O Santo Graal do progrock brazuca
Gravado em 1979, o LP Depois do Fim, da banda Bacamarte, logo se tornou um clássico do rock progressivo mundial. Com o vinil original independente disputado a tapa entre colecionadores, a Som Livre aproveitou os 30 anos de gravação do disco e o relança agora, pela primeira vez, em CD. Remasterizado direto da fita master original, traz intacto o som complexo do grupo, fortemente influenciado por Genesis e Yes. A cantora Jane Duboc aparece em quatro das oito faixas. Bacamarte / Depois do Fim / R$ 24,90 / Som Livre
Mais rock instrumental
Aparentemente uma tendência na cena rock brasileira, as bandas instrumentais vêm ganhando espaço e importância, aparecendo na MTV e festivais independentes. A Vendo 147, mais nova representante baiana, estreia com este EP de quatro faixas, onde demonstra seu estilo pesado, com influências de hard e stoner rock. OK para uma estreia, mas pode render melhor com mais personalidade na receita.
Vendo 147 / Big Bross Records / Preço não divulgado
Renovador em forma
Quando surgiu com grande sucesso nos anos 1980, o bluesman americano Robert Cray foi apontado como um renovador do estilo – mais graças a uma certa penetração entre o público mais jovem do que a uma possível diluição do legítimo blues. O tempo passou e este guitarrista e cantor extraordinário provou que de diluidor ele não tem nada. Seu novo CD, o primeiro pelo seu próprio selo independente, traz Cray em forma: blues certeiros e sem solos quilométricos. Robert Cray / This Time / R$ 29, 90 / EMI
Gossip mais pro pop
Liderado por Beth Ditto, uma gordinha ativista homossexual desbocada e completamente destituída de pudores com seu corpo, o trio The Gossip estourou em 2006, com o CD Standing in The Way of Control. Sua abordagem vigorosa de punk e disco funk ganhou fãs independente de orientações sexo-políticas. No novo CD, a produção de Rick Rubin limpou um pouco a “sujeira“ que caracterizava seu som, deixando-o mais pop. Fãs hardcore poderão se decepcionar, mas tem seus momentos. The Gossip / Music For Men / R$ 24,90 / Sony BMG
Baba irlandesa
O trio irlandês The Script lança seu álbum homônimo de estreia recheado de musiquinhas que farão a alegria dos desavisados e ouvintes de FM sem muito critério. Com influências de soul, pop rock e R&B / hip hop americanos, os três rapazes bonitinhos nasceram para aparecer nas sessões vespertinas da MTV, mas não para fazer boa música. Bem produzido e executado, tudo neste CD é tão limpinho e asséptico que é possível sentir até o cheiro de desinfetante. Soul sem alma. Fuja. The Script / Idem / R$ 24,90 / Sony Music
Blues texano de SP
O blues texano (linha ZZ Top e Stevie Ray Vaughan) faz a cabeça e o som do sexteto paulista Cracker Blues. Com 11 faixas autorais e letras em português, o primeiro CD da banda representa bem suas influências, incluindo na receita o blues rural de Robert Johnson e o southern rock encharcado de bourbon dos Allman Brothers e Lynyrd Skynyrd. Destaques: Bolero Maldito (boogie woogie matador) e Blues do Inimigo (só na gaita e violão de cordas de aço). Boa estreia. Entre o México e o inferno / Cracker Blues / Independente / Preço não divulgado
Nobreza reeditada
Lançado em LP em 1970 e agora reeditado em CD pela Biscoito Fino, este álbum produzido por Paulinho da Viola constitui um documento inestimável da Música Popular Brasileira ao apresentar reunidos todos os grandes nomes que fizeram a fama da chamada Velha Guarda da Portela. Monarco, Manacéa, Alberto Nonato e outros representam um dos pontos mais altos da cultura do samba. Hoje vulgarizado e violentado, o mais brasileiro dos ritmos tem aqui sua glória devidamente preservada para as futuras gerações. Portela Passado de Glória / A Velha Guarda da Portela / R$ 33,90 / Biscoito Fino
Filial mineira dos LH
A banda mineira Transmissor, uma das mais ativas de BH, lança seu 1º álbum, Sociedade do Crivo Mútuo. Logo na primeira faixa, Primeiro de Agosto, percebe-se a ostensiva influência de Los Hermanos no som. O espectro do grupo de Marcelo Camelo se espraia por toda a extensão do álbum, a despeito da clara tentativa de evocar personalidade própria. Quem sabe no próximo. Fãs daquela mistura de indie rock com bossa e Clube da Esquina vão se amarrar. Sociedade do Crivo Mútuo / Transmissor / Ultra Music / Preço não divulgado
Ella de Jane e Victor
Duas feras discretas da MPB, Jane Duboc e Victor Biglione (que na verdade é argentino) homenageiam uma das maiores divas do jazz neste Tributo a Ella Fitzgerald. Assessorados por uma banda bastante competente, a dupla enfatiza a faceta bluesy da grande cantora através de um toque brasileiro, pela via da bossa e até de acordes de Villa-Lobos. Hits populares como Night and Day (Cole Porter) e Someone to Watch Over Me (irmãos Gershwin) estão no CD. Jane Duboc & Victor Biglione / Tributo a Ella Fitzgerald / R$ 24,90 / Rob Digital
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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segunda-feira, setembro 28, 2009
quarta-feira, setembro 23, 2009
A INTERNET NA MÃO E NENHUMA IDEIA NA CABEÇA
Web 2.0: Polêmico livro de Andrew Keen é um alerta para a forma como a internet está esmagando a cultura e a economia
Uma caneta – para pegar o mais prosaico e cotidiano dos objetos – é boa ou ruim, intrinsecamente? Nem uma coisa, nem outra. Qualquer pessoa com pelo menos dois neurônios sabe que bom ou ruim é o uso que se faz dela. Da mesma forma que uma caneta pode ser usada para trazer ao mundo um poema capaz de elevar a alma das pessoas, ela pode ser utilizada para furar o olho de um desafeto.
É aí que entra o polêmico livro O culto do amador, do empreendedor americano Andrew Keen.
Um dos primeiros a investir nas empresas do Vale do Silício (Califórnia), Keen acendeu o sinal vermelho para a Web 2.0 em 2007, quando lançou seu livro, causando reações diversas, desde apoio incondicional a pichações de “traidor do movimento“ e até de anticristo.
Lançado no Brasil em 2009, O culto do amador (Jorge Zahar Editor) tem sido visto com reservas mesmo entre aqueles não tão simpáticos à avalanche de conteúdos criados pelos usuários – 99,9% constituído de dejeto digital, como se sabe.
O macaco infinito
Mas por que tanta polêmica? Simples. Para Keen, a Web 2.0 está esmagando, qual um rolo compressor midiático, a cultura, a economia e valores básicos como privacidade e criatividade.
Para ele, sites como Youtube, MySpace, Wikipedia, Google e similares estão tendo um “impacto destrutivo em nossa cultura, economia e valores. (...) É uma mistura de ignorância com egoísmo, mau gosto e ditadura das massas“, adianta, logo na introdução do livro.
Keen se inspirou no “teorema do macaco infinito“ preconizado pelo biólogo evolucionista T.H. Huxley (avô do famoso escritor Aldous), segundo o qual, “se fornecermos a um número infinito de macacos um número infinito de máquinas de escrever, alguns macacos em algum lugar vão acabar criando uma obra-prima – uma peça de Shakespeare, um diálogo de Platão ou um tratado econômico de Adam Smith“.
“Mas o que outrora parecia uma piada agora parece predizer as consequências de um achatamento da cultura que está embaçando as fronteiras entre público e autor, criador e consumidor, especialista e amador no sentido tradicional. A coisa não tem graça nenhuma“, vaticina o autor.
Espelho digital
Esta constatação óbvia – de que a maioria esmagadora do conteúdo criado por usuários de internet (seja em blogs, MySpace, Twitter, Wikipedia, Orkut etc) é puro lixo – é o motor do livro de Andrew Keen, que embasa suas colocações com farta pesquisa e exemplos de deixar qualquer um com vergonha na cara de cabelos em pé.
Nesse sentido, o livro de Andrew Keen é um alerta mais do que válido nesses tempos em que tantos ainda se deslumbram com tanta bobagem, superficialismo e vulgaridade disponíveis “no clique do mouse“.
E antes ficasse só no problema das bobagens digitais. A questão econômica é muito mais séria, visto a devastação causada pela internet nas indústrias da música, cinema, editorial e na imprensa, com jornais fechando ou se achatando mundo afora.
E aí volta a questão da caneta. A Web 2.0 não é boa ou ruim por si só. O uso que se faz da internet apenas reflete, como num espelho digital, o estágio evolucionário do homem do século 21: macacos equipados com computadores, celulares, câmeras – e nenhuma ideia na cabeça.
O Culto do Amador
Andrew Keen
Editora Jorge Zahar
207 p.
www.andrewkeen.typepad.com
Uma caneta – para pegar o mais prosaico e cotidiano dos objetos – é boa ou ruim, intrinsecamente? Nem uma coisa, nem outra. Qualquer pessoa com pelo menos dois neurônios sabe que bom ou ruim é o uso que se faz dela. Da mesma forma que uma caneta pode ser usada para trazer ao mundo um poema capaz de elevar a alma das pessoas, ela pode ser utilizada para furar o olho de um desafeto.
É aí que entra o polêmico livro O culto do amador, do empreendedor americano Andrew Keen.
Um dos primeiros a investir nas empresas do Vale do Silício (Califórnia), Keen acendeu o sinal vermelho para a Web 2.0 em 2007, quando lançou seu livro, causando reações diversas, desde apoio incondicional a pichações de “traidor do movimento“ e até de anticristo.
Lançado no Brasil em 2009, O culto do amador (Jorge Zahar Editor) tem sido visto com reservas mesmo entre aqueles não tão simpáticos à avalanche de conteúdos criados pelos usuários – 99,9% constituído de dejeto digital, como se sabe.
O macaco infinito
Mas por que tanta polêmica? Simples. Para Keen, a Web 2.0 está esmagando, qual um rolo compressor midiático, a cultura, a economia e valores básicos como privacidade e criatividade.
Para ele, sites como Youtube, MySpace, Wikipedia, Google e similares estão tendo um “impacto destrutivo em nossa cultura, economia e valores. (...) É uma mistura de ignorância com egoísmo, mau gosto e ditadura das massas“, adianta, logo na introdução do livro.
Keen se inspirou no “teorema do macaco infinito“ preconizado pelo biólogo evolucionista T.H. Huxley (avô do famoso escritor Aldous), segundo o qual, “se fornecermos a um número infinito de macacos um número infinito de máquinas de escrever, alguns macacos em algum lugar vão acabar criando uma obra-prima – uma peça de Shakespeare, um diálogo de Platão ou um tratado econômico de Adam Smith“.
“Mas o que outrora parecia uma piada agora parece predizer as consequências de um achatamento da cultura que está embaçando as fronteiras entre público e autor, criador e consumidor, especialista e amador no sentido tradicional. A coisa não tem graça nenhuma“, vaticina o autor.
Espelho digital
Esta constatação óbvia – de que a maioria esmagadora do conteúdo criado por usuários de internet (seja em blogs, MySpace, Twitter, Wikipedia, Orkut etc) é puro lixo – é o motor do livro de Andrew Keen, que embasa suas colocações com farta pesquisa e exemplos de deixar qualquer um com vergonha na cara de cabelos em pé.
Nesse sentido, o livro de Andrew Keen é um alerta mais do que válido nesses tempos em que tantos ainda se deslumbram com tanta bobagem, superficialismo e vulgaridade disponíveis “no clique do mouse“.
E antes ficasse só no problema das bobagens digitais. A questão econômica é muito mais séria, visto a devastação causada pela internet nas indústrias da música, cinema, editorial e na imprensa, com jornais fechando ou se achatando mundo afora.
E aí volta a questão da caneta. A Web 2.0 não é boa ou ruim por si só. O uso que se faz da internet apenas reflete, como num espelho digital, o estágio evolucionário do homem do século 21: macacos equipados com computadores, celulares, câmeras – e nenhuma ideia na cabeça.
O Culto do Amador
Andrew Keen
Editora Jorge Zahar
207 p.
www.andrewkeen.typepad.com
segunda-feira, setembro 21, 2009
DEAD ROCKS E VENDO 147 NO GROOVE, 18.09
Um público apenas razoável compareceu ao Groove Bar na última sexta para os shows das bandas The Dead Rocks (de São Carlos -SP) e Vendo147. Uma pena, pois ambas apresentaram performances de ótimo nível, cada uma no estilo.
A atração mais esperada da noite era o grupo visitante, um trio de surf music instrumental no estilo mais fiel às raízes do gênero, surgido no fim dos anos 50, início dos 60, nos Estados Unidos.
Vestidos à caráter em ternos vermelhos uniformizados, com topetes brilhantinados, óculos escuros e uma postura cool irresistível, Johnny Crash (guitarra), Paul Punk (baixo) e Marky Wildstone (bateria) pareciam ter saído de uma máquina do tempo, de alguma reprise de Folias na Praia (Beach Blanket Bingo, 1965) na Sessão da Tarde, direto para o palco do Groove.
A autenticidade, a pegada segura e o balanço da rapaziada de São Carlos acabaram entusiasmando uma plateia a primeira vista desconfiada, mas que terminou se acabando de dançar na frente do palco.
O profissionalismo, o talento e o trabalho sério desenvolvido pelo trio, na ativa desde 2002, já rendeu ótimos frutos, como uma turnê pela Europa bastante elogiada pela imprensa internacional especializada. Seu último CD, One Million Dollar Surf Band (2008) foi mixado pelo célebre Jack Endino, de Seattle.
Uma banda de nível internacional que espera-se, volte em breve à cidade e seja recebida pelo público com o prestígio que merece.
Clone drum
Já a local Vendo147, que abriu a noite, é um quinteto instrumental que passa longe das praias. Mais afeita ao hard rock e ao stoner, o grupo tem a peculiaridade de se apresentar com dois bateristas tocando ao mesmo tempo, com um de frente para o outro, compartilhando o bumbo.
Entrosadíssimos, impressionam pelo peso e pela sincronicidade dos dois bateras, Dimmy Demolidor e Glauco Neves. Rock para bater a cabeça até cansar.
A atração mais esperada da noite era o grupo visitante, um trio de surf music instrumental no estilo mais fiel às raízes do gênero, surgido no fim dos anos 50, início dos 60, nos Estados Unidos.
Vestidos à caráter em ternos vermelhos uniformizados, com topetes brilhantinados, óculos escuros e uma postura cool irresistível, Johnny Crash (guitarra), Paul Punk (baixo) e Marky Wildstone (bateria) pareciam ter saído de uma máquina do tempo, de alguma reprise de Folias na Praia (Beach Blanket Bingo, 1965) na Sessão da Tarde, direto para o palco do Groove.
A autenticidade, a pegada segura e o balanço da rapaziada de São Carlos acabaram entusiasmando uma plateia a primeira vista desconfiada, mas que terminou se acabando de dançar na frente do palco.
O profissionalismo, o talento e o trabalho sério desenvolvido pelo trio, na ativa desde 2002, já rendeu ótimos frutos, como uma turnê pela Europa bastante elogiada pela imprensa internacional especializada. Seu último CD, One Million Dollar Surf Band (2008) foi mixado pelo célebre Jack Endino, de Seattle.
Uma banda de nível internacional que espera-se, volte em breve à cidade e seja recebida pelo público com o prestígio que merece.
Clone drum
Já a local Vendo147, que abriu a noite, é um quinteto instrumental que passa longe das praias. Mais afeita ao hard rock e ao stoner, o grupo tem a peculiaridade de se apresentar com dois bateristas tocando ao mesmo tempo, com um de frente para o outro, compartilhando o bumbo.
Entrosadíssimos, impressionam pelo peso e pela sincronicidade dos dois bateras, Dimmy Demolidor e Glauco Neves. Rock para bater a cabeça até cansar.
quinta-feira, setembro 17, 2009
Streaming: solução é seguir a correnteza ou nadar contra?
Tendência iniciada em sites como LastFM e BlipFM pode apontar para nova forma de ouvir música
De dez anos para cá, um novo mundo se descortinou para quem faz, ouve e trabalha com música. O formato CD entrou em declínio (mas não acabou), o MP3 ascendeu como o formato dominante e o download – legal ou ilegal – é a principal forma de acesso para quem quer ouvir música.
Isso pode mudar um pouco a partir de uma tendência que vem se verificando entre a rapaziada mais antenada: o streaming, a partir do que, entre os acadêmicos, se convencionou chamar de “sistemas de recomendação musical“.
À moda do velho Jack: streaming (literalmente: correnteza), é o formato que permite ao usuário acessar músicas e vídeos sem precisar baixar nada, apenas clicando em players instalados nos próprios sites.
E “sistemas de recomendação musical“ é como a pesquisadora Simone de Sá (da Universidade Federal Fluminense) denomina sites como LastFM e BlipFm, que, cada um ao seu modo, agregam música e artistas ao gosto do freguês internauta.
O músico independente e doutor em comunicação Messias Guimarães Bandeira, usuário do LastFM, vê a rede mundial de computadores como “uma discoteca planetária, o somatório das nossas discotecas individuais. As músicas estão disponíveis e você não vai precisar baixar“, nota.
Desta forma, os playlists individuais podem ser acessados de qualquer lugar do mundo, via computador , celular, i-Phone ou palmtop.
“Mas não acho que o streaming substitui o download, porque as pessoas querem ouvir música em outros suportes. Mas o streaming é uma tendência da Web 2.0, onde tudo está na rede e a rede funciona como um elemento orgânico“, continua.
Simone de Sá concorda e acrescenta: “Cada vez mais a gente vê surgirem demandas de múltiplas experiências de consumo de música. É como se fosse preciso um formato para cada momento de nossas vidas. Mas no meio de todo esse debate, eu acho que não há uma única saída, uma solução só. Esse tipo de sistema que está oferecendo música em streaming é importante, pois está construindo em uma experiência musical diferenciada para os consumidores. Mas eu não apostaria nele como um único caminho, pois o sentimento de posse da música ainda é muito importante“, observa.
Banda larga para 3 bilhões
A afirmação da professora encontra eco na recente pesquisa encomendada pelo site britânico UK Music, que indicou que a posse da música ainda é “extremamente importante“.
Um dos signatários do recente Manifesto MPB - Música Para Baixar, Leoni – um veterano hitmaker convertido em guerrilheiro digital –, aposta no futuro do streaming, mas a médio prazo.
“Acho que, quando as conexões forem ainda mais rápidas e a mobilidade chegar para todos, a propriedade vai ser menos importante. Veja que o Google e a O3B Networks (empresa que fornece internet de alta velocidade a baixos custos) estão instalando 16 satélites para permitir banda larga muito barata, ou mesmo gratuita, nos países em desenvolvimento. São previstas mais 3 bilhões de conexões em banda larga a partir de 2011. Vai ser uma revolução“, prevê.
O curador faz falta
Mas e quanto à música em si? Será que o trabalho do músico não deveria se ocupar de criar, ao invés de ter que reinventar a roda marketeira? É aí que se vê a falta que faz o empresário de faro fino, o curador que vai perceber o potencial dos artistas emergentes e direcioná-los ao público.
“A indústria fonográfica sempre teve um papel de mediação entre público e artista. Isso acabou. Aí o pessoal fica ‘graças a Deus acabou‘ e tal, mas eu não acredito que é só colocar as músicas no MySpace. Só isso não resolve. Como atingir as pessoas, como ganhar dinheiro com isso? Precisamos mesmo de novos mediadores para que os músicos possam se concentrar em fazer música“, diz Simone.
Para ela, “o streamimg pode vir a desempenhar esse papel, que precisa ser valorizado, pois a gente sabe que não é qualquer um que sabe fazer isso“, alerta.
Leoni concorda com Simone e acha que é possível até um renascimento da indústria fonográfica.
“O negócio que eles tinham acabou, mas eu acho que há muito espaço para que as gravadoras voltem a ser importantes. Mas a relação delas com os artistas e com o público tem que ser totalmente revista. Acho que o papel de curador ainda é necessário. Elas poderiam dar o selo de qualidade – se não estivessem agora tão comprometidas com o lucro a curto prazo“, nota.
ENTREVISTA: RITCHIE
O homem que, no auge da era das gravadoras, tatuou a Menina Veneno e seu “abajur cor de carne“ na memória afetiva de toda uma geração é hoje um dos mais ativos músicos a atuar na internet sem criar restrições para quem quer ouvir sua música.
Com a visão do fã “amigo“ – oposta a do fã “ladrão“ que rouba a música do pobrezinho do artista –, Ritchie é um exemplo de como se pode transformar crise em oportunidade.
Depois de disponibilizar todo o conteúdo do seu último CD / DVD em sites de relacionamento, o inglês naturalizado brasileiro vendeu mais em dois meses do que em dois anos na sua última gravadora convencional. Para ele, o streaming é uma grande tendência – e o sucesso de sua experiência sinaliza para a possível consolidação do modelo.
Claro que não estamos mais em 1982 e sucesso, hoje, é um conceito bem mais relativo e difuso – especialmente para quem não está no esquemão das grandes gravadoras e seus sucessos esmagadores movidos a jabá. Mas que importa isso para quem está na batalha com honestidade?
Download ainda é crime?
Ritchie: Pela letra da lei, ainda é considerado crime. Pessoalmente, eu acho que compartilhar música com os amigos faz parte da experiência de ser fã. Como artista e compositor, quero que o maior número possível de pessoas possam ouvir meu trabalho. Percebo que quando o fã é tratado com respeito, ele passa a divulgar meu trabalho e invariavelmente retribui em dobro, comprando o CD/DVD e/ou comparecendo com os amigos nos shows. Sou contra a pirataria de CDs e DVDs, cujos lucros alimentam o crime organizado.
Há quem aposte que o streaming é o futuro. Você concorda?
Ritchie:Com os avanços tecnológicos no mundo dos portáteis (laptops, netbooks e smartphones) estamos caminhando rapidamente para um momento onde não será mais necessário carregar consigo os arquivos de música. A tendência aponta cada vez mais para a praticidade do streaming, seja diretamente do computador de casa ou com serviços "in-the-cloud" como Spotify (ainda sem previsão de lançamento no Brasil). Como artista independente, eu fiz a experiência de disponibilizar todas as músicas do meu novo cd/dvd/blu-ray, Outra Vez (ao vivo no estúdio) em formato streaming no meu perfil no Reverbnation (www.reverbnation.com/ritchie) e no MySpace (www.myspace.com/ritchieoficial). O resultado tem sido surprendente. Vendemos mais cópias físicas (do novo CD e DVD) em apenas 2 meses do que em 2 anos inteiros na minha última gravadora e eu mal começei a divulgar o trabalho na mídia convencional (TV, rádio etc). A Microservice anunciou que vamos para a2ª prensagem. Estou muito satisfeito.
Qual a saída para a indústria?
Ritchie:Nascer de novo é a única saída (risos). As gravadoras perderam o trem da história e estão afundando. Precisam abandonar o velho modelo de negócios o quanto antes, mas talvez já seja tarde demais.
E para os artistas? Show e a venda de produtos como camisetas bonés etc serão as únicas formas de se ganhar dinheiro?
Ritchie:Hoje, um artista com um laptop, um microfone e algumas boas idéias na cabeça pode gravar, mixar, divulgar, distribuir e vender seu trabalho online com facilidade. Através das redes sociais (Twitter, Facebook, MySpace, Reverbnation), ele pode manter uma linha direta com os fãs que se tornam colaboradores/ divulgadores virais ao invés de meros consumidores. O fã engajado é o melhor aliado que um artista pode ter, é muito importante não aliená-lo.
De dez anos para cá, um novo mundo se descortinou para quem faz, ouve e trabalha com música. O formato CD entrou em declínio (mas não acabou), o MP3 ascendeu como o formato dominante e o download – legal ou ilegal – é a principal forma de acesso para quem quer ouvir música.
Isso pode mudar um pouco a partir de uma tendência que vem se verificando entre a rapaziada mais antenada: o streaming, a partir do que, entre os acadêmicos, se convencionou chamar de “sistemas de recomendação musical“.
À moda do velho Jack: streaming (literalmente: correnteza), é o formato que permite ao usuário acessar músicas e vídeos sem precisar baixar nada, apenas clicando em players instalados nos próprios sites.
E “sistemas de recomendação musical“ é como a pesquisadora Simone de Sá (da Universidade Federal Fluminense) denomina sites como LastFM e BlipFm, que, cada um ao seu modo, agregam música e artistas ao gosto do freguês internauta.
O músico independente e doutor em comunicação Messias Guimarães Bandeira, usuário do LastFM, vê a rede mundial de computadores como “uma discoteca planetária, o somatório das nossas discotecas individuais. As músicas estão disponíveis e você não vai precisar baixar“, nota.
Desta forma, os playlists individuais podem ser acessados de qualquer lugar do mundo, via computador , celular, i-Phone ou palmtop.
“Mas não acho que o streaming substitui o download, porque as pessoas querem ouvir música em outros suportes. Mas o streaming é uma tendência da Web 2.0, onde tudo está na rede e a rede funciona como um elemento orgânico“, continua.
Simone de Sá concorda e acrescenta: “Cada vez mais a gente vê surgirem demandas de múltiplas experiências de consumo de música. É como se fosse preciso um formato para cada momento de nossas vidas. Mas no meio de todo esse debate, eu acho que não há uma única saída, uma solução só. Esse tipo de sistema que está oferecendo música em streaming é importante, pois está construindo em uma experiência musical diferenciada para os consumidores. Mas eu não apostaria nele como um único caminho, pois o sentimento de posse da música ainda é muito importante“, observa.
Banda larga para 3 bilhões
A afirmação da professora encontra eco na recente pesquisa encomendada pelo site britânico UK Music, que indicou que a posse da música ainda é “extremamente importante“.
Um dos signatários do recente Manifesto MPB - Música Para Baixar, Leoni – um veterano hitmaker convertido em guerrilheiro digital –, aposta no futuro do streaming, mas a médio prazo.
“Acho que, quando as conexões forem ainda mais rápidas e a mobilidade chegar para todos, a propriedade vai ser menos importante. Veja que o Google e a O3B Networks (empresa que fornece internet de alta velocidade a baixos custos) estão instalando 16 satélites para permitir banda larga muito barata, ou mesmo gratuita, nos países em desenvolvimento. São previstas mais 3 bilhões de conexões em banda larga a partir de 2011. Vai ser uma revolução“, prevê.
O curador faz falta
Mas e quanto à música em si? Será que o trabalho do músico não deveria se ocupar de criar, ao invés de ter que reinventar a roda marketeira? É aí que se vê a falta que faz o empresário de faro fino, o curador que vai perceber o potencial dos artistas emergentes e direcioná-los ao público.
“A indústria fonográfica sempre teve um papel de mediação entre público e artista. Isso acabou. Aí o pessoal fica ‘graças a Deus acabou‘ e tal, mas eu não acredito que é só colocar as músicas no MySpace. Só isso não resolve. Como atingir as pessoas, como ganhar dinheiro com isso? Precisamos mesmo de novos mediadores para que os músicos possam se concentrar em fazer música“, diz Simone.
Para ela, “o streamimg pode vir a desempenhar esse papel, que precisa ser valorizado, pois a gente sabe que não é qualquer um que sabe fazer isso“, alerta.
Leoni concorda com Simone e acha que é possível até um renascimento da indústria fonográfica.
“O negócio que eles tinham acabou, mas eu acho que há muito espaço para que as gravadoras voltem a ser importantes. Mas a relação delas com os artistas e com o público tem que ser totalmente revista. Acho que o papel de curador ainda é necessário. Elas poderiam dar o selo de qualidade – se não estivessem agora tão comprometidas com o lucro a curto prazo“, nota.
ENTREVISTA: RITCHIE
O homem que, no auge da era das gravadoras, tatuou a Menina Veneno e seu “abajur cor de carne“ na memória afetiva de toda uma geração é hoje um dos mais ativos músicos a atuar na internet sem criar restrições para quem quer ouvir sua música.
Com a visão do fã “amigo“ – oposta a do fã “ladrão“ que rouba a música do pobrezinho do artista –, Ritchie é um exemplo de como se pode transformar crise em oportunidade.
Depois de disponibilizar todo o conteúdo do seu último CD / DVD em sites de relacionamento, o inglês naturalizado brasileiro vendeu mais em dois meses do que em dois anos na sua última gravadora convencional. Para ele, o streaming é uma grande tendência – e o sucesso de sua experiência sinaliza para a possível consolidação do modelo.
Claro que não estamos mais em 1982 e sucesso, hoje, é um conceito bem mais relativo e difuso – especialmente para quem não está no esquemão das grandes gravadoras e seus sucessos esmagadores movidos a jabá. Mas que importa isso para quem está na batalha com honestidade?
Download ainda é crime?
Ritchie: Pela letra da lei, ainda é considerado crime. Pessoalmente, eu acho que compartilhar música com os amigos faz parte da experiência de ser fã. Como artista e compositor, quero que o maior número possível de pessoas possam ouvir meu trabalho. Percebo que quando o fã é tratado com respeito, ele passa a divulgar meu trabalho e invariavelmente retribui em dobro, comprando o CD/DVD e/ou comparecendo com os amigos nos shows. Sou contra a pirataria de CDs e DVDs, cujos lucros alimentam o crime organizado.
Há quem aposte que o streaming é o futuro. Você concorda?
Ritchie:Com os avanços tecnológicos no mundo dos portáteis (laptops, netbooks e smartphones) estamos caminhando rapidamente para um momento onde não será mais necessário carregar consigo os arquivos de música. A tendência aponta cada vez mais para a praticidade do streaming, seja diretamente do computador de casa ou com serviços "in-the-cloud" como Spotify (ainda sem previsão de lançamento no Brasil). Como artista independente, eu fiz a experiência de disponibilizar todas as músicas do meu novo cd/dvd/blu-ray, Outra Vez (ao vivo no estúdio) em formato streaming no meu perfil no Reverbnation (www.reverbnation.com/ritchie) e no MySpace (www.myspace.com/ritchieoficial). O resultado tem sido surprendente. Vendemos mais cópias físicas (do novo CD e DVD) em apenas 2 meses do que em 2 anos inteiros na minha última gravadora e eu mal começei a divulgar o trabalho na mídia convencional (TV, rádio etc). A Microservice anunciou que vamos para a2ª prensagem. Estou muito satisfeito.
Qual a saída para a indústria?
Ritchie:Nascer de novo é a única saída (risos). As gravadoras perderam o trem da história e estão afundando. Precisam abandonar o velho modelo de negócios o quanto antes, mas talvez já seja tarde demais.
E para os artistas? Show e a venda de produtos como camisetas bonés etc serão as únicas formas de se ganhar dinheiro?
Ritchie:Hoje, um artista com um laptop, um microfone e algumas boas idéias na cabeça pode gravar, mixar, divulgar, distribuir e vender seu trabalho online com facilidade. Através das redes sociais (Twitter, Facebook, MySpace, Reverbnation), ele pode manter uma linha direta com os fãs que se tornam colaboradores/ divulgadores virais ao invés de meros consumidores. O fã engajado é o melhor aliado que um artista pode ter, é muito importante não aliená-lo.
terça-feira, setembro 15, 2009
FAMÍLIA DISFUNCIONAL, U.S.A.
A família, o amor e a solidão vistos pelos quadrinistas indies do século 21
A cena americana de quadrinhos independentes sempre demonstrou um vigor criativo acima da média em relação aos seus pares no mainstream, mais sujeitos aos altos e baixos da indústria do entretenimento. Essa vertente se verificou dos anos 60 para cá, com o surgimento da geração contracultural, que teve em Robert Crumb (Fritz The Cat) e Gilbert Shelton (Freak Brothers) seus maiores expoentes.
O tempo passou e as HQs indies continuaram, ainda que tenham se transformado de forma radical de lá para cá. Saíram de cena os delírios lisérgicos, os bacanais hippies e os questionamentos políticos. No seu lugar, entra em cena uma geração macambúzia, assombrada pela AIDS, bombardeada pelo marketing das megacorporações, sem identidade e deprimida pela falta de perspectivas – sem contar a possibilidade de ser convocada para matar e morrer no Oriente Médio.
Umbigo sem fundo (Quadrinhos na Cia.) e Local (Devir), duas HQs tipicamente indies dos anos 00, refletem tudo isso, mesmo sem tocar em quaisquer desses assuntos.
A primeira, um drama familiar sensível e magnificamente executado, é um tijolo de 720 páginas que conta a história de uma família que se reúne pela última vez numa casa de praia – também personagem da trama.
Túneis e passagens
Tudo começa quando Maggie e David Loony (lunático), casados há 40 anos, anunciam para seus três filhos – Dennis, Claire e Peter – que não se amam mais, e, por isso, vão se separar.
Reunidos nesta casa de praia isolada do mundo, cada personagem reage de uma forma.
Dennis, o mais velho, surta – não aceita a separação. Conversa com os pais para demovê-los da ideia, discute com a mulher e, por fim, começa a explorar os recônditos da casa onde os pais vivem há décadas em busca de respostas. Assim como na vida, encontra chaves misteriosas, baús, armários secretos e até um túnel subterrâneo.
Já sua irmã Claire e sua filha Jill não dão muita importância à notícia. Em vez disso, embarcam numa jornada de autoconhecimento em que buscam descobrir mais sobre si mesmas e uma sobre a outra. Jill, uma adolescente com problemas de baixa autoestima, acaba por protagonizar uma das melhores sequências do livro, ao escapar para a cidade e se envolver com álcool, cigarros e traições.
Mas o personagem mais interessante mesmo é o caçula Peter. Retratado como um sapo, ele simboliza o outsider definitivo, o resto do tacho, o filho indesejado que, por mais que todos neguem, sempre é visto como um estranho dentro da sua própria família.
Inseguro até o âmago, Peter vive sua própria jornada rumo a maturidade quando, em uma de suas caminhadas, conhece Kat, uma mulher que trabalha entretendo crianças na praia. E é ela, e apenas ela, quem consegue enxergar Peter como humano e não sapo – mesmo que por um único quadrinho, num dos melhores momentos da HQ.
Escrita e desenhada pelo americano Dash Shaw quando tinha apenas 23 anos, Umbigo sem fundo demonstra a notável maturidade do seu autor – tanto no sentido do drama propriamente dito, quanto na forma com que ele orquestra personagens, cenários, diagramação (um show à parte) e os muitos efeitos sonoros e sensoriais que descrevem o que os personagens estão ouvindo e sentindo.
Com uma narrativa fluida e gentil, Shaw carrega nos braços o leitor para o seio da sua família disfuncional – com tanta competência, que é capaz de fazê-lo sentir saudade no inevitável momento das despedidas.
Umbigo sem fundo
De Dash Shaw / Tradução: Érico Assis
720 p. / R$ 59
Quadrinhos na Cia. (Cia. das Letras)
LOCAL: BUSCA DAS RAÍZES E DESESTRUTURAÇÃO FAMILIAR
Uma coisa que todo soteropolitano sabe muito bem: o lugar onde se nasce e se é criado molda muito do que as pessoas acabam por se tornar. A influência e a relação das pessoas com o lugar de onde elas vêm é o grande tema por trás de Local, série em dois volumes da Devir cujo segundo livro, Fim da jornada, chegou há poucos dias nas livrarias.
O primeiro, Ponto de Partida, é de 2008. Criada por Brian Wood (roteiros) e Ryan Kelly (desenhos), Local é protagonizada por Megan McKeenan, uma garota com um gosto pela estrada e, a primeira vista, sem raízes.
Histórias autocontidas
Dividida em 12 capítulos (seis em cada volume), cada um deles apresenta uma história autocontida que se passa em uma cidade diferente da América do Norte (Canadá incluído) e representa um ano na vida de Megan.
Nem sempre ela é a protagonista central do capítulo em questão (Tempe, Arizona, é um exemplo), aparecendo por meio de cartas ou coadjuvando com os personagens que os autores escolheram para centrar a narrativa. A cada capítulo / ano / cidade, o leitor vai sabendo um pouco mais sobre Megan, sua origem e por que, afinal, a cada ano ela está em um lugar diferente.
Por serem autocontidas, cada capítulo pode até ser lido separadamente, pois suas histórias se resolvem dentro das 24 páginas regulamentares que é o padrão do comic book americano.
Mas o grande barato de Local é mesmo é ler tudo e juntar as peças que formam o pequeno quebra-cabeças que é a vida de Megan McKeennan.
Entre o romance de formação, o drama familiar e o painel de comentários sociais sobre a solidão e a vida americana, Local acabou impulsionando a carreira dos seus autores, ambos hoje contratados exclusivos do selo Vertigo, da DC.
Local - Fim da jornada
De Brian Wood (roteiros) e Ryan Kelly (arte)
208 p. / R$ 36,50
Devir Livraria
www.brianwood.com / www.funrama.blogspot.com
Site da HQ: localthecomic.blogspot.com
A cena americana de quadrinhos independentes sempre demonstrou um vigor criativo acima da média em relação aos seus pares no mainstream, mais sujeitos aos altos e baixos da indústria do entretenimento. Essa vertente se verificou dos anos 60 para cá, com o surgimento da geração contracultural, que teve em Robert Crumb (Fritz The Cat) e Gilbert Shelton (Freak Brothers) seus maiores expoentes.
O tempo passou e as HQs indies continuaram, ainda que tenham se transformado de forma radical de lá para cá. Saíram de cena os delírios lisérgicos, os bacanais hippies e os questionamentos políticos. No seu lugar, entra em cena uma geração macambúzia, assombrada pela AIDS, bombardeada pelo marketing das megacorporações, sem identidade e deprimida pela falta de perspectivas – sem contar a possibilidade de ser convocada para matar e morrer no Oriente Médio.
Umbigo sem fundo (Quadrinhos na Cia.) e Local (Devir), duas HQs tipicamente indies dos anos 00, refletem tudo isso, mesmo sem tocar em quaisquer desses assuntos.
A primeira, um drama familiar sensível e magnificamente executado, é um tijolo de 720 páginas que conta a história de uma família que se reúne pela última vez numa casa de praia – também personagem da trama.
Túneis e passagens
Tudo começa quando Maggie e David Loony (lunático), casados há 40 anos, anunciam para seus três filhos – Dennis, Claire e Peter – que não se amam mais, e, por isso, vão se separar.
Reunidos nesta casa de praia isolada do mundo, cada personagem reage de uma forma.
Dennis, o mais velho, surta – não aceita a separação. Conversa com os pais para demovê-los da ideia, discute com a mulher e, por fim, começa a explorar os recônditos da casa onde os pais vivem há décadas em busca de respostas. Assim como na vida, encontra chaves misteriosas, baús, armários secretos e até um túnel subterrâneo.
Já sua irmã Claire e sua filha Jill não dão muita importância à notícia. Em vez disso, embarcam numa jornada de autoconhecimento em que buscam descobrir mais sobre si mesmas e uma sobre a outra. Jill, uma adolescente com problemas de baixa autoestima, acaba por protagonizar uma das melhores sequências do livro, ao escapar para a cidade e se envolver com álcool, cigarros e traições.
Mas o personagem mais interessante mesmo é o caçula Peter. Retratado como um sapo, ele simboliza o outsider definitivo, o resto do tacho, o filho indesejado que, por mais que todos neguem, sempre é visto como um estranho dentro da sua própria família.
Inseguro até o âmago, Peter vive sua própria jornada rumo a maturidade quando, em uma de suas caminhadas, conhece Kat, uma mulher que trabalha entretendo crianças na praia. E é ela, e apenas ela, quem consegue enxergar Peter como humano e não sapo – mesmo que por um único quadrinho, num dos melhores momentos da HQ.
Escrita e desenhada pelo americano Dash Shaw quando tinha apenas 23 anos, Umbigo sem fundo demonstra a notável maturidade do seu autor – tanto no sentido do drama propriamente dito, quanto na forma com que ele orquestra personagens, cenários, diagramação (um show à parte) e os muitos efeitos sonoros e sensoriais que descrevem o que os personagens estão ouvindo e sentindo.
Com uma narrativa fluida e gentil, Shaw carrega nos braços o leitor para o seio da sua família disfuncional – com tanta competência, que é capaz de fazê-lo sentir saudade no inevitável momento das despedidas.
Umbigo sem fundo
De Dash Shaw / Tradução: Érico Assis
720 p. / R$ 59
Quadrinhos na Cia. (Cia. das Letras)
LOCAL: BUSCA DAS RAÍZES E DESESTRUTURAÇÃO FAMILIAR
Uma coisa que todo soteropolitano sabe muito bem: o lugar onde se nasce e se é criado molda muito do que as pessoas acabam por se tornar. A influência e a relação das pessoas com o lugar de onde elas vêm é o grande tema por trás de Local, série em dois volumes da Devir cujo segundo livro, Fim da jornada, chegou há poucos dias nas livrarias.
O primeiro, Ponto de Partida, é de 2008. Criada por Brian Wood (roteiros) e Ryan Kelly (desenhos), Local é protagonizada por Megan McKeenan, uma garota com um gosto pela estrada e, a primeira vista, sem raízes.
Histórias autocontidas
Dividida em 12 capítulos (seis em cada volume), cada um deles apresenta uma história autocontida que se passa em uma cidade diferente da América do Norte (Canadá incluído) e representa um ano na vida de Megan.
Nem sempre ela é a protagonista central do capítulo em questão (Tempe, Arizona, é um exemplo), aparecendo por meio de cartas ou coadjuvando com os personagens que os autores escolheram para centrar a narrativa. A cada capítulo / ano / cidade, o leitor vai sabendo um pouco mais sobre Megan, sua origem e por que, afinal, a cada ano ela está em um lugar diferente.
Por serem autocontidas, cada capítulo pode até ser lido separadamente, pois suas histórias se resolvem dentro das 24 páginas regulamentares que é o padrão do comic book americano.
Mas o grande barato de Local é mesmo é ler tudo e juntar as peças que formam o pequeno quebra-cabeças que é a vida de Megan McKeennan.
Entre o romance de formação, o drama familiar e o painel de comentários sociais sobre a solidão e a vida americana, Local acabou impulsionando a carreira dos seus autores, ambos hoje contratados exclusivos do selo Vertigo, da DC.
Local - Fim da jornada
De Brian Wood (roteiros) e Ryan Kelly (arte)
208 p. / R$ 36,50
Devir Livraria
www.brianwood.com / www.funrama.blogspot.com
Site da HQ: localthecomic.blogspot.com
quarta-feira, setembro 09, 2009
FRANK JORGE CONFIRMADO NO BIG BANDS
Quem já tinha perdido as esperanças de ver um show do mestre gaúcho Frank Jorge na Bahia pode acender suas velas para São Rogério Big Brother
Escudado pelos produtores Cássia Cardoso e Théo Filho (Boomerangue) e com recursos do edital Tô no Pelô da Secult, o gordinho mais bróder do rock local vem organizando há meses seu segundo festival Big Bands, que acontecerá entre os dias 23 e 25 de outubro, na Praça Teresa Batista (Pelô), de graça pra rapaziada.
Na grade de atrações vindas de fora do estado, além do ex-Graforréia Xilarmônica, o Big Bands traz ainda os goianos do Black Drawing Chalks, Tom Bloch (RJ/RS) e Julia Says (PE).
Entre os locais, o destaque é sem dúvida a estreia solo do ex-brincando deus Messias GB. Mas haverá ainda Demoiselle, Irmãos da Bailarina, Mortícia, Yun-Fat, Pastel de Miolos e Estrada Perdida.
Além dos shows, haverá duas tardes de palestras com gente que faz no rock brasileiro, como Rafael Bandeira (da Abrafin, organizador do festival Ponto CE) e Claudão Rocha (dono d‘A Obra, organizador do Campeonato Mineiro de Surfe). A outra palestra será com o próprio Frank Jorge e Iuri Freiberger (da Tom Bloch).
“Ainda não temos local definido para as palestras, mas provavelmente será na Boomerangue“, adianta Big. “No dia 23 teremos uma festa de abertura lá mesmo na Boo, com a banda mineira O Melda e os DJs da produção. Aí no dia seguinte começa o festival na Teresa Batista, sempre começando às 15 horas e terminando às 21. É de graça, com doação opcional de livros didáticos“, lembra.
Sobre o show de Frank, Big conta que ligou para ele “cheio de dedos, já que não tenho cachê para oferecer. Aí ele me respondeu: ‘Big, seu menino, eu, no auge dos meus 42 anos, confesso que meu maior sonho sempre foi tocar na Bahia‘. Vai ter as músicas solo e do Graforréia também. Ele é doido?“, ri Big Brother.
Daqui até lá, muito mais detalhes a qualquer momento.
Warm-up traz Wry à Boo, nesta sexta
Antes de começar o festival propriamente dito, Big & cia pilotam a segunda edição do aquecimento, agora com os indies sorocabanos do Wry, uma das mais consistentes bandas brasileiras do gênero em todos os tempos. Na mesma night, Irmãos da Bailarina (lançando CD e seu clipe O Perigo da Ansiedade), mais as Djs Neechee e Elektra. Sexta, na Boo, 23h, R$ 15.
Radiola e Nancyta, agora além-mar
Esse fim de semana também tem show de Radiola e Nancy Viegas, mas em Barcelona. Sexta eles tocam no bar Harlem Jazz e domingo, no Parc de la Trinitat Vella, no festival Dia de Brasil. Em 2008, a banda do grande Tadeu Mascarenhas já tinha tocado por lá. Agradaram, e agora estão voltando, com Nancyta. Importante: o Fundo de Cultura viabilizou o $ das passagens.
Escudado pelos produtores Cássia Cardoso e Théo Filho (Boomerangue) e com recursos do edital Tô no Pelô da Secult, o gordinho mais bróder do rock local vem organizando há meses seu segundo festival Big Bands, que acontecerá entre os dias 23 e 25 de outubro, na Praça Teresa Batista (Pelô), de graça pra rapaziada.
Na grade de atrações vindas de fora do estado, além do ex-Graforréia Xilarmônica, o Big Bands traz ainda os goianos do Black Drawing Chalks, Tom Bloch (RJ/RS) e Julia Says (PE).
Entre os locais, o destaque é sem dúvida a estreia solo do ex-brincando deus Messias GB. Mas haverá ainda Demoiselle, Irmãos da Bailarina, Mortícia, Yun-Fat, Pastel de Miolos e Estrada Perdida.
Além dos shows, haverá duas tardes de palestras com gente que faz no rock brasileiro, como Rafael Bandeira (da Abrafin, organizador do festival Ponto CE) e Claudão Rocha (dono d‘A Obra, organizador do Campeonato Mineiro de Surfe). A outra palestra será com o próprio Frank Jorge e Iuri Freiberger (da Tom Bloch).
“Ainda não temos local definido para as palestras, mas provavelmente será na Boomerangue“, adianta Big. “No dia 23 teremos uma festa de abertura lá mesmo na Boo, com a banda mineira O Melda e os DJs da produção. Aí no dia seguinte começa o festival na Teresa Batista, sempre começando às 15 horas e terminando às 21. É de graça, com doação opcional de livros didáticos“, lembra.
Sobre o show de Frank, Big conta que ligou para ele “cheio de dedos, já que não tenho cachê para oferecer. Aí ele me respondeu: ‘Big, seu menino, eu, no auge dos meus 42 anos, confesso que meu maior sonho sempre foi tocar na Bahia‘. Vai ter as músicas solo e do Graforréia também. Ele é doido?“, ri Big Brother.
Daqui até lá, muito mais detalhes a qualquer momento.
Warm-up traz Wry à Boo, nesta sexta
Antes de começar o festival propriamente dito, Big & cia pilotam a segunda edição do aquecimento, agora com os indies sorocabanos do Wry, uma das mais consistentes bandas brasileiras do gênero em todos os tempos. Na mesma night, Irmãos da Bailarina (lançando CD e seu clipe O Perigo da Ansiedade), mais as Djs Neechee e Elektra. Sexta, na Boo, 23h, R$ 15.
Radiola e Nancyta, agora além-mar
Esse fim de semana também tem show de Radiola e Nancy Viegas, mas em Barcelona. Sexta eles tocam no bar Harlem Jazz e domingo, no Parc de la Trinitat Vella, no festival Dia de Brasil. Em 2008, a banda do grande Tadeu Mascarenhas já tinha tocado por lá. Agradaram, e agora estão voltando, com Nancyta. Importante: o Fundo de Cultura viabilizou o $ das passagens.
segunda-feira, setembro 07, 2009
PERCPAN - 2º DIA
Show de Airto Moreira, Flora Purim e a superbanda Eyedentity fez o grande momento do PercPan 2009. Pandeirista italiano também ganhou o público e aplausos
Depois da confusão da sexta-feira, quando uma multidão de adolescentes histéricos subiu no palco do TCA e um microfone acabou sendo roubado durante o acidentado show da banda Beirut, o sábado no PercPan foi bem mais tranquilo, civilizado e musical.
O grande destaque da noite foi o show espetacular do casal Airto Moreira e Flora Purim, com sua super banda, Eyedentity. Carismáticos, simpatissíssimos, piadistas e abençoados com um talento imenso, encantaram a plateia e foram aplaudidos de pé.
Enfim: foram tudo o que o incensado e aguardado Beirut não foi. Pior para os deslumbrados fãs do grupelho, que perderam a melhor noite do evento.
Acompanhados pela Eyedentity, formada por Diana Booker (cantora, filha do casal), Krishna Booker (percussão e beatbox, genro), Gary Brown (baixo), Grecco Buratto (guitarra) e Kit Walker (teclados, apresentado como “o hippie mais velho do mundo“), o show de Airto e Flora teve de tudo: homenagem à Nina Simone (arrepiante), show de beatbox (embasbacante), momentos engraçados, ternos e música na sua forma mais sofisticada.
A nobreza do jazz, que redimiu o PercPan de quaisquer presepadas anteriores.
Cantigas mediterrâneas
Outro ótimo momento foi o show do pandeirista italiano Andrea Piccioni. Com total domínio sobre cada ferrinho do aro de seus instrumentos, ele também conquistou a plateia com seu vozeirão de camponês siciliano curtido de vinho e suas cantigas ancestrais com gosto de azeite de oliva e tomate. Uma verdadeira passagem para as ilhas mediterrâneas.
Beats diversos
Quem também ganhou o público foi o baiano Emerson Taquari, que se apresentou com uma numerosa banda e fez um show vigoroso, pesado em suas diversas abordagens da brasilidade inerente ao ato de batucar.
O único senão fica com o dispensável corpo de baile que apresentou coreografias que poderiam estar em qualquer show de Daniela Mercury. Um clichê de baianidade, mas que não tirou o brilho dos músicos.
Em seguida veio o duo formado pelo alemão David Kuckhermann (pandeiros) e pelo jordaniano Ahmad Al-Khatib (alaúde), que também mostraram sons que remetem à um passado remoto e à ancestralidade palestina. Bom show.
Já o Trio 3-63, formado pelo anfitrião Marcos Suzano, a flautista Andrea Ernest e o pianista Paulo Braga proporcionaram uma aula de música brasileira profunda, resgatando clássicos de Joaquim Calado (1848- 1880, considerado um dos criadores do chorinho) e dos maestros Moacir Santos e Tom Jobim.
Ainda na fatídica noite de sexta, o japonês Oki e sua Dub Ainú Band foram responsáveis pelo melhor show do primeiro dia do PercPan, com sua música original da ilha de Hokkaido (o gelado extremo norte do Japão).
Duro foi aguentar a dupla francesa Cyril Hernandez & Cyrille Brissot, que fizeram muita presepada e pouca música. Mas o pior, como se sabe, ainda estaria por vir. Felizmente, a noite de sábado redimiu o festival.
Excessos
Para a produtora Beth Cayres, organizadora do PercPan desde sua primeira edição, os incidentes de sexta-feira se deveram à “um excesso de entusiasmo de ambas as partes“ (artistas e público). “Quando eu vi aquela meninada de 13, 14 anos gritando, eu me lembrei até dos Beatles“, acrescentou.
“E a questão deles terem tomado uma cerveja a mais ou a menos é bobagem. Nunca vi Vinícius (de Moraes) sóbrio. Mas eu estou muito feliz por mais esse PercPan realizado com sua grade original em ano de crise. Estou realizada“, concluiu.
Depois da confusão da sexta-feira, quando uma multidão de adolescentes histéricos subiu no palco do TCA e um microfone acabou sendo roubado durante o acidentado show da banda Beirut, o sábado no PercPan foi bem mais tranquilo, civilizado e musical.
O grande destaque da noite foi o show espetacular do casal Airto Moreira e Flora Purim, com sua super banda, Eyedentity. Carismáticos, simpatissíssimos, piadistas e abençoados com um talento imenso, encantaram a plateia e foram aplaudidos de pé.
Enfim: foram tudo o que o incensado e aguardado Beirut não foi. Pior para os deslumbrados fãs do grupelho, que perderam a melhor noite do evento.
Acompanhados pela Eyedentity, formada por Diana Booker (cantora, filha do casal), Krishna Booker (percussão e beatbox, genro), Gary Brown (baixo), Grecco Buratto (guitarra) e Kit Walker (teclados, apresentado como “o hippie mais velho do mundo“), o show de Airto e Flora teve de tudo: homenagem à Nina Simone (arrepiante), show de beatbox (embasbacante), momentos engraçados, ternos e música na sua forma mais sofisticada.
A nobreza do jazz, que redimiu o PercPan de quaisquer presepadas anteriores.
Cantigas mediterrâneas
Outro ótimo momento foi o show do pandeirista italiano Andrea Piccioni. Com total domínio sobre cada ferrinho do aro de seus instrumentos, ele também conquistou a plateia com seu vozeirão de camponês siciliano curtido de vinho e suas cantigas ancestrais com gosto de azeite de oliva e tomate. Uma verdadeira passagem para as ilhas mediterrâneas.
Beats diversos
Quem também ganhou o público foi o baiano Emerson Taquari, que se apresentou com uma numerosa banda e fez um show vigoroso, pesado em suas diversas abordagens da brasilidade inerente ao ato de batucar.
O único senão fica com o dispensável corpo de baile que apresentou coreografias que poderiam estar em qualquer show de Daniela Mercury. Um clichê de baianidade, mas que não tirou o brilho dos músicos.
Em seguida veio o duo formado pelo alemão David Kuckhermann (pandeiros) e pelo jordaniano Ahmad Al-Khatib (alaúde), que também mostraram sons que remetem à um passado remoto e à ancestralidade palestina. Bom show.
Já o Trio 3-63, formado pelo anfitrião Marcos Suzano, a flautista Andrea Ernest e o pianista Paulo Braga proporcionaram uma aula de música brasileira profunda, resgatando clássicos de Joaquim Calado (1848- 1880, considerado um dos criadores do chorinho) e dos maestros Moacir Santos e Tom Jobim.
Ainda na fatídica noite de sexta, o japonês Oki e sua Dub Ainú Band foram responsáveis pelo melhor show do primeiro dia do PercPan, com sua música original da ilha de Hokkaido (o gelado extremo norte do Japão).
Duro foi aguentar a dupla francesa Cyril Hernandez & Cyrille Brissot, que fizeram muita presepada e pouca música. Mas o pior, como se sabe, ainda estaria por vir. Felizmente, a noite de sábado redimiu o festival.
Excessos
Para a produtora Beth Cayres, organizadora do PercPan desde sua primeira edição, os incidentes de sexta-feira se deveram à “um excesso de entusiasmo de ambas as partes“ (artistas e público). “Quando eu vi aquela meninada de 13, 14 anos gritando, eu me lembrei até dos Beatles“, acrescentou.
“E a questão deles terem tomado uma cerveja a mais ou a menos é bobagem. Nunca vi Vinícius (de Moraes) sóbrio. Mas eu estou muito feliz por mais esse PercPan realizado com sua grade original em ano de crise. Estou realizada“, concluiu.
sábado, setembro 05, 2009
BEBEDEIRA E ROUBO NO PRIMEIRO DIA DO PERCPAN
A primeira noite do 16º PercPan, no Teatro Castro Alves, foi desastrosa. Não por culpa da produção do evento ou do TCA, mas por conta do amadorístico e acidentado show da atração mais esperada da noite: a banda americana Beirut, cujos integrantes estavam visivelmente bêbados.
No meio do show, em uma desastrada tentativa de interação com a plateia, o vocalista Zach Condon pediu que as pessoas se levantassem das cadeiras. Centenas de pessoas se levantaram e se dirigiram para o gargarejo.
Em seguida, o rapaz caiu na estupidez de chamar o público para o palco. Em questão de segundos, havia algo em torno de 300 pessoas sobre o palco. O caos tomou conta do recinto, as luzes do teatro se acenderam e a equipe de produção entrou em desespero. O cantor, após se desvencilhar de tietes enlouquecidas, se refugiou atrás da bateria.
"Por favor, recuem do palco", pediu, insistidas vezes, um dos técnicos do evento. Com diversos seguranças entrando em cena, o público começou a descer. Com as luzes acesas – até o fim da noite – a banda retomou o show.
Após uma música, um dos técnicos voltou e anunciou ao microfone: "Alguém roubou um microfone. É só devolver, OK?“, pediu.
E nesse ritmo, com seis rapazes no palco variando entre levemente bêbados a completamente chapados (caso do vocalista), o showzinho revelou-se um tremendo de um mico. Com a voz engrolada, Zach Condon mal conseguia falar com o público, muito menos soprar seu trumpete. Poucas músicas depois da confusão, a banda se retira, visivelmente constrangida.
O técnico volta e comunica que a banda voltará para mais duas músicas, mas só depois de devolverem "o microfone e um instrumento roubados". Minutos se passaram até que eles voltam, tocam duas músicas e se retiram, murchos, por conta do vexame.
Para o diretor do TCA, Moacyr Gramacho, o que aconteceu na noite de sexta-feira foi “uma química muito grande entre banda e público”.
Segundo ele, não foi registrado nenhum dano, mas tanto a produção do evento como a equipe técnica precisaram trabalhar muito para evitar maiores incidentes. “Temos que aprender com situações deste tipo para que não aconteçam conflitos. Nós sabemos que o TCA tem um público que não gosta que se levante durante as apresentações. É um desafio contornar tudo. Mas nós conseguimos”.
(Colaborou Eduardo Vieira)
No meio do show, em uma desastrada tentativa de interação com a plateia, o vocalista Zach Condon pediu que as pessoas se levantassem das cadeiras. Centenas de pessoas se levantaram e se dirigiram para o gargarejo.
Em seguida, o rapaz caiu na estupidez de chamar o público para o palco. Em questão de segundos, havia algo em torno de 300 pessoas sobre o palco. O caos tomou conta do recinto, as luzes do teatro se acenderam e a equipe de produção entrou em desespero. O cantor, após se desvencilhar de tietes enlouquecidas, se refugiou atrás da bateria.
"Por favor, recuem do palco", pediu, insistidas vezes, um dos técnicos do evento. Com diversos seguranças entrando em cena, o público começou a descer. Com as luzes acesas – até o fim da noite – a banda retomou o show.
Após uma música, um dos técnicos voltou e anunciou ao microfone: "Alguém roubou um microfone. É só devolver, OK?“, pediu.
E nesse ritmo, com seis rapazes no palco variando entre levemente bêbados a completamente chapados (caso do vocalista), o showzinho revelou-se um tremendo de um mico. Com a voz engrolada, Zach Condon mal conseguia falar com o público, muito menos soprar seu trumpete. Poucas músicas depois da confusão, a banda se retira, visivelmente constrangida.
O técnico volta e comunica que a banda voltará para mais duas músicas, mas só depois de devolverem "o microfone e um instrumento roubados". Minutos se passaram até que eles voltam, tocam duas músicas e se retiram, murchos, por conta do vexame.
Para o diretor do TCA, Moacyr Gramacho, o que aconteceu na noite de sexta-feira foi “uma química muito grande entre banda e público”.
Segundo ele, não foi registrado nenhum dano, mas tanto a produção do evento como a equipe técnica precisaram trabalhar muito para evitar maiores incidentes. “Temos que aprender com situações deste tipo para que não aconteçam conflitos. Nós sabemos que o TCA tem um público que não gosta que se levante durante as apresentações. É um desafio contornar tudo. Mas nós conseguimos”.
(Colaborou Eduardo Vieira)
sexta-feira, setembro 04, 2009
DANDO AQUELA FORÇA À RAPAZIADA...
Pastel De Miolos
"Ciranda" (CD Virtual 2009)
O que é ser punk-rock?
A resposta é bem simples: ser punk é ser você. E não o "estar punk" como muito se banalizou. Ser uma banda punk-rock ao longo de quinze anos de estrada, sem perder o prumo e mantendo o padrão sonoro é ser punk-rock! O discurso e a pegada estão lá, como essência de toda uma história e o comprometimento com sua própria verdade, e claro, também com o acompanhamento necessário nas atualizações cotidianas.
O Power Trio baiano Pastel De Miolos (P.D.M.) formado por Alisson Lima (guitarra e voz), Alex Costa (baixo e voz) e Wilson Santana (bateria e backing vocal) costuram bem as páginas da vida de uma história ímpar, no formato primitivo dos três acordes, palavras sinceras e energia tribal. Sem maquiagens. A proto-gênese da arte embutida no ser humano.
Agora em "Ciranda", seu mais recente trabalho, um quase disco-cheio com nove balaços punks saídos de uma oficina bate-estaca, em que prestam homenagens explícitas às suas referências musicais brazucas e gringas como Cólera, Ratos de Porão, Os Replicantes, Garotos Podres, Inocentes, Dead Kennedys, The Ramones, The Clash, entre tantos outros. Sonoridade punk pós-77 e hardcore old school celebram a amizade entre esses baianos do interior. É isso o demonstrado no disco de produção esmerada do magistral Jera Cravo.
Algumas dicas: A faixa "Terra em transe" é um petardo de 46 segundos reportando a uma instantânea roda de pogo que faz lembrar o primitivismo hardcore do Olho Seco ou do ianque 7 Seconds. “Opressão...” é a veia atualizada, um grito desesperado, xilofone, cowbell, paredes de guitarras, baixo matador e bateria pulsante. Já "Eles", caberia muito bem no repertório de um atualizado Garotos Podres ou no esquecido Detrito Federal. A pedrada moderna vem com "Ser Humano" com um riff simples e letra afiada. Ei, acho melhor você escutar o disco e comprovar o quanto mais experiência e estrada tem o P.D.M., melhor fica sua música!
“Ciranda” foi gravado com recursos do “EDITAL de APOIO À PRODUÇÃO DE CONTEÚDO DIGITAL EM MÚSICA (FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA/FUNDO DE CULTURA), é um lançamento da Brechó Discos em parceria com vários com Selos, NetLabels, Blog’s, Sites especializados em música e poderá ser baixado de forma gratuita.
(por Jesuino Oliveira LadoNorte.Net)
terça-feira, setembro 01, 2009
MICRO-RESENHAS OU MICRORRESENHAS? CARTAS PARA A REDAÇÃO
A (volta da) cueca por cima
Com seu nome quilométrico, o Capitão Cometo & Os Formidáveis Ladrões... é uma das novidades do rock local. Trata-se de uma brincadeira do videomaker Rodrigo Luna e outros membros de bandas. O primeiro registro é este EP com cinco faixas, incluindo os hits No Cuzinho e Ela Disse. Divertido, mas, como toda piada, corre o risco de perder a graça depois de algumas audições. Risco este assumido na cara de pau mesmo, como deve ser.
Colesterol Sessions
Capitão Cometo & Os Formidáveis Ladrões de Parafina da Terra do Nunca Extreme
Independente
Preço não divulgado
www.myspace.com/capitaocometo
Deuses do metal
Uma das bandas mais representativas do heavy metal clássico, a Judas Priest está com novo CD ao vivo na praça. Em onze faixas, o grupo liderado pelo vocalista Rob Halford esbanja peso, riffs oitavados e solos dobrados de guitarra (marca registrada da dupla Glenn Tipton e K.K. Downing). O repertório privilegia canções de álbuns mais recentes, como Death e Prophecy (ambas de Nostradamus, último CD). A clássica Painkiller fecha o pacote.
A Touch of Evil Live
Judas Priest
Sony Music
R$ 24,90
www.judaspriest.com
Os apuros de um banana
Segundo volume da premiada série infanto-juvenil Diário de um banana, Rodrick é o cara traz as novas agruras sofridas pelo garoto Greg Heffley, que relata tudo em primeira pessoa, no diário do título. Depois de Harry Potter, esta série do escritor e desenhista americano Jeff Kinney se constituiu no maior sucesso do mercado de literatura infanto-juvenil, atingindo 70 milhões de leitores no mundo inteiro. O que talvez seja o principal atrativo do Diário de um banana é que aqui os personagens, ao invés de enfadonhos aprendizes de feiticeiros britânicos, são crianças normais, que têm de lidar com uma rotina escolar de tarefas de casa, aulas de ginástica e bullying (suavizado), tudo sempre com um senso de humor ligeiramente sarcástico, com ritmo de sitcom de boa qualidade, na linha de Everybody Hates Chris. Não a toa, um filme já está sendo produzido em Hollywood, para capitalizar nas telonas o sucesso entre os leitores. Em Rodrick é o cara, o menino Greg tem de rebolar para se safar do seu irmão mais velho, que descobriu um fato extremamente constrangedor sobre ele, ocorrido no verão passado. Humor e diversão para crianças de 8 a 80 anos.
Diário de um banana - Rodrick é o cara
Jeff Kinney
V & R Editora
224 p. | R$ 32,90
www.livropresente.com
Lounge que não compromete
O quarteto Trash Pour 4 trafega pelo pantanoso terreno do ultracool, aquele que conjuga música pop com qualquer coisa que remeta a uma certa atitude fashion – incluindo, claro, os horripilantes óculos abelhão que se espalharam como uma praga por todo o mundo que, até então, ainda se supunha civilizado. Apesar dos riscos envolvidos, Something Stupid, terceiro CD do grupo, não chega a comprometer ao misturar covers razoavelmente interessantes com material autoral que, se não reinventa a roda, também não chega a fazer feio. O CD abre com uma dispensável versão de Babalu (famosa com Bola de Nieve), mas ganha fôlego com a divertida releitura para a obscura canção italiana Ci Reprova la Bossa Nova (de Eydie Gorme). Outros destaques são a singeleza alcançada em If I Fell (Lennon & McCartney), na faixa-título (sucesso nas vozes de Nancy e Frank Sinatra) e If I Were a Rich Man (do musical Um Violinista no Telhado). Há ainda a curiosa Delírio, Meu, do repertório do Grupo Rumo. Média 5, passou.
Something Stupid
Trash Pour 4
MCD
R$ 19,90
www.mcd.com.br/trash
Registro histórico de Cat
Folk rock, soft rock, não importa. Nos anos 70, Cat Stevens era o nome que importava quando se falava em rock acústico bom para tocar no rádio. Boa parte dessa moral foi angariada após o lançamento do álbum Tea For The Tillerman (1970), seu segundo disco. Foi dele que saíram hits ainda hoje lembrados por cantores de barzinho ou em rodinhas de violão como Wild World, Father and Son, On The Road To Find Out e Hard Headed Woman. A pegada suave da sua voz doce com o dedilhado delicado do seu violão fizeram a alegria da juventude paz & amor. Poucos meses após o lançamento de Tillerman, Stevens viajou aos Estados Unidos em turnê para uma série de shows. Em Los Angeles, gravou uma apresentação curta com sua banda nos estúdios da rádio KCET. É esta apresentação que chega agora em DVD, trazendo Stevens no melhor da sua forma, interpretando algumas de suas composições mais significativas, como as já citadas e outras, como Moonshadow, Longer Boats e Where do The Children Play?. Poucos anos depois, esgotado pelos excessos da vida de pop star, renunciou à música e converteu-se ao islamismo, adotando o nome de Yusuf Islam. Só em 2006, retornou aos palcos e estúdios. Mesmo que não o fizesse, já tinha dado seu (belo) recado.
Tea for the Tillerman Live
Cat Stevens
Coqueiro Verde
R$ 29,90
www.catstevens.com
Tchekhov em quadrinhos
No Brasil, o escritor russo Anton Tchekhov costuma estar mais associado ao teatro. Autor de textos antológicos diversas vezes montados País afora, como A Gaivota, Tio Vânia e O Jardim das Cerejeiras, ele tem agora uma pequena seleção de contos vertidos para a linguagem dos quadrinhos, através da adaptação de Ronaldo Antonelli (roteiro) e Francisco Vilachã (arte). São cinco contos: Aniuta, O investigador, A revelação, O infrator e A aposta. Em todos, prevalece o estilo introspectivo do russo, um humanista tristonho, de pouca fé na humanidade – um sábio realista, portanto. Um exemplo claro está em A revelação, no qual um homem rico de meia idade, por acaso, descobre ter uma insuspeitada veia artística. A princípio maravilhado com sua habilidade, ele vai aos poucos perdendo o deslumbre, quando lembra-se da vida dura que costumam ter os artistas – até desistir por completo de se expressar. Para todas as idades.
Contos de Tchekhov
Tchekhov / Antonelli / Vilachã
Escala Educacional
64 p. | R$ 23,90
www.escalaeducacional.com.br
Clássicos da infâmia de volta em show arrasador
A banda que soltou mil bombas de cuspe e desprezo sobre o Palácio de Buckingham – e ajudou a libertar a música pop do virtuosismo masturbatório do rock progressivo – comemorou os trinta anos do seu primeiro álbum (Never Mind The Bollocks, 1977) com uma sequência de cinco shows arrasadores na Brixton Academy de Londres, em novembro de 2007. Um desses shows está na íntegra aqui, neste DVD que só agora chega ao mercado brasileiro, mais uma vez dirigido por Julien Temple – que assinou outros dois filmes com a banda: The Great Rock ‘n‘ Roll Swindle (1980) e O Lixo e a Fúria (2000). Já meio velhuscos, mas ainda com fogo nos olhos, Johnny Rotten & Cia fazem um show redondinho, com o peso e a raiva que os caracterizaram desde o início, em 1975. Estão aqui todos os hits: Pretty Vacant (que abre o show), Holydays in The Sun, Problems, Liar, God Save The Queen, Anarchy in The U.K. e o tradicional cover de No Fun (The Stooges). A plateia é um show a parte, com os punks de primeira hora, já cinquentões, enlouquecendo no meio da garotada. Uma celebração punk.
There‘ll Always Be An England
Sex Pistols
Coqueiro Verde
R$ 39
www.sexpistolsofficial.com
A cartilha da boemia pelo homem que a criou
Nelson Gonçalves foi o crooner definitivo da música popular brasileira. Foi o homem que levou ao paroxismo o conceito de cantor romântico à moda antiga, de vozeirão talhado no rádio, nos bailes e na noite. Machão até o último fio de cabelo e detentor do dó de peito (um termo errôneo do ponto de vista técnico, mas cheio de significado) mais arrepiante da MPB, Nelsão – com o perdão da intimidade – conheceu a glória e a riqueza na sua longa trajetória, mas também desceu por um poço sem fundo ao se viciar em cocaína. Neste DVD estão reunidas basicamente todas – ou pelo menos, as mais importantes – aparições de Nelson na Globo, com o especial Nelson Gonçalves - 40 Anos (1981), comemorando seus 40 anos de carreira, mais diversos clipes produzidos para o Fantástico nos anos 70 e 80 e aparições no programa Globo de Ouro. Entre este clipes há diversos duetos belíssimos, como Lembranças (com Martinho da Vila), Louco (com Alcione) e A Última Estrofe (com Orlando Silva). Nos extras, um incrível depoimento de 15 minutos onde ele conta como entrou e saiu do vício maldito. A arte da boemia ensinada pelo seu maior mestre.
Eternamente Nelson
Nelson Goncalves
Sony Music
R$ 39,90
www.sonymusic.com.br
O tal do “pop adulto“
A Dave Matthews Band é a representação mais significativa dentro do subgênero conhecido nos Estados Unidos como “adult pop“. Uma contradição em termos, claro, mas os ianques são muito bons nisso, como se sabe. Neste novo CD, o grupo liderado pelo sul-africano naturalizado americano Dave Matthews homenageia o saxofonista da banda, LeRoi Moore, morto em 2008. É dele o solo de sax que está na faixa de abertura, Grux, que era também seu apelido. Fãs do estilo “adulto“ de Matthews deverão gostar de mais este álbum onde ele continua fazendo aquele típico som dirigido para trintões e quarentões que não se limitam aos Dire Straits e Pink Floyds da vida. Em que pesem as composições bem estruturadas e a execução extremamente profissional das canções – o baterista Carter Beauford é sem dúvida, um dos melhores do mundo – o disco soa, como bem notou o resenhista da revista inglesa Uncut, como “o Counting Crows com Sting no vocal“. Ou seja: um pesadelo para roqueiros de estirpe. Mas quem já gosta deve curtir mais este.
Big Whiskey
Dave Matthews Band
Sony Music
R$ 29,90
www.davematthewsband.com
Com seu nome quilométrico, o Capitão Cometo & Os Formidáveis Ladrões... é uma das novidades do rock local. Trata-se de uma brincadeira do videomaker Rodrigo Luna e outros membros de bandas. O primeiro registro é este EP com cinco faixas, incluindo os hits No Cuzinho e Ela Disse. Divertido, mas, como toda piada, corre o risco de perder a graça depois de algumas audições. Risco este assumido na cara de pau mesmo, como deve ser.
Colesterol Sessions
Capitão Cometo & Os Formidáveis Ladrões de Parafina da Terra do Nunca Extreme
Independente
Preço não divulgado
www.myspace.com/capitaocometo
Deuses do metal
Uma das bandas mais representativas do heavy metal clássico, a Judas Priest está com novo CD ao vivo na praça. Em onze faixas, o grupo liderado pelo vocalista Rob Halford esbanja peso, riffs oitavados e solos dobrados de guitarra (marca registrada da dupla Glenn Tipton e K.K. Downing). O repertório privilegia canções de álbuns mais recentes, como Death e Prophecy (ambas de Nostradamus, último CD). A clássica Painkiller fecha o pacote.
A Touch of Evil Live
Judas Priest
Sony Music
R$ 24,90
www.judaspriest.com
Os apuros de um banana
Segundo volume da premiada série infanto-juvenil Diário de um banana, Rodrick é o cara traz as novas agruras sofridas pelo garoto Greg Heffley, que relata tudo em primeira pessoa, no diário do título. Depois de Harry Potter, esta série do escritor e desenhista americano Jeff Kinney se constituiu no maior sucesso do mercado de literatura infanto-juvenil, atingindo 70 milhões de leitores no mundo inteiro. O que talvez seja o principal atrativo do Diário de um banana é que aqui os personagens, ao invés de enfadonhos aprendizes de feiticeiros britânicos, são crianças normais, que têm de lidar com uma rotina escolar de tarefas de casa, aulas de ginástica e bullying (suavizado), tudo sempre com um senso de humor ligeiramente sarcástico, com ritmo de sitcom de boa qualidade, na linha de Everybody Hates Chris. Não a toa, um filme já está sendo produzido em Hollywood, para capitalizar nas telonas o sucesso entre os leitores. Em Rodrick é o cara, o menino Greg tem de rebolar para se safar do seu irmão mais velho, que descobriu um fato extremamente constrangedor sobre ele, ocorrido no verão passado. Humor e diversão para crianças de 8 a 80 anos.
Diário de um banana - Rodrick é o cara
Jeff Kinney
V & R Editora
224 p. | R$ 32,90
www.livropresente.com
Lounge que não compromete
O quarteto Trash Pour 4 trafega pelo pantanoso terreno do ultracool, aquele que conjuga música pop com qualquer coisa que remeta a uma certa atitude fashion – incluindo, claro, os horripilantes óculos abelhão que se espalharam como uma praga por todo o mundo que, até então, ainda se supunha civilizado. Apesar dos riscos envolvidos, Something Stupid, terceiro CD do grupo, não chega a comprometer ao misturar covers razoavelmente interessantes com material autoral que, se não reinventa a roda, também não chega a fazer feio. O CD abre com uma dispensável versão de Babalu (famosa com Bola de Nieve), mas ganha fôlego com a divertida releitura para a obscura canção italiana Ci Reprova la Bossa Nova (de Eydie Gorme). Outros destaques são a singeleza alcançada em If I Fell (Lennon & McCartney), na faixa-título (sucesso nas vozes de Nancy e Frank Sinatra) e If I Were a Rich Man (do musical Um Violinista no Telhado). Há ainda a curiosa Delírio, Meu, do repertório do Grupo Rumo. Média 5, passou.
Something Stupid
Trash Pour 4
MCD
R$ 19,90
www.mcd.com.br/trash
Registro histórico de Cat
Folk rock, soft rock, não importa. Nos anos 70, Cat Stevens era o nome que importava quando se falava em rock acústico bom para tocar no rádio. Boa parte dessa moral foi angariada após o lançamento do álbum Tea For The Tillerman (1970), seu segundo disco. Foi dele que saíram hits ainda hoje lembrados por cantores de barzinho ou em rodinhas de violão como Wild World, Father and Son, On The Road To Find Out e Hard Headed Woman. A pegada suave da sua voz doce com o dedilhado delicado do seu violão fizeram a alegria da juventude paz & amor. Poucos meses após o lançamento de Tillerman, Stevens viajou aos Estados Unidos em turnê para uma série de shows. Em Los Angeles, gravou uma apresentação curta com sua banda nos estúdios da rádio KCET. É esta apresentação que chega agora em DVD, trazendo Stevens no melhor da sua forma, interpretando algumas de suas composições mais significativas, como as já citadas e outras, como Moonshadow, Longer Boats e Where do The Children Play?. Poucos anos depois, esgotado pelos excessos da vida de pop star, renunciou à música e converteu-se ao islamismo, adotando o nome de Yusuf Islam. Só em 2006, retornou aos palcos e estúdios. Mesmo que não o fizesse, já tinha dado seu (belo) recado.
Tea for the Tillerman Live
Cat Stevens
Coqueiro Verde
R$ 29,90
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Tchekhov em quadrinhos
No Brasil, o escritor russo Anton Tchekhov costuma estar mais associado ao teatro. Autor de textos antológicos diversas vezes montados País afora, como A Gaivota, Tio Vânia e O Jardim das Cerejeiras, ele tem agora uma pequena seleção de contos vertidos para a linguagem dos quadrinhos, através da adaptação de Ronaldo Antonelli (roteiro) e Francisco Vilachã (arte). São cinco contos: Aniuta, O investigador, A revelação, O infrator e A aposta. Em todos, prevalece o estilo introspectivo do russo, um humanista tristonho, de pouca fé na humanidade – um sábio realista, portanto. Um exemplo claro está em A revelação, no qual um homem rico de meia idade, por acaso, descobre ter uma insuspeitada veia artística. A princípio maravilhado com sua habilidade, ele vai aos poucos perdendo o deslumbre, quando lembra-se da vida dura que costumam ter os artistas – até desistir por completo de se expressar. Para todas as idades.
Contos de Tchekhov
Tchekhov / Antonelli / Vilachã
Escala Educacional
64 p. | R$ 23,90
www.escalaeducacional.com.br
Clássicos da infâmia de volta em show arrasador
A banda que soltou mil bombas de cuspe e desprezo sobre o Palácio de Buckingham – e ajudou a libertar a música pop do virtuosismo masturbatório do rock progressivo – comemorou os trinta anos do seu primeiro álbum (Never Mind The Bollocks, 1977) com uma sequência de cinco shows arrasadores na Brixton Academy de Londres, em novembro de 2007. Um desses shows está na íntegra aqui, neste DVD que só agora chega ao mercado brasileiro, mais uma vez dirigido por Julien Temple – que assinou outros dois filmes com a banda: The Great Rock ‘n‘ Roll Swindle (1980) e O Lixo e a Fúria (2000). Já meio velhuscos, mas ainda com fogo nos olhos, Johnny Rotten & Cia fazem um show redondinho, com o peso e a raiva que os caracterizaram desde o início, em 1975. Estão aqui todos os hits: Pretty Vacant (que abre o show), Holydays in The Sun, Problems, Liar, God Save The Queen, Anarchy in The U.K. e o tradicional cover de No Fun (The Stooges). A plateia é um show a parte, com os punks de primeira hora, já cinquentões, enlouquecendo no meio da garotada. Uma celebração punk.
There‘ll Always Be An England
Sex Pistols
Coqueiro Verde
R$ 39
www.sexpistolsofficial.com
A cartilha da boemia pelo homem que a criou
Nelson Gonçalves foi o crooner definitivo da música popular brasileira. Foi o homem que levou ao paroxismo o conceito de cantor romântico à moda antiga, de vozeirão talhado no rádio, nos bailes e na noite. Machão até o último fio de cabelo e detentor do dó de peito (um termo errôneo do ponto de vista técnico, mas cheio de significado) mais arrepiante da MPB, Nelsão – com o perdão da intimidade – conheceu a glória e a riqueza na sua longa trajetória, mas também desceu por um poço sem fundo ao se viciar em cocaína. Neste DVD estão reunidas basicamente todas – ou pelo menos, as mais importantes – aparições de Nelson na Globo, com o especial Nelson Gonçalves - 40 Anos (1981), comemorando seus 40 anos de carreira, mais diversos clipes produzidos para o Fantástico nos anos 70 e 80 e aparições no programa Globo de Ouro. Entre este clipes há diversos duetos belíssimos, como Lembranças (com Martinho da Vila), Louco (com Alcione) e A Última Estrofe (com Orlando Silva). Nos extras, um incrível depoimento de 15 minutos onde ele conta como entrou e saiu do vício maldito. A arte da boemia ensinada pelo seu maior mestre.
Eternamente Nelson
Nelson Goncalves
Sony Music
R$ 39,90
www.sonymusic.com.br
O tal do “pop adulto“
A Dave Matthews Band é a representação mais significativa dentro do subgênero conhecido nos Estados Unidos como “adult pop“. Uma contradição em termos, claro, mas os ianques são muito bons nisso, como se sabe. Neste novo CD, o grupo liderado pelo sul-africano naturalizado americano Dave Matthews homenageia o saxofonista da banda, LeRoi Moore, morto em 2008. É dele o solo de sax que está na faixa de abertura, Grux, que era também seu apelido. Fãs do estilo “adulto“ de Matthews deverão gostar de mais este álbum onde ele continua fazendo aquele típico som dirigido para trintões e quarentões que não se limitam aos Dire Straits e Pink Floyds da vida. Em que pesem as composições bem estruturadas e a execução extremamente profissional das canções – o baterista Carter Beauford é sem dúvida, um dos melhores do mundo – o disco soa, como bem notou o resenhista da revista inglesa Uncut, como “o Counting Crows com Sting no vocal“. Ou seja: um pesadelo para roqueiros de estirpe. Mas quem já gosta deve curtir mais este.
Big Whiskey
Dave Matthews Band
Sony Music
R$ 29,90
www.davematthewsband.com