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quinta-feira, junho 11, 2015

COM UMA PEQUENA AJUDA DOS AMIGOS

Crowdfunding: As plataformas de financiamento coletivo on line podem ser uma boa opção na crise 

Imagem do site http://canleafmart.net/
No pega pra capar das crises, o setor cultural é sempre o que recebe os primeiros cortes de verbas. Em 2016, o Ministério da Cultura não contará com 22.7% do seu orçamento, “contingenciado” pelo governo federal para sabe-se lá o que.

Apesar de estar na moda, explodir caixas eletrônicos pode ser meio insalubre, então, quem sabe os amigos não ajudam? Para isso, existe, já há algum tempo, as plataformas de crowdfunding na internet.

O termo em inglês pode ser traduzido literalmente para “financiamento coletivo”. São sites nos quais as pessoas podem lançar seus projetos e convidar os amigos e fãs a contribuírem com seu projeto, recebendo lá na frente o produto em si, mais recompensas, dependendo da contribuição.

Pode-se fazer crowdfunding para praticamente qualquer iniciativa, indo da cultura (livros, discos, filmes, espetáculos etc) a causas sociais, empreendedorismo e ONGs.

No Brasil há diversas plataformas: Catarse, Garupa, Embolacha, Kickante, Impulso, Startando e várias outras.

“É importante saber que o financiamento coletivo é um meio de captação de extrema credibilidade em vários locais do mundo, como EUA e Europa, e é o grande responsável por financiar projetos incríveis, de alto calibre”, afirma Tahiana D'Egmont, CEO do Kickante, uma das principais plataformas do Brasil. No ar desde 2013, arrecadou R$ 8 milhões em duas mil campanhas.

Só não chame a prática de vaquinha: “De fato, não tem a ver com vaquinha, tem a ver com uma decisão consciente de aposta em um projeto que vai ocorrer, é dar o poder de decisão sobre produtos, serviços e causas nas mãos de quem é mais interessado: o público final”, reivindica Tahiana.

“Estamos falando de uma ruptura de modelo em que poucos decidem o que todos nós consumimos para um modelo muito mais democrático, é algo muito maior do que a forma que é tratado em geral”, percebe a CEO.

Existem pelo menos dois modelos de financiamento coletivo: o “tudo ou nada” ou o “flexível”. No primeiro, o projeto só recebe se conseguir arrecadar todo o montante pretendido no prazo de 60 dias.

No flexível, o projeto recebe o valor que conseguir arrecadar – menos a comissão da plataforma, de 12% em média.

O Catarse, por exemplo, só atua no “tudo ou nada”. Já o Kickante é  “a única no Brasil que trabalha tanto com campanhas tudo ou nada quanto flexíveis”, vende Tahiana.

“90% dos projetos são bem-sucedidos na Kickante, até por termos o modelo Flexível como uma opção. Dentre as campanhas Tudo ou Nada, em torno de 60% atingem a meta”, completa.

Campanhas baianas

Imagem de Anunnaki, o musical da banda Mensageiros do Vento
Entre  artistas baianos, a prática surge como uma grande opção para fugir tanto da burocracia dos editais quanto da monocultura tapada imposta pelo empresariado local.

Entre eles, o mais ambicioso é sem dúvida o longa-metragem em animação Anunnaki, da banda Mensageiros do Vento, uma ópera-rock inspirada nos escritos das tabuletas sumérias. “Estamos com 90 % do áudio pronto. Falta gravar os vocais. A animação está 50% pronta. Vai sair um DVD com o filme e um CD duplo com a trilha”, conta o baixista e roteirista Fábio Shiva.

“Vamos concluir o projeto de qualquer maneira, mas se conseguimos essa verba ficará mais fácil”, garante.

Outras duas bandas baianas de destaque também estão em campanha. Xodó da cena local, a Vivendo do Ócio não está mais na gravadora Deck, por onde lançou dois álbuns e é  hoje “100 % independente”, como define o vocalista Jajá.

“Domingo fizemos um show acústico, na Ribeira. Já é uma recompensa para quem contribuiu. As pessoas podem se juntar e comprar um acústico por R$ 1,2 mil”, conta Jajá.

Já a Mercy Killing, pioneira do thrash metal baiano, tenta financiar a prensagem do seu primeiro álbum em LP de vinil. “A gravação está pronta. Resolvemos fazer o financiamento coletivo para ser independente. Os contratos que os selos oferecem simplesmente não vale a pena”, conta o baixista e fundador Leo Barzi.

Claro que nem todos que lançam campanha batem a meta. O Circo Picolino pleiteou R$ 138 mil em sua campanha Somos Todos Guerreiros. Levantou R$ 30 mil.

“Disseram que sonhamos alto demais”, conta o fundador do Picolino, Anselmo Serrat.

“Mas conseguimos um quarto do montante. Foi válido, com ele vamos reformar a parte predial e depois batalhar uma lona nova”, conclui Anselmo.

VOCÊ PODE CONTRIBUIR

Mercy Killing 

Uma das primeiras bandas de thrash metal locais, a MK se mudou para Curitiba há alguns anos.  Agora luta para lançar o LP de estreia em vinil. Meta de R$ 20 mil. Até o dia 26, no Kickante



Anunnaki  

A banda Mensageiros do Vento está na batalha para concluir “a primeira ópera-rock em desenho animado do Brasil”. Meta: R$ 24 mil. Campanha aberta até o dia 18 no Kickante





Vivendo do Ócio 

Fora da gravadora Deck, a melhor banda baiana de rock em atividade convoca seus patcharas (hein?)  para lançar o novo álbum, Selva Mundo. A meta é de R$ 53 mil. Até o dia 1º (Kickante)  






Cássio Sá

Este simpático músico baiano pleiteia R$ 3 mil para lançar seu álbum Folk Ya!, no qual pratica uma bem-humorada vertente de música folk. Contribua até o dia 18, no Kickante

3ª Mostra de Cinema de Urandi 

Organizada por Pepe Publio (foto), a mostra na cidade do centro-sul baiano pede R$ 6.8 mil para concluir curta-metragem. Contribua até o dia 26, no Kickante







Estranhos 

Produzido pela Araçá Azul Filmes, o longa-metragem Estranhos tenta captar R$ 57 mil para exibir  o filme em escolas públicas, ONGs e salas em todo o Brasil. Até o dia 29, no Kickante

BÔNUS: ENTREVISTA Tahiana D'Egmont, CEO Kickante

O crowdfunding é uma prática relativamente nova. Quando e como o Kickante entrou nesse mercado? A empresa é multinacional ou brasileira? Quanto o Kickante já levantou desde sua criação?

Tahiana D'Egmont: A Kickante foi lançada em outubro de 2013. Candice Pascoal, uma das fundadoras, trabalhava na indústria da música e viu de perto as mudanças na indústria e a queda das empresas da área por não saberem como lidar com o mundo digital. Ela também trabalhou fazendo arrecadação de fundos para as maiores ONGs do mundo e viu que tudo era feito com um custo enorme. Candice então conheceu o mercado de crowdfunding e viu que ele ainda estava muito atrás no Brasil e que o mercado poderia evoluir para uma solução completa de arrecadação digital onde se poderia ajudar mais o arrecadador se ele não se sentisse desamparado, para não dar sequencia à elitização que ela já havia visto de perto e enxergou no crowdfunding o potencial de democratização, de oferecer o poder a qualquer pessoa de tirar projetos do papel. Candice então se juntou ao irmão, Diogo Pascoal, para fundar a Kickante: uma plataforma de arrecadação digital onde os brasileiros pudessem de fato ter acesso a capital de forma democrática, tirando seus projetos do papel com todo o apoio e know-how necessários, utilizando técnicas avançadas de arrecadação de fundos que seguem os modelos internacionais de arrecadação. É uma plataforma brasileira que trás a tecnologia americana e as técnicas internacionais mais avançadas de arrecadação de recursos.  A plataforma já lançou mais de 2.000 campanhas e captou mais de R$ 8 milhões.

Que diferencial ele oferece em relação as outras plataformas de financiamento coletivo? 

TD: Somos a única no Brasil que trabalha tanto com campanhas “tudo ou nada” quanto campanhas flexíveis. Oferecemos uma estrutura completa de arrecadação que vai além do crowdfunding tradicional, oferecendo também a possibilidade de se arrecadar de forma recorrente (Clube de Contribuição Mensal) e de terceiros captarem para causas através do Kick Solidário. Oferecemos suporte de marketing: criadores de campanhas na Kickante recebem orientações sobre como divulgar seus projetos. Temos uma taxa de crowdfunding super competitiva no mercado brasileiro (12% para projetos que arrecadam de forma bem sucedida) e fazemos follow up de pagamentos, algo também exclusivo nosso, que aumenta as conversões de contribuições. Só no lado operacional, nosso serviço de atendimento é espetacular, com respostas em até 24 horas e ensinamos sobre crowdfunding, apoiando criadores e contribuidores.

Uma pessoa pode entrar com a mesma campanha em diferentes plataformas? O que acontece com quem faz isto?

TD: Não é recomendado de forma alguma. As campanhas possuem metas que devem estar ligadas ao seu objetivo de projeto, não faria sentido pedir a mesma meta em dois locais diferentes. Além disso, as campanhas precisam de dedicação para darem certo, divulgar duas campanhas diferentes ao mesmo tempo e com sucesso seria uma tarefa extremamente árdua.

Em cada dez campanhas, quantas o Kickante consegue viabilizar? Qual a percentagem de projetos que levantam todo o montante pretendido?

TD: 90% dos projetos são bem-sucedidos na Kickante, até por termos o modelo Flexível como uma opção (onde o criador leva o montante arrecadado mesmo que não atinja a meta). Dentre as campanhas "Tudo ou Nada", em torno de 60% atingem a meta.

O que acontece com as campanhas que não conseguem?

TD: Temos duas modalidades de captação: flexível e tudo ou nada. Na modalidade flexível o projeto vai ocorrer independente do valor arrecadado. Nesse caso, o criador da campanha recebe o valor arrecadado mesmo que não atinja a meta mínima estipulada. Na modalidade tudo ou nada, o projeto depende 100% da meta mínima para ser viabilizada. Nesse caso, se a meta não for atingida o valor é devolvido a cada contribuidor via plataforma de pagamento utilizada para a transação.

Aqui e ali vejo que há uma certa reclamação com a postura da imprensa em relação ao crowdfunding, que não é dar dinheiro, não é vaquinha: é venda antecipada, etc. Vc detecta essa má vontade? O que é preciso reiterar para estimular a consolidação de uma imagem positiva (e propositiva) do crowdfunding?

TD: Não vejo como uma postura negativa da imprensa e sim falta de conhecimento sobre crowdfunding, que ainda é um tema novo no mercado nacional. É importante saber que o financiamento coletivo é um meio de captação de extrema credibilidade em vários locais do mundo como EUA e Europa e é o grande responsável por financiar projetos incríveis, de alto calibre. De fato não tem a ver com vaquinha, tem a ver com uma decisão consciente de aposta em um projeto que vai ocorrer, é dar o poder de decisão sobre produtos, serviços e causas nas mãos de quem é mais interessado: o público final. Estamos falando de uma ruptura de modelo em que poucos decidem o que todos nós consumimos para um modelo muito mais democrático, é algo muito maior do que a forma que é tratado em geral.

Há três áreas para classificar uma campanha: Criativo (artes), Causas (social) e Empreendedorismo. Qual delas recebe o maior número de campanhas no Kickante? E qual delas tem o maior número de campanhas vitoriosas? Você vê uma tendência de aumento ou diminuição de interesse em alguma dessas áreas?

TD: Criativo e Causas são dois grandes segmentos de projetos na Kickante, Empreendedorismo vem crescendo mas ainda não tem a mesma quantidade de projetos lançados que Criativo e Causas. Causas arrecadam bem, até por terem uma cultura maior de estarem abertos a buscar financiamento, enquanto alguns segmentos ainda se mostram mais tímidos em tomar essa decisão, que só tem a beneficiar a todos. Empreendedorismo e Criativo vem crescendo a taxas mais rápidas visto que Causas já é um segmento onde somos líderes disparados no mercado.

O crowdfunding surge como uma alternativa ao difícil mercado cultural brasileiro, no qual ou se vende como produto comercial (ultracomercial, no mais das vezes) ou se recorre aos editais governamentais / leis de incentivo, um terreno que parece cada dia mais pantanoso. Vc vê futuro no crowfunding ou acha que pode ser só uma fase, uma moda? Vc vê a prática do crowdfunding consolidado nos próximos anos? 

TD: Não existem dúvidas de que o crowdfunding não é apenas uma moda, tanto que ele existe há vários anos pelo mundo e só continua crescendo. Todas as projeções de mercado nacional e internacional apontam para um grande crescimento nos próximos anos. Tem diversos motivos para isso: o próprio mercado vem mudando e as pessoas têm mais acesso direto à marcas, empreendedores, atletas, artistas etc, a dificuldade de acesso a capital por instituições tradicionais como bancos vem aumentando de forma geral, leis de incentivo estão sendo revistas e tendo seus budgets diminuídos e critérios apertados. Em resumo: tem muita coisa boa para acontecer com o crowdfunding ainda!

3 comentários:

  1. RIP Christopher Lee

    http://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/morre-christopher-lee-aos-93-anos/

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  2. RIP Ornette Coleman

    http://www.brasilpost.com.br/2015/06/11/morre-aos-85-anos-o-jazzi_n_7561432.html?utm_hp_ref=brazil

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  3. .

    Homenagem tardia ao Mestre do Mal, o verdadeiro Príncipe das Trevas:

    Christopher Lee

    1922-2015


    Risada diabólica monumental e antológica:

    "Hum-hum-hum-ah-ah-ah-ah-ah-ah!!!..."


    https://www.facebook.com/90underbahia/photos/pb.816317891727974.-2207520000.1434050789./816535111706252/?type=3&theater


    Capa da Fita K7 Demo da Dead Billies: "Coffin Bop" (1995)

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