Páginas

sexta-feira, dezembro 03, 2010

MICRO-RESENHAS: O RESTO DO TACHO DE 2010 (POR ENQUANTO)

Psicodelia prog-folk em sueco

Sexto álbum da banda sueca Dungen, Skit I Allt (Dane-se Tudo, em tradução bem comportada) é um prato cheio para apreciadores do som indefinível praticado pelo grupo de Gustav Ejstes. Na receita, doses generosas de folk, jazz rock, progressivo e muita, mas muita psicodelia. Diferente do que poderia ser, contudo, o resultado não “frita” o juízo do ouvinte, e sim, transporta-o para uma atmosfera suave e bucólica. Entre os destaques, pode-se citar a sedutora melodia vocal de Brallor, o drive folk da faixa-título e a flauta que domina a instrumental Vara Snabb. Um dos discos mais bonitos do ano, fácil. Dungen / Skit I Allt / Subliminal Sounds / Importado

Elegia exuberante para Vic

Uma das crias mais brilhantes do selo alternativo norte- americano Elephant 6, a banda Elf Power, de Athens, Georgia (lar dos gigantes REM e B52’s), chega ao seu 11º álbum, auto-intitulado. É um álbum de luto, em memória ao amigo e colaborador frequente Vic Chestnutt, cantor folk paraplégico, morto no Natal de 2009. A elegia, contudo, não foi a deixa para um disco tristonho e sim, exuberante em seu espírito indie / folk / psicodélico. As faixas Wander Through, The Concrete and The Walls, Goldmine in The Sun e Spidereggs brilham como diamantes lapidados em 1967. Elf Power / Elf Power / Orange Twin / Importado

Asimov off-robots

Um gênio da ficção científica, Isaac Asimov (1920-1992) é mais conhecido por suas obras referentes à robótica, como Eu, Robô e O Homem Bicentenário. Neste romance de 1972, porém, o tema é outro, e bem atual: crise energética. Uma reflexão importante, temperada com ação, humor e conceitos revolucionários. Os próprios deuses / Isaac Asimov / Aleph / 368 p. / R$46 / http://www.editoraaleph.com.br/



Colagem de sons é música?

O Girl Talk é o codinome do DJ e produtor Gregg Gillis, que lança seu quinto álbum, liberado de graça no endereço abaixo. Basicamente, todas as faixas são uma colagem de uma enorme variedade de músicas alheias. Pega-se uma batida aqui, um blá blá blá de rap ali, uma levada de baixo acolá e voilá: um som pronto para as pistas. Na confusão sonora, há de tudo, de Black Sabbath a Lady Gaga, sempre com alguém deitando falação hip hop por cima. Interessante até os primeiros cinco minutos, depois cansa. Fora que suscita a pergunta: isso é música? Girl Talk / All Day / Illegal Art / Download grátis: www.illegal-art.net/allday

Zé Pilintra enfrenta a Mulher de Branco

Zeladores, salvo engano, é uma das HQs nacionais mais originais lançadas este ano. Estrelada pelo malandro folclórico Zé Pilintra e seu parceiro Opala 78 – que não é um carro, e sim, um detetive paranormal – a dupla vive toda sorte de aventuras bizarras na metrópole São Paolo, enfrentando vilões como a Mulher de Branco, uma maligna banda funk e o Barba Ruiva. Destaque para a arte de Anderson “Mr. Guache” Almeida, com um estilo ágil e cartunesco, muito similar ao de desenhos bacanas como Samurai Jack. Zeladores / Nathan Cornes e Anderson Almeida / Devir Livraria / 64 páginas / R$ 33,50 / http://www.devir.com.br/


Carcamanos a beira de ataque de nervos

Divertida sátira aos imigrantes italianos da serra gaúcha, a tirinha Radicci, publicada em vários jornais da região Sul, chega a sua sétima coletânea em formato pocket com as habituais confusões dessa família de carcamanos (sem ofensa) para lá de amalucada. Ainda pouco conhecida fora dos domínios sulistas, a criação do cartunista Carlos Henrique Iotti diverte pelo total nonsense das situações. O Radicci pai, “enófilo” inveterado, bebe até amaciante de roupa como se fosse vinho moscato, “bem amarelinho”. Radicci 7 / Iotti / L&PM Editores / 128 páginas / R$ 11 / http://www.lpm.com.br/



Pequenos heróis, corações imensos

Roteirista da tira Os Passarinhos, Estevão Ribeiro resolveu homenagear os heróis da DC Comics de uma forma diferente, com HQs estreladas por crianças (quase) comuns. Inspiradas em personagens como Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde e outros, a gurizada protagoniza pequenos contos mudos (sem balões de fala) em que demonstram carregar tanto heroísmo e nobreza quanto seus heróis prediletos. O resultado é um álbum belíssimo, que toca o leitor pela fluência dos argumentos e a singeleza da arte, assinada por desenhistas de primeiro time. Pequenos Heróis / Estevão Ribeiro e Vários artistas / Devir Livraria /104 páginas / R$ 39,90 / http://www.devir.com.br/

Batman & Robin do hemisfério sul

Muita ação urbana em HQs curtas, ágeis e bem resolvidas é o que leitor encontra no 1º álbum dos personagens Fiapo e La Peña, do animador / quadrinista gaúcho Danilo Fonseca. Fiapo é um menino negro inspirado em Ébano, o ajudante do Spirit de Will Eisner. La Peña é o detetive argentino, estilo hard boiled. Essa dupla improvável, quase um Batman & Robin do hemisfério sul, resolve casos barra-pesada, como assassinatos de prostitutas, chacinas de sem-teto e sequestros. Tudo sem complicação, pá-pum. Fiapo e La Peña / Danilo Fonseca / Devir Livraria / 56 páginas/ R$ 19,90 / http://www.devir.com.br/



Imaginação sem limites

Carol é uma menina cheia de energia e uma imaginação para lá de fértil, criada pelo cartunista Laerte (Piratas do Tietê). Ora jogando bola com os meninos na rua, ora imaginando mundos perdidos, Carol simboliza um pouco da criatividade sem limites do seu autor – aqui, a serviço da criançada . Carol / Laerte / Editora Noovha América / 32 p. / R$ 29 / http://www.noovhaamerica.com.br/




Marcelo D2 sabe cantar!


Foi preciso a vontade de homenagear o amigo Bezerra da Silva para Marcelo D2 mostrar que sabe, sim, cantar de verdade – saindo da lenga lenga autocongratulatória que costuma ser a principal característica do hip hop mais comercial. Neste CD, só com sambas do repertório do eterno malandro Bezerra da Silva, D2 manda muito bem em pérolas do morro como Bicho Feroz (“Você com um revólvi na mão é um bicho feroz, feroz / Sem ele, anda rebolando / até muda de voz”), Pega Eu, Partideiro Sem Nó na Garganta e claro, a emblemática Malandragem Dá Um Tempo. Bacana. Marcelo D2 / Canta Bezerra da Silva / EMI / R$ 19,90


Literatura pop espanhola

A jovem escritora espanhola (de Bilbao) Aixa de La Cruz estreia em livro no Brasil com esta história, envolvendo um professor de piano e autista chamado Dylan, e uma garota, Julia, sua ex-aluna. Com diversas idas e vindas no tempo, o texto vigoroso costura diversas referências da cultura pop. De Música ligeira / Aixa de La Cruz / Tinta Negra / 208 p. / R$ 37 / http://www.tintanegraeditorial.com.br/






A salada musical de Julia

A trilha sonora do novo veículo para a manutenção da carreira de Julia Roberts como a namoradinha da América aposta em uma grande diversidade de gêneros. Há tango (The Last Tango in Paris, por Gato Barbieri), funk (Thank You, com Sly & The Family Stone e Got To Give It Up, com Marvin Gaye), folk rock (Heart of Gold e Harvest Moon, com Neil Young), canzione (Atraversiamo, com Dario Marianelli), bossa (Wave, com João Gilberto), neo bossa (Samba da Bênção, com Bebel Gilberto) e até alt.country (Flight Attendant, com Josh Rouse). Uma salada e tanto. Vários artistas / Comer Rezar Amar / Universal Music / R$ 29,90


Emoção à flor da pele

A canadense k. d. lang está em grande forma neste show em Londres, acompanhada de sua banda e da orquestra da BBC. Entre os destaques, boa composições próprias, como Constant Craving, Thread (com participação do guitarrista brasileiro Grecco Burato cantando em português) e I Dream of Spring. Mas ainda há ótimas versões para Helpless (Neil Young) e Hallelujah (Leonard Cohen). k. d. lang & The BBC Concert Orchestra / Live in London / Coqueiro Verde / Preço não informado


Estridência e exagero

Qualquer espectador de TV com bom senso sabe que a hora em que o (estridente, ainda que carismático) elenco da série de TV Glee começa a cantar, é hora de fazer uma de duas coisas. Se for na TV, é hora de dar uma zappeada por outros canais. Se for no DVD, é hora de apertar a tecla FF. Salvo raras exceções, as interpretações do elenco caem na vala comum do exagero, como se todos fossem calouros do Raul Gil ou alunos aplicados de Celine Dion. Neste Vol. 3, salvam-se The Lady is a Tramp (com o arranjo de big band adequado) e Dream On (Aerosmith). Glee Cast / Glee: The Music, Volume 3: Showstoppers / Sony BMG / R$ 24,80

Bate-estaca cafetão style

Sabe aqueles comerciais de TV com aqueles playboys branquelos tirados a rapper, pimp (cafetão) style, balançando jóias, posando em carrões, em meio a moças oferecidas de salto alto e baixa autoestima? A música do 3OH!3 (pronuncia-se Three Oh Three), é a trilha sonora ideal deste tipo de videoclipe: uma mistura barata de bate-estaca de boate com hip hop boçal. Vinda de Boulder, Colorado, cidade que em outros tempos, pariu o escritor John Fante, o 3OH!3 não está destinado à imortalidade do seu conterrâneo, mas ao esquecimento imediato. 3OH!3 / Streets of Gold / Warner Music / R$ 34,90

Bram Stoker off-Drácula

Na onda das adaptações literárias em HQ, de vez quando surge algo interessante, como esta coletânea de Bram Stoker, incluindo o clássico Drácula. Mas o melhor mesmo são contos bizarros e desconhecidos, como O covil do verme branco e A torre das torturas, com bons desenhistas. Drácula, O covil do verme branco e Outras Histórias / Bram Stoker e vários artistas / Rai / 144 p. / R$ 32 / http://www.raieditora.com.br/



Cogumelos, né? Sei.

Knox deseja se transformar em um poderoso guerreiro. Seu amigo, Arroba, quer mais é reverter o feitiço que o transformou em um menino-porco. Juntos, os dois garotos partem em busca dos lendários cogumelos mágicos, que transformam em realidade os desejos de quem os comer. Na sua jornada, muitos perigos e aventuras. Com bons desenhos de Jonatas Tobias, essa simpática salada de referências de mangás com O Senhor dos Anéis deverá agradar aos mais jovens. Cogumelos ao Entardecer / Jonatas Tobias / Devir / 112 p. / R$ 44 / http://www.devir.com.br/

Um comentário:

  1. A propósito, se fosse recomendar para um amigo algum disco desses aí, seria o Dungen (logo a primeira mmicroresenha).

    Trilha sonora ideal para um fim de tarde psicodélico.

    Sem ser (bluergh) lounge!

    É som na caixa mermo, canções lindas, arranjos de babar. Discaço!

    ResponderExcluir

Tá loco aí? Então comenta!