As peruas fúteis de Sex & The City não representam: Frances Frankie Heck é a verdadeira mulher de meia idade e mãe de família norte-americana.
Interpretada com conhecimento de causa por Patricia Heaton, Frankie está de volta com sua típica família disfuncional para a quarta temporada de The Middle, com estreia para o dia 12.
Exibida pelo canal Warner Channel, The Middle é uma sitcom diferente da maioria.
Não tem risadas enlatadas ou gente rica despreocupada, exibindo corpos sarados, carrões e roupas caras.
“The Middle mostra a vida da gente comum nos Estados Unidos. A vida que acontece entre Nova York e Los Angeles”, resume a atriz, durante conference call de divulgação para a imprensa.
“Por isso o programa se chama The Middle (O Meio). É sobre a vida no meio do país, nos fly over states, que são os estados sobre os quais você voa quando viaja de Nova York para Los Angeles ou vice-versa. Ele mostra que a vida norte-americana é muito mais parecida com a vida na América Latina do que se pensava”, arrisca Patricia.
Humor de recessão econômica
Realmente engraçada, a sitcom mostra o dia a dia da família de Frankie, que é vendedora em uma revenda de carros usados e casada com Mike (o ator Neil Flynn) - que trabalha em uma pedreira (Wiiiiiilmaaaaa!!!!!! Desculpem, não resisti...).
O casal tem três filhos: Axel, Sue e Brick.
Axel (interpretado por Charlie McDermott), o mais velho, é burro como uma porta, malcriado e só anda de cueca em casa.
Sue (Eden Sher), coitada, usa aparelho nos dentes e não consegue se enturmar de jeito nenhum na escola. Ainda assim, exibe um otimismo tão decidido que só pode ser estupidez ou estoicismo.
Já o mais novo, Brick (Atticus Shaffer), parece ter herdado toda a inteligência da família. Seus melhores amigos são seus livros.
Quando não está filosofando – para absoluto constrangimento dos seus pais –, sussurra para si mesmo. Um moleque estranho.
Junta em casa, essa família janta baldes de frango frito com refrigerante todo santo dia.
“Acho que o tema da família e criação dos filhos é universal. Não importa em que país você more. Pais tem os mesmos problemas com seus filhos e eu acho que o programa também lida de forma humorística com o contexto de recessão econômica. Ele encontra humor nessas situações, e é o humor que lhes confere um toque de esperança”, diz.
“Acho que um de nossos temas é que os problemas da vida vem e vão, mas se você mantém sua família unida, pode ser capaz de superar qualquer tempestade”, acrescenta a atriz.
Nesta quarta temporada, as coisas vão fica ainda mais difíceis para os Hecks.
Frankie vai perder o emprego e Axel vai concluir o ensino médio, mas os Hecks não tem dinheiro para bancar a faculdade.
“Frankie e Mike tem esperanças que ele consiga alguma bolsa jogando futebol, por que eles não tem dinheiro para bancar o curso dele. Ele também arruma uma namorada séria que o desafia a ser um estudante mais aplicado”, conta.
“Sue, sempre otimista, está cheia de expectativas com seu segundo ano na high school. Ela continua tentando se juntar a vários clubes e participar de atividades nas quais não é particularmente boa. Mas ela nunca perde a esperança. Além disso, vai conseguir um namorado também”, adianta.
“Frankie vai pensar em como repor a renda perdida depois de perder o emprego. Ela vai chegar a conclusão de que quer mais que um emprego: ela quer uma carreira. Com isso, ela vai voltar à escola. Essas são algumas histórias que veremos nesta temporada”, revela.
Republicana com personalidade
Conhecida pelas posições conservadoras, Patricia é eleitora do Partido Republicano e anti-aborto.
Ainda assim, tem personalidade o forte o bastante para se posicionar a favor do casamento gay.
Atriz tardia, só começou na profissão aos 33 anos.
Despontou para a fama ao interpretar Debra, a esposa de Ray Barone em Everybody Loves Raymond (1996-2002).
“Sim, fiquei preocupada em fazer a mãe de sitcom pela segunda vez”, admite.
“Mas quando li (o roteiro de The Middle), vi que era bem diferente. Fiquei satisfeita ao ver que a perspectiva do programa ia ser a partir da visão da esposa e não da do marido”, observa.
“É sobre Frankie que está o foco da família. É ela que é a mais passível de cometer um monte de erros, da mesma forma que Ray fazia em Everybody Loves Raymond. Pude aprender muita coisa nova com The Middle”, conclui Patricia.
THE MIDDLE – Episódios inéditos todas as quartas-feiras, a partir de 12 de junho, às 22 horas / Warner Channel
EXTRA: LEIA MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA COM PATRICIA HEATON
Pergunta: Você ou outros atores costumam colaborar com ideias para os roteiros dos episódios?
Patricia Heaton: Não, são os roteiristas - quase todos casados e com filhos - que trazem suas ideias. As vezes eu conto a algum deles alguma situação da minha vida pessoal e eles a incorporam em algum script. Por exemplo, há coisa de dois anos, minha família recebeu em casa um estudante de intercâmbio japonês. Eu contei aos produtores e achamos que seria engraçado se um estudante japonês de intercâmbio ficasse hospedado da casa dos Hecks e o episódio acabou acontecendo, de um fato direto da minha vida.
P: Hoje em dia, alguns personagens de séries de TV parecem mais complexos do que os de cinema. Como você vê isso?
PH: Talvez por que em um seriado, você tem 13 ou 22 episódios para explorar um personagem. Isso permite ao ator se aprofundar muito mais nele, além de haver mais oportunidades (de trabalho) para as mulheres na televisão. É uma grande mídia e eu acho que os filmes de cinema estão muito mais focados nos homens hoje em dia. Enquanto que, na televisão, temos muitos personagens femininos fortes e maravilhosos.
P: Como você acha que as sitcoms se desenvolveram enquanto gênero desde Everybody Loves Raymond?
PH: Bem, Raymond era uma sitcom de estilo clássico, na qual atuamos diante de uma plateia. Quase como no teatro. Do início ao fim, (as cenas são filmadas) em sequência, diante da plateia, com várias câmeras em um auditório. É a forma clássica da sitcom e funciona muito bem. Raymond foi concluída após seis temporadas e ainda é um programa muito, muito popular ao redor do mundo. O que vem acontecendo desde então é que tem surgido muitas comédias de TV com meia hora que são gravadas como um filme, com uma câmera e sem plateia. Então, quando gravamos The Middle, eu não sei na verdade como o programa vai ficar até que o assista na TV, por que ele é feito fora de sequência, é editado de forma diferente, então é quase um outro tipo de mídia. Mas sempre vamos precisar de bos roteiristas e se você tem bons roteiros, ambas as formas de comédia funcionam. Não importa muito se você grava com plateia ou sem, desde que o script seja forte, ambas podem se tornar programas clássicos.
P: E o seu personagem? Como você vê seu desenvolvimento?
PH: Toda vez que um ator começa em um programa novo com um personagem novo, ele meio que dá um salto no escuro por que ainda não conhece tudo por que ele passou, então ele meio que tenta delinear sua personalidade com os roteiristas. Acho Frankie Heck uma boa combinação disso, mas também acho que ela precisa se tocar que tem muitas coisas das quais precisa se desprender. Na verdade, ela não acredita tanto que precisa ser uma mãe perfeita e uma das razões para isso é por que ela simplesmente não consegue (ser a mãe perfeita). Ela continua tentando, mas acho que se tornou mais tolerante consigo mesma quando as coisas dão errado, que não é o fim do mundo.
P: O que você tem em comum com Frankie? E o que não tem?
P: Bem, sou mãe de quatro rapazes e também trabalho, então eu entendo como é tentar conciliar todas as atividades em que todos estão envolvidos. Tentar faze-los se dedicar aos estudos enquanto me dedico ao meu trabalho, coisas assim. Então eu realmente entendo a Frankie. Obviamente, eu estou em uma faixa de renda diferente, então eu não tenho as mesmas preocupações financeiras dela. Mas eu também sou uma atriz e sei como é este negócio. The Middle deve acabar em questão de dois anos mais ou menos, então estou sempre pensando em como vai ser, tento imaginar meu próximo trabalho. Então eu me relaciono com Frankie em muitos níveis. Minha carreira também começou meio tarde. Só comecei a trabalhar como atriz profissional aos 32 ou 33 anos. Antes disso eu sempre tive problemas de grana, então eu me relaciono muito com as lutas da família Heck.
P: É permitido improvisar no set? Com que frequência isso acontece?
PH (enfática): Não! Temos uma supervisão de roteiro muito rigorosa. Ela está lá para garantir que você diga cada linha do jeito que está escrito no roteiro. Era assim também em Raymond. Não há improvisação. Tentamos fazer com que pareça improvisado, mas na verdade, está tudo muito bem previsto. Mas se tivermos dificuldade com alguma fala, se sentirmos que ela não está adequada, podemos falar com um produtor e pedir para mudar alguma coisa. As vezes conseguimos mudar, às vezes eles nos explicam por que precisa ser daquela maneira. Então quase que não há improvisação.
P: Se aqueles três fossem seus filhos, com qual deles você se preocuparia mais?
PH: Bem, eu tenho filhos bem parecidos com aqueles meninos, então eu diria que eles dois me preocupariam mais. A falta de seriedade de Axel em relação aos estudos me preocupa, eu sei como é difícil lá fora. Me preocupa que meus filhos não tenham a ambição e o ímpeto suficientes para construir uma vida para si mesmos, mas ainda assim, tenho que acreditar neles. Quer dizer, são só adolescentes. Quanto ao Brick, tenho um filho com algumas daquelas questões peculiares. Ele não gosta mesmo da escola e eu sei que Frankie se sente da mesma forma.De novo, questão de acreditar (que um dia ele vai mudar). Você só pode fazer o seu melhor enquanto eles estão com você. Quando se forem para o mundo, aí vai ser com eles.
P: Você assiste TV em casa?
PH: Sim, assisto muita TV. Amo Downton Abbey, a BBC e Masterpiece Theater, da Inglaterra. Gosto de The Walking Dead. E tem um novo, chamado Top of The Lake. Assisto Mad Men, programas sobre crimes reais, programas sobre cuidados no lar, tipo como reformar sua cozinha, esse tipo de coisa.
P: Se pudesse atuar como guest star (astro convidado) em algum outro programa, qual seria?
PH: Adoraria fazer um zumbi em The Walking Dead. Adoraria. Gostaria muito de fazer alguma coisa de época, como Downton Abbey ou Madmen, você pode usar aquelas roupas, o cabelo e a maquiagem de uma época diferente. Adoraria fazer algo assim, ou um western. Adoraria fazer um western.
Matéria originalmente publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde. Agradecimentos à Fundamento RP.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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terça-feira, maio 28, 2013
quinta-feira, maio 23, 2013
CALLANGAZOO, O ROCK LÚDICO QUE NASCE NO ZOOLÓGICO E DESCE PARA A GAMBOA NO SÁBADO
Hein?
Pois é: já vista
Por exemplo: apesar de já estar ligado nas façanhas de “Cebola” Pessoa, líder da Callangazoo, desde sua banda anterior (Truanescos), o
Explica, Cebola: “Bom, na verdade, a banda surgiu no zoológico. É que o baixista mora dentro da area do zoo, por que os pais dele trabalham na base de pesquisa metereológica que tem lá”, conta o vocalista.
“Nos fundos da casa dele tem um galpão aonde a gente monta os instrumentos para ensaiar. Aí um dia apareceu o tal calango azulado, que acabou virando o nome da banda. A gente tava terminando a música Brinquedo, e aí ele apareceu e todo mundo parou: 'Você viu? Era azul', e tal. Daí veio o nome da banda com o 'zoo' de zoológico no final . Tem gente que diz que é mentira. Mas é verdade, mesmo”, jura.
Brincadeira séria
Este é Cebola Pessoa, um sujeito muito criativo que, como diz sua música nova, “inventa é brinquedo”.
Brinquedo, aliás, é justamente o nome do EP novo da Callangazoo, que tem quatro faixas, foi produzido pelo funky soul brother Irmão Carlos e teve gravado parte no estúdio dele e parte no estúdio da ONG Pracatum.
Como tudo que Cebola faz, Brinquedo conjuga sua abordagem sempre lúdica às influências de rock brasileiro vintage (Raul, Robertão), funk, indie rock e até guitarrada paraense.
“A gente inventa brinquedo pra caramba. Falando sério, a gente como artista independente, na busca por visibilidade, fica muito preocupado em dourar a pílula: ‘veja como é lindo o que eu fiz’ e tal", provoca.
"Mas o que a gente faz é inventar brinquedo mesmo, no sentido de buscar composições que comuniquem, que sejam diretas”, explica Cebola.
Além do vocalista, a Callangazoo conta com Bob Nunes (baixo), Andel Falcão (guitarra) e Leo Abreu (bateria).
Neste sábado, você pode conferir o último show da temporada deles no Teatro Gamboa Nova, com participação da Sertanília.
No dia 15 de junho, outro show, desta vez na Praia dos Livros, com a banda Vitrola Azul. Vai lá. Só periga você não querer sair mais da brincadeira.
Callangazoo / Show no Teatro Gamboa Nova / Sábado, 17 horas / R$ 20 e R$ 10 / Os 30 primeiros pagantes ganham de brinde CD do EP novo, Brinquedo
https://pt-br.facebook.com/Callangazoo
terça-feira, maio 21, 2013
RIP RAY MANZAREK
Se Morrison era o coração, Manzarek era o cérebro
Norte-americano descendente de poloneses, Ray Manzarek nasceu em Chicago, em 1939.
Tomou aulas de piano desde criança.
Apesar disso, se formou em economia e só depois se mudou para a Califórnia, aonde cursou cinema na famosa UCLA.
Lá conheceu Jim Morrison e formou a banda que o lançou para a glória.
Após a morte de Jim Morrison em 1971 e a subsequente dissolução do The Doors, Manzarek se dedicou a inúmeras atividades como músico, produtor e cineasta.
Descobriu e produziu álbuns de uma banda clássica da cena punk de Los Angeles, X, da cantora tcheca naturalizada norte-americana Exene Cervenka.
Produziu e tocou com a banda inglesa Echo & The Bunnymen em sua versão para o hit People Are Strange (1987), que entrou na trilha sonora do filme de vampiros adolescentes Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), um clássico das sessões da tarde.
Na época, a versão fez tanto sucesso que alavancou a redescoberta da banda pelas novas gerações. Esse processo acabou levando ao polêmico filme de Oliver Stone, The Doors (1991), com Val Kilmer em grande atuação como Jim Morrison.
Manzarek acabou renegando o filme, descontente com a visão de Stone sobre Morrison, retratado como um drogado maluco, imprevisível e incontrolável.
Nos últimos anos, juntou-se ao guitarrista original Robbie Krieger e ao vocalista Ian Astbury, da banda inglesa The Cult, para para apresentações como The Doors of The 21st Century.
Manzarek nunca parou. Era artista de verdade, pois estava sempre em atividade, envolvido com música ou cinema de alguma forma.
Mas seu maior legado será mesmo a criação do som do The Doors com seu teclado Fender Rhodes sempre à frente, respondendo inclusive pelo som do baixo, já que a banda não tinha baixista.
O som de Manzarek definiu os Doors, tanto quanto a poética alucinada de Morrison.
Se Jim Morrison era o coração dos Doors, Manzarek era o cérebro, o maestro de assinatura inconfundível e insubstituível.
Um mestre do rock, deixa uma obra maior que a vida.
Norte-americano descendente de poloneses, Ray Manzarek nasceu em Chicago, em 1939.
Tomou aulas de piano desde criança.
Apesar disso, se formou em economia e só depois se mudou para a Califórnia, aonde cursou cinema na famosa UCLA.
Lá conheceu Jim Morrison e formou a banda que o lançou para a glória.
Após a morte de Jim Morrison em 1971 e a subsequente dissolução do The Doors, Manzarek se dedicou a inúmeras atividades como músico, produtor e cineasta.
Descobriu e produziu álbuns de uma banda clássica da cena punk de Los Angeles, X, da cantora tcheca naturalizada norte-americana Exene Cervenka.
Produziu e tocou com a banda inglesa Echo & The Bunnymen em sua versão para o hit People Are Strange (1987), que entrou na trilha sonora do filme de vampiros adolescentes Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), um clássico das sessões da tarde.
Na época, a versão fez tanto sucesso que alavancou a redescoberta da banda pelas novas gerações. Esse processo acabou levando ao polêmico filme de Oliver Stone, The Doors (1991), com Val Kilmer em grande atuação como Jim Morrison.
Manzarek acabou renegando o filme, descontente com a visão de Stone sobre Morrison, retratado como um drogado maluco, imprevisível e incontrolável.
Nos últimos anos, juntou-se ao guitarrista original Robbie Krieger e ao vocalista Ian Astbury, da banda inglesa The Cult, para para apresentações como The Doors of The 21st Century.
Manzarek nunca parou. Era artista de verdade, pois estava sempre em atividade, envolvido com música ou cinema de alguma forma.
Mas seu maior legado será mesmo a criação do som do The Doors com seu teclado Fender Rhodes sempre à frente, respondendo inclusive pelo som do baixo, já que a banda não tinha baixista.
O som de Manzarek definiu os Doors, tanto quanto a poética alucinada de Morrison.
Se Jim Morrison era o coração dos Doors, Manzarek era o cérebro, o maestro de assinatura inconfundível e insubstituível.
Um mestre do rock, deixa uma obra maior que a vida.
DOIS GUITAR HEROES, DOIS DISCOS, DOIS ESTILOS
Tradição essencialmente roqueira, os guitar heroes não tem cor, nacionalidade ou escola definidas.
Eles simplesmente são.
O que eles tem mesmo é estilo. E cada qual com o seu.
Dois deles, incontestáveis, lançaram bons discos recentemente.
Um é velho conhecido: o inglês Johnny Marr, estilista-mór da Gibson semiacústica, arquiteto do som do The Smiths, uma das últimas bandas verdadeiramente originais do rock.
25 anos após a dissolução dos Smiths, ele solta seu primeiro álbum solo: The Messenger.
O outro vem ganhando notoriedade rapidamente: Gary Clark Jr. (acima e abaixo, em fotos de Frank Maddocks), músico texano de 29 anos que tem sido apontado como o grande renovador da tradição do blues em sua terra, título que se confirma com seu terceiro álbum (primeiro por uma major), Blak and Blu.
Prodígio das seis cordas, o rapaz anda tão bombado que já recebeu elogios e dividiu o palco com gente do quilate dos Rolling Stones, Eric Clapton, Sheryl Crow, Alicia Keys e outros.
Recentemente, Gary Clark Jr. esteve no Brasil, quando se apresentou no Lollapalooza 2013.
Mosaico brilhante
Sem rodeios, o que se pode dizer de Blak and Blu é que se trata de um disco feito para durar – aquele tipo de obra que aponta caminhos para outros artistas e ainda será ouvido daqui a décadas.
Um feito raro em tempos de música fast food em geral.
Razões para tão alta aposta?
Além das evidentes habilidades de Clark como instrumentista, compositor e cantor (o falsete mais doce do rock desde Lenny Kravitz), a multiplicidade de estilos abordados nas 13 faixas do disco mostram que ele, como outros grandes músicos, não acredita em gêneros ruins. O que há – em qualquer gênero – são bons e maus músicos.
Gary Clark Jr. passeia com total desenvoltura do rock ‘n’ soul rasgado (Ain’t Messin ‘Round), ao blues rock (When My Train Pulls In, Bright Lights), passando pelo soft rock (Blak and Blu, Things Are Changin’), rock ‘n’ roll (Travis County), hip hop (The Life), hard rock (Glitter and Gold), balada (Please Come Home) e até blues rural, bem roots (Next Door Neighbor Blues).
Um senhor mosaico musical no qual todas as peças parecem se encaixar em harmonia, formando a imagem completa de um artista jovem extremamente promissor, no auge de sua forma artística.
Fortíssimo candidato a disco do ano.
Baixas expectativas
Infelizmente, o mesmo entusiasmo não se aplica a The Messenger, de Mr. Marr.
Não que seja um álbum ruim. Mas, em se tratando de um verdadeiro herói da guitarra – ainda mais um tão singular, com um trabalho anterior tão personal –, The Messenger falha em arrebatar seus ouvintes.
Há boas faixas, quase todas melodiosas e executadas em um renovado estilo britpop, como The Right Thing Right, European Me e Upstarts, só para citar algumas.
Mas não há nada assim, que entusiasme o ouvinte de verdade. Por isso mesmo, fãs dos Smiths não devem ouvir este disco com altas expectativas.
Até por que Morrissey não está aqui. O cantor é o próprio Marr, que canta direitinho e soa agradável, mas está longe de ter uma voz marcante.
Quanto ao guitar playing em si, Marr demonstra continuar em boa forma com os riffs limpos que fizeram sua fama. A faixa-título é um bom exemplo disso.
Outros destaques do disco são Word Starts Attack (meio Beatles) e Sun & Moon (bela dinâmica baixo-guitarra).
Além do instrumento de preferência (a guitarra), Gary Clark Jr. e Johnny Marr tem pelo menos mais um ponto em comum: paixão pela Gibson ES-335.
Blak and Blu / Gary Clark Jr. / Warner Music / Produzido por Mike Elizondo, Rob Cavallo e Gary Clark Jr. / R$ 34,90
Johnny Marr / The Messenger /Produzido por Johnny Marr e Doviak / Warner Music / R$ 34,90
Eles simplesmente são.
O que eles tem mesmo é estilo. E cada qual com o seu.
Dois deles, incontestáveis, lançaram bons discos recentemente.
Um é velho conhecido: o inglês Johnny Marr, estilista-mór da Gibson semiacústica, arquiteto do som do The Smiths, uma das últimas bandas verdadeiramente originais do rock.
25 anos após a dissolução dos Smiths, ele solta seu primeiro álbum solo: The Messenger.
O outro vem ganhando notoriedade rapidamente: Gary Clark Jr. (acima e abaixo, em fotos de Frank Maddocks), músico texano de 29 anos que tem sido apontado como o grande renovador da tradição do blues em sua terra, título que se confirma com seu terceiro álbum (primeiro por uma major), Blak and Blu.
Prodígio das seis cordas, o rapaz anda tão bombado que já recebeu elogios e dividiu o palco com gente do quilate dos Rolling Stones, Eric Clapton, Sheryl Crow, Alicia Keys e outros.
Recentemente, Gary Clark Jr. esteve no Brasil, quando se apresentou no Lollapalooza 2013.
Mosaico brilhante
Sem rodeios, o que se pode dizer de Blak and Blu é que se trata de um disco feito para durar – aquele tipo de obra que aponta caminhos para outros artistas e ainda será ouvido daqui a décadas.
Um feito raro em tempos de música fast food em geral.
Razões para tão alta aposta?
Além das evidentes habilidades de Clark como instrumentista, compositor e cantor (o falsete mais doce do rock desde Lenny Kravitz), a multiplicidade de estilos abordados nas 13 faixas do disco mostram que ele, como outros grandes músicos, não acredita em gêneros ruins. O que há – em qualquer gênero – são bons e maus músicos.
Gary Clark Jr. passeia com total desenvoltura do rock ‘n’ soul rasgado (Ain’t Messin ‘Round), ao blues rock (When My Train Pulls In, Bright Lights), passando pelo soft rock (Blak and Blu, Things Are Changin’), rock ‘n’ roll (Travis County), hip hop (The Life), hard rock (Glitter and Gold), balada (Please Come Home) e até blues rural, bem roots (Next Door Neighbor Blues).
Um senhor mosaico musical no qual todas as peças parecem se encaixar em harmonia, formando a imagem completa de um artista jovem extremamente promissor, no auge de sua forma artística.
Fortíssimo candidato a disco do ano.
Baixas expectativas
Infelizmente, o mesmo entusiasmo não se aplica a The Messenger, de Mr. Marr.
Não que seja um álbum ruim. Mas, em se tratando de um verdadeiro herói da guitarra – ainda mais um tão singular, com um trabalho anterior tão personal –, The Messenger falha em arrebatar seus ouvintes.
Há boas faixas, quase todas melodiosas e executadas em um renovado estilo britpop, como The Right Thing Right, European Me e Upstarts, só para citar algumas.
Mas não há nada assim, que entusiasme o ouvinte de verdade. Por isso mesmo, fãs dos Smiths não devem ouvir este disco com altas expectativas.
Até por que Morrissey não está aqui. O cantor é o próprio Marr, que canta direitinho e soa agradável, mas está longe de ter uma voz marcante.
Quanto ao guitar playing em si, Marr demonstra continuar em boa forma com os riffs limpos que fizeram sua fama. A faixa-título é um bom exemplo disso.
Outros destaques do disco são Word Starts Attack (meio Beatles) e Sun & Moon (bela dinâmica baixo-guitarra).
Além do instrumento de preferência (a guitarra), Gary Clark Jr. e Johnny Marr tem pelo menos mais um ponto em comum: paixão pela Gibson ES-335.
Blak and Blu / Gary Clark Jr. / Warner Music / Produzido por Mike Elizondo, Rob Cavallo e Gary Clark Jr. / R$ 34,90
Johnny Marr / The Messenger /Produzido por Johnny Marr e Doviak / Warner Music / R$ 34,90
sexta-feira, maio 17, 2013
MICRO-RESENHAS SEM ILUSTRAÇÕES POR QUE ESTA PORRA NÃO ESTÁ CARREGANDO AS MALDITAS IMAGENS - OPS, CARREGOU!
Barão da galhofa
Morto em 1971, o Barão de Itararé (título fictício auto-concedido) foi personagem maior que a vida. Humorista, jornalista e ativista, era dono de inteligência e mordacidade tamanhas que volta e meia era preso e espancado pelos poderosos de plantão. Sinal de que estava certo no que dizia. Após uma dessas invasões seguida de surra na redação do seu jornal, A Manha, pendurou o aviso que dá título ao livro: "Entre sem bater". Entre sem bater: A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé / Cláudio Figueiredo / Casa da Palavra / 480 p. / R$ 60 / www.casadapalavra.com.br
Rien ne peut arrêter Moebius
O sétimo volume da coleção Moebius pela editora Nemo é uma espetacular compilação de HQs curtas, ilustrações (P&B e coloridas) e outras liberdades do indomável e imprevisível artista francês, morto há pouco mais de um ano. Quase tudo criado nos anos 70 e publicado na revista Métal Hurlant. Papa finíssima. Crônicas Metálicas / Moebius / Nemo / 88 p. / R$ 59 / www.editoranemo.com.br
Quem sou eu? Onde estou? Quem é você?
Jason, um popular apresentador de TV, acorda um belo dia e descobre que havia se tornado um ilustre desconhecido. Em busca da própria identidade, esbarra em um sufocante estado policial-totalitário. Mais uma delirante e surpreendente trama de Philip K. Dick, mestre da FC distópica. Fluam, minhas lágrimas, disse o policial / Philip K. Dick / Aleph/ 256 p./ R$ 46/ www.editoraaleph.com.br
ProgBrasil
Óbvio ululante: nem só de Raul, Rita e Mutantes viveu o rock brasuca dos anos 1970. O Terço, que revelou Vinícius Cantuária e Flávio Venturini, tem o segundo LP recuperado em CD. Musicalidade riponga, progressiva e incrivelmente afiada. Arrisque. O Terço / O Terço / Discobertas - Warner / R$ 24,90
É do Careqa que Chico Buarque gosta mais
Ouvindo este Made in China, fica fácil entender os elogios (e figurinhas trocadas em canções) de Chico Buarque para Carlos Careqa. Tudo aqui – das letras de poética afiada aos arranjos pesados, quase roqueiros – exala vigor criativo. Trovador irônico e confessional, CC é compositor de primeira. Carlos Careqa / Made in China / Bed - Tratore / R$ 29,9
Tradição norteña
Desconocidos no Brasil, mas com uma sólida carreira de 40 anos, Los Tigres Del Norte são o mais importante grupo norteño (mexicanos residentes nos EUA). Curioso notar como certos ritmos lembram o sertanejo brasileiro. Estrelas latinas como Zack de La Rocha (com direito a citação de Killing in The Name), Juanes, Paulina Rubio e Andres Calamaro dão boas palhinhas. Los Tigres Del Norte / MTV Unplugged / Universal / R$ 29,90
Shaken, not stirred
Alguns caras nascem de quina pra Lua. O canadense Bublé é adorado pelas senhoras donas de casa, tem voz decente e ainda por cima, faz música ideal para um dry martini (batido, não mexido) em boa companhia. Arranjos de big band para hits dos Bee Gees, Berry Gordy, Smokey Robinson etc. Vestido de terno e gravata, cigarro em uma mão e o copo noutra, periga achar que está em um episódio de Mad Men. Michael Bublé / To Be Loved / Warner / R$ 29,90
Mídia é para ser manipulada
Fato: a mídia é largamente manipulada por estrategistas de comunicação. A novidade é que, neste livro, um desses sujeitos maquiavélicos conta, tim- tim por tim-tim, como faz gato e sapato da opinião pública. Para ficar “esperto”. Acredite, Estou Mentindo - Confissões de Um Manipulador Das Mídias / Ryan Holiday / Companhia Editora Nacional / 264 p. / R$ 38 / www.editoranacional.com.br
Não indicado para amadores
De perfil experimental radical desde que começou ainda nos anos 1980, Björk é assim: ou se ama ou se odeia, não há meio-termo. Este álbum de remixes para... canções (na falta de termo melhor) do álbum Biophilia (2011) não é diferente. Esqueça a pista de dança. O que conta aqui é a estranheza. Fãs vão curtir. O resto da humanidade vai correr como o diabo da cruz. Björk / Bastards / Lab 344 / Preço não divulgado
Entre o céu e o inferno
O músico grego Vangelis é um fenômeno. No fio da navalha entre o new age brega (Pulstar, Love Theme From Blade Runner) e o sublime (Blade Runner End Titles, Memories of Green), tem uma boa amostra do seu trabalho nesta coletânea dupla. Estão aqui também algumas faixas do seu trabalho em dupla com Jon Anderson (Yes), que não são nada mau. Vangelis / The Collection / Warner / R$ 29,90
Para ler a luz de velas em noite chuvosa
Espetacular edição comentada e ilustrada em capa dura dos contos sobrenaturais de Dumas, o célebre autor de Os Três Mosqueteiros, entre outros clássicos. Em 1001 Fantasmas, homem enlouquece após ver a cabeça decapitada da esposa falar com ele. Brrr. A mulher da gargantilha de veludo e outras histórias de terror / Alexandre Dumas / Zahar / 368 p. / R$ 49,90 / E-book: R$ 19,90 / www.zahar.com.br
Para não morrer na ignorância
Pronto, agora não tem mais desculpa: todo mundo pode – ao menos – saber do que se trata Guerra & Paz, monumental romance de Leon Tolstói, aqui vertido para os quadrinhos por uma equipe francesa. Um dos livros mais importantes da literatura universal, se passa nas Guerras Napoleônicas. Guerra & Paz / Leon Tolstói, Frédéric Brémaud, Thomas Campi e F. D’Auria / L&PM / 116 p. / R$ 39 / www.lpm.com.br
(Not) fun. At all!
Estourada no exterior com o hit single We Are Young (do segundo CD, Some Nights), o trio indie pop fun. (sic) tem o primeiro disco lançado aqui. Mais do mesmo: indie rock sem peso nem sentimento, Queen diluído para a geração DDA. Fraquinho. fun. / Aim And Ignite / Warner / R$ 29,90
Letras da Índia
Admirado por Graham Greene, o indiano R. K. Narayan (1906- 2001) já escrevia em inglês décadas antes de Salman Rushdie. Aqui, ele conta a história de um guia turístico que cai em desgraça após se envolver com uma mulher casada. Tudo com muita delicadeza e o humor sutil que lhe rendeu fama mundial. O Guia / R. K. Narayan / Guarda-Chuva / 356 p ./ R$ 48 / www.editoraguardachuva.com.br
Morto em 1971, o Barão de Itararé (título fictício auto-concedido) foi personagem maior que a vida. Humorista, jornalista e ativista, era dono de inteligência e mordacidade tamanhas que volta e meia era preso e espancado pelos poderosos de plantão. Sinal de que estava certo no que dizia. Após uma dessas invasões seguida de surra na redação do seu jornal, A Manha, pendurou o aviso que dá título ao livro: "Entre sem bater". Entre sem bater: A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé / Cláudio Figueiredo / Casa da Palavra / 480 p. / R$ 60 / www.casadapalavra.com.br
Rien ne peut arrêter Moebius
O sétimo volume da coleção Moebius pela editora Nemo é uma espetacular compilação de HQs curtas, ilustrações (P&B e coloridas) e outras liberdades do indomável e imprevisível artista francês, morto há pouco mais de um ano. Quase tudo criado nos anos 70 e publicado na revista Métal Hurlant. Papa finíssima. Crônicas Metálicas / Moebius / Nemo / 88 p. / R$ 59 / www.editoranemo.com.br
Quem sou eu? Onde estou? Quem é você?
Jason, um popular apresentador de TV, acorda um belo dia e descobre que havia se tornado um ilustre desconhecido. Em busca da própria identidade, esbarra em um sufocante estado policial-totalitário. Mais uma delirante e surpreendente trama de Philip K. Dick, mestre da FC distópica. Fluam, minhas lágrimas, disse o policial / Philip K. Dick / Aleph/ 256 p./ R$ 46/ www.editoraaleph.com.br
ProgBrasil
Óbvio ululante: nem só de Raul, Rita e Mutantes viveu o rock brasuca dos anos 1970. O Terço, que revelou Vinícius Cantuária e Flávio Venturini, tem o segundo LP recuperado em CD. Musicalidade riponga, progressiva e incrivelmente afiada. Arrisque. O Terço / O Terço / Discobertas - Warner / R$ 24,90
É do Careqa que Chico Buarque gosta mais
Ouvindo este Made in China, fica fácil entender os elogios (e figurinhas trocadas em canções) de Chico Buarque para Carlos Careqa. Tudo aqui – das letras de poética afiada aos arranjos pesados, quase roqueiros – exala vigor criativo. Trovador irônico e confessional, CC é compositor de primeira. Carlos Careqa / Made in China / Bed - Tratore / R$ 29,9
Tradição norteña
Desconocidos no Brasil, mas com uma sólida carreira de 40 anos, Los Tigres Del Norte são o mais importante grupo norteño (mexicanos residentes nos EUA). Curioso notar como certos ritmos lembram o sertanejo brasileiro. Estrelas latinas como Zack de La Rocha (com direito a citação de Killing in The Name), Juanes, Paulina Rubio e Andres Calamaro dão boas palhinhas. Los Tigres Del Norte / MTV Unplugged / Universal / R$ 29,90
Shaken, not stirred
Alguns caras nascem de quina pra Lua. O canadense Bublé é adorado pelas senhoras donas de casa, tem voz decente e ainda por cima, faz música ideal para um dry martini (batido, não mexido) em boa companhia. Arranjos de big band para hits dos Bee Gees, Berry Gordy, Smokey Robinson etc. Vestido de terno e gravata, cigarro em uma mão e o copo noutra, periga achar que está em um episódio de Mad Men. Michael Bublé / To Be Loved / Warner / R$ 29,90
Mídia é para ser manipulada
Fato: a mídia é largamente manipulada por estrategistas de comunicação. A novidade é que, neste livro, um desses sujeitos maquiavélicos conta, tim- tim por tim-tim, como faz gato e sapato da opinião pública. Para ficar “esperto”. Acredite, Estou Mentindo - Confissões de Um Manipulador Das Mídias / Ryan Holiday / Companhia Editora Nacional / 264 p. / R$ 38 / www.editoranacional.com.br
Não indicado para amadores
De perfil experimental radical desde que começou ainda nos anos 1980, Björk é assim: ou se ama ou se odeia, não há meio-termo. Este álbum de remixes para... canções (na falta de termo melhor) do álbum Biophilia (2011) não é diferente. Esqueça a pista de dança. O que conta aqui é a estranheza. Fãs vão curtir. O resto da humanidade vai correr como o diabo da cruz. Björk / Bastards / Lab 344 / Preço não divulgado
Entre o céu e o inferno
O músico grego Vangelis é um fenômeno. No fio da navalha entre o new age brega (Pulstar, Love Theme From Blade Runner) e o sublime (Blade Runner End Titles, Memories of Green), tem uma boa amostra do seu trabalho nesta coletânea dupla. Estão aqui também algumas faixas do seu trabalho em dupla com Jon Anderson (Yes), que não são nada mau. Vangelis / The Collection / Warner / R$ 29,90
Para ler a luz de velas em noite chuvosa
Espetacular edição comentada e ilustrada em capa dura dos contos sobrenaturais de Dumas, o célebre autor de Os Três Mosqueteiros, entre outros clássicos. Em 1001 Fantasmas, homem enlouquece após ver a cabeça decapitada da esposa falar com ele. Brrr. A mulher da gargantilha de veludo e outras histórias de terror / Alexandre Dumas / Zahar / 368 p. / R$ 49,90 / E-book: R$ 19,90 / www.zahar.com.br
Para não morrer na ignorância
Pronto, agora não tem mais desculpa: todo mundo pode – ao menos – saber do que se trata Guerra & Paz, monumental romance de Leon Tolstói, aqui vertido para os quadrinhos por uma equipe francesa. Um dos livros mais importantes da literatura universal, se passa nas Guerras Napoleônicas. Guerra & Paz / Leon Tolstói, Frédéric Brémaud, Thomas Campi e F. D’Auria / L&PM / 116 p. / R$ 39 / www.lpm.com.br
(Not) fun. At all!
Estourada no exterior com o hit single We Are Young (do segundo CD, Some Nights), o trio indie pop fun. (sic) tem o primeiro disco lançado aqui. Mais do mesmo: indie rock sem peso nem sentimento, Queen diluído para a geração DDA. Fraquinho. fun. / Aim And Ignite / Warner / R$ 29,90
Letras da Índia
Admirado por Graham Greene, o indiano R. K. Narayan (1906- 2001) já escrevia em inglês décadas antes de Salman Rushdie. Aqui, ele conta a história de um guia turístico que cai em desgraça após se envolver com uma mulher casada. Tudo com muita delicadeza e o humor sutil que lhe rendeu fama mundial. O Guia / R. K. Narayan / Guarda-Chuva / 356 p ./ R$ 48 / www.editoraguardachuva.com.br
quarta-feira, maio 15, 2013
O EFECTO VERTIGO DE CH STRAATMAN
Apreciadores dos bons sons latinos tem ótimo programa para amanhã à noite, quando o contrabaixista baiano CH Straatman (fotos: LC Press) lança, com show no Commons Studio Bar, seu primeiro disco solo, Efecto Vertigo.
Fascinado pela música latina, especialmente pelas tradições cubanas e porto-riquenhas, CH engendrou uma obra que é, ao mesmo tempo, arrebatadora e despojada.
Arrebatadora pela beleza dos dedilhados ao violão, pelo grave do baixo acústico, pela força das percussões e pelo acento dramático inerente à latinidad.
E despojada por que se trata de um disco essencialmente acústico, sem a avalanche de metais (sopros) comumente associada à música latina.
“Comecei a ter contato com os ritmos latinos por que, bom, eu nasci em Salvador”, lembra o músico.
“A música que toca nas rádios e vários artistas daqui sempre flertaram com ela. Além de a cidade ter essa cultura de percussão muito forte”, vê.
Quem se surpreendeu com a essa virada na carreira do ex-Retrofoguetes é por que não conhece sua antiga banda.
“Já a partir das gravações do primeiro disco dos Retrofoguetes (2004), eu percebi que curtia tocar com percussão”, lembra.
Mas foi nas gravações do segundo CD, Tcha Tcha Tchá (2009), que, não só CH se rendeu de vez, como conheceu aquele que viria ser seu principal parceiro em Efecto Vertigo: o percussionista Hudson Daniel.
“Ali eu percebi que conseguia compor legal com percussão. Comecei a curtir e ouvir muita coisa. Em março de 2012, resolvi me concentrar nisso e compor material próprio”, conta.
Depois de compor dezenas de músicas, CH chamou Hudson e mostrou o material. “Ele gostou muito e disse que queria gravar todas. Aí resolvemos trabalhar como dueto”, conta.
Entra em cena a terceira peça chave de Efecto Vertigo, o mais do que adequado produtor chileno-baiano Jorge Solovera.
“Eu já vinha tocando com ele por aí, então comecamos a conversar sobre como eu queria que soasse: aproveitar bastante a ambiência da sala de gravação, o som natural dos instrumentos”, detalha CH.
"Os instrumentos foram gravados de forma a se usar bem a ambiência da sala, com os microfones mais distantes dos instrumentos. Assim você aproveita mais a sala em si como uma caixa acústica para a percussão. A sala se torna um complemento dos instrumentos", explica.
Solo e bem acompanhado
As inspirações vieram (também) de uma boa pesquisa: "Me inpirei em baixistas como Israel Cachao, Orlando "Cachaito" Lopez (do Buena Vista, sobrinho de Israel), Oscar de Leon e coisas de percussionistas como Giovani Hidalgo, Mungo Santamaria, Guen. Ouvi muito o guitarrista Manuel Galban. Tito Puente claro! Cuban Roots. E note que alguns desses artistas são porto-riquenhos, nem todos são cubanos".
"Ouvi também uns merengues africanos. Ouvi muita coisa mesmo, fiz uma boa pesquisa", garante.
O resultado, gravado no Estúdio 12 Por 8, está disponível no CD, nos shows de amanhã e nos próximos que virão.
“Já tem um marcado em agosto, mas antes disso, em julho, com certeza faremos uma temporada. Só não sei dizer aonde, ainda”, avisa.
Sobre a ausência dos sopros, CH justifica: "Como era meu primeiro disco, eu queria gravar todas as cordas sozinho. O conceito era esse mesmo, de ser uma coisa mais acústica e despojada. Mas eu já ando pensando em um segundo disco .No próximo, eu já penso em agregar os sopros".
Sobre sua saída dos Retrofoguetes, banda que integrou durante onze anos (2002-20013), ele diz que, "de início, eu tinha decidido fazer (o CD solo) ainda participando da banda. Era para ser em paralelo mesmo. Mas a vida foi tomando caminhos diferentes. Foi uma coincidência. A banda estava trabalhando bem, mas os objetivos de vida já não eram os mesmos. Em uma banda, é importante que os membros tenham objetivos iguais. As opções estavam ficando cada vez mais diferentes. Quando chega nesse ponto, é melhor se concentrar naquilo em que se acredita. Cada um foi cuidar do que achava mais interessante", detalha CH.
Para quem não lembra ou não sabe, CH milita no meio roqueiro baiano desde meados dos anos 1990, quando surgiu como integrante da banda Blacktrunk, que tinha ainda como membros os guitarristas Emerson Borel (recém-saído da Úteros Em Fúria), Candido "Nariga" Soto Jr. (recém-saído da então Dr. Cascadura), a hoje jornalista política Regina Bochichio (vocais), o baterista Yuri Bonebreaker e um segundo vocalista, Claudionor "Dionorix".
A banda não durou muito e CH logo foi convocado pelo recentemente morto Peu Sousa para a Dois Sapos & Meio.
Com ela, gravou o único álbum da banda, Obrigado Vasquez! (1999). (Na verdade, quem gravou o baixo foi Renato Nunes, baixista do Diamba. CH assumiu logo depois das gravações, fazendo os shows de lançamento).
Da Dois Sapos, CH embarcou nos Retrofoguetes – que por sua vez, tinha acabado de perder o baixista original, Joe Tromondo, para Pitty.
No palco, CH se apresenta bem acompanhado, com o trombonista Hugo Sanbone (maestro fundador da Sanbone Pagode Orquestra), o guitarrista e produtor Jorge Solovera e o trio de percussionistas Yago Avelar (Orquestra de Pandeiros Itapuã), Ícaro Sá e Jaime Nascimento (ambos da Orkestra Rumpilezz).
O violonista Cássio Nobre (Viola de Arame), que toca em duas faixas do CD, também estará no show.
Show de lançamento Efecto Vertigo / Amanhã, 22 horas / Commons Studio Bar (Rio Vermelho) / R$ 20, R$ 15 (antecipado)
Efecto Vertigo / CH Straatman / Independente / R$ 15 / À venda nos stands do Circuito Motiva ou pelo email contato@chstraatmann.com / Ouça: www.chstraatmann.com
Fascinado pela música latina, especialmente pelas tradições cubanas e porto-riquenhas, CH engendrou uma obra que é, ao mesmo tempo, arrebatadora e despojada.
Arrebatadora pela beleza dos dedilhados ao violão, pelo grave do baixo acústico, pela força das percussões e pelo acento dramático inerente à latinidad.
E despojada por que se trata de um disco essencialmente acústico, sem a avalanche de metais (sopros) comumente associada à música latina.
“Comecei a ter contato com os ritmos latinos por que, bom, eu nasci em Salvador”, lembra o músico.
“A música que toca nas rádios e vários artistas daqui sempre flertaram com ela. Além de a cidade ter essa cultura de percussão muito forte”, vê.
Quem se surpreendeu com a essa virada na carreira do ex-Retrofoguetes é por que não conhece sua antiga banda.
“Já a partir das gravações do primeiro disco dos Retrofoguetes (2004), eu percebi que curtia tocar com percussão”, lembra.
Mas foi nas gravações do segundo CD, Tcha Tcha Tchá (2009), que, não só CH se rendeu de vez, como conheceu aquele que viria ser seu principal parceiro em Efecto Vertigo: o percussionista Hudson Daniel.
“Ali eu percebi que conseguia compor legal com percussão. Comecei a curtir e ouvir muita coisa. Em março de 2012, resolvi me concentrar nisso e compor material próprio”, conta.
Depois de compor dezenas de músicas, CH chamou Hudson e mostrou o material. “Ele gostou muito e disse que queria gravar todas. Aí resolvemos trabalhar como dueto”, conta.
Entra em cena a terceira peça chave de Efecto Vertigo, o mais do que adequado produtor chileno-baiano Jorge Solovera.
“Eu já vinha tocando com ele por aí, então comecamos a conversar sobre como eu queria que soasse: aproveitar bastante a ambiência da sala de gravação, o som natural dos instrumentos”, detalha CH.
"Os instrumentos foram gravados de forma a se usar bem a ambiência da sala, com os microfones mais distantes dos instrumentos. Assim você aproveita mais a sala em si como uma caixa acústica para a percussão. A sala se torna um complemento dos instrumentos", explica.
Solo e bem acompanhado
As inspirações vieram (também) de uma boa pesquisa: "Me inpirei em baixistas como Israel Cachao, Orlando "Cachaito" Lopez (do Buena Vista, sobrinho de Israel), Oscar de Leon e coisas de percussionistas como Giovani Hidalgo, Mungo Santamaria, Guen. Ouvi muito o guitarrista Manuel Galban. Tito Puente claro! Cuban Roots. E note que alguns desses artistas são porto-riquenhos, nem todos são cubanos".
"Ouvi também uns merengues africanos. Ouvi muita coisa mesmo, fiz uma boa pesquisa", garante.
O resultado, gravado no Estúdio 12 Por 8, está disponível no CD, nos shows de amanhã e nos próximos que virão.
“Já tem um marcado em agosto, mas antes disso, em julho, com certeza faremos uma temporada. Só não sei dizer aonde, ainda”, avisa.
Sobre a ausência dos sopros, CH justifica: "Como era meu primeiro disco, eu queria gravar todas as cordas sozinho. O conceito era esse mesmo, de ser uma coisa mais acústica e despojada. Mas eu já ando pensando em um segundo disco .No próximo, eu já penso em agregar os sopros".
Sobre sua saída dos Retrofoguetes, banda que integrou durante onze anos (2002-20013), ele diz que, "de início, eu tinha decidido fazer (o CD solo) ainda participando da banda. Era para ser em paralelo mesmo. Mas a vida foi tomando caminhos diferentes. Foi uma coincidência. A banda estava trabalhando bem, mas os objetivos de vida já não eram os mesmos. Em uma banda, é importante que os membros tenham objetivos iguais. As opções estavam ficando cada vez mais diferentes. Quando chega nesse ponto, é melhor se concentrar naquilo em que se acredita. Cada um foi cuidar do que achava mais interessante", detalha CH.
Para quem não lembra ou não sabe, CH milita no meio roqueiro baiano desde meados dos anos 1990, quando surgiu como integrante da banda Blacktrunk, que tinha ainda como membros os guitarristas Emerson Borel (recém-saído da Úteros Em Fúria), Candido "Nariga" Soto Jr. (recém-saído da então Dr. Cascadura), a hoje jornalista política Regina Bochichio (vocais), o baterista Yuri Bonebreaker e um segundo vocalista, Claudionor "Dionorix".
A banda não durou muito e CH logo foi convocado pelo recentemente morto Peu Sousa para a Dois Sapos & Meio.
Da Dois Sapos, CH embarcou nos Retrofoguetes – que por sua vez, tinha acabado de perder o baixista original, Joe Tromondo, para Pitty.
No palco, CH se apresenta bem acompanhado, com o trombonista Hugo Sanbone (maestro fundador da Sanbone Pagode Orquestra), o guitarrista e produtor Jorge Solovera e o trio de percussionistas Yago Avelar (Orquestra de Pandeiros Itapuã), Ícaro Sá e Jaime Nascimento (ambos da Orkestra Rumpilezz).
O violonista Cássio Nobre (Viola de Arame), que toca em duas faixas do CD, também estará no show.
Show de lançamento Efecto Vertigo / Amanhã, 22 horas / Commons Studio Bar (Rio Vermelho) / R$ 20, R$ 15 (antecipado)
Efecto Vertigo / CH Straatman / Independente / R$ 15 / À venda nos stands do Circuito Motiva ou pelo email contato@chstraatmann.com / Ouça: www.chstraatmann.com
terça-feira, maio 14, 2013
O SOM DA WEST COAST, VIA ZONA SUL
Ed Motta explora o estilo sofisticado das FMs de outrora no CD AOR
Houve um tempo em que o mero ato de ouvir uma rádio FM era um prazer, algo quase sofisticado.
Em seu novo disco, AOR, Ed Motta (fotos: Daryan Dornelles) remete o ouvinte a este tempo ao resgatar a sonoridade daqueles anos de primórdios das FMs, entre o fim dos anos 1970 e início dos 80.
A inspiração veio da sigla que intitula o álbum: AOR, que significa Album Oriented Rock, ou Adult Oriented Rock, estilo de música que fazia a cabeça dos DJs na época e que tem na discografia do duo Steely Dan seu apogeu artístico e técnico.
No Brasil, é mais conhecido pelo rótulo “soft rock” (rock suave). Ou seja: é o que se ouve até hoje nos flashbacks das FMs menos popularescas: Christopher Cross, Foreigner, Toto, Doobie Brothers, Hall & Oates, Chicago e por aí vai.
Entre os artistas brasileiros de AOR, pode-se citar Rita Lee (LPs de 1979 a 83), Lincoln Olivetti, Roupa Nova, Guilherme Arantes e outros.
“A coisa mais engraçada é que o termo AOR não é tão conhecido no Brasil, mas ele toca nas rádios todo dia: são músicas como Africa, do Toto, Sarah, do Starship. Botou uma camisa havaiana, bigode Magnum e uma guitarra Gibson, é AOR”, brinca Ed, o vozeirão ribombando do outro lado da linha.
“Era também chamado de soft rock, sunshine pop ou MOR (Middle Of the Road, música para ouvir dirigindo). Depois tudo virou AOR. Americano se amarra em sigla né?”, percebe.
O primeiro contato do músico com a sigla foi ainda nos ano 80: “Eu conheci pela vertente do hard rock melódico de bandas como Foreigner, Van Halen com (o vocalista) Sammy Hagar, Journey, Asia”.
“Mas a vertente de AOR que eu exploro é conhecida como West Coast (Costa Oeste), que é uma música pop com um tratamento polido, tanto de estúdio, quanto na parte instrumental. Tem sempre uma certa polidez na coisas, e isso, na verdade, está em todos os meus discos, desde o primeiro”, vê.
AOR com Luis Caldas ao piano
Curiosamente, o baiano Luis Caldas foi um dos artistas que chamaram a atenção de Ed para o estilo AOR.
“Tem uma lembrança forte aí da Bahia. Acho que foi no (Hotel) Othon, tinha um piano no restaurante, e eu e o Luis Caldas ficamos ali até de madrugada. Nunca vou esquecer dele tocando aquela música do Styxx, Babe”, conta Ed, que começa a cantar ao telefone.
“Lembro que ele tocou a música inteira. O cara é fera, e aí você vê o que é um clássico do AOR: todo mundo gosta. O AOR tá na vida do brasileiro o tempo todo, sem ele perceber”, vê.
Perfeccionista notório, Ed se esmerou em reproduzir a estética AOR em sua linha mais sofisticada, justamente a praticada pelo já citado Steely Dan.
“Sou muito perfeccionista, muito detalhista. Então, quando termino um disco, estou sempre insatisfeito. Mas sei que fiz o melhor que pude dentro da situação”, afirma Ed.
“E também pude realizar a coisa que estava na minha cabeça. Não vou dizer que foi uma sorte, por que é um trabalho danado, suado. Leva um tempão e precisa de muita dedicação mesmo”, acrescenta.
Disco lançado, agora Ed espera o telefone chamar para tocar o AOR pelo Brasil: “Começo por Minas Gerais e depois vou rodar por onde tem pedidos de show. Por enquanto, não tenho previsão para Salvador, mas aí tem um dos meus maiores públicos no Facebook”, conclui.
Em tempo: “O AOR vai sair em vinil também. Aqui, na Europa e no Japão. Aliás, quando receber esse vinil japonês, acho que vou passar uns dois dias chorando, cara”.
Resenha:
Toda vez que a música popular empaca na encruzilhada entre o mau-gosto extremo (sertanejo universitário, porno pagode, funk carioca) e o diletantismo mal-sucedido (rock brasileiro atual, MPB), músicos de proa dão aquele famoso passinho para trás, em busca das referências que faziam a música de trinta anos atrás claramente superior à praticada hoje em dia. Talvez inconscientemente – talvez não –, Ed Motta pega seu bilhete na máquina do tempo rumo à era de ouro das FMs. O resultado é um álbum primoroso, provavelmente seu melhor (e mais acessível) trabalho em muito tempo. Fãs do genial Steely Dan tem aqui um prato cheio, pois o duo formado por Donald Fagen e Walter Becker é, sem sombra de dúvida, a referência principal da sonoridade do disco. Ela está na harmonias doces costuradas pelo piano eletrico Rhodes e o sintetizador Arp String, pilotados pelo próprio Ed. Está nas melodias desenhadas pelos sopros, belos e fugazes como corações na areia da praia. E está claro, nos solos jazzy limpinhos de guitarra Gibson semiacústica, sempre a cargo de lendas convidadas, como Paulinho Guitarra (Tim Maia), David T. Walker (lenda viva dos estúdios norte-americanos), Jean Paul "Bluey" Maunik (Incognito). Músicos de peso, aliás, não faltam neste álbum: além dos já citados, estão aqui Chico Pinheiro (guitarra base), Robinho Tavares (baixo), Glauton Campello (piano), Torcuato Mariano (guitarra solo), Chico Amaral (sax tenor), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Jota Moraes (vibrafone), Laudir de Oliveira (percussão), Sérgio Melo (bateria)... e a lista é grande demais. Pensa que acabou? Rita Lee, Adriana Calcanhotto e o argentino Dante Spinetta assinam as letras de S.O.S. Amor, Ondas Sonoras (talvez a faixa mais bonita do disco) e Latido, respectivamente. Da primeira faixa (Flores da Vida Real) à última (A Engrenagem), AOR é um afago reanimador nos canais auditivos maltratados pelas atrocidades analfabetas transmitidas pelas rádios de hoje em dia. Para não dizer que faltou citar mais faixas, as três já citadas, mais Marta e 1978 são doces como cupcakes de limão: textura suave e um sabor azedinho no final. Gosto de quero mais, coisa de gourmet.
Ed Motta / AOR / Dwitza Music - Lab 344 / R$ 29,90 / www.edmotta.com / www.lab344.com.br
EXTRA: LEIA MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA COM ED MOTTA
Pergunta: O AOR é um estilo um tanto subestimado pela crítica. Por que a decisão de um album temático?
ED MOTTA: Acho que talvez por que o disco tem uma comunhao mais forte com a essa ala jazzy do AOR, que era mais considerada pela inteligentsia. Não vejo influência do tipo mais popularesco de AOR nesse disco. Vejo muito Steely Dan, Doobie Brothers. O Toto só está aí pelo som do (baterista) Jeff Porcaro, que é um padrão pra mim há muito tempo. O som de aro dele é padrão. Eu sempre me baseio nas coisas que ele gravou.
P: Por que a música de FM, que tinha uma certa sofisticação até 25, 30 anos atrás, caiu tanto? A culpa é toda do jabá?
EM: As rádios não tem culpa sozinhas. Acho que a culpa é de todo mundo, é uma historia como a do ovo ou da galinha. A culpa é do mercado viciado, que cria uns estilos de artistas ruins, incompetentes e obedientes. Quanto mais estúpido (o artista), mais obediente. Isso é algo que a indústria descobriu muito cedo. Se você obervar artistas dos anos 60 como Ray Davies (The Kinks) ou Pete Townshend, eles não aceitavam que as pessoas lhe dissessem o que fazer. Se você chegar no Pete e disser 'vai na radio tal, diga isso e aquilo, faça isso, toque aquilo', ele vai te xingar todo. O Frank Zappa saiu de cena para entrar a Lady Gaga. São as carta do mercado. Isso empre existiu, quando você olha na história da música isso sempre existiu. Elvis Presley, independente dos fãs e da sua qualidade como cantor, era um produto de gravadora. Tinha milhares de músicos decentes muito mais interessantes. Porra, só o Little Richard, só ele, já fecha. Por isso, as coisas dão menos certo para caras como Little Richard, que era 100% difícil, genioso. Elvis era bom moço, foi servir o exército, falava a coisa certa. Little Richard só fala miséria, mas canta pra caramba! Isso a gente vive com mais força nos últimos vinte, trinta anos ou mais. Não tem parãmetros. Os valores, os princípios de quem faz músicas e de quem as difunde hoje, são princípios muito diferentes do que eram há um tempo atras. É muito parecido com fast food. Aí você vai no restaurante de uma senhora que acorda as cinco da manha pra ir na feira e cozinha em fogão a lenha, é totalmente diferente. Essa senhora perdeu espaço para a comida congelada. E tem nego que ainda acha mais gostoso.
P: As participações especiais e o time de músicos que você recrutou são espetaculares. Como foi esse processo?
EM: Foi esscolhendo a dedo, mesmo. Um (músico) para cada situação. Quando estava fazendo uma fita demo, com todo os elementos de arranjo no teclado - aliás, eu vou fazer isso até o fim do ano, vou disponibilizar para as pessoas escutarem como é feita a maquete de tudo isso - teve um cara que ouviu e disse: 'tá igual ao disco', só que eletrônico. É neurose minha, né? Mas um disco como esse, quando eu mostro a fita pra um cara como o (guitarrista) Chico Pinheiro, eu quero um comentário dele, a visão dele acerca daquele arranjo. Então eu tive a sorte de ter a sorte de ter esses Jack Lemmons para as minhas Fernandas Montenegros (risos). Fica fácil, é gratificante demais. Eu que adoro estúdio, fico torcendo que o cara erre, só para eu poder ouvir ele tocar mais (risos). Mas esse é um padrao de músico que nao erra, cara. O Chico Pinheiro, no primeiro take, já vale. Você só pede para ele tocar mais para ter opções, por que ele já vem com tudo de primeira.
P: Imagino que os arranjos tenham sido bem trabalhosos, dado o grande número de instrumentos em cada faixa...
EM: É mais ou menos como um motorista de ônibus que vai catando músicos a cada esquina, aí junta tudo e faz uma festa no fim de linha (risos). É uma coisa que vou fazendo por partes, já que tenho tudo organizado na fita demo. Mas vou fazendo por partes, já que não costumo escrever. Levaria muito mais tempo escrever partituras, então eu peço para uma pessoa fazer isso para mim, por que aí a gravação vai mais rápido. No estúdio, você vê nas fotos das gravações, tá todo mundo com a partitura na frente. Não é uma coisa chata, é questão de organização, mesmo. Ninguém chega no estúdio perguntando como é que faz, por que está tudo escrito. Só entro no estúdio com tudo escrito, no compasso. Antes nao fazia assim, 'é esse ou aquele? Toca de novo e tal', mas o taxímetro do estúdio tá rodando, aí fiquei mais atento a isso.
P: AOR saiu pelo seu selo, o Dwitza Music, com distribuição do elo Lab 344. Você pretende lançar outros artistas pelo Dwitza?
EM: Eu gostaria sim, mas preciso de um sócio. Ainda não tenho dinheiro para lançar um artista assim. Queria poder lançar artistas em que acredito, especialmente de música instrumental, que é uma coisa esquecida no Brasil. O selo seria de música mesmo, e não dessa coisa mercantilista. Se eu quisesse ganhar dinheiro, ia trabalhar no mercado financeiro, ia ser advogado. Acho a coisa mais maluca do mundo pessoas que escolhem arte para ganhar dinheiro, aí faz um lixo.E nem é tanto dinheiro assim, como ganha um grande empresário, para o mico que a pessoa paga. Disco de Natal, por exemplo: é muito ruim, né? Uma mancha na biografia - e nem ganha tanto dinheiro assim. É chato, musicalmente irrelevante, mas americano adora.
E turnê? Passa por Salvador?
EM: Vamos começar agora. Primeiro, fazemos em Minas Gerais e depois começamos a rodar por onde tem pedido de show. Mas comigo sempre foi assim. Nunca fiz exatamente turnês. Nunca consegui fazer uma turnê pelo Brasil todo. Trabalho de acordo com a demanda, que é o telefone que toca. E a maioria dos artistas brasileiros é assim também. Nego gosta de tirar onda de turnê. No meio pop rock isso é gênero puro, lenda. (Emposta a voz:) 'Agora vamos sair em turnê'. Rá, rá, rá! Agora vamos esperar o telefone tocar, né? David Bowie lançou disco novo, aí tem essas agendas, os caras marcam dois anos de show. Isso no mercado internacional. Quem é super popular no Brasil é quem faz show para 50 mil, esses de repente fazem isso. Como munca tive um público tão grande, não sei o que é isso. Já fiz turnê na Europa, tipo uns 15 16 shows seguidos. Isso cansa pra cacete. Quando vejo as agendas de turnê desses caras eu fico me perguntando como eles conseguem? É absurdo. O Bowie, até o meio do ano que vem, so tem a segunda e terça-feira livres. Pra um carioca, isso é muito dificil. Dorival Caymmi é que tava certo. O artista tem que ter tempo para outras coisas, senão não sai nada. Por enquanto, ainda não tenho previsão para show aí em Salvador, mas aí tem um dos meus maiores públicos no Facebook. Depois de São Paulo, a Bahia é o estado que mais acessa minha pagina no Face, mais que o Rio.
Além daquela noite ao piano com Luis Caldas você tem uma relação com Salvador, né?
No início da minha carreira, a Warner tinha uma força grande aí na Bahia, não só em Salvador. Daí que eu lembro que foram trabalhadas outras músicas (do primeiro disco, Ed Motta & Conexão Japeri) que não foram trabalhadas no Sudeste. Isso foi muito vantajoso. Na primeira vez que toquei aí, em 88, cheguei no palco e as pessoas cantavam outras músicas além dos hits. Era tudo muito surpreendente. Isso e o camarão e a lagosta naquelas quantidades. Moqueca no Rio vem quatro ou cinco camarões. Aí vinha cheio! Meu Deus do céu, eu vou chorar (risos). Aí em Salvador eu não faço dieta. Deus castiga. Já cheguei ao ponto de pegar um avião, ficar dois dias aí comendo e voltar. Água de coco é outra coisa louca aí. A qualidade da água de coco não tem nada a ver com a do Rio.
Houve um tempo em que o mero ato de ouvir uma rádio FM era um prazer, algo quase sofisticado.
Em seu novo disco, AOR, Ed Motta (fotos: Daryan Dornelles) remete o ouvinte a este tempo ao resgatar a sonoridade daqueles anos de primórdios das FMs, entre o fim dos anos 1970 e início dos 80.
A inspiração veio da sigla que intitula o álbum: AOR, que significa Album Oriented Rock, ou Adult Oriented Rock, estilo de música que fazia a cabeça dos DJs na época e que tem na discografia do duo Steely Dan seu apogeu artístico e técnico.
No Brasil, é mais conhecido pelo rótulo “soft rock” (rock suave). Ou seja: é o que se ouve até hoje nos flashbacks das FMs menos popularescas: Christopher Cross, Foreigner, Toto, Doobie Brothers, Hall & Oates, Chicago e por aí vai.
Entre os artistas brasileiros de AOR, pode-se citar Rita Lee (LPs de 1979 a 83), Lincoln Olivetti, Roupa Nova, Guilherme Arantes e outros.
“A coisa mais engraçada é que o termo AOR não é tão conhecido no Brasil, mas ele toca nas rádios todo dia: são músicas como Africa, do Toto, Sarah, do Starship. Botou uma camisa havaiana, bigode Magnum e uma guitarra Gibson, é AOR”, brinca Ed, o vozeirão ribombando do outro lado da linha.
“Era também chamado de soft rock, sunshine pop ou MOR (Middle Of the Road, música para ouvir dirigindo). Depois tudo virou AOR. Americano se amarra em sigla né?”, percebe.
O primeiro contato do músico com a sigla foi ainda nos ano 80: “Eu conheci pela vertente do hard rock melódico de bandas como Foreigner, Van Halen com (o vocalista) Sammy Hagar, Journey, Asia”.
“Mas a vertente de AOR que eu exploro é conhecida como West Coast (Costa Oeste), que é uma música pop com um tratamento polido, tanto de estúdio, quanto na parte instrumental. Tem sempre uma certa polidez na coisas, e isso, na verdade, está em todos os meus discos, desde o primeiro”, vê.
AOR com Luis Caldas ao piano
Curiosamente, o baiano Luis Caldas foi um dos artistas que chamaram a atenção de Ed para o estilo AOR.
“Tem uma lembrança forte aí da Bahia. Acho que foi no (Hotel) Othon, tinha um piano no restaurante, e eu e o Luis Caldas ficamos ali até de madrugada. Nunca vou esquecer dele tocando aquela música do Styxx, Babe”, conta Ed, que começa a cantar ao telefone.
“Lembro que ele tocou a música inteira. O cara é fera, e aí você vê o que é um clássico do AOR: todo mundo gosta. O AOR tá na vida do brasileiro o tempo todo, sem ele perceber”, vê.
Perfeccionista notório, Ed se esmerou em reproduzir a estética AOR em sua linha mais sofisticada, justamente a praticada pelo já citado Steely Dan.
“Sou muito perfeccionista, muito detalhista. Então, quando termino um disco, estou sempre insatisfeito. Mas sei que fiz o melhor que pude dentro da situação”, afirma Ed.
“E também pude realizar a coisa que estava na minha cabeça. Não vou dizer que foi uma sorte, por que é um trabalho danado, suado. Leva um tempão e precisa de muita dedicação mesmo”, acrescenta.
Disco lançado, agora Ed espera o telefone chamar para tocar o AOR pelo Brasil: “Começo por Minas Gerais e depois vou rodar por onde tem pedidos de show. Por enquanto, não tenho previsão para Salvador, mas aí tem um dos meus maiores públicos no Facebook”, conclui.
Em tempo: “O AOR vai sair em vinil também. Aqui, na Europa e no Japão. Aliás, quando receber esse vinil japonês, acho que vou passar uns dois dias chorando, cara”.
Resenha:
Sonoridade cool de AOR é túnel do tempo rumo a era de ouro das FMs
Ed Motta / AOR / Dwitza Music - Lab 344 / R$ 29,90 / www.edmotta.com / www.lab344.com.br
EXTRA: LEIA MAIS TRECHOS DA ENTREVISTA COM ED MOTTA
Pergunta: O AOR é um estilo um tanto subestimado pela crítica. Por que a decisão de um album temático?
ED MOTTA: Acho que talvez por que o disco tem uma comunhao mais forte com a essa ala jazzy do AOR, que era mais considerada pela inteligentsia. Não vejo influência do tipo mais popularesco de AOR nesse disco. Vejo muito Steely Dan, Doobie Brothers. O Toto só está aí pelo som do (baterista) Jeff Porcaro, que é um padrão pra mim há muito tempo. O som de aro dele é padrão. Eu sempre me baseio nas coisas que ele gravou.
P: Por que a música de FM, que tinha uma certa sofisticação até 25, 30 anos atrás, caiu tanto? A culpa é toda do jabá?
EM: As rádios não tem culpa sozinhas. Acho que a culpa é de todo mundo, é uma historia como a do ovo ou da galinha. A culpa é do mercado viciado, que cria uns estilos de artistas ruins, incompetentes e obedientes. Quanto mais estúpido (o artista), mais obediente. Isso é algo que a indústria descobriu muito cedo. Se você obervar artistas dos anos 60 como Ray Davies (The Kinks) ou Pete Townshend, eles não aceitavam que as pessoas lhe dissessem o que fazer. Se você chegar no Pete e disser 'vai na radio tal, diga isso e aquilo, faça isso, toque aquilo', ele vai te xingar todo. O Frank Zappa saiu de cena para entrar a Lady Gaga. São as carta do mercado. Isso empre existiu, quando você olha na história da música isso sempre existiu. Elvis Presley, independente dos fãs e da sua qualidade como cantor, era um produto de gravadora. Tinha milhares de músicos decentes muito mais interessantes. Porra, só o Little Richard, só ele, já fecha. Por isso, as coisas dão menos certo para caras como Little Richard, que era 100% difícil, genioso. Elvis era bom moço, foi servir o exército, falava a coisa certa. Little Richard só fala miséria, mas canta pra caramba! Isso a gente vive com mais força nos últimos vinte, trinta anos ou mais. Não tem parãmetros. Os valores, os princípios de quem faz músicas e de quem as difunde hoje, são princípios muito diferentes do que eram há um tempo atras. É muito parecido com fast food. Aí você vai no restaurante de uma senhora que acorda as cinco da manha pra ir na feira e cozinha em fogão a lenha, é totalmente diferente. Essa senhora perdeu espaço para a comida congelada. E tem nego que ainda acha mais gostoso.
P: As participações especiais e o time de músicos que você recrutou são espetaculares. Como foi esse processo?
EM: Foi esscolhendo a dedo, mesmo. Um (músico) para cada situação. Quando estava fazendo uma fita demo, com todo os elementos de arranjo no teclado - aliás, eu vou fazer isso até o fim do ano, vou disponibilizar para as pessoas escutarem como é feita a maquete de tudo isso - teve um cara que ouviu e disse: 'tá igual ao disco', só que eletrônico. É neurose minha, né? Mas um disco como esse, quando eu mostro a fita pra um cara como o (guitarrista) Chico Pinheiro, eu quero um comentário dele, a visão dele acerca daquele arranjo. Então eu tive a sorte de ter a sorte de ter esses Jack Lemmons para as minhas Fernandas Montenegros (risos). Fica fácil, é gratificante demais. Eu que adoro estúdio, fico torcendo que o cara erre, só para eu poder ouvir ele tocar mais (risos). Mas esse é um padrao de músico que nao erra, cara. O Chico Pinheiro, no primeiro take, já vale. Você só pede para ele tocar mais para ter opções, por que ele já vem com tudo de primeira.
P: Imagino que os arranjos tenham sido bem trabalhosos, dado o grande número de instrumentos em cada faixa...
EM: É mais ou menos como um motorista de ônibus que vai catando músicos a cada esquina, aí junta tudo e faz uma festa no fim de linha (risos). É uma coisa que vou fazendo por partes, já que tenho tudo organizado na fita demo. Mas vou fazendo por partes, já que não costumo escrever. Levaria muito mais tempo escrever partituras, então eu peço para uma pessoa fazer isso para mim, por que aí a gravação vai mais rápido. No estúdio, você vê nas fotos das gravações, tá todo mundo com a partitura na frente. Não é uma coisa chata, é questão de organização, mesmo. Ninguém chega no estúdio perguntando como é que faz, por que está tudo escrito. Só entro no estúdio com tudo escrito, no compasso. Antes nao fazia assim, 'é esse ou aquele? Toca de novo e tal', mas o taxímetro do estúdio tá rodando, aí fiquei mais atento a isso.
P: AOR saiu pelo seu selo, o Dwitza Music, com distribuição do elo Lab 344. Você pretende lançar outros artistas pelo Dwitza?
EM: Eu gostaria sim, mas preciso de um sócio. Ainda não tenho dinheiro para lançar um artista assim. Queria poder lançar artistas em que acredito, especialmente de música instrumental, que é uma coisa esquecida no Brasil. O selo seria de música mesmo, e não dessa coisa mercantilista. Se eu quisesse ganhar dinheiro, ia trabalhar no mercado financeiro, ia ser advogado. Acho a coisa mais maluca do mundo pessoas que escolhem arte para ganhar dinheiro, aí faz um lixo.E nem é tanto dinheiro assim, como ganha um grande empresário, para o mico que a pessoa paga. Disco de Natal, por exemplo: é muito ruim, né? Uma mancha na biografia - e nem ganha tanto dinheiro assim. É chato, musicalmente irrelevante, mas americano adora.
E turnê? Passa por Salvador?
EM: Vamos começar agora. Primeiro, fazemos em Minas Gerais e depois começamos a rodar por onde tem pedido de show. Mas comigo sempre foi assim. Nunca fiz exatamente turnês. Nunca consegui fazer uma turnê pelo Brasil todo. Trabalho de acordo com a demanda, que é o telefone que toca. E a maioria dos artistas brasileiros é assim também. Nego gosta de tirar onda de turnê. No meio pop rock isso é gênero puro, lenda. (Emposta a voz:) 'Agora vamos sair em turnê'. Rá, rá, rá! Agora vamos esperar o telefone tocar, né? David Bowie lançou disco novo, aí tem essas agendas, os caras marcam dois anos de show. Isso no mercado internacional. Quem é super popular no Brasil é quem faz show para 50 mil, esses de repente fazem isso. Como munca tive um público tão grande, não sei o que é isso. Já fiz turnê na Europa, tipo uns 15 16 shows seguidos. Isso cansa pra cacete. Quando vejo as agendas de turnê desses caras eu fico me perguntando como eles conseguem? É absurdo. O Bowie, até o meio do ano que vem, so tem a segunda e terça-feira livres. Pra um carioca, isso é muito dificil. Dorival Caymmi é que tava certo. O artista tem que ter tempo para outras coisas, senão não sai nada. Por enquanto, ainda não tenho previsão para show aí em Salvador, mas aí tem um dos meus maiores públicos no Facebook. Depois de São Paulo, a Bahia é o estado que mais acessa minha pagina no Face, mais que o Rio.
Além daquela noite ao piano com Luis Caldas você tem uma relação com Salvador, né?
No início da minha carreira, a Warner tinha uma força grande aí na Bahia, não só em Salvador. Daí que eu lembro que foram trabalhadas outras músicas (do primeiro disco, Ed Motta & Conexão Japeri) que não foram trabalhadas no Sudeste. Isso foi muito vantajoso. Na primeira vez que toquei aí, em 88, cheguei no palco e as pessoas cantavam outras músicas além dos hits. Era tudo muito surpreendente. Isso e o camarão e a lagosta naquelas quantidades. Moqueca no Rio vem quatro ou cinco camarões. Aí vinha cheio! Meu Deus do céu, eu vou chorar (risos). Aí em Salvador eu não faço dieta. Deus castiga. Já cheguei ao ponto de pegar um avião, ficar dois dias aí comendo e voltar. Água de coco é outra coisa louca aí. A qualidade da água de coco não tem nada a ver com a do Rio.
quinta-feira, maio 09, 2013
ANATOMIA DE UM CLÁSSICO
Com um remake em cartaz, A Morte do Demônio original (1981), ganha um livro que desmembra todos os detalhes de bastidores
Objeto de culto desde seu lançamento em 1983, o filme A Morte do Demônio (The Evil Dead) gerou uma trilogia, um remake (em cartaz nos cinemas), HQs, games e até um musical, além de ganhar lugar privilegiado na cultura pop.
Agora, os fãs ganham também um livro, contando toda a saga de feitura do filme original. Evil Dead - A Morte do Demônio [Arquivos Mortos], de Bill Warren, traz toda a saga do trio por trás do filme, desde suas infâncias até a realização da trilogia e além.
Fruto da mente criativa (e ligeiramente pervertida) dos então jovens Sam Raimi (diretor), Bruce Campbell (ator e coprodutor) e Rob Tapert (produtor), A Morte do Demônio é uma montanha-russa macabra de possessões demoníacas, desmembramentos, sustos e uma pitada de comédia.
Essa sensação de sobe e desce das montanhas-russas, na realidade, era justamente a intenção do trio desde o início.
“Comecei a ver que existe arte neles (nos filmes de terror), e que há uma técnica na criação do suspense. (...) Eu observava o suspense sendo construído em um filme, e quando ele era disparado, o público pulava e gritava. (...) Entendi que fazer um filme de terror era como escrever uma peça musical”, disse Raimi à revista New Yorker.
Peça-inaugural do subgênero de terror “filme de cabana”, no qual jovens farristas são encurralados e mortos em alguma cabana isolada na floresta, A Morte do Demônio coloca dois rapazes e três moças em sérios apuros quando um deles encontra um estranho livro e um gravador no porão.
A gravação informa, em voz sinistra, que o livro é um volume ancestral utilizado na invocação de forças demoníacas. E começa a recitar as palavras que chamam essas forças.
A câmera e a tábua
Instantaneamente, o próprio espectador “se torna” parte dessas forças, por meio do recurso da câmera subjetiva (primeira pessoa), que percorre os bosques em alta velocidade, entre árvores e sobre lagos, até a cabana – um dos muitos truques exibidos por Raimi ao longo da película.
No livro, Warren desenterra muitos detalhes até então desconhecidos dos fãs.
Raimi, um garoto de classe-média de Detroit, já fazia filmes caseiros em super-8 desde criança, no porão da casa dos seus pais.
(Ao lado, uma rara foto de bastidores de Bruce e Sam, durante as filmagens da cena da ponte).
Sua principal inspiração, contudo, não eram os monstros clássicos da Universal ou da Hammer – e sim, as comédias dos Três Patetas, influência leve em A Morte do Demônio e escancarada em sua sequência, Uma Noite Alucinante (Evil Dead 2, 1987).
Com o filme, rodado com orçamento ínfimo e muito sacrifício da parte de toda a equipe envolvida, Raimi, Campbell e Tapert foram aclamados em festivais mundo afora, chegando a serem aplaudidos de pé em Cannes e tornando-se nomes quentes na indústria.
Raimi é hoje um diretor de blockbusters milionários como a trilogia Homem-Aranha (2002, 2004 e 2007) e Oz - Mágico e Poderoso (2013).
Mas foi ali, nos bosques gelados dos cafundós do Tennessee em pleno inverno, que o cineasta, então com 21 anos, cimentou sua estrada de tijolos de ouro rumo à fama e fortuna.
Para isto, lançou mão de toda sua criatividade.
Warren revela que, para os famosos travelings pela floresta, foi utilizada uma tábua carregada por dois homens, sobre a qual a câmera foi presa com fita adesiva.
Steadycam (equipamento profissional)? Com que dinheiro?
Caudaloso, o [Arquivos Mortos] de Warren traz muitos e muitos outros detalhes sobre a trilogia e seus produtos derivados.
Um deles, surpreendente, dá conta da prisão do distribuidor britânico do filme, acusado de violar o Ato de Publicações Obscenas (OPA, em inglês). Essencial para os fãs.
Evil Dead - A Morte do Demônio [Arquivos Mortos] / Bill Warren / DarkSide/ 320 p./ R$ 49,90/ R$ 64,90 (edição capa dura) / www.darksidebooks.com.br
Objeto de culto desde seu lançamento em 1983, o filme A Morte do Demônio (The Evil Dead) gerou uma trilogia, um remake (em cartaz nos cinemas), HQs, games e até um musical, além de ganhar lugar privilegiado na cultura pop.
Agora, os fãs ganham também um livro, contando toda a saga de feitura do filme original. Evil Dead - A Morte do Demônio [Arquivos Mortos], de Bill Warren, traz toda a saga do trio por trás do filme, desde suas infâncias até a realização da trilogia e além.
Fruto da mente criativa (e ligeiramente pervertida) dos então jovens Sam Raimi (diretor), Bruce Campbell (ator e coprodutor) e Rob Tapert (produtor), A Morte do Demônio é uma montanha-russa macabra de possessões demoníacas, desmembramentos, sustos e uma pitada de comédia.
Essa sensação de sobe e desce das montanhas-russas, na realidade, era justamente a intenção do trio desde o início.
“Comecei a ver que existe arte neles (nos filmes de terror), e que há uma técnica na criação do suspense. (...) Eu observava o suspense sendo construído em um filme, e quando ele era disparado, o público pulava e gritava. (...) Entendi que fazer um filme de terror era como escrever uma peça musical”, disse Raimi à revista New Yorker.
Peça-inaugural do subgênero de terror “filme de cabana”, no qual jovens farristas são encurralados e mortos em alguma cabana isolada na floresta, A Morte do Demônio coloca dois rapazes e três moças em sérios apuros quando um deles encontra um estranho livro e um gravador no porão.
A gravação informa, em voz sinistra, que o livro é um volume ancestral utilizado na invocação de forças demoníacas. E começa a recitar as palavras que chamam essas forças.
A câmera e a tábua
Instantaneamente, o próprio espectador “se torna” parte dessas forças, por meio do recurso da câmera subjetiva (primeira pessoa), que percorre os bosques em alta velocidade, entre árvores e sobre lagos, até a cabana – um dos muitos truques exibidos por Raimi ao longo da película.
No livro, Warren desenterra muitos detalhes até então desconhecidos dos fãs.
Raimi, um garoto de classe-média de Detroit, já fazia filmes caseiros em super-8 desde criança, no porão da casa dos seus pais.
(Ao lado, uma rara foto de bastidores de Bruce e Sam, durante as filmagens da cena da ponte).
Sua principal inspiração, contudo, não eram os monstros clássicos da Universal ou da Hammer – e sim, as comédias dos Três Patetas, influência leve em A Morte do Demônio e escancarada em sua sequência, Uma Noite Alucinante (Evil Dead 2, 1987).
Com o filme, rodado com orçamento ínfimo e muito sacrifício da parte de toda a equipe envolvida, Raimi, Campbell e Tapert foram aclamados em festivais mundo afora, chegando a serem aplaudidos de pé em Cannes e tornando-se nomes quentes na indústria.
Raimi é hoje um diretor de blockbusters milionários como a trilogia Homem-Aranha (2002, 2004 e 2007) e Oz - Mágico e Poderoso (2013).
Mas foi ali, nos bosques gelados dos cafundós do Tennessee em pleno inverno, que o cineasta, então com 21 anos, cimentou sua estrada de tijolos de ouro rumo à fama e fortuna.
Para isto, lançou mão de toda sua criatividade.
Warren revela que, para os famosos travelings pela floresta, foi utilizada uma tábua carregada por dois homens, sobre a qual a câmera foi presa com fita adesiva.
Steadycam (equipamento profissional)? Com que dinheiro?
Caudaloso, o [Arquivos Mortos] de Warren traz muitos e muitos outros detalhes sobre a trilogia e seus produtos derivados.
Um deles, surpreendente, dá conta da prisão do distribuidor britânico do filme, acusado de violar o Ato de Publicações Obscenas (OPA, em inglês). Essencial para os fãs.
Evil Dead - A Morte do Demônio [Arquivos Mortos] / Bill Warren / DarkSide/ 320 p./ R$ 49,90/ R$ 64,90 (edição capa dura) / www.darksidebooks.com.br
terça-feira, maio 07, 2013
THE HONKERS COMEBACK + NOTA DE PESAR PEU SOUSA
Calma, dileto leitor, não se assuste com a foto ao lado! Isto não é (ainda) um alerta de invasão de mortos-vivos.
Ora, se não são aqueles adoráveis maluquetes The Honkers (fotos: Carol Custódio Miag) voltando a tocar o terror na cidade!...
Sim, a lendária banda de garage-punk-indie-ska-arrocha, liderada por Rodrigo Sputter Chagas – filósofo de formação, poeta por convicção e nudista ocasional – está de volta e promete arrebentar os seus tímpanos com rock ‘n’ roll for real.
“É, o último show que fizemos foi há mais de um ano, em março de 2012, na Dinha”, lembra Sputter.
“Agora vamo ver se vai uma galera mais nova aí para aprender que é rock de verdade”, provoca Sputter.
O que foi, jovem fã de Los Hermanos? Ficou retadinho? Mais uma razão para comparecer no Dubliner’s este sábado para conferir o equizo-rock psicodélico dos Honkers, Os Jonsóns e Dezo & Os Dementes.
Brust, meu filho, vai gravar!
Fundada em 1997, os Honkers já botaram pra quebrar adoidado (as vezes literalmente) em palcos da Bahia e Brasil afora.
Chegaram mesmo até a Argentina, em uma viagem insana no carro do guitarrista, Felipe Brust.
Ultimamente, porém, andaram meio sumidões. Mas com o anúncio do show, viram renascer um certo interesse em torno da banda.
"Tem uns meninos mais novos do rock que nuca viram os Honkers, como um carinha de 17 anos, da banda Teenage Buzz, que me procurou que dizendo que tava feliz por que, não ia morrer sem ver minha banda ao vivo. Eles já nos viram muito no computador, mas nunca ao vivo mesmo. Na verdade esse é o grande estímulo: essa galera nova que tem os Honkers como referência. Isso me empolga", conta Sputter.
“Mas os Honkers nunca acabaram. Só deram um tempo mesmo. Nem percebemos direito, quando viu, tinha esse montão de tempo”, nota.
“Infelizmente, nunca conseguimos acabar com essa banda. Parece que a galera é meio necrófila, adora uma porra que morre”, diverte-se Sputter.
De planos, no momento, os Honkers só tem dois: terminar de gravar um CD demo novo com 12 faixas e viajar para tocar no interior e outros estados. “Só tô esperando o Brust parar de enrolar e gravar as guitarras de uma vez. Mas com os Honkers tudo é assim mesmo, meio maluco, meio devagar”.
Além dos citados Sputter e Brust, os Honkers ainda contam com Pedro Jorge (guitarra solo), T612 (baixo) e Léo Marinho (bateria).
Então o negócio é o seguinte: “Quem tá carente de uma boa noite de rock ‘n’ roll, pinta lá no sábado. Quem for, vai se lembrar por um bom tempo”, promete Sputter.
Além dos Honkers, a noite de sábado no Dubliner’s ainda conta com Os Jonsóns e Dezo & Os Dementes.
The Honkers, Os Jonsóns e Dezo & Os Dementes / Dubliners Irish Pub / Sábado, 22 horas / R$ 10
www.facebook.com/thehonkers
NOTA DE PESAR
RIP Peu Sousa
Esta coluna Este blog gostaria de expressar seu profundo pesar pela morte precoce de Peu Sousa, grande músico que o colunista blogueiro conheceu lá pelos idos de 1992. Na época, Peu, com apenas 15 anos, já impressionava com a guitarra em punho. Naqueles dias, ele era uma espécie de caçula da turma que gravitava em torno da banda Úteros em Fúria, amigos do colunista. Desde então, veio acompanhando mais ou menos de longe sua trajetória, da Dois Sapos & Meio, banda marcante dos anos 1990, passando pela Diga Aí Chefe, Pitty e Nove Mil Anjos. Esta última, espinafrada pelo colunista blogueiro. Algum tempo depois, a banda já extinta, encontrou Peu em festinha de amigos. “Chicão, você tava certo. Aquela banda não era legal”. Peu era um sujeito acessível, sorridente, que amava a música, se divertir e fazer amigos. Vai deixar saudades, mas sua música sobrevive nos discos e vídeos que gravou. Muita paz para a família. Descanse em paz, irmão. (O blogueiro poderia contar muitas outras histórias loucas e divertidas sobre Peu, a maioria do anos 1990. Mas quem não tem? A triste verdade é que, neste momento, ele mal consegue reunir forças para comparecer ao enterro do rapaz. Quanto mais, ficar escavando reminiscências de uma época menos cinza...). (Foto sem crédito, retirada deste blog).
Ora, se não são aqueles adoráveis maluquetes The Honkers (fotos: Carol Custódio Miag) voltando a tocar o terror na cidade!...
Sim, a lendária banda de garage-punk-indie-ska-arrocha, liderada por Rodrigo Sputter Chagas – filósofo de formação, poeta por convicção e nudista ocasional – está de volta e promete arrebentar os seus tímpanos com rock ‘n’ roll for real.
“É, o último show que fizemos foi há mais de um ano, em março de 2012, na Dinha”, lembra Sputter.
“Agora vamo ver se vai uma galera mais nova aí para aprender que é rock de verdade”, provoca Sputter.
O que foi, jovem fã de Los Hermanos? Ficou retadinho? Mais uma razão para comparecer no Dubliner’s este sábado para conferir o equizo-rock psicodélico dos Honkers, Os Jonsóns e Dezo & Os Dementes.
Brust, meu filho, vai gravar!
Fundada em 1997, os Honkers já botaram pra quebrar adoidado (as vezes literalmente) em palcos da Bahia e Brasil afora.
Chegaram mesmo até a Argentina, em uma viagem insana no carro do guitarrista, Felipe Brust.
Ultimamente, porém, andaram meio sumidões. Mas com o anúncio do show, viram renascer um certo interesse em torno da banda.
"Tem uns meninos mais novos do rock que nuca viram os Honkers, como um carinha de 17 anos, da banda Teenage Buzz, que me procurou que dizendo que tava feliz por que, não ia morrer sem ver minha banda ao vivo. Eles já nos viram muito no computador, mas nunca ao vivo mesmo. Na verdade esse é o grande estímulo: essa galera nova que tem os Honkers como referência. Isso me empolga", conta Sputter.
“Mas os Honkers nunca acabaram. Só deram um tempo mesmo. Nem percebemos direito, quando viu, tinha esse montão de tempo”, nota.
“Infelizmente, nunca conseguimos acabar com essa banda. Parece que a galera é meio necrófila, adora uma porra que morre”, diverte-se Sputter.
De planos, no momento, os Honkers só tem dois: terminar de gravar um CD demo novo com 12 faixas e viajar para tocar no interior e outros estados. “Só tô esperando o Brust parar de enrolar e gravar as guitarras de uma vez. Mas com os Honkers tudo é assim mesmo, meio maluco, meio devagar”.
Além dos citados Sputter e Brust, os Honkers ainda contam com Pedro Jorge (guitarra solo), T612 (baixo) e Léo Marinho (bateria).
Então o negócio é o seguinte: “Quem tá carente de uma boa noite de rock ‘n’ roll, pinta lá no sábado. Quem for, vai se lembrar por um bom tempo”, promete Sputter.
Além dos Honkers, a noite de sábado no Dubliner’s ainda conta com Os Jonsóns e Dezo & Os Dementes.
The Honkers, Os Jonsóns e Dezo & Os Dementes / Dubliners Irish Pub / Sábado, 22 horas / R$ 10
www.facebook.com/thehonkers
NOTA DE PESAR
RIP Peu Sousa
quinta-feira, maio 02, 2013
BAJOFONDO, PLURALIDADE MUSICAL RIOPLATENSE
Conhecido pelos brasileiros mais de orelhada – graças às trilhas de novelas da Globo – do que pelos discos em si, o grupo argentino-uruguaio Bajofondo (foto Picky Tallarico) pode muito bem ter se superado em seu novo álbum, Presente.
Ao lado do Gotan Project (que fez um grande show no Teatro Castro Alves há coisa de dois anos), o Bajofondo é um dos pioneiros do movimento de renovação da música argentina, chamado tango electronica.
Como o nome já entrega, é uma mistura do tango (geralmente instrumental, via Astor Piazzolla) com a música eletrônica contemporânea – para o horror dos puristas.
Porém, o que ele não contavam era com a astúcia dos homens por trás da empreitada, no caso o argentino Gustavo Santaolalla e o uruguaio Juan Campodónico.
Santaolalla é um veterano da música popular latina. Aos 62 anos, ele já fez de tudo: liderou várias bandas de rock, produziu outras tantas, dirigiu selos fonográficos e ganhou dois oscars pelas trilhas sonoras dos filmes Babel e Brokeback Mountain.
Já Campodónico se tornou um dos nomes mais importantes do rock uruguaio ao liderar a banda Peyote Asesino, nos anos 1990, além de ser parceiro ocasional do também oscarizado Jorge Drexler.
Em 2002, Santaolalla e Campodónico recrutaram Luciano Supervielle (piano), Martín Ferres (bandoneón), Javier Casalla (violino), Gabriel Casacubierta (contrabaixo) e Verónica Loza (vozes, VJ), dando início ao coletivo Bajofondo Tango Club, que ainda contava com outros músicos e até rappers.
Após dois álbuns de grande sucesso não só do lado de lá do Rio da Prata, mas também mundo afora, o Bajofondo (que aboliu o Tango Club) chega ao terceiro álbum, Presente.
Pluralidade musical
De cara, o que impressiona em Presente é sua a dimensão: do número de faixas (21!) à quantidade de músicos envolvidos.
Ao se somar o octeto efetivo mais uma orquestra com dezenas de convidados, são 37 músicos. Só de violinistas, doze.
Chega-se à sofisticação de ter um responsável só pelo theremin – o exótico instrumento eletrônico criado pelo russo Léon Theremin em 1928.
Essencialmente instrumental, há poucas faixas cantadas – o que está longe de deixar o álbum menos interessante.
Com início e encerramento bem definidos pelas faixas Intro e Outro, o miolo constituído pelas 19 faixas restantes são um delírio musical que é rioplatense e universal, ancestral e contemporâneo, tradicional e moderno – tudo ao mesmo tempo.
Com as batidas eletrônicas, apreciadores do tango mais tradicional podem achar que o Bajofondo o destitui de um de seus traços mais característicos, que é sua dramaticidade inerente.
Ledo engano: ela está lá o tempo todo, especialmente nas frases elaboradas pelas cordas, como em Nocturno, Caminante Rendezvouz e Patrás.
Mas se há um termo que realmente define Presente é pluralidade.
Espalhados pelo CD há elementos de hip hop (Sabelo), rock (as guitarras pesadas de La Trufa y El Sifón), rebetika (música folclórica grega, em Patrás), milonga (Milongón) doo-wop (Oigo Voces) e até cânticos de torcida de futebol (Olvidate).
Além, claro, da eletrônica. Um golaço musical, de abalar qualquer Bombonera.
Bajofondo / Presente / Produzido por Gustavo Santaolalla e Juan Campodónico / Sony Music - selo Sony Masterworks / R$ 25,90 / www.bajofondomusic.com
Ao lado do Gotan Project (que fez um grande show no Teatro Castro Alves há coisa de dois anos), o Bajofondo é um dos pioneiros do movimento de renovação da música argentina, chamado tango electronica.
Como o nome já entrega, é uma mistura do tango (geralmente instrumental, via Astor Piazzolla) com a música eletrônica contemporânea – para o horror dos puristas.
Porém, o que ele não contavam era com a astúcia dos homens por trás da empreitada, no caso o argentino Gustavo Santaolalla e o uruguaio Juan Campodónico.
Santaolalla é um veterano da música popular latina. Aos 62 anos, ele já fez de tudo: liderou várias bandas de rock, produziu outras tantas, dirigiu selos fonográficos e ganhou dois oscars pelas trilhas sonoras dos filmes Babel e Brokeback Mountain.
Já Campodónico se tornou um dos nomes mais importantes do rock uruguaio ao liderar a banda Peyote Asesino, nos anos 1990, além de ser parceiro ocasional do também oscarizado Jorge Drexler.
Em 2002, Santaolalla e Campodónico recrutaram Luciano Supervielle (piano), Martín Ferres (bandoneón), Javier Casalla (violino), Gabriel Casacubierta (contrabaixo) e Verónica Loza (vozes, VJ), dando início ao coletivo Bajofondo Tango Club, que ainda contava com outros músicos e até rappers.
Após dois álbuns de grande sucesso não só do lado de lá do Rio da Prata, mas também mundo afora, o Bajofondo (que aboliu o Tango Club) chega ao terceiro álbum, Presente.
Pluralidade musical
De cara, o que impressiona em Presente é sua a dimensão: do número de faixas (21!) à quantidade de músicos envolvidos.
Ao se somar o octeto efetivo mais uma orquestra com dezenas de convidados, são 37 músicos. Só de violinistas, doze.
Chega-se à sofisticação de ter um responsável só pelo theremin – o exótico instrumento eletrônico criado pelo russo Léon Theremin em 1928.
Essencialmente instrumental, há poucas faixas cantadas – o que está longe de deixar o álbum menos interessante.
Com início e encerramento bem definidos pelas faixas Intro e Outro, o miolo constituído pelas 19 faixas restantes são um delírio musical que é rioplatense e universal, ancestral e contemporâneo, tradicional e moderno – tudo ao mesmo tempo.
Com as batidas eletrônicas, apreciadores do tango mais tradicional podem achar que o Bajofondo o destitui de um de seus traços mais característicos, que é sua dramaticidade inerente.
Ledo engano: ela está lá o tempo todo, especialmente nas frases elaboradas pelas cordas, como em Nocturno, Caminante Rendezvouz e Patrás.
Mas se há um termo que realmente define Presente é pluralidade.
Espalhados pelo CD há elementos de hip hop (Sabelo), rock (as guitarras pesadas de La Trufa y El Sifón), rebetika (música folclórica grega, em Patrás), milonga (Milongón) doo-wop (Oigo Voces) e até cânticos de torcida de futebol (Olvidate).
Além, claro, da eletrônica. Um golaço musical, de abalar qualquer Bombonera.
Bajofondo / Presente / Produzido por Gustavo Santaolalla e Juan Campodónico / Sony Music - selo Sony Masterworks / R$ 25,90 / www.bajofondomusic.com