Rock: Entre shows gratuitos e esquentes para festival, Rogério "Big Bross" Brito segue movimentando a cena local
Produtor-ícone da cena roqueira baiana, Rogério Big Bross Brito parece carregar nas costas o que restou do movimento.
Só isso explica a agenda cheia de shows que ele apresenta até pelo menos outubro, quando realiza mais uma edição do seu festival anual, o Big Bands. Detalhe: sem qualquer apoio – público ou privado.
Melhor dizendo: há apoio, sim – mas dos interessados: bandas, casas de show, coletivos, selos independentes e frequentadores. “Tô me ocupando disso, né?”, diz Big.
“Aproveitando o suporte do Dubliner’s (Irish Pub) e ocupando outros espaços, como o Taverna (Music Bar)”, conta.
No primeiro, Big comemora um ano do projeto gratuito Quanto Vale o Show?, que botou todas as terças-feiras, mais de 100 bandas para se apresentar – com as agendas de julho e agosto fechadas.
Já no Taverna ele abre uma série de shows Warm-Up (esquente) do Big Bands, com duas bandas baianas todas as quintas-feiras de julho.
É o Noites Big Bross - Brechó, associação do seu selo ao Brechó, da banda Pastel de Miolos.
“As dez bandas do Noites BB-Brechó são de uma variedade incrível. São duas bandas por noite, uma não tem nada a ver com a outra. O primeiro dia, por exemplo: Theatro de Seraphin e Squadro não tem nada a ver uma coma outra. E é assim todos os dias. Quem ainda não vi ao vivo é a Calafrio, que saiu com um CD bala. Cartel Strip Club pra mim é uma banda de futuro: são organizados e correm atrás. Eles tem uma pegada folk psicodélica que tá bem em voga, acho incrível como essas bandas novas tem buscado o prog, o folk. Vejo moleque novo com discos do King Crimson debaixo do braço. A (banda) Kazenin Mafia, por exemplo, é prog total, moleques na faixa etária dos 19, 20 anos curtindo pegada prog. O lance é esse, muita gente com liberdade de fazer o que quiser e quem monta banda hoje em dia faz exatamente o que quer. Isso é muito legal. Ainda ficou muita bandas de fora, por que não tinha mais espaço para outras, aí vou inventando mais Warm-up pra botar pra tocar. E como tento estimular que as bandas se comuniquem, todos os membros de todas as bandas são convidados a assistir gratuitamente aos shows em todos os dias do Noites BB-Brechó. Elas é que tem que se movimentar, na verdade”, afirma.
“Não faço nem crowdfunding. Quem quiser contribuir pode comprar um poster numerado em papel especial (de uma série de 30) ou uma camisa. A renda vai para custear hospedagem e coisas mínimas para as bandas”, conta Big.
“Não quero vaquinha. Vou vender esse produtos e pronto. Quem quiser reserva pelo Facebook. É tudo sem apoio, do tamanho que a perna alcança. Até prefiro assim”, afirma.
Non-stop, hoje ele encerra a temporada de junho do Quanto Vale o Show?, com as bandas Pã e Rivermann, para começar o Noites Big Bross - Brechó já na quinta, com Theatro de Seraphin e Squadro.
Na outra terça-feira (dia 7), Dimazz e Eleotério Brás abrem temporada de julho do Quanto Vale... e assim por diante.
Em agosto, ele traz de volta os paulistas do experiente quarteto indie Wry, que já fez grandes shows por aqui e do outro lado do Atlântico.
Já em setembro ele gira por quatro cidades com o mestre gaúcho do punk brega, o veterano Wander Wildner.
"Será uma mini tour com Wander pela região metropolitana: Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas e Camaçari. Em cada cidade ele toca com uma banda local de abertura. A banda que acompanha ele aqui é formada pelos irmãos Rogério (baixo, Les Royales) e Rodrigo Gagliano. Primeiro ele faz um segmento acústico e depois os caras se juntam a ele formando um power trio", detalha.
E em outubro, finalmente, o festival Big Bands de fato, que por enquanto só tem uma banda confirmada, o duo paulista Test.
Movimentar, circular
“Tudo isso é a necessidade de movimentar as bandas que lançamos pelo Big Bross-Brechó. Só ano passado saíram 14 discos. Esse ano já foram seis: Nalini Vasconcelos, Novelta, Calafrio, Elefantes Elegantes etc”, enumera.
“Tem que movimentar esse povo. Não adianta botar os discos na rua e não circular. E na medida do possível, sempre incluo bandas do interior com as locais”, acrescenta.
Enquanto há quem ache que a cena de agora é inferior (ou mesmo menor) à de 15, 20 ou 30 anos, Big acredita no contrário: “Hoje, ao contrário dos anos 90, quando só tínhamos um ou dois shows por fim de semana, hoje você vai ao Rio Vermelho e pode escolher aonde vai. O público não diminuiu: ele se dividiu”, observa.
“Quando comecei o Quanto Vale, achei que só banda inexperiente ia tocar. Agora temos Júlio Caldas, Lo Han e até bandas de fora da cidade, da Bahia e até do Brasil, como os finlandeses que tocaram no início do ano”, conclui.
Mais em: www.facebook.com/bigbross.bigs
Agenda Big Bross - Julho a outubro 2015
Hoje: Pã e Rivermann / Dubliner’s Irish Pub / 20 horas, gratuito
2 de julho: Theatro de Seraphin e Squadro / Taverna Music Bar / 21 horas, R$ 10
7 de julho: Dimazz e Eleotério Brás / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
9 de julho: Decliniun (Camaçari) e Van Der Vous / Taverna / 21 horas, R$ 10
14 de julho: Ádamas e RestGate Blues / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
16 de julho: A Flauta Vértebra e Cartel Strip Club / Taverna / 21 horas, R$ 10
21 de julho: Noite Incubadora Sonora / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
23 de julho: Bilic Roll e Calafrio (Feira de Santana) / Taverna / 21 horas, R$ 10
28 de julho: TenTrio e Subaquático / Dubliner’s / 20 horas, gratuito
30 de julho: Búfalos Vermelhos & Orchestra de Elefantes e Novelta (Feira de Santana) / Taverna Music Bar / 21 horas, R$ 10
1º de agosto: Wry (SP), Mapa e Tsunami / Dubliner’s
4, 11, 18 e 25 de agosto: Quanto Vale o Show?, com Irmão Carlos, Júlio Caldas, Noite Incubadora, Batrákia e Lo Han / Dubliner’s
3, 4, 5 e 6 de Setembro: Wander Wildner (RS) / Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas e Camaçari
Outubro: Festival Big Bands / Confirmada: Test (SP)
.
ResponderExcluirQue coincidência : eu usei exatamente essa expressão para definir BB numa matéria publicada nesse site :
http://www.caoquefuma.com/2014/08/maldito-rock-baiano-4-bate-papo-com.html
Maldito Rock Baiano — Um pingue-pongue com Rogério Big Brother : “EU NEGO TUDO.”
O desabafo do homem que carrega o rock baiano nas costas sozinho há um quarto de século
Coincidência mesmo, Ernesto. Pensei, pensei e pensei para um lead que fizesse jus ao entrevistado e... cheguei nessa conclusão um tanto óbvia...
ResponderExcluirSem desmerecer outros produtores e tal.
Mas vezes fico com essa impressão.
.
ResponderExcluirEu sei. No fundo, nós dois fomos levados á conclusão auto-evidente de que nosso Grande Mano é mesmo o Atlas desse fim de mundo. Sem ele, não teríamos shows e discos de 95% de nossos amigos ídolos.
.
ResponderExcluirConcluindo:
Grandes mentes pensam igual.
Ou como dizem os americanos:
"Great minds think alike".
.
ResponderExcluirContinuação do pingue-pongue com Rogério Big Brother :
Ernesto Ribeiro: Quando éramos colegas de faculdade, no curso de Publicidade, eu vivia dizendo pra Carol Ribeiro: “Carolzinha, você é uma publicitária. E nós estamos num campus cheio de gente que curte rock pesado. Cadê a propaganda das Shes?! Basta pôr um cartaz num mural e seus shows vão lotar!” E nada. A gente tinha que adivinhar quando e onde as meninas iam tocar. Ela NUNCA promoveu a própria banda, nem nunca esquentou a cabeça com isso. As Shes nunca acreditaram no seu próprio valor, jamais deram importância ao próprio trabalho. Só queriam se divertir.
Gravaram um CD maravilhoso, um dos melhores discos de rock do Brasil; e elas JAMAIS comercializaram o disco, nem postaram a gravação na internet, nem informaram alguém sobre a existência de um disco das Shes. Acho que só foram prensadas 5 cópias daquele CD, uma pra cada integrante, mais o próprio produtor. Em 2002, fui até o apartamento de Carol deixar uma mídia virgem de CD onde ela gravou uma cópia para mim. Não havia letras, nem encarte, nem qualquer informação. Só o disco puro com os títulos das canções. NINGUÉM mais conhecia esse disco. Nem Rogério Big Brother, nem Rex Crotus, que desenhou a logomarca da banda. Carol me disse: “As nossas letras são bizarras, Ernesto...”
Rogério Big Brother: O rock baiano em Salvador não tem público, só tem críticos.
Ernesto Ribeiro: Eu ainda era basicamente apenas um redator, mas quando me tornei publicitário free-lancer, dominei as ferramentas do Corel Drawl e me tornei diretor de arte, produzindo as peças de propaganda completas, com toda a arte-final até para capas de CDs. Um dos meus primeiros trabalhos assim foi para mim mesmo, quando eu criei a capa e a contracapa do CD das Shes. Ficou perfeito, chamou a atenção e todos que olhavam aquilo se interessaram em ouvir.
Tirei inicialmente 10 cópias do CD das Shes, que entreguei a Rogério Big Brother, Rex Crotus, Gustavo Müllem, Karl Hummel, Jerry Marlon, Miguel Cordeiro, Lygia Cabus, Eduardo Scott, mais o vendedor Jorge Nour, da loja de discos Mutantes, e Chico Castro Jr, o repórter musical do jornal A Tarde. Mais tarde, perguntei a alguns deles o que acharam das Shes. Todos eles ficaram impressionados. Alguns disseram que as Shes são a melhor banda de rock baiana, junto com os Dead Billies e o Camisa de Vênus.
Rogério Big Brother: O CD das Shes foi produzido por Ephendy Steven, o mesmo produtor austríaco que produziu a fita demo dos Dead Billies — e que acabou sendo a melhor produção que eles tiveram, bem superior aos CDs. Steven amava o Brasil. Adorava o clima, as pessoas, a esculhambação geral. Pena que ele também gostava demais de cachaça. Vivia tomando caninha 51, que ele chamava de “fifty-one”. Comprava as garrafinhas de plástico em forma de bolotas, as chamadas bombinhas. Era a bebida favorita dele, junto com a caipirinha já pronta. Bebeu até morrer de cirrose. Essa merda de bebida mata mais que o crack.