Rock: Entre shows gratuitos e esquentes para festival, Rogério "Big Bross" Brito segue movimentando a cena local
Produtor-ícone da cena roqueira baiana, Rogério Big Bross Brito parece carregar nas costas o que restou do movimento.
Só isso explica a agenda cheia de shows que ele apresenta até pelo menos outubro, quando realiza mais uma edição do seu festival anual, o Big Bands. Detalhe: sem qualquer apoio – público ou privado.
Melhor dizendo: há apoio, sim – mas dos interessados: bandas, casas de show, coletivos, selos independentes e frequentadores. “Tô me ocupando disso, né?”, diz Big.
“Aproveitando o suporte do Dubliner’s (Irish Pub) e ocupando outros espaços, como o Taverna (Music Bar)”, conta.
No primeiro, Big comemora um ano do projeto gratuito Quanto Vale o Show?, que botou todas as terças-feiras, mais de 100 bandas para se apresentar – com as agendas de julho e agosto fechadas.
Já no Taverna ele abre uma série de shows Warm-Up (esquente) do Big Bands, com duas bandas baianas todas as quintas-feiras de julho.
É o Noites Big Bross - Brechó, associação do seu selo ao Brechó, da banda Pastel de Miolos.
“As dez bandas do Noites BB-Brechó são de uma variedade incrível. São duas bandas por noite, uma não tem nada a ver com a outra. O primeiro dia, por exemplo: Theatro de Seraphin e Squadro não tem nada a ver uma coma outra. E é assim todos os dias. Quem ainda não vi ao vivo é a Calafrio, que saiu com um CD bala. Cartel Strip Club pra mim é uma banda de futuro: são organizados e correm atrás. Eles tem uma pegada folk psicodélica que tá bem em voga, acho incrível como essas bandas novas tem buscado o prog, o folk. Vejo moleque novo com discos do King Crimson debaixo do braço. A (banda) Kazenin Mafia, por exemplo, é prog total, moleques na faixa etária dos 19, 20 anos curtindo pegada prog. O lance é esse, muita gente com liberdade de fazer o que quiser e quem monta banda hoje em dia faz exatamente o que quer. Isso é muito legal. Ainda ficou muita bandas de fora, por que não tinha mais espaço para outras, aí vou inventando mais Warm-up pra botar pra tocar. E como tento estimular que as bandas se comuniquem, todos os membros de todas as bandas são convidados a assistir gratuitamente aos shows em todos os dias do Noites BB-Brechó. Elas é que tem que se movimentar, na verdade”, afirma.
“Não faço nem crowdfunding. Quem quiser contribuir pode comprar um poster numerado em papel especial (de uma série de 30) ou uma camisa. A renda vai para custear hospedagem e coisas mínimas para as bandas”, conta Big.
“Não quero vaquinha. Vou vender esse produtos e pronto. Quem quiser reserva pelo Facebook. É tudo sem apoio, do tamanho que a perna alcança. Até prefiro assim”, afirma.
Non-stop, hoje ele encerra a temporada de junho do Quanto Vale o Show?, com as bandas Pã e Rivermann, para começar o Noites Big Bross - Brechó já na quinta, com Theatro de Seraphin e Squadro.
Na outra terça-feira (dia 7), Dimazz e Eleotério Brás abrem temporada de julho do Quanto Vale... e assim por diante.
Em agosto, ele traz de volta os paulistas do experiente quarteto indie Wry, que já fez grandes shows por aqui e do outro lado do Atlântico.
Já em setembro ele gira por quatro cidades com o mestre gaúcho do punk brega, o veterano Wander Wildner.
"Será uma mini tour com Wander pela região metropolitana: Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas e Camaçari. Em cada cidade ele toca com uma banda local de abertura. A banda que acompanha ele aqui é formada pelos irmãos Rogério (baixo, Les Royales) e Rodrigo Gagliano. Primeiro ele faz um segmento acústico e depois os caras se juntam a ele formando um power trio", detalha.
E em outubro, finalmente, o festival Big Bands de fato, que por enquanto só tem uma banda confirmada, o duo paulista Test.
Movimentar, circular
“Tudo isso é a necessidade de movimentar as bandas que lançamos pelo Big Bross-Brechó. Só ano passado saíram 14 discos. Esse ano já foram seis: Nalini Vasconcelos, Novelta, Calafrio, Elefantes Elegantes etc”, enumera.
“Tem que movimentar esse povo. Não adianta botar os discos na rua e não circular. E na medida do possível, sempre incluo bandas do interior com as locais”, acrescenta.
Enquanto há quem ache que a cena de agora é inferior (ou mesmo menor) à de 15, 20 ou 30 anos, Big acredita no contrário: “Hoje, ao contrário dos anos 90, quando só tínhamos um ou dois shows por fim de semana, hoje você vai ao Rio Vermelho e pode escolher aonde vai. O público não diminuiu: ele se dividiu”, observa.
“Quando comecei o Quanto Vale, achei que só banda inexperiente ia tocar. Agora temos Júlio Caldas, Lo Han e até bandas de fora da cidade, da Bahia e até do Brasil, como os finlandeses que tocaram no início do ano”, conclui.
Mais em: www.facebook.com/bigbross.bigs
Agenda Big Bross - Julho a outubro 2015
Hoje: Pã e Rivermann / Dubliner’s Irish Pub / 20 horas, gratuito
2 de julho: Theatro de Seraphin e Squadro / Taverna Music Bar / 21 horas, R$ 10
7 de julho: Dimazz e Eleotério Brás / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
9 de julho: Decliniun (Camaçari) e Van Der Vous / Taverna / 21 horas, R$ 10
14 de julho: Ádamas e RestGate Blues / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
16 de julho: A Flauta Vértebra e Cartel Strip Club / Taverna / 21 horas, R$ 10
21 de julho: Noite Incubadora Sonora / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
23 de julho: Bilic Roll e Calafrio (Feira de Santana) / Taverna / 21 horas, R$ 10
28 de julho: TenTrio e Subaquático / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
30 de julho: Búfalos Vermelhos & Orchestra de Elefantes e Novelta (Feira de Santana) / Taverna Music Bar / 21 horas, R$ 10
1º de agosto: Wry (SP), Mapa e Tsunami / Dubliner’s
4, 11, 18 e 25 de agosto: Quanto Vale o Show?, com Irmão Carlos, Júlio Caldas, Noite Incubadora, Batrákia e Lo Han / Dubliner’s
3, 4, 5 e 6 de Setembro: Wander Wildner (RS) / Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas e Camaçari
Outubro: Festival Big Bands / Confirmada: Test (SP)
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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terça-feira, junho 30, 2015
quinta-feira, junho 25, 2015
EMMANUEL MIRDAD LANÇA 3º LIVRO TERÇA-FEIRA, NA CONFRARIA DO FRANÇA
Emmanuel Mirdad. Foto: Leo Monteiro |
Segundo volume de contos após Abrupta sede, de 2010 (Nostalgia da lama, de 2014, trazia só poemas), O grito do mar na noite traz dez contos, posfácio de Mayrant Gallo e orelhas de Márcio Matos.
O título faz referência a três livros do escritor baiano Hélio Pólvora (1928-2015): O grito da perdiz (1983), Mar de Azov (1986) e Noites Vivas (1972).
A homenagem se estende com trechos pescados dos livros de Pólvora, o qual Mirdad considera como seu mentor, introduzindo cada conto.
“Tive a sorte de o Hélio ler este livro antes de falecer (em 26 de março). Me disse ele que gostou”, afirma Mirdad.
Ele vê o lançamento deste novo livro como etapa vencida para atingir um objetivo: “Com esses contos eu faço uma nova ficção, que é o que eu quero fazer em literatura mesmo: me especializar como autor de ficção. É o primeiro passo para chegar ao meu objetivo de escrever romances”, explica.
Tipos universais em SSa
Segundo volume de uma trilogia de livros de contos, o escritor de 35 anos incompletos diz já ter o terceiro volume pronto: “Chama-se Paisagem da insônia e sai daqui a alguns meses. Aí eu fecho minha relação com contos. Agora parto para escrever romances. Questão de foco, mesmo”.
Mesmo dando adeus à narrativa curta por enquanto, Mirdad cita seus autores favoritos do gênero: “Gosto muito dos contos de Anton Tchekov, Guy de Maupassant, Dino Buzatti. Na Bahia, eu gosto de Hélio Pólvora e Mayrant Gallo”.
Ultra-contemporânea em temáticas e estética, a produção de Mirdad em O grito do mar na noite aborda uma gama bem familiar de personagens urbanos.
Há o putão de academia com tendências homossexuais ocultas (no conto Bonecas), a mulher de meia idade que nunca teve orgasmo (Assexuada), o idoso que é abandonado pela filha em um hospital (Chá de boldo) e até uma narrativa-painel, na qual uma situação leva a outra, refletindo um caos social bem soteropolitano (O banquete).
“São tipos que poderiam estar em qualquer lugar, mas estão aqui em Salvador”, conclui Mirdad.
Lançamento do livro O grito do mar na noite / terça-feira (30), 19 horas / Confraria do França (Rio Vermelho) / Entrada gratuita
O grito do mar na noite / Emmanuel Mirdad / Via Litterarum/ 172 p./ R$ 30/ www.mirdad.com.br
HQ: LAVAGEM, DO PARAIBANO SHIKO, É TERROR PSICOLÓGICO QUE BROTA DO MANGUE
O ambiente do mangue, de terreno movediço e vegetação entrelaçada sugerindo formas sinistras, tem se mostrado bastante fértil para autores de terror brasileiro.
Depois do filme de zumbis Mangue Negro (2008), de Rodrigo Aragão, a HQ Lavagem, do paraibano Shiko, traz outra abordagem para este cenário lamacento.
Curiosamente, a HQ fez o caminho inverso costumeiro: trata-se de uma adaptação do curta-metragem homônimo dirigido pelo próprio Shiko, Menção Honrosa do Júri Jovem no Curta Cinema 2011 - Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro.
De narrativa ágil e essencialmente visual, Lavagem mostra um casal paupérrimo que vive isolado em um barraco no meio do mangue em uma ilha.
Eles mal se comunicam, embrutecidos pela pobreza e pelo ambiente selvagem em torno.
Cada qual, porém, tem seu refúgio: ela, na religião evangélica e nas fugas extra-conjugais durante as idas a igreja. E ele, no chiqueiro onde cria porcos e com os quais costuma conversar.
Uma noite, recebem a visita inesperada de um pastor, cujo característico poder de persuasão sobre mentes menos sólidas levará a um desfecho para lá de sangrento.
Esse fiapo de roteiro é desenvolvido às últimas consequências por Shiko, um quadrinista que vem despontando como talento a ser acompanhado, dada a sua versatilidade narrativa e de traço.
Versatilidade que pode ser verificada em outra obra sua recentemente publicada: a graphic novel Piteco: Ingá, da série Graphic MSP, de Maurício de Souza.
Nela, Shiko pega o clássico personagem cômico da idade da pedra criado por Maurício e o transforma em um herói pré-histórico brasileiro, na melhor tradição de um Tor (do mestre Joe Kubert, 1953) ou Turok: Dinosaur Hunter (personagem da Dell Comics, criado em 1954).
Escrita, desenhada e pintada em aquarela pelo paraibano, Piteco: Ingá, é uma das melhores HQs da inovadora série de graphic novels de temática mais adulta lançada pelo criador da Mônica.
Pena que, ao contrário do Astronauta de Danilo Beyruth e da Turma da Mônica de Vitor e Lu Cafaggi, Piteco ainda não teve uma continuação anunciada por Maurício de Souza.
Lavagem / Shiko / Editora Mino / 72 páginas / R$ 44 / www.facebook.com/editoramino
Depois do filme de zumbis Mangue Negro (2008), de Rodrigo Aragão, a HQ Lavagem, do paraibano Shiko, traz outra abordagem para este cenário lamacento.
Curiosamente, a HQ fez o caminho inverso costumeiro: trata-se de uma adaptação do curta-metragem homônimo dirigido pelo próprio Shiko, Menção Honrosa do Júri Jovem no Curta Cinema 2011 - Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro.
De narrativa ágil e essencialmente visual, Lavagem mostra um casal paupérrimo que vive isolado em um barraco no meio do mangue em uma ilha.
Eles mal se comunicam, embrutecidos pela pobreza e pelo ambiente selvagem em torno.
Cada qual, porém, tem seu refúgio: ela, na religião evangélica e nas fugas extra-conjugais durante as idas a igreja. E ele, no chiqueiro onde cria porcos e com os quais costuma conversar.
Uma noite, recebem a visita inesperada de um pastor, cujo característico poder de persuasão sobre mentes menos sólidas levará a um desfecho para lá de sangrento.
Esse fiapo de roteiro é desenvolvido às últimas consequências por Shiko, um quadrinista que vem despontando como talento a ser acompanhado, dada a sua versatilidade narrativa e de traço.
Versatilidade que pode ser verificada em outra obra sua recentemente publicada: a graphic novel Piteco: Ingá, da série Graphic MSP, de Maurício de Souza.
Nela, Shiko pega o clássico personagem cômico da idade da pedra criado por Maurício e o transforma em um herói pré-histórico brasileiro, na melhor tradição de um Tor (do mestre Joe Kubert, 1953) ou Turok: Dinosaur Hunter (personagem da Dell Comics, criado em 1954).
Escrita, desenhada e pintada em aquarela pelo paraibano, Piteco: Ingá, é uma das melhores HQs da inovadora série de graphic novels de temática mais adulta lançada pelo criador da Mônica.
Pena que, ao contrário do Astronauta de Danilo Beyruth e da Turma da Mônica de Vitor e Lu Cafaggi, Piteco ainda não teve uma continuação anunciada por Maurício de Souza.
Lavagem / Shiko / Editora Mino / 72 páginas / R$ 44 / www.facebook.com/editoramino
terça-feira, junho 23, 2015
RADIATTA É ROCK EM PORTUGUÊS PARA FÃS DO BARÃO E STONES. CONFIRA SEXTA NO RED RIVER
O pessoal da Radiata. Foto: Enzo Battesini |
É o quarteto Radiatta, que vem surgindo meio de mansinho, mas trabalhando direito, tocando para quem os quiser ouvir, sem escolher público: escolas, confraternizações de empresas, batizados e inferninhos, sem distinção.
“Já tocamos juntos há muito tempo, desde os tempos da escola. Sempre fizemos esse som meio Rolling Stones”, conta o vocalista e guitarrista-base Carlos Magno.
O grupo soltou dia desses um álbum com dez faixas autorais, nas quais se destaca o excelente trabalho de Bruno Uzeda (também da Síncope, de heavy metal), guitar hero insuspeito, ainda por ser devidamente apreciado na cena.
“Bruno é um puta guitarrista, e muito versátil: toca jazz, rock, metal”, afirma Magno.
Nesta sexta-feira, a banda se apresenta no Red River Café.
Esperto, o quarteto joga para a torcida, atacando um repertório eminentemente classic rock, com releituras dos já citados Stones e Barão, mais Beatles, Creedence, Elvis etc, com as canções próprias inseridas ali pelo meio, para a galera ir se familiarizando.
Na verdade, a Radiatta, de início, seria só uma banda cover da gangue do Mick Jagger, mas depois, os caras resolveram chutar o balde: “Se Salvador já não suporta a gente tocando rock, vamos fazer logo autoral. Pelo menos, fazemos algo nosso”, raciocina.
Não morreu: ficou seletivo
Material lançado, banda na ativa, Carlos Magno & Cia vão curtindo e tocando por aí – pelo menos, quando não estão trabalhando em seus empregos formais.
“Sou professor no Sartre COC e no Antonio Vieira, no primeiro e segundo anos do ensino médio. Ah, os alunos adoram, dá até um alívio ver que tem uma parte que se salva no rock. Sinal de que não morre tão cedo”, conta.
“Esse papo de que o rock morreu é furado. O rock morreu para quem não procura pelo rock. Pode não tocar nas rádios de Salvador, mas as bandas que eu gosto ainda estão aí. Eu costumo dizer que o rock não morreu: ele só ficou mais seletivo”, diverte-se.
Show Radiatta / Sexta-feira, 22 horas / Red River Café / R$ 30
Acesse: www.facebook.com/Radiatta
NUETAS
Sexta classic rock
Como é feriado, hoje não tem Quanto Vale o Show?. Mas a sexta-feira no Dubliner’s tem Abismo Solar (Black Sabbath cover) e Fountainhead (Rush cover). 23 horas, R$ 20.
União hardcore
O pessoal do coletivo TomanacaraHC, inconformistas incorrigíveis, organiza show (cartaz ao lado) com Motim 13 (Pojuca), Culinária Guerrilha, Ivan Motoserra e Derrube o Muro – mais bate-papo com César Oliveira (BSB Hardcore), intervenções, exposição da revista Nihil e Mini Bazar Cultural. Domingo, no Diqbrada (Av. Dorival Caymmi, em frente as dunas de Itapuã). A partir das 14 horas, pague o quanto puder.
segunda-feira, junho 22, 2015
COMIC SHOP RV LANÇA O TIRAÇO, SEU JORNAL GRATUITO DE HQs
Um jornal (formato berliner, tabloide um pouco maior) só com quadrinhos, tiras e ilustrações e distribuído em escolas e lojas especializadas em HQ.
A ideia original em Salvador partiu da comic shop e galeria RV Cultura & Arte.
Intitulado O Tiraço, o jornalzinho tem 32 páginas em cores, reúne nomes consagrados e novos talentos dos quadrinhos e foi viabilizado pelo edital Arte em Toda Parte - Ano II, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura), com o apoio do Grupo A TARDE, que o rodou em sua gráfica, em tiragem de 30 mil exemplares.
Gratuito, o jornal está sendo distribuído em escolas da rede municipal, além de estar disponível na própria RV para os interessados (Av. Cardeal da Silva, 158, Rio Vermelho).
Da Bahia, O Tiraço traz os experientes Bruno Aziz (A TARDE), Flavio Luiz, Hector Salas e Davi Caramelo, que somam seus talentos aos de Fernando Gonzales, Gustavo Duarte, André Dahmer, Samuel Casal e Cris Peter, entre outros.
”O Tiraço surgiu de uma conversa que tivemos, sobre o que poderíamos fazer de diferente e interessante em HQ. Aí pensamos na coisa do jornal”, conta Larissa Martina, da RV.
Depois de se inscrever no edital, o trio responsável – Larissa, Ilan Iglesias e Isabelle Félix – botou mãos a obra.
“O edital foi um bom caminho, eles estão diversificando e isso é muito bom. Foi um pouco sofrido também, por que tinha trâmites que não eram muito claros. Se não tivéssemos conseguido apoio d’A TARDE não teríamos conseguido rodar o jornal. Mas no fim deu tudo certo. ”, relata.
De escola em escola
Agora, todas as manhãs Larissa bota um pacote no carro e corre as escolas municipais distribuindo O Tiraço.
“As crianças perguntam o que é, pra que serve. Serve para incentivar a leitura. Espero que gostem”.
"Também mandamos para as comic shops de outras cidades e mandamos para os artistas. Tentamos botar em outras cidades para o público ir buscar nas lojas de lá também. Como temos autores de várias cidades, a gente consegue que as pessoas de cada lugar leiam seus autores. No total, são trinta artistas. Daqui tem o Bruno Aziz - que é a única pessoa que ainda publica tirinhas inéditas na imprensa local (Rock Sujo, toda terça-feira, no Caderno 2+ d'A TARDE) - tem o Flávio Luiz e o Hector Salas que são mais das antigas", enumera.
"De outros lugares, foi genial conseguir o Fernando Gonsalez. Ficamos incrivelmente felizes, pois Níquel Náusea é a coisa mais engraçada que tem, né? Logo no primeiro número você ter alguém da estatura dele dando apoio foi lindo", derrama-se.
"E tem uma galera mais nova, como a Bianca Pinheiro que está super bombada com sua HQ Bear. N'O Tiraço ela fez um negócio original em quatro páginas só pra gente. Tem André Dahmer, Samuel Casal, uma galera de primeiro time experiente que participa também", observa.
O Tiraço / vários autores/ RV Cultura & Arte / 32 p./ Distribuição gratuita / www.otiraco.com.br
A arte exclusiva do fantástico Gustavo Duarte (Có, Birds) para O Tiraço |
Intitulado O Tiraço, o jornalzinho tem 32 páginas em cores, reúne nomes consagrados e novos talentos dos quadrinhos e foi viabilizado pelo edital Arte em Toda Parte - Ano II, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura), com o apoio do Grupo A TARDE, que o rodou em sua gráfica, em tiragem de 30 mil exemplares.
Gratuito, o jornal está sendo distribuído em escolas da rede municipal, além de estar disponível na própria RV para os interessados (Av. Cardeal da Silva, 158, Rio Vermelho).
Da Bahia, O Tiraço traz os experientes Bruno Aziz (A TARDE), Flavio Luiz, Hector Salas e Davi Caramelo, que somam seus talentos aos de Fernando Gonzales, Gustavo Duarte, André Dahmer, Samuel Casal e Cris Peter, entre outros.
”O Tiraço surgiu de uma conversa que tivemos, sobre o que poderíamos fazer de diferente e interessante em HQ. Aí pensamos na coisa do jornal”, conta Larissa Martina, da RV.
O humor nonsense de Will Leite |
“O edital foi um bom caminho, eles estão diversificando e isso é muito bom. Foi um pouco sofrido também, por que tinha trâmites que não eram muito claros. Se não tivéssemos conseguido apoio d’A TARDE não teríamos conseguido rodar o jornal. Mas no fim deu tudo certo. ”, relata.
De escola em escola
Agora, todas as manhãs Larissa bota um pacote no carro e corre as escolas municipais distribuindo O Tiraço.
“As crianças perguntam o que é, pra que serve. Serve para incentivar a leitura. Espero que gostem”.
Nosso Bruno Aziz não poderia ficar de fora |
"De outros lugares, foi genial conseguir o Fernando Gonsalez. Ficamos incrivelmente felizes, pois Níquel Náusea é a coisa mais engraçada que tem, né? Logo no primeiro número você ter alguém da estatura dele dando apoio foi lindo", derrama-se.
"E tem uma galera mais nova, como a Bianca Pinheiro que está super bombada com sua HQ Bear. N'O Tiraço ela fez um negócio original em quatro páginas só pra gente. Tem André Dahmer, Samuel Casal, uma galera de primeiro time experiente que participa também", observa.
"Através do edital, o projeto acabou ganhando um viés mais educativo, já que a distribuição em escolas era uma exigência. Mas a ideia é também que mais pessoas conheçam a RV e os artistas que estão n'O Tiraço, como um empurrão, um start para ler quadrinhos", conclui.
O Tiraço / vários autores/ RV Cultura & Arte / 32 p./ Distribuição gratuita / www.otiraco.com.br
sábado, junho 20, 2015
"NA FRENTE DE 50 MIL, RENATO PROVOCAVA AINDA MAIS"
A poucos dias de completar 50 anos, Dado Villa-Lobos passa a vida a limpo em seu livro Memórias de um Legionário.
Escrito a seis mãos – com o auxílio dos historiadores Felipe Demier e Romulo Mattos –, é livro para se ler de um fôlego só, especialmente se o leitor for fã da Legião Urbana ou se, no mínimo, tiver vivido aqueles loucos anos entre as décadas de 1980 e 90.
Por que, mais do que o relato do ex-guitarrista da Legião Urbana, Memórias de um Legionário é o relato de uma geração que arrombou as portas da indústria fonográfica, deu um chega pra lá (momentâneo, claro) na aristocracia estabelecida da MPB e botou casas de show e estádios de cabeça pra baixo com multidões enlouquecidas de jovens.
Testemunho de alguém que estava no olho desse furacão, o livro, na verdade, tem seu maior mérito no fato de ser o relato em primeira pessoa dos bastidores da Legião Urbana, detalhando os encontros que levaram a formação da banda, as primeiras apresentações, a chegada ao eixo Rio - SP, a contratação pela EMI, as gravações de todos os discos, o estouro, as turnês pelo país.
Estão aqui também os detalhes do relacionamento interno da banda, sujeita aos altos e baixos emocionais de Renato Russo e até a alguns ataques de estrelismo do baterista Marcelo Bonfá.
De quebra, a infância e adolescência deste filho de embaixador, que costumava roubar Mobiletes nas ruas de Paris.
ENTREVISTA: DADO VILLA-LOBOS
Qual era sua intenção ao escrever suas memórias?
Dado Villa-Lobos: Era uma questão de juntar os cacos. Estou chegando aos 50 anos (no próximo dia 29) e há toda uma série de questões em relação a Legião. O Renato se foi de forma trágica e repentina, a questão dos herdeiros meio confusa. O livro na verdade foi algo que eu percebi que poderia utilizar no sentido de juntar os cacos, todos os fragmentos numa coisa só, e assim ter uma percepção mais exata do que de fato aconteceu e repercute até hoje. Nesse sentido, internamente, foi uma experiência muito positiva. Gostei do resultado do livro. É um documento com relatos de uma época que estende por 30 anos, com uma contextualização histórica, social, política e cultural.
O livro meio que aclara coisas que na época ficaram meio obscuras, como a saída do (baixista) Negrete e o quebra-quebra no Estádio Mané Garrincha (em 1988). Dar sua versão desses episódios foi outra razão para o livro?
DV-L: Acho que sim, tudo foi meio dentro de uma sincronicidade. Eu estava querendo me distanciar da história toda. Aí o herdeiro (Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo) montou um site que estava transformando a história de uma forma meio stalinista, mexendo com coisas, tirando eu e o Bonfá da jogada e botando outras pessoas. Enfim, o livro vem justamente trazer luz em cima dessa história. O cara que estava ali dentro e hoje está aqui falando para explicar e dizer essa banda era assim, a gente era amigo assim e funcionava assim, nossa dinâmica era essa e esse é meu ponto de vista. Por que todas as histórias já foram ditas, mas por terceiros, como o Arthur Dapieve (no livro Renato Russo: O Trovador Solitário), o Paulo Marchetti (O Diário da Turma 1979-1986: A História do Rock de Brasília) e outros, que são muito bons e foram citados, além do Jornal do Brasil, O Globo, revista Bizz etc.
Imagino que tudo mudou pra vocês depois do quebra-quebra no Mané Garrincha. Nenhuma outra banda antes ou depois causou reações tão extremadas de amor e ódio. Por que você acha que a Legião gerava esse climão?
DV-L: Não tinha como não nos marcar. A gente ficou tão grande que tava tocando em estádio de futebol! E aquele show era na nossa casa. Apesar de morar no Rio há 30 anos, ainda considero Brasília minha casa. Mas esse lance das reações eu credito ao Renato. Era ele o provocador. Em Brasília, a gente tava achando que estava tudo certo, focados em fazer o show da melhor maneira possivel, mas realmente perdemos o controle. Não existem mais artistas como ele. Na frente de 50 mil pessoas, Renato provocava e peitava ainda mais. Digamos que ele jogava gasolina na fogueira. Mas assim era a Legião.
Como está a questão sobre seus direitos e os de Bonfá sobre a Legião?
DV-L: A gente ganhou, depois de dez anos de processo, o direito de poder ‘ser’ a Legião. (Risos) É, é um negocio desses. Sabe aquele show com Wagner Moura, que encarou aquele projeto de uma forma incrível? A gente não tinha a liberação (para poder tocar) até uns cinco minutos antes do programa ir ao ar (na MTV). Ali pra mim chegou, foi a última vez. Talvez possamos, algum dia, com uma produtora grande envolvida, excursionar e tal – mas como celebração, a ideia não é se juntar de novo – com artistas novos no palco. Agora, o menino ainda é dono da marca Legião Urbana. Isso é outra questão. Como ainda mantenho minhas relações com meu passado punk rock, eu não acredito em marca. Eu acredito em música, eu acredito no rock e na atitude. Esse negócio da marca sem o Dado e sem o Bonfá não vale nada. Caguei pra marca.
Como se sentiu quando o livro ficou pronto, esse processo de passar a própria vida a limpo? Mudou algo em você?
DV-L: Sim, claro. O fato de relembrar tudo... Você fica em cima daquilo por tanto tempo. O processo foi esse, né, como se fosse uma autocura, uma terapia. Nesse sentido, foi bem importante. Até relembrei coisas que não lembrava mais, e os caras (Felipe e Romulo) puxavam certos acontecimentos que encadeavam em outros. Foi bem doido. Foram dois anos nesse processo.
Divertido aquele episódio do Bonfá com Raul Seixas no banheiro de um hotel em 1984. O que mais lembra dele?
DV-L: Cara, que louco que o Raul era. E naquela época ele já era aquela figura antológica, né? Ficamos no mesmo hotel no Rio de Janeiro. Via sempre aquele cara pelo corredor, tomado pelo éter (que Raul costumava inalar). Ele exalava éter, mas era um mito, e de certa forma, uma personalidade incrível. Depois que eu vi o documentário do Walter Carvalho (Raul: O Início, o Fim e o Meio, 2012) é que eu fui lembrando dele. Cara, que louco!
Aqueles punks fazendo saudação nazista (durante a música Soldados) no Circo Troca de Segredos, logo no primeiro show da Legião em Salvador te marcou mesmo, né?
DV-L: (Risos) Pois é, era um lugar bem precário e tinha aqueles caras, todos negros, fazendo saudação nazista. Eu pensei ‘gente, que coisa louca, eles não sabem o que estão fazendo’. Isso era uma coisa que rolava no punk. Mas não era pra valer, era mais como uma provocação, uma lembrança para nunca mais acontecer.
Outro show marcante da Legião em Salvador foi o do lançamento de Que País É Esse (1988), na Concha Acústica.
DV-L: Esse show na Concha foi punk também. Choveu e o palco ficou tomado pela água. Começamos a tomar choque e pra completar, Renato se jogou na poça e ficou se debatendo lá. Como sabemos, água e eletricidade não combinam, mas no final deu tudo certo. Lembro que depois ainda fui no show do Caetano Veloso, Gilberto Gil e Egotrip (banda em que tocava Pedro Gil, filho de Gilberto Gil, morto pouco depois em um acidente de carro). O Paul Simon tava lá também.
Você cita a banda baiana Maria Bacana (baixe aqui) como uma de suas preferidas do seu selo, Rock It! O que foi que te chamou a atenção neles na época?
DV-L: Eles eram pré-emocore, né? As canções eram canções mesmo, com melodias, nas letras tinha lua, primavera. Eram canções bem bonitas. Produzi com Tom Capone e o disco ficou ótimo, mas talvez estivesse antes do seu tempo. Aquela vibe, aquele formato ainda não estavam valendo naquela época. Mas era muito legal.
O que achou da liberação das biografias sem autorização pelo STF?
DV-L: Meu livro é mais de memórias, lembranças, histórias. Mas sou um paladino defensor das biografias. Todas que li me enriqueceram muito em termos culturais e históricos, acho fabuloso o trabalho dos biógrafos. Li os livros do Garrincha, o Chega de Saudade, O Anjo Pornográfico (todos de Ruy Castro) o Roberto Carlos em Detalhes... Paulo César Araújo, o Fernando Morais, o Ruy Castro e outros são pessoas que dão suas vidas para escrever esse livros, não tem como ser contra. Acho que a questão é ter um selo de garantia aqui no Brasil. A partir do momento que existe um biógrafo que não cumpre com a verdade, ele não merece atenção. Esse é o grande temor: gente sem caráter se apropriando de histórias alheias.
Você parecia o mais equilibrado da banda, o mais tranquilo. Você atribui isso ao fato de ter descoberto ser diabético ainda criança?
DV-L: A relação com a diabetes provocou em mim um senso de responsabilidade muito cedo, eu era um moleque de 11 anos e tinha que lidar com aquilo. Mas nem tanto. Renato dizia que eu era o presidente do ‘Clube da Criança Junkie’ de Brasília. Eu contrabalançava, mas na Legião eu era com certeza o cara que ficava entre o Bonfá e o Renato. Mas eu sou filho de diplomata, um contemporizador nato. Sempre costurando acordos, sempre era eu que buscava empresário, advogado, vamos abrir empresa, achar o contador. Eu era esse cara, que ergueu o mínimo de estrutura corporativa que a Legião tinha.
Parece que estamos no meio de uma onda neoconservadora, especialmente entre os jovens. Como você vê isso?
DV-L: O Renato mesmo provavelmente ia estar achando um horror. Vivemos um momento tão reacionário com tanto conflito PSDB versus Dilma, essa disputa deu voz a uma legião de imbecis. Mas ao mesmo tempo, vivemos uma época de mais liberdade em ralação ao que se vivia em 82, quando começamos e havia uma ditadura institucionalizada. Agora é democracia, pode falar o que quiser, mas paradoxalmente vivemos um dos momentos mais intrigantes e reacionário que eu já vi. E você vê isso o tempo todo na TV, na rua. Mas eu não quero acreditar que somos assim. As pessoas estão assim. Na música, não se arriscam mais. Música nova é quase proibido. Se o Renato estivesse aqui, ele poderia estar falando algo a esse respeito, com a força que ele tinha.
O que achou dos filmes baseados na Legião, Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo?
DV-L: Com o Somos Tão Jovens eu tinha uma relação pessoal (seu filho, Nicolau Villa-Lobos, faz o papel de Dado). Achei super bem contado. Brasília era aquilo ali: uma cidade grande no interior do pais com 20 anos. E mostra bem como aquilo tudo aconteceu. Mas também ficou meio infanto-juvenil, uma ótica meio Malhação, meio ingênua talvez, mas aquilo tudo aconteceu de fato. Quando eu vi, falei: ‘Brasília, cara! Minha adolescência’. Já no Faroeste, o cara (o diretor René Sampaio) pisou muito na violência, ficou pouco sutil, muito duro, muito pesado. A música é mais clara do que aquilo, claro que tem um duelo, mas era um negócio mais sobre o Brasil rural e um retrato do país. Temos outras facetas que não só a violência.
Além do Estúdio do Dado (programa no canal Bis) , o que você tem feito? Planos para um álbum solo novo?
DV-L: O Estúdio do Dado nós estreamos a segunda temporada. Tem a Zélia Duncan, o Dinho Ouro Preto. Vamos pensar numa terceira temporada. Minha vida gira em torno do meu estúdio, estou lançando o livro, tenho a Banda Pan Americana (com Toni Platão, Dé Palmeira e Charles Gavin), fizemos um disco de clássicos latino-americanos para tentar conectar o brasil com nossos vizinhos. Continuo fazendo shows e trilhas. Fiz agora a trilha do documentário Arquitetura Da Cor, da Beatriz Milhazes, que é incrível. Eu continuo. O estúdio é meu lugar de trabalho. Disco solo novo, ano que vem. Chegando aos 50, depois do livro, eu vou fazer um apanhado, uma colagem com a coisa do livro, as memórias. A ideia é fazer ano que vem, com participação de outras pessoas. Estou começando com o repertório e juntando os parceiros. Ah! No ano passado eu gravei uma versão em português para uma música do Gang of Four (banda pós-punk inglesa, grande influência para a Legião). Gravei e mandei para o Andy Gill (guitarrista, que participou do show com Wagner Moura). Deve sair ainda esse ano.
Memórias de um Legionário /Dado Villa-Lobos, Felipe Demier, Romulo Mattos / Mauad X/ 256 p./ R$ 49,90
Garoto, de passagem por Nova York. Ft: Arquivo pessoal Dado Villa-Lobos |
Por que, mais do que o relato do ex-guitarrista da Legião Urbana, Memórias de um Legionário é o relato de uma geração que arrombou as portas da indústria fonográfica, deu um chega pra lá (momentâneo, claro) na aristocracia estabelecida da MPB e botou casas de show e estádios de cabeça pra baixo com multidões enlouquecidas de jovens.
Testemunho de alguém que estava no olho desse furacão, o livro, na verdade, tem seu maior mérito no fato de ser o relato em primeira pessoa dos bastidores da Legião Urbana, detalhando os encontros que levaram a formação da banda, as primeiras apresentações, a chegada ao eixo Rio - SP, a contratação pela EMI, as gravações de todos os discos, o estouro, as turnês pelo país.
Estão aqui também os detalhes do relacionamento interno da banda, sujeita aos altos e baixos emocionais de Renato Russo e até a alguns ataques de estrelismo do baterista Marcelo Bonfá.
De quebra, a infância e adolescência deste filho de embaixador, que costumava roubar Mobiletes nas ruas de Paris.
ENTREVISTA: DADO VILLA-LOBOS
Qual era sua intenção ao escrever suas memórias?
Dado aos 49. Foto Pablo Koury |
O livro meio que aclara coisas que na época ficaram meio obscuras, como a saída do (baixista) Negrete e o quebra-quebra no Estádio Mané Garrincha (em 1988). Dar sua versão desses episódios foi outra razão para o livro?
DV-L: Acho que sim, tudo foi meio dentro de uma sincronicidade. Eu estava querendo me distanciar da história toda. Aí o herdeiro (Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo) montou um site que estava transformando a história de uma forma meio stalinista, mexendo com coisas, tirando eu e o Bonfá da jogada e botando outras pessoas. Enfim, o livro vem justamente trazer luz em cima dessa história. O cara que estava ali dentro e hoje está aqui falando para explicar e dizer essa banda era assim, a gente era amigo assim e funcionava assim, nossa dinâmica era essa e esse é meu ponto de vista. Por que todas as histórias já foram ditas, mas por terceiros, como o Arthur Dapieve (no livro Renato Russo: O Trovador Solitário), o Paulo Marchetti (O Diário da Turma 1979-1986: A História do Rock de Brasília) e outros, que são muito bons e foram citados, além do Jornal do Brasil, O Globo, revista Bizz etc.
Imagino que tudo mudou pra vocês depois do quebra-quebra no Mané Garrincha. Nenhuma outra banda antes ou depois causou reações tão extremadas de amor e ódio. Por que você acha que a Legião gerava esse climão?
Pichação no muro dos pais de Renato Russo, pós-tumulto. Blog filhosdarevolucao |
Como está a questão sobre seus direitos e os de Bonfá sobre a Legião?
DV-L: A gente ganhou, depois de dez anos de processo, o direito de poder ‘ser’ a Legião. (Risos) É, é um negocio desses. Sabe aquele show com Wagner Moura, que encarou aquele projeto de uma forma incrível? A gente não tinha a liberação (para poder tocar) até uns cinco minutos antes do programa ir ao ar (na MTV). Ali pra mim chegou, foi a última vez. Talvez possamos, algum dia, com uma produtora grande envolvida, excursionar e tal – mas como celebração, a ideia não é se juntar de novo – com artistas novos no palco. Agora, o menino ainda é dono da marca Legião Urbana. Isso é outra questão. Como ainda mantenho minhas relações com meu passado punk rock, eu não acredito em marca. Eu acredito em música, eu acredito no rock e na atitude. Esse negócio da marca sem o Dado e sem o Bonfá não vale nada. Caguei pra marca.
Como se sentiu quando o livro ficou pronto, esse processo de passar a própria vida a limpo? Mudou algo em você?
DV-L: Sim, claro. O fato de relembrar tudo... Você fica em cima daquilo por tanto tempo. O processo foi esse, né, como se fosse uma autocura, uma terapia. Nesse sentido, foi bem importante. Até relembrei coisas que não lembrava mais, e os caras (Felipe e Romulo) puxavam certos acontecimentos que encadeavam em outros. Foi bem doido. Foram dois anos nesse processo.
Divertido aquele episódio do Bonfá com Raul Seixas no banheiro de um hotel em 1984. O que mais lembra dele?
DV-L: Cara, que louco que o Raul era. E naquela época ele já era aquela figura antológica, né? Ficamos no mesmo hotel no Rio de Janeiro. Via sempre aquele cara pelo corredor, tomado pelo éter (que Raul costumava inalar). Ele exalava éter, mas era um mito, e de certa forma, uma personalidade incrível. Depois que eu vi o documentário do Walter Carvalho (Raul: O Início, o Fim e o Meio, 2012) é que eu fui lembrando dele. Cara, que louco!
A Legião em 1985. Foto Ricardo Junqueira |
DV-L: (Risos) Pois é, era um lugar bem precário e tinha aqueles caras, todos negros, fazendo saudação nazista. Eu pensei ‘gente, que coisa louca, eles não sabem o que estão fazendo’. Isso era uma coisa que rolava no punk. Mas não era pra valer, era mais como uma provocação, uma lembrança para nunca mais acontecer.
Outro show marcante da Legião em Salvador foi o do lançamento de Que País É Esse (1988), na Concha Acústica.
DV-L: Esse show na Concha foi punk também. Choveu e o palco ficou tomado pela água. Começamos a tomar choque e pra completar, Renato se jogou na poça e ficou se debatendo lá. Como sabemos, água e eletricidade não combinam, mas no final deu tudo certo. Lembro que depois ainda fui no show do Caetano Veloso, Gilberto Gil e Egotrip (banda em que tocava Pedro Gil, filho de Gilberto Gil, morto pouco depois em um acidente de carro). O Paul Simon tava lá também.
Você cita a banda baiana Maria Bacana (baixe aqui) como uma de suas preferidas do seu selo, Rock It! O que foi que te chamou a atenção neles na época?
DV-L: Eles eram pré-emocore, né? As canções eram canções mesmo, com melodias, nas letras tinha lua, primavera. Eram canções bem bonitas. Produzi com Tom Capone e o disco ficou ótimo, mas talvez estivesse antes do seu tempo. Aquela vibe, aquele formato ainda não estavam valendo naquela época. Mas era muito legal.
O que achou da liberação das biografias sem autorização pelo STF?
DV-L: Meu livro é mais de memórias, lembranças, histórias. Mas sou um paladino defensor das biografias. Todas que li me enriqueceram muito em termos culturais e históricos, acho fabuloso o trabalho dos biógrafos. Li os livros do Garrincha, o Chega de Saudade, O Anjo Pornográfico (todos de Ruy Castro) o Roberto Carlos em Detalhes... Paulo César Araújo, o Fernando Morais, o Ruy Castro e outros são pessoas que dão suas vidas para escrever esse livros, não tem como ser contra. Acho que a questão é ter um selo de garantia aqui no Brasil. A partir do momento que existe um biógrafo que não cumpre com a verdade, ele não merece atenção. Esse é o grande temor: gente sem caráter se apropriando de histórias alheias.
Você parecia o mais equilibrado da banda, o mais tranquilo. Você atribui isso ao fato de ter descoberto ser diabético ainda criança?
1982, tocando Smoke on the Water. Arquivo pessoal Dado Villa-Lobos |
Parece que estamos no meio de uma onda neoconservadora, especialmente entre os jovens. Como você vê isso?
DV-L: O Renato mesmo provavelmente ia estar achando um horror. Vivemos um momento tão reacionário com tanto conflito PSDB versus Dilma, essa disputa deu voz a uma legião de imbecis. Mas ao mesmo tempo, vivemos uma época de mais liberdade em ralação ao que se vivia em 82, quando começamos e havia uma ditadura institucionalizada. Agora é democracia, pode falar o que quiser, mas paradoxalmente vivemos um dos momentos mais intrigantes e reacionário que eu já vi. E você vê isso o tempo todo na TV, na rua. Mas eu não quero acreditar que somos assim. As pessoas estão assim. Na música, não se arriscam mais. Música nova é quase proibido. Se o Renato estivesse aqui, ele poderia estar falando algo a esse respeito, com a força que ele tinha.
O que achou dos filmes baseados na Legião, Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo?
DV-L: Com o Somos Tão Jovens eu tinha uma relação pessoal (seu filho, Nicolau Villa-Lobos, faz o papel de Dado). Achei super bem contado. Brasília era aquilo ali: uma cidade grande no interior do pais com 20 anos. E mostra bem como aquilo tudo aconteceu. Mas também ficou meio infanto-juvenil, uma ótica meio Malhação, meio ingênua talvez, mas aquilo tudo aconteceu de fato. Quando eu vi, falei: ‘Brasília, cara! Minha adolescência’. Já no Faroeste, o cara (o diretor René Sampaio) pisou muito na violência, ficou pouco sutil, muito duro, muito pesado. A música é mais clara do que aquilo, claro que tem um duelo, mas era um negócio mais sobre o Brasil rural e um retrato do país. Temos outras facetas que não só a violência.
Além do Estúdio do Dado (programa no canal Bis) , o que você tem feito? Planos para um álbum solo novo?
DV-L: O Estúdio do Dado nós estreamos a segunda temporada. Tem a Zélia Duncan, o Dinho Ouro Preto. Vamos pensar numa terceira temporada. Minha vida gira em torno do meu estúdio, estou lançando o livro, tenho a Banda Pan Americana (com Toni Platão, Dé Palmeira e Charles Gavin), fizemos um disco de clássicos latino-americanos para tentar conectar o brasil com nossos vizinhos. Continuo fazendo shows e trilhas. Fiz agora a trilha do documentário Arquitetura Da Cor, da Beatriz Milhazes, que é incrível. Eu continuo. O estúdio é meu lugar de trabalho. Disco solo novo, ano que vem. Chegando aos 50, depois do livro, eu vou fazer um apanhado, uma colagem com a coisa do livro, as memórias. A ideia é fazer ano que vem, com participação de outras pessoas. Estou começando com o repertório e juntando os parceiros. Ah! No ano passado eu gravei uma versão em português para uma música do Gang of Four (banda pós-punk inglesa, grande influência para a Legião). Gravei e mandei para o Andy Gill (guitarrista, que participou do show com Wagner Moura). Deve sair ainda esse ano.
Memórias de um Legionário /Dado Villa-Lobos, Felipe Demier, Romulo Mattos / Mauad X/ 256 p./ R$ 49,90
sexta-feira, junho 19, 2015
SÃO TANTAS EMOÇÕES
Estreia: Em Divertida Mente, as emoções de uma menina são os protagonistas de mais um acerto da Pixar, após alguns anos de derrapadas
Comprada pela Disney em 2006, a produtora Pixar consegue, a cada filme, algo muito raro hoje em dia: surpreender.
E com Divertida Mente, em cartaz desde ontem, ela mantém (ou retoma) essa desejável tradição.
Se em sucessos anteriores a Pixar maravilhou o mundo com fábulas modernas cheias de ação, emoção e humor sobre brinquedos vivos (Toy Story), ratinhos chefs (Ratatouille), robôs apaixonados (Wall-E) e velhinhos aventureiros (Up: Altas Aventuras), desta vez o diretor Pete Docter (de Up) foi direto na fonte: as emoções em si são os protagonistas de Divertida Mente.
Tudo se passa na mente de uma garota de 11 anos, Riley, que vive feliz com seus pais no gelado estado de Minnesotta (fronteira com o Canadá).
Um dia, eles se mudam para São Francisco (Califórnia) e Riley começa a mudar também: seus pais não sabem mais o que acontece em sua cabeça.
Mas os espectadores sabem. Representadas graficamente como Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva, suas emoções básicas vivem na mente de Riley e tem de lidar com suas próprias confusões, por que – claro – elas são muito atrapalhadas.
E é numa trapalhada da Tristeza que ela e Alegria caem no subconsciente de Riley e tem de percorrer um longo caminho para voltar a consciência da garotinha.
Em linhas gerais, essa é a trama de Divertida Mente: uma jornada aos confins da mente de uma menina em fase de crescimento, em conflito com suas próprias emoções.
Ou como prefere o freguês mais intelectual, uma bela metáfora para as mudanças da adolescência.
Aplique-se aí a expertise Pixar para animar essa história com o design criativo que fez sua fama, mais muita ação, emoção e humor e o resultado tem sido saudado pela crítica internacional como mais um clássico instantâneo da produtora.
Além de um retorno à boa forma, depois de uma leva recente de filmes considerados mais ou menos medíocres, como Toy Story 3 (2010), Carros 2 (2011), Valente (2012) e Universidade Monstros (2013).
Sem maniqueísmo
Assim como Up ou Ratatouille, Divertida Mente ganha muitos pontos ao conseguir dialogar com crianças e adultos em uma narrativa que pode ser lida em diversos níveis.
Isso por que o filme tanto encanta e diverte os pequenos quanto é capaz de intrigar seus pais com suas representações das emoções e das engrenagens internas da mente de Riley, que são ao mesmo tempo simples (para ser entendida pelas primeiras) e complexas (para intrigar os segundos).
Chama a atenção também a forma delicada e sem maniqueísmo com que a trama se amarra, sem “criminalizar” emoções difíceis porém essenciais, como a tristeza e a raiva, sinalizando a caminhada rumo a maturidade de Riley.
Barbada no próximo Oscar de animação (a menos que os japoneses do estúdio Ghibli venham com outro A Viagem de Chihiro), Divertida Mente é a grande pedida das estreias do fim de semana, independente de sua idade.
Divertida Mente (Inside Out) / Dir.: Pete Docter / Com Amy Poehler, Mindy Kaling, Bill Hader, Phyllis Smith (versão Original) / Com Miá Mello, Dani Calabresa, Katiuscia Canoro, Otaviano Costa e Léo Jaime (versão brasileira) / no Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia e UCI Orient Shopping Paralela / Livre
Raiva, Nojinho, Alegria, Medo e Tristeza, no "painel de controle" de Riley |
E com Divertida Mente, em cartaz desde ontem, ela mantém (ou retoma) essa desejável tradição.
Se em sucessos anteriores a Pixar maravilhou o mundo com fábulas modernas cheias de ação, emoção e humor sobre brinquedos vivos (Toy Story), ratinhos chefs (Ratatouille), robôs apaixonados (Wall-E) e velhinhos aventureiros (Up: Altas Aventuras), desta vez o diretor Pete Docter (de Up) foi direto na fonte: as emoções em si são os protagonistas de Divertida Mente.
Tudo se passa na mente de uma garota de 11 anos, Riley, que vive feliz com seus pais no gelado estado de Minnesotta (fronteira com o Canadá).
Um dia, eles se mudam para São Francisco (Califórnia) e Riley começa a mudar também: seus pais não sabem mais o que acontece em sua cabeça.
Mas os espectadores sabem. Representadas graficamente como Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva, suas emoções básicas vivem na mente de Riley e tem de lidar com suas próprias confusões, por que – claro – elas são muito atrapalhadas.
Acessando lembranças |
Em linhas gerais, essa é a trama de Divertida Mente: uma jornada aos confins da mente de uma menina em fase de crescimento, em conflito com suas próprias emoções.
Ou como prefere o freguês mais intelectual, uma bela metáfora para as mudanças da adolescência.
Aplique-se aí a expertise Pixar para animar essa história com o design criativo que fez sua fama, mais muita ação, emoção e humor e o resultado tem sido saudado pela crítica internacional como mais um clássico instantâneo da produtora.
Além de um retorno à boa forma, depois de uma leva recente de filmes considerados mais ou menos medíocres, como Toy Story 3 (2010), Carros 2 (2011), Valente (2012) e Universidade Monstros (2013).
Riley, a adorável garotinha fã de hóquei no gelo |
Assim como Up ou Ratatouille, Divertida Mente ganha muitos pontos ao conseguir dialogar com crianças e adultos em uma narrativa que pode ser lida em diversos níveis.
Isso por que o filme tanto encanta e diverte os pequenos quanto é capaz de intrigar seus pais com suas representações das emoções e das engrenagens internas da mente de Riley, que são ao mesmo tempo simples (para ser entendida pelas primeiras) e complexas (para intrigar os segundos).
Chama a atenção também a forma delicada e sem maniqueísmo com que a trama se amarra, sem “criminalizar” emoções difíceis porém essenciais, como a tristeza e a raiva, sinalizando a caminhada rumo a maturidade de Riley.
Alegria e Tristeza, perdidas no subconsciente de Riley |
Divertida Mente (Inside Out) / Dir.: Pete Docter / Com Amy Poehler, Mindy Kaling, Bill Hader, Phyllis Smith (versão Original) / Com Miá Mello, Dani Calabresa, Katiuscia Canoro, Otaviano Costa e Léo Jaime (versão brasileira) / no Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia e UCI Orient Shopping Paralela / Livre
quarta-feira, junho 17, 2015
RETRATO SUTIL DO ARTISTA
Pré-estreia Cauby: Começaria Tudo Outra Vez, de Nelson Hoineff, tem sessão única amanhã na Sala de Arte Cine Paseo
Mesmo que não fosse dirigido por Nelson Hoineff, o maior documentarista brasileiro vivo (após a trágica morte de Eduardo Coutinho em 2014), o filme Cauby: Começaria Tudo Outra Vez já valeria uma conferida atenta por qualquer pessoa interessada em cultura brasileira.
Afinal, seu objeto de investigação é ninguém menos que um dos maiores fenômenos populares do país em todos os tempos, o cantor Cauby Peixoto.
Com pré-estreia marcada para hoje em Salvador (só entra em circuito na semana que vem), o documentário tem feito boa carreira nos festivais desde sua premiere no Festival do Rio em 2013, quando foi aplaudido de pé por minutos a fio.
No filme, acompanhamos a câmera de Hoineff quase sempre orbitando a estrela do show em vários momentos íntimos: Cauby no camarim, Cauby no quarto com a secretária escolhendo o terno de lantejoulas da noite, Cauby sendo maquiado, Cauby na coxia, Cauby no palco logo antes do show, aguardando a cortina subir – e até a sala de estar de Cauby, examinada pela lente atenta do diretor.
Sujeito reservado, poder-se-ia até pensar que o cantor se sentiu invadido em algum momento, mas não: “Nunca fui importunado. Nem no camarim, nem na coxia. Fui sempre respeitado. Nada foi feito que não quisesse fazer”, conta Cauby, em breve entrevista por email.
Bom saber disso, por que aqueles que sempre especularam sobre a sexualidade do cantor terão um motivo a mais para assistir ao documentário: nele, Cauby conta que, na infância e adolescência, teve encontros sexuais com outros meninos, em uma declaração inédita.
Por telefone, Nelson Hoineff conta que o trecho, que parece espontâneo na tela, envolveu dias de negociação.
“Ele é complicado quando fala da sexualidade. Aquilo foi um processo que levou mais de uma semana”, revela.
“Ele estava mostrando os ternos que ia usar naquela noite, aí conseguimos um momento. Expulsei Nancy (a secretária) da cena, dei um pontapé na porta e evitei ter outras pessoas por perto. E aí ele falou”, relata Nelson.
Apesar da declaração difícil, Cauby diz ter apreciado o resultado final do filme: “Sim, gostei muito. Se faz jus, os que assistirem e me conhecem irão dizer”, afirma.
“Extrair coisas das pessoas as vezes é um processo penoso, mas bem sucedido se você ganha a confiança de maneira verdadeira, correta. Aí a pessoa fica a vontade. É o que acontece nessa sequência”, conta Nelson.
“Depois ele diz que optou por mulher, mas aquela coisa toda que ele fala – e ele mesmo ri do que falou – isso é totalmente inédito”, diz.
Cauby no rock e nos EUA
Mas nem só de revelações picantes se faz este documentário. Além de depoimentos de Rodrigo Faour, Ricardo Cravo Albim, Maria Bethania, Agnaldo Timóteo, produtores, fãs e pessoas com quem Cauby trabalhou, Hoineff costura muitas cenas de arquivo (algumas delas bem raras) com Cauby fazendo o que sabe fazer melhor: cantar.
Pelo menos duas são bem curiosas e merecem menção: Cauby bem novinho, no filme Minha Sogra é da Polícia (1958), introduzindo o rock no Brasil, com That's Rock, música de Carlos Imperial.
Um ano antes, olha lá o cantor nos Estados Unidos, sob o pseudônimo Ron Coby, cantando I Go, versão para Maracangalha, de Dorival Caymmi, no filme Jamboree (1957), de Roy Lockwood.
Mas talvez o personagem mais interessante do filme – depois de Cauby, claro – seja um jovem de quinze anos, fã do cantor.
Hoineff o acompanha em sebos, no quais caça antigos LPs e finalmente em um show, no qual coloca fã e ídolo frente a frente.
Infelizmente, a cena pareceu não render tanto quanto o diretor esperava e a sensação que fica é de anti-clímax.
Fim da agressão
Documentarista de vasta experiência, Cauby é o quarto documentário de longa-metragem de Nelson Hoineff, depois de O Homem Pode Voar (2006, sobre Santos-Dumont), Alô, Alô, Terezinha! (2008, sobre Chacrinha) e Caro Francis (2009, sobre o jornalista Paulo Francis).
Mas foi na TV que seu nome estourou, ainda nos anos 1980, quando dirigiu a série (ousadíssima para a época) Documento Especial, na extinta TV Manchete.
Biógrafo não-convencional, Hoineff comemorou a liberação das biografias não-autorizadas pelo STF: “Isso é da maior importância e muda a própria história do Brasil completamente, pois retira também dos documentários a necessidade ou de ser chapa branca ou de criar mil instrumentos para fugir a essa chapa branca. O que havia até agora era uma agressão tão grande que as vezes nem nos dávamos conta disso”.
Cauby - Começaria Tudo Outra Vez / Dir.: Nelson Hoineff / Pré-estreia: Amanhã, 21 horas / Sala de Arte Cine Paseo 02 / 12 anos
ENTREVISTA: NELSON HOINEFF
O senhor ficou satisfeito com o resultado final do filme?
NH: Ficou exatamente como eu esperava, muito legal. Agora, na hora de fazer um filme sobre o Cauby, definir 'que recorte vamos fazer' é que é complicado. Ao mesmo tempo, a veia do Documento Especial está sempre presente em mim, então a gente acabou optando por fazer um recorte muito sutil e deixar o cauby ser a estrela do show. Eu acho que, se tenho algum mérito é o de nao querer ser mais do que o Cauby. Selecionei o que queria e deixei . Você pode observar que quase todos os números musicais estão ou na íntegra ou perto disso. Em alguns caso misturamos a mesma música em ocasiões diferentes, entao ficou excelente pra mim. Depois eu tenho a mania de entrar nos cinemas incógnito e sentar ali no meio do povo para assistir o filme. Aí a gente vê a reação da plateia - e a plateia gosta, se emociona. Uma vez me chamaram para falar em um cinema do Rio, aí um cara se levantou e disse que estava vendo o filme pela terceira vez.
No filme Cauby fala de sua sexualidade na infância ou adolescência. É impressão minha ou você conseguiu uma declaração inédita aí?
NH: Sim, é inédita. Em alguma cenas, parece que é facil mas ele é complicado quando fala da sexualidade dele. Aquilo foi um processo que levou mais de uma semana até chegar em um momento que parece uma coisa até pueril. Ele tava mostrando os ternos que ia usar na noite, aá conseguimos um momento de 'deitar na cama' Expulsei Nancy da cena, dei um pontapé na porta e evitei outras pessoas por perto. E aí ele falou. Essa coisa de extrair coisas das pessoas - você é jornalista, já viu isso inúmeras vezes - é um processo penoso, mas sempre bem sucedido se você ganha a confiança mas não de uma maneira falsa, ganha de maneira verdadeira, correta. Aí a pessoa se sente a vontade. É o que acontece nessa sequência. Depois ele diz que 'optou por mulher', mas aquela coisa toda que ele fala - e ele mesmo ri do que falou - isso é completamente inédito. Em geral as pessoas perguntam, mas não é assim, tem todo um processo que pode ser as vezes bem longo - que é como foi nesse caso. E não parece né? Parece que saiu facinho...
Por que o Cauby? O senhor o escolheu ou foi o contrário?
NH: Eu escolhi. Em geral eu faço filmes sobre personagens como o Francis, o Chacrinha, pessoas que eu gosto. Em segundo, são pessoas que tem uma veia transgressora. São formas transgressoras diferentes, mas da mesma natureza. Aí fica mais fácil, primeiro por que é prazeroso e de formas diferentes. O Francis foi meu melhor amigo por vinte anos. O Chacrinha eu nunca conheci. Já o Cauby tá vivo, então houve todo um processo de convencimento para fazer o filme. A primeira coisa é convencer a Nancy. Isso leva um tempo. Uns dois anos.
Como o senhor encontrou aquele personagem do garoto fã?
NH: Ele mandou uma mensagem para mim no Facebook, 'ah, eu sei que vocês estão fazendo o filme, eu tenho quinze anos, sou fã do Cauby' e tal . Aí eu pedi para a produção visitar o rapaz e ver se era verdade mesmo. Chamei o garoto, que mora no subúrbio do Rio, em Olaria e disse: vamos botar o garoto no filme. Aí tudo o que acontece é verdade. Ele diz, 'vai ter um show e eu vou ser o primeiro a comprar ingresso'. Aí criamos a situação para ele ir no show com o ingresso que ele comprou - mas lá dentro eu o apresento ao Cauby. Quando ele vai comprar disco em sebos na Praça Tiradentes ou na Praça XV, é tudo real. Só que, ao invés de fazer o garoto virar para a camera dizer 'meu nome é tal', eu botei o vendedor fazendo essa pergunta pra ele e ele começa a falar. Mas o garoto é real.
O senhor fez Paulo Francis, Chacrinha e Cauby. O senhor vê uma conexão entre esses filmes, eles formam uma trilogia?
NH: Tem o do Santos Dumont também. Mas vejo sim, uma conexão entre eles. São filmes sobre pesoas que gosto, admiro e que, como já disse, tem essa veia trangressora. E a estrutura é parecida, por que não são filmes biográficos, eles tem um recorte, cada um com o seu, mas você não vai saber por eles aonde nasceu, que escola estudou. Mas acho que há mesmo uma relação entre todos esse filmes: todos eles na verdade sao filhotes do Documento Especial
Como o senhor sabe, as biografias não-autorizadas estão liberadas. O que achou dessa história toda? O senhor tem algum projeto que estava emperrado por causa disso e agora vai retomar?
NH: Isso é da maior importância. Escrevi um texto para O Globo dizendo que isso muda a própria história do Brasil completamente, pois retira também dos documentários a necessidade ou de ser chapa branca ou de criar mil instrumentos para fugir a essa chapa branca. O que havia até agora era uma agressão tão grande que as vezes nem nos dávamos conta disso. Era uma agressão abrutal a liberdade de expressão, a democracia e ao direito da sociedade de ser informada. Você só podia falar sobre uma pessoa quando tinha a concordância dela em ser abordada e sobre tudo que se diz sobre ela lá dentro. Era impossível fazer um doc como Citizen Four ou um que ganhou o Oscar em 2010, esqueci o nome agora. O pior é que já existe uma legislação sobre isso, no Brasil é uma legislação por cima da outra. Se alguém faz um doc sobre você e há nisso calúnia, difamação ou injúria, você tem instrumentos legais para buscar seus direitos. Mas ali não: o que havia até ontem, você já era culpado. Você não poderia fazer no Brasil um doc sobre os mensaleirso ou um dos presos na Operação Lava Jato, coisas que sao do maior interesse da sociedade, pessoas que estão roubando bilhões de dólares. Mas para fazer um doc sobre isso precisava ter a autorização deles. Isso é inacreditável, é fora de qualquer parâmetro. Mas por que pode botar na TV (nos telejornais)? Por que a legislação é tão absurda que ela diz que noticiário na TV não tem interesse comercial! (risos) Mas documentário não pode. Você vê o Fantástico: 5 segundos do Fantástico é mais caro do que um documentário inteiro que eu faça, mas legislação dizia que eu, sim, estou em busca de resultados comerciais. Mas o Jornal Nacional, não. Essa decisão do Supremo muda a história do Brasil e permite, embora o centro das atenções seja as biografias, permite que o documentarista possa falar sobre sua sociedade. Agora vamos ver como vai se comportar.
Aquele material todo que o senhor fez para o Documento Especial está disponível em algum lugar? You Tube, DVD etc?
NH: Teve umas três temporadas de reprises no Canal Brasil. Agora estamos fazendo uma pesquisa para poder lançar uma quantidade grande de episódios em DVD. Estamos nos esforçando, por que para isso tem a parte jurídica e técnica, mas há uma chance muito grande que lancemos em DVD e video on demand.
Cauby em cena do documentário. Fotos de Raphael Bocanera |
Afinal, seu objeto de investigação é ninguém menos que um dos maiores fenômenos populares do país em todos os tempos, o cantor Cauby Peixoto.
Com pré-estreia marcada para hoje em Salvador (só entra em circuito na semana que vem), o documentário tem feito boa carreira nos festivais desde sua premiere no Festival do Rio em 2013, quando foi aplaudido de pé por minutos a fio.
No filme, acompanhamos a câmera de Hoineff quase sempre orbitando a estrela do show em vários momentos íntimos: Cauby no camarim, Cauby no quarto com a secretária escolhendo o terno de lantejoulas da noite, Cauby sendo maquiado, Cauby na coxia, Cauby no palco logo antes do show, aguardando a cortina subir – e até a sala de estar de Cauby, examinada pela lente atenta do diretor.
Sujeito reservado, poder-se-ia até pensar que o cantor se sentiu invadido em algum momento, mas não: “Nunca fui importunado. Nem no camarim, nem na coxia. Fui sempre respeitado. Nada foi feito que não quisesse fazer”, conta Cauby, em breve entrevista por email.
Bom saber disso, por que aqueles que sempre especularam sobre a sexualidade do cantor terão um motivo a mais para assistir ao documentário: nele, Cauby conta que, na infância e adolescência, teve encontros sexuais com outros meninos, em uma declaração inédita.
Por telefone, Nelson Hoineff conta que o trecho, que parece espontâneo na tela, envolveu dias de negociação.
“Ele é complicado quando fala da sexualidade. Aquilo foi um processo que levou mais de uma semana”, revela.
“Ele estava mostrando os ternos que ia usar naquela noite, aí conseguimos um momento. Expulsei Nancy (a secretária) da cena, dei um pontapé na porta e evitei ter outras pessoas por perto. E aí ele falou”, relata Nelson.
Apesar da declaração difícil, Cauby diz ter apreciado o resultado final do filme: “Sim, gostei muito. Se faz jus, os que assistirem e me conhecem irão dizer”, afirma.
“Extrair coisas das pessoas as vezes é um processo penoso, mas bem sucedido se você ganha a confiança de maneira verdadeira, correta. Aí a pessoa fica a vontade. É o que acontece nessa sequência”, conta Nelson.
“Depois ele diz que optou por mulher, mas aquela coisa toda que ele fala – e ele mesmo ri do que falou – isso é totalmente inédito”, diz.
Cauby no rock e nos EUA
Dupla de gigantes: Nelson Hoineff e Cauby Peixoto |
Pelo menos duas são bem curiosas e merecem menção: Cauby bem novinho, no filme Minha Sogra é da Polícia (1958), introduzindo o rock no Brasil, com That's Rock, música de Carlos Imperial.
Um ano antes, olha lá o cantor nos Estados Unidos, sob o pseudônimo Ron Coby, cantando I Go, versão para Maracangalha, de Dorival Caymmi, no filme Jamboree (1957), de Roy Lockwood.
Mas talvez o personagem mais interessante do filme – depois de Cauby, claro – seja um jovem de quinze anos, fã do cantor.
Hoineff o acompanha em sebos, no quais caça antigos LPs e finalmente em um show, no qual coloca fã e ídolo frente a frente.
Infelizmente, a cena pareceu não render tanto quanto o diretor esperava e a sensação que fica é de anti-clímax.
Fim da agressão
Documentarista de vasta experiência, Cauby é o quarto documentário de longa-metragem de Nelson Hoineff, depois de O Homem Pode Voar (2006, sobre Santos-Dumont), Alô, Alô, Terezinha! (2008, sobre Chacrinha) e Caro Francis (2009, sobre o jornalista Paulo Francis).
Mas foi na TV que seu nome estourou, ainda nos anos 1980, quando dirigiu a série (ousadíssima para a época) Documento Especial, na extinta TV Manchete.
Biógrafo não-convencional, Hoineff comemorou a liberação das biografias não-autorizadas pelo STF: “Isso é da maior importância e muda a própria história do Brasil completamente, pois retira também dos documentários a necessidade ou de ser chapa branca ou de criar mil instrumentos para fugir a essa chapa branca. O que havia até agora era uma agressão tão grande que as vezes nem nos dávamos conta disso”.
Cauby - Começaria Tudo Outra Vez / Dir.: Nelson Hoineff / Pré-estreia: Amanhã, 21 horas / Sala de Arte Cine Paseo 02 / 12 anos
ENTREVISTA: NELSON HOINEFF
O senhor ficou satisfeito com o resultado final do filme?
Nelson Hoineff |
No filme Cauby fala de sua sexualidade na infância ou adolescência. É impressão minha ou você conseguiu uma declaração inédita aí?
NH: Sim, é inédita. Em alguma cenas, parece que é facil mas ele é complicado quando fala da sexualidade dele. Aquilo foi um processo que levou mais de uma semana até chegar em um momento que parece uma coisa até pueril. Ele tava mostrando os ternos que ia usar na noite, aá conseguimos um momento de 'deitar na cama' Expulsei Nancy da cena, dei um pontapé na porta e evitei outras pessoas por perto. E aí ele falou. Essa coisa de extrair coisas das pessoas - você é jornalista, já viu isso inúmeras vezes - é um processo penoso, mas sempre bem sucedido se você ganha a confiança mas não de uma maneira falsa, ganha de maneira verdadeira, correta. Aí a pessoa se sente a vontade. É o que acontece nessa sequência. Depois ele diz que 'optou por mulher', mas aquela coisa toda que ele fala - e ele mesmo ri do que falou - isso é completamente inédito. Em geral as pessoas perguntam, mas não é assim, tem todo um processo que pode ser as vezes bem longo - que é como foi nesse caso. E não parece né? Parece que saiu facinho...
Por que o Cauby? O senhor o escolheu ou foi o contrário?
NH: Eu escolhi. Em geral eu faço filmes sobre personagens como o Francis, o Chacrinha, pessoas que eu gosto. Em segundo, são pessoas que tem uma veia transgressora. São formas transgressoras diferentes, mas da mesma natureza. Aí fica mais fácil, primeiro por que é prazeroso e de formas diferentes. O Francis foi meu melhor amigo por vinte anos. O Chacrinha eu nunca conheci. Já o Cauby tá vivo, então houve todo um processo de convencimento para fazer o filme. A primeira coisa é convencer a Nancy. Isso leva um tempo. Uns dois anos.
Como o senhor encontrou aquele personagem do garoto fã?
NH: Ele mandou uma mensagem para mim no Facebook, 'ah, eu sei que vocês estão fazendo o filme, eu tenho quinze anos, sou fã do Cauby' e tal . Aí eu pedi para a produção visitar o rapaz e ver se era verdade mesmo. Chamei o garoto, que mora no subúrbio do Rio, em Olaria e disse: vamos botar o garoto no filme. Aí tudo o que acontece é verdade. Ele diz, 'vai ter um show e eu vou ser o primeiro a comprar ingresso'. Aí criamos a situação para ele ir no show com o ingresso que ele comprou - mas lá dentro eu o apresento ao Cauby. Quando ele vai comprar disco em sebos na Praça Tiradentes ou na Praça XV, é tudo real. Só que, ao invés de fazer o garoto virar para a camera dizer 'meu nome é tal', eu botei o vendedor fazendo essa pergunta pra ele e ele começa a falar. Mas o garoto é real.
O senhor fez Paulo Francis, Chacrinha e Cauby. O senhor vê uma conexão entre esses filmes, eles formam uma trilogia?
NH: Tem o do Santos Dumont também. Mas vejo sim, uma conexão entre eles. São filmes sobre pesoas que gosto, admiro e que, como já disse, tem essa veia trangressora. E a estrutura é parecida, por que não são filmes biográficos, eles tem um recorte, cada um com o seu, mas você não vai saber por eles aonde nasceu, que escola estudou. Mas acho que há mesmo uma relação entre todos esse filmes: todos eles na verdade sao filhotes do Documento Especial
Como o senhor sabe, as biografias não-autorizadas estão liberadas. O que achou dessa história toda? O senhor tem algum projeto que estava emperrado por causa disso e agora vai retomar?
NH: Isso é da maior importância. Escrevi um texto para O Globo dizendo que isso muda a própria história do Brasil completamente, pois retira também dos documentários a necessidade ou de ser chapa branca ou de criar mil instrumentos para fugir a essa chapa branca. O que havia até agora era uma agressão tão grande que as vezes nem nos dávamos conta disso. Era uma agressão abrutal a liberdade de expressão, a democracia e ao direito da sociedade de ser informada. Você só podia falar sobre uma pessoa quando tinha a concordância dela em ser abordada e sobre tudo que se diz sobre ela lá dentro. Era impossível fazer um doc como Citizen Four ou um que ganhou o Oscar em 2010, esqueci o nome agora. O pior é que já existe uma legislação sobre isso, no Brasil é uma legislação por cima da outra. Se alguém faz um doc sobre você e há nisso calúnia, difamação ou injúria, você tem instrumentos legais para buscar seus direitos. Mas ali não: o que havia até ontem, você já era culpado. Você não poderia fazer no Brasil um doc sobre os mensaleirso ou um dos presos na Operação Lava Jato, coisas que sao do maior interesse da sociedade, pessoas que estão roubando bilhões de dólares. Mas para fazer um doc sobre isso precisava ter a autorização deles. Isso é inacreditável, é fora de qualquer parâmetro. Mas por que pode botar na TV (nos telejornais)? Por que a legislação é tão absurda que ela diz que noticiário na TV não tem interesse comercial! (risos) Mas documentário não pode. Você vê o Fantástico: 5 segundos do Fantástico é mais caro do que um documentário inteiro que eu faça, mas legislação dizia que eu, sim, estou em busca de resultados comerciais. Mas o Jornal Nacional, não. Essa decisão do Supremo muda a história do Brasil e permite, embora o centro das atenções seja as biografias, permite que o documentarista possa falar sobre sua sociedade. Agora vamos ver como vai se comportar.
Aquele material todo que o senhor fez para o Documento Especial está disponível em algum lugar? You Tube, DVD etc?
NH: Teve umas três temporadas de reprises no Canal Brasil. Agora estamos fazendo uma pesquisa para poder lançar uma quantidade grande de episódios em DVD. Estamos nos esforçando, por que para isso tem a parte jurídica e técnica, mas há uma chance muito grande que lancemos em DVD e video on demand.
terça-feira, junho 16, 2015
ENCONTRO DE BLUESEIROS REÚNE NATA DA CENA LOCAL NO RED RIVER SEXTA-FEIRA
Oyama, Brian e Jerry em maaais um dia de trabalho. Foto Angela Cristina |
Está aí a ótima banda Água Suja, capitaneando há anos o evento semanal gratuito Blues Free Salvador, para não deixar o colunista mentir.
Nesta sexta-feira, o grupo liderado pelo veterano baixista Jerry Marlon (ex-14º Andar, banda importante da cena dos anos 1980) promove a quarta edição de seu outro evento, o Encontro de Blueseiros.
No palco, a Água Suja manda ver seu repertório de standards com vários convidados: a cantora Candice Fiais (que acaba de lançar um belo disco), os guitarristas Lon Bové, Ícaro Britto, Nino Moura, Diego Andrade e Celso Dutra, o gaitista Diego Orrico, o baixista e cantor Keko Pires e Wylsel Júnior (da banda RestGate Blues).
A má notícia é que, pela primeira vez, o Encontro de Blueseiros terá de cobrar ingressos. “É a mesma história de sempre, só que agora mais triste – ou mais blues”, diz Jerry”.
“O Encontro foi um projeto que fizemos por três anos no Pelourinho, em 2008, 2009 e 2010. Depois disso, não conseguimos mais fazer lá. Mas o pessoal sempre perguntava quando ia ter outro”, conta.
Tributo ao Blues Boy
E foi no Red River Café, casa quer hoje ocupa o sítio arqueológico que confirmou a existência do Espaço Bleff no mesmo local nos anos 1980, que o Encontro achou o seu pouso.
Como não poderia deixar de ser, este ano o Encontro prestará tributo a um certo Blues Boy: “Com a morte do BB King, não tivemos alternativa senão prestar a nossa humilde homenagem”, afirma Jerry.
“Agora, o pessoal que conseguimos reunir para se apresentar é a nata da cena de blues que está na ativa. O casal Ícaro Brito e Candice, Diego Andrade e Diego Orrico são nomes mais recentes que estão buscando espaço para trabalhar de forma séria. E ainda tem veteranos como Lon Bové, Nino e Keko. Enfim, é um bom catado de siri”, ri Jerry.
Além de Jerry, a banda Água Suja conta com as feras Oyama Bittencourt (voz e guitarra), Zito Moura (teclados) e Brian Knave (bateria).
Fora isso, Jerry avisa que prepara seu “primeiro e único álbum solo, que deve sair até o fim do ano”.
"Vai ter músicas autorais, algumas instrumentais, duas ou três canções da época do 14º Andar em parceria com Hélio Rocha e João e um clássico de T-Bone Walker, In a Pix. Vai ter várias participações, um apanhado dos meu parceiros: Guimo Migoya, Mauro Tahim, Hélio, Oyama, Brian, Luizinho Assis, Luciano Calazans etc. É um trabalho sem muita pretensão, nem artística nem comercial. É mais um canto do cisne, na verdade. Sabe como é, baixista é foda pra fazer disco solo", ri a figura.
"A propósito, o show começará as 23 horas em ponto. Esperamos a casa lotada e uma noite bonita", conclui Jerry.
Encontro de Blueseiros de Salvador / Com Água Suja, Lon Bové, Candice Fiais, Ícaro Britto, Diego Orrico, Nino Moura, Keko Pires e outros/ Red River café / Sexta-feira, 23 horas / R$ 30 / Reservas: 71 3023-4655 / 9733-2555
NUETAS
Big Bross agitando
Sorry, Vendo147 e Pancreas
O colunista errou na última terça
ao indicar a banda Pancreas no Quanto Vale o Show? da
semana passada – mas era a Vendo 147. Hoje é que a Pancreas. Desculpas às bandas e aos leitores. Dubliner’s
Irish Pub, 20 horas, grátis.
O evento Sexta Elétrica rola no Taverna
Music Bar com Serafim & A Vitrola Muderna e Marconi Lins & Banda.
Sexta-feira, 23 Horas, R$ 10.
Serafim e Marconi
quinta-feira, junho 11, 2015
VOCÊ VIU MAICON CHALRLES?
DESAPARECIDO!!
URGENTE! Maicon Charles está desaparecido desde ontem à noite (09/06/2015) e a última vez que ele foi visto foi na frente do Dubliners Irish Pub – Salvador/BA, com um mixer nas mãos, às 21h. Depois disso ninguém mais tem notícias. O mixer foi encontrado, mas nada de Maicon. O mesmo trajava bermuda, chinelo e uma camiseta azul marinho. Fizeram buscas nas colônias de pescadores das praias do Rio Vermelho e Ondina, e também na orla, na Garibaldi, pelo Rio Vermelho. Por favor, quem tiver notícias ou o viu ontem, depois das 21h, por favor avisem! Vários amigos estão preocupados e se mobilizando para tentar encontra-lo.
Ele não tem hábito de sumir, é responsável, costuma avisar por onde anda e sempre volta pra casa, onde vive com outros amigos na Graça, na rua 8 de dezembro. Praticamente todos os hospitais possíveis já foram contatados, inclusive o IML e também em outras colônias de pescadores até as imediações da Ribeira. Polinter, policias, e nada. Nenhuma notícia.
Telefones para contato: 71 9367 0906 | 71 9999 0303
URGENTE! Maicon Charles está desaparecido desde ontem à noite (09/06/2015) e a última vez que ele foi visto foi na frente do Dubliners Irish Pub – Salvador/BA, com um mixer nas mãos, às 21h. Depois disso ninguém mais tem notícias. O mixer foi encontrado, mas nada de Maicon. O mesmo trajava bermuda, chinelo e uma camiseta azul marinho. Fizeram buscas nas colônias de pescadores das praias do Rio Vermelho e Ondina, e também na orla, na Garibaldi, pelo Rio Vermelho. Por favor, quem tiver notícias ou o viu ontem, depois das 21h, por favor avisem! Vários amigos estão preocupados e se mobilizando para tentar encontra-lo.
Ele não tem hábito de sumir, é responsável, costuma avisar por onde anda e sempre volta pra casa, onde vive com outros amigos na Graça, na rua 8 de dezembro. Praticamente todos os hospitais possíveis já foram contatados, inclusive o IML e também em outras colônias de pescadores até as imediações da Ribeira. Polinter, policias, e nada. Nenhuma notícia.
Telefones para contato: 71 9367 0906 | 71 9999 0303
COM UMA PEQUENA AJUDA DOS AMIGOS
Crowdfunding: As plataformas de financiamento coletivo on line podem ser uma boa opção na crise
No pega pra capar das crises, o setor cultural é sempre o que recebe os primeiros cortes de verbas. Em 2016, o Ministério da Cultura não contará com 22.7% do seu orçamento, “contingenciado” pelo governo federal para sabe-se lá o que.
Apesar de estar na moda, explodir caixas eletrônicos pode ser meio insalubre, então, quem sabe os amigos não ajudam? Para isso, existe, já há algum tempo, as plataformas de crowdfunding na internet.
O termo em inglês pode ser traduzido literalmente para “financiamento coletivo”. São sites nos quais as pessoas podem lançar seus projetos e convidar os amigos e fãs a contribuírem com seu projeto, recebendo lá na frente o produto em si, mais recompensas, dependendo da contribuição.
Pode-se fazer crowdfunding para praticamente qualquer iniciativa, indo da cultura (livros, discos, filmes, espetáculos etc) a causas sociais, empreendedorismo e ONGs.
No Brasil há diversas plataformas: Catarse, Garupa, Embolacha, Kickante, Impulso, Startando e várias outras.
“É importante saber que o financiamento coletivo é um meio de captação de extrema credibilidade em vários locais do mundo, como EUA e Europa, e é o grande responsável por financiar projetos incríveis, de alto calibre”, afirma Tahiana D'Egmont, CEO do Kickante, uma das principais plataformas do Brasil. No ar desde 2013, arrecadou R$ 8 milhões em duas mil campanhas.
Só não chame a prática de vaquinha: “De fato, não tem a ver com vaquinha, tem a ver com uma decisão consciente de aposta em um projeto que vai ocorrer, é dar o poder de decisão sobre produtos, serviços e causas nas mãos de quem é mais interessado: o público final”, reivindica Tahiana.
“Estamos falando de uma ruptura de modelo em que poucos decidem o que todos nós consumimos para um modelo muito mais democrático, é algo muito maior do que a forma que é tratado em geral”, percebe a CEO.
Existem pelo menos dois modelos de financiamento coletivo: o “tudo ou nada” ou o “flexível”. No primeiro, o projeto só recebe se conseguir arrecadar todo o montante pretendido no prazo de 60 dias.
No flexível, o projeto recebe o valor que conseguir arrecadar – menos a comissão da plataforma, de 12% em média.
O Catarse, por exemplo, só atua no “tudo ou nada”. Já o Kickante é “a única no Brasil que trabalha tanto com campanhas tudo ou nada quanto flexíveis”, vende Tahiana.
“90% dos projetos são bem-sucedidos na Kickante, até por termos o modelo Flexível como uma opção. Dentre as campanhas Tudo ou Nada, em torno de 60% atingem a meta”, completa.
Campanhas baianas
Entre artistas baianos, a prática surge como uma grande opção para fugir tanto da burocracia dos editais quanto da monocultura tapada imposta pelo empresariado local.
Entre eles, o mais ambicioso é sem dúvida o longa-metragem em animação Anunnaki, da banda Mensageiros do Vento, uma ópera-rock inspirada nos escritos das tabuletas sumérias. “Estamos com 90 % do áudio pronto. Falta gravar os vocais. A animação está 50% pronta. Vai sair um DVD com o filme e um CD duplo com a trilha”, conta o baixista e roteirista Fábio Shiva.
“Vamos concluir o projeto de qualquer maneira, mas se conseguimos essa verba ficará mais fácil”, garante.
Outras duas bandas baianas de destaque também estão em campanha. Xodó da cena local, a Vivendo do Ócio não está mais na gravadora Deck, por onde lançou dois álbuns e é hoje “100 % independente”, como define o vocalista Jajá.
“Domingo fizemos um show acústico, na Ribeira. Já é uma recompensa para quem contribuiu. As pessoas podem se juntar e comprar um acústico por R$ 1,2 mil”, conta Jajá.
Já a Mercy Killing, pioneira do thrash metal baiano, tenta financiar a prensagem do seu primeiro álbum em LP de vinil. “A gravação está pronta. Resolvemos fazer o financiamento coletivo para ser independente. Os contratos que os selos oferecem simplesmente não vale a pena”, conta o baixista e fundador Leo Barzi.
Claro que nem todos que lançam campanha batem a meta. O Circo Picolino pleiteou R$ 138 mil em sua campanha Somos Todos Guerreiros. Levantou R$ 30 mil.
“Disseram que sonhamos alto demais”, conta o fundador do Picolino, Anselmo Serrat.
“Mas conseguimos um quarto do montante. Foi válido, com ele vamos reformar a parte predial e depois batalhar uma lona nova”, conclui Anselmo.
VOCÊ PODE CONTRIBUIR
Mercy Killing
Uma das primeiras bandas de thrash metal locais, a MK se mudou para Curitiba há alguns anos. Agora luta para lançar o LP de estreia em vinil. Meta de R$ 20 mil. Até o dia 26, no Kickante
Anunnaki
A banda Mensageiros do Vento está na batalha para concluir “a primeira ópera-rock em desenho animado do Brasil”. Meta: R$ 24 mil. Campanha aberta até o dia 18 no Kickante
Vivendo do Ócio
Fora da gravadora Deck, a melhor banda baiana de rock em atividade convoca seus patcharas (hein?) para lançar o novo álbum, Selva Mundo. A meta é de R$ 53 mil. Até o dia 1º (Kickante)
Cássio Sá
Este simpático músico baiano pleiteia R$ 3 mil para lançar seu álbum Folk Ya!, no qual pratica uma bem-humorada vertente de música folk. Contribua até o dia 18, no Kickante
3ª Mostra de Cinema de Urandi
Organizada por Pepe Publio (foto), a mostra na cidade do centro-sul baiano pede R$ 6.8 mil para concluir curta-metragem. Contribua até o dia 26, no Kickante
Estranhos
Produzido pela Araçá Azul Filmes, o longa-metragem Estranhos tenta captar R$ 57 mil para exibir o filme em escolas públicas, ONGs e salas em todo o Brasil. Até o dia 29, no Kickante
Imagem do site http://canleafmart.net/ |
Apesar de estar na moda, explodir caixas eletrônicos pode ser meio insalubre, então, quem sabe os amigos não ajudam? Para isso, existe, já há algum tempo, as plataformas de crowdfunding na internet.
O termo em inglês pode ser traduzido literalmente para “financiamento coletivo”. São sites nos quais as pessoas podem lançar seus projetos e convidar os amigos e fãs a contribuírem com seu projeto, recebendo lá na frente o produto em si, mais recompensas, dependendo da contribuição.
Pode-se fazer crowdfunding para praticamente qualquer iniciativa, indo da cultura (livros, discos, filmes, espetáculos etc) a causas sociais, empreendedorismo e ONGs.
No Brasil há diversas plataformas: Catarse, Garupa, Embolacha, Kickante, Impulso, Startando e várias outras.
“É importante saber que o financiamento coletivo é um meio de captação de extrema credibilidade em vários locais do mundo, como EUA e Europa, e é o grande responsável por financiar projetos incríveis, de alto calibre”, afirma Tahiana D'Egmont, CEO do Kickante, uma das principais plataformas do Brasil. No ar desde 2013, arrecadou R$ 8 milhões em duas mil campanhas.
Só não chame a prática de vaquinha: “De fato, não tem a ver com vaquinha, tem a ver com uma decisão consciente de aposta em um projeto que vai ocorrer, é dar o poder de decisão sobre produtos, serviços e causas nas mãos de quem é mais interessado: o público final”, reivindica Tahiana.
“Estamos falando de uma ruptura de modelo em que poucos decidem o que todos nós consumimos para um modelo muito mais democrático, é algo muito maior do que a forma que é tratado em geral”, percebe a CEO.
Existem pelo menos dois modelos de financiamento coletivo: o “tudo ou nada” ou o “flexível”. No primeiro, o projeto só recebe se conseguir arrecadar todo o montante pretendido no prazo de 60 dias.
No flexível, o projeto recebe o valor que conseguir arrecadar – menos a comissão da plataforma, de 12% em média.
O Catarse, por exemplo, só atua no “tudo ou nada”. Já o Kickante é “a única no Brasil que trabalha tanto com campanhas tudo ou nada quanto flexíveis”, vende Tahiana.
“90% dos projetos são bem-sucedidos na Kickante, até por termos o modelo Flexível como uma opção. Dentre as campanhas Tudo ou Nada, em torno de 60% atingem a meta”, completa.
Campanhas baianas
Imagem de Anunnaki, o musical da banda Mensageiros do Vento |
Entre eles, o mais ambicioso é sem dúvida o longa-metragem em animação Anunnaki, da banda Mensageiros do Vento, uma ópera-rock inspirada nos escritos das tabuletas sumérias. “Estamos com 90 % do áudio pronto. Falta gravar os vocais. A animação está 50% pronta. Vai sair um DVD com o filme e um CD duplo com a trilha”, conta o baixista e roteirista Fábio Shiva.
“Vamos concluir o projeto de qualquer maneira, mas se conseguimos essa verba ficará mais fácil”, garante.
Outras duas bandas baianas de destaque também estão em campanha. Xodó da cena local, a Vivendo do Ócio não está mais na gravadora Deck, por onde lançou dois álbuns e é hoje “100 % independente”, como define o vocalista Jajá.
“Domingo fizemos um show acústico, na Ribeira. Já é uma recompensa para quem contribuiu. As pessoas podem se juntar e comprar um acústico por R$ 1,2 mil”, conta Jajá.
Já a Mercy Killing, pioneira do thrash metal baiano, tenta financiar a prensagem do seu primeiro álbum em LP de vinil. “A gravação está pronta. Resolvemos fazer o financiamento coletivo para ser independente. Os contratos que os selos oferecem simplesmente não vale a pena”, conta o baixista e fundador Leo Barzi.
Claro que nem todos que lançam campanha batem a meta. O Circo Picolino pleiteou R$ 138 mil em sua campanha Somos Todos Guerreiros. Levantou R$ 30 mil.
“Disseram que sonhamos alto demais”, conta o fundador do Picolino, Anselmo Serrat.
“Mas conseguimos um quarto do montante. Foi válido, com ele vamos reformar a parte predial e depois batalhar uma lona nova”, conclui Anselmo.
VOCÊ PODE CONTRIBUIR
Mercy Killing
Uma das primeiras bandas de thrash metal locais, a MK se mudou para Curitiba há alguns anos. Agora luta para lançar o LP de estreia em vinil. Meta de R$ 20 mil. Até o dia 26, no Kickante
Anunnaki
A banda Mensageiros do Vento está na batalha para concluir “a primeira ópera-rock em desenho animado do Brasil”. Meta: R$ 24 mil. Campanha aberta até o dia 18 no Kickante
Vivendo do Ócio
Cássio Sá
Este simpático músico baiano pleiteia R$ 3 mil para lançar seu álbum Folk Ya!, no qual pratica uma bem-humorada vertente de música folk. Contribua até o dia 18, no Kickante
3ª Mostra de Cinema de Urandi
Organizada por Pepe Publio (foto), a mostra na cidade do centro-sul baiano pede R$ 6.8 mil para concluir curta-metragem. Contribua até o dia 26, no Kickante
Estranhos
Produzido pela Araçá Azul Filmes, o longa-metragem Estranhos tenta captar R$ 57 mil para exibir o filme em escolas públicas, ONGs e salas em todo o Brasil. Até o dia 29, no Kickante
BÔNUS: ENTREVISTA Tahiana D'Egmont, CEO Kickante
O crowdfunding é uma prática relativamente nova. Quando e como o Kickante entrou nesse mercado? A empresa é multinacional ou brasileira? Quanto o Kickante já levantou desde sua criação?
Tahiana D'Egmont: A Kickante foi lançada em outubro de 2013. Candice Pascoal, uma das fundadoras, trabalhava na indústria da música e viu de perto as mudanças na indústria e a queda das empresas da área por não saberem como lidar com o mundo digital. Ela também trabalhou fazendo arrecadação de fundos para as maiores ONGs do mundo e viu que tudo era feito com um custo enorme. Candice então conheceu o mercado de crowdfunding e viu que ele ainda estava muito atrás no Brasil e que o mercado poderia evoluir para uma solução completa de arrecadação digital onde se poderia ajudar mais o arrecadador se ele não se sentisse desamparado, para não dar sequencia à elitização que ela já havia visto de perto e enxergou no crowdfunding o potencial de democratização, de oferecer o poder a qualquer pessoa de tirar projetos do papel. Candice então se juntou ao irmão, Diogo Pascoal, para fundar a Kickante: uma plataforma de arrecadação digital onde os brasileiros pudessem de fato ter acesso a capital de forma democrática, tirando seus projetos do papel com todo o apoio e know-how necessários, utilizando técnicas avançadas de arrecadação de fundos que seguem os modelos internacionais de arrecadação. É uma plataforma brasileira que trás a tecnologia americana e as técnicas internacionais mais avançadas de arrecadação de recursos. A plataforma já lançou mais de 2.000 campanhas e captou mais de R$ 8 milhões.
Que diferencial ele oferece em relação as outras plataformas de financiamento coletivo?
TD: Somos a única no Brasil que trabalha tanto com campanhas “tudo ou nada” quanto campanhas flexíveis. Oferecemos uma estrutura completa de arrecadação que vai além do crowdfunding tradicional, oferecendo também a possibilidade de se arrecadar de forma recorrente (Clube de Contribuição Mensal) e de terceiros captarem para causas através do Kick Solidário. Oferecemos suporte de marketing: criadores de campanhas na Kickante recebem orientações sobre como divulgar seus projetos. Temos uma taxa de crowdfunding super competitiva no mercado brasileiro (12% para projetos que arrecadam de forma bem sucedida) e fazemos follow up de pagamentos, algo também exclusivo nosso, que aumenta as conversões de contribuições. Só no lado operacional, nosso serviço de atendimento é espetacular, com respostas em até 24 horas e ensinamos sobre crowdfunding, apoiando criadores e contribuidores.
Uma pessoa pode entrar com a mesma campanha em diferentes plataformas? O que acontece com quem faz isto?
TD: Não é recomendado de forma alguma. As campanhas possuem metas que devem estar ligadas ao seu objetivo de projeto, não faria sentido pedir a mesma meta em dois locais diferentes. Além disso, as campanhas precisam de dedicação para darem certo, divulgar duas campanhas diferentes ao mesmo tempo e com sucesso seria uma tarefa extremamente árdua.
Em cada dez campanhas, quantas o Kickante consegue viabilizar? Qual a percentagem de projetos que levantam todo o montante pretendido?
TD: 90% dos projetos são bem-sucedidos na Kickante, até por termos o modelo Flexível como uma opção (onde o criador leva o montante arrecadado mesmo que não atinja a meta). Dentre as campanhas "Tudo ou Nada", em torno de 60% atingem a meta.
O que acontece com as campanhas que não conseguem?
TD: Temos duas modalidades de captação: flexível e tudo ou nada. Na modalidade flexível o projeto vai ocorrer independente do valor arrecadado. Nesse caso, o criador da campanha recebe o valor arrecadado mesmo que não atinja a meta mínima estipulada. Na modalidade tudo ou nada, o projeto depende 100% da meta mínima para ser viabilizada. Nesse caso, se a meta não for atingida o valor é devolvido a cada contribuidor via plataforma de pagamento utilizada para a transação.
Aqui e ali vejo que há uma certa reclamação com a postura da imprensa em relação ao crowdfunding, que não é dar dinheiro, não é vaquinha: é venda antecipada, etc. Vc detecta essa má vontade? O que é preciso reiterar para estimular a consolidação de uma imagem positiva (e propositiva) do crowdfunding?
TD: Não vejo como uma postura negativa da imprensa e sim falta de conhecimento sobre crowdfunding, que ainda é um tema novo no mercado nacional. É importante saber que o financiamento coletivo é um meio de captação de extrema credibilidade em vários locais do mundo como EUA e Europa e é o grande responsável por financiar projetos incríveis, de alto calibre. De fato não tem a ver com vaquinha, tem a ver com uma decisão consciente de aposta em um projeto que vai ocorrer, é dar o poder de decisão sobre produtos, serviços e causas nas mãos de quem é mais interessado: o público final. Estamos falando de uma ruptura de modelo em que poucos decidem o que todos nós consumimos para um modelo muito mais democrático, é algo muito maior do que a forma que é tratado em geral.
Há três áreas para classificar uma campanha: Criativo (artes), Causas (social) e Empreendedorismo. Qual delas recebe o maior número de campanhas no Kickante? E qual delas tem o maior número de campanhas vitoriosas? Você vê uma tendência de aumento ou diminuição de interesse em alguma dessas áreas?
TD: Criativo e Causas são dois grandes segmentos de projetos na Kickante, Empreendedorismo vem crescendo mas ainda não tem a mesma quantidade de projetos lançados que Criativo e Causas. Causas arrecadam bem, até por terem uma cultura maior de estarem abertos a buscar financiamento, enquanto alguns segmentos ainda se mostram mais tímidos em tomar essa decisão, que só tem a beneficiar a todos. Empreendedorismo e Criativo vem crescendo a taxas mais rápidas visto que Causas já é um segmento onde somos líderes disparados no mercado.
O crowdfunding surge como uma alternativa ao difícil mercado cultural brasileiro, no qual ou se vende como produto comercial (ultracomercial, no mais das vezes) ou se recorre aos editais governamentais / leis de incentivo, um terreno que parece cada dia mais pantanoso. Vc vê futuro no crowfunding ou acha que pode ser só uma fase, uma moda? Vc vê a prática do crowdfunding consolidado nos próximos anos?
TD: Não existem dúvidas de que o crowdfunding não é apenas uma moda, tanto que ele existe há vários anos pelo mundo e só continua crescendo. Todas as projeções de mercado nacional e internacional apontam para um grande crescimento nos próximos anos. Tem diversos motivos para isso: o próprio mercado vem mudando e as pessoas têm mais acesso direto à marcas, empreendedores, atletas, artistas etc, a dificuldade de acesso a capital por instituições tradicionais como bancos vem aumentando de forma geral, leis de incentivo estão sendo revistas e tendo seus budgets diminuídos e critérios apertados. Em resumo: tem muita coisa boa para acontecer com o crowdfunding ainda!