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terça-feira, setembro 30, 2014

MULTI-INSTRUMENTISTA E FUNDAMENTAL

Residente em São Paulo, o músico baiano Ordep (ex-Utopia e Lampirônicos) lança primeiro CD solo

Ordep Lemos em 2014. Foto Dadá Jaques
Para ser interessante e saudável, um bom cenário cultural se alimenta de gente criativa, inquieta, incansável e versátil.

O músico baiano Ordep Lemos reúne todas essas qualidades – e o fato dele viver em São Paulo desde 2006 nos diz muito sobre o cenário musical de Salvador.

Multi-instrumentista, Ordep é nome fundamental no desenvolvimento da cena roqueira local desde a década de 1980, quando foi um dos fundadores da banda Utopia, uma das melhores da cidade no período.

Entre os anos 1980 e 90, Ordep passou por bandas importantes para o rock baiano, como a própria Utopia, Treblinka, Saci Tric, Orelha de Van Gogh e, finalmente, Lampirônicos, com a qual atingiu notoriedade nacional e excursionou pelo Brasil e Europa em diversas ocasiões.

Agora, depois de oito anos morando e trabalhando em São Paulo – inclusive como baterista de Kiko Zambianchi por seis anos –, Ordep dá vazão ao material que veio criando durante todo esse período no seu primeiro álbum solo, autointitulado.

Ordep, o disco, é um prosseguimento fidelíssimo ao seu trabalho em suas bandas mais tardias, como Orelha de Van Gogh e Lampirônicos: pesado e sacudido, com o pé no terreiro e a cabeça no mundo, dialogando forte com a tradição afrobrasileira e o rock mais moderno.

Ordep ao vivo em SP. Foto por Ricardo Maizza
“Venho com esse trabalho desde 2006, quando  vim em definitivo para São Paulo. Já tinha umas três músicas, aí fui lapidando e compondo com Tony Alves, meu produtor”, conta Ordep.

“Olha, tô bem satisfeito e feliz, por que  não é fácil conseguir apoio para um trabalho como esse. Rolou  via edital do PROAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), com patrocínio da Ambev”, relata.

No disco, Ordep expressa sua visão do mundo, sua fé na religião de matriz afrobrasileira e também um pouco de sua vida em letras de teor autobiográfico.

“Falo um pouco de preconceito, e não só religioso. Falo de problemas sociais e da minha trajetória de vida, minha chegada em São Paulo“, conta.

"Comecei aqui em SP com o MATA (Música, Atitude e Arte), com Anderson Costa e Marcelo Magal, baixista do Biquíni Cavadão, que toca comigo desde o início do projeto. Já foram da banda Surto e do Rodox. Aí venho com essa galera fazendo alguma coisa desde ensaios e pré-produção de algumas musicas. Magal tem um estúdio em Perdizes e aí surgiu a oportunidade do edital. Só que eu nunca me imaginei mesmo fazendo todas essas músicas sozinho, eu nunca pensei em carreira solo, botar meu nome na frente. Mas aí apareceu essa oportunidade desse edital que exigia que o projeto fosse de artista solo. Aí eu assumi a frente do projeto", detalha.

"Eu sempre vivi de musica, tinha um estúdio em Ondina. Só que o que eu gosto mesmo é palco. Tocar, viajar, ensaiar, compor. Mas tava muito difícil de viver disso por aí", relata.

"Mesmo com os Lampirônicos, que teve uma projeção, fomos para grandes festivais na Europa, com todo muando ansioso com o sucesso da banda... e não aconteceu. Fiquei muito desgostoso de um cenário assim. Salvador não tem essa estrutura que SP tem, de poder viver de música. Tudo acontece aqui, tem tudo aqui. Salvador continua muito restrita para bandas que não são do circuito da axé music. Aqui, assim que cheguei, comecei a tocar com Kiko Zambianchi. Toquei sete anos com ele e há dois anos entrei nessa produtora de áudio, aonde tenho contato diário com todos os instrumentos que eu toco: bateria, baixo guitarra, violão, e já aprendi até o ukulele com os jobs (trabalhos) que aparecem", continua Ordep.

Ordep no Treblinka (2º à esq.). Fonte: bandatreblinka.blogspot.com.br
Desde criancinha

Nascido em 1971, este soteropolitano começou na música ainda menino.
“Desde criancinha, mesmo. Meu pai fala que desde os dois ou três anos eu já acompanhava qualquer música no ritmo certinho. Aí ele começou a me incentivar, me  dava tamborzinho, sabe?”, conta.

Aos cinco anos, ganhou seu primeiro violão. Como era muito pequeno, o pai lhe deu um cavaquinho.

Aos 11, começou a estudar em escolas de música e foi numa dessas que conheceu Robertinho Barreto, seu futuro parceiro nos Lampirônicos.

“Aí vi o AC/DC no primeiro Rock in Rio. Pirou o cabeção, né?”, ri.

Logo estava formando banda com amigos. “Peguei uma guitarra e uns amigos deixaram um baixo e uma bateria lá em casa por uns três anos. Aprendi tudo junto, ao mesmo tempo”, diz.

Já em 1986 formou a Utopia com o hoje professor de arquitetura André Lissonger. Em 1989, com a antológica coletânea em LP Rock Conexão Bahia lançada, a música Nosso Tempo tocou bastante em rádios.

"Comecei o Utopia com André Lissonger. A gente formou a banda em um show da Plebe Rude no Teatro Vila Velha, em 1986. Foi aquele papo: 'eu curto rock', 'eu toco guitarra', 'vamos fazer uma banda', 'vamos'. Uma semana depois começamos a compor junto. Eu com uns 14 para 15 anos. Gravei no Rock Conexão Bahia com uns 17 anos. Nessa época, o jabá não era tão forte, e tinha uma galera de rádio que ajudava. Na época, era uma emoção absurda ouvir sua música tocando na rádio”, conta.

“Era legal demais, a galera cantava as músicas, os shows lotavam, cara”, lembra.



"Mas gravei com um monte de gente, vivia tocando em gigs e gravando. Na verdade eu já tocava na Treblinka também. Gravei cinco musicas minhas no (clássico álbum em LP) Indução Hipnótica (1990) do Treblinka, que teve várias formações. Na última, eu cantava e tocava guitarra. Aí depois acabei a Treblinka e toquei na Orelha de Van Gogh com Dadá Jaques, Ricardo Fasani e Iuri Bonebreaker. Foi meu ultimo trabalho nesse período que eu encabeçei. Nesse meio tempo entrei no Saci Tric, que ensaiava no meu estúdio e gravei o disco Ao Vivo No Teatro XVIII. Ai veio Vince e me chamou para O Cumbuca eu entrei também. Era Orelha, Saci e Cumbuca, três bandas ao mesmo tempo. Foi quando Betinho e Bau me convidaram para fazer o projeto do Lampirônicos. O esqueleto foi todo projetado no meu estúdio", narra Ordep.

Lampirônicos original, com Ordep (1º esq.) e Roberto Barreto (penúltimo à dir.) 
"É estrada, né? Hoje vou muito pouco a Salvador, infelizmente. E quando vou, é na correria. Fico sabendo daí pelos amigos e redes sociais. Tem a Maglore, que tá aqui em SP. Gostei do trabalho deles e tudo, achei bem feito. Um pouco Los Hermanos e tal, mas é isso aí. A Cascadura veio pra cá há alguns anos, passou um tempo. Gosto bastante. Vejo que tem esses espaços novos aí, o Irish, o Portela, o Commons. Mas não sei como está a coisa do público, se a galera consegue viver disso. Acho que isso ainda não rola, né?", pergunta-se.

No fim da década de 1990, reuniu-se com o velho amigo Robertinho Barreto nos Lampirônicos, banda com a qual gravou dois álbuns em gravadora major (Sony) e rodou o mundo.

Infelizmente, nem com toda essa moral, Salvador foi capaz de absorver a banda.

“Foi basicamente desânimo”, conta Ordep. “A Sony também abriu mão da banda, alegando prejuízos com a pirataria, que era muito forte na época, mas o clima entre os membros também já não era bom”, lembra.

Depois de um ano em São Paulo, a banda volta a Salvador e toma um balde de água fria.

Lampirônicos com Vince à frente. Ordep é o penúltimo a esquerda
“Passamos um ano em SP. No fim desse ano, tava todo mundo doido para voltar pra Bahia. A banda não tava gerando tanta atividade assim. Começamos a ficar preocupados com a questão financeira, até por que era a Sony que bancava o aluguel. Como não aconteceu como achamos que ia acontecer, isso abalou o grupo. Aí a volta para Salvador deu uma esfriada. Niquima saiu, Vince entrou e ainda fizemos duas turnês pela Europa com ele. Deu uma levantada no astral, mas aí voltamos para Salvador e nos vimos tocando nos mesmos lugares, sem possibilidade de crescer. Sem querer voltar para o Rio e São Paulo, ficamos meio acomodados. Aquela vontade mesmo de botar para frente desanimou. Foi saindo um, depois outro, eu saí. Ainda durou um tempo com Roberto e Vince. Quando Robson (de Almeida, percussão) saiu, eu disse: 'Bicho, acaba logo isso aí'. Já não tem quase ninguém da formação original, a proposta já tinha acabado. Aí a banda finalmente acabou”, relata.

Hoje, Ordep é um músico muito bem sucedido: trabalha em uma das maiores produtoras de áudio de São Paulo. “Amo meu trabalho, mas o que eu gosto mesmo é de palco”, diz.

Em tempo: no dia 29 de novembro Ordep e sua banda aportam na city para um show de lançamento do seu álbum, no palco do Teatro Acbeu (Corredor da Vitória).


Experiência que faz a diferença

O baiano Ordep (Utopia, Lampirônicos) surpreende em belo álbum solo que soa coerente com sua trajetória e aponta novos caminhos entre o rock e as sonoridades afro brasileiras. Peso e suíngue (Eu Vou Pro Mato, Crer Para Ver), mas também belas melodias (Alafiá, E Você). Ordep / Ordep / Comando S / R$ 20,90. Link Tratore. Ouça no Deezer: http://www.deezer.com/album/8235662

quinta-feira, setembro 25, 2014

MICRO-RESENHAS VIRADAS NO ESTUPOR

Sidney tremeu

Muito antes de estourar mundialmente e engordar a formação com um monte de músico contratado, o The Black Keys se resumia a dois caras num palco: Dan (guitarra) e Patrick (bateria). Neste DVD ao vivo de 2005, eles quebram tudo  em um teatrinho de Sidney. Showzaço de rock ‘n’ roll: cru e na veia. The Black Keys / Live / Deck /  R$ 43,90














Olhando para frente, sem esquecer o passado

Cheio de guéri-guéri, ligeiramente desequilibrado, prodigioso: em seu segundo álbum solo, Jack White chuta o balde com força em várias direções, acertando quase sempre. Seu grande mérito é levar o rock  adiante: respeitando o cânone, mas com ousadia e irreverência. Jack White / Lazaretto / Sony Music / R$ 24,90









A grande inauguração do gran piano

Pianista referência da música brasileira, Antonio Adolfo inaugura aqui o gran piano adquirido pela Deck Disc para equipar seu estúdio recém- reformado. O resultado é encantador, com o mestre demonstrando sua imensa musicalidade em repertório de clássicos da MPB. Uma aula. Antonio Adolfo / O piano de... / Deck / R$ 29,90









Cantando, brincando e aprendendo

A violonista virtuose e cantora Badi Assad investe na música infantil e cria belíssima coleção de canções cheias de ternura, que educam divertindo. A ideia do CD é retratar um dia em casa, com canções sobre acordar, escovar os dentes, comer e claro, brincar. Badi Assad / Cantos de Casa / Tratore / R$ 25,90








Pivete interdimendional

Primeiro volume de uma trilogia, esta série de Neil Gaiman (Sandman) e Michael Reaves acompanha as aventuras de Joey, um garoto que consegue se perder até dentro de casa. Um dia, Joey descobre que é capaz de andar entre dimensões e mundos paralelos. Claro que alguém vai persegui-lo por isso. Entremundos / Neil Gaiman e Michael Reaves / Rocco Jovens Leitores / 248 p. / R$ 29,50 / rocco.com.b






O domínio do comércio e seus resultados

Muito citado, o trecho mais interessante do soneto que se inicia com “Triste Bahia! Oh quão dessemelhante” é assim: “A ti tocou-te a máquina mercante / Que em tua larga barra tem entrado / A mim foi-me trocando e tem trocado / Tanto negócio, tanto negociante”. Como se vê, a Bahia não muda. Gênio. Reunião de poemas / Gregório de Matos / BestBolso / 240 p. / R$ 18 / record.com.br







Indígena e naïf

Iara, a poética mãe d’água, quem diria, tem uma história de origem bem trágica, envolvendo fratricídio. Nesta HQ de traços ligeiramente naïf e colorido encantador, o quadrinista Silvino confere à narrativa um ritmo ágil e moderno, partindo de nosso bom e velho folclore indígena. A Iara: Uma lenda indígena em quadrinhos / Silvino / Nemo / 56 p. / R$ 42 / editoranemo.com.br







Paixonei. E agora?

Casal rico e entediado no campo recebe a visita de outro casal, mais jovem e espevitado. Um dos maiores clássicos do romantismo, aqui Goethe se inspirou em sua própria e atribulada vida sentimental. Um tratado sobre a inevitabilidade das paixões. As Afinidades Eletivas / J. Wolfgang von Goethe / Penguin - Companhia/ 328 p./ R$ 29/ E-book: R$ 20,50/ companhiadasletras.com.br







Agora com a galera da TV

Terceiro livro da celebrada série de HQ e TV, aqui finalmente aparecem seus personagens mais famosos (Rick, Michonne etc). Dividida em duas partes, conta sob outra ótica, a queda do terrível Governador, líder da comunidade de Woodbury. Sangue, vísceras, o horror de sempre. The Walking Dead - A Queda do Governador - Parte I / R. Kirkman e J. Bonansinga / Galera / 266 p. /  R$ 35 / galerarecord.com.br





Calangos azuis e hiperativos

A ativíssima banda local Callangazoo solta mais um EP com três faixas: Surpresa, Tereza e Lições do Slackline. As três são legais, mas a melhor é a última, uma bela balada em midtempo com direito a parapará e letra filosófica. Callangazoo / Surpresa / Independente / Baixe: www.soundcloud.com/callangazoo









Acidez e engenho

Na entressafra entre um CD e outro, Baia solta compacto virtual com duas faixas: Do Romantismo à Roma Antiga e Meu Facebook is on The Table. Em ambas, a acidez do letrista engenhoso: “Um CTRL+C e CTRL+V pra falar o que se pensa sem pensar no que dizer”. Baia / Do Romantismo a Roma Antiga / Som Livre / US$ 0,99 (iTunes, por faixa)








Melhor que A Estranheza

Bem melhor que o álbum de retorno dos Stooges (The Weirdness, 2007), este Ready to Die deve ser o – enfim – o canto do cisne da banda, já que o batera Scott Asheton morreu pouco depois das gravações, em março. Iggy Pop, como sabemos, é imortal, obrigado. Nota 8. Iggy & The Stooges / Ready to Die / Deck / R$ 29,90









É que a patroa ainda tava viva...

Doze gravações de Johnny Cash dos anos 1980, engavetadas desde então, compõem este belo álbum póstumo do Man in Black. Levadas no country rock, trazem o mestre mais leve e bem humorado do que em seus últimos trabalhos. Que bom ouvi-lo de novo. Johnny Cash / Out Among the Stars / Sony Music / R$ 24,90









Zumbis brasucas

Primeira série de livros de zumbis brasileira, As Crônicas dos Mortos teve seu primeiro volume, O Vale..., lançado há pouco. Após a aproximação de um estranho corpo celeste da Terra, 2/3 da população mundial desmaia. Quando levanta,  é com muita fome. Ação e terror. O Vale dos Mortos / Rodrigo de Oliveira / Faro/ 320  p. / R$ 34,90 / E-book: R$ 19,90 / www.faroeditorial.com.br








Refresco sabor esquerda

Em seu número 22, a revista de artigos Margem Esquerda traz dossiê do golpe de 1964, entrevista com Luiz Alberto Moniz Bandeira, textos de István Mészáros, Michael Löwy e Caio Prado Júnior, entre outros. Uma leitura refrescante para quem não aguenta mais a lavagem cerebral dos colunistas da Veja.   Margem Esquerda 22 / Vários autores / Boitempo / 162 p. / R$ 28 / www.boitempo.com






O roteiro voltou como romance

Em 1968, o diretor George Romero e o roteirista John Russo inauguraram  era dos zumbis canibais no cinema com o hoje clássico em P&B A Noite dos Mortos-Vivos. No livro, Russo romanceia o próprio roteiro, com resultados arrepiantes. De quebra, a continuação A Volta dos Mortos-Vivos, nunca filmada. A Noite dos Mortos-vivos / John Russo / DarkSide / 320 p. / R$ 39,90 / Capa dura: R$ 59,90 / www.darksidebooks.com.br








Mitologia pop a fundo

Surfando na super lucrativa onda de super-heróis no cinema, o trio de pesquisadores chega ao terceiro volume desta série, enfocando Superman, Motoqueiro Fantasma, Wolverine e Homem de Ferro. Ricamente ilustrada, as pesquisas vão fundo nas mitologias dos personagens. Quadrinhos no Cinema 3 / A. Callari, B. Zago, D. Lopes / Évora/ 312 p./ R$ R$ 79,90/ editoraevora.com.br






Dragon Ball com Einsenstein

Um dos poucos livros que, fato, mudaram o mundo, o manifesto de Marx e Engels ganha versão mangá da equipe japonesa East Press. O resultado é estranho: uma mistura de Dragon Ball com Serguei Eisenstein. Até por isso é interessante e vale uma conferida pelos mais jovens. Manifesto do Partido Comunista - Mangá / Karl Marx, F. Engels, East Press / L&PM/ 208 p./ R$ 17,90/ lpm.com.br







Rap das Gerais

Maior nome do rap mineiro, Flavio Renegado apresenta neste DVD seu show, muito bem produzido e contando com uma banda numerosa. Como bom mineiro, ele já diz no título a que veio: é suave. Com Aline Calixto, Rogério Flausino e Meninas de Sinhá. Flávio Renegado / Suave ao vivo / Independente / R$ 40









O pop perfeito que veio do frio

Há 40 anos, o  pop perfeito do quarteto sueco Abba ganhou o mundo. O hit Waterloo faturou o concurso  Eurovision – e rádios e discotecas se tornaram seus domínios. Na edição comemorativa, bonus tracks e um DVD com clipes. Abba / Waterloo (40 Years Deluxe Edition) / Universal / CD + DVD: R$ 42,90









O parceiro robótico

Este é o segundo romance da famosa série dos robôs do mestre da FC Isaac Asimov, publicado anteriormente no Brasil com o título Os Robôs. Desta vez, o detetive Elijah Baley e seu parceiro robótico R. Daneel Olivaw são enviados ao planeta Solaria, aonde vão se deparar um crime aparentemente insolúvel. O Sol Desvelado / Isaac Asimov / Aleph/ 288 p./ R$ 46/ editoraaleph.com.br







Jovens londrinos de hoje em dia

A jovem e premiada romancista londrina Zadie Smith escreve aqui sobre quatro outros jovens em busca da ascenção social na Londres contemporânea – ou melhor, no bairro de Kilburn, aonde eles viem e se esbarram. Romance de rito de passagem, tem sido elogiado pela crítica. NW / Zadie Smith / Companhia das Letras/ 336 p./ R$ 52/ E-book: R$ 42/ companhiadasletras.com.br







Putaria é bom e elas gostam

Segundo volume da coleção de HQs eróticas Safadas, só com a nata dos quadrinistas europeus. Em Encontros, temos Georges Pichard delirando com um carrinho de mão, Jean-Claude Forest (Barbarella) promovendo uma orgia entre balões na Belle Epoque, Loustal em alto-mar e por aí vai. Safadas: Encontros / Vários autores / Nemo/ 64 p./ R$ 39/ www.editoranemo.com.br

NOIR EM PRETO, BRANCO & CGI

Estreia: Sin City: A Dama Fatal traz de volta o noir em preto, branco e CGI de Frank Miller e Robert Rodriguez

A deusa Eva Green rouba a cena como Ava, uma femme pra lá de fatale...
Nove anos depois de sua estreia nos cinemas, Sin City - A Cidade do Pecado (2005), finalmente ganha sua inevitável sequência: Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame To Kill For).

Assim como sua predecessora, a película tem direção da dupla formada pelo quadrinista Frank Miller (The Spirit, 2008) e pelo cineasta Robert Rodriguez (Planeta Terror, 2007).

Miller se tornou diretor de cinema justamente pelas mãos de Rodriguez, quando este o convenceu de que uma adaptação cinematográfica de sua série de HQs Sin City (publicada no Brasil pela Devir) era viável tanto estética, quanto financeiramente.

O resultado foi o filme de 2005, aclamado pela ala mais pop da crítica, enquanto o setor mais cinéfilo sapateou com raiva sobre sua apropriação da estética noir, estilizada por Miller às raias do exagero graças aos cenários em CGI.

Rosario Dawson é a líder das prostitutas sadomasô e exímias lutadoras
(Especialmente divertido foi ver Arnaldo Jabor espumando de raiva no Jornal da Globo).

Dama fatal e peladona

Em A Dama Fatal, Miller & Rodriguez se limitam a ampliar a mitologia de Sin City, contando novas histórias com novos personagens e mantendo alguns do primeiro filme.

O elenco mantém a tradição e é estelar, aliando nomes “da hora” como Joseph Gordon-Levitt, Josh Brolin, Eva Green (a Dama Fatal do título, que passa mais da metade do seu tempo de tela peladona) e Jessica Alba com veteranos de responsa, como Mickey Rourke, Powers Boothe (brilhante como o maléfico Senador Roark) e Bruce Willis.

Tudo se passa na fictícia Basin City, uma mistura de Los Angeles (pelos coqueiros e colinas) com Brasília (pela corrupção generalizada), onde as prostitutas usam trajes sadomasô 24 horas por dia e são exímias lutadoras com espadas samurai.

Há três ou quatro histórias que se desenrolam de forma errática, como a do jogador Johnny (Joseph Gordon-Levitt), que chega a cidade decidido a limpar o Senador Roark no pôquer e, claro, arranja uma baita encrenca.

Vemos o começo do périplo de Johnny no início do filme, mas seu desenlace só se dará na parte final.

Jessica Alba é Nancy, uma stripper traumatizada pelos eventos de Sin City
O “miolo” de Sin City: A Dama Fatal é dominado pela sensual Eva Green como a Ava, uma epítome de mulher fatal e manipuladora, que faz gato e sapato do pobre Dwight (interpretado aqui por Josh Brolin. No primeiro filme, foi por Clive Owen).

A despeito de seus 90 e tantos minutos regulamentares passarem sem sacrifício para o espectador interessado, alguns pontos enfraquecem Sin City: A Dama Fatal.

Curiosamente, todos os seus protagonistas tem o costume de gravar narrações em off e mais: todos eles soam como um clichê de detetive noir – amargos, desiludidos, sempre tecendo observações sobre como “esta cidade é como uma prostituta ruim” etc e tal.

Talvez seja intencional, já que o filme (e as HQs) não passam de pastiches do noir original dos anos 1940.

Jessica Alba, como a stripper Nancy, faz boa figura, mas acrescenta pouco com seu drama muito ligado ao primeiro filme, do qual poucos se lembram, nove anos depois.

Mickey Rourke retorna como Marv, um brutamontes superfã de trocar soco
Já Mickey Rourke segue como o personagem mais legal da franquia: Marv, o grandalhão guarda-costas de Nancy, sempre pronto para um bom quebra-pau.

Nove anos e inúmeras outras adaptações de HQ para as telas depois, a continuação de Sin City perdeu o fascínio da novidade, apesar do apuro técnico e meia dúzia de atuações carismáticas.

Uma hora e meia de escapismo e pronto.

Sin City: A Dama Fatal (Sin City: A Dame To Kill For) / Dir.:  Frank Miller e Robert Rodriguez / Com  Joseph Gordon-Levitt, Josh Brolin, Eva Green, Jessica Alba, Mickey Rourke, Rosario Dawson, Powers Boothe, Bruce Willis / Em cartaz: Cinemark, UCI Orient Iguatemi, UCI Orient Barra, UCI Orient Paralela, Cinépolis Bela Vista, Itaú Glauber Rocha, Cinépolis Salvador Norte


quarta-feira, setembro 24, 2014

VELHA ESTRADA, ABORDAGEM DIFERENTE

Aos 56 anos, Álvaro Assmar chega ao sexto álbum, The Old Road, com show de lançamento amanhã

O velho bluesman e sua nova Gibson Les Paul modelo 1960. Ft: Laryne Nascimento
Comumente saudado como precursor e mestre do blues na Bahia, Álvaro Assmar chega ao sexto álbum de carreira com sua obra ao mesmo tempo mais fiel e mais acessível ao público leigo, não tão ligado ao gênero.

The Old Road, que tem show de lançamento amanhã, no Teato do Irdeb, tem tudo o que um fã de Álvaro e de blues espera: as levadas manhosas características, as letras sofridas (algumas em português, outras em inglês), os belos solos.

Mas também é, tranquilamente, o álbum mais conciso da carreira do bluesman, com apenas uma faixa mais longa (a arrastada Dependência) e o resto delas variando entre os 2 minutos e meio e 4 minutos.

Melhor que isso: com  solos mais enxutos e diretos e canções mais curtas, o álbum ficou com um estilo que remete aos melhores momentos radiofônicos de bluesmen como Eric Clapton ou Gary Moore, por exemplo.

Melodiosas, faixas como I Wanna See You Again ou Kiss Me Again (o “Again” repetido é coincidência) estão entre as melhores do CD e tem apelo pop para frequentar as playlists das rádios menos popularescas.  

Álvaro conta a nova abordagem foi mesmo intencional. “Só incluí músicas que qualquer um pode pegar e sair tocando no violão. Agora, vou te contar, nunca pensei que fosse tão difícil tocar simples. Fiz um disco para os leigos, mesmo”, conta.

“É que uma coisa que sempre percebi é que, muitas vezes, por querer se esmerar demais, o músico acaba fazendo discos só para outros instrumentistas, esquecendo que o povo só quer ouvir uma boa música e se divertir”, detalha Álvaro.



Tributo ao Ramal 12

Com 13 faixas, The Old Road traz 11 delas de  autoria do próprio Álvaro.

Ramal 12, banda clássica do rock local, gravada por Álvaro. Foto: Hamilton Penna
As outras duas são uma de seu filho, o também guitarrista Eric Assmar (Just Need The Blues) e a outra é uma antiga canção resgatada do repertório da Ramal 12, antológica banda da cena roqueira local dos anos 1980: Nessa Cidade.

“Isso é um tributo ao Ramal 12, que nunca gravou essa música. Eu ia muito aos shows deles e essa era a música que eu mais gostava”, relata.

“Quando eu falei para o Cláudio Lacerda, Marcão Botelho e Eduardo Scott (autores) que queria fazer essa música, eles nem acreditaram, por que não a viam dessa forma. E assim eu gravei essa canção tão linda que estava esquecida”, conta.

No álbum, Álvaro contou com participações de grandes músicos locais e nacionais, como Adriano Grineberg, Miguel Archanjo, Cristiano Macchi, Marquinho Carvalho, José Luiz Lima (órgãos Hammond, pianos), Caio Dohogne (bateria) e Nivaldo Cerqueira (sax).

“No fim das contas, as ideias fluíram legal, com  as pessoas muito envolvidas. Me senti em um abraço coletivo, com  todos querendo que o trabalho desse certo e colocando energia para a coisa decolar. Estou muito feliz com o resultado”, conclui.

No palco, ele toca com a Mojo Blues Band: Octavio Américo (baixo), Rene Almeida (bateria), Eric Assmar (guitarra e voz) e Cristiano Macchi (Teclados).

Álvaro Assmar / Show de lançamento do álbum The Old Road / Amanhã, 21 horas / Teatro do IRDEB (Rua Pedro Gama, 413, Federação) / R$ 30 (o teatro só aceita dinheiro em espécie)

Álvaro Assmar / The Old Road / Independente - Star Blues / www.alvaroassmar.com.br / A venda em shows e na loja Pérola Negra / R$ 30


A foto da banda Ramal 12 foi pescada do blog http://coveirosdocover.blogspot.com.br.

terça-feira, setembro 23, 2014

RENATA BASTOS: UMA MULHER E TREZENTAS IDEIAS

Renata Bastos , foto Natália Arjones
 É enfeitada pelo sorriso iluminado da cantora Renata Bastos que a coluna o blog respira aliviada: há quanto tempo não vemos uma moça por aqui! Só dá marmanjo feio – ainda que talentoso?

O legal é que, além do sorriso, Renata tem uma voz muito bonita. Talvez você já a tenha visto por aí. Ela realiza regularmente um show em tributo a Bob Marley no Commons Studio Bar, chamado Three Little Birds.

Ela também participa do coletivo Nossos Baianos, que reúne uma pá de gente legal do cenário alternativo em homenagem aos Novos Baianos.

Mas se fosse só isso – o que já é alguma coisa – ela não estaria aqui. Renata está em plena produção do seu primeiro trabalho autoral, produzido pelo competente Thiago Kalu, que já passou por esta coluna este blog.
Além disso, ela ainda tem outro projeto autoral com o músico Peu Tanajura, uma banda de releituras chamada A Trois com Bruna e Julia (da Lily Braun) e, como se fosse pouco, ela é uma das idealizadoras do Minavu, uma plataforma digital de arte feminina, ao lado de Andrea Martins e Natália Arjones.

“Olha, eu sou bem organizada, viu?”, garante Renata. “Sério, tenho até TOC. O povo dá risada, mas comigo é assim”.

“Eu tenho que fazer foto, flyer, divulgar na imprensa... Eu que faço tudo”, afirma.

Baiana de Salvador, ela é publicitária por formação e morou três anos no Rio. Quando voltou, em 2013, veio decidida a trabalhar só com música.

Dividindo sonhos

Mesmo com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, Renata diz que não perde o foco: “A coisa principal é o trabalho solo com meu nome, que está sendo produzido por Kalu”, diz.

“Mas meu grande lance é que sou intérprete. Sempre cantei as músicas dos meus amigos. Me preocupo muito com a questão da interpretação”, afirma.

Ainda assim, outros dois trabalhos batem forte em seu coração: Nossos Baianos e o Three Little Birds.

“O Nossos Baianos é um coletivo de 12 artistas que tem seus trabalhos e todos são compositores. São várias pessoas que dividem os sonhos. Isso me inspirou bastante. Aí eles pegaram minhas letras e começaram a  musicar”, conta.

Renata Bastos , foto Natália Arjones
"Mas minha paixão mesmo, atual, é o tributo ao Bob Marley. É um show que comecei a fazer acústico e aí atraiu muita gente bacana do cenário de reggae. São músicas que conheci menina, sempre fui apaixonada por Bob e também nunca vi nenhuma mulher fazendo um show só com o repertório dele. É tudo tão instintivo que nunca nem fiz nenhum ensaio. Como somos todos apaixonados por reggae, a gente toca seguindo os arranjos originais, mas sempre tem ago nosso também. Tudo isso me emociona muito. Eu choro e tudo, é um negócio que não sei nem explicar", relata.

Já o trabalho com Peu Tanajura se chama Univocalinos. "Peu é um grande incentivador do meu trabalho autoral. Mas quando vi que o material que produzimos juntos não tinha muito a ver com meu trabalho solo, resolvi fazer à parte. Aí no nosso penúltimo ensaio, Andrea Martins fez uma piada, dizendo que nós somos gêmeos. Aí ficou essa piada. Vamos lançar este projeto como Unívocalinos", conta.

E o Minavu, do que se trata mesmo?  "É uma plataforma de produção e divulgação de artes da mulher. É que eu e Andrea sempre tivemos várias ideias, mas não conseguíamos organizar direito. Aí encontramos Natália, que é mais organizada e trabalha melhor com essa parte de comunicação e burocracia. Começamos a nos encontrar e resolvemos fazer uma festa com todas as mulheres daqui que tinham trabalhos incríveis, mas ninguém conhecia. Tem tanta mulher fazendo coisas legais e ninguém conhece. Por que não fazemos um projeto para divulgar? A gente chama as pessoas para faz um grande evento com bandas de mulheres musicistas, mulheres fotógrafas, escritoras, chefs - pessoas que estão ao nosso redor. E tivemos um ótima resposta. Temos um site que abriga sem custo nenhum vários trabalhos. Divulgamos tudo o que recebemos que as mulheres estão fazendo: cursos, mostras, shows. É um incentivo, uma porta aberta para quem quiser chegar e agregar. Tem o www.minavu.com.br e uma fanpage no Facebook, que é mais mais ativa", detalha.

Até janeiro Renata vai lançar seu primeiro CD autoral, “com influências de reggae e samba, um pouco de dub. Kalu é o diretor musical e está selecionando algumas músicas com o guitarrista Átila Santana. Estamos amadureendo ainda as ideias, mas tenho certeza de que vai ser maravilhoso.

O colunista O blogueiro aposta que ainda vamos ouvir falar bastante de Renata Bastos por aí. “Tomara que sim, mas falando bem, né?”, ri a cantora.

www.soundcloud.com/renata-bastos-6



NUETAS

Toxic no Portela

Povo do metal, anotai em vossas agendas: a banda norte-americana Toxic Holocaust se apresenta 10 de outubro, no Portela Café. A night ainda tem Berzerkers (SE), Terrible Force (PB) e a baiana Suffocation of Soul. Antecipado: R$ 60.

Pedro ou Aracy?

Se você fosse  jurado do Silvio Santos, estaria mais para o Pedro de Lara ou  para a Aracy de Almeida? Assista às bandas Jato Invisível e Proliferação e responda:  Quanto Vale o Show? Hoje, 18 horas, no Dubliner’s.

Álvaro de disco novo

Papo sério agora: o blues master da Bahia Álvaro Assmar lança seu novo álbum (o sexto), The Old Road, quinta-feira, no Teatro do Irdeb (Federação). O colunista já ouviu e adianta: tá bonitão. 21 horas, R$ 30.

EM LIONEL ASBO - ESTADO DA INGLATERRA, MARTIN AMIS MIRA A INDÚSTRIA DOS TABLOIDES


Martin Amis, 65 anos, filho do escritor Kingsley Amis. Foto: Tom Craig.
A primeira vista, Lionel Asbo - Estado da Inglaterra, livro do autor inglês Martin Amis, parece remeter àqueles filmes de gangster britânicos do diretor Guy Ritchie, como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, 1998) ou Snatch - Porcos e Diamantes (Snatch, 2000).

Assim como nos filmes do ex-marido de Madonna, suas páginas são habitadas por brutamontes violentos, mulheres vulgares, viciados, beberrões e uma ou outra boa alma para equilibrar as coisas – todos se debatendo nas ruas dos subúrbios de Londres, entre pubs esfumaçados e a sarjeta.

Ledo engano. Apesar de divertidos, os filmes de Ritchie estão mais para um vão exercício de estilo do que para a declaração artística de relevância.

Por outro lado, o livro de Amis, lançado no Brasil pela Companhia das Letras, é um impiedoso raio-x da Inglaterra contemporânea – e por conseguinte, da sociedades ocidentais como um todo, com suas economias cambaleantes, desigualdade galopante e um senso de vale-tudo generalizado que parece permear tanto relações, quanto instituições.

A visão desencantada de Amis foi inclusive alvo de críticas em sua terra natal, com muitos resenhistas e intelectuais acusando-o de esnobismo e preconceito, dada a sua descrição pouco edificante das camadas menos favorecidas da população.

Pitbulls à base de Tabasco

Ilustração de El Cerdo para a Folha de S. Paulo
Lionel Asbo é o típico valentão de subúrbio: “o corpo semelhante a  uma laje, a cara feito um bloco inteiriço, a coroa da cabeça com o cabelo raspado bem curto”, descreve Amis.

Dono de dois pitbulls psicopatas, Joe e Jeff, alimentados a base de carne afogada em molho Tabasco para deixa-los ainda mais ferozes, Lionel vive de cobrar dívidas, receptação de bens roubados e partir crânios.

Na verdade, Asbo nem é seu sobrenome real. É Pepperdine. Ele adotou Asbo quando, ainda criança, recebeu essa classificação do serviço social. Em inglês A.S.B.O. significa Ordem de Comportamento Anti-Social.

Ele vive em um condomínio do subúrbio fictício de Diston com seu sobrinho, Desmond Perpperdine. Des, como é chamado, é o oposto do tio: sensível e inteligente, escreve até poesia, coisa que Lionel não entende.

“Às vezes você me deixa maluco, Des. Por que não vai para as ruas quebrar umas vidraças? Isso (escrever poesia) não é saudável”, recomenda.

Tudo leva a crer que a natureza violenta de Lionel – que se manifesta diversas vezes ao longo do livro – acabará por leva-lo a se tornar o “vilão” da história.

Amis é mais inteligente do que isso e dá um chapéu no leitor ao fazer do brutamontes o ganhador de um prêmio de 140 milhões de Libras na loteria. E aí, sim, surge o verdadeiro bad guy da narrativa de Amis: a imprensa britânica.

Dono de longa ficha criminal, subitamente transformado em milionário, língua solta incorrigível, Asbo se torna um prato cheio para os insaciáveis tablóides ingleses, que passam a perseguir o valentão por todo canto, ridicularizando-o nas manchetes hilariantes inventadas por Amis.

A graça do livro reside justamente em ver como até um sujeito que se considera invencível, praticamente de aço, tem seus nervos feitos em picadinhos pela implacável imprensa de fofocas britânica, uma indústria sem um pingo de ética, capaz até de grampear telefones de membros da família real, como se viu recentemente.

Fica claro que as  críticas ferozes dirigidas a Amis por seu suposto esnobismo não se sustentam, já que, no fim, os personagens oriundos dos subúrbios são, em diferentes momentos, herois ou vilões, capazes de cometer erros e acertos.

Pleno de humor ferino e com olho clínico para o ridículo, Lionel Asbo pode até ser uma leitura fácil. Mas nunca é vã.

Lionel Asbo - Estado da Inglaterra / Martin Amis / Companhia das Letras / 360 p. / R$ 49 / E-book: R$ 34,50 / www.companhiadasletras.com.br

Leia um capítulo de Lionel Asbo ilustrado por Tiago El Cerdo para Folha de S. Paulo aqui.

quinta-feira, setembro 18, 2014

O PIANO NO CENTRO DO PALCO

Festival de Pianistas Compositores da Bahia estreia hoje no TCA, com grandes nomes nacionais e locais a preços populares

Gilson Peranzzetta, foto João Mauro Senise
Instrumentos musical dos mais belos e complexos, o piano tem na Bahia uma grande safra de instrumentistas, que, além de tocar bem, também compõe peças exclusivas para as teclas.

Hoje e amanhã, o público poderá ter acesso a essa produção no primeiro Festival de Pianistas Compositores da Bahia.

Melhor: além dessa música baiana nova e interessante, que ignora as caquéticas regras do mercado local, dois dos maiores pianistas brasileiros das últimas décadas abrilhantam ainda mais o evento: o carioca Gilson Peranzzetta (hoje) e o paulista Benjamin Taubkin (amanhã).

Gilson, 40 anos de carreira, é uma enciclopédia, um gigante da música brasileira. Tocou e fez arranjos para praticamente todos os grandes nomes da MPB, além de ser respeitadíssimo no meio – no Brasil e fora dele.

Já Benjamin é outro prodígio. Já rodou o mundo solo ou com orquestras, sempre promovendo o diálogo da música brasileira com as culturas de outras partes do mundo.

O cast local não deixa por menos e hoje  traz o idealizador do Festival Saulo Gama (Mestre em Execução Musical - Ufba), Bira Marques (Orquestra Afrosinfônica), Zito Moura (acompanha inúmeros artistas de renome), Kadija Teles (mestre em piano pela Ufba) e Mikael Mutti (Percussivo Mundo Novo).

Amanhã tem Graça Ferreira (professora e pesquisadora), Marco de Carvalho (premiado instrumentista e arranjador), Aline Novais (Orquestra Juvenil  da  Bahia) e Paulo Gondim (veterano professor da Ufba e da UCSal, com álbuns lançados).

A pesquisa rendeu

Benjamin Taubkin
Saulo Gama teve a ideia de reunir todo este povo ao pesquisar para sua dissertação de mestrado na Ufba, lá em 2006.

“A pesquisa se chamava A Música dos Pianistas de Salvador. Nela, descobri que a grande maioria dos pianistas locais tinha um trabalho de composição que ficava guardado”, conta.

Em 2009, Saulo gravou um CD no qual executava parte dessa produção, intitulado, justamente, A Música dos Pianistas de Salvador. “Lancei digitalmente, mas no TCA a versão física estará a venda”, avisa Saulo.

Saulo já realizou diversos recitais com esse repertório, inclusive em outros estados do Brasil, além de Paris e Lisboa.

“A ideia deste festival  surgiu em 2010. De la para cá foi a batalha de inscrever em editais. Graças a um edital da Funceb de 2012, somente agora  a coisa realmente acontece”, conta.

Feliz com o convite para se apresentar em Salvador, Gilson Peranzzetta elogia o festival: “Projetos como estes precisam ser feitos para os músicos se aproximem das pessoas. É  que a música instrumental foi perdendo esse acesso ao público, né?”, diz Gilson, por telefone.

“Saulo merece todo aplauso por esse projeto maravilhoso e muito importante para que os  músicos não fiquem em casa compondo sem ter como mostrar essa produção”, observa.

Gilson diz não ver distinção entre erudito e popular: “A música erudita pode ser muito boa ou muito ruim. Todos os estilos tem música boa e ruim. O negócio é  procurar a música boa, ouvir de tudo. Quem não ouve não cresce, não aprende”.

“Ou você acha que Mozart, quando compunha aqueles minuetos para o povo dançar nos salões, sabia que aquilo era erudito? Só é erudito hoje o que já foi muito popular”, afirma.

“A música é minha religião. O palco é minha igreja e o piano é o altar onde humildemente faço minhas orações. Quando começa viagem de ego, você fica mais importante do que a música. Isso nunca é bom”, conclui Gilson.

Festival de Pianistas Compositores da Bahia / Teatro Castro Alves / Hoje e amanhã, 20 horas /  R$ 20 e R$ 10


quarta-feira, setembro 17, 2014

PODCAST ROCKS OFF: INDIE PARTE 2

Finalmente, um cantor de peso no SY!
Osvaldo Braminha Silveira Jr., Nei Bahia e Miguel Cordeiro seguem na discussão sobre o tal do indie rock.

"Sonic Youth não tem talento", afirma Nei.

"Odeio Radiohead de todo coração. E Pixies nunca foi indie rock!", dispara Miguel de lá.

E o pobre do Braminha tentando botar ordem na casa e sopesar opiniões tão radicais é o melhor de tudo.

Quem ganhou?

Alguém ganhou?

Não sei, ouçam aí e me contem!




terça-feira, setembro 16, 2014

O PAI DA DOR

Centenário, Lupicínio Rodrigues foi um dos criadores do samba-canção e imortalizou a dor de cotovelo com gênero importante da MPB em inúmeros sucessos

Pobre Lupicínio Rodrigues (1914-1974). Poucos brasileiros devem ter sofrido tanto por amor.

Mas vejam o que separa o grande artista do homem comum: o primeiro transforma a dor na arte que vai consolar o segundo.

E Lupi, que hoje completaria 100 anos vivo fosse, foi um mestre neste ofício.

O gaúcho, autor de clássicos como Esses Moços, Loucura, Nunca, Ela Disse-me Assim, Felicidade, Vingança, Volta, Se Acaso Você Chegasse – a lista é enorme – vem embalando romances, rompimentos e, principalmente, a dor de cotovelo de gerações de brasileiros.

“Lupicínio, ao lado de Herivelto Martins (1912-1992), foi um dos pioneiros, um dos fixadores do samba canção na década de 1940”, define o pesquisador Rodrigo Faour, autor do livro-referência História Sexual da MPB (2006).

“Depois do seu primeiro grande sucesso, Se Acaso Você Chegasse, ele teve muitos sambas canções dor de cotovelo de sucesso, estilo que foi preponderante nos anos 1940 e 50. Foram gravados cerca de mil samba canções nesse período”, diz.



“E com essas músicas machucadas de amor ele munia o repertório de Linda Batista, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Isaura Garcia, Orlando Silva – todos os grandes cantores da era do rádio gravaram muito Lupicínio”, lembra Rodrigo.

E não só eles. Praticamente todos os grandes nomes da MPB pós-bossa nova também gravaram Lupicínio: Paulinho da Viola (Nervos de Aço), Maria Bethania (Foi Assim, Loucura), Gilberto Gil (Esses Moços), Gal Costa (Volta, Loucura), Elis Regina (Cadeira Vazia), Caetano Veloso (Felicidade) e essa lista também poderia seguir bem adiante.

"É muito difícil, até hoje, para quem não mora entre Rio e SP vencer na música. E o Lupicínio conseguiu isso. Pela universalidade das letras, sem dúvida. Era um compositor, coisa que na época tinha essa figura. Ele não precisava divulgar em rádios, cantar ao vivo. Não precisava fazer esse circuito tão frenético. O que o pessoal dessa época trabalhava era uma coisa insana", ensina Rodrigo.

"E ao contrário do que se costuma pensar, não foi só a bossa nova (que botou Lupicínio e os cantores do rádio de escanteio), Teve a Jovem Guarda também. A juventude arrumou outra linguagem. Tinha música de fossa também, mas era outro tipo de fossa. Não era o homem machucado, encantado com uma puta que não podia levar para casa. Era a época dos festivais, um tempo mais politizado. Aí veio a Tropicalia misturando tudo. Foi muita novidade nos anos 60. Quase todos os cantores dos tempos do rádio foram deixados embaixo do tapete nos anos 60. Mas ele continuou com sucesso ate morrer nos anos 70 por que era um ícone, não ficou ultrapassado. Ele parou de ter uma produção contemporânea, mas continuou um ícone. As pessoas mais velhas continuavam ouvindo. Os jovens que estavam em outra", explana.

"Assim como Caetano, Bethania, Gil, Chico, Gal nos dias de hoje nao perderam os tronos ainda, entende? Não teve uma geração tão forte para abafa-los. São até mais prestigiados hoje do que Lupicínio na sua época. O que ele teve foi os modismos de ocasião", acredita.

"Mas o grande interprete do Lupicínio, a voz que ele gostaria de ter tido foi Jamelão. Todos os discos do Jamelão tem canções do Lupicínio. Era a voz perfeita para cantar aquelas musicas dilacerantes e  dava densidade, força, virilidade. Jamelão tinha um alcance fantástico, era um grande tenor. Minha favorita é Ela Disse-me Assim. Você não acredita que ele vai dar aquela nota, de tão alta. Mas ele vai lá e dá", observa.



"Já Nervos de Aço nunca sai de moda apesar de tudo. A regravação do Paulinho da viola ficou no repertório clássico do samba com uma abordagem até mais moderna. O Paulinho tirou um pouco do dramalhão, suavizou um pouco. Aí ela ficou como Volta, que a Gal deu uma puta suavizada, uma sensualidade inesperada. Até a bossa nova, a música brasileira não tinha muito isso. Volta falava em corpo na cama, descreve uma cena de cama, coisa rara, pois na época não tinha essa intimidade. Não se falava de sexo na MPB", lembra.

Sofisticação melódica

Até mesmo Arrigo Barnabé,  um dos pilares da vanguarda paulista, se rendeu ao gênio de Lupicínio ao elaborar o show Caixa de Ódio (2011), só com canções do compositor, depois transformado em DVD.

O projeto fez tanto sucesso que, no próximo dia 10, ele estreia em São Paulo o show Caixa de Ódio 2.

“Lupicínio foi um grande criador, tinha um poder de síntese, uma capacidade de sintetizar comportamentos afetivos em observações e comentários que tem uma lucidez muito aguda”, opina Arrigo.

“Embora possam achar ele politicamente incorreto, meio machista para os dias de hoje. Ainda assim, as canções dele também foram muito cantadas por mulheres. Ele não era tão parcial assim”, ressalva.

Apesar de mais lembrado como letrista, intimamente ligado à dor de cotovelo, Arrigo nota na obra do gaúcho certa sofisticação melódica: “Apesar da aparente simplicidade melódica de suas canções, há ali várias peculiaridades, marcas de estilo do compositor”, afirma.

“Tenho a impressão de que ele foi muito influenciado pelas coisas da época: marchinhas, hinos de igreja, óperas – e tudo isso era recurso que ele tinha para compor. É interessante isso, por que ele não tocava nenhum instrumento. Ele tinha esses recursos e, com eles, produzia algo muito interessante”, nota.



Na cidade de Lupicínio

Na sua Porto Alegre natal, de onde pouco saiu em vida, Lupicínio deixou marcas profundas na cidade e seu povo. Por exemplo, é dele o hino do seu time de coração, o Grêmio.

Hoje, dia do centenário, a capital gaúcha viverá uma série de ações em homenagem ao compositor, com corais em pontos importantes da cidade, excursão a pé e de ônibus por locais que ele frequentava, shows nos bares e sessão do musical Lupi, o Musical: Uma Vida em Estado de Paixão, em cartaz desde o mês passado.

Haverá ainda uma estátua em tamanho natural, um longa-metragem (Nervos de Aço, de Maurice Capovilla), uma biografia (do jornalista Marcello Campos), palestras, versos do compositor  nas laterais dos ônibus e muito mais.

“Para quem é de Porto Alegre, Lupicínio é muito forte no imaginário musical da cidade”, confirma o músico Frank Jorge, referência do rock gaúcho com a banda Graforreia Xilarmônica e professor do curso de  Produção Fonográfica da Unisinos.

“Mesmo entre a minha geração, mais impactada pelo punk rock, Lupicínio sempre teve um espaço, um reconhecimento da vida dele aqui em Porto Alegre, por conta de sua natureza notívaga, boêmia”, afirma.

“Suas  canções eram muito sentidas, passionais, fortes. Por algum tempo foram até vistas como de mau gosto. Mas essa visão já foi superada e hoje o que se ressalta é  sua beleza inegável”, conclui o gaúcho.


segunda-feira, setembro 15, 2014

AH, VOCÊ QUER MICRO-RESENHA? ENTÃO TOMA!

Hardcore avant-garde

Super ativista  underground, ex-guitarrista da banda Jason (RJ), Panço faz ótima estreia solo, em álbum com vários vocalistas, incluindo nossa Nancy Viegas. Hardcore, indie, psicodelia, experimental: sem concessão ou frescura. Leonardo Panço / Tempos / Tamborete / Baixe: www.soundcloud.com/leonardopanco









Maurão detonação

O quarto EP da banda  Orange Poem traz Mauro Pithon nos (furiosos) vocais. Mas não é hard rock convencional. Child's Knife lembra Jethro Tull. The Green Bee tem intervenção poética em português. Doido, pesado, diferente. The Orange Poem / Balance / Independente / Baixe: www.soundcloud.com/theorangepoem









Recife, anos 1990

Surgida na ascenção da cena recifense pós-manguebeat, a banda JC&DEQSTI andou sumida. Agora volta com coletânea comemorativa de 20 anos e duas faixas inéditas. Rock nordestino, Hendrix e Zé Ramalho no juízo. Jorge Cabeleira & o Dia em que Seremos Todos Inúteis / Trazendo Luzes Eternas / Independente / R$ 25







A origem da guerra

No centenário da Iª Guerra Mundial, uma enxurrada de livros veio explicar o conflito. Este explica e reconstitui apenas o evento que originou o banho de sangue: o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, em Sarajevo. Pesquisa de fôlego. O Assassinato do Arquiduque / Greg King e Sue Woolmans / Cultrix / 400 p. /  R$ 52 / www.pensamento-cultrix.com.br







É "fantártico"

O crítico literário barceloneta David Roas faz o elogio dos gêneros fantásticos nas artes, reconstruindo e analisando a trajetória do estilo. Segundo Roas, o Iluminismo e seu culto a razão desbancaram a fé no sobrenatural, liberando os autores para “brincar literariamente”, inclusive com a ciência. A Ameaça do fantástico / David Roas / Unesp/ 216 p./ R$38/ editoraunesp.com.br




Massacre em HQ

Um dos episódios mais sangrentos da República e do Exército brasileiro é recontado nesta bela HQ roteirizada por Daniel Esteves. A história do Beato Antonio Conselheiro e seus seguidores mereceu boa pesquisa dos autores, incluindo uniformes e características da fala popular de então. A Luta Contra Canudos / D. Esteves, Jozz e Akira Sanoki / Nemo/ 64 p./ R$ 42/ editoranemo.com.br






Promessa potiguar

A banda potiguar Far From Alaska estreia em CD com erros e acertos. A princípio, soa genérica. Mas cresce na audição, graças às boas guitarras e ao vozeirão da cantora Emmily. Potencial até tem, mas precisa comer  mais feijão aí. Far From Alaska / modeHuman/ Vigilante - Deck / Preço não divulgado









Tango em família

Formado por uma mãe (Estela, piano) e dois filhos (Alexandre, sax e Marcelo, acordeom), o trio brasileiro LiberTango mistura o gênero argentino com choro e baião. E não é que funciona? Belíssima prova de que a (boa) música não tem fronteiras. Grupo Libertango / Tangos Hermanos / Mills Records / Download: R$ 12,99







Samba de boca

Com três vozes femininas e uma masculina, o quarteto vocal carioca Arranco de Varsóvia faz samba em releituras elaboradas de Lenine (O Dia em Que Faremos Contato), Egberto Gismonti (Saudações), Sombrinha (Saudade) e autorais. Bonito. Arranco de Varsóvia / Na panela pra dançar / Mills / R$ 29,90







Vade retro rock cristão

Rock cristão é como pagode carola: não dá. Aí você vai ouvir, são as mesmas mensagens que John Lennon, Renato Russo e outros rock stars messiânicos já mandavam décadas antes – e sem precisar agradecer à CNBB. Raulzito, me salva! Beatrix / Lugar Comum / Universal / R$ 18,90







Amadurecer não é ficar chato

O curitibano Rapha Moraes é o típico ex-roqueiro brasileiro arrependido, convertido em bom rapaz que faz música “séria” e sensível. Nada contra  um suposto amadurecimento artístico, mas o excesso de bom mocismo apenas entedia. Rapha Moraes / La Buena Onda / Independente / Preço não divulgado







Diálogo entre o sertão e os Jardins de Luxemburgo

Parisiense radicado no Brasil, Nicolas Krassik dialoga com a música nordestina através de seu violino arretado. Ecos de Villa- Lobos, Grapelli e Hendrix em dez faixas, com destaque para a rabeca de Marcos Moletta. Gilberto Gil e Lenine dão o ar da graça. Nicolas Krassik / Nordeste de Paris / Independente / R$ 27,90








Aula de história sem tédio

Ótima quadrinização do livro homônimo da historiadora Lilia Moritz Schwarcz pelo ilustrador Spacca (Jubiabá). D. Pedro II e o Brasil da época decifrados e ajudando a entender o Brasil de hoje em leitura ágil e clara. As barbas do imperador / Lilia Moritz Schwarcz e Spacca / Quadrinhos na Cia. / 144 p. / R$ 49 / www.companhiadasletras.com.br







Perturbados em Atenas

Ao sol de Atenas, um macabro jogo de vida e morte se desenrola quando Rydal Keener segue alguém se parece com seu pai. E a mestra do suspense Patricia Highsmith faz gato e sapato dos nervos do leitor. As Duas Faces de Janeiro / Patricia Highsmith / Benvirá / 320 p. / R$ 39,90 / www.benvira.com.br








Casa, comida e roupa lavada

E se Shakespeare tivesse uma irmã? E se ela fosse tão talentosa quanto ele? Neste ensaio, Virginia Woolf nos lembra a grande arte não surge do nada. Ela precisa de terreno fértil: “um teto todo seu e 500 libras por ano” ou nada feito. Um teto todo seu / Virginia Woolf / Tordesilhas / 240 p. / R$ 34 / www.tordesilhaslivros.com.br








Umbigada britpop

Em seu primeiro registro solo, o  homem do Blur e do Gorillaz escolheu uma chave mais intimista e, dizem, autobiográfica. Apesar do giro em torno do umbigo, é uma audição agradável, contida, com muitas cordas, sopros e alguma eletrônica. Damon Albarn / Everyday Robots / Warner / R$ 29,90









Jesus do subúrbio

A obra do compositor erudito contemporâneo John Adams, O Evangelho Segundo a Outra Maria –  no caso, a Madalena. A regência do venezuelano Dudamel confere o seu vigor habitual ao oratório, que traz uma  visão moderna de Jesus. John Adams, Gustavo Dudamel / The Gospel According To The Other Mary / Universal / R$ 42,90








Chutando cachorro morto

Quando uma banda como Fresno – poser, cria da onda emo, essencialmente narcisista – resolve fazer um “manifesto contra a futlidadade”, a conclusão é uma só: estamos no mato sem cachorro. Em cinco faixas, muita hipocrisia, falta de noção e chupação do My Chemical Romance. Fresno / Eu Sou a Maré Viva / Independente / R$ 19,90






Pelo menos morreu de banho tomado

Sequência de Sete Dias em River Falls, Um Outono.. nos leva de volta à pequena comunidade do título, atormentada por assassinatos periódicos. Pior para o xerife Mike Logan e a arquivista Jessica Hurley, que terão de fuçar a vida de um advogado, encontrado frito na banheira. Um outono em River Falls / Alexis Aubenque / Vestígio / 416 p. / R$ 39,90 / www.grupoautentica.com.br/vestigio







Buddy movie à escocesa - e em livro

Um imigrante ilegal morto em um cortiço de Edimburgo, dois esqueletos debaixo de uma ponte e o desaparecimento de uma adolescente. Um dia comum para o obstinado investigador John Rebus e sua assistente Siobhan, da polícia escocesa. Beco dos Mortos / Ian Rankin / Companhia das Letras / 536 p. / R$ 62,50 / E-book: R$ 49,50 / www.companhiadasletras.com.br