Francis e companheira de trabalho. Foto Luiz Carlos Murauskas / Folha Press |
Organizado por Nelson de Sá, que também assina o texto de apresentação, o volume é subintitulado Jornalismo, política e cultura nos textos do maior polemista da imprensa brasileira.
Talvez soe pomposo para os mais jovens, que ou eram crianças quando de sua morte – ou mesmo nasceram depois dela.
Mas o fato é que se trata de uma verdade – a parte do polemista.
Vale lembrar que nós, baianos, temos nossas razões para não gostar dele, que costumava implicar com Caetano Veloso e – com a turma d’O Pasquim – chamava os artistas de Salvador residentes no Rio de Janeiro de “baihunos”.
Como esse negócio de tomar as dores dos outros anda meio fora de moda, passe-se ao que interessa: a leitura das crônicas de A segunda mais antiga profissão do mundo esfrega na fuça do leitor uma triste, triste realidade.
Em seus textos, o que Francis demonstra hoje, na verdade, não é mais o quanto ele era erudito ou bem informado – isso é meio óbvio.
O subtexto é a evidência nua e crua de o quanto o debate sócio-político-cultural no Brasil se empobreceu, vitimado pelo partidarismo escancarado na grande imprensa sudestina.
Por que Francis, como muitos de sua geração, foi comunista (trotskista) na juventude – e pós-ditadura, de direita.
Até aí, nada demais.
Mas, para ele, se postar à direita no espectro político não era mera obediência ao ódio de classe (ou gênero ou etnia ou orientação sexual), como tristemente temos visto nos últimos anos no Brasil – alimentada e incentivada pela própria grande imprensa, além de certas lideranças políticas e (cof cof) "religiosas".
Era uma decisão refletida, tomada depois de muita leitura e vivência.
Foi uma decisão certa? Errada? Isso não interessa mais. Ele teve as razões dele e isso lhe bastou.
O que impressiona em Francis é que, mesmo se colocando claramente à direita no debate político, ele tinha a maturidade (e até a generosidade) para enxergar tantos os prós quanto os contras de ambos os lados.
O capitalista brasileiro
Pode-se abrir este livro em qualquer página e sair lendo que, certamente, algum petardo contra a direita ou (claro) a esquerda é disparado, em iguais proporções.
Em A América, este país maravilhoso (crônica de 27 de janeiro de 1983), ele desmonta a vaca sagrada dos capitalistas ferrenhos: “Os EUA nunca funcionaram. Hoje sei disso. Se você quer conhecer o verdadeiro país onde estou, não pode ser via (revista) Time ou (jornal) New York Times, pilares da ficção. Leia H.L. Mencken (jornalista). Leia o Edmund Wilson de Patriotic Gore. (...) O americano silencioso de Hemingway a Gary Cooper é silencioso por que se abrir a boca sai besteira. Se se articular, cai de quatro”, escreve.
Já em Flávio, Geisel, o lucro, crônica de 1983, ele dá um pisão na unha encravada do capitalismo à brasileira: “Admito que o capitalista brasileiro é, antes de tudo, um fraco. (...) Só gosta de coisas certas, em geral não quer correr riscos e recorre tanto ao dinheiro do povo quanto às estatais”.
Mas nem só de disparos políticos se faz A segunda mais antiga profissão.
Há textos divertidíssimos, tom mais confessional, sobre a própria trajetória, prisões na ditadura, a convivência com Samuel Wainer e Carlos Lacerda, resenhas detonando filmes hoje considerados clássicos, como O Franco Atirador e Rede de Intrigas, considerações sobre a prática do jornalismo, a vida em Nova York e muito mais.
Uma leitura e tanto.
A segunda mais antiga profissão do mundo: Jornalismo, política e cultura nos textos do maior polemista da imprensa brasileira / Paulo Francis / Três Estrelas / Nelson de Sá (Org.) / 408 p. / R$ 74,90
George Orwell também falava "na rádia"... |
Sobre o escritor George Orwell
“As hordas pensam que Orwell atacou apenas a URSS (no livro 1984). No entanto, Crick (biógrafo) afirma e documenta que Orwell sempre foi socialista, e socialista radical”
Da crônica O exemplo de Orwell, um individualista (16.1.1981)
Sobre o filme O Franco Atirador (1978)
“O maior embuste do filme, que mereceria o canhão intelectual da esquerda, não é o político. (...) É a sugestão de que os americanos sofreram trauma submetidos à violência dos amarelos”
Extraído da crônica Ridículo Fascistoide (8.4.1979)
ernesto me enviou um email desdizendo tudo isso sobre paulo francis...gostaria de que ele postasse aqui...seria um debate interessante...ehehhehehe...milagre ernesto não gostar do paulo...acho bem a cara dele...
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