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terça-feira, julho 30, 2013

DEOLINDA: MÚSICA SEM RÓTULOS E COM APELO UNIVERSAL, DE LISBOA PARA O MUNDO

De passagem pelo Brasil, o  Deolinda, verdadeiro achado, é aclamado por público e crítica lusitanos

Em uma semana em que só se falou de Papa Francisco e JMJ, quase que outros visitantes ilustres no País passam despercebidos: maior sensação da música popular portuguesa (MPP), o quarteto lisboeta Deolinda se apresentou no Festival de Inverno de Garanhuns (em Pernambuco) e em São Paulo.

Interceptada pela reportagem do Caderno 2+ no aeroporto de Recife, de onde o grupo embarcou para São Paulo, a vocalista Ana Bacalhau (é, esse é mesmo o sobrenome da moça) se derreteu com a recepção do público em sua primeira apresentação no Brasil. “Foi maravilhoso, tudo que podíamos sonhar”, disse, por telefone.

“Há algum tempo que temos uma turma de fãs brasileiros que queriam que viéssemos. Quando conseguimos marcar, ficamos muito contentes e ansiosos para saber como os brasileiros iriam acolher nossa música. Ontem (a entrevista foi na sexta-feira) foi uma descoberta para os dois lados”, relata Ana.

 Para quem ainda não conhece, o Deolinda é, possivelmente, a melhor porta de entrada para os brasileiros conhecerem a nova (e sim, vibrante) música popular contemporânea da pátria-mãe do Brasil.

E assim, quem sabe, corrigir  injustiça histórica, já que eles conhecem a MPB muito mais do que os brasileiros conhecem a MPP.

Apelo universal

Formado em 2006, o Deolinda atualizou o fado e a música folclórica, quase sempre a partir de um olhar irônico e crítico para a sociedade em tempo de crise econômica e de identidade.

Uma abordagem que soa universal e que, transposto o sotaque, poderia muito bem falar do Brasil.

O que é absolutamente surpreendente no Deolinda é que, para soar atual, em nenhum momento seus músicos abriram mão dos tradicionalíssimos instrumentos acústicos.

Desde a formação, já lançou três álbuns: Canção ao Lado (2008, iPlay), Dois Selos e Um Carimbo (2010, EMI Music Portugal) e Mundo Pequenino (2013, resenha ao lado).

“Os dois guitarristas (Pedro da Silva Martins e Luís José Martins, violonistas) são irmãos. E eu sou prima deles. Já o contrabaixista (José Pedro Leitão) é meu marido”, conta Ana.

“Logo que começamos, vimos que conseguíamos criar um som distinto e pessoal, com caráter, mas que também trouxesse nossas raízes e tradições de um ponto de vista atual, contemporâneo, mais próximo de nossa geração”, diz Ana.

“Foi  essa premissa nosso ponto de partida: com os instrumentos acústicos e tradicionais, fazer uma música de agora, moderna, com um som característico do Deolinda. E acho que conseguimos”, acredita.

Emoção ao vivo

E conseguiram mesmo. Duas de sua canções, Movimento Perpétuo Associativo e Parva Que Sou, ganharam status de hinos.

A primeira, como uma espécie de hino nacional alternativo. E a segunda,  como hino da geração  portuguesa que hoje está na casa dos 30 anos.

A letra de Parva é um tapa na cara: “Sou da geração sem remuneração / E nem me incomoda esta condição /  Já é uma sorte eu poder estagiar / Que parva que eu sou! / E fico a pensar / Que mundo tão parvo / Que para ser escravo é preciso estudar”.



“O interessante é que Parva Que Sou não está em nenhum dos nossos CDs”, conta Ana.

“Estreamos ela em salas de concerto em Lisboa e Porto.  Tínhamos um show linear e  queríamos cantar algo novo no final. Tocamos Parva Que Sou. O publico emocionou-se imediatamente. As pessoas se levantaram, algumas choraram. Foi tão forte e emotivo para nós, que até erramos”, ri.

“Depois do concerto, todo mundo começou a falar. Botaram vídeos no You Tube, falou-se muito nos jornais, nas ruas, na TV. Foi um momento único na nossa carreira”, diz.

Ciente de que o Deolinda encabeça um novo momento da música portuguesa, Ana espera que os brasileiros conheçam não só o trabalho do seu grupo: ”Acho que há um caminho agora, pois há muita vontade dos dois lados. E esse momento que estamos vivendo é muito rico, com propostas muito variadas além do fado, que trabalham a matriz tradicional, mas com som moderno, como Os Azeitonas, Dead Combo,  Samuel Úria e outros projetos”, recomenda.

Fã de MPB, Ana espera voltar ao Brasil para se apresentar no Rio e em Salvador: “Aqui há um mundo a descobrir. Ontem (25), ouvi um pouco de frevo com Elba Ramalho e fiquei deslumbrada. Ela é demais, não”?, conclui.

RESENHA: MUNDO PEQUENINO É MODERNIDADE SEM PREGUIÇA

No Brasil, quando algum artista diz que vai “modernizar” algum ritmo, a abordagem é preguiçosa, limitada a adição de batidas eletrônicas e/ou guitarras distorcidas. Em Mundo Pequenino, o Deolinda dá aula de modernidade conceitual, desplugada. Uma abordagem sutil e inteligente que, aliada ao talento de Pedro da Silva Martins (compositor de todas as faixas), a vibração (e o carisma) da vocalista Ana Bacalhau, e as habilidades de Luis e José, rendeu um daqueles discos que não dá para pular faixas. E não, não precisa gostar de fado (se já gostar, vai curtir ainda mais) para apreciar o som do Deolinda. Vibrante, a meio caminho do popular e do erudito, seu som é quase indefinível na sua abordagem irônica e bem humorada da vida urbana. Em 12 faixas, o CD é um inventário musical do dia a dia a base de cordas, percussão discreta e a interpretação inexcedível de Ana Bacalhau. Em Há de Passar e Musiquinha (um vira contagiante, quase samba de roda) debocham da apatia. Semáforo da João XXI é polaroide da juventude urbana. Medo de Mim é uma das canções de amor mais "sangue nos olhos" de todos os tempos. Gente Torta é um tratado sobre aquele tipo de pessoa que todo mundo conhece alguém: os eternos insatisfeitos. No todo, um trabalho brilhante, que precisa ser lançado no Brasil. E tudo sem plugar uma única guitarra. Tudo com letras, execução e arranjos extremamente bem elaborados e fora dos padrões mercadologicamente aceitos. E ainda assim, prenhes de poder de comunicação direta com quem ouve. Por que, aqui pra nós: mesmo sem ser "de rock", este disco é mais relevante e pau na orelha do que 99% das bandas do rock brasuca atual, essa coisa medíocre, desprovida de inspiração, espinha, cara própria e comunicação com os seus ouvintes. Mundo Pequenino / Deolinda / Universal Music Portugal / R$ 120 em média (importado).


EDU NUNEZ LANÇA PRIMEIRO DISCO NESTE SÁBADO

No ano passado, a coluna o blog entrevistou o guitarrista e cantor baiano Edu Nunez, então se preparando para voar rumo à Los Angeles, Califórnia, aonde faria um curso intensivo na prestigiada MI (Musicians Institute).

Na mala, Edu acomodou as gravações do seu álbum, Universo Ao Avesso, ainda inconcluso.

Agora, curso concluído, álbum idem, eis aqui o rapaz de volta à terra natal para o show de lançamento do dito álbum, o primeiro de sua carreira, neste sábado, no 30 Segundos Bar.

“Segunda-feira (ontem, 29) o CD estará disponível para download no meu site, em MP3 de boa qualidade, com encarte, um kitzinho bem feito”, avisa Edu.

No show, Edu se apresenta muito em acompanhado do produtor do disco, Jorge Solovera (guitarra), mais Rodrigo Fróes (baixo), Juliano Oliveira (teclado), Rafael Brasil (bateria), Normando Mendes (trompete) e Lucas Andrade (sax, clarineta).

“O disco traz composições acumuladas ao longo de alguns anos. Compilei tudo e montei o álbum”, conta.

“Fiquei satisfeito com o resultado final, pois trabalhei com Solove, um músico e produtor cheio de personalidade, mas que respeita as ideias dos músicos com quem trabalha”, diz.

Em Los Angeles, o guitarrista conta que chegou mesmo a tocar na lendária casa de shows Roxy, na igualmente lendária avenida Sunset Strip: “Toquei com uma banda de reggae, We The People. Rolou bastante coisa lá, foi uma experiência bem intensa”, avalia.

“A coisa mais legal foi interagir com músicos do mundo todo. Tinha gente da China, Japão, Itália, França, brasileiros de São Paulo, da Paraíba”, diz.

Lá também ele conheceu o engenheiro de som Pete Doell, premiado com o Grammy, que foi justamente quem masterizou seu disco. “Mostrei o disco para ele, que gostou e topou o trabalho”, relata Edu.

No disco, o rapaz dá vazão às suas influências, que vão do classic rock ao som acústico de Lenine e Jorge Drexler.

“O som tem um que de pop acústico, com violão de cordas de aço, misturado às minhas primeiras influências de rock clássico”, descreve. Experimente.

Edu Nunez: show Lançamento do CD Universo ao Avesso / Sábado,  22 horas / 30 segundos bar / R$ 20 (moças), R$ 30 (rapazes)

ouça, baixe: www.edununez.com.br

NUETAS

Wombs in Rage is 20

Considerado um clássico do rock baiano (mais pelo registro histórico do que pela qualidade técnica), o álbum Wombs in Rage, da banda Úteros Em Fúria, completa 20 anos em setembro. Para comemorar, os membros remanescentes se reunirão para um show único no Portela Café, em 5 de outubro. Oportunidade  para antigos  fãs matarem saudades e os mais novos terem  leve noção do que era um show da Úteros – a banda que abriu as portas da geração anos 90, influenciou muita gente e marcou época. Matéria completa em breve.

10 anos de Cabeça pra Baixo

Já o   evento Domingo de Cabeça pra Baixo (AKA Faustão Falando Sozinho), da banda Irmão Carlos & O Catado, celebra 10 anos de muita  música, arte e integração social. Domingo, com o anfitrião, mais Track7 e Parafernália Sonora. Espaço Cultural Dona Neuza, Marback (Imbuí). 16 horas, gratuito.

sexta-feira, julho 26, 2013

MACCA '76: NOSTALGIA E FOLIA NAS TELAS DE CINEMA

Com três sessões em duas salas até domingo, filme-concerto Rockshow é imperdível para fãs

É possível que o sentimento da nostalgia – adorado por muitos, evitado por tantos outros – seja aquilo que  mais perdure no espectador que for ao cinema assistir ao filme Rockshow neste fim de semana.

Gravado durante a turnê norte-americana de 1976 de Paul McCartney e sua banda Wings, o filme é passagem certa a um tempo em que pessoas bacanas como o próprio Macca envergavam  mullets sem um pingo de vergonha. Nostalgia pura.

O sentimento é reforçado logo no início, quando a tela se ilumina e Paul McCartney surge nos dias de hoje, para uma breve introdução sobre o que virá a seguir.

A tela escurece e o ruído da multidão toma conta da sala. Logo ele ressurge, 37 anos mais moço, muito magro, elétrico e acompanhado dos Wings, banda que ele formou após os Beatles, e que contava com a inesquecível Linda McCartney (1941-1998) aos teclados.

Apesar da película original  ter sido restaurada para este relançamento mundial (breve em DVD e Blu-ray nas lojas) a imagem  adoravelmente granulada (especialmente nas cenas mais escuras) é muito típica dos anos 1970. Ó, nostalgia.

O que alivia esse peso doce-amargo é um só: trata-se de um puta show legal de rock.

Predomínio dos Wings

Com o astral lá em cima e músicos espetaculares como o multi-instrumentista Denny Laine e o baterista Joe English acompanhando-o, Macca faz o que sabe melhor: conquista todo mundo na plateia (lá e cá da tela) nos primeiros segundos.

Para um show longo (140 minutos) o set list faz poucas concessões aos beatlemaníacos e centra o poder de fogo no repertório solo e dos Wings.

Denny Laine (que parece um irmão perdido de Rod Stewart) assume o vocal principal uma meia dúzia de vezes – o que pode causar estranhamento em fãs mais xiitas, mas atesta o caráter “banda” do Wings.

Que aliás, fazia ali um esforço bem visível para se afastar tanto quanto possível do passado esmagador do  band leader para olhar à frente, em busca de uma identidade própria.

Não era  um show só do Macca. Era a banda  Wings no palco. O que é ótimo, também.

Dos Fab Four, há Lady Madonna, The Long and Winding Road, Blackbird e Yesterday. E só – pouco, em um set de 30 canções.

Mas tudo bem: Macca e sua super banda (com direito a naipe de sopros) dispõem de hits classe A como Jet, Maybe I'm Amazed, Live and Let Die, Bluebird, My Love, Silly Love Songs, Band on the Run e por aí vai.

Já os fãs especialistas vão adorar obscuridades como Richard Cory (canção de Simon & Garfunkel, aqui cantada por Denny Laine) e Magneto and Titanium Man (lado B do single  Rockshow), com direito a imagem dos inimigos dos X-Men da Marvel projetada no telão.

Paul McCartney and Wings: Rockshow / Multiplexes Iguatemi e Paralela / Hoje:  21 horas, amanhã: meia-noite e domingo: 14 horas / R$ 60 e R$ 30


quinta-feira, julho 25, 2013

NA BATIDA DA NIGHT

Hox, nova casa de música eletrônica no Rio Vermelho, dedicada aos DJs autorais, chama atenção para diversidade da cena noturna local

Há algumas semanas, Salvador ganhou um novo espaço para baladas de música eletrônica, com uma proposta bem específica.

Batizada Hox (fotos acima e abaixo: Fábio Peixoto), esta casa no Rio Vermelho é exclusivamente dedicada aos estilos menos comerciais do gênero, além de – garantem as sócias que respondem pelo local – não ficar restrito ao público GLS, tradicionalmente visto como o grande frequentador de clubes do tipo.

“Nossa intenção foi mesmo diferenciar a proposta da casa tanto das boates gays quanto dos espaços heteros mais comerciais, que tocam música eletrônica  em um dia da semana, sertanejo no dia seguinte, axé no outro e daí em diante”, detalha Silvia Passos, sócia da Hox ao lado de Márcia Franco – a mesma do Off Club, tradicional reduto GLS local, que no momento conclui uma reforma.

“Márcia está há muito tempo nessa cena. Ela mesma sentia isso, os DJs com quem conversamos também e até uma pesquisa de mercado nos disse a mesma coisa: havia uma lacuna para  uma casa nesses moldes, para o público heterossexual de Salvador. Daí resolvemos  transformar o Franco Café na Hox”, afirma Silvia.

Com o novo Off Club previsto para reabrir já no mês que vem, as sócias pensaram de forma bem pragmática: “Não poderíamos abrir uma boate para concorrer com a gente mesmo”.

De fato, a proposta é bem-vinda, mas fica uma questão delicada: como direcionar um espaço público de diversão noturna para uma parcela de público de determinada orientação sexual (no caso,  heterossexual)?

“Esse controle é feito a partir da escolha dos DJs e dos promoters. Os promoters atraem público para casa, certo? Se eu pego um promoter da cena GLS, ele atrai público GLS. Se for um cara da cena hetero, ele atrai o público dele. Na Hox trabalhamos  com promoters que passaram por casas como o Clube Ego, Twist Pub e Tarantino Bar, por exemplo”, explica Silvia.

Segundo Silvia, para diferenciar um clube GLS de um clube hetero, até a decoração conta: “O público GLS exige mais brilho, mais cor. Se você trabalha com tons cinza, grafite,  metálicos, identifica mais com o hetero. O próprio som do DJ difere. O DJ gay é mais bate-cabelo. Toca Rihanna, Lady Gaga, Madonna. Aí o hetero sabe que não é a praia dele”, ensina.

Entre DJs e produtores de festas eletrônicas da cidade, a proposta parece ter sido bem recebida, ainda que haja uma certa descrença quanto à orientação hetero da casa.

“Na teoria, o que eles defendem é OK. Mas na prática, acho complicado”, observa Zedu Carvalho, produtor da festa La Funhouze.

“Diante de toda a carga simbólica do nome de Márcia Franco, que é tão identificada com o GLS, e até pelo fato de a Hox ser bem do lado da San Sebastian (outro reduto GLS), acho que vai ser bem difícil elas fugirem disso”, opina Zedu.

Já a DJ e cientista social Adriana Prates (ao lado, foto Marcela Pimenta), uma veterana da cena local, lembra que música eletrônica e cultura gay estão intimamente ligados. “Está em vários livros sobre a cena disco, como ela serviu de contexto de formação da cultura gay”, diz.

Apesar de interessante, a estratégia para se definir a orientação sexual de uma casa noturna não é tão importante quanto o fato que a sua própria existência evidencia: “Hoje, em Salvador, você  tem lugares lotados tocando música eletrônica todas as semanas, para diferentes públicos. Salvador tem oferta”, nota Adriana Prates.

Nem tudo, óbvio, são flores fluorescentes. “Claro que uma cena forte mesmo, diária,  que se sustenta comercialmente, só existe no Brasil em São Paulo. Aqui, as coisas só começam a acontecer a partir de quinta-feira. E  sim, tem balada toda semana. Mas só se a pessoa não for muito seletiva. Se for, já complica um pouco”, vê Adriana.

Provavelmente, o DJ mais badalado da cidade hoje, Mauro Telefunksoul (foto: Fábio Peixoto) é residente da Hox  aos sábados, com a festa Concept, na qual mostra seu trabalho mais autoral.

“O lance da Hox é a oportunidade que vai dar aos DJs autorais, mais acostumados às raves do que às casas noturnas”, acredita.

“Agora, Salvador tem uma casa para DJs com repertório mais autoral e não uma simples parada de sucessos. Por que a música eletrônica dançante é isso: o DJ tem, sim, que trazer novidades, e não se limitar tocar o que já toca exaustivamente por aí. DJ que é DJ pesquisa”, reivindica Mauro.

Além de pesquisar, ele aponta como fundamental, para um DJ de responsa, produzir suas próprias  tracks: “Essa é a parte que mais me interessa: a produção. Tocar uma música na pista e depois nego perguntar e você dizer: ‘é minha’. Isso é o melhor de tudo”, vibra o DJ.

Mauro e Adriana foram membros do Pragatecno, coletivo (hoje desativado isso não é bem verdade, leiam mais abaixo) que, assim como o Soononmoon (este ainda ativo), foram pioneiros da cena eletrônica de Salvador, surgida a partir da segunda metade da década de 1990.

“Esse conceito de música eletrônica não-comercial é muito discutível. É que hoje em dia tudo circula, né”?, observa Claudio Manoel, DJ e jornalista, fundador do Pragatecno.

“Acho importante que o Hox surja com esse discurso, apesar de todos os clubes – fora os de rock ou pagode  – tocarem música eletrônica. O que falta é conseguir imprimir esse conceito na casa para apontar um caminho que forme, definitivamente, esse publico que prefira um som menos comercial. Espero que ela não se apresse pela grana e que tenha gosto pela estética e a cultura do DJ, em sua forma mais ampla”,  conclui.

Em tempo: o Pragatecno não está "desativado": "Nos retiramos de producões sistemáticas de festas, mas os DJs continuam atuando, aqui e em outras cidades. E Mauro e Adriana continuam, inclusive tocando em Salvador. Nossa atenção tem se voltado a incentivar a produção musical e oficinas, exatamente para alimentar a cena em outros aspectos", informa Claudio Manoel.

O Pragatecno, me corrigiu Adriana Prates, "não está desativado, apenas não temos feito festas de forma sistemática como fazíamos antes, temos nos dedicado a lançar a produção musical de nossos membros (inclusive fora do Brasil) através do selo Putz Records. Também realizamos oficinas e workshops de discotecagem e  produção. E ainda fazemos festas de vez em quando".

EXTRA: ENTREVISTA COM DJ NAZCA (DANILO MATOS), DA SOONONMOON

Falar de música eletrônica na Bahia é falar, necessariamente, dos coletivos Soononmoon e Pragatecno, grupos pioneiros estabelecidos em meados dos anos 1990.

Sobre o Pragatecno, ficamos sabendo mais acima. Quanto ao Soononmoon, este continua realizando - ou melhor, materializando - raves enormes em sítios afastados, geralmente pros lados de Camaçari, Lauro de Freitas ou da BR 324.

Nesta entrevista, Nazca (foto Caroline Paternostro), que também foi vocalista da extinta banda Arsene Lupin (do folclórico guitarrista Adriano Batata Amado), fala brevemente do cenário eletrônico atual, da Hox e do processo de profissionalização do coletivo que integra.

Recentemente, abriu-se no Rio Vermelho uma nova casa - a Hox - exclusivamente dedicada à música eletrônica e performance de DJs - além de ser, garantem as sócias que respondem pelo espaço, dirigida ao público de música eletrônica em geral e não apenas ao público GLS. Como vc vê esse fato? Ele sinaliza uma evolução de mercado? O que isso significa para vc, como pioneiro da cena eletrônica local?


DJ Nazca: Acredito que Salvador tem uma carência gigante de um club somente dedicado à música eletrônica. Já era tempo do Hox aparecer. Desejo que tenham sucesso na empreitada, variando as noites para cada uma das cenas mais ativas na música eletrônica na cidade: psytrance, house, techno, dubstep. hip hop. Acredito que se houver uma política de festas mais diversificadas e uma boa divulgação, teremos com a Hox um importante passo para acena eletrônica de Salvador.

Apesar ter uma oferta razoavelmente constante de festas e noites de música eletrônica, Salvador também oferece qualidade nesse campo? Ou é só quantidade? O que difere uma boa festa de música eletrônica de uma ruim?

DJN: Existe sim qualidade na cena eletrônica de Salvador. Boas festas, bons DJs, bins núcleos, cenários exuberantes. Tem o Carnaval cada vez mais eletrônico. Faltava um club. Vamos ver se o Hox muda um pouco essa história. A quantidade de eventos eletrônicos em Salvador é apenas um sinal de que essa cena chegou com força e pra dar uma chacoalhada no pobre entretenimento da Salvador de hoje em dia.


Sabemos que um DJ dos bons não apenas toca música, mas também a produz. Sei que vc produz. Como é esse desafio para vc? Vc procura agradar seu próprio gosto antes ou ao dos frequentadores de suas festas?

DJN: Eu ainda não produzo a minha música. Sou apenas DJ. Músico? Não. Maestro sim. Na verdade, amo ser DJ, amo contar a minha história em 60 minutos, evoluir um som, criar uma narrativa de sons abstratos e sentimentos. E como DJ, existe uma parte que é entreter aquelas pessoas, deixarem elas dançando, se divertindo. Por outro lado, existe a intenção estética do DJ, de mostrar para aquelas pessoas a sua linha de som, o seu conceito, a sua definição de um som bombástico para a pista de dança. Existe o equilíbrio entre essas duas tendências.


Como pioneiro do cenário com a Soononmoon, como vc vê a passagem desses anos todos? Houve uma evolução local? Como foi o processo de profissionalização da Soononmoon, produzindo festas grandes como as que vcs produzem?

DJN: Sim, vejo com muitos bons olhos esses novos tempos do nosso cenário eletrônico local. Depois de muito cultivar, desde quando a Soononmoon começou em 1997, hoje vemos uma cena madura, crescente, que atrai novos adeptos a cada materialização. Com a Internet e com as redes sociais e as novas ferramentas de compartilhamento de informação, vemos essa galera mais nova querendo um som eletrônico, ao invés de buscarem os mesmos ritmos de outros Carnavais.

quarta-feira, julho 24, 2013

AMOR ATLÂNTICO, 3º ÁLBUM SOLO DE ANDRÉ MENDES, JÁ DISPONÍVEL

Ex-Maria Bacana diz que vai lançar um álbum novo por ano, "enquanto estiver vivo"

Dia desses, o colunista tomou um susto ao checar sua caixa de email: era André Mendes comunicando o lançamento de um novo disco, Amor Atlântico.

Ora, ano passado  ele havia soltado Enfim Terra Firme. E no ano anterior, 2011, um outro, Bem Vindo À Navegação.

O ritmo de produção – um álbum por ano, coisa rara entre artistas de qualquer gênero  hoje – se explica na letra da segunda faixa de Amor Atlântico: “Sim deixo fluir, não importa como a vida vem vindo”.

“Meu esquema agora é tipo Roberto Carlos: um disco por ano. Sempre  no dia 15 de julho, que é meu aniversário. E vai ser assim pro resto da vida. Enquanto eu estiver vivo”, diverte-se André Mendes.

Aliás, André “L.R.” Mendes, já que ele fez questão de adicionar esse “L.R.” ao nome artístico.

“É que eu acho a ‘marca’ ‘André Mendes’ muito fraca. Sempre fiquei na dúvida sobre como melhorar essa marca. Aí simplesmente usei as iniciais dos meus nomes do meio só pra dar algo de único”, conta.

“Se você googlar ‘André Mendes’ vai achar muita gente. Mas ‘Andre L.R. Mendes’ só tem eu”, justifica o músico.

Som praieiro de inverno

Produzido por Jorge Solovera, Amor Atlântico dá continuidade ao que André vem fazendo desde Bem Vindo à Navegação: canções acústicas singelas, de caráter praieiro – sempre embebidas em certa melancolia.

“Este é o mais pessoal e silencioso dos três. Foquei muito mais nas letras e na canção em si do que na  instrumentação e nos arranjos. Isso foi um papo que tive com Solovera antes de começar a trabalhar: ‘vamos focar na canção. O resto é só o resto’”, relata André.

Apesar de quase não fazer shows e ser pouco (ou nada) reconhecido em sua própria terra, André tem respaldo crítico fora da Bahia: “O Enfim Terra Firme saiu em algumas listas de melhores do ano, como na revista Rolling Stone e no site Scream Yell”, informa.

“Com o passar do tempo,  saí do esquema de roqueiro que sai por aí para tocar. Hoje me sinto mais escritor do que roqueiro. São tipos diferentes de retorno”, pesa o ex-Maria Bacana.

Fora de qualquer esquema que não o dele mesmo, André diz viver em uma bolha: “Depois da última eleição, a ficha caiu. Não vou reclamar. As pessoas são felizes assim? Que sejam”.

Ouça, baixe: www.andremendesmusica.com.br

NUETAS


Baile Afro-ska sexta
Programão para sexta-feira: Baile Afro-ska com a banda Skanibais e os DJs do Sistema Kalakuta. A Skanibais (foto: Anderson Ferreira) toca até Riachão em ritmo de ska. Bom demais. 22 horas, no Sankofa African Bar (Ladeira de São Miguel, 7, Pelourinho). R$ 10.

Três vezes Raulzito
As bandas Água Suja, Callangazoo e Sopapo celebram Raul Seixas no Dubliner’s. Sexta-feira, 22 horas, R$ 10 (lista no Facebook), R$ 15 na hora.

Camisinha no sábado
Sábado,  o Camisa de Vênus encerra temporada  de quatro datas no mesmo Dubliner’s. A ocasião terá convidados ilustres: Márcio Mello, Fábio Cascadura, Keko Pires e Carlos Barros. As bandas Combat Rock (The Clash Cover) e Ex-29 completam a night. 22 horas, R$ 20.

sábado, julho 20, 2013

MICRO-RESENHAS QUE TOMAM UM TEMPÃO PARA FICAR PRONTAS

Um rapaz insano faz 40

Quase uma sequência de Ziggy Stardust, Alladin Sane (1973), foi composto por Bowie durante turnê pelos Estados Unidos. Foi seu primeiro álbum pós-estouro e chegada ao estrelato, além de ainda contar com a banda Spiders From Mars: Mick Ronson (guitarra, piano, vocais), Trevor Bolder (baixo) e Mick "Woody" Woodmansey (bateria). Há quem ache irregular, mas na verdade, não é. Contém pérolas incontestáveis do seu repertório como o hard honky tonk Watch That Man, o prog rock de Time, o doo-wop emotivo de Drive-In Saturday, Panic in Detroit, a faixa-titulo, The Jean Genie e uma descabelada versão para Let's Spend The Night Together (Rolling Stones). Bowie clássico, sim senhor. David Bowie / Aladdin Sane - 40th Anniversary Edition /  Emi / R$ 31,90



 
Doses cavalares

Caceteiro como uma dose de Jack Daniel’s com Coca Cola (drinque diário do band leader Lemmy), este DVD do Motorhead traz as habituais performances matadoras da banda, incluindo o show do Rock in Rio 2011. Com direito a belas garotas em trajes menores, cuspindo fogo no palco. Rrrrrock! Motörhead / The Wörld is Öurs Vol. 2 / EMI / R$ 39,90









Música fofolk

No  terceiro CD, o duo formado pelo guitarrista M. Ward e a cantriz  Zooey Deschanel segue a toada dos discos  anteriores: country folk adocicado, com toques  girl band anos 1960. Uma delícia. Ouça I’ve Got Your Number Son, Never Wanted Your Love e Suday Girl (do Blondie). She And Him / Volume 3 / Lab 344 / R$ 34,90

 






Garçom!

Procuras um afago no canal auricular? O guitarrista brasileiro Tato Mahfuz oferece uma horinha inteira disso no seu novo álbum instrumental, Cá Entre Nós, uma adorável coleção de jazz lounge brasuca em 10 faixas perfeitas para um civilizado happy hour. Tim-tim. Tato Mahfuz / Cá entre nós / Tratore / R$ 29,90







Metal pesado, alto e claro

Titã do metal alemão, a banda Helloween honra sua longa trajetória (28 anos) com mais um álbum capaz de entortar o cangote de qualquer headbanger: veloz, pesadão, trampado – mas com o som limpo que é sua marca. Sonzão. Helloween / Straight Out Of Hell / Sony Music / R$ 26,90











Apelo pop e gatinha no vocal

Os curitibanos da ParanoiKa perderam para o baiano Mr. Armeng o reality Breakout Brasil, mas saíram com CD antes dele. Ainda que se apóie muito na vocalista gatinha, é uma banda de rock bem maneira,  com apelo pop, peso e melodia na medida certa em faixas como Out Of Control, Tudo é Over e Brilho da Lua. Derrapa quando recorre aos clichês em  demasia (Complexidade). Tem potencial, mas precisa estabelecer melhor sua  identidade própria. ParanoiKa / ParanoiKa / R$ 20 / Ou baixe grátis: www.paranoika.com.br

 




Segunda divisão, mas com muita dignidade

Sempre vista como banda de segunda divisão do New Wave of British Heavy Metal (que revelou Iron Maiden, Def Leppard e outras bandas), o quinteto Saxon até que se sai bem neste novo CD. Pesadão (faixa-título), orgulhoso (Made in Belfast, com bandolins muito bem integrados ao peso das guitarras), veloz (Warriors of The Road). Boa banda, em bom momento. Saxon / Sacrifice / EMI /R$ 29,90







Jazz do imigrante

Radicado há tempos nos EUA, o pianista brasileiro Antonio Adolfo funde jazz e MPB como poucos. Para isto, lança mão  de composições próprias (Três Meninos, Balada) e de clássicos de Coltrane (Giant Steps, Naima), Gillespie (Con Alma) e outros. Fino. Antonio Adolfo / Finas misturas / AAM - Sala de Som / R$ 29,90






Pau no Bial

Além do irado cordel que lhe rendeu certa fama, Antonio Barreto reúne aqui outros cordeis sobre Paulo Freire, Maria Felipa, Casa Grande & Senzala, BA-VI, a desastrosa gestão João Henrique e outros assuntos quentes, sempre com o  dedo na ferida e a língua em brasa. Big Brother Brasil, um programa imbecil e outros cordéis / Antonio Barreto / Quarteto - FPC / 100 p. / R$ 10 / www.editoraquarteto.com.br

 


A vida, digo, a morte continua


Sequência de A Ascensão do Governador, este livro segue contando a saga de Woodbury, cidade dominada com mão de ferro pelo violento personagem, em meio à  epidemia zumbi. Lilly Caul, refugiada, começa a questionar o ditador. As consequências, claro, serão funestas. The Walking Dead: O Caminho para Woodbury / Bonansinga e  Kirkman / Galera Record/ 336 p./ R$ 34,90/ galerarecord.com.br

 



Veja o filme, leia...

Transposto com sucesso para o cinema no filme Soul Kitchen, o livro de Jasmim Ramadan,  alemã de origem egípcia, conta a saga do jovem Zino, filho de imigrantes gregos em Hamburgo que se torna cozinheiro de um bordel. A narrativa acelerada e cheia de vida da  jovem autora a tornou um dos nomes mais celebrados da literatura europeia. A cozinha da alma / Jasmin Ramadan / 8Inverso/ 242 p./ R$ 42/ 8inverso.com.br







Véio destemido

Dez anos desde seu último disco, a lenda viva do jazz Wayne Shorter volta, sem rede de proteção. Nada nostálgico, oferece nove faixas de jazz avant garde de alta performance, gravadas ao vivo. Fôlego incrível para um saxofonista de 80 anos. Gênio. The Wayne Shorter Quartet / Without a Net / EMI  / R$ 29,90

 





Rock Rua Augusta

Apesar de parecer um clichê ambulante de “roqueiro Rua Augusta”, Chuck Hipolitho (ex-Forgotten Boys) tem lá seu talento. Neste primeiro CD de sua  nova banda, apresenta meia dúzia de canções dignas de atenção. Nada espetacular, mas fazer o quê? Igual, tem às pencas por aí. Curioso notar que a melhor faixa é uma versão em português de um rock uruguaio (Ya No Sé Qué Hacer Conmigo, da banda El Cuarteto de Nos). Fábio Cascadura assina algumas letras. Vespas Mandarinas / Animal Nacional / Deckdisc / R$ 29,90

 





Patriçona era sinistra

É erro comum apontar Patricia Highsmith (1921-1995) como autora de policiais. Seus livros quase sempre tem assassinato. Mas o que ela fazia era enredar o leitor em uma teia febril de ambiguidade moral. Neste romance sob o calor da Tunísia, multiplique essa febre por dez. Arrepiante. O Tremor da Suspeita / Patricia Highsmith / Benvirá /  312 p. / R$ 39,90 / www.benvira.com.br







Loyola's Greatest Hits

Um dos maiores nomes vivos da crônica brasileira, Ignácio de Loyola tem aqui quase um greatest hits de sua produção no gênero. Os assuntos abrangem a infância em Araraquara, a juventude engajada em São Paulo e a cirurgia recente que mudou sua vida, sempre com bom humor. Crônicas para Jovens / Ignácio de Loyola Brandão / Global / 112 p. / R$ 29 / www.globaleditora.com.br

quarta-feira, julho 17, 2013

TODAS AS MULHERES DO MUNDO


Em seu primeiro CD de estúdio desde 2005, Marcelo Nova fala do sexo feminino e trata a música como moldura para narrativas – com ótimo resultado

São mesmo incertos os caminhos da criação artística. Muitas vezes o artista toma um caminho achando que vai chegar em determinado destino.

Aí entram em cena desvios e imprevistos: o imponderável. E o que era para ser assim, torna-se assado.

Marcelo Nova (fotos de Livia Lamana) experimentou bem essa situação durante as gravações do seu novo álbum, 12 Fêmeas.

A boa notícia é que o resultado do seu périplo pelo reino do imprevisível rendeu aquele que é, possivelmente, seu trabalho solo mais enxuto e bem resolvido.

Temático, o álbum de 12 faixas passeia, como se pode deduzir do seu título, pelas experiências e impressões de Marcelo com aquilo que mais lhe causa admiração e fascínio na vida: o sexo feminino.

“Eu não possuo a qualidade de compositores de alma feminina, como Chico Buarque, que  se colocam como mulher na canção. Essa capacidade eu realmente não tenho”, admite o músico, pelo telefone.

“Todas as minhas canções são do ponto de vista heterossexual. Do ponto de vista do homem. São canções que expõem meus sentimentos sobre esses seres misteriosos que eu tanto aprecio. Há paixão  e ódio, perda e redenção”, descreve.

Mas que não se espere revelações picantes ou algo que o valha. O que conta para Marcelo é a poesia, a metáfora, a impressão que as mulheres que passaram por sua vida lhe deixaram.

“Isso é um disco, não uma autobiografia”, avisa.

Mesma vaca, outra teta

Produzido “a três cabeças e seis mãos” – como ele mesmo diz – por Marcelo, seu filho Drake Nova (guitarras e violões) e Luiz De Boni (piano, órgão, contrabaixo, Harpsichord, violões), 12 Fêmeas começou como um desafio quase intransponível para o ex-Camisa de Vênus.

O desafio era transpor a sombra projetada por seu último CD de estúdio, o épico autobiográfico O Galope do Tempo (2005).

“A medida que o tempo foi passando, o Galope  virou uma coisa quase insuperável entre as pessoas que apreciam meu trabalho”, relata Marcelo.

“Era como se eu  não tivesse mais para onde ir depois daquele disco. Não tinha mais nada para sugar da teta daquela vaca”, diverte-se.

“Como eu gosto muito da vaca, troquei só de teta. Percebi que no Galope, eu havia buscado uma sonoridade única para todas os instrumentos. Fiquei 12 dias no estúdio só experimentando timbres. No que ia achando, estacionava ali. Gravei o disco todo como uma música só em 16 faixas”, relata.

Para o 12 Fêmeas, Marcelo decidiu variar as sonoridades e os timbres dos instrumentos. Mas de uma forma que a parte instrumental não colidisse com aquilo que ele considera o cerne de sua obra: as letras.

“Nesse disco, eu tive o cuidado de deixar o texto em primeiro plano. E coloquei, para contrapor, aquelas guitarras distorcidas e insinuantes que sempre fizeram parte do meu trabalho”, descreve.

E assim Marcelo entrou no estúdio com Drake e De Boni. Mas esqueceu a porta aberta – pela qual o imprevisto adentrou o recinto em uma forma das mais surpreendentes.

O monge ninja no estúdio

“Na verdade. Entrei no estúdio só com Drake. Queria um disco de sons crus e rudes:  voz, violão e guitarras. Algo na linha Nebraska (1982), de Bruce Springsteen”, revela.

Depois de gravar três faixas, Marcelo pediu ao dono do estúdio, o De Boni, que adicionasse um órgão em determinada canção. De Boni gravou em três ou quatro. Foi incorporado ao projeto.

“Aí surgiu o Goba Wagnka”, conta.

“Uma noite, entrou no estúdio um bando de monges nepaleses de indumentária laranja. No meio deles tinha um, muito alto, carregando um monte de instrumentos de percussão estranhíssimos. Era o Goba Wangka”, detalha Marcelo.

Os monges, de passagem pelo Brasil, iam gravar uma música para o projeto Free Tibet. Admirado, Marcelo convidou o percussionista de nome exótico para gravar em seu disco.

Convite aceito, o religioso oriental concedeu um peso e um tempo completamente inusitados ao disco.

“Ele toca de uma maneira monástica, concentrado, quase imovel, sem expressão no rosto, como uma espécie de ninja. Foi  muito desconcertante ver aquilo”, descreve.

“Quando ele bate na caixa da bateria, parece que está sempre alguns milissegundos  atrasado. Ele puxa um pouquinho de nada a canção para trás no andamento, é muito sutil. Ele colocou a personalidade dele. E ai o disco ficou com outra cara, muito distante do que eu tinha imaginado anteriormente”, conclui.



Resenha: Em 12 Fêmeas, Marcelo encontrou forma musical ideal para derivações poéticas

Nos seus últimos trabalhos, Marcelo Nova andou perseguindo ferozmente a forma musical mais adequada para suas letras cada vez mais longas, narrativas e complexas – já que ele veio se tornando, ao longo dos anos, cada vez mais distante do punk raivoso que viveu nos anos de glória do Camisa de Vênus.

Talvez só agora, aos 61 anos muito bem vividos,  tenha chegado à forma musical perfeita para suas derivações poéticas.

Mal comparando, 12 Fêmeas, o resultado desta busca sem fim, é um álbum de caráter literário como New York (1989) ou Songs For Drella (1990), ambos de Lou Reed: é um disco que se ouve como se lê um livro.

Mérito não só dele, mas também – possivelmente, em igual medida – para Drake Nova (muito promissor, cria riffs tanto delicados quanto pesados) e Luiz De Boni, parceiros de primeira hora, além do incrível baterista nepalês Goba Wangka.

Aqui, a música muitas vezes atua como uma tela, na qual Marcelo pinta paisagens de beleza inusitada e algo selvagem, como na faixa A Minha Inveja: “Eu invejo o vento / Que sussurra em seus ouvidos / Que lhe arrepia as coxas / Suspende seu vestido / Afasta seus medos / Lhe sopra os cabelos / Afaga seus lábios, varre seus pensamentos / Eu invejo o vento”.

Caderno de impressões

Menos um caderno de memórias do que tratado de impressões sobre as mulheres, 12 Fêmeas consegue ser uma audição mais compensadora do que seu antecessor,  O Galope do Tempo (2005), não apenas por que, como supõe seu autor, tenha uma sonoridade mais variada, mas também por que, mesmo sem buscar isso, consegue soar mais contemporâneo – em sua simplicidade espartana.

 Mais compensador ainda é notar como segue incólume aos apelos mercantilistas um artista cujo único compromisso sempre foi com a própria verdade.

No fim das contas, não há nada mais artístico do que isto.

12 Fêmeas / Marcelo Nova / Unimar Music / R$ 24,90 / www.marcelonova.com.br


terça-feira, julho 16, 2013

BANDA SETEMBRO RETORNA COM NOVO ÁLBUM, NOVOS INTEGRANTES E A SOFISTICAÇÃO DE SEMPRE

Quem frequentava a cena alternativa / roqueira da cidade em meados dos anos 1990, início dos 2000, deve se lembrar da Banda Setembro.

Formada por músicos talentosos que se inspiravam em Earth Wind & Fire, Tim Maia e Cassiano, entre outras potências soul e MPB, ela começou a chamar atenção quando ainda se chamava Jardim da Infância.

Depois de mudar de nome e gravar um primeiro CD (algo bem mais complicado na época) chamou a atenção de Ed Motta, que a elogiou publicamente, em uma entrevista na MTV.

Com o nome “quente”, se mudaram para São Paulo. “Tocamos em algumas casas. Mas aí cada um precisou trabalhar e se sustentar. A banda ficou em segundo plano. Só o baterista (Kezo) ficou por lá. O resto voltou pra cá”, relata o vocalista, CH.

Pois bem, passados alguns anos, eis que a Setembro (em foto de Antônio Geraldo Paim) está de volta com disco de inéditas, dois novos integrantes e a mesma sofisticação nos arranjos.

Intitulado simplesmente 2, o álbum está todo disponível para audição no site oficial da banda e foi produzido pelo baixista original, Alexandre Processo.

Além deste último, Zé Travassos (guitarra) CH, a Setembro hoje conta com Anderson Chrystopher (bateria), e Bruno Aranha (teclados).

Não quero dinheiro

“A Setembro nunca acabou, na verdade. Só parou, mas sempre quisemos fazer um novo trabalho”, diz CH.

O primeiro passo foi a  participação em um musical do grupo teatral Dimenti. “Ali desenvolvemos um conceito de musical para nossa  estética, adequando nossas canções  ao ritmo da peça, um viés cênico”.

“Mas o grande incentivo mesmo foi nossa participação no disco tributo ao Guilherme Arantes, A Cara & O Coração, no qual gravamos duas faixas”, conta.

Com o disco pronto e disponível (inclusive para venda no iTunes), a Setembro se prepara para o show de lançamento, depois de amanhã.

“O que mais gostei depois de tudo é essa mobilização em torno de algo que não tem relação direta com comércio. Não busca dinheiro. Busca valor estético. Esse desprendimento natural que existe em  todo músico”, garante o vocalista.

Banda Setembro /Show de lançamento do CD 2: Quinta-feira, 22 horas / Commons Studio Bar / R$ 20 (lista no www.commons.com.br ou antecipado na Midialouca) e R$ 25 (na porta)

Ouça: bandasetembro.com.br


NUETAS


Manu no Sesc Pelô
Irreverente, carismática e  baita cantora, Manuela Rodrigues (foto Márcio Lima) se apresenta no Teatro Sesc-Senac Pelourinho sexta-feira e sábado. A moça conta com super banda. Se liga na formação: Tadeu Mascarenhas (teclado e direção musical), Son Melo (baixo), Júlio Caldas (guitarra, guitarra baiana, cavaquinho e violão) e Lalo (batería). No show ela já apresenta música nova, que deverá constar do seu próximo álbum. 20 horas, R$ 20 e R$ 10

Mês do rock segue

Anda no Pelô, a programação do mês do rock segue em alta nesta sexta-feira com Radiola (Largo Tereza Batista) e Cascadura (Largo Pedro Archanjo). 21 horas, entrada gratuita.

Latinidad no Visca

CH Strattman leva os belos sons do seu  Efecto Vertigo ao  Visca Sabor & Arte. Sábado (20), 22 horas, R$ 15 (preço único).  CD à venda no local. Recomendo.

sábado, julho 13, 2013

LETRAS DE ROCK

Tão importante quanto ouvir rock, é compreende-lo. No Dia Mundial do Rock, uma data chapa branca criada pela ONU, o Rock Loco subverte a ordem das coisas é recomenda não ouvir rock hoje. E sim, ler sobre ele. E quem sabe, entender melhor seus mistérios e contradições


O Dia Mundial do Rock, comemorado no próximo dia 13 (sábado que vem), carrega em sua origem uma baita contradição.

Nascido sob a égide da luxúria – representado pela liberdade com a qual os quadris se mexiam ao seu ritmo – o rock ‘n’ roll veio ao mundo como a trilha sonora de um movimento de busca pela liberdade individual, iniciado décadas antes pelos beatniks de Jack Kerouac e pela “Geração Perdida” de Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald.

Contudo, o chamado Dia Mundial do Rock tem uma origem completamente distante dessa gênese meio mundana.

Para começar, foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) – ou seja, mais “chapa branca”, impossível – em homenagem ao evento Live Aid, aquele mega-festival realizado em 1985 (e depois, em 2005, como Live 8) para arrecadar fundos e ajudar a aliviar a fome na Etiópia, país africano berço da humanidade, então em grave crise humanitária.

Donde se conclui, então, que um dos ritmos mais lascivos de todos os tempos é oficialmente celebrado no dia em que ele foi dedicado a uma causa nobre.

Baita contradição. Mais rock ‘n’ roll, impossível.

Zappa é que sabia das coisas

Mas tão importante quanto ouvir rock é conhece-lo a fundo – entender por que um gênero musical simplório, surgido há mais de meio século, sobreviveu (enquanto tantos outros desapareceram), se transformou e se adaptou às décadas seguintes.

E mais: é importante saber por que o rock extrapolou o âmbito da música e invadiu a vida das pessoas, se tornando um ideal, uma ideia, um estilo de vida.

Impregnou o cinema, namorou a literatura e as artes em geral – e mudou a cara da cultura Ocidental, se espalhando pelo planeta mais rápido do que uma praga de zumbis.

Além de uma discografia infinita aonde a música em si está registrada, o caminho mais indicado para entender o rock – na verdade, para entender qualquer coisa – está nos livros.

Portanto, para celebrar o Dia Mundial do Rock, a edição literária do Caderno 2+ (sempre aos  sábados) o Rock Loco enfoca alguns lançamentos recentes, além de listar (mais abaixo) uma “biblioteca básica do rock” para neófitos.

Frank Zappa (1940-1993), um cara que sabia das coisas – até por que era, na verdade, um erudito disfarçado de roqueiro – matou a charada sobre a imprensa musical lá nos anos 1970, ao dizer que “a maior parte do jornalismo de rock é feita por pessoas que não sabem escrever, entrevistando pessoas que não sabem falar, para pessoas que não sabem ler”.

Isso significa que, bem, não se deve mesmo acreditar (ou levar a sério) tudo o que se lê na imprensa musical.

Mas, sim, há grandes obras dedicadas ao gênero, escritas em diversos estilos, que vão desde a biografia de artistas ao estudo acadêmico dos fenômenos sócio-culturais, passando por romances, HQs e até livros infantis (afinal, o moleque diferentão de hoje poderá ser o gênio do rock de amanhã).

Páginas da vida roqueira


No campo das biografias, uma que acaba de chegar às prateleiras enfoca uma da maiores bandas de heay metal de todos os tempos: O Reino Sangrento do Slayer (Ideal, 368 páginas, R$ 54,90), de Joel McIver (mesmo autor de uma biografia do Black Sabbath, já lançada no Brasil pela editora Madras).

Em segunda edição com capa dura, revisada e atualizada com a recente morte do seu guitarrista Jeff Hanneman (aos 49 anos, por cirrose, em 2 de maio último), o livro é item obrigatório na prateleira dos apreciadores do true metal.

Elogiada pela crítica especializada, O Reino Sangrento do Slayer não é uma biografia oficial da banda, mas é como se fosse: McIver entrevistou todos os membros diversas vezes ao longo de vários anos e seu texto cobre tanto a trajetória musical, quanto pessoal dos californianos. Recomendada.

Já Morte a Bono, de Neil McCormick (Martins Fontes, 414 páginas, R$ 45), não é uma biografia do líder do U2, mas sim, a de seu autor, um respeitado jornalista musical britânico, amigo de Bono desde criança.

Por isso mesmo, Neil e Bono compartilharam aquele importante período da adolescência inicial quando, juntos, descobriram o rock e resolveram se tornar ricos e famosos na idade adulta.

Como se sabe, só Bono atingiu este objetivo.

Dono de prosa ágil,  engraçada e autoirônica, McCormick conta sua trajetória paralela a acensão de Bono ao estrelato mundial.

Best-seller no Reino Unido, este livro rendeu uma adaptação ao cinema em 2011, ainda inédita no Brasil.

Francamente biográfica é a HQ Amy Winehouse, de Cristophe Goffette, Patrick Eudeline (roteiro) e do desenhista Javi Ferandez (Conrad, 48 páginas, R$ 39).

Primeiro volume da coleção Clube dos 27 (dedicada aos roqueiros famosos que morreram aos 27 anos), é mais indicada aos fãs completistas da cantora, já que não oferece nenhuma informação ou abordagem que  já não tenha sido alardeada pela mídia, desde sua trágica morte em 2011.





Dicas de Sexo de Astros do Rock, de Paul Miles (Best-Seller, 272 páginas, R$ 39,90)é uma bobagem.

Mais indicada para adolescentes devido ao seu caráter educativo – especialmente quanto ao que não fazer por aí – é uma série de depoimentos de astros mais ou menos famosos sobre sexo e diversos assuntos correlatos divididos por tópicos: Roupas & lingerie, Locais ousados, Aumentos & extensões, Divórcio e por aí vai.


 
Por último, mas não menos importante, é Rock Para Pequenos: Um Livro Ilustrado Para Futuros Roqueiros, de Laura Macoriello e Lucas Dutra (Ideal, 36 páginas, R$ 39,90).

"Fofo", apresenta bandas e artistas clássicos do rock em linguagem infantil e desenhos bacanas, sempre com uma mensagem edificante junto.

Por exemplo: na página sobre os Rolling Stones, apresentados como “vovôs do rock”, o texto recomenda: “Devemos sempre respeitar os mais velhos”!

Então, aumenta, que isso aí...

Bibliografia roqueira básica (mas não definitiva, feita de memória entre alguns livros já lidos pelo - ou recomendados ao - blogueiro. Sim, sei que há muitos outros, mas aqui estão só esses, tá?)

Rock: o Grito e o Mito, (1973, de Roberto Muggiati, Ed. Vozes). Um dos melhores estudos sobre a gênese e o fenômeno do rock escrito em qualquer língua, encontra-se criminosamente fora de catálogo. Alô, editoras!

Raízes do Rock, (2012, de Florent Mazzoleni, Cia. Editora Nacional), belíssimo estudo ilustrado das origens negras e brancas do rock.

The Beatles - A Biografia (2012, de Bob Spitz, Ed. Larousse). O subtítulo e o número de páginas (1.800!) não deixam dúvidas. Fab Four? Este é O Livro.

Led Zeppelin: Quando Os Gigantes Caminhavam Sobre A Terra,(2009, de Mick Wall, Larousse). Talvez a melhor (entre muita outras) biografia de Page, Plant & Cia

Mate-me por Favor (1998, de Larry "Legs" McNeil e Gilliam McCain, L&PM) A história oral do punk nos Estados Unidos. Hilariante e hoje há quem o ache "ultrapassado" ou algo assim, mas ainda assim, recomendadíssimo

Dias de Luta (2002, de Ricardo Alexandre, DBA). O melhor livro já escrito sobre o fenômeno do BRock dos anos 1980, relançado agora pela Ed. Arquipélago)

sexta-feira, julho 12, 2013

CIRCUITO BANCO DO BRASIL TRAZ JOSS STONE À SALVADOR

Depois de algum burburinho em sites de fãs e redes sociais, veio a confirmação durante entrevista coletiva na manhã de ontem em São Paulo: a cantora inglesa de neosoul Joss Stone se apresenta em Salvador no dia 31 de agosto, como atração principal do Circuito Banco do Brasil 2013, série itinerante de eventos que acontecerá até dezembro em seis capitais brasileiras.

Em salvador, o evento será no Wet n Wild, e terá três palcos: Palco Circuito, Palco Brasil e Eletrônico.

O principal (Circuito) terá como atrações a citada Joss, Carlinhos Brown com participações de Rogério Flausino (Jota Quest), Samuel Rosa (Skank) e Monobloco, além dos próprios Skank e Jota Quest.

No Palco Brasil, shows de Monobloco, Preta Gil e Jau de convidado e mais uma banda ou artista a ser escolhida pelo publico via voto popular, no concurso Sompratodos.

No Eletrônico marcam presença Taboo (integrante da banda Black Eyed Peas) e o DJ Ask 2 Quit (Pede pra sair, em bom português).

O projeto todo esta orçado em R$ 25 milhões, "quantia publicada no Diário Oficial da União, seguindo todos os critérios de transparência", disse Hayton Jurema da Rocha, diretor de Marketing e Comunicação da instituição (na foto ao lado, é o homem à direita).

Os organizadores - Banco do Brasil e a produtora Planmusic - enfatizaram bastante o caráter múltiplo do evento, que além de muita musica, terá também o, acontecendo simultaneamente, a Copa Brasil de Skate Vertical e uma Galeria de Esporte e Cultura. Na parte do esporte, o foco está nos atletas e equipes patrocinadas pelo BB, como vôlei, tênis e vela.

Na parte da cultura, o publico poderá ver pare das mostras já recebidas pelos Centros Culturais BB do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, como a mostra O Mundo Magico de Escher e Impressionismo: Paris e a Modernidade.

"Essa é uma nova plataforma de marketing e relacionamento para o Banco do Brasil", resumiu Hayton.

"Serão seis capitais (além de Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília) em quatro regiões do País, com atrações acessíveis a um publico de 8 a 80 anos", acrescentou.

Já o empresário Luiz Oscar Niemeyer (o homem à esquerda, na foto acima), da Planmusic, destacou a importância de se estar trabalhando com praças que ele chamou de "mercado secundário", ou seja: capitais fora do eixo Rio-São Paulo, que ele considera "esgotado".

"Temos que aproveitar o potencial de outras regiões", afirmou.

Sobre a escolha do local do show - o parque aquatico desativado Wet 'n' Wild, quando poderia ser na recem-inaugurada Arena Fonte Nova - , Niemeyer justificou dizendo que "O estádio poderia não ser adequado para abrigar o público (estimado em 25 mil pessoas), mais dois palcos, uma tenda, uma galeria e uma pista de skate. O conceito do Circuito é que seja em espaço aberto. O Wet é bem grande, recebe vários eventos e tenho certeza de que será umaexperiencia excelente para todos", acrescentou.

"Acho que o gramado de um estadio como a Fonte Nova tem entre 7 ou 8 mil metros quadrados. Com certeza, não é suficiente para tudo o que quremos fazer", disse também Hayton.

O criterio de seleçao de cada atraçao para cada cidade foi outro asunto abordado na coletiva, já que nomes maiores do que Joss Stone no cenario mundial se apresentarão no CBB.

Stevie Wonder será atracao principal em Brasilia (7 de dezembro), enquanto a banda Red Hot Chili Peppers se apresentará em Belo Horizonte (2 de novembro) e Rio de Janeiro (9 de novembro).

"Entendemos que Joss Stone é uma artista que se adequa bem ao que o publico do Nordeste aprecia, musicalmente falando. Claro que qualquer um destes artistas faria sucesso em qualquer uma das capitais que vão receber o Circuito, mas aí também entraram outros fatores como disponibilidade dos artistas etc", justificou Niemeyer.

Lançado o projeto, a ideia é que ele continue acontecendo nos próximos anos, abarcando mais capitais. "Sem duvida, queremos ampliar o circuito. Mas vamos ver como será a resposta deste primeiro ano", disse Hayton.

Presentes à coletiva estavam também os artistas Max de Castro e Wilson Simoninha (Baile do Simonal, atração em Brasília) e Rogério Flausino (Jota Quest, atração em Salvador e BH), que falaram rapidamente com os jornalistas.

"Para nós, é um sonho tocar na mesma noite mesmo palco do Red Hot Chili Peppers em BH e com a Joss Stone em Salvador", disse Flausino, que chegou no finzinho da coletiva.

"O Brasil já provou estar pronto para receber este tipo de evento, especialmente esses que misturam artistas brasileiros e estrangeiros, é uma troca muito gratificante. Quem puder aparece lá em BH também, que sempre tem uma cachacinha da boa", convidou, arrancando risos da plateia.

Para os shows de Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo as vendas serão realizadas pelo site www.ingresso.com.

A pré-venda (para clientes BB) começa hoje ontem mesmo, ao preço de R$ 112 (desconto de 30%).

Para os demais interessados, começa no dia 15 (segunda-feira), ao preço de R$ 160, a meia a R$ 80.

Mais informações: www.circuitobancodobrasil.com.br

Matéria publicada ontem no Caderno 2+ do jornal A Tarde. O jornalista viajou a São Paulo a convite da produção do evento. Fotos cedidas pela produção do evento.