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terça-feira, dezembro 28, 2010

ESCALDANTE BANDA: TODO O GROOVE E O VENENO DOS GAROTAS SUECAS

Banda de rock brasileira, para fazer sucesso no exterior, tem que cantar em inglês. Esse mito, alimentado após o sucesso (mesmo que restrito a nichos) do Sepultura e Cansei de Ser Sexy, parece ter caído por terra com os paulistas da Garotas Suecas.

O grupo acaba de lançar, em LP de vinil e CD, seu primeiro álbum, Escaldante Banda, por um selo norte-americano.

E não só isso: o sexteto já realizou nada menos que quatro excursões à terra do Tio Sam, sempre com bom público e performances elogiadas em grandes veículos, como o vetusto jornal New York Times e as revistas Time Out Chicago e Spin.

Formado em 2005, o Garotas Suecas fez sua primeira incursão ao exterior em 2008, depois que um dos guitarristas, Sérgio Sayeg, foi morar com a família em Nova York. “Ele foi para lá em 2007. Ficamos tocando por aqui sem ele durante um ano”, conta Tomaz Paoliello, também guitarrista.

“Aí um dia ele nos convidou para passar férias. Aproveitou e marcou uns 5 ou 6 shows na cidade. Fomos na loucura total. Compramos passagens e ficamos todos no apê dele”, ri.

Foi aí que os Estados Unidos confirmaram sua vocação de “terra das oportunidades” para a banda. “Em um desses shows, tinha uma empresária de lá, que viu, gostou e a partir daí, ela foi marcando outras viagens. Aí a coisa foi crescendo. Foi uma combinação de trabalho duro com um pouco de coragem para se jogar”, diz Tomaz.

O som da banda, uma mistura muito harmoniosa de rock, funk (estilo James Brown), sambalanço (estilo Jorge Ben das antigas), psicodelia, tropicalismo e jovem guarda, vem ganhando plateias aonde quer que se apresentem, seja aqui ou nos EUA.

“O pessoal se identifica muito com o som. E embora (os americanos) não entendam, eles gostam da sonoridade da língua portuguesa – além de conhecerem sim, muita música brasileira: bossa, Caetano e principalmente Mutantes, que é a banda queles mais associam a gente”, analisa Tomaz.

Uma das prioridades dos Garotas Suecas no momento é tocar mais em seu próprio País: “Queremos fazer show aí em Salvador ainda no primeiro semestre de 2011. Isso é uma prioridade para gente. Salvador é a cidade mais bonita do Brasil”, derrete-se. Que venham logo.

Escaldante Banda / Garotas Suecas / American Dust Records / CD: R$ 15 / LP: R$ 40 / Download free: www.bandagarotassuecas.com.br

OS RATOS DE PORÃO, POR ELES MESMOS

O documentário Guidable - A Verdadeira História do Ratos de Porão sai em DVD. Precisa dizer que é imperdível?

Eles são, muito provavelmente, a representação mais significativa do punk rock brasileiro e um dos artífices, como outras bandas ao redor do mundo, do principal subgênero do punk: o hardcore. Ainda assim, são poucos aqueles que lhes atribuem a devida importância.

Lançado há pouco tempo no circuito alternativo de salas de cinema (não em Salvador) e recentemente em DVD, o documentário Guidable - A Verdadeira História do Ratos de Porão, vem oferecer, finalmente, a real dimensão da importância e representatividade da banda liderada pelo popular João Gordo.

“Desde que eu comprei minha primeira câmera, em 1995, eu filmava tudo do Ratos”, conta João, por telefone. “E há alguns anos eu queria fazer uma compilação desse material, mas ainda não tinha rolado”.

A oportunidade surgiu quando ele conheceu o cineasta de filmes de terror trash Fernando Rick. “Ele é tipo um jovem Zé do Caixão, faz umas coisas bem extremas. Em 2006, pedi para ele fazer um clipe para a gente, da música Covardia de Plantão, que tem cenas reais de um cara sendo linchado. A MTV se recusou a passar”, diverte-se.

Black Vomit

João, claro, gostou da pegada brutal do rapaz, que responde pela produtora de filmes trash Black Vomit. Daí para o convite de realizar um documentário sobre a banda, foi um pulo.

Ou melhor, um pogo (a dança típica dos punks rockers). A empreitada, duríssima e realizada com um orçamento ínfimo, logo contou com outro aliado a bordo: Marcelo Appezzato, como co-diretor, pesquisador e entrevistador.

O resultado foi um senhor documentário de 120 minutos, com entrevistas com todos os integrantes (ex e atuais) e muitas imagens de arquivo.

Em Guidable - A Verdadeira História do Ratos de Porão, não há censura, rodeios ou meias-palavras. Drogas, brigas, pirraças e loucuras são vistas e resgatadas de forma direta. “Guidable só passou em cinemas alternativos”, conta João Gordo. “Quem viu gostou, porque é super engraçado e não tem papas na língua”.

“Quem viu gostou, por que é super engraçado e não tem papas na língua. Eu cito como exemplo (do contrário disso) o documentário dos Titãs (A Vida Até Parece Uma Festa, 2008): os caras tudo bicudo e ninguém toca no assunto! O nosso, não: ficou uma coisa bem espontânea, para dar credibilidade”, diferencia.

E deu mesmo. Entre outras cenas mais ou menos “pouco enaltecedoras”, é possível ver João Gordo & Cia fumando crack, cheirando cocaína e xingando-se mutuamente.

O clima nos camarins era tão bagaceiro que, para os desavisados, há uma cena digna de Scarface (1983): diante de um pequeno Everest de pó, João surge cheio de más intenções com uma folha de papel ofício em forma de canudo.

Mas, pelo menos dessa vez, a cena não passa disso mesmo: “Aquele monte de coca é mentira, cara! A gente tava no País Basco (Espanha) e tinha um saco de cal no camarim, tava rolando uma reforma lá. A gente pegou e despejou. Se você reparar, não tem ninguém cheirando de fato. Zoeira pura”, diz.

“Nem era para te contar isso, para falar a verdade. Não que eu nunca tenha visto em quantidades iguais, mas ali foi brincadeira nossa”, acrescenta João, cioso da sua fama de mau.

Punk é amor, bicho


No filme, a história da banda é contada não apenas pelos seus integrantes, mas também por ícones do punk, contemporâneos dos Ratos, como Redson (Cólera), Clemente (Inocentes) e Fabião (Olho Seco). Marcam presença também grandes nomes do heavy metal, como o ex-Sepultura Iggor Cavalera, o atual Andreas Kisser, Pompeu e Dick Siebert (ambos Korzus).

Além de funcionar perfeitamente bem sozinho, o documentário é também o complemento perfeito para o já clássico documentário de Gastão Moreira sobre o surgimento do punk no Brasil, Botinada (2006).

“Com exceção do Olho Seco, todas aquelas bandas ainda existem. Só nego grisalho. Mas como elas duram tanto, você pergunta? Foi amor pelo bagulho (punk). Tudo era tão difícil na época, que é amor, mesmo. Por isso dura até hoje”, garante o hoje pai de família João Gordo. É como dizia o ancestral hit underground da banda Lixomania:

Os Punks Também Amam


Guidable é mesmo uma diversão dos diabos, mesmo para quem não é exatamente fã dos Ratos de Porão.

Sobram bagaceira (ex-membros dão entrevista de bermuda e sandália, na mesa do boteco), atitude (ninguém parece se importar em ser filmado enquanto se droga), revelações (os caras chegaram ao ponto de fabricar o próprio crack!) e até, pasmem, lições de vida (chega a ser tocante o depoimento do Gordo sobre sua quase-morte).

Mas claro, tudo isso está longe de ser o que realmente importa sobre o documentário.

Guidable deixa clara a dimensão e a importância da banda no contexto brasileiro e mundial. Adorada ao redor do mundo por punks de todas as gerações e até por headbangers (fãs de heavy metal, por definição, avessos ao punk rock), o Ratos é um exemplo de banda que soube transformar deficiências em qualidades, superando todos os obstáculos ao longo de três décadas.

Chega mesmo a ser emocionante ver aqueles garotos do subúrbio dividindo o palco com o ídolo Jello Biafra (Dead Kennedys) em uma execução alucinante do clássico Hollydays in Cambodja diante de uma plateia enlouquecida, em uma de várias cenas inesquecíveis.

“Trinta anos depois, vamos chegando aonde der”, comenta João. “Esse ano, lançamos esse doc, um split com uma banda da Espanha e ano que vem sai em DVD um show gravado no Circo Voador em 2006”, diz.

“Aqui no Brasil, nego não tá nem aí. Quando eu morrer, vou ser O Cara. Enquanto isso, somos adorados lá fora. Continuamos tocando no exterior, sempre com casa cheia”, conclui.

GUIDABLE – A Verdadeira História do Ratos de Porão / Black Vomit Filmes - Läjä Records - Ideal Records / R$ 26,50


terça-feira, dezembro 21, 2010

BLOG RESGATA A HISTÓRIA E O SOM DA DEAD EASY



No finalzinho dos anos 1980, quando a geração que surgiu a reboque do Camisa de Vênus entrou em recesso criativo, uma nova leva de bandas surgiu na cidade.

Entre a Úteros Em Fúria e Os Feios (embrião dos Dead Billies e Cascadura), estava um power trio de hard rock de primeiríssima categoria: Dead Easy. Só lembrada por quem viveu a época, a Dead Easy virou lenda.

Agora, seu baixista, Arthur Caria, hoje professor universitário, resolveu abrir seu baú para contar mais esse capítulo pouco conhecido do rock local em um blog (endereço abaixo).

Formada por Arthur, Jô Fonseca (guitarra e vocais) e Fernando Bubu Bueno (bateria), a Dead Easy era, de fato, impressionante – o colunista é testemunha.

Apesar de influenciados pelo chamado de hard farofa (Mötley Crüe, Cinderella etc), o som não era nada superficial.

Juntos, esses três cabeludos magrelas faziam um rock absurdo no palco: pesado, coeso, veloz, técnico – mas com muito feeling. Coisa de nerds estudiosos dos seus instrumentos.

“Jô era professor de guitarra, com influências de Steve Vai e Beatles. Já minha favorita, até hoje aliás, é Deep Purple. E Bubu ouvia muito Rush. E curtíamos Van Halen, Ozzy, Mötley, Dr. Sin, Sepultura”, lembra Arthur.

“A banda virou uma lendazinha”, avalia Jô, que hoje atende por Jô Estrada e é um dos produtores e músico da Cascadura. “Na época a gente dava o sangue, morria por aquela banda, nossa vida era aquilo ali. Só tenho lembrança boa”, conta.

De segunda a segunda

Após algum tempo, a banda se mudou para o Rio de Janeiro, aonde gravou um álbum cheio, que infelizmente, nunca foi lançado.

Foi o golpe fatal. O trio se desfez em 1994, mas persiste na memória de quem assistiu, invariavelmente boquiaberto, esses caras debulhando.

“Nossa vida parecia aquela música do Lobão: vivemos dez anos em dois. Foi uma explosão de musicalidade. Teve uma época, durante uns três meses, que a gente ensaiava de segunda a segunda. Bubu pedia a morte”, ri Arthur.

E mesmo com letras em inglês, a Bahia estava no sangue: “É engraçado. Eu copiava (o guitarrista) Yngwie Malmsteen, mas soava como Armandinho. Hoje, tenho maior orgulho disso” conclui Jô.

http://deadeasybr.blogspot.com



NUETAS:

Zona Autônoma hoje

“Cansado de pós-axé, batuques de Recife, guitarrinhas baianas, sambinhas de nerds? Seus problemas acabaram”! Com esse bem-vindo texto provocativo e irreverente, Marcos Rodrigues (Theatro de Seraphin) anuncia mais uma edição de sua festa / conspiração TAZ (Tuesday Autonomous Zone). Discotecagem: DJ Buenas. Hoje, 19 horas, no Ulisses (R. Direita do Santo Antônio, 541). Grátis!

Alumínio no Verde

E depois de toda a comilança do Natal, que tal um reggaezinho? Se é a sua, a dica é o show da figuraça Alumínio Roots & Carruagem de Fogo. Domingo, 26, às 18 horas, no Espaço Verde (Praça Calazans Neto, Itapuã).

segunda-feira, dezembro 20, 2010

LAMPIÃO 2.0

O baiano Flávio Luiz, quadrinista extraordinaire, lança nova e anárquica HQ para delírio dos admiradores


Depois de um cachorro boxeur (Jab), uma versão feminina de Arnold Schwarzenegger (Jayne Mastodonte) e um mini herói da capoeira (Aú), o premiado quadrinista baiano Flávio Luiz traz à luz aquela que talvez seja sua criação mais bombástica: O Cabra, um divertido e (violento pra cacete) cruzamento entre Lampião e Mad Max.

Recém-lançado em São Paulo, aonde atualmente Flávio reside, esse cangaceiro futurista chega bonitão em um álbum de formato gigante, pela sua própria editora independente: a Papel A2, que ele fundou em parceria com sua esposa e produtora, Lica de Souza.

A Papel A2, por sinal, vai muito bem, obrigado, mesmo com apenas dois lançamentos: Aú O Capoeirista (2008) e O Cabra.

O primeiro vendeu mais de sete mil cópias e foi adotado como material paradidático pelo Programa Sala de Leitura e pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, órgãos ligados à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Já o segundo, que acaba de decolar em seu jegue motorizado voador rumo à fama, já recebeu elogios de gente importante, como Mike Deodato (o paraibano que há uns 15 anos é um dos principais desenhistas da Marvel Comics) e Sidney Gusman (editor-chefe do Universo HQ, principal site dedicado à cobertura da área no Brasil).

Em janeiro, Flávio viaja ao Rio de Janeiro e Salvador para fazer o lançamento d’O Cabra nas duas cidades.

“Há muito tempo eu tinha um desenho de um cangaceiro com uma cara meio Judge Dredd”, conta Flávio, referindo-se ao clássico personagem das HQs britânicas.

“Eu começo minhas histórias pela criação do personagem, e, enquanto eu desenho, vou pensando como é a vida dele, sua historia... Enfim, ficou com uma pegada meio pós-apocalíptica”, descreve o artista.

Coroné Gardens

Em um futuro não-determinado, quando a Terra se tornou um deserto e o bem mais valioso é a água potável, um guerreiro silencioso, Severino, luta sozinho contra os poderosos que dominam as cidades de Sanfônia, Forroboland, Capachia e Coroné Gardens, fortalezas em estilo medieval-futurista no meio da imensidão árida.

Entre traições inomináveis, mutantes, naves inspiradas em Guerra nas Estrelas, clones e outros clichês típicos da FC, Flávio costura uma história de ritmo super-ágil, com uma arte exuberante e cores belíssimas do experiente Artur Fujita.

A “Puliça” e os “capitartistas”

Além da narrativa galopante em si, Flávio cria um pano de fundo muito interessante para ambientar seus personagens: “Uma família poderosa de coroneis governa a cidade (de Sanfônia) do alto e é dona do seu bem mais precioso: a água. Nos níveis mais baixos, vivem os militares, a puliça, comerciantes e capitartistas, estes sim, os puxa-sacos dos coroneis. Do lado de fora, milhares de seres formam um cinturão de miséria absoluta”, escreve Flávio na HQ.

Qualquer semelhança com a realidade, claro, não deve passar de mera coincidência.

A HQ é um turbilhão de referências da cultura pop. Quem diria que Maria Bonita e a Princesa Leia (de novo, de Star Wars), um dia se fundiriam em um dos personagens mais interessantes da HQ brasileira contemporânea, como a ambígua Mary Beautiful?

Ou que o Odorico Paraguaçu de Paulo Gracindo ficaria tão bem em um cenário pós-apocalíptico?

“Começa a jorrar um monte de ideia na cabeça, e, por ter uma gama de referências pop, meu processo caótico de criação misturou Sá & Guarabira com Mad Max, Blade Runner com Gabriela, Romeu & Julieta com X-Men, Blacksad (HQ europeia), Lampião, Kill Bill, Alceu Valença, Ariano etc”, enumera o autor.

FLÁVIO: PLANOS, VISÕES ETC


Um dos mais importantes e criativos cartunistas baianos, Flávio Luiz, 46 anos, é um dos poucos que se pode colocar no mesmo nível de talento de veteranos que atuam na mesma área, como Antônio Cedraz (Xaxado), Lage (infelizmente, já morto) e Cau Gomez, entre outros.

Após um longo período trabalhando para o jornal Correio da Bahia, Flávio foi, há cerca de dois anos, morar em São Paulo, aonde trabalhou para a agência de publicidade África, de Nizan Guanaes, desenvolve suas HQs e mata uns frilas.

“Saí (de Salvador) porque sempre quis me mudar pra São Paulo. Sempre me identifiquei com esse stress alucinado daqui, com o ritmo da cidade, com as pessoas, as opções culturais... E o mercado para o profissional de HQ aqui é melhor, claro. Para um nerd de carteirinha como eu, São Paulo é um paraíso”, conta Flávio, da capital paulista.

Planos para a A2

Não é que ele se sentisse pouco valorizado por aqui – como costuma acontecer com quem não reza por certas cartilhas: ”A valorização existia em Salvador – do seu jeito – mas, em São Paulo, ela quintuplicou”, ri.

Com o sucesso de Aú, que superou suas expectativas, Flávio largou o emprego e agora, ao lado de sua esposa, se dedica integralmente a produzir suas HQs, além de viabilizar a publicação de diversos trabalhos (próprios e alheios) pela sua editora própria.

“Com a necessidade de me profissionalizar mais, decidimos abrir a Papel A2 para viabilizar meus projetos de HQ. Mas isso não impede de publicar outros títulos de outros quadrinistas (temos planos para isso em 2011) baianos ou não”, diz.

“Mas por sermos ainda uma editora pequena e estarmos envolvidos em paralelo com outras atividades, temos que ir devagar. Mas sempre mantendo a qualidade gráfica que tem nos destacado no mercado”, acrescenta Flávio.

Anti-bairrismo

De imediato, o artista adianta que O Cabra periga ganhar uma continuação em breve: “Se as vendas continuarem tão boas como nesses poucos dias (desde o lançamento em SP, no dia 10 último), acho que tenho pano pra muita manga”.

“A prioridade em 2011 é o numero 2 do Aú. Sem falar no livrão com as melhores tirinhas dos 3 anos da Rota 66 (série publicada pelo Correio da Bahia). Mas estou bastante feliz com a aceitação d’O Cabra. Com tempo e verba, ele tambem terá seu nº 2 em 2011”, promete.


Feliz com suas escolhas, Flávio hoje olha para a Bahia sem mágoas, mas também sem paixões: “Sou anti-bairrismo. A Bahia tem que ser respeitada e adorada tanto quanto a Amazônia, o Rio de Janeiro ou o Piauí. Tom Zé, Pitty e tantos outros moram aqui (em SP) ou no Rio e são o que temos de melhor enquanto produto cultural genuinamente baiano”, acredita.

O Cabra / Flávio Luiz / Editora Papel A2 Texto & Arte / 56 pgs. / R$ 38 / www.flavioluizcartum.fotoblog.uol.com.br

Veja um teaser em vídeo de O Cabra:

quarta-feira, dezembro 15, 2010

O 1º VOO INTERNACIONAL DOS RETROFOGUETES. DESTINO: ARGENTINA, COM ESCALA NO PELOURINHO, HOJE!


Nossos hermanos argentinos não perdem por esperar. Entre quinta-feira e sábado, os Retrofoguetes vão pousar nos palcos de três cidades do lado de lá da margem do Rio da Prata: Buenos Aires, Rosario e La Plata.

Horas antes de decolar, contudo, o trio desafivela os mini-jatos para sua última apresentação em solo baiano este ano, hoje, no Pelourinho.

Trata-se do seu já tradicional show anual natalino, O Maravilhoso Natal dos Retrofoguetes, baseado em um EP homônimo, lançado há poucos anos. No repertório, clássicos da temporada, como Bate o Sino, Boas festas, Noite Feliz e outras, sempre com músicos convidados.

“Na noite de hoje, teremos Letieres Leite (tocando saxofone e flauta), Enio (cantor), Gil Santiago (vibrafone) e Tadeu Mascarenhas (teclado)”, enumera o baterista Rex.

PENTACAMPEÃO!


A viagem para a Argentina era um plano antigo do grupo. “Estamos a fim de fazer isso há um bom tempo”, confirma Rex.

“Na verdade, queríamos muito tocar fora (do Brasil), fosse onde fosse. Calhou de ser na Argentina, até por que é perto e a gente pode começar a entender como funciona (o negócio de agendar shows no exterior) para tentar outras viagens, para outros lugares”, planeja.

O contato para os shows em terras platenses foi feito através da jornalista brasileira Sylvie Piccolotto, que mora em Buenos Aires e é casada com o dono de um selo independente local (Scatter Records), especializado em rock de garagem e surf music.

Como não poderia deixar de ser, o casal é fã dos baianos.

Em seu Twitter, Sylvie anuncia a passagem da banda pela Argentina com entusiasmo: “Retrofoguetes en Argentina. La legendaria banda de surf-music viene a rockear en 3 unicos shows por el país”, escreveu.

“Eles até queriam que a gente fosse depois do Reveillon, mas resolvemos adiantar”, conta.

Por lá, o grupo se apresenta com bandas locais consagradas (e do cast do Scatter), como Thes Siniestros (sic), The Tormentos e The Broken Toys.

“Isso é legal por que nos garante casa cheia, de certa forma”, espera Rex.

“E também por que são bandas que viajam no mesmo universo sonoro da gente, o que garante que vamos tocar para um público que já curte nosso tipo de som”, raciocina Rex.

Na volta, Rex, Morotó (guitarra) e CH (baixo) começam a preparar a edição 2011 do Retrofolia, seu show carnavalesco baseado no repertório de canções pré-axé music e guitarra baiana.

“Deve ser no Sesc Pelourinho, mas falta confirmar”, avisa Rex.

Em 2011, o trio espera decolar em novas jornadas internacionais, audaciosamente indo a lugares aonde nenhuma outra banda de rock local esteve.

O MARAVILHOSO NATAL DOS RETROFOGUETES / Com DJ Sankofa, Camarones Orquestra Guitarrística, Duduo Caribe e Da Ganja + Coletivo Visual Farm (SP) / Hoje, 21h30 / Praça das Artes, Pelourinho / Gratuito

Tour Argentina 2010

16/12, quinta-feira: Retrofoguetes, Hong Kong Club e Motorama
Salón Pueyrredon, Ciudad de Buenos Aires

17/12, sexta-feira: Retrofoguetes, The Broken Toys e Thes Siniestros
Club Imperial, Ciudad de Rosario

18/12, sábado: Retrofoguetes, The Tormentos e Thes Siniestros
Pura Vida, Ciudad de La Plata

terça-feira, dezembro 14, 2010

PROVOCAÇÕES, DISSONÂNCIAS, LARGAÇÃO: O ESTILO PAVEMENT

Lenda da cena alternativa norte-americana, a banda Pavement tem extensa coletânea lançada em versão nacional. Boa oportunidade para quem ainda não conhece



Quem foi ao último festival Planeta Terra, em São Paulo, há cerca de um mês, ficou na expectativa de um possível quebra-pau entre dois gigantes do rock alternativo norte-americano: Billy Corgan (Smashing Pumkins) e Stephen Malkmus, vocalista da banda Pavement. A rixa é antiga, mas a briga, felizmente, não houve.

Corgan, que cuspiu suas bravatas contra Malkmus no Twitter, poucos dias antes do show, tem o líder do Pavement entalado na garganta desde 1994, quando saiu o álbum Crooked Rain, Crooked Rain.

Na letra da faixa Range Life – por sinal, uma das mais legais da banda desde sempre – Malkmus falava sobre a vida na estrada, fazendo shows, tocando em festivais, encontrando outras bandas.

De passagem, ele citava a banda do careca sinistro: “Em turnê com os Smashing Pumpkins / Meninos naturebas / Eles não tem função / Eu não entendo o que eles querem dizer / E também não estou nem aí”. Pronto. Foi o bastante para enfurecer o genioso Corgan.

A faixa da discórdia, Range Life, é uma das 23 músicas da coletânea Quarantine The Past: Greatest Hits 1989-1999. Lançado no exterior no início do ano, o disco chega agora às lojas em versão brasileira, bonitinha e com preço mais em conta, pelo selo Lab 344.

A voz do Geddy Lee

O deboche com Corgan é parte do estilo largadão, ligeiramente surrealista e abertamente jocoso do Pavement. Claro que nem todos levam na boa uma gracinha vinda de outra banda.

Na mesma Range Life, Malkmus cita outro grupo, Stone Temple Pilots: “Solteiros elegantes / eles são gatinhos pra mim”, brinca Malkmus (ou não).

Outro caso famoso é a da faixa Stereo, em que brinca com o cantor do Rush: “E que tal a voz do Geddy Lee? / Como será que ela ficou tão aguda? / Será que ele fala como uma pessoa normal?”.

Nem por isso, os caras do Stone Temple Pilots ou do Rush saíram por aí dizendo que iam quebrar a cara de uns e outros.

Já na sensacional (e rara) faixa The Unseen Power of The Picket Fence ele faz uma homenagem ao REM, relembrando o primeiro show a que assistiu, em 1983: “Canções clássicas / meninos sulistas como você e eu, REM!”.

Por essas e outras (além do som meio experimental, influência do Velvet Underground), o Pavement ainda é uma das bandas mais queridas do indie rock.


Pavement / Quarantine The Past: Greatest Hits 1989-1999 / Matador Records / Lab 344 / R$ 24,90

terça-feira, dezembro 07, 2010

POPULAR, ERUDITO E VIRTUOSO: QUARTETO IMPRESSONS DE THOMAS SABOGA

Um diálogo fluente entre o erudito e o popular é a marca mais evidente na música de Thomas Saboga, excepcional violonista que recentemente lançou, com seu Quarteto Impressons, um álbum primoroso: O Desague (A Casa Discos).

Trata-se de uma obra superior, plenamente orgânica, daquelas para fechar os olhos e apreciar o movimento das marés ou a curvatura da Terra.

Aclamado por Guinga, um mestre do violão brasileiro, Saboga atua desde 2003 com seu Quarteto, formado por Larissa Goretkin (flauta), Matias Corrêa (contrabaixo), Renata Neves (violino) e o violonista.

No Rio de Janeiro, aonde o grupo se formou, o Quarteto Impressons é presença certa em recitais e eventos de música erudita e / ou de câmara, como a Mostra de Violão Fred Schneiter 2010, na Sala Baden Powell, ocorrida em setembro último.

Piazzolla na cabeça


Compositor prolífico, Saboga impressiona pela pureza que consegue destilar em suas composições, preservando características de choro, samba, música erudita, flamenco e tango nas faixas de O Desague.

E é de um mestre do tango que Saboga aponta vir a sua maior influência: “Por eu me identificar com a sua forma original de ver a música, de se aproximar dela e de manipulá-la, é Astor Piazzolla”, diz.

“Ele foi o compositor que levou mais longe o diálogo entre popular e erudito, além de ser compositor inspirado e um instrumentista excepcional. Mas Tom Jobim, Baden Powell, Chico Buarque, Guinga, entre muitos outros e vários clássicos, como Bach, Beethoven, Villa-Lobos, são referências preciosas para mim, claro”, enumera.

Na música brasileira, Saboga segue a trilha aberta por nomes como Radamés Gnatalli, Ernesto Nazareth e Guinga. “Eu busco essa região de tráfego entre a música erudita e popular. Procuro potencializar uma através da outra e vice-versa. Me parece um caminho criativo com bastante espaço para percorrer, muitas perspectivas, potenciais interessantes”, observa.

Claro que, em um País dominado pelo cinismo e pelo jabá como o Brasil, essa trilha é bem árdua. Para os eruditos, se não tem Bach ou Beethoven, eles tem dificuldade de aceitar. E no mercado popular... pior ainda.

“Na hora de vender, a segmentação do mercado, que funciona por exclusão, consegue deixar a minha música à margem desses dois nichos de mercado”, lamenta.

“Enfim, há sim, essa dificuldade em fazer o trabalho circular. O mercado de uma forma geral anda bem fechado para qualquer novidade. A música para ser ouvida e pensada não tem tido muito espaço”, nota.

Mesmo assim, Thomas, Larissa, Matias e Renata seguem na batalha. “A recepção do público é boa, mas é uma parcela muito pequena que se interessa por essa fatia do mercado. Tivemos um lançamento bem bacana na sala Baden Powell, em maio desse ano, com um bom público”, conta.

No momento, o Quarteto se dedica a divulgar o trabalho pelo Rio de Janeiro e nos veículos de comunicação Brasil afora. “Ainda não temos uma agenda para circular o País, mas espero que, em breve, possamos tocar aí na Bahia e lançar o disco em outras regiões”, faz fé.

Músico aplicado, íntegro, Thomas espera que sua música seja reconhecida pelo que é, e não pelo que as pessoas esperam que seja. “Busco preservar ao máximo a intenção original da composição, não importando para mim se o resultado é sisudo ou risonho. O importante é ser fiel ao que eu quero dizer e comunicar”, conclui.


OUÇA: www.myspace.com/quartetoimpressons

O Desague - A Música de Thomas Saboga / Quarteto Impressons / A Casa Discos / Preço não informado

sexta-feira, dezembro 03, 2010

FESTA DOS 10 ANOS DO SELO BIG BROSS E ZONA MUNDI SÃO OS ROCKS DESSA SEXTA

No filme clássico de Sessão da Tarde O Clube dos Cafajestes, (Animal House, 1979), o personagem John Bluto Blutarsky (vivido pelo inesquecível John Belushi) solta uma das frases que lhe garantiram a imortalidade: “Quando a luta é dura, os duros lutam”! Além da silhueta arrendondada, o produtor cultural Rogério Big Brother Brito partilha com Belushi dessa mesma filosofia combativa.

Não fosse por ela, dificilmente estaria comemorando na noite de hoje os dez anos de seu selo fonográfico independente, o Big Bross Records, com uma big festa (sem trocadilho), reunindo as bandas Theatro de Seraphin (na foto mais abaixo), Pastel de Miolos, Reverendo T & Os Discípulos Descrentes (foto ao lado) e The Baggios (SE).

“Só o fato de se manter vivo eu acho que a é a coisa mais importante no contexto atual, com pirataria, download e jabá. Conseguir manter um selo como este vivo, já é um saldo positivo para mim”, observa Rogério.


O mais incrível é quando se pergunta como ele conseguiu manter o selo respirando em um ambiente tão desfavorável: “É só botar a as banquinhas nos shows e festivais”, simplifica.

“Todas as bandas do selo venderam bem nos (festivais) Big Bands e no Coquetel Molotov, para citar dois recentes. É a estratégia que o sustenta. Quem gosta, compra mesmo, não é só a galera mais velha, como se teoriza. O cara se emocionou no show e o CD tá ali a venda, ele compra! Isso é muito gratificante”, afirma.

Lançamentos importantes

Desde o ano 2000, o selo Big Bross Records lançou mais de 25 CDs, entre EPs e álbuns cheios, incluindo aí trabalhos de nomes importantíssimos para a cena local, como Retrofoguetes, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, brincando de deus, Cascadura, The Honkers, Dever de Classe, Theatro de Seraphin e Pastel de Miolos.

“E vem aí em breve os novos CDs das bandas Pessoas Invisíveis e Fridha”, anuncia Big.

10 anos de Bigbross Records / Com Theatro de Séraphin, The Baggios (SE), Pastel de Miolos e Reverendo T & os Discípulos Descrentes / Hoje, 20 horas / Largo Pedro Archanjo, Pelourinho / Gratuito

ZONA MUNDI ENCERRA TEMPORADA 2010


Ponto de encontro da rapaziada antenada de Salvador, o evento mensal Zona Mundi encerra sua temporada 2010 hoje à noite, em grande estilo, com Baiana System, o coletivo multimídia Laborg (SP, na foto ao lado), o DJ Chico Corrêa (PB), o guitarrista paraense Pio Lobatto e o VJ baiano Gabiru.

Para o idealizador da Zona, o músico e produtor Vince de Mira, o saldo foi extremamente positivo: “Superou total as nossas expectativas“, comemora.

“É um evento de arte eletrônica fora dos padrões convencionais de trance e tal, que envolve música popular e a convergência com as artes visuais. E a resposta do público foi incrível, superando a média de mil pessoas por noite”, conclui.

Zona Mundi / Com Baiana System, Laborg (SP), Chico Corrêa (PB), Pio Lobatto & As Tecnoguitarradas (PA) e VJ Gabiru / Hoje, 20 horas / Museu de Arte Moderna da Bahia / R$ 4 e R$ 2

MICRO-RESENHAS: O RESTO DO TACHO DE 2010 (POR ENQUANTO)

Psicodelia prog-folk em sueco

Sexto álbum da banda sueca Dungen, Skit I Allt (Dane-se Tudo, em tradução bem comportada) é um prato cheio para apreciadores do som indefinível praticado pelo grupo de Gustav Ejstes. Na receita, doses generosas de folk, jazz rock, progressivo e muita, mas muita psicodelia. Diferente do que poderia ser, contudo, o resultado não “frita” o juízo do ouvinte, e sim, transporta-o para uma atmosfera suave e bucólica. Entre os destaques, pode-se citar a sedutora melodia vocal de Brallor, o drive folk da faixa-título e a flauta que domina a instrumental Vara Snabb. Um dos discos mais bonitos do ano, fácil. Dungen / Skit I Allt / Subliminal Sounds / Importado

Elegia exuberante para Vic

Uma das crias mais brilhantes do selo alternativo norte- americano Elephant 6, a banda Elf Power, de Athens, Georgia (lar dos gigantes REM e B52’s), chega ao seu 11º álbum, auto-intitulado. É um álbum de luto, em memória ao amigo e colaborador frequente Vic Chestnutt, cantor folk paraplégico, morto no Natal de 2009. A elegia, contudo, não foi a deixa para um disco tristonho e sim, exuberante em seu espírito indie / folk / psicodélico. As faixas Wander Through, The Concrete and The Walls, Goldmine in The Sun e Spidereggs brilham como diamantes lapidados em 1967. Elf Power / Elf Power / Orange Twin / Importado

Asimov off-robots

Um gênio da ficção científica, Isaac Asimov (1920-1992) é mais conhecido por suas obras referentes à robótica, como Eu, Robô e O Homem Bicentenário. Neste romance de 1972, porém, o tema é outro, e bem atual: crise energética. Uma reflexão importante, temperada com ação, humor e conceitos revolucionários. Os próprios deuses / Isaac Asimov / Aleph / 368 p. / R$46 / http://www.editoraaleph.com.br/



Colagem de sons é música?

O Girl Talk é o codinome do DJ e produtor Gregg Gillis, que lança seu quinto álbum, liberado de graça no endereço abaixo. Basicamente, todas as faixas são uma colagem de uma enorme variedade de músicas alheias. Pega-se uma batida aqui, um blá blá blá de rap ali, uma levada de baixo acolá e voilá: um som pronto para as pistas. Na confusão sonora, há de tudo, de Black Sabbath a Lady Gaga, sempre com alguém deitando falação hip hop por cima. Interessante até os primeiros cinco minutos, depois cansa. Fora que suscita a pergunta: isso é música? Girl Talk / All Day / Illegal Art / Download grátis: www.illegal-art.net/allday

Zé Pilintra enfrenta a Mulher de Branco

Zeladores, salvo engano, é uma das HQs nacionais mais originais lançadas este ano. Estrelada pelo malandro folclórico Zé Pilintra e seu parceiro Opala 78 – que não é um carro, e sim, um detetive paranormal – a dupla vive toda sorte de aventuras bizarras na metrópole São Paolo, enfrentando vilões como a Mulher de Branco, uma maligna banda funk e o Barba Ruiva. Destaque para a arte de Anderson “Mr. Guache” Almeida, com um estilo ágil e cartunesco, muito similar ao de desenhos bacanas como Samurai Jack. Zeladores / Nathan Cornes e Anderson Almeida / Devir Livraria / 64 páginas / R$ 33,50 / http://www.devir.com.br/


Carcamanos a beira de ataque de nervos

Divertida sátira aos imigrantes italianos da serra gaúcha, a tirinha Radicci, publicada em vários jornais da região Sul, chega a sua sétima coletânea em formato pocket com as habituais confusões dessa família de carcamanos (sem ofensa) para lá de amalucada. Ainda pouco conhecida fora dos domínios sulistas, a criação do cartunista Carlos Henrique Iotti diverte pelo total nonsense das situações. O Radicci pai, “enófilo” inveterado, bebe até amaciante de roupa como se fosse vinho moscato, “bem amarelinho”. Radicci 7 / Iotti / L&PM Editores / 128 páginas / R$ 11 / http://www.lpm.com.br/



Pequenos heróis, corações imensos

Roteirista da tira Os Passarinhos, Estevão Ribeiro resolveu homenagear os heróis da DC Comics de uma forma diferente, com HQs estreladas por crianças (quase) comuns. Inspiradas em personagens como Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde e outros, a gurizada protagoniza pequenos contos mudos (sem balões de fala) em que demonstram carregar tanto heroísmo e nobreza quanto seus heróis prediletos. O resultado é um álbum belíssimo, que toca o leitor pela fluência dos argumentos e a singeleza da arte, assinada por desenhistas de primeiro time. Pequenos Heróis / Estevão Ribeiro e Vários artistas / Devir Livraria /104 páginas / R$ 39,90 / http://www.devir.com.br/

Batman & Robin do hemisfério sul

Muita ação urbana em HQs curtas, ágeis e bem resolvidas é o que leitor encontra no 1º álbum dos personagens Fiapo e La Peña, do animador / quadrinista gaúcho Danilo Fonseca. Fiapo é um menino negro inspirado em Ébano, o ajudante do Spirit de Will Eisner. La Peña é o detetive argentino, estilo hard boiled. Essa dupla improvável, quase um Batman & Robin do hemisfério sul, resolve casos barra-pesada, como assassinatos de prostitutas, chacinas de sem-teto e sequestros. Tudo sem complicação, pá-pum. Fiapo e La Peña / Danilo Fonseca / Devir Livraria / 56 páginas/ R$ 19,90 / http://www.devir.com.br/



Imaginação sem limites

Carol é uma menina cheia de energia e uma imaginação para lá de fértil, criada pelo cartunista Laerte (Piratas do Tietê). Ora jogando bola com os meninos na rua, ora imaginando mundos perdidos, Carol simboliza um pouco da criatividade sem limites do seu autor – aqui, a serviço da criançada . Carol / Laerte / Editora Noovha América / 32 p. / R$ 29 / http://www.noovhaamerica.com.br/




Marcelo D2 sabe cantar!


Foi preciso a vontade de homenagear o amigo Bezerra da Silva para Marcelo D2 mostrar que sabe, sim, cantar de verdade – saindo da lenga lenga autocongratulatória que costuma ser a principal característica do hip hop mais comercial. Neste CD, só com sambas do repertório do eterno malandro Bezerra da Silva, D2 manda muito bem em pérolas do morro como Bicho Feroz (“Você com um revólvi na mão é um bicho feroz, feroz / Sem ele, anda rebolando / até muda de voz”), Pega Eu, Partideiro Sem Nó na Garganta e claro, a emblemática Malandragem Dá Um Tempo. Bacana. Marcelo D2 / Canta Bezerra da Silva / EMI / R$ 19,90


Literatura pop espanhola

A jovem escritora espanhola (de Bilbao) Aixa de La Cruz estreia em livro no Brasil com esta história, envolvendo um professor de piano e autista chamado Dylan, e uma garota, Julia, sua ex-aluna. Com diversas idas e vindas no tempo, o texto vigoroso costura diversas referências da cultura pop. De Música ligeira / Aixa de La Cruz / Tinta Negra / 208 p. / R$ 37 / http://www.tintanegraeditorial.com.br/






A salada musical de Julia

A trilha sonora do novo veículo para a manutenção da carreira de Julia Roberts como a namoradinha da América aposta em uma grande diversidade de gêneros. Há tango (The Last Tango in Paris, por Gato Barbieri), funk (Thank You, com Sly & The Family Stone e Got To Give It Up, com Marvin Gaye), folk rock (Heart of Gold e Harvest Moon, com Neil Young), canzione (Atraversiamo, com Dario Marianelli), bossa (Wave, com João Gilberto), neo bossa (Samba da Bênção, com Bebel Gilberto) e até alt.country (Flight Attendant, com Josh Rouse). Uma salada e tanto. Vários artistas / Comer Rezar Amar / Universal Music / R$ 29,90


Emoção à flor da pele

A canadense k. d. lang está em grande forma neste show em Londres, acompanhada de sua banda e da orquestra da BBC. Entre os destaques, boa composições próprias, como Constant Craving, Thread (com participação do guitarrista brasileiro Grecco Burato cantando em português) e I Dream of Spring. Mas ainda há ótimas versões para Helpless (Neil Young) e Hallelujah (Leonard Cohen). k. d. lang & The BBC Concert Orchestra / Live in London / Coqueiro Verde / Preço não informado


Estridência e exagero

Qualquer espectador de TV com bom senso sabe que a hora em que o (estridente, ainda que carismático) elenco da série de TV Glee começa a cantar, é hora de fazer uma de duas coisas. Se for na TV, é hora de dar uma zappeada por outros canais. Se for no DVD, é hora de apertar a tecla FF. Salvo raras exceções, as interpretações do elenco caem na vala comum do exagero, como se todos fossem calouros do Raul Gil ou alunos aplicados de Celine Dion. Neste Vol. 3, salvam-se The Lady is a Tramp (com o arranjo de big band adequado) e Dream On (Aerosmith). Glee Cast / Glee: The Music, Volume 3: Showstoppers / Sony BMG / R$ 24,80

Bate-estaca cafetão style

Sabe aqueles comerciais de TV com aqueles playboys branquelos tirados a rapper, pimp (cafetão) style, balançando jóias, posando em carrões, em meio a moças oferecidas de salto alto e baixa autoestima? A música do 3OH!3 (pronuncia-se Three Oh Three), é a trilha sonora ideal deste tipo de videoclipe: uma mistura barata de bate-estaca de boate com hip hop boçal. Vinda de Boulder, Colorado, cidade que em outros tempos, pariu o escritor John Fante, o 3OH!3 não está destinado à imortalidade do seu conterrâneo, mas ao esquecimento imediato. 3OH!3 / Streets of Gold / Warner Music / R$ 34,90

Bram Stoker off-Drácula

Na onda das adaptações literárias em HQ, de vez quando surge algo interessante, como esta coletânea de Bram Stoker, incluindo o clássico Drácula. Mas o melhor mesmo são contos bizarros e desconhecidos, como O covil do verme branco e A torre das torturas, com bons desenhistas. Drácula, O covil do verme branco e Outras Histórias / Bram Stoker e vários artistas / Rai / 144 p. / R$ 32 / http://www.raieditora.com.br/



Cogumelos, né? Sei.

Knox deseja se transformar em um poderoso guerreiro. Seu amigo, Arroba, quer mais é reverter o feitiço que o transformou em um menino-porco. Juntos, os dois garotos partem em busca dos lendários cogumelos mágicos, que transformam em realidade os desejos de quem os comer. Na sua jornada, muitos perigos e aventuras. Com bons desenhos de Jonatas Tobias, essa simpática salada de referências de mangás com O Senhor dos Anéis deverá agradar aos mais jovens. Cogumelos ao Entardecer / Jonatas Tobias / Devir / 112 p. / R$ 44 / http://www.devir.com.br/

segunda-feira, novembro 29, 2010

RIFFS DEMONÍACOS, RAIZ NO BLUES: THE BAGGIOS É ROCK NA VEIA!

A aprazível Aracaju, capital vizinha cuja qualidade de vida é de dar inveja (ou vergonha) aos soteropolitanos, guarda uma cena roqueira que, se não impressiona pela quantidade, prima pelo que é mais importante: a qualidade (olha aí de novo).

Da veterana Snooze, velha conhecida do público roqueiro local desde os anos 1990, até bandas mais recentes, como Plástico Lunar e Rockassetes (recentemente extinta), a rapeize sergipana manda muito bem quando o quesito é rock ‘n’ roll.

Mais recente ainda é o The Baggios, duo de guitarra e bateria que já se apresentou algumas vezes por aqui e volta no dia 3, para a festa de aniversário do Big Bross Records, com Theatro de Séraphin, Reverendo T & Os Discípulos Descrentes e Pastel de Miolos.

Mas por que The Baggios? Basta ouvir o single gratuito O Azar Me Consome, recentemente distribuído pela dupla. Pau na orelha é pouco para definir o belíssimo esporro que é a canção-título.

Com um riff demoníaco que deve ter sido conjurado das profundas do Hades, uma levada dançante irresistível e uma letra em português impagável, a faixa não sai do play list do colunista há vários meses.

“O Azar Me Consome traduz de forma perfeita nosso som”, admite Julio Andrade, a metade responsável pela voz e a guitarra no The Baggios. A bateria fica a cargo de Gabriel Carvalho.

“Ela dá uma boa noção do que vai ser o nosso disco. Nós exploramos muito essa pegada rock anos ‘70 – inclusive o rock brasileiro da época, como Mutantes, Casa das Máquinas, Made in Brazil, Raul”, conta Júlio.

“Eu tinha dificuldade de escrever letras em português, mas depois que ouvi essa galera, eu saquei que dava para fazer uma coisa massa, bem expressiva”, observa o músico.

Ele conta que, inicialmente, ele e Gabriel tocavam sem baixista por falta de opção, mas depois, “criamos uma identidade nesse formato”.

Sem o baixo, as composições tiveram de, necessariamente, ir de encontro a uma linguagem específica, mais hard. “Outras bandas nos mostraram que era possível fazer disso um diferencial. Principalmente na composição. As músicas devem cobrir essa ausência do baixo. É uma coisa mais direta, crua, mesmo”, diz. Recomendadíssimo.

10 anos Bigbross Records / Theatro de Séraphin, The Baggios (SE), Reverendo T & Os Discípulos Descrentes e Pastel de Miolos / Dia 3 de dezembro, 20 horas / Pça. Pedro Archanjo, Pelourinho / Gratuito

Ouça: www.myspace.com/baggios

quarta-feira, novembro 24, 2010

NEIL JOVEM

Série de relançamentos que recupera toda a obra do genial Neil Young começa a ser lançada no Brasil pela Warner. Primeiro pacote contém os seus quatro primeiros álbuns

Um compositor de mão cheia. Um cantor de estilo próprio. Um instrumentista versátil, de extrema personalidade e habilidade – tanto no violão, quanto na guitarra elétrica. Um homem romântico, sensível, melancólico. Um sujeito politizado. Um pesquisador incansável da música popular norte-americana. Um deus do rock. Pode-se preencher uma lista telefônica com todas as facetas que compõem Neil Young.

E todas elas podem ser facilmente identificáveis nos seus quatro primeiros álbuns, que acabam de ser relançados no Brasil pela Warner Music, dentro da Neil Young Archives, série que recupera toda a sua (vastíssima) obra. São eles: Neil Young (1968), Everybody Knows This Is Nowhere (1969), After The Goldrush (1970) e Harvest (1972).

Herói multifacetado do classic rock, influente como poucos, Young explorou (e continua explorando hoje, aos 65 anos incompletos) praticamente todas as formas existentes no espectro da música pop.

A diversidade de estilos, climas, temas, suportes, instrumentos e até mesmo de bandas de acompanhamento que ele apresenta na sua carreira simplesmente não encontra paralelo na história do rock.

A verdade – até para que aqueles que ainda ignoram este fato o saibam – é que este canadense de Toronto figura, e não é de hoje, no panteão dos maiores nomes do rock em todos os tempos, ombro a ombro com os Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, David Bowie, Lou Reed e por aí vai. Não que ainda hajam dúvidas.

Clássicos iniciais transitam entre o esporro elétrico e a melancolia acústica


Filho de um famoso jornalista esportivo, Scott Young (espécie de Juca Kfouri canadense, morto em 2005), Neil Young tem, como únicas constantes em sua carreira, a honestidade a toda prova e a eterna mutação que caracteriza sua obra.

Mas há pelo menos duas faces que meio que predominam e se alternam constantemente em sua trajetória: o folk acústico e o rock elétrico à base de muita distorção, desenvolvido majoritariamente com a banda Crazy Horse. Nas duas instâncias, Young conseguiu ser genial e influente como poucos.

Diagnosticado com diabetes aos seis anos de idade, ele descobriu o rock ‘n’ roll de Little Richard e Chuck Berry ainda criança. Aos 12, já era fissurado em rockabilly, folk, rhythm & blues, doo-wop e country.

Já no início dos anos 1960, integrava a banda The Squires. Esse período foi seguido de uma peregrinação solitária com seu violão pelos clubes de Winnipeg.

Nessa época ele conheceu Joni Mitchell (um dos maiores nomes da música folk) e o pessoal da clássica banda canadense The Guess Who, para a qual ele compôs seu primeiro hit: Flying on the Ground is Wrong.

Em 1967, cruzou a fronteira e se mudou de mala e cuia para os Estados Unidos, se estabelecendo em Los Angeles, aonde morou ilegalmente até 1970. Logo se juntou à sua primeira grande banda: Buffalo Springfield.

A despeito do maior sucesso do grupo, For What It’s Worth, ser uma composição de Stephen Stills (com o qual Young integraria, algum tempo depois, o Crosby, Stills, Nash & Young), sua contribuição, com lindas canções como Burned e o pop sinfônico de Expecting to Fly, foi decisiva para que ele ganhasse segurança e se lançasse solo.

Os quatro primeiros LPs

Depois que a amiga Joni Mitchell, através do seu empresário, Elliott Roberts (que trabalha com Young até hoje) o indicasse para a gravadora Reprise Records, ele lançou seu primeiro LP solo, intitulado apenas Neil Young (1968).

Dos quatro discos relançados agora, este primeiro é o menos impactante – ainda que contenha dois ou três clássicos que até hoje ele executa em shows: The Loner e The Old Laughing Lady.

Young não quis nem saber das críticas pouco entusiasmadas recebidas pelo álbum, pois poucos meses depois, já estava em estúdio gravando mais um disco – desta vez, acompanhado de um trio de músicos que se apresentavam como The Rockets: Danny Whitten (guitarra), Billy Talbot (baixo) e Ralph Molina (bateria). As gravações duraram apenas duas semanas.

Antes disso, a banda trocou de nome para Crazy Horse, em homenagem ao chefe indígena de mesmo nome. O disco, Everybody Knows This Is Nowhere, saiu em maio de 1969 e, ainda hoje, é um ponto altíssimo na carreira de Young – bem como da própria história do rock.

Com apenas sete faixas, o LP já trazia o músico em pleno exercício de sua genialidade, com a veia de compositor de hinos do rock à toda, como atestam faixas como Cinnamon Girl, The Losing End, Cowgirl in The Sand e a faixa-título.

Inquieto, juntou-se logo depois ao Crosby, Stills Nash & Young, a tempo de participar do festival de Woodstock (no qual ameaçou cameramen com guitarradas no crânio, caso fosse filmado) e gravar mais um LP “discoteca básica”: Deja Vu, ainda hoje o melhor LP do CSNY.

De temperamento forte, vivia às turras com Stills pelo controle do grupo. Mesmo assim, e com moral alto pela aclamação crítica de Everybody Knows This Is Nowhere e Deja Vu, recrutou o próprio Stills, o Crazy Horse e músicos conceituados como Nils Lofgren e Jack Nitzsche para gravar seu terceiro LP solo: After The Godrush (1970).

Dele saíram clássicos como Only Love Can Break Your Heart, When You Dance I Can Really Love You e a faixa-título.


Como, a essa altura, já havia tanto saído do CSNY quanto dispensado o Crazy Horse, juntou um grupo de músicos country e os batizou The Stray Gators, que veio a ser sua banda de apoio no quarto álbum, Harvest (1972).

Seu LP mais bem sucedido comercialmente, Harvest traz seu único single a bater no número um da Billboard: Heart of Gold. Mas canções como a ultramelancólica Out on The Weekend, a polêmica Alabama, a sentida Old Man (para seu pai) e a profética (e belíssima) The Needle and The Damage Done tornam Harvest mais um daqueles álbuns indispensáveis para os fãs de rock clássico.

A mitologia em torno deste álbum, aliás, é um capítulo a parte. Em The Needle and The Damage Done, composta por um Young preocupado com o vício em heroína de Danny Whitten, amigo e guitarrista do Crazy Horse, ele cantou: “Cheguei à cidade e perdi minha banda / eu vi a agulha levar mais um homem / (...) / Mas todo junkie é como o Sol poente”.

Mesmo preocupado (ou talvez justamente por isso), Young ainda chamou Whitten para tocar guitarra na turnê do Harvest. Mas, devastado pelo vício, Whitten não deu conta do recado. Young o demitiu. À noite daquele mesmo dia, ele recebeu a notícia de que Whitten havia morrido por overdose.

A culpa consumiu Young por anos a fio, levando-o a compor a Ditch Trilogy (Trilogia da vala), três LPs em que expurgava sua culpa: Time Fades Away (1973), On the Beach (74) e Tonight's the Night (75). Mas isso já é outra história - e outro pacote do Neil Young Archives...

Neil Young (1968)

1º LP solo, passou meio despercebido por público e crítica, mas tem ótimos momentos, como The Loner e The Old Laughing Lady



Everybody Knows This Is Nowhere (1969)

Clássico absoluto, estreia de sua banda mais constante, Crazy Horse, traz os petardos Cinnamon Girl, The Losing End e Down By The River e outros


Harvest (1972)

O best-seller. Melancólico e político, traz pérolas como The Needle and The Damage Done, Out on the Weekend, Alabama e Heart of Gold


After the Goldrush (1970)

Não tão genial quanto os discos que o antecedem e o sucedem, tem dois belos hits: Only Love Can Break Your Heart e When You Dance I Can Really Love You



Fãs baianos relembram da emoção de assistir ao único show de Young no Brasil


Faz quase dez anos – foi no dia 20 de janeiro de 2001 –, mas quem viu, guarda com carinho a memória daquele que pode ter sido o melhor show de todas as edições do Rock in Rio – seja no Rio, em Lisboa ou Madri: Neil Young & Crazy Horse, na terceira edição do festival.

Antes, foi preciso suportar a xaroposa Dave Matthews Band e a anódina Sheryl Crow, mas quando o homem subiu no palco, foi um espanto só: “O cara sentou a mão na guitarra. E aí foi um mar de distorção”, lembra o guitarrista Candido Soto Jr. (ex-Cascadura, atual Banda de Rock e Theatro de Seraphin), que assistiu ao show do gargarejo com um grupo de baianos fanáticos pelo canadense.

“Foi o dia de menor público do festival. Então você chegava ali na frente bem fácil”, lembra.

O empresário Cláudio Sarno Brochado era outro que estava no grupo. “Lembro da energia do cara no show. Foi uma emoção. Até então, eu nunca tinha visto alguém com tanta vontade de tocar. E ele já estava coroa, mas com um tesão absurdo. Me arrepio só de lembrar”, relata.

Anos depois, na Galeria do Rock (Centro de São Paulo), encontrou numa loja o show imortalizado em um bootleg (álbum pirata) duplo e DVD. “Coleciono tudo dele. Acabei de comprar uma caixa com dez blu-rays”, gaba-se o fã, orgulhoso.

Já René Nobre, cantor da Banda de Rock – que sempre inclui Young no repertório – não foi ao show, mas atesta: “Ele é o tipo do compositor que vem de uma linha melódica tradicional, folk e country, para um som pesado, visceral e ainda assim, melancólico, dolorido. Algo que nem Bob Dylan conseguiu fazer, com o perdão da possível blasfêmia”, observa.

terça-feira, novembro 16, 2010

MICRO-RESENHAS DE UMA MICRO-MENTALIDADE MICROSADA

Gaiman mediano

Certos artistas são destinados a serem assombrados pelos seus momentos de auge criativo. O escritor inglês Neil Gaiman, criador da cultuada HQ Sandman, é um deles. Por melhores que sejam os contos e poemas deste livro, eles sempre sairão perdendo quando comparados à obra anterior. O que não impede ninguém de se deleitar com esta obra em questão. Coisas Frágeis 2 / Neil Gaiman / Conrad / 168 p. / R$ 43 / http://www.lojaconrad.com.br/





Quem já é fã vai curtir


Uma das bandas mais bem sucedidas do heavy metal recente, a Avenged Sevenfold passou por maus bocados em 2009, quando perdeu seu baterista Jimmy Sullivan, morto pela overdose de um coquetel de tóxicos variados. Nightmare, o novo CD, homenageia o falecido com o monstruoso baterista Mike Portnoy (do Dream Theater e ídolo de Sullivan) assumindo as baquetas em seu lugar. O resultado é um disco que deve agradar aos fãs, ainda que não traga novidades. Ecos de Metallica, Iron Maiden e Pantera são ouvidos a todo instante e dão o tom do disco. Avenged Sevenfold / Nightmare / Warner Music / R$ 24,90

Hard blues “muderno”

Segundo álbum do The Dead Weather, uma das trocentas bandas de Jack White (aquele guitarrista ótimo que surgiu com o The White Stripes, lembram?), Sea of Cowards tem recebido críticas entusiasmadas ao redor do mundo. A razão é clara: o disco é um soco no estômago com sua sonoridade enxuta e produção acertada, revisitando o hard blues dos anos 1970 com uma abordagem moderníssima. Se há excessos aqui (I’m Mad) e ali (na postura excessivamente artsy da banda), há acertos também, como Hustle and Cuss e Gasoline. No todo, um CD regular. Mas sem pilha, tá? The Dead Weather / Sea Of Cowards / Sony Music / R$ 30

Narrativa truncada


A dama do crime Agatha Christie ganha adaptações de dois de seus romances mais célebres por quadrinistas europeus, no estilo linha clara, característico das HQs franco-belga. Pena que o formato pequeno do livro tenha prejudicado um tanto os belos desenhos – e a narrativa, que ficou truncada. Assassinato no Expresso Oriente e Morte no Nilo / Christie, Riviére, Solidor / L&PM / 104 p. / R$ 42 / http://www.lpm.com.br/





Humor, música, melancolia

O subtítulo já dá uma boa pista do que esperar deste livro de contos do japonês Kazuo Ishiguro: “Histórias de música e anoitecer”. Crepusculares, as narrativas do autor versam sobre pessoas e seu relacionamento com a música em diversas partes do mundo, sempre com um humor sutil. Noturnos / Kazuo Ishiguro / Companhia das Letras / 216 p. / R$ 45 / http://www.companhiadasletras.com.br/







Volta que quase convence

Esta bela capa, de autoria de Shepard “Obey” Fairey (aquele do cartaz do Obama) para o novo CD do Stone Temple Pilots – o primeiro desde 2001 –, é só o cartão de visitas para um CD que começa muito bem, mas vai perdendo força conforme as faixas vão se sucedendo. O álbum abre gostoso com Between The Lines, Take a Load Off e Huckleberry Crumble, com ecos de grunge e Led Zeppelin nos riffs e refrões. Hickory Dichotomy tem um quê de David Bowie e também convence. Mas a partir de Cinnamon, a coisa desanda e soa baratinha. Salva-se ainda descaradíssima Samba Nova, guilty pleasure do ano. Stone Temple Pilots / Stone Temple Pilots / Warner Music / R$ 26,90

Você já ouviu isso antes

Uma das atrações mais esperadas do festival SWU, o Linkin Park é a típica banda preferida de quem não conhece nada de música. A razão é simples: tudo o que eles fazem é mera repetição, devidamente diluída para as rádios pop, de algo que já foi feito antes e melhor. Seu quarto álbum, A Thousand Suns, é só mais uma prova desta verdade. Linkin Park / A Thousand Suns / Warner Music / R$ 29,90






Refinada e pop na medida

Filha do renomado produtor Liminha, a cantora Tita Lima faz bonito neste CD, casando bossa, pop, jazz e dub na mais perfeita harmonia. Os arranjos refinados e a produção nos trinques (dela mesma, com alguns parceiros) mostram bem de quem ela é filha. Destaques: Vendendo Saúde e Fé e Um Girassol da Cor do Seu Cabelo (belo cover de Lô Borges). Tita Lima / Possibilidades / Label A. / R$ 17,90



Humor veterinário vezes 10

O humor surreal, veterinário e hilariante de Fernando Gonsales está de volta neste novo álbum do Níquel Náusea, o décimo lançado pela Devir. Estão aqui o rato Níquel, a barata Fliti (viciada em Baratox) e o sábio esclerosado que vive numa caverna, entre outros. Níquel Náusea: A Vaca foi pro Brejo atrás do Carro na frente dos Bois / Fernando Gonsales / Devir / 50 p / R$ 23 / http://www.devir.com.br/







Overdose de chill out

Todos os anos, desde 1998, uma famosa marca de bebida energética reúne uma turma de músicos de diversas partes do mundo em algum lugar do planeta. Em 2010, a reunião, com 32 músicos das mais variadas vertentes, incluindo o paulista Gabriel Nascimbeni, foi em Londres. As melhores faixas gravadas por este povaréu todo foram reunidas neste CD duplo, disponível para download grátis no site oficial do projeto. Apesar de tanta variedade de nacionalidades e estilos, o som não sai muito do eletrônico ambient. Vai agradar aos fãs do gênero. E só. Various Assets Not For Sale / Vários artistas / Download gratuito: http://www.redbullmusicacademy.com/

Interesse zero


Homem gravidade zero é uma HQ diferente, sobre filosofia, xamanismo e a relação homem X natureza. Tem prefácio do bibliófilo e editor Pedro Corrêa do Lago, orelha de Amyr Klink e parte da tiragem doada para a Associação Comunitária Despertar. Pena que tudo isso não tornou sua narrativa menos elementar e seus desenhos menos toscos. De boas intenções... Indicada para interessados em esoterismo. Homem Gravidade Zero / Leo Slezynger, Filippo Croso e Kris Zullo / Jaboticaba / 136 p. / R$ 39,90 / http://www.editorajaboticaba.com.br/



Beatlemaníaco e etc

Baixista do Barão Vermelho (cujo aeroplano, por enquanto, está recolhido ao hangar), Rodrigo Santos lança seu segundo CD solo, Waiting on a Friend, composto apenas de covers de seus artistas preferidos. Então temos John (Life Begins At 40), Paul (Did We Meet somewhere Before) e George (Just For Today, com a voz cavernosa de Zé Ramalho), o que deve ter deixado Ringo magoado com sua ausência. Há ainda Bob Dylan (Positively 4th Street), Stones (faixa-título), Caetano (You Don’t Know Me) e Gil (It’s Good To Be Alive). Mas imperdoável mesmo foi subverter a linda Helpless (de Neil Young) em um reggaezinho descarado, com a participação da cantora "nada a ver" Isabella Taviani. Só por isso, leva um 5. Rodrigo Santos / Waiting On a Friend / Discobertas / R$ 24,90