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terça-feira, novembro 29, 2011

GIRLS E AS GAROTAS (E A SEITA, O ROCK E...)

No mundo do rock, existem bandas que são boas por si só – e existem outras que, além de serem boas (ou ruins, vá lá), tem as histórias mais malucas.

O duo norte-americano Girls conta com ambas as características: ótimas canções (no recém-lançado  álbum Father Son Holy Ghost) e uma história pessoal (do vocalista Chris Owens) para lá de excêntrica.

Filho de dois hippies ingressos na polêmica seita apocalíptica  Children of God (fundado em 1968, hoje conhecido como Family International), Owens passou a maior parte de sua infância e adolescência vivendo em comunidades isoladas do culto, entre a Europa e a Ásia.

Aos 16 anos, o rapaz fugiu daquela maluquice e se refugiou na casa de sua irmã mais velha, no  Texas. Virou punk e se drogou até quase morrer.

Só saiu dessa graças a mão estendida de um milionário filantropo texano, Stanley Marsh III. Abrigado no Cadillac Ranch, fundação do ricaço, Owens se dedicou à música e pintura.

Inquieto, logo se mudou novamente, para São Francisco. Foi lá que, finalmente, conheceu o músico e produtor Chet “JR” White, com quem formou o duo Girls – que vem se destacando  no cenário rock internacional.

Várias referências e unidade

Segundo disco do Girls, Father, Son, Holy Ghost é, tranquilamente,  um dos lançamentos mais interessantes do ano que já termina.

Apesar de um tanto melancólico, é um álbum que retrabalha com muita personalidade diversas facetas do rock – tanto nas encarnações mais clássicas, quanto contemporâneas.

Ouvindo o disco, é possível apontar influências bem claras, que vão desde o Beach Boys (na linda faixa de abertura, Honey Bunny), até o hard rock setentista (em Die), passando por Beatles via Teenage Fanclub (em Alex), folk rock (Saying I Love You) e até um épico noise progressivo pink-floydiano comovente (Vomit).

E tudo soando com unidade – é obviamente a mesma banda em todas as faixas. Um trabalho de composição e produção de grande vigor criativo.


O ritmo cai um pouco na segunda metade do álbum, com canções mais acústicas e contemplativas, mas ainda assim, reserva boas surpresas, como a balada estilo 60’s Love Like a River e as faixas-bônus da edição brasileira, Love Life e Martina Martinez, dois números instrumentais adoráveis.

Assim como o espetacular The Black Keys, o Girls é mais uma boa banda que faz música para agora, a partir das melhores referências do passado.

Father, Son, Holy Ghost / Girls / Fantasy Trashcan - Lab 344 / R$ 24,90 / www.lab344.com.br / Twitter: @Lab_344






Girls - Honey Bunny from PIASGermany on Vimeo.

quinta-feira, novembro 24, 2011

HESSEL: SOM INSTRUMENTAL DO KRAUT ROCK À BLACK MUSIC

...E o rock instrumental no cenário alternativo local segue de vento em popa. Agora foi o power trio Hessel (foto de Tiago Lima) que soltou seu primeiro trabalho, um EP autointitulado com três faixas, para download gratuito, no site do selo independente baiano Torto Fonogramas.

Formado por Zé Felipe (guitarra) e Mário Baqueiro (baixo), a dupla contou com o virtuose Louis (Drearylands, Mystifier, Camisa de Vênus) na bateria para as gravações. Agora, quem empunha as baquetas em definitivo é Lucas Furtado, outro batera oriundo da cena metálica (Pandora).

Projeto antigo de Zé Felipe, a Hessel na verdade começou por volta de 2002, 2003. “Nessa época, eu já fazia esse som, mas a coisa não andou”, conta.

Foi só em 2009, depois de assistir ao show dos cuiabanos instrumentais da Macaco Bong no Pelourinho, que ele viu que o momento era mais favorável a sua proposta inicial.

Punk Floyd

“Eu nem conhecia a banda. Gostei de cara do som. Pensei, pô, esses caras tão fazendo esse som estranho e sendo aceitos, com vários elogios da critica, tocando em  festivais pelo Brasil e no exterior. Aqui já tínhamos os Retrofoguetes, no Sul tem o Pata de Elefante, aí vi que era hora de tentar de novo”, relata Zé.

“Eu tinha umas quinze fitas gravadas em casa com bases de guitarra. Pensei em jogar fora por que era um peso, mas aí, duas semanas depois disso, resolvi retomar a banda”, diz.

No EP, as faixas Double Dragon, Eclipse e Ballard ainda são composições dessa fase anterior, mas o guitarrista / band leader adianta que, logo logo, o trio entra de novo em estúdio para registrar músicas novas.

No momento, a Hessel planeja uma coletânea do rock instrumental local, em parceria com mais cinco bandas. Além disso, a Hessel planeja split album com o Tentrio.

“Agora estamos explorando outras sonoridades. Tem uma música chamada Cosmonauta, em que brincamos com as influências do kraut rock (som experimental alemão dos anos 1970). Já em Noturno, o ritmo é black. A gente curte muito o Earth Wind & Fire” , avisa.

Para quem achou estranho as influências quase opostas da banda, Zé explica (ou confunde): “Eu brinco dizendo que  nosso som é punk floyd, tipo ‘punk progressivo’.  A gente tem que se desafiar. Eu acredito muito nisso, no desafio artístico. É a função do artista: inovar”, reivindica o músico. Ah, Zé, se todos pensassem assim...

Conheça / Baixe: www.tortofonogramas.com/hessel

NUETAS

Passando em revista
Dois lançamentos de revistas bacanas, recomendadas pela coluna, marcam a semana. Hoje, a banda Retro–Visor (aquela é só com baixo, bateria e vibrafone) faz o som do coquetel da Bequadro, revista que enfoca a real pluralidade da música baiana, sem preconceito e com muita arte. Às 19 horas, na Galeria do Livro (Espaço Unibanco Glauber Rocha). Revista e entrada gratuitas. É só imprimir o flyer ao lado e comparecer, que ganha a revista (limitado aos primeiros 200 que comparecerem). Quem não puder ir, poderá baixar em breve o pdf inteirinho aqui: www.revistabequadro.com. Já no sábado (26), os caóticos The Honkers e a banda Expresso Libre (com canja de Vandex) animarem o lançamento da revista Fraude nº 9. Praça Pedro Archanjo (Pelô), 19 horas. Também grátis. Uhú!

Diego Orrico, sexta

Parece que a gaita está mesmo em um momento especial por aqui. Quase toda semana tem uma fera fazendo show. Desta vez, é Diego Orrico & The Blue Bullets no Balthazar. Sexta-feira, 22 horas. R$ 15 (salão).

ÁLVARO ASSMAR: 25 ANOS DE BONS SERVIÇOS PRESTADOS AO BLUES NA BAHIA

Pioneiro do blues na Bahia, o guitarrista Álvaro Assmar comemora 25 anos de carreira dedicada à música surgida no Delta do Mississipi lançando o primeiro disco duplo do gênero no Brasil.

Gravado ao vivo em março último, no Groove Bar, o álbum vem com CD e DVD e terá lançamento nesta sexta-feira, com  coquetel e pocket show.

O repertório é baseado nos últimos dois discos do músico baiano, Special Moment (2001) e Blues à La Carte (2005), além de canções inéditas, como Lonesome Walker, de autoria de seu filho, Eric, que segue os passos do pai e em breve lança tambem trabalho próprio.

“Tentei preservar o lado autoral na seleção das faixas, além de trabalhar com pessoas que fizeram parte desse quarto de século dedicado ao blues, gente com quem trabalhei no Cabo de Guerra (banda de rock em que tocou nos anos 1980) e no Blues Anônimo, que foi a primeira banda de blues daqui (surgida em 1989)”, relata Álvaro.

Caminho tortuoso

Desta forma, além da banda base que o acompanha, formada por Rafael Zumaeta (baixo), Reny Almeida (bateria) e José Luiz Lima (teclados e acordeom), Álvaro recebe no palco figuras importantes como Octávio Américo (baixista, ex-Blues Anônimo e Mar Revolto), Adelmo Assmar (irmão, ex-Cabo de Guerra), além do filhão Eric e da revelação da gaita, Luiz Rocha.

“Aposto muito em Eric e Luiz Rocha como os caras que vão dar continuidade no que eu comecei, mas com uma outra abordagem outra ótica”, elogia.

Mesmo depois de 25 anos soltando faísca com sua guitarra e maravilhando quem o ouve tocar, Álvaro demonstra humildade para se definir como um artista que ainda desenvolve uma linguagem própria.

“André Christovam (guitarrista de blues, referência nacional) me disse uma vez que o músico brasileiro de blues tem a tendência natural de soar como covers dos originais americanos. A gente que trabalha com composição tem que estabelecer uma linha que defina o que se é”, afirma.

Feliz pela estrada percorrida com dignidade, Álvaro sabe que “o caminho é tortuoso, mas quando eu vejo o que produzi nesse período, o gosto é bom, cara. Posso chegar e dizer que cumpri  meu papel”, conclui.

Álvaro Assmar 25 ANOS AO VIVO / Sexta-feira, na Cheiro de PIzza (Rio Vermelho) / 19 horas / Entrada gratuita / CD - DVD: Álvaro Assmar 25 Anos Ao Vivo / Álvaro Assmar / Star Blues - Independente  /  R$ 40  (CD + DVD) / www.alvaroassmar.com.br


terça-feira, novembro 22, 2011

SEM DERRAPAR, AUTORAMAS CHEGA AO (ÓTIMO) QUINTO ÁLBUM DE ESTÚDIO

Banda-símbolo de articulação independente e fidelidade a uma proposta, o Autoramas (em fotos de Lucas Correia) é um daqueles grupos que não costuma trazer grandes novidades a cada disco novo.

Ainda assim, o trio liderado pelo cantor e guitarrista Gabriel Thomaz consegue fazê-los soar fresquinhos – mais instigante do que muita coisa rotulada de “moderna” por aí. E  Música Crocante,  novo álbum, não é diferente.

Estreia da banda no selo Coqueiro Verde, o disco é o quinto álbum de estúdio do trio, após o CD / DVD acústico MTV Apresenta Autoramas Desplugado.

O resultado é redondinho, um álbum que se ouve sem pular faixas. “Na nossa opinião, é nosso melhor disco”, afirma a baixista Flávia Couri, que ingressou no trio em 2008.

Primeiro disco de estúdio do Autoramas no qual ela participa, Flávia ficou feliz em poder incluir duas composições suas: “Fizemos esse esquema meio Beatles, de quem compôs a música faz o vocal principal. Como entrei na época do Desplugado, um disco ao vivo, ali não deu para colocar nada meu ainda. Agora o Gabriel abriu espaço e eu pude colaborar”, conta.

Conhecido pelas letras raivosas, nas quais solta cobras e lagartos de forma bem irônica e ácida, Gabriel parece  experimentar um refinamento no discurso, como em Abstrai e Tudo Bem: “Sai pela tangente e tudo bem/ Sujeira embaixo do tapete e tudo bem / fica o dito pelo não dito e tudo bem/ Tapa o Sol com a peneira e tudo bem”.

Discurso político



“Tenho visto muita discussão de que o rock não é mais politizado”, observa Gabriel. “Eu acho que uma atitude política eficaz é falar do que está errado. Eu vejo pessoas com mentalidades inacreditáveis de conformismo. Aprendemos a conviver com corrupção, achamos natural. Eu não acho! Que pais é esse”?, reclama, quase berrando no telefone e rindo depois.

“É uma questão de posicionamento político mesmo, me sinto fazendo a minha parte. E se não tocar no rádio, problema de quem não tocou. Eu boto a minha verdade nas minhas letras e é assim que vai ser”, afirma.

É por essas e outras atitudes que o Autoramas é um trio respeitado até por quem não curte tanto assim o estilo surf music de seus rocks recheados de riffs cortantes, embebidos em tremolo e ritmos dançantes.

Em Música Crocante, esse estilo está lá, intacto e afiado como nunca – o que não impede Gabriel, Flávia e o baterista Bacalhau de flertarem com a música regional paraense em Guitarrada II.

“É a segunda vez que gente grava a guitarrada.  Até tava inseguro, mas ainda bem que nenhum paraense veio para me dizer que eu tava tocando errado. Meu pai é do Amapá, então  tá no meu sangue”, ri.

“A guitarrada paraense é uma coisa que tá me fazendo estudar a guitarra de novo. São outros padrões musicais que a própria surf music tem, mas nela eu já tinha achado meu jeito de fazer”, explica o músico.

Música Crocante / Autoramas / Coqueiro Verde / R$ 24,90 / www.coqueiroverderecords.com

A GRANDE MULHER POR TRÁS DO GRANDE HOMEM

Todo clichê costuma ter um fundo de verdade. Até por que nada se torna um clichê a toa. Aquele que diz que “por trás de todo grande homem há uma grande mulher” acaba de ganhar mais uma confirmação com o recém-lançado álbum de HQ Essa Bunch é um Amor (Conrad).

Sua autora, Aline Kominsky-Crumb, como o nome indica, é a esposa de ninguém menos que Robert Crumb, um dos maiores quadrinistas de todos os tempos – depois da morte de Will Eisner em 2005, não seria exagero dizer que se trata de um dos dois  mais importantes artistas vivos de HQ, ao lado de Alan Moore (Watchmen).

E esse peso, o de ser casada com um ícone desde 1978, está bem patente em boa parte das HQs de Essa Bunch é um Amor, que reúne histórias criadas desde o início de sua carreira, no começo da década de 1970, até meados dos anos 1990. Mas esse fato não afeta  em nada o brilho do seu trabalho.

Aline Kominsky-Crumb está longe, bem longe, de ser apenas “a mulher do Robert Crumb”.

Au revoir, América

Essa jovem senhora, hoje com 63 anos, nascida em uma família judia de classe média de Long Island (Nova York), já carregava em si, desde os primeiros trabalhos, a marca do humor anárquico, despudorado e autodepreciativo tão comum aos outros humoristas / cartunistas de sua geração – especialmente os de origem judaica.

Assim como Woody Allen (e seu próprio marido), Aline também demonstra verdadeiro horror ao espírito do norte-americano branco médio (o tal do redneck), aquele tipo consumista que dirige carros SUV, vota em políticos do Partido Republicano e faz churrasco de hambúrguer no quintal no fim de semana.

Não a toa, foi ela quem fez a maior pressão em Robert para que se mudassem em definitivo para uma vilazinha no interior da França, aonde vivem desde o início dos anos 1990.

Neuroses femininas

Com seu traço a primeira vista um tanto tosco – mas que evoluiu bastante ao longo das décadas –, Aline cria HQs em que basicamente conta, com  fluência espantosa e sinceridade absoluta, episódios de sua vida.

Desde os tempos de Long Island, quando seu pai ficou horrizado ao ver seus primeiros trabalhos na escola de arte (“Que diabo é isso? Pago esses idiotas para ensinarem lixo pra minha filha?”, pergunta ele, irado, em plena exposição), até a casa dos  40 anos, morando na França e lutando para se livrar do sotaque de Nova York.

Outro ponto de atração inequívoco no trabalho de Aline – especialmente para as mulheres – é sua abordagem das neuroses tipicamente femininas, como a preocupação com peso, a insegurança, o esforço para ser aceita em turminhas descoladas na juventude, para acompanhar a moda e a autopressão em se firmar como artista, independente do marido famoso.

Além de um amor, essa Bunch é também um sucesso.

Essa Bunch é um Amor / Aline Kominsky-Crumb / Conrad/ 160 p./ R$ 49,90/ www.lojaconrad.com.br

quinta-feira, novembro 17, 2011

ROCK PARA VER E APRECIAR

Livro: O design de grupos fundamentais é destrinchado pelo historiador Paul Grushkin em A Arte do Rock, livrão em capa dura

Rock é música, mas não só. Fenômeno que só poderia ter ocorrido (com a dimensão universal que lhe é peculiar) na era da comunicação de massa, o rock também se caracteriza como um vasto campo de expansão das artes visuais. Isso fica bem claro no recém-lançado livro A Arte do Rock, de Paul Grushkin.

Como se sabe, tudo o que está a nossa  volta tem design. Da cadeira em que se senta a caneta com que se escreve. Imagine-se então o peso da direção de arte no mundo do rock, em que o visual tem tanta importância.

Afinal, é quase sempre pelo visual da capa de um disco (ou dos membros de uma banda em uma foto) que se estabelece o tom do que vai se ouvir ali. Já pensou se os membros do Iron Maiden aparecessem nas fotos, vídeos e shows  com o visual do Justin Bieber – ou vice-versa? Será que teriam alcançado o sucesso que alcançaram?

 “É fundamental o papel do design na formação do imaginário rock”, opina Mauro Ybarros, diretor de arte ligado ao rock local e autor de capas de discos para bandas como brincando de deus e The Honkers.

“Desde o tempo em que era uma coisa apenas comercial,  aonde botava a cara do cantor e o título do disco, até a hora em que, por exemplo,  alguém pintou a cara do artista de amarelo  e  aquilo virou tendência”, crê.

“Então, quem comprava disco de vinil tinha um quadro que ele consumia de forma tátil. O design é a primeira exposição daquele material (a música)”, observa Mauro.

E ele está certo. Não se imagina o Pink Floyd sem as capas do estúdio Hipgnosis, de Storm Thorgenson, ou o Yes, sem as paisagens oníricas do pintor Roger Dean.

O que dizer então dos Rolling Stones sem sua famosa língua, símbolo da lascívia tão ligada ao imaginário da banda, criada por John Pasche?

Acervo vasto

Em A Arte do Rock, o leitor encontrará o vastíssimo acervo coletado ao longo de quatro décadas pelo colecionador Rob Roth, um produtor de espetáculos da Broadway apaixonado pelo design de rock.

No livro, o autor Paul Grushkin selecionou boa parte do material de oito dinossauros fundamentais: Rolling Stones, Elton John, Led Zeppelin, Pink Floyd, David Bowie, The Who, Queen e Alice Cooper – que assina o prefácio.

Em uma edição de luxo de grandes dimensões (quase as mesmas de um disco de vinil), com capa dura e papel nobre, o leitor encontra uma enorme variedade de materiais: das capas de disco e compactos a displays dos artistas em tamanho natural, passando por cartazes de shows e filmes, anúncios de revista e jornal, flyers e programas de turnê, até crachás.

Cada banda / artista responde por um capítulo do livro, no qual Grushkin detalha, em bons textos, a criação de capas clássicas da história do rock, o que rende ótimas histórias.

Para a capa de Houses of The Holy (1973), do Led Zeppelin, o artista Aubrey Powell se inspirou no clássico livro de ficção científica O Fim da Infância, de Arthur C. Clarke, no qual todas as crianças da Terra se reúnem para serem levadas em uma nave alienígena.

Daí a icônica imagem das crianças (filhos do cantor Robert Plant) escalando as curiosas formações rochosas de Giant’s Causeway, na Irlanda do Norte.

Rex (baterista dos Retrofoguetes) é sócio do Santo Design (ao lado de David Pádua e Iansã Negrão), estúdio ligado ao rock local, e lembra de passar horas contemplando capas de discos na adolescência.

“Ficava olhando os pequenos detalhes meio escondidos nas capas do Iron Maiden, como um  casal transando, no LP  Killers (1981)”, lembra.

"O trabalho do designer no momento em que vai fazer uma capa de disco é traduzir graficamente o conceito, a ideia da banda. A pessoa tem que olhar a capa e dizer: isso deve ser banda de metal ou de folk ou de rockabilly. Tem que passar alguma ideia do que se vai ouvir lá dentro, o conceito da banda e do próprio trabalho (disco) em si. No caso da Santo, temos sido bem procurados por que como somos musicos (Rex e David, que tocava na banda de heavy metal Gridlock), acho que conseguimos traduzir isso mais facilmente", acredita.

Os cartazes da Santo Design, de tão bonitos, costumam ser roubados na rua. “Rogério Big Brother (produtor de bandas) fica puto. Aí ele reclama: ‘Porra Rex, faz um cartaz feio que aí não dá prejuízo, pô’,” conta o baterista / designer, rindo.

A Arte do Rock / Paul Grushkin, baseado na coleção de Rob Roth / Companhia Editora Nacional / 256 páginas / R$ 98,00

CINNAMON: SUPERGRUPO REÚNE EX-AGUARRAZ E EX-LADRÕES DE BICICLETA EM TORNO DE SOM ESTILO FOLK


No mundo do rock, quando ex-membros de bandas conhecidas se juntam e formam um uma terceira banda, estas são chamados de “supergrupos”. Dois exemplos: Blind Faith (com Eric Clapton, Steve Winwood e Ginger Baker) e Audioslave (com membros do Rage Against The Machine e Soundgarden).

O atualmente esquálido contexto cultural local não permite aqui o uso de um termo como este – “superbanda” –, mas, a se analisar a ficha corrida dos membros da recém-lançada Cinnamon, até que faria sentido.

 A cantora, Roberta Simões (voz e violão), era a banda leader da extinta Aguarraz, que, com apenas um disco, lançado em 2008, logo foi escalada para os grandes festivais mainstream baianos.

O baixista Sérgio Kopinski e baterista Maurício Pedrão respondiam pela azeitada cozinha da espetacular Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.

E o guitarrista, Cândido Amarelo Neto, é um desgarrado por natureza, um franco-atirador master com serviços prestados a  bandas locais do primeiro time, como Cascadura e Vandex.

Norah Jones e Calexico

Só por ter conseguido fazer essa criatura se comprometer, a Cinnamon já merece atenção. “Rapaz, eu acho que  ele só entrou na banda por que adora beber uma cervejinha  depois do ensaio”, ri Maurício Pedrão.

O que aconteceu para unir os quatro em torno do projeto foi que, além da afinidade musical entre os membros, Pedrão, Kopinski e Roberta ficaram sem banda mais ou menos ao mesmo tempo.

“Logo depois, Roberta fez um curso de canto nos Estados Unidos. Quando voltou, veio com essas músicas novas em inglês que ela queria gravar, mas sem traduzir”, conta Pedrão.

Contatos com amigos feitos, os ensaios logo começaram, seguidos de gravações no estúdio de Tadeu Mascarenhas. “Foi um trabalho feito com zero recurso, muita brodagem e  muita vontade de fazer”, afirma.

"Uma ação entre amigos, mesmo. Tadeu Mascarenhas deu deu uma força boa, cobrando uma valor ridículo para gravar algumas coisas lá no estúdio dele. Graças a Luis Brasil ainda conseguimos masterizar com um cara incrível, o Carlos Freitas. Foi tudo feito assim", descreve, 

"E todo mundo participou por que acha legal e está a fim. Sem a choradeira de que tudo é difícil. A gente também não procurou muita ajuda por ai. Só não estamos no clima da choradeira", acrescenta.

O resultado está no álbum Jambo Sessions, disponível para download gratuito desde sábado: “É tudo bem simples: guitarra limpa, violão, baixo e bateria. As referências são Norah Jones e a banda Calexico. O som tem muitos espaços vazios, silêncios, guitarras semiacusticas. Em dezembro ou janeiro deve rolar um show”, conclui Pedrão.


Conheça / baixe: cinnamondiary.wordpress.com

NUETAS



Facom Som vezes 5
As bandas Lunata, Velotroz, Suinga, Pirigulino Babilake e Ministereo Público tocam na FacomSom, neste sábado (19), na  Biblioteca Central da UFBA.

Rock in Conceição
As bandas Drearylands, Confiteor, Human (da cidade de Santa Bárbara) e Magdalene & The Rock ‘n’ Roll Explosion (de Feira de Santana) fazem o som do IV Rock ‘n’ Metal neste sábado, em Conceição do Coité. No 4 Estações, às 19 horas. R$ 15.

Futurama 2011, finale
Ronei Jorge, os rappers do Opanijé e os cariocas do   Fino Coletivo fazem a última edição do ano do evento Futurama no Pelourinho. Na intervenção, os VJs Gabiru, Quetzal e Happy Downlady (Andrea May). Praça das Artes, 18h30, grátis.

sábado, novembro 12, 2011

NO ESCURINHO COM TIM BURTON

Dizem que os grandes diretores de cinema costumam fazer sempre o mesmo filme. Se isso é verdade, Tim Burton – ainda que críticos mais rigorosos ou puristas do cinema não concordem – deve ser mais um a figurar na galeria desse “grandes”. Isso fica mais ou menos claro na leitura de O Estranho Mundo de Tim Burton, almanaque compilado por Paul A. Woods.

Se Woody Allen tem, como principais temas permeando sua carreira, neuroses urbanas e relacionamentos amorosos, Burton tem o sentimento de inadequação e a constante presença da morte em todos os seus filmes. Seus personagens estão sempre fora de lugar, em alguma jornada muito insana.

Se John Ford tinha John Wayne como ator-fetiche e Hitchcock tinha James Stewart, como espelhos de si próprios refletidos na tela, Burton tem Johnny Depp, uma parceria que já atravessa duas décadas e rendeu mais de dez filmes.

Se Hitchcock tinha Bernard Herrmann como compositor da trilha sonora de praticamente todos os seus filmes (há até quem diga que, na verdade, o Mestre do Suspense é que criava filmes para as partituras de Herrmann), Burton tem em Danny Elfman o autor da música de todos os seus filmes.

Há ainda outras ocorrências de fidelidade canina do diretor, como a figurinista Colleen Atwood e os roteiristas John August e Caroline Thompson.

Mas o fato é que, com ou sem todas essas parcerias, Burton é mesmo um sujeito muito peculiar – e foi graças essa peculiaridade que ele construiu um imaginário cinematográfico próprio, carregado de originalidade (ainda que suas referências sejam claras, quase óbvias) e largamente admirado mundo afora.

O eterno moleque pálido

Quem estiver procurando uma biografia de Tim Burton, este ainda não é o livro. Organizado cronologicamente pela ordem de produção dos  filmes (começando pelo curta-metragem de animação Vincent, de 1982, até Alice no País das Maravilhas, 2010), O Estranho Mundo de Tim Burton reúne diversos textos jornalísticos norte-americanos escritos na época de lançamento de cada filme.

A edição original só cobre a carreira de Burton até A Noiva-Cadáver (2005), seu espetacular retorno ao cinema de animação desde O Estranho Mundo de Jack (1992).

A partir de Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007), os textos são assinados pelo tradutor do livro, o jornalista Cassius Medauar, em uma atualização exclusiva para a edição brasileira.

Para admiradores de Tim Burton (ou mesmo de Johnny Depp), o livro é uma ótima pedida, sendo possível traçar a evolução artística do descabelado diretor através de suas reações às críticas e declarações, captadas in loco pelos jornalistas – seja nos sets de filmagem, seja nas estreias dos filmes.

Mas a lição que fica mesmo é que, não importa o quanto envelheça (ele agora está com 53 anos), Burton será sempre o moleque pálido que, mesmo morando na ensolarada Califórnia aonde nasceu, não sai da sala escura do cinema por nada deste mundo – ou mesmo de outros mundos, que ele já demonstrou conhecer tão bem.

O Estranho Mundo de Tim Burton  /  Paul A. Woods / LeYa / 352 p. / R$ 44,90 / www.leya.com.br




sexta-feira, novembro 11, 2011

AMANHÃ NUNCA MAIS: A LOUCA JORNADA NOITE ADENTRO DE UM CARA QUE SÓ QUE VOLTAR PRA CASA

Estreia de Tadeu Jungle na direção de longa-metragem não decepciona, com trama a la Depois de Horas, de Scorsese

Tadeu Jungle, diretor de Amanhã Nunca Mais, filme que estreia hoje em todo o Brasil, é um veterano do vídeo que só agora estreia no cinema.

Um dos fundadores da linguagem do vídeo brasileiro  nos anos 1980,  Jungle se notabilizou  na mesma geração de gigantes midiáticos como Marcelo Tas e Fernando Meirelles.

Dado o vasto currículo do diretor, este primeiro filme deve ter sido esperado com expectativa por quem milita na área. E Jungle não decepcionou.

Amanhã Nunca Mais pode ser descrito como um Depois de Horas  à paulista. Como no filme de Martin Scorsese (de 1985), a trama se passa quase toda numa única noite, durante a desesperada jornada  de um homem para chegar em casa.

No caso, Lázaro Ramos, na pele do médico anestesista Walter, que passa por todo tipo de apuros e encontra os personagens mais alucinados que tentam a todo custo  (mesmo que sem querer), tira-lo do seu caminho, rumo a festa de aniversário de sua filha.

As condições também não ajudam em nada. O trânsito está sempre monstruosamente engarrafado. A chuva torrencial  nunca cessa.

E em seu caminho, Walter terá de se livrar de uma judia bêbada (Maria Luisa Mendonça), um motoboy no lugar e hora errados (Luis Miranda), uma confeiteira esotérica (Imara Reis) e sua filha tarada (Anna Guilhermina), entre outras figuras que parecem saídas do hospício.

Jungle faz jus à sua escola de vídeo com uma linguagem ágil e edição com muitos cortes nos momentos que pedem isso. Só exagera um pouco nos supercloses, que mostram até os poros do nariz de Lázaro.

Pode-se interpretar Amanhã Nunca Mais como uma elegia para a combalida masculinidade contemporânea, espremida entre a ditadura matriarcal (representada pelas mulheres que mandam em Walter: a mulher, a filha pequena e a sogra) e o machismo crepuscular do brasileiro casca-grossa, simbolizado em seu colega Geraldo (o engraçadíssimo Milhem Cortaz, de Tropa de Elite 2).

A película caminha muito bem até o desfecho, quando Jungle cede em um final medonho, digno de novela. Mas até lá, valeu o ingresso.

Amanhã Nunca Mais / de Tadeu Jungle / Com Lázaro Ramos, Maria Luisa Mendonça, Luis Miranda e Fernanda Machado, Milhem Cortaz /  Multiplex Iguatemi, Glauber Rocha e Cinemark

quinta-feira, novembro 10, 2011

BRAINSTORM: 15 BANDAS, 20 VANS, 5 CASAS – E VOCÊ NO MEIO DE TUDO

Um grande painel atual do pop rock local. Uma noite diferente. Um passeio musical. Uma semente para uma lógica de produção alternativa mais profissional.  Com uma proposta diferenciada, o festival Brainstorm, que acontece hoje a noite, em cinco locais diferentes,  é tudo isso e mais um pouco.

A proposta: são 15 bandas divididas em grupos de três, tocando em cinco casas de show da cidade. Com apenas um ingresso, o espectador tem direito de entrar nas cinco casas. Para facilitar o deslocamento entre uma casa e outra, a produção disponiblizará vinte vans que ficarão circulando entre os locais, transportando o povo.

Por exemplo: depois de assistir ao show do Pirigulino Babilake no Bohemia, quem quiser pegar a banda Café Com Blues (de Vitória da Conquista) no Farol Music Bar, pode se aboletar na próxima van para o local que esta o levará até lá – este serviço de transporte já está incluído no preço do ingresso.

“A ideia do Brainstorm nasceu no ano passado, durante uma reunião com os outros produtores do evento, João Lessa e Marcus Ferreira”, conta o produtor Emmanuel Mirdad.

Ele e Marcus já são bem conhecidos no meio alternativo, sendo os caras por trás do Prêmio Bahia de Todos os Rocks (que é bienal e parte para sua terceira edição em 2012). Já João Lessa é outra história: “Ele é um empresário conhecido no meio musical, já foi produtor do Festival de Verão”, conta.

“Quando ele saiu da iContent (produtora do FdV) e abriu sua própria empresa, a VDM Entretenimento, nos chamou para fazer um projeto no cenário alternativo. Então ele vem com essa lógica de mainstream que casou bem com a gente, que já tem experiência no rock local”, observa.

“A ideia é aliar, somar na grade musical da cidade essas bandas do cenário alternativo com uma estrutura profissional de diversão. Neste caso, com as pessoas podendo circular por várias partes da cidade com um único ingresso”, detalha.

Quem optar por permanecer em um único local ou mesmo quem ficar em casa com medo da chuva poderá acompanhar tudo a distância.

Em cada casa de show, TVs de plasma transmitirão  ao vivo tudo que acontece nos outros quatro locais. Além disso, o site oficial festivalbrainstorm.com  também estará transmitindo tudo, com updates constantes via Twitter e Facebook.

“Como viabilizamos o festival através do patrocínio de uma empresa de telecomunicação (Oi), pensamos muito nessa questão da interatividade, de fazer um evento que explore as novas tecnologias. Então é para a galera usar mesmo o celular, por que vai estar tudo integrado”, garante o produtor.

Entre os músicos, a expectativa é boa, já que o formato diferenciado do Brainstorm deverá possibilitar que as bandas se apresentem diante de pessoas que normalmente não assistiriam um show delas.

“As atrações em sequência não tem nada a ver uma com a outra. Queremos forçar essa situação de movimento”, explica Mirdad.

“A sacada do formato foi muito boa”, elogia Marcos Rodrigues, baixista da Theatro de Seraphin. “Ele muda um pouco a dinâmica da cidade, fazendo as pessoas circularem e  saírem dos seus guetos. Nós nunca tocamos com o Retrofoguetes, por exemplo. Então eu achei muito bacana“, acrescenta.

“A ideia foi massa. Tomara que abra os olhos da galera que acha que em Salvador não se inova nada”, concorda Dimmy Drummer, baterista da Vendo 147.

"Achei a ideia interessantíssima, acho que vai fluir legal", aposta Dedé, baixista Haole do Capitão Parafina. "Não sei se teremos tempo para circular também, mas se der vamos. Só vendo depois. Mas com essa historia das vans espero tocar para um público mais ou menos diferente. Nosso show vai ser de repertorio autoral, sangue no olho e é isso aí", conclui.

PROGRAMAÇÃO Festival Brainstorm
  • Groove Bar (Barra): Cascadura, Percussivo Mundo Novo e Capitão Parafina & Os Haoles
  • Portela Café (Rio Vermelho):  O Círculo, Maglore e Vendo 147
  • Bohemia (Barra): Pirigulino Babilake, Ênio & A Maloca e Clube de Patifes
  • Farol Music Bar (Rio Vermelho): Retrofoguetes, Café Com Blues e Theatro de Seraphin
  • B-23 (Itaigara): Baiana System, Messias e Acord

Serviço: Festival Brainstorm / Hoje, 22 horas / Ingressos: R$30 / A venda nos postos da Ticketmix nos shoppings Salvador, Iguatemi, Barra e Paralela


Acompanhe: Nas cinco casas de show com apenas um ingresso (circule entre uma outra com as vans a disposição) / Ou no site www.festivalbrainstorm.com

terça-feira, novembro 08, 2011

É TOMADA, RETROVISOR, LAGARTIXA, TEM DE UM TUDO NESSE ROCK LOCO

Tomada: banda paulista, com várias relações baianas, faz um dos melhores CDs do ano

Quem acompanha esta coluna sabe que se trata de um espaço dedicado ao rock autoral e independente baiano. Só de vez em quando enfocamos bandas de outros estados. Hoje é uma dessas ocasiões. E é com muito prazer que apresentamos aqui a banda paulistana Tomada.

Por que? Duas boas razões: o disco deles, O Inevitável (Pisces Records), lançado em julho, é apenas excelente, uma das melhores coisas que o colunista ouviu este ano, e muitas  léguas distante do tédio geral instalado na sonolenta cena sambinha folk indie pós-Los Hermanos.

E a segunda razão é que tem três baianos de nobre estirpe envolvidos aqui: Fábio Cascadura, amigo dos caras e parceiro em duas composições do CD, o produtor andré t., responsável pela mixagem e masterização e Martin Mendonça (guitarrista de Pitty), o “guru” do grupo.

Catarina, faixa de O Inevitável, com letra de Fábio Cascadura



Inventário de subgêneros
A Tomada existe há pouco mais de dez anos, e O Inevitável é seu terceiro disco. “Lançamos o primeiro em 2003, e o  segundo, Volts, em 2005. Já tocamos muito no Sul e Sudeste e agora estamos tentando chegar no Nordeste, aonde temos vários amigos”, conta Pepe Bueno, baixista, ao lado de Ricardo Alpendre (vocais), Alex Marciano (bateria), Lennon Fernandes  e Marcião (guitarras e teclados).

Não foi só este colunista que curtiu O Inevitável e seu bem resolvido inventário de subgêneros do classic rock. “Tivemos matérias bem legais nas revistas Rolling Stone, Guitar Player e Dynamite”, enumera Pepe.

“Com certeza, é o nosso melhor disco. Tá vendendo bem e a aceitação de público e critica estão sendo bem legais”, diz.

A relação da Tomada com os baianos começou quando a banda Cascadura morou um período em São Paulo e Martin ainda era o guitarrista. “Em 2006, precisávamos de um produtor, e aí chamamos Martin.
Entramos no estúdio, ele manda essa: ‘a canção é prioridade, esqueçam solos de guitarra’”, lembra Pepe.

Martin não pôde continuar o trabalho, mas sua orientação norteou a banda – que, seguindo outra sugestão dele, mandou o disco pronto para andré t mixar. “andré mudou tudo, deu a cara definitiva do disco. Ele acabou meio que fazendo o papel de produtor na pós-produção”, conta o baixista.

“Ah! Nosso disco está a venda aí na loja Trenchtown. Em breve pintamos por aí”, despede-se.

Ouça: www.myspace.com/tomada

Sonoridade rock clássica
A banda Tomada é artigo cada vez mais raro no árido cenário do pop brasileiro atual: uma banda de rock sem vergonha de sê-lo, sem influências de samba, ritmos regionais ou medalhões da MPB. Uma banda de rock que recupera com certo brilhantismo as bases do gênero: o riff marcante, a levada pra cima, a interpretação emocionada. Sério mesmo: quanto tempo faz que não se ouve uma power ballad tão emocionante quanto Entro Em Órbita (quase uma versão do Pholhas para o século 21)? Ou um rock honesto e sem cinismo fake como Uma Música Forte? Cansado da sonolência proporcionada pelos novos gênios da MPB? A eletricidade da Tomada é o remédio, baby. Tomada / O Inevitável / Pisces Records / R$ 15,90


Ela não tem medo from Cris Lyra on Vimeo.



Retrovisor: baixo, vibrafone e bateria em diversas levadas

Formação de banda de rock todo mundo sabe como é: baixo, guitarra e bateria. Formações pouco convencionais, que fogem disso aí, não são exatamente novidade, com bandas como Morphine (sax barítono no lugar da guitarra) e a local Vendo 147 (duas baterias) vindo imediatamente à memória.

A também local Retrovisor é mais uma a abrilhantar essa lista, com uma formação que agrega baixo (Ricardo Cadinho), vibrafone (Antenor Cardoso) e bateria (Angelo Medrado).

“(Formar essa banda) É  uma ideia antiga de Antenor”, conta Cadinho. “Ele comprou esse vibrafone em 2008, e desde essa época que a gente tinha vontade de fazer esse som”, diz.

A proposta é fazer um som instrumental para “explorar outras sonoridades, conjugando cool jazz, música africana, latina, bossa, funk”, enumera o baixista.

Ele diz que o Retrovisor tenta evitar uma coisa que é muito comum em bandas instrumentais: a bolha individual dos músicos. “A gente se preocupa mesmo é com o groove. Não é essa coisa do instrumental, cada um na sua bolha, esperando a hora de fazer seu solo”, garante.

“É um show com dinâmica, um crescendo bem notório. Começa  devagar, com uma ciranda, depois uma bossa, daqui a pouco cai no rock”, descreve.

Roubaram nossa identidade

Cadinho vê o Retrovisor não apenas como uma banda, mas também como uma afirmação de “real pluralidade baiana”.

“O fato é que houve uma apropriação da identidade do baiano. Nós não podemos ser apenas essa coisa engessada de abadá que pula atrás do trio. É muito pouco. Por isso é tão importante uma Orkestra Rumpilezz”, opina o baixista.

“Queremos nos juntar aos baianos que se destacam fazendo outras coisas, coisas  que ferem essa noção ultrapassada. É isso que me deixa feliz, eu quero muito fazer parte dessa outra expressão”, desabafa.

Potencial para isto não falta ao trio. Antenor e Angelo são músicos de formação erudita, com passagens pela OSBA e Osufba, entre vários outros grupos de alto conceito.

Em 2012, eles pensam em entrar no estúdio e gravar um primeiro álbum. Enquanto isso não acontece, o leitor pode conferi-los dia 24, no lançamento da revista Bequadro.

Retrovisor no lançamento da Revista Bequadro / 24 de novembro, quinta-feira, 19 horas / Galeria do Livro do Espaço Unibanco (Pça Castro Alves)



NUE-EE-ETAS!

Gaita master do Rio
O gaitista carioca Jefferson Gonçalves, referência nacional da harmônica, traz sua mistura de country e blues com ritmos nordestinos ao Balthazar (Shop. Cidade). Sexta e sábado, 22 horas. Livre na varanda, R$ 10 (salão) R$ 15 (mezanino).

Seletiva Fun Music
As bandas Sertanília, Neologia, Babi Jaques & Os Sicilianos, Os Informais, Gambiarra Cybernética e a dupla Geslaney Brito & Iara Assessú se apresentam na classificatória do concurso de bandas Festival Universitário de Música – Fun Music – nesta sexta-feira. No Zen Dining & Music (Rio Vermelho), 22 horas.

Rosi Marback sábado
A cantora de blues faz show no Boteco Ali do Lado, com abertura de Carol Rodrigues e Banda Blue Note. 21 horas, R$ 10.

quarta-feira, novembro 02, 2011

MICRO-RESENHAS DE FINADOS - MAS AINDA QUENTINHAS...

Festa no celeiro do Nhô Neil

O “baú do Neil” (a série Neil Young Archives) chega ao nono lançamento: o disco ao vivo A Treasure. Gravado em 1985, durante a turnê do disco Old Ways – fruto de sua fase mais errática – era um disco de country music de raiz, com tudo o que o gênero pede: violino, guitarras pedal steel e slide, banjo, piano, além de grandes canções. Assessorado por uma senhora banda, os International Harvesters (Ben Keith, Spooner Oldham, Rufus Thibodeaux), Mr. Young encanta a plateia com joias do seu repertório, como Flying on The Ground is Wrong, Are You Ready for The Country, Bound For Glory e outras. Neil Young International Harvesters / A Treasure / Warner - Reprise / R$ 34,90


Morrissey errou

Morrissey deve estar gagá. Em seu site oficial, o truetoyou. com,  o ex-Smiths andou elogiando o disco de estreia do quarteto californiano Young The Giant. A possível senilidade do mancuniano fica evidente quando se ouve este CD de legítimo "pop bege". Fã de bandas radicais do glam e do underground como New York Dolls e Cockney Rejects, Moz fez o elogio de um grupo que vai contra tudo o que ele mesmo representa, pois Young The Giant é uma típica banda do indie rock genérico e comercial, um sub-Coldplay que só aprofunda a crise criativa em que o subgênero entrou na última década. Muito ruim.  YOUNG THE GIANT / Roadrunner - Warner / R$ 29,90



Cachorro Grande à carioca

Integrados à atual banda de acompanhamento de Erasmo Carlos, o trio carioca Filhos da Judith ganhou a admiração do Tremendão pelo extremo apuro nos arranjos vocais que permeiam todo álbum de estreia da banda. Totalmente retrô, o som dos Filhos ganha pontos pela propriedade com que reproduz a sonoridade sessentista, especialmente de bandas da British Invasion, como Beatles e The Who, ainda objetivos, na fase dos terninhos pretos – nenhuma faixa (de 17) tem mais que 3 minutos.  Mais ou menos como um Cachorro Grande da Guanabara – com vocais muito melhores e mais harmônicos. Com letras em português, mandam muito bem em faixas como Drive ‘n’ Beat, Perto do Incerto, Sem Dizer Jamais  e Sha La La. FILHOS DA JUDITH / Coqueiro Verde / R$ 19,90


Rir pra não chorar

Expoente da geração Pasquim, o cartunista mineiro Nani exibe em mais esta coletânea a sua rara habilidade de fazer rir sem perder o tom ferino da crítica social e política que é sua  marca (e de seus contemporâneos). Premiado no Brasil e no exterior, Nani é patrimônio nacional do humor gráfico de uma geração caracterizada pela consciência política. Humor do Miserê / Nani / L&PM / 112 p. / R$ 11 / lpm.com.br






Tocha britpop ainda acesa

Surgida em 2004, a banda inglesa de britpop tardio Kaiser Chiefs chega ao seu quarto álbum confirmando o título de uma das suas músicas antigas: Everything Is Average Nowadays (Hoje em dia, tudo é mediano). Apesar de não soar nada demais, o grupo liderado pelo vocalista Ricky Wilson demonstra uma certa dignidade ao manter acesa a chama do bom rock britânico em faixas como Little Shocks, Long Way From Celebrating, Starts With Nothing e When All Is Quiet. Aqui e ali há ecos de Kinks, Beatles, Paul Weller e outros potentados da velha ilha do norte. Kaiser Chiefs / THE FUTURE IS MEDIEVAL / Universal / R$ 29,90


Psicodelia nordestina

Um marco da MPB, o LP de estreia de Alceu Valença e Geraldo Azevedo, de 1972,  evidencia o talento em estado bruto dos dois compositores em um apanhado de faixas magistrais, em que a psicodelia típica do período trava altos  diálogos com os ritmos regionais. A rara fluência se deve em parte aos arranjos e a regência do maestro tropicalista Rogério Duprat. Destaque para  Me Dá um Beijo, Mister Mistério, o frevo alucinógeno Cordão do Rio Preto e o maracatu psicodélico Planetário. Para esquecer de vez aquela atrocidade embebida em mel que é Dia Branco. Alceu Valença & Geraldo Azevedo /
Quadrafônico / EMI / R$ 17,90


Divino humor


Não é fácil fazer humor com Deus (ou sobre Ele). Na série de tiras Um Sábado Qualquer... (50 mil seguidores na internet) o niteroiense Carlos Ruas dribla polêmicas vazias e parte para a graça pura e simples, mostrando Deus (representado pelo arquétipo do velhinho de barba branca) às voltas com Adão (angustiado por ter de viver 900 anos com uma única mulher), Eva, Caim, Noé, Darwin, Nietzsche (“Era para você estar morto!”), Einstein até Oscar Niemeyer. Humor leve, inteligente e bem divertido. Um Sábado Qualquer... / Carlos Ruas / Devir / 128 p. / R$ 35 / devir.com.br



Estripulias sulistas

Apontado por Hemingway como o romance de fundação da literatura norte-americana, Huckleberry Finn ganha edição pocket com nova tradução – tarefa árdua que coube a Rosaura Eichenberg. Em fuga do pai bebum, garoto se refugia, aliado a  um escravo fugido, numa ilha do rio Mississippi. AS AVENTURAS DE HUCKLEBERRY FINN / Mark Twain / L&PM / 320 p./ R$ 17/ lpm.com.br









Exílio na rua principal

Autor do clássico americano Ragtime (1975), E.L. Doctorow resgata a triste história real dos irmãos Homer (cego) e Langley (traumatizado de guerra) Collyer. De família rica, entraram em decadência e viveram isolados  em uma mansão na Quinta Avenida (NY), acumulando lixo e contas a pagar. Belo e comovente. Homer & Langley / E. L. Doctorow / Record/ 240 p./ R$ 39,90/ record.com.br








Corrupção policial à escocesa

Vida de policial da corregedoria não é fácil. Além de investigar os próprios colegas, precisa se manter na linha para não dar munição ao inimigo. É isso que acontece com Malcolm Fox, da polícia de Edimburgo (Escócia), quando um assassinato ocorre em sua família e ele é o principal suspeito. Trama intrincada e inteligente de Ian Rankin. Denúncias / Ian Rankin / Companhia das Letras / 504 p. / R$ 48 / companhiadasletras.com.br








Chofer de assaltante

Patrick Lennon é motorista de assalto a bancos. Um dia, claro, tudo dá errado – e ele cai em uma espiral de violência e correrias, entre chefões do crime, policiais corruptos, capangas pouco inteligentes  e outras criaturas do submundo. Autor de quadrinhos, Swierczynski escreve como Tarantino dirige: com humor negro e violência gratuita. O motorista / Duane Swierczynski / Rocco/ 224 p./ R$ 36/ rocco.com.br








Vida de dândi

Oscar Wilde é uma daquelas figuras “maiores do que a vida”. Nesta biografia, o filósofo Daniel Schiffer narra, em linguagem acessível, a louca vida do homem mais ousado e destemido da Era Vitoriana. Da infância à morte na miséria, após um retumbante período de sucessos e escândalos, tudo é grandioso na vida do autor de O Retrato de Dorian Gray. Oscar wilde / Daniel S. Schiffer / L&PM / 336 p./ R$ 20/ lpm.com.br








Novas fantasias holandesas e brasileiras

Segundo volume da coleção de bolso da Devir. Em A Batalha Temerária Contra o Capelobo, Christopher Kastensmidt coloca seus heróis (um ex-escravo africano e um explorador holandês) de frente com a criatura do título. E em Encontros de Sangue, um índio e uma viking estão no centro de uma guerra entre nações indígenas. Duplo fantasia heroica 2 / Christopher Kastensmidt e Roberto Sousa Causo / Devir / 128 p. / R$ 15,90 / devir.com.br








Símbolo de sagitário

O mestre gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011) tem um de seus romances mais simbólicos republicados em bem-vinda edição de bolso. Um centauro, criatura mítica por definição, nasce no seio de uma família judia em uma pacata cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. O CENTAURO NO JARDIM  / Moacyr Scliar / Companhia de Bolso / 224 p. / R$ 23/ companhiadasletras.com.br








Ninfomania moderna

Aline, a moderna garota urbana  com dois namorados – um mais apalermado do que o outro – foi à TV, mas volta aos quadrinhos. Nesta Antrologia, ela tem suas melhores tiras publicadas em uma edição especial colorida, na qual viaja até Marte (e faz sexo com dois marcianos), visita o capeta no inferno, vira estilista e blogueira. Aline Antrologia / Adão Iturrusgarai / L&PM / 128 p./ R$ 36 / lpm.com.br








Esplendor playboy

O DJ superstar David Guetta lembra muito o personagem de HQs Wolverine. Assim como o mutante canadense das garras retráteis, Guetta é o melhor no que faz – só que o que ele faz não é nada agradável. Rei das batidas prontas para embalar pitboys, playboys, maurícios, patrícias, cachorras, tchutchucas e outros animais em boates e esquemas all-inclusive da vida, ele apresenta, neste novo trabalho, um CD duplo. O disco um traz 12 faixas com cantores convidados (gente capacitada como Jessie J. e Usher). O disco dois é só as batida. Devia vir com uma dose de vodca com energético. David Guetta / Nothing But The Beat  / EMI / R$ 49,90






Antes tarde...

Demorou, mas aconteceu. O TriaT’uan, um dos grandes grupos de música instrumental da Bahia, finalmente estreia em disco, só uns 30 anos desde sua formação – e com uma ausência: o baterista e lenda viva Annunciação, retirado da cena musical. Apesar de tudo isso, é um lançamento para ser comemorado entre os apreciadores de música em sua forma mais pura, independente e livre dos castradores padrões mercadológicos. Acompanha as partituras de cada faixa, o que já vale por uma aula. Triat’uan / Caminhos do vento / Independente (contemplado em edital da Funceb) / Preço não divulgado