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quinta-feira, abril 30, 2015

DIA INTERNACIONAL DO JAZZ GANHA COMEMORAÇÃO EM ALTO ESTILO

Jazz na Avenida, evento espontâneo das sextas, tem dose dupla no feriado com festival 

Laurent (dir.), com Isaías Rabello e Alexandre Montenegro
A Bahia tem dessas: evento espontâneo de perfil não exatamente popular cai no boca a boca de um público interessado e acaba virando um must na cidade.

Assim aconteceu com a jam session semanal Jazz na Avenida, que esta semana tem edição dupla em seu primeiro festival.

Claro que os fatos de ser a) gratuito e b) em plena happy hour de sexta-feira ajudaram muito a lotar o estacionamento da gráfica na orla onde o evento é realizado desde março do ano passado.

“Começou numa festa privada”, conta o baterista francês residente em Salvador desde 2004 Laurent Rivemales, organizador da jam.

“Eu  quis reunir o pessoal pra comemorar a volta de um amigo meu, Patrice, a Bahia. Como em casa era muito pequeno, pensei em fazer no estacionamento do meu terreno. Peguei a bateria, a aparelhagem e fizemos. Como todo mundo gostou, pensamos: ‘vamos fazer de novo’”, conta.

E fizeram de novo na semana seguinte, com os amigos trazendo outros amigos, que na outra semana trouxeram mais dois amigos, que trouxeram mais amigos na outra semana.

“A cada semana, as pessoas comentavam mais e mais. Aí virou ponto de encontro. E como eu capricho na qualidade do som, botei piano e instrumentos de primeira, foi agradando o pessoal nas redes sociais, com o boca a boca se espalhando”, conta Laurent.

“Toda semana temos bandas e convidados diferentes. É um conceito um pouco diferente da Jam no MAM, que tem uma banda base fixa”, diz.

Experiência de noite

Alissa Sanders, foto Chaia Decher
Depois de comemorar um ano de evento logo após o Carnaval, Laurent resolveu aproveitar que hoje é o Dia internacional do Jazz (instituído pela UNESCO) e amanhã é feriado e criou o I Festival Jazz na Avenida, com dois dias de show.

A programação traz a banda do anfitrião,  Laurent Rivemales Trio, a cantora californiana Alissa Sanders (Tributo aos 100 anos de Billie Holiday) e as bandas Deon Jazz e  Quintet Jazz Tzigane Bahia (Tributo a Django Reinhardt). No Facebook do evento a programação está mais detalhada.

Natural de Montpellier, uma joia incrustada à beira do Mediterrâneo no sul da França, Laurent frequenta a Bahia desde 1997, mas se estabeleceu definitivamente aqui, ao se casar com uma baiana em 2004. Há alguns anos, abriu a casa de shows Fuar Fuia.

“Depois eu quis fechar, por que ser empresário não combina muito com ser músico. Eu não conseguia mais tocar em turnê. Aí eu aluguei o prédio para uma gráfica, a qual gentilmente me cede o estacionamento às sextas-feiras para o evento”, relata Laurent.

“Tenho mais de vinte anos de música andando em vários festivais, com muita experiência de vida noturna, então sei da minha estrada e sei organizar um evento”, afirma.

Mário Pereira, da Tzigane Bahia
Seguro de si, como se vê, Laurent não esquece que o mais importante é o apoio do público que seu evento cativou.

“O evento é gratuito, sem patrocínio e dele não tiramos lucro, então o mais importante é o público que percebe isso. Você vê a verdadeira alma das pessoas. Não sei como explicar, o pessoal que aparece é incrível. Já vi gente no final nos ajudando a arrumar a casa. É uma coisa bonita”, conclui.

I festival Jazz Na Avenida / Hoje e amanhã, a partir das 18 horas / Avenida Simon Bolívar, s/n, Armação (ao lado do Boi Preto) / Gratuito / Facebook

quarta-feira, abril 29, 2015

PODCAST ROCKS OFF BOTA SORA MAIA E ROGÉRIO BIG BROSS NA RODA E AVISA: NEGO TUDO

Soritcha fala de fotografia e rock
Nesta edição, Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira Jr. tem a honra de receber a fotojornalista e "fotógrafa style" Sora Annie Leibovitz do rock baiano Maia e Rogério Nego Tudo Big Bross Brito, verdadeiras sumidades do rock local.

Sora entrevista Braminha, que confessa que botaram alguma coisa na bebida dele quando decidiu trazer a MTV para a Bahia nos anos 1990.

E Sora, uma irmã para este blogueiro e membro fundador deste blog, fala da relação fotografia vs. rock local, ontem e hoje.

"Strobo é ruim e fumaça é a miséria do mundo miserável, horrível para fotografar".

Big, como sempre, distribui os sopapos, a experiência e a sabedoria que lhe é peculiar.

"Já recebi cartão vermelho de Varella".

MOEBIUS À LA CARTE

Com O Mundo de Edena e Os Olhos do Gato, Nemo segue lançando o melhor do artista francês

Finalmente, os fãs do icônico quadrinista / artista francês Jean Moebius Giraud podem dizer que estão bem servidos de sua obra no Brasil.

Com os recentes lançamentos do álbum Os Olhos do Gato e a conclusão da série O Mundo de Edena, parte significativa de sua produção está à disposição do público.

Mérito do Nemo, selo da Editora Autêntica que, desde sua criação, em 2011, vem lançando, sistematicamente, em edições de luxo (capa dura, papel cuchê) a obra do artista, morto em março de 2012.

Logo na inauguração o selo lançou a Coleção Moebius, que teve sete volumes e trouxe, entre outras HQs, inéditas ou já publicadas no Brasil, a série A Garagem Hermética, uma das mais famosas do artista.

Já a partir de 2013 iniciou-se a publicação da série em seis volumes O Mundo de Edena, totalmente inédita no país.

Além dessas coleções, ainda houve fôlego para lançar duas belíssimas parcerias de Moebius com o escritor e dramaturgo franco-chileno Alejandro Jodorowsky: Garras de Anjo e Os Olhos do Gato.

Do grosso de sua obra (além de O Incal - sua parceria mais importante com Jodorowsky -, já publicado no Brasil pela Devir), só falta a Nemo lançar Blueberry, uma das séries mais definitivas do western em HQ, em parceria com o escritor belga  Jean-Michel Charlier. Fica a torcida.

Gato e Edena

Os Olhos do Gato, título mais recente de Moebius nas prateleiras, foi sua primeira parceria com Jodorowsky.

A HQ, que quase não tem texto e se desenvolve de forma ágil, é um desbunde visual místico e psicodélico em glorioso P&B.

É obra que, para ler, leva-se menos de dois minutos. Mas para admirar, pode-se levar a vida inteira, graças aos desenhos magníficos de Moebius.

Já O Mundo de Edena tem uma gênese curiosa: inicialmente, era uma HQ promocional criada sob encomenda da montadora francesa Citröen, na qual dois personagens, Stel e Atana, cruzavam um planeta alienígena a bordo de um modelo recém-lançado, em 1983.

Moebius gostou tanto dos personagens que decidiu aproveita-los em uma HQ própria, transformando Stel e Atana em mecânicos espaciais, às voltas com espaçonaves à deriva em planetas estranhos.

Ao longo dos seis volumes da série, Moebius fez gato e sapato (no bom sentido) dos personagens, lançando-os em situações (e planetas) surreais, abertas à interpretações várias e de viés psíquico.

Os Olhos do Gato / Moebius, Alejandro Jodorowsky/ Tradução: Arnaud Vin / Nemo/ 56 páginas/ R$ 54,90


O Mundo de Edena (seis volumes) / Moebius/ Tradução: Fernando Scheibe Nemo/ 56 páginas (cada vol.)/ R$ 49 (cada)

terça-feira, abril 28, 2015

OS ELEFANTES ELEGANTES DE TONY LOPES LANÇA ÁLBUM COM POEMAS MUSICADOS DE CHARLES BUKOWSKI

Tony Lopes AKA Reverendo T e Elefante Elegante. Foto Rogério Big Bross
Veterano do underground local, Tony Lopes atua no cenário desde os anos 1980.

Em 1991, lançou com sua banda Tony & Os Sobreviventes um LP de vinil hoje raro, De Quem é a Culpa? – título que, aliás, virou piada interna no rock local quando algo dá errado...

De lá para cá, teve lojas de discos / centros culturais independentes importantes como Na Mosca (anos 1990) e São Rock (anos 2000), integrou outras bandas e hoje tem dois projetos autorais: Reverendo T & Os Discípulos Descrentes e Os Elefantes Elegantes.

Enquanto no primeiro ele atua com uma banda (o pessoal da Pastel de Miolos), o Elefantes é só ele e um iPad equipado com o programa Garage Band.

“Uso o aplicativo pra musicar meus poemas e, com o tempo, cheguei a algo próximo do que chamamos de ‘música’. É uma colagem: vou colando acordes e instrumentos e, eventualmente chegamos numa canção”, conta.

Fã do escritor e poeta underground Charles Bukowski (1920-1994), Tony teve a ideia de musicar os poemas do Velho Safado ao ler as traduções do curitibano Fernando Koproski: “Pra mim, são as primeiras traduções de poemas dele que achei muito boas, representando de forma exata o que ele quis dizer. Ele é poeta e já traduziu os poemas de Leonard Cohen. Não conheço nenhuma tradução melhor de Bukowski no Brasil”, opina.

Performance de elefante

O passo do elefantinho. Foto Rogério Big Bross
Koproski traduziu dois livros do Velho Buk: Essa Loucura Roubada Que Não Desejo A Ninguém A Não ser a Mim Mesmo Amém (2ª edição em 2012) e Amor é Tudo Que Nós Dissemos Que Não Era (2012), ambos pela editora 7 Letras.

Tony entrou em contato com o tradutor, pedindo autorização para musicar os poemas: “Foi tranquilo, ele aprovou a ideia. São 12 faixas curtas, com um minuto e meio a dois minutos. O arremate foi o envelope absurdamente genial desenhado pelo cartunista Bruno Aziz. Sem essa capa linda o projeto não teria o valor que tem”, elogia.

Lançado em versão física pela joint venture de selos independentes Big Bross, Brechó e São Rock, o álbum Os Elefantes Elegantes Mergulham na Poesia Ácida de Charles Bukowski teve uma performance para marcar o lançamento terça-feira passada no evento Quanto Vale o Show?, no Dubliner’s.

“Me vesti de elefante (foto ao lado), fiz um discurso e puf!,  lancei o disco. Vendi vários exemplares, tirei foto com todo mundo e tal. Faço performances em aniversário, batizado, casamento, bodas de ouro e formatura”, diverte-se.

“Minha filha ficou meio assustada com a fantasia, mas a vida real é bem mais difícil”, afirma Tony.

Inquieto, o poeta / cantor / performer / elefante cor-de-rosa tem mais de 150 outras faixas autorais criadas sozinho de madrugada e planeja gravar material novo do Reverendo T ainda este ano.

"O Reverendo eu tô pensando em gravar coisa nova, dar continuidade ao single Azul Profundo (lançado em 2014). O caminho é aquele, a ideia é acrescentar algo aquilo ali", conta.

“Outra ideia é pegar discos antigos do rock baiano, como o do Treblinka, Tony & Os Sobreviventes e outros e botar bandas novas para fazer releituras. Tira-los do limbo, mostrar que temos história”, conclui Tony.

www.elefanteselegantes.blogspot.com.br

NUETAS

Glauco & Motoserra

Glauco Neves & Sua Orquestra Elegante e Ivan Motoserra são as atrações de hoje do Quanto Vale o Show?. Dubliner’s, 18 horas, pague quanto quiser.

Incubadora Sonora 

Dia 1º abrem  as inscrições do Incubadora Sonora 2015. Cinco bandas passam por  processo de profissionalização, com  show e gravação. O material de divulgação nos diz que: "Estas bandas, durante o processo da incubadora, passarão por oficinas, como a de gravação, com o produtor Irmão Carlos; de fotografia, ministrada pela fotógrafa Denisse Salazar, de mídias sociais, ministrada pela produtora Edmilia Barros, de cenografia, ministrada pelo cenógrafo Klaus Schuenemann, assim como oficinas de projetos culturais, produção e comunicação. No final do projeto, as bandas selecionadas entrarão na coletânea 'Incubadora Sonora 2015', receberão uma cópia digital do ensaio fotográfico e realizará um show na sua região ao lado da banda Irmão Carlos e o Catado". Inscreva sua banda no site www.incubadorasonora.com.br. Não vacile: as inscrições se encerram no dia 15 de maio.

Blues no Rhoncus

O power trio Pedrão, Uzêda & Cândido toca quinta no  Rhoncus Pub. 22 horas, R$ 20.

Malefactor sábado

Malefactor sábado, no  Dubliners Irish Pub. Abertura: Papa Necrose. 16 horas, R$ 20.

quinta-feira, abril 23, 2015

A SEGUNDA VINDA

Estreia: Vingadores: Era de Ultron vem com tudo o que os fãs querem, mas não é memorável como o primeiro

Fanboys and girls  podem voltar a respirar: a Era de Ultron está entre nós.

A partir de hoje, a segunda vinda dos Vingadores ocupa a maior parte das salas de cinema em todo mundo, com perspectivas de fazer a maior abertura da história.

Não seria de se admirar: o filme anterior, Os Vingadores - The Avengers (2012) fez a  maior bilheteria de abertura da história, arrecadando US$ 207 milhões só no fim de semana de estreia, além de ser a terceira maior de todos os tempos, atrás apenas de Avatar e Titanic.

Obviamente, esta avalanche ocasionada pelo filme (e seus milhares de produtos de merchandising) é fruto da poderosíssima máquina dos sonhos de marketing chamada Disney, dona da Marvel.

Descontado todo o auê, quando projetado na telona, Vingadores: Era de Ultron não causa todo o impacto do seu antecessor – afinal, a primeira vez, ninguém esquece.

Ainda assim, entrega aos fãs mais ansiosos tudo o que se espera de um filme deste escopo: cenas em escala gigantesca de ação super-heroica, agilidade narrativa (talvez até demais), uniformes reluzentes, interação bem humorada entre os personagens, uma trama razoavelmente coerente e até um futuro romance.

Excesso que anestesia

O que Era de Ultron menos oferece é algo que consagrou as HQs da Marvel e que o estúdio utilizou bastante em seus filmes: as relações com os outros filmes e personagens.

Era de Ultron é o filme mais autocontido da Marvel até agora, concentrando-se mais no desenvolvimento da trama do dia e investindo menos em referências.

Porém, apesar de todo o capricho da produção, do carisma dos atores e do apelo dos personagens, Era de Ultron, diferente do seu antecessor, não consegue evitar a armadilha que vitima quase todo filme blockbuster: cenas cada vez mais grandiosas de ação que se sucedem a todo momento sem grandes consequências e que acabam por anestesiar o espectador pelo excesso.

A Marvel, que se notabilizou através de sua história editorial por justamente saber valorizar seus personagens e as consequências dos seus atos, pecou (ou deixou o diretor Joss Whedon pecar) nisso.

Um exemplo claro é a sequência em que o vilão Ultron toma controle do Hulk e o Homem de Ferro usa uma armadura especial (Hulk Buster, ou Caça-Hulk) para enfrenta-lo.

A cena, que tinha tudo para ser épica, é apenas banal e inconsequente. Poderia até ser extirpada do filme que não faria qualquer diferença.

Atropelo e Ultron

A trama traz paras telas um dos maiores inimigos dos Vingadores nas HQs: Ultron, inteligência artificial criada por Hank Pym, o Homem-Formiga original. No filme, cabe a Tony Stark a tarefa, com auxílio de Bruce Banner, o Hulk.

Projetado como um sistema de defesa planetário autoconsciente, Ultron nasce torto e chega a conclusão de que a melhor defesa para a Terra é o ataque ao seu pior inimigo: a raça humana.

Depõe contra o filme a forma atropelada com que o vilão surge. O ponto a favor  é a interpretação de James Spader como Ultron em sua  forma robótica através da captura de movimentos , concedendo carisma, caras e bocas ao que, de outra forma, seria um boneco de lata.

Percebe-se que Joss Whedon e roteiristas até se esforçam para acomodar a trama e o numeroso elenco, com tempo de tela para tudo e todos –  especialmente os personagens que não tem filmes próprios, como Gavião Arqueiro e Viúva Negra, mas a sensação de atropelo persiste em um filme que, nem de longe, é memorável como o anterior.

Conheça os novos Vingadores

Pietro Maximoff, Mercúrio

O velocista da Marvel surgiu ano passado em melhor forma (e interpretação) no filme X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido. Aqui, parece meio pálido e mal aproveitado na pele de Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass)

Wanda Maximoff, Feiticeira Escarlate

Irmã de Pietro, é nas HQs uma poderosíssima mutante com poder de manipulação de probabilidades. Estreia bem nas telas na pele de Elizabeth Olsen, graciosa ao gesticular seus feitiços envoltos em névoa vermelha

Visão 

Encarnado pelo ótimo ator Paul Bettany (Padre), o Visão é uma das boas surpresas do filme ao surgir – ainda que o roteiro não explique bem sua origem. Andróide com poderes de levitação,  intangibilidade e... sentimentos

Vingadores: Era de Ultron / Dir.: Joss Whedon / Com Chris Evans, Chris Hemsworth,  Jeremy Renner, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson / UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Barra, UCI Orient Paralela, Cinépolis Salvador Norte,  Espaço Itaú Glauber Rocha, Cinemark

quarta-feira, abril 22, 2015

FINLANDÊS FAZ HQ COM BEATLES E STONES - E OS FAB FOUR SAEM GANHANDO

Mais do que bandas de rock, Beatles e Rolling Stones há muito transcenderam a música, ganhando lugar garantido na cultura pop. Daí o grande número de HQs com ambas as bandas.

Beatles com A: O nascimento de uma banda e Mac Moose e os Stones são os  exemplos mais recentes.

Lançadas juntas no Brasil pela Edições Ideal, as HQs são produto da mente perturbada do quadrinista finlandês Mauri Kunnas, o mais bem-sucedido cartunista de seu país.

Agora, pesar de serem mesmo autor e partilharem da mesmíssima estética no estilo visual aparentemente despojado do desenhista, os dois álbuns tem grandes diferenças entre si.

Enquanto Beatles com A é essencialmente uma HQ biográfica (com muitas licenças poéticas em nome do humor gráfico), Mac Moose e Os Stones é uma história original (e totalmente tresloucada).

Essa diferença, infelizmente, causou um sério desequilíbrio no lançamento duplo, deixando os Beatles em clara vantagem na velha rivalidade entre as duas bandas.

Beatles Com A concentra sua narrativa nos primórdios da trajetória dos Fab Four, iniciando mesmo em plena 2º Guerra Mundial, quando o mais velho integrante da banda, Richard Ringo Starkey nasce em Liverpool, no meio de um bombardeio nazista.

Com seu traço aparentemente sujo e solto, mas, na verdade, muito preciso e detalhista, Mauri Kunnas leva dezenas de páginas contando da infância e adolescência dos futuros Beatles, com especial atenção para o drama familiar de John, que foi criado por uma tia, mas que buscou conhecer sua mãe, Julia, uma legítima porra louca de vida breve e fundamental importância na vida do músico.

Apesar de não detalhar suas fontes em uma bibliografia, fica claro que Kunnas empreendeu uma pesquisa séria para criar sua HQ, tamanho o detalhismo com que relata o período inicial da banda, incluindo a formação dos Quarrymen (banda-embrião dos Beatles), além de seu período de lapidação tocando nos puteiros e bibocas de Hamburgo, Alemanha.

Seu maior mérito é conceder humor a uma história bem conhecida, renovando-a.

Já Mac Moose e Os Stones falha em sua tentativa de criar uma história original com Mick Jagger e sua gangue. Sem pé nem cabeça, é até engraçadinha, mas cansativa em seu nonsense depois de algumas páginas.

Beatles com A – O nascimento de uma banda / Mauri Kunnas / Ideal/ 76 p./ R$ 44,90

Mac Moose e os Stones / Mauri Kunnas / Editora/ 56 p./ R$ 44,90

terça-feira, abril 21, 2015

IRMÃO CARLOS: PAUSE NO DOMINGO DE CABEÇA, ÁLBUM SOLO E NOVA INCUBADORA SONORA

Irmão Carlos. Foto Denisse Salazar
Há alguns domingos, tomei um susto ao ler, na revista Muito de 22 de março, uma crônica do jornalista Franciel Cruz (o honorável guru do Nordeste de Amaralina, ídolo pessoal deste colunista) na qual ele lamentava o fim da banda Irmão Carlos & O Catado, anunciado na última edição do evento Domingo de Cabeça pra Baixo.

Após algumas semanas “dormindo”, resolvi ligar para Carlinhos e saber qual foi.

“A banda não acabou, não”, esclarece o músico e produtor. “Na hora ali do anúncio, Franciel entendeu que era a banda que estava acabando, mas foi o evento do Domingo”, diz.

Bom, isso já é ruim o bastante, mas pelo menos... Na verdade, Carlinhos, um dos maiores ativistas do cenário alternativo local, está mais ativo do que nunca.

Sobre o fim do seu evento mensal, ele conta que, de fato, “cansou”.

“O Domingo de Cabeça pra Baixo rolava desde 1998, quando  o palco ainda era de caixa de cerveja e madeirite.  Foram 16 anos produzindo, segurando as pontas, aí deu uma cansada. Cansei de subir no palco preocupado se vai dar tudo certo, se a Sucom vai chegar e tudo mais”, diz.

Entra nu e sai vestido

Fora isso, o Irmão Carlos segue ativo, com pelo menos três projetos na fita: a banda Conversíveis, um álbum solo e a segunda edição do projeto Incubadora Sonora.

“A Conversíveis é uma banda de versões de Tim Maia, Jorge Benjor e Roberto Carlos. Agora, são versões mesmo, não fazemos ao pé da letra. É bem rock ‘n’ roll”, avisa.

Já o álbum solo ainda está em fase embrionária. “Estou compondo e escolhendo o que vai entrar. Vai ter alguns músicos diferentes, umas participações, mas ainda é surpresa. As composições são coisas que não cabem n’O Catado, acredito que sejam mais raulseixistas e timaistas”, ri Carlos.

Ele conta que, diferente do trabalho com a banda, solo ele compõe sozinho, ao violão. “N’O Catado eu nem sei tocar as músicas. Só sei cantar e rebolar”, diverte-se.

Sobre a Incubadora Sonora, série de oficinas de produção de novas bandas, ele conta que em maio, as inscrições estarão abertas no site do projeto. “O cara entra nu e sai vestido, com gravação, cenário, fotografia, produção, mixagem, show, assessoria, divulgação e ajuda de custo”, conclui.



NUETAS

Vandex, Elefantes, Kazenin

Hoje o Quanto Vale o Show? bota no palco do Dubliner’s os veteranos Vandex, Tony Reverendo T Lopes (com sua banda Os Elefantes Elegantes) e a banda instrumental Kazenin Mafia, rapaziada mais nova. Os Elefantes  lançam seu primeiro CD, no qual interpretam poemas do anti-guru marginal Charles Bukowski. 19 horas, pague o quanto quiser.

Lily, Callangz, Dimazz

Sexta-feira as bandas Lily Braun, Callangazoo  e o cantor Dimazz se apresentam no Dubliner’s a partir das 22 horas. R$ 10 (lista) ou R$ 15.


Macaco, Buster etc 

Sábado a night é  hardcore no Vacachorro com a banda goiana Penteando Macaco mais as locais  Buster e Californian Covers. 20 horas, grátis.

Guitars in Valente 

O guitarrista Ricardo Primata se apresenta em Valente (238 quilômetros da capital),  sábado, na 4ª edição do Encontro de Guitarristas da Região do Sisal. Músicos  de destaque da região, Paulo Santos (Conceição do Coité), Marcus Novais (Capim Grosso) e Wesley Andrade, também participam do evento. Casa de Cultura de Valente, 19 horas, R$ 10.

quinta-feira, abril 16, 2015

PODCAST ROCKS OFF DISSECA PHYSICAL GRAFITTI - EDIÇÃO DE 40 ANOS

Quem não perdeu horas viajando nessa capa genial não teve adolescência
Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira dissecam um dos discos mais fodões, geniais, maravilhosos, inoxidáveis e ducaralho de todos os tempos: Physical Grafitti, cuja edição comemorativa de 40 anos chegou recentemente as prateleiras.

O disco definitivo da banda de rock definitiva. E fim de papo.

Quer dizer, começo de papo.

É só apertar o play, playboy!













Bônus:

PAULO COSTA LIMA E SUA GAMELA MUSICAL NA SALA SÃO PAULO


Paulo: maior compositor erudito vivo e motivo de orgulho para a Bahia
Paulo Costa Lima segue amealhando cada vez mais reconhecimento.

Referência da música de concerto baiana, o professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba)

Hoje, amanhã e depois, a Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp) executa peça de sua autoria.

Intitulada Cabinda: Nós Somos Pretos, a obra foi encomendada a Lima pela própria Osesp e será executada na Sala São Paulo, uma das melhores salas de concerto do mundo, sob a regência da premiada nova-iorquina Marin Alsop, titular da Osesp desde 2012.

Membro da Academia Brasileira de Música, Paulo conta que recebeu a encomenda para a Osesp em abril de 2014.

“O convite foi do diretor artístico Arthur Nestrovski e da Marin Alsop. A demanda é que fosse uma obra ao mesmo tempo brasileira e contemporânea”.

“Mas não se trata de nacionalismo ou coisa do gênero, mas do lugar de fala, que deixa marcas no discurso”, diz.

A majestosa Sala São Paulo. Foto site Osesp
Requisitado, Paulo só pôde se dedicar à composição da encomenda meses depois do pedido, pois além dos afazeres usuais do professor, ainda teve de concluir outra obra para o Prêmio Funarte de Composição Clássica, a ser apresentada na XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea.

“Mas a partir de outubro do ano passado passei a trabalhar intensamente na encomenda da Osesp. Foram cinco meses de trabalho pesado”, afirma.

Tradição baiana

“Fazer uma obra sinfônica não é brincadeira, não. São 50 páginas de partitura, cada uma com 25 cliques (escolha de notas. No computador, cada nota é um clique). No total, são mais de dez mil cliques, ou seja, dez mil escolhas”, diz.

Esteticamente, Paulo segue a tradição da escola baiana estabelecida há mais de 50 anos na Ufba. 

“Sempre fui muito cativado pela economia de meios da tradição ocidental e africana, um tipo de minimalismo que está em Mozart e Brahms, mas também em Caymmi e nos ritmos africanos, no qual você desenvolve uma ideia ao máximo, com um mínimo de elementos”, explica.

“Mas nessa peça eu fiz isso de uma maneira torta. É um painel de referências negras. Já fiz outras obras em que ela vem toda de uma referência, como Pega Essa Nega e Cheira ou Bahia Concerto. No caso de Cabinda, o trabalho da peça é justamente entrelaçar essas referências de forma que não permita ao ouvinte dissocia-las, criar um todo no qual as referências acontecem de maneira orgânica. 
Usei uma técnica que é uma espécie de tecido conjuntivo, ligando uma ideia a outra em ciclos de intervalos crescentes e decrescentes”, explica.

Marin Alsop rege a Osesp. Foto site Osesp
"Acabei com uma ideia de gamela onde cabem muitas coisas, uma metáfora ou alegoria da sociedade brasileira. Você ouve com igual organicidade os ambientes e as texturas de referência, sem que soe como colagem. Isso é que é desafio e ontem no ensaio com a Osesp eu vi que funcionou, que tudo o que eu planejei, saiu como eu queria. E foi apenas o primeiro ensaio", comemora Paulo.

"Já o titulo vem do maculelê, do grito 'Nós somos pretos' da Cabinda de Luanda (capital da Angola). Vem de uma noção de que, na verdade, a África é que colonizou o Brasil. Tem um musicólogo amigo meu, Gerard Behague, já falecido, era professor da Universidade do Texas, ele uma vez disse que a África civilizou o Brasil pela ética e pela estética. Somos alfabetizados pela estética do ritmo. Quem não sabe ritmo na Bahia é uma espécie de analfabeto. E a ética é tao importante quanto, por que os dominadores não podem nos ensinar ética, e sim os dominados, é a ética através da construção de sua emancipação. Esse sentido dialético ressoou forte em mim e essa peça um reconhecimento disso. Está lá no Maculelê, que ocupa a parte central da obra", detalha.

“Os baianos eruditos trabalham muito com isso desde os anos 1960 até hoje, com o movimento da OCA (Oficina de Composição Agora). Aliás, a Bahia é o único lugar do Brasil que tem 50 anos de uma tradição erudita, um movimento contínuo, que passa de uma geração para outra”, afirma.

OCA: Paulo, Espinheira, Túlio, Joélio, Porchat, Guilherme, Lia e Paulo Rios
A má notícia é que ainda não se sabe quando os baianos poderão ouvir essa obra do seu maior compostor erudito vivo.

"Em Salvador ainda não temos convite, mas ainda ouviremos, assim que Osba puder superar alguns problemas, pois está faltando músico na Orquestra, o velho problema. O problema é os gestores públicos não entendem que isso não é gasto: é investimento. Nossas orquestras de referência, Osba e Osufba, vivem nessa luta", lamenta.

terça-feira, abril 14, 2015

suRRmenage, NOVA BANDA DE ARTHUR CARIA, ESTREIA HOJE NO DUBLINER'S

Maynard Passos, Arthur e Mark. Foto: Nuno Nascimento
Hard rock com toques de indie e letras saídas de uma dissertação de mestrado. Em linhas gerais, isso é  suRRmenage, nova banda do baixista e compositor baiano Arthur Caria.

Com estrada no rock, Arthur integrou, nos anos 1990, a ótima e meio esquecida banda Dead Easy, na qual figuravam também o guitarrista / vocalista / produtor Jô Estrada e o baterista (recentemente falecido) Fernando Bubu Bueno.

Esta coluna inclusive já fez seu tributo à Dead Easy há alguns anos, quando Arthur botou no ar um blog (deadeasybr.blogspot.com.br) contando a incrível trajetória da banda, que teve direito a residência no Rio de Janeiro e contrato com gravadora. Coisas dos anos 1990...

Hoje, Arthur inaugura uma nova fase para a  suRRmenage, com nova formação, em show no projeto Quanto Vale o Show?, no Dubliner’s.

“Surmenage, com um ’r’ só, é estafa, fadiga em francês”, conta Arthur. “Aí eu só botei um ‘r’ a mais, para ressignificar”.

Ressignificar é bem coisa de acadêmico, né? Justamente: “É que eu estava fazendo mestrado e andava ultracansado, estressado – e doido para escrever outra coisa que não fosse dissertação. Aí voltei a música, depois de uns sete anos afastado”, relata Arthur.

Inicialmente um projeto solitário do músico, o suRRmenage seria – imaginem – um recital poético  “com declamações de poesias e tal. Mas pô, já que eu toco também, vamos botar música”, conta.

“Mas aí o músico rocker baixista se empolgou mais do que o poeta escritor. Aí utilizei as poesias nas letras”, ri Arthur.

Em 2009, o músico, acompanhado de Flávio Maranhão (guitarra) e Jera Cravo (bateria) gravou as dez faixas do álbum the suRRmenage sessions, disponível via Tratore.

O som, define Arthur, é  “colcha de retalhos” que une hard rock, pós punk e indie, com direito a cover de Morrissey.

"Eu diria que é um hard rock mais puxado para o indie e experimentações mais atuais. Eu tenho uma formação que é metal e pós-punk ao mesmo tempo. Pra mim é tudo rock, eu adorava Metallica e The Cure ao mesmo tempo. Quase perdi amigos por causa disso, acredita"?, ri.

Após mais uma pausa, Arthur fixou a suRRmenage com Maynard Passos na guitarra e o Mizeravão Mark Mesquita na bateria.

“O palco me chama”, afirma Arthur. “O repertório tá curtinho ainda, 40 minutos. Mas a intenção agora é continuar, dentro das possibilidades desse cenário”, diz.

“O grande lance desse projeto é que ficou com letras mais cabeça até do que precisava. Como te disse estava com a cabeça no mestrado, tratando de temas como identidade, Darcy Ribeiro e tal”, conclui.

Quanto Vale o Show? Apresenta: suRRmenage e Portal / Hoje, 20 horas / Dubliner’s Irish Pub / Pague quanto quiser



NUETAS

Dubliner’s is ten

Nesta quinta-feira nosso prezado (onipresente?) Dubliner’s Irish Pub comemora dez anos com shows das bandas Def Brothers (Tributo ao Allman Brothers), IV de Marte e Trigger. 22 horas, grátis. Que venham os próximos dez!

Festival Vacachorro

As bandas Super Amarelo (AL), The Honkers, Charlie Chaplin e Búfalos Vermelhos & A Orquestra de Elefantes tocam sábado no Vacachorro (escultura de Bel Borba na Dinha). Pede-se que quem for curtir o show colabore com a quantia de um ingresso: R$ 10 ou R$ 15. 20 horas.

Pelourinho Rock

 Ex-29, Batrákia, Indigo e Circo Litoral fazem o  Pelourinho Rock Festival sábado. Pça. Pedro Arcanjo, 17 horas, R$ 10.

segunda-feira, abril 13, 2015

GAROTO DE OURO MARK RONSON SE SUPERA EM UPTOWN SPECIAL

Novo disco do produtor de Amy Winehouse traz o hit Uptown Funk com Bruno Mars, mais um punhado de bons sons

Mark Ronson e sua guitarra com design inspirado na capa
A vista lá do alto deve estar ótima para Mark Ronson. Do topo das paradas, o produtor / compositor / DJ / guitarrista inglês colhe os louros do   sucesso do mega hit Uptown Funk, cantado pelo astro pop havaiano Bruno Mars.

De rachar o assoalho – como se dizia antigamente – Uptown Funk está em alta rotação nas rádios, serviços de streaming e TVs  do mundo.

Até mesmo em algumas estações da (erroneamente) autossuficiente Salvador é possível ouvir o hit, um funk pop lascado, de deixar Michael Jackson branco  de inveja (ops).

E é puxado pelo sucesso estrondoso da faixa que chegou ao mercado nacional Uptown Special, quarto álbum de Mark Ronson, no qual ele faz o que sabe melhor: reembala estilos e sonoridades musicais do passado em reluzentes arranjos contemporâneos.

E não foi nenhum jornalista quem disse isso. Foi o próprio Ronson, durante sua palestra no TED  (fundação americana dedicada à disseminação de ideias em Tecnologia, Entretenimento e Design - TED).

Disse Ronson: “Não se pode utilizar a nostalgia por atacado, isso causa uma sensação de enjoo no ouvinte. Você pega um elemento do passado e aí adiciona algo novo”.

É essa receita que ele segue desde seu primeiro grande sucesso, o multiplatinado LP Back to Black, que ele produziu e apresentou ao mundo Amy Winehouse  (1983-2011).

Turma boa

Em Uptown Special, gravado ao longo de 18 meses em quatro cidades, Ronson não fez por menos: se cercou de uma legião de gente talentosa para garantir o sucesso da empreitada – até por que seu último álbum antes deste, Record Collection (2010) não foi lá essas Coca-Colas todas.

E quem veio em socorro do bom Mark? Além do onipresente Bruno Mars, Stevie Wonder, Kevin Parker (band leader da cultuada banda australiana Tame Impala)  o rapper Mystikal, os cantores Andrew Wyatt, Jeff Bhasker, Keyone Starr, Trombone Shorty, Carlos Alomar (ex-guitarrista de David Bowie) e por aí vai.

A cereja no bolo é o romancista Michael Chabon (As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay), encarregado de escrever as letras. Um luxo, pois não?

Som limpo para as rádios

O resultado é um álbum que pode ser apontado como o Random Access Memories (álbum do Daft Punk que trouxe o hit Get Lucky) de 2015 – e deve certamente figurar nas listas de melhores do ano.

Com onze faixas, Uptown Special realmente cativa o ouvinte com um clima alto astral e uma boa diversidade entre os estilos das canções, indo dos anos 1960 (como em Summer Breaking) até a contemporaneidade (com Daffodils, a faixa mais abstrata do disco), passando pelas pistas de dança da década de 80 (I Can’t Lose).

Mas além das óbvias influências de R&B, psicodelia, soul, funk, disco e synth funk, fica claro o peso do estilo de gravação AOR (Album Oriented Rock) em Uptown Special: o som é limpo e em camadas, exatamente como se fazia na Califórnia nos anos 1970 e ainda hoje se ouve nas rádios.

Diante da pobreza franciscana da música pop atual, um cara de fato talentoso como Ronson faz a diferença e lança alguma luz em um cenário desanimador.

Uptown Special / Mark Ronson / Columbia - Sony Music / R$ 24,90






Faixa a Faixa

Mark Ronson, o dândi
Uptown's First Finale: Abertura climática. Do nada, entra a gaita inconfundível de Stevie Wonder. Parece que vai ser um belo dia

Summer Breaking: É uma manhã ensolarada na Califórnia. Embalada nesta bossa psicodélica na voz de Kevin Parker, fica ainda mais bonita

Feel Right: O sol está alto e o rapper Mystikal brinca – a sério – de emular James Brown neste funk. Hilário

Uptown Funk: É meio-dia, a hora mais quente. Bruno Mars e seus homies estão na rua, cantando e quebrando tudo enquanto alguém abre um hidrante pra refrescar a galera. Bruno parece cada vez mais com Michael Jackson, mas isso é coisa dele, ninguém se mete, tá?

I Can't Lose: A cantora Keyone Starr vem de lá com um synth funk que poderia ter sido gravado pelas Pointer Sisters em 1982

Daffodils: O sol começa a descer no horizonte e Kevin Parker sai da sombra com um funk pop tranquilão

Crack in the Pearl: O por do sol é o cenário perfeito para esta balada na voz de Andrew Wyatt

In Case of Fire: A noite chega na manha. Ligue o rádio e ouça o aviso: “Em caso de incêndio, quebre o vidro”, canta Jaff  Bhasker

Leaving Los Feliz: Kevin Parker entre a psicodelia e o easy listening

Heavy and Rolling: A noite na Califórnia é puro AOR. O pessoal da rádio está inspirado hoje

Crack in the Pearl, Pt. II: A gaita do Stevie quebra o silêncio da madrugada. Fim de festa, vão dormir, vão!

sexta-feira, abril 10, 2015

DESFILE DE DOIDÕES NÃO SALVA FILME DO TÉDIO ABSOLUTO

Estreia: Vicio Inerente, filme de Paul Thomas Anderson com Joaquin Phoenix, fracassa nas suas pretensões

Joaquin Phoenix como Doc Sportello : mais perdido do que cego em tiroteio
Existem filmes que tem tudo para dar certo, mas, por alguma razão (ou razões), fracassam. Vício Inerente (Inherent Vice),  nova película do cultuado diretor norte-americano Paul Thomas Anderson, leva essa categoria a um novo patamar.

É o Titanic (o navio) dos filmes que chegam cercados de altas expectativas, mas, que no fim, apenas afundam.

Diretor de clássicos contemporâneos como Boogie Nights - Prazer Sem Limites (1997), Magnólia (1999) e Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), PTA causou frêmitos de antecipação nos cinéfilos quando anunciou sua adaptação de Vício Inerente, o livro mais recente do também cultuado (e recluso) autor Thomas Pynchon.

Depois que escalou um terceiro nome cultuado – Joaquin Phoenix, com quem já trabalhou em O Mestre (2012) – para liderar um elenco estrelado, não havia mais dúvidas: esse filme só poderia ser o evento cinematográfico hipster do ano.

Só que foi pretensão demais para filme de menos. Vício Inerente é uma entediante sequência de cenas desconexas e desprovidas de interesse que leva tortuosas duas horas e vinte minutos para chegar a sua conclusão.

Paranoia e fim de festa

Martin Short (com Sasha Pieterse): de longe, a cena mais engraçada do filme
Na trama, ambientada na louca Los Angeles de 1970, acompanhamos o detetive particular e maconheiro compulsivo Larry Doc Sportello em uma investigação a pedido de sua ex-namorada, Shasta Fay Hepworth (a atriz Katherine Waterston).

Ela pede que Doc encontre seu atual, Michael Z. Wolfmann (Eric Roberts), um especulador imobiliário sumido, cuja esposa planejava, em cumplicidade com seu amante, jogar no hospício.

Na sequência, Doc é procurado por um ex-presidiário ligado aos Panteras Negras, que lhe pede que encontre seu ex-companheiro de cela, um neonazista. Daí Shasta desaparece também.

E aí tome-lhe personagem esquisito entrando e saindo de cena com Joaquin Phoenix: o policial branco de cabelo escovinha (Josh Brolin, ótimo), o informante do FBI infiltrado em seitas estilo Charles Manson (Owen Wilson), um dentista maluco viciado em cocaína (Martin Short, que protagoniza a única sequência realmente engraçada do filme), gueixas ninfomaníacas e hippies em geral.

A ambientação do filme é de fato interessante, recriando bem o clima de paranoia e fim de festa que assolou a Califórnia após os crimes do já citado Charles Manson.

Doc e sua atitude nada suspeita diante do tira de Josh Brolin. O que é que há, Doc?
Mas no fim, nada acontece de verdade, a trama não anda, o filme não “engrena”.

O setor da crítica que parece incapaz de falar mal de um filme do PTA justificou tudo com o velho blá blá blá de que a intenção do autor não era contar uma história, mas fazer uma metáfora do fim do sonho  paz & amor, um painel do pesadelo americano e até mesmo uma abordagem da especulação imobiliária de Los Angeles.

Pode até ser, mas ainda assim, o filme falha fragorosamente em atingir qualquer um desses objetivos com  diálogos desconexos, simbolismo sem força e roteiro entediante.

Vício Inerente / De  Paul Thomas Anderson / Com  Joaquin Phoenix, Josh Brolin,  Martin Short,  Benicio Del Toro, Reese Witherspoon / Em Cartaz na Cinema da Ufba

quarta-feira, abril 08, 2015

TROPICAL SELVAGEM LANÇA PRIMEIRO EP AMANHÃ NO CABARÉ DOS NOVOS

Lia Cunha, João Meirelles e Ronei Jorge: Tropical Selvagem
O colunista não tem meias palavras: sempre achou Ronei Jorge um dos maiores talentos da música baiana – seja ela mainstream, alternativa, periférica, o que for.

Desde a Mütter Marie (início dos anos 1990), passando pela Saci Tric (meados dos 1990) e pela fantástica Ladrões de Bicicleta (anos 2000), Ronei sempre demonstrou talento muito acima da média para criar canções e letras aparentemente intrincadas, mas absolutamente sedutoras e ferozmente autorais.

Agora ele põe essa habilidade toda a serviço do que talvez seja seu projeto mais ousado.

Inicialmente um duo com o multi-homem João Meirelles, agora um trio com a entrada da artista visual Lia Cunha, o Tropical Selvagem lança seu primeiro registro fonográfico com um show no Cabaré dos Novos (Teatro Vila Velha) nesta quinta-feira.

Autointitulado, o EP traz cinco faixas em que Ronei e João (Lia cuida do conceito visual do TS) retrabalham, à sua maneira, a ideia de canção, com resultados interessantes.

Artesanal e horizontal

“Eu estava fazendo uma trilha e João as fotos de um espetáculo de teatro. A gente se conheceu e eu pedi a ele para arranjar umas canções minhas. Quando ele retornou, achei muito autoral. Aí eu sugeri que gente fizesse uma dupla”, conta Ronei.

“Depois a Lia Cunha  acabou participando bastante das ideias e dando o contorno visual também de forma autoral. Aí entendemos que formamos um trio atípico, por que eu e João trabalhamos com música e Lia, com arte”, observa.

“Daí esse desejo de fazer o registro disso, no caso o EP, que contempla os três: minhas canções, os arranjos de João e o trabalho gráfico de Lia”, diz.

O disquinho do Tropical Selvagem sai em 250 cópias numeradas, com ilustrações impressas em serigrafia, criadas artesanalmente por Lia.

“É um trabalho muito cuidadoso, como se fosse uma coisa para ser guardada mesmo, como era com o vinil. Diferencia um pouco dessa relação descartável com a música de hoje em dia”, acredita Ronei.

Tanto no disco quanto nos shows, o trio conta com diversos colaboradores de responsa, que agregam muito ao projeto, como o guitarrista Junix (Juninho Costa), Rebeca Matta, Manuela Rodrigues e Carla Suzart.

“O trio acabou sendo uma plataforma de colaboração. A cada show tem um grupo diferente de artistas envolvidos – seja iluminadores, músicos, artistas visuais fazendo intervenções. Tudo agrega pra gente, é mais informação”, afirma.

“Isso tudo pra mim é bem novo, por que eu sempre trabalhei com banda fixa e especificamente com música. No caso do Tropical Selvagem temos outras linguagens envolvidas, é um lance bem horizontalizado”, conclui Ronei.

Show de lançamento do EP Tropical Selvagem / quinta-feira, 20 horas / Cabaré dos Novos, Teatro Vila Velha / Pague quanto quiser



NUETAS

Bahia Metal Festival no sábado

Sábado, o Alto do Andu vai se tornar o paraíso dos camisas pretas na edição 2015 do Bahia Metal Festival, com Mystifier, Voodoopriest (SP), Veuliah, Human, Suffocation of Soul e Overdose Alcoólica. R$ 40  (na Foxtrot) e R$ 50 (no show). Aliás, a produtora anunciou no seu site show em Salvador da cultuada cantora finlandesa Tarja Turunen (ex- Nightwish) para outubro. Ficamos na torcida.

I.F.Á. e os gringos

I.F.A. Afrobeat recebe os músicos Teekay Omoyele (Nigéria) e Laurette Perrin (França) em show na Commons. Sexta-feira, 23 horas, R$ 15.

quinta-feira, abril 02, 2015

PODCAST ROCKS OFF EM DOSE DUPLA: LANÇAMENTOS E BLUES - PARTE 2

As gatinhas maduras do Sleater-Kinney no podcast Rocks Off
Session de bate-papo e lançamentos do rock com Nei Bahia, Osvaldo Braminha Júnior e o blogueiro.

Rola Prong, Swervedriver, Joe Bonamassa, Wild Billy Childish, Jon Spencer Blues Explosion, Seasick Steve, Mark Ronson, Ringo Starr, Sleater-Kinney, Charles Bradley e o caralho (lá ele) a quatro.

Entre uma coisa e outra, as lamentações de sempre.






Segunda parte da aula (histórica e teórica, claro) do blues, por Nei Bahia e Osvaldo Braminha Júnior.



Bônus: Clipe de Autodidact, novo single do maravilhoso Swervedriver.


CENÁRIO SEM SAÍDA

Debate: Crise do Circuito Sala de Arte e dificuldades do Café-Teatro Rubi evidenciam que pouco ou nada muda na cena cultural em Salvador enquanto o próprio público não tomar a frente dessa luta

Sala de Arte Shopping Paseo. Foto Mila Cordeiro / Agência A Tarde
Notícia velha: o Circuito Sala de Arte está ameaçado de fechar por falta de patrocínio.

Notícia nova: o Café-Teatro Rubi, a belíssima casa de espetáculos do Sheraton da Bahia Hotel, passa por dificuldades e pode não durar mais um ano.

A essas duas notícias acrescente-se a lembrança dos cinemas de rua varridos do mapa pelos multiplexes, o monumental Cine Jandaia destruído, o Teatro do ICEIA fechado, o Theatro XVIII fechado, os teatros ACBEU e ICBA prejudicados pela falta de estacionamento... Se puxarmos mais pela memória, corremos o risco de ficar deprimidos.

Por outro lado, há o Teatro Jorge Amado, que ameaçado de fechar durante muitos anos, foi adquirido pelo governo do estado (por R$ 12,7 milhões) e ainda pode ser convertido em um novo Centro Cultural da Caixa Econômica Federal.

Através de sua assessoria de imprensa, a SecultBA esclarece que está em "diálogo com a Caixa Econômica Federal para o funcionamento, no espaço, de um centro cultural. O projeto inclui, além do teatro, uma galeria para exposições, salas para acervo de fotografia, laboratórios e escritórios dedicados às culturas digitais e à fotografia, bem como salas para atividades de formação".

"A proposta prevê, ainda, a conclusão da construção de duas salas de cinema localizadas no piso térreo do prédio. No momento, o processo encontra-se em fase de análise pela Caixa Cultural", conclui a nota enviada ao Caderno 2+.

Ex-diretora do TJA e atualmente na direção da Fundação Cultural do Estado (Funceb), Fernanda Tourinho experimenta agora estar do outro lado do balcão.

E pelo jeito, está a vontade: "Como gestora pública, é nosso papel ter o entendimento do panorama cultural e conseguir enxergar o mercado, seus entraves, dificuldades e soluções, para que (os espaços) possam ter uma continuidade", afirma.

"Isso não necessariamente significa que o estado tenha a obrigação de resolver toda e qualquer questão de agentes culturais, por que tem coisas que são particulares, que tem uma estrutura que vem funcionando sem a intervenção estatal", acrescenta.

Por isso, Tourinho acredita que "o Circuito Sala de Arte estava lá por tantos anos. Aí quando não dá certo, não é que o governo não fez nada. Mas vamos analisar o mercado e como podemos dar seguimento a política cultural voltada para o cinema", diz.

Teatro Jorge Amado. Foto retirada do site do TJA
Sobre o desenlace do Teatro Jorge Amado, a frente do qual esteve por tantos anos, ela observa que "Nunca disse que o governo era responsável pelo TJA ir a leilão. Nunca disse que era culpa do governo. Mas pedi que me ajudasse, que não deixasse fechar. E isso o governo fez".

Já a prefeitura municipal recuperou a Casa do Benin, o Espaço Cultural da Barroquinha e, em breve, o Teatro Gregório de Mattos.

"Salvador ganha e perde: estou entregando duas casas (Benin e Barroquinha)", observa o diretor de teatro Fernando Guerreiro, atualmente na presidência da Fundação Gregório de Mattos, órgão da Prefeitura Municipal.

Sobre a crise do Circuito Sala de Arte, Guerreiro diz estar "estudando soluções desde que o assunto foi a público. Só que esa solução envolve a criação de um novo mecanismo", diz.

"Não dá pra apoiar assim. Tem que ter toda uma justificativa burocrática. Estamos buscando uma solução com Marcelo (de Sá, administrador do Circuito Sala de Arte)", afirma.

Sejamos francos: a vida em Salvador nunca foi fácil para quem não se interessa apenas por Carnaval e grandes eventos entupidos de gente. Leia-se quem se interessa por cultura de formação, ou seja: teatro, cinema não-hollywoodiano, artes visuais, música para ouvir, literatura etc.

Há alguns dias, o dramaturgo Gil Vicente Tavares cravou algumas verdades amargas sobre Salvador em um texto (recomendadíssimo) no site Teatro Nu: "Algumas salas de cinema do Circuito Sala de Arte estão para fechar, e sabe o que isso significa pra Salvador? Absolutamente nada", escreveu, no texto intitulado "Sobre salas que se fecham para a arte".

"Fechar três ou quatro salas de 'cinema de rua' é algo tão natural quanto os teatros que viraram churrascaria, os cinemas que viraram igrejas evangélicas, e outros tantos cinemas e teatros que estão fechados, em ruínas ou abandonados", acrescenta.

"Gil foi felicíssimo", concorda o ator e cantor Diogo Lopes. "A gente tem um Carnaval imenso. Aí vem a prefeitura e faz um maior ainda – mais não sei quantos dias de reveillon, não sei quantos dias de aniversário da cidade e por aí vai", observa.

"Tudo nababesco, por que tem que ser essa política populista, sem nenhum efeito transformador. Mas a cultura do dia a dia, a cultura de formação, de desenvolvimento humano – essa fica em último plano", vê.

A verdade é que Salvador é uma cidade de três milhões de habitantes que não consegue manter casas de perfil não-comercial abertas por muito tempo, não consegue manter um circuito de cinemas de arte apenas com o dinheiro dos ingressos, não consegue trazer shows internacionais relevantes no ritmo que uma cidade do seu tamanho deveria – não consegue, enfim, fazer o grosso de sua população (em todas as classes sociais, diga-se de passagem) se interessar por algo mais além de praia/futebol/festa/shopping.

As razões para tal desinteresse pela arte e pela cultura é óbvia: a má educação legada pelo sistema escolar baiano – público e privado.

Claro que nem tudo está perdido. Marcelo de Sá afirma estar "otimista" em sua "campanha para o patrocínio do Circuito".

"Com a saída da Vivo (patrocinadora de duas salas no Shopping Paseo), estou buscando patrocínio para o circuito todo. E estou muito otimista. Por que na hora que você tem um produto que é querido e aceito pela sociedade, ela se mobiliza pela sala. Isso é bonito, não posso deixar de agradecer e de me honrar por um projeto como esse", acrescenta Marcelo.

Café-Teatro Rubi. Foto retirada do site da casa
Já Eliana Pedroso, proprietária do Café-Teatro Rubi, casa inaugurada em outubro de 2013 e que tem recebido uma excelente programação musical voltada ao jazz e a MPB, conta que o lugar é "uma iniciativa privada minha, um projeto meu, investimento meu em parceria com o Sheraton".

"As pessoas identificam o Rubi como um espaço de alta qualidade técnica, com infraestrutura profissional, glamouroso, até. É um lugar bacana, que Salvador merece e é importante, por que atinge um segmento de público mais maduro, já que o perfil médio de Salvador é muito jovem", observa.

Diferente de Marcelo, que de certa forma teve sua causa abraçada pelos ativistas de Facebook, a de Eliana é mais complicada: "Precisamos de um mantenedor. Se não tivermos um mantenedor até o fim do ano, o Rubi não se mantém", avisa.

"A verdade é que a gente vive numa cidade onde a sociedade é muito pouco cuidadosa com a cultura", reflete. "Falo sobre isso sempre no Rubi, sobre a responsabilidade do público, pois a cultura é um fator importante na construção da cidadania, na credibilidade de uma cidade. Se ela tem credibilidade, ela atrai investimento e aquece sua economia, mas o baiano investe pouco nisso, pois não se considera responsável. Ninguém se interessa", diz.

Nisso, ela e Marcelo concordam: "Eu vejo que temos que estudar um pouco mais, participar das discussões. Temos que nos aproximar das leis. A gente é que diz como tem que ser o governo", acredita o segundo.

"O problema é que só delivery não dá. Tem que descer para o playground. Ninguém quer descer para a reunião de condomínio. Nosso papel começa na nossa casa. Arte, cultura e educação andam juntas. Não dá pra fazer educação sem cultura, por que o cultura é o lúdico na educação, e educação é a única salvação", proclama Marcelo.

"Precisamos ser definitivos: não existe sociedade sem cultura. Se a cultura morre, estamos mortos também", reivindica.

Do seu lado, Fernando Guerreiro lembra que há ações em favor dos espaços culturais. "Todo o trabalho da Fundação é estruturante", afirma.

"Estamos reformando o Arquivo Público e entregando de volta a Casa do Benin, o Espaço Cultural da Barroquinha e, no fim de abril, o Teatro Gregório de Mattos, formando um corredor cultural", enumera.

"Temos 110 projetos da segunda leva de editais. Também começamos o processo eleitoral do Conselho de Cultura e já temos o Conselho de Patrimônio trabalhando", conta.

Espaço Cultural da Barroquinha. Foto site FGM 
Guerreiro também chama atenção para uma questão do outro lado do balcão: "A gestão dos espaços culturais tem que se profissionalizar mais.  Temos hoje na Bahia três grandes gestoras: Vadinha Moura (Teatro Módulo), Fernanda Tourinho e Eliana Pedroso. É pouco. É preciso cada vez mais profissionalizar essa gestão", afirma.

Falando pelo governo do estado, o secretário Jorge Portugal – via assessoria de imprensa – admite que "existe uma especificidade na manutenção desses espaços, que envolve custos elevados, inclusive por conta de equipamentos e serviços específicos, como no caso das salas de cinema, por exemplo".

"Nem sempre, a bilheteria, por si só, consegue ser suficiente para cobrir esses custos. Por isso, são importantes as iniciativas de apoio a esses espaços por parte do poder público e também de instituições privadas", observa.

Foi para lidar com esse tipo de situação que a SecultBA criou, ainda em 2012, o Programa de Apoio a Ações Continuadas de Instituições Culturais.

"Atualmente, 15 instituições da área cultural recebem um investimento de mais de R$ 16 milhões para um apoio continuado por três anos. Entre elas, estão o Teatro Vila Velha, Fundação Casa de Jorge Amado, Fundação Pierre Verger, Teatro Gamboa Nova, Fundação Museu Carlos Costa Pinto, Academia de Letras da Bahia e Teatro Popular de Ilhéus", explica.

Infelizmente, isso não resolve tudo. Mesmo algumas dessas instituições apoiadas passam por dificuldades, até por que há atrasos nos repasses. E a situação é ainda pior para as que não recebem apoio governamental.

A conclusão é óbvia: se o governo não pode (nem deve) dar conta de tudo e o empresariado local não se sensibiliza, é a sociedade – os cidadãos – que precisam participar desse processo.

Para tentar sensibilizar os empresários locais, algumas palavras de incentivo: "Hoje a maioria dos teatros no eixo Rio-São Paulo tem bandeiras de patrocinadores por que são raras as casas que  conseguem se manter sem (patrocínio). Só que aqui em Salvador o empresários tem dificuldade do entender que esse investimento de médio a longo prazo é muito vantajoso", afirma Fernando Guerreiro.

"É importantíssimo que esses potenciais patrocinadores abram os olhos para essa marca que permanece (nas fachadas das casas de espetáculo), muito além de qualquer evento", exorta.

No estado da Bahia, há o mecanismo de renúncia fiscal do Fazcultura, no qual o empresário pode direcionar uma parte do seu imposto (ICMS) para patrocinar uma iniciativa cultural, seja ela uma casa, um livro, uma peça, um disco etc.

"A doação através de renúncia fiscal é feita via Fazcultura e não pode ser direta. Para que um patrocínio seja efetivado, o projeto cultural precisa ser aprovado pela Comissão Gerenciadora do Fazcultura e o patrocinador precisa ser considerado habilitado pela SEFAZ a patrocinar o projeto na quantia que se propõe a investir. As inscrições no Fazcultura devem ser abertas no mês de abril. Os interessados terão acesso ao cronograma e às instruções para se inscrever no site da Secult: www.cultura.ba.gov.br", instrui o professor / secretário Jorge Portugal.

Pessoas físicas também podem doar uma porcentagem do seu imposto a pagar para a iniciativa cultural da sua preferência. A diferença é que esse mecanismo é federal e não estadual.

"Pessoas físicas podem obter abatimento, com limites, no imposto de renda, para organizações autorizadas pela Lei Rouanet. Nesse caso é tratado como doação", acrescenta a nota da SecultBA.

Caso você, leitor(a) queira contribuir para manter aberto o seu teatro / cinema / casa de show / biblioteca etc preferido em dificuldade, procure se informar no site do Ministério da Cultura.
 seu imposto ajuda sua iniciativa cultural

Pessoa jurídica: Empresas podem patrocinar com até 20% do ICMS, via Fazcultura

Pessoa física: Você pode doar de parte do seu imposto. A instituição deve estar cadastrada na Lei Rouanet. Veja site do MinC

Arena Fonte Nova é equipamento pronto, mas os shows não vem

A galera chegando para o show do Eltão. Foto do site da Arena Fonte Nova
Outra fonte de frustração para quem esperava uma Salvador menos provinciana no século 21 tem sido a Arena Fonte Nova.

Vendida como o grande legado do torneio mundial de futebol realizado no Brasil ano passado e adotado por uma cervejaria, o novo estádio (ou arena multiuso) é um equipamento pronto para receber na cidade shows internacionais de primeira linha.

Mas, por enquanto, parece que esse verão foi de uma andorinha só: Elton John, em fevereiro de 2014. De lá para cá, o estádio abrigou shows de DJs internacionais, Ivete Sangalo, Roberto Carlos, formaturas, eventos de empresas e shows médios (Playing For Change, Paulo Gustavo) na chamada Praça Sul, um palco menor – o que é legal, OK.

Mas é muito pouco. E, pelo que diz Claudio Najar, diretor comercial da Arena, não devemos nos animar tão cedo: “Não consigo dizer por que os empresários locais não se interessam em patrocinar grandes shows na Arena”, diz.

Longe de dar prejuízo, a Arena vive de eventos, mas para assistir shows como Paul McCartney (habitué no Brasil há anos) ou Foo Fighters, o baiano ainda precisa pegar um avião.

“Já vimos que para shows internacionais vamos ter de buscar dinheiro fora da Bahia. Se depender do empresariado local, não teremos uma resposta tão rápida”, diz Najar.

“Mas se houver produtores que queiram correr o risco conosco, vamos apostar, por que a gente sabe que o público responde quando trazemos uma atração interessante, como aconteceu no show do Elton John”, lembra.

quarta-feira, abril 01, 2015

ORQUESTRA REGGAE DE CACHOEIRA HONRA A TRADIÇÃO FILARMÔNICA E REGGAE DA CIDADE

Toda segunda e sexta tem ensaio aberto da ORC no Hansen Bahia
Joia do Recôncavo, a cidade de Cachoeira é um celeiro de talentos da música.

Centro da cena do reggae baiano, ela já nos legou nomes importantes como Edson Gomes, Sine Calmon e Nengo Vieira, entre outros.

É nessa tradição que vem de lá agora outra bela surpresa: a Orquestra Reggae de Cachoeira, uma iniciativa do maestro local Flávio Santos.

Criada em 2012, a ORC une a riqueza da música reggae em belos arranjos orquestrais com ação social, pois seus músicos são jovens da cidade que aprendem a tocar seus instrumentos com o maestro.

E pensar que até 2012 Flávio sequer lia partituras. Ex-músico de Sine Calmon em sua banda Morrão Fumegante, Flávio já atuava na centenária Orquestra Filarmônica Lyra Ceciliana.

“Mas sempre sonhei em ter um grupo instrumental e atuar como maestro”, conta.

“Eu era só um trompetista que malmente lia a partitura. Foi por meio do incentivo do Secretário de Cultura de Cachoeira, José Luis Bernardo, que comecei a estudar”, diz.

Através de uma bolsa da Funarte, Flávio estudou Técnicas de Bocais em Mariana (MG). De lá foi para o Rio, onde cursou Regência na UFRJ. E do Rio partiu para Aracaju, onde estudou Composição e Arranjo.

“Quando voltei, comecei a ensinar as crianças e jovens da cidade – e a aprender com elas também”, afirma Flávio.

Flávio descobriu que a divisão 4X4 das marchas de filarmônica é a mesma batida do reggae. "O que me inspirou mesmo foram as filarmônicas e os artistas locais como Edson Gomes, Sine Calmon, Nengo Vieira e a família (da banda) Remanescentes", afirma.



Facilidade com crianças

Disciplina e boas notas na escola são exigências para participar da ORC 
Entre a ideia e realização, coisa de três anos se passaram.

“Realmente, tudo aconteceu muito rápido. Mas tive também uma boa orientação da (produtora) Débora Bittencourt ao trabalhar com as crianças”, conta.

“De início,  eu só queria trabalhar com músicos profissionais, mas Débora teve essa ideia por que  viu que eu tinha facilidade de ensinar às crianças. Agora temos alunos até com mais de 40 anos de idade”, revela Flávio.

"Estamos nos estruturando ainda por aqui. Por enquanto vamos mostrando nosso trabalho por aqui, mas vou tentar um edital (de circulação) para rodar a Bahia – e depois rodar o mundo. A ORC é um projeto social, quero rodar com as crianças para evitar de ir para o caminho errado. Música é vida, saúde. E nosso trabalho se pauta pelo máximo de respeito a música e aos músicos. E tem que ter nota boa no colégio para participar. A nossa disciplina é rigorosa, acho que é importante. O pessoal reclama um pouco de minha disciplina por que fui do exército, mas desde o começo nenhum músico saiu do orquestra. Pelo contrario, tem muita gente querendo entrar. E temos vagas, ainda. Interessados podem se inscrever", relata.

No momento, a ORC já conta com 25 músicas no repertório, ensaiado todas segundas e sextas-feiras no Espaço Cultural Hansen Bahia (Quarteirão Leite Alves), às 19 horas. Vai lá, que é aberto – e lindo.

Após muito ensaiar, a ORC tem feito concertos pelo Recôncavo e cidades próximas. Breve, vem à Salvador.

No site do ORC já tem quatro músicas gravadas para quem quiser ouvir, de Sine Calmon a Pixinguinha, passando por Bob Marley e Gregory Isaacs. Uma beleza, recomendo.

"Gravar essas musicas foi o maior sufoco, por que foi no estúdio de jornalismo da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), que não é de gravação, né? Mas saiu legal e queremos agradecer ao coordenador do estúdio, o professor Danilo Baratta. E sim, queremos gravar um álbum completo, mas para isso precisamos de apoio, né? Pretendemos gravar, sim", conta.

Ouça: www.orquestrareggae.com.br



NUETAS

Kisser Clan@Groove

Liderado pelo guitarrista Andreas Kisser, a banda Kisser Clan aporta em Salvador para apresentação única no Groove Bar. Projeto paralelo do membro do Sepultura, o KC conta com seu filho  Yohan dividindo os solos. No repertório, clássicos do metal. Dia 10 (sexta- feira), pague R$ 40 até hoje. Amanhã vira para R$ 50.

Eflúvios psicodélicos

A noite de sábado no Rio Vermelho será tomada pelos eflúvios psicodélicos sessentistas das bandas locais Van Der Vous e A Flauta Vértebra. Pinta lá, que vai ser um barato, bicho. Dubliner’s, 22 horas, R$ 10