadrinhos do Popeye e Krazy Kat o refúgio da dura realidade de sua infância em uma vizinhança pobre e hostil no Bronx – o mesmo Bronx que inspiraria muitas de suas HQs.

Na adolescência, o jovem Will se matriculou no curso gratuito de desenho oferecido pelo Metropolitan Museum of Art – e nunca mais parou de desenhar.

Logo começou a trabalhar nos estúdios que forneciam material gráfico (tiras, ilustrações etc) para  jornais, trabalhando ao lado de outras lendas das Hqs, como Jack Kirby (da Marvel), Al Jaffee (Mad), Bob Kane (Batman) e Max Gaines (EC Comics).

Foi com The Spirit que Eisner deu seu pulo do gato. Diferente do então recém-criado Superman (1938), no qual o personagem-título está no centro da narrativa, muitas HQs do Spirit tinham outros personagens – ou mesmo locais – no protagonismo.

Não a toa, estudiosos dizem que Eisner fazia HQs sobre cidades, não sobre pessoas, ainda que suas HQs sejam incrivelmente humanistas.

Entre os anos 1980 e 2000, Eisner esteve algumas vezes no Brasil para convenções de quadrinhos. Deu entrevistas no programa do Jô Soares (fã declarado), fez grafite em muros de São Paulo (hoje seria multado ou até preso) e se disse “brasileiro em outra vida”. Um gentleman.

SUGESTÕES DE LEITURA PARA INICIANTES

Nova York: A A grande cidade


Para Eisner, sua cidade natal era muito mais que um acúmulo de edifícios. A edição da Companhia das Letras reúne a HQ do título, O Edifício, Caderno de tipos urbanos e Pessoas invisíveis

O Nome do Jogo 

Magistral drama familiar que mostra como Eisner era capaz também de levar sua ação a ambientes fechados, em uma narrativa muito próxima ao teatro. Conta a saga de uma família judia e a briga por uma herança

Um Contrato com Deus

Lançada nos EUA em 1978, é considerada o marco zero do formato graphic novel, ainda que haja controvérsias sobre isto. Mas isto é o menos importante. HQ primorosa, é um romance que não cabe em meras palavras

O Edifício

Nesta HQ, Eisner conta as histórias de diversos personagens que vivem no edifício do título (ou em torno dele). Todas muito tristes, mas  extremamente tocantes. Outra obra-prima indispensável do mestre

No Coração da Tempestade 

As memórias do jovem Will Eisner no período da 2ª Guerra trazem como destaque sua denuncia ao anti-semitismo que  também  assolavam os EUA. Mostra seus dias no Exército

The Spirit 

Seu charmoso herói (que não é super, já que não tem poderes além da inteligência e dos punhos) protagonizou algumas da HQs mais magistralmente narradas e desenhadas de todos os tempos. Leia qualquer uma

4 comentários:

  1. Ótimo texto:

    2017 e a gente precisa deixar uma coisa bem clara aqui:
    NÃO
    EXISTE
    COMUNISMO
    EM
    NENHUM
    LUGAR
    DO
    MUNDO
    HOJE.

    https://www.facebook.com/nadanovonofront/posts/629168113944634

    ResponderExcluir
  2. A discussão tá boa lá no vizinho!

    http://www.elcabong.com.br/a-midia-baiana-e-a-invisibilidade-da-baianasystem/

    ResponderExcluir
  3. Regis T. detonou o show do meu guitarrista de cabeceira Ace Frehley em SP.

    https://br.noticias.yahoo.com/show-de-ace-frehley-mostra-porque-paul-stanley-e-gene-simmons-nao-o-querem-de-volta-ao-kiss-162425406.html

    Pelos vídeos postados, parece que foi meio derrubadinho mess... Nhé.

    ResponderExcluir
  4. mestre dos mestres Will, nem preciso comentar, pra não estragar...me pergunto se Ernesto gosta do Will...

    Se a baiana system é invisível...imagine eu...

    ResponderExcluir

Tá loco aí? Então comenta!