Zion Train, ídolos ingleses do dub, fazem dois shows na Bahia
Principal nome do dub inglês, o grupo londrino Zion Train faz dois shows na Bahia: um hoje na casa de shows Zauber Multicultura (no Centro) e outro na festa de reveillon Universo Paralello, na praia de Pratigi, Ituberá, a 170 quilômetros de Salvador.
Na Zauber, a festa contará com a abertura do grupo carioca Digital Dubs e do local Ministereo Público.
O dub é uma variação do reggae surgida nos anos 70, na Jamaica, a partir das experimentações de engenheiros de som nos estúdios da ilha caribenha. Eles remixavam sucessos do reggae dando ênfase no baixo, que ganhava tons mais graves, além de estenderem a duração das músicas, adicionando efeitos, loops, ecos e reverberações, deixando o som mais espacial e viajante.
Formado em 1990, o Zion Train é justamente o responsável pela popularização do estilo na Europa, além de aproximá-lo das cenas de música eletrônica e world music, elementos com os quais temperou suas músicas.
Além do único membro fundador restante, Neil Perch (baixista e DJ), o grupo conta com diversos músicos respondendo pela parte de vocais, sopros, bateria, teclados e guitarras.
Nos shows da turnê brasileira, porém, somente o líder e mais dois vocalistas (Lua e MC YT) se apresentarão. O show é basicamente Perch discotecando e mixando ao vivo, enquanto os dois vocalistas se revezam ao microfone.
Desde seu primeiro CD, Passage to Indica (1992), ganhou a aclamação do público e a admiração da crítica especializada com sua bem elaborada fusão do reggae dub com outros ritmos dançantes.
Nesta segunda vinda do Zion Train ao Brasil (a primeira foi em 2006), Perch e cia. divulgam seu mais novo CD, Live as One (2007), lançado lá fora em agosto último pelo próprio selo da banda, Universal Egg, e no Brasil, através de uma parceria com os selos Muzamba e SoundSystem Brazil.
No exterior, a crítica especializada saudou Live as One como um bem-vindo retorno do grupo para uma sonoridade estritamente reggae, em detrimento das experimentações world music do passado.
Para os brasileiros, o álbum tem um atrativo a mais na faixa Terror Talk, cuja letra traz duras críticas à Scotland Yard pelo assassinato do jovem mineiro Jean-Charles de Menezes, abatido a tiros no metrô londrino por policiais à paisana que suspeitavam que o rapaz era terrorista.
No vídeo-clipe da faixa, disponível no site You Tube, o rapaz é novamente homenageado. Além do som na medida para animar festas na praia, a edição nacional do CD é caprichada, com textos em português.
Zion Train, Digital Dubs e Ministereo Público
27 de dezembro, 22 horas
Zauber Multicultura (Ladeira da Misericórdia, 11, Pelourinho (3326-2964)
R$ 12 antecipado, R$ 15 na hora
Mais informações: www.zaubermulticultura.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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quarta-feira, dezembro 26, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
OS 4 CACHACEIROS DO APOCALIPSE
Os Mizeravão lançam DVD ao vivo com versões acústicas e eletrificadas de grandes sucessos pop, rock, MPB e heavy metal, sempre com muito humor e escracho
No clássico hit Street Fighting Man (1968), dos Rolling Stones, Mick Jagger mudou a cabeça de uma geração ao perguntar: "O que mais pode um pobre garoto fazer, senão tocar numa banda de rock ‘n‘ roll?".
No caso da banda baiana Os Mizeravão, a pergunta deveria ser ligeiramente reformulada: o que quatro homens feios e ligeiramente acima do peso, apreciadores de rock pesado, bebidas alcólicas e do sexo oposto poderiam fazer, senão tocar numa banda só de curtição?
Pois é isso que essas quatro simpáticas figuras vêm fazendo nos últimos 9 anos, com um ou outro intervalo de tempo. Para comemorar a longeva parceria, o grupo lança hoje à noite o DVD ao vivo Bebendo em Grande Estilo, uma brincadeira com o título do CD Vivendo em Grande Estilo (2002), da Cascadura.
Gravado há cerca de um ano durante um show na Casa da Dinha (Rio Vermelho), o DVD é apenas uma pequena amostra das atrocidades de que a banda é capaz sobre um palco. No DVD há apenas nove músicas, mas o grupo tem mais de 30 ensaiadas.
O vasto repertório é de causar dor de barriga nos puristas, sejam do rock ou da MPB. Com a mesma candidez e cara de pau com que assassinam Amigo, de Roberto Carlos, pisoteiam a manjada - mas que nunca é demais - Rock ‘n‘ Roll All Nite, do Kiss.
E é nessa levada algo cômica, algo esquizofrênica e sempre etílica, que segue o tresloucado show dos Mizeravão, entre Neil Young e Trem da Alegria, Queen e Laura Gaynor, Dr. Silvana e Ramones, Village People e Judas Priest, Thin Lizzy e Fábio Jr.
”O negócio é pra dar risada da cara da gente, mesmo, até porque o que mais fazemos é pagar mico no palco”, admite Leonardo Lionman Leão, o vocalista.
Acompanhado por Jedernight (bateria), Wallie (guitarra) e Marcinho (baixo), Lionman, que é oriundo da cena heavy metal local (foi vocalista das bandas Shadows e Drearylands), garante que a variedade do repertório é fruto das coisas que eles ouvem em casa mesmo: "Ninguém ouve só metal em casa. Ninguém aguenta!", ri.
Os Mizeravão
Lançamento do DVD Bebendo em Grande Estilo
Participação: DJ Nadja Vladi
Hoje, 22 horas
Boomerangue
R. da Paciência, Rio Vermelho (3334-6640)
R$ 10
DIGNIDADE PARA AS BANDAS COVER
Amor à arte, vontade de ficar famoso, necessidades financeiras, mero passatempo. Podem ser inúmeras as razões que levam um músico à se engajar numa banda cover. No caso d'Os Mizeravão, porém, uma rápida passada de olhos no repertório da banda evidencia o caráter estritamente lúdico e recreativo que move o grupo.
"Mas nós não somos uma banda cover", corrige Lion. "Somos uma banda de versões", afirma, sem trocadilho.
"A gente pega as melodias das músicas de que gostamos e fazemos outros arranjos, mudamos a harmonia. Tocamos outra música, praticamente", garante. "Tem algumas que a gente tira de memória, sem ouvir de novo pra sair tudo igualzinho. Você ouve a gente tocando e é outra música totalmente diferente da original, mas ainda assim, reconhecível".
Em outros casos, eles recorrem ao que a modernidade chama de mash-up, uma mistura de hits não necessariamente similares, mas de efeito interessante, como quando emendam uma canção de Fábio Júnior com Anarchy in the U.K., o clássico hino punk dos Sex Pistols.
"Nossa última preocupação é tocar tudo igual", afirma o leonino vocalista, cheio de convicção.
Sem saber, Lionman e sua trupe acabam, dessa forma, concedendo uma dignidade até então inédita à mais desprezada classe das bandas de música popular: as próprias bandas cover.
Após um efêmero porém marcante momento de estouro nacional nos anos 90, esses grupos meio que se recolheram aos barzinhos e bailes de formatura que costumam animar, mas na verdade, nunca acabaram. O que difere uma boa banda cover de um mero copiador é exatamente aquilo que os Mizeravão esbanjam: personalidade.
No clássico hit Street Fighting Man (1968), dos Rolling Stones, Mick Jagger mudou a cabeça de uma geração ao perguntar: "O que mais pode um pobre garoto fazer, senão tocar numa banda de rock ‘n‘ roll?".
No caso da banda baiana Os Mizeravão, a pergunta deveria ser ligeiramente reformulada: o que quatro homens feios e ligeiramente acima do peso, apreciadores de rock pesado, bebidas alcólicas e do sexo oposto poderiam fazer, senão tocar numa banda só de curtição?
Pois é isso que essas quatro simpáticas figuras vêm fazendo nos últimos 9 anos, com um ou outro intervalo de tempo. Para comemorar a longeva parceria, o grupo lança hoje à noite o DVD ao vivo Bebendo em Grande Estilo, uma brincadeira com o título do CD Vivendo em Grande Estilo (2002), da Cascadura.
Gravado há cerca de um ano durante um show na Casa da Dinha (Rio Vermelho), o DVD é apenas uma pequena amostra das atrocidades de que a banda é capaz sobre um palco. No DVD há apenas nove músicas, mas o grupo tem mais de 30 ensaiadas.
O vasto repertório é de causar dor de barriga nos puristas, sejam do rock ou da MPB. Com a mesma candidez e cara de pau com que assassinam Amigo, de Roberto Carlos, pisoteiam a manjada - mas que nunca é demais - Rock ‘n‘ Roll All Nite, do Kiss.
E é nessa levada algo cômica, algo esquizofrênica e sempre etílica, que segue o tresloucado show dos Mizeravão, entre Neil Young e Trem da Alegria, Queen e Laura Gaynor, Dr. Silvana e Ramones, Village People e Judas Priest, Thin Lizzy e Fábio Jr.
”O negócio é pra dar risada da cara da gente, mesmo, até porque o que mais fazemos é pagar mico no palco”, admite Leonardo Lionman Leão, o vocalista.
Acompanhado por Jedernight (bateria), Wallie (guitarra) e Marcinho (baixo), Lionman, que é oriundo da cena heavy metal local (foi vocalista das bandas Shadows e Drearylands), garante que a variedade do repertório é fruto das coisas que eles ouvem em casa mesmo: "Ninguém ouve só metal em casa. Ninguém aguenta!", ri.
Os Mizeravão
Lançamento do DVD Bebendo em Grande Estilo
Participação: DJ Nadja Vladi
Hoje, 22 horas
Boomerangue
R. da Paciência, Rio Vermelho (3334-6640)
R$ 10
DIGNIDADE PARA AS BANDAS COVER
Amor à arte, vontade de ficar famoso, necessidades financeiras, mero passatempo. Podem ser inúmeras as razões que levam um músico à se engajar numa banda cover. No caso d'Os Mizeravão, porém, uma rápida passada de olhos no repertório da banda evidencia o caráter estritamente lúdico e recreativo que move o grupo.
"Mas nós não somos uma banda cover", corrige Lion. "Somos uma banda de versões", afirma, sem trocadilho.
"A gente pega as melodias das músicas de que gostamos e fazemos outros arranjos, mudamos a harmonia. Tocamos outra música, praticamente", garante. "Tem algumas que a gente tira de memória, sem ouvir de novo pra sair tudo igualzinho. Você ouve a gente tocando e é outra música totalmente diferente da original, mas ainda assim, reconhecível".
Em outros casos, eles recorrem ao que a modernidade chama de mash-up, uma mistura de hits não necessariamente similares, mas de efeito interessante, como quando emendam uma canção de Fábio Júnior com Anarchy in the U.K., o clássico hino punk dos Sex Pistols.
"Nossa última preocupação é tocar tudo igual", afirma o leonino vocalista, cheio de convicção.
Sem saber, Lionman e sua trupe acabam, dessa forma, concedendo uma dignidade até então inédita à mais desprezada classe das bandas de música popular: as próprias bandas cover.
Após um efêmero porém marcante momento de estouro nacional nos anos 90, esses grupos meio que se recolheram aos barzinhos e bailes de formatura que costumam animar, mas na verdade, nunca acabaram. O que difere uma boa banda cover de um mero copiador é exatamente aquilo que os Mizeravão esbanjam: personalidade.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
VEEEEEENHA!...
Pajelança ainda em alta, agora solo
Uma das mulheres mais influentes do rock, Siouxsie Sioux é remanescente da primeira hora do punk inglês, acompanhada da sua banda The Banshees. Separada do marido e baterista Budgie, esta jovem de 50 anos - garganta intacta - retorna à cena renovada e remoçada, produzindo uma obra que soa atual, mas sem abrir mão de sua identidade. Em Into a Swan, mostra o caminho das pedras as bandas neófitas que emulam o som dos anos 80. Here Comes That Day é musical de cabaré brechtiano em grande estilo, They Follow You tem pegada Bowie e About to Happen trás a urgência sugerida pelo título. E as batidas tribais características também continuam lá. CD bastante regular, que se ouve com prazer e surpresa do início ao fim. Grande "estréia".
Mantaray
Siouxsie
Universal
R$ 25,60
www.siouxsiemantaray.com
Nem Sansão, nem Dalila, nem nada
O título deste disco, Every Second Counts (Cada Segundo Conta, em português) é perfeito por que ilustra perfeitamente a agonia que é ter de ouví-lo. O ouvinte conta mesmo cada segundo para que ele acabe logo. Este é o quarto CD da bandinha de pop-punk Plain White T‘s, de Chicago. Só no terceiro, All That We Needed (2005), conseguiu se destacar dos milhões de outras bandas exatamente iguais a ela, graças à insossa baladinha acústica Hey There, Delilah (E Aí, Dalila), descaradamente incluída no presente CD. Ainda fez mais algum sucesso com uma cover do hit Umbrella, de Rihanna. Mas não adianta, pois apenas resvalam na mesmice brutal que acomete 99,9% das bandas do gênero.
Every Second Counts
Plain White T‘S
Universal
R$ 25,10
http://www.plainwhitets.com/
Astros baianos por uma boa causa
O médico Eduardo Gil, um dos fundadores do bloco Eva, é o idealizador deste projeto solidário: um CD com versões de clássicos natalinos, com renda revertida para as instituições caridade Espaço Lar Vida e Naspec. O destaque é a música-tema, reunindo nomes como Durval Lelys, Luiz Caldas, Carla Visi, Armandinho e Fábio Cascadura (!). Mas o filé do CD mesmo é o trio Armandinho, Dodô & Osmar, que comparece com uma versão - para ouvir de joelhos - de Boas Festas, de Assis Valente. Inclusive, há de se louvar o fantástico trabalho de produção de andré t., que resgatou a sonoridade clássica do famoso trio original do carnaval baiano. É de se pensar o que esse rapaz faria se tivesse oportunidade de produzir um CD cheio para Armandinho, Dodô & Osmar. Se tem alguém capaz de devolvê-los à sua glória original, esse alguém é andré t. Alô, Armandinho! Se liga aí, rapaz! Ainda no CD, Cascadura e Retrofoguetes fazem bonito como sempre, o primeiro debulhando ótima versão para Merry Christmas (I Don't Wanna Fight Tonight), dos Ramones. E até o traidô do movimento Tuca Fernandes (ex-Diário Oficial, como muitos por aqui devem se lembrar), surpreende, com versão bluesy de Noite Feliz. O CD pode ser comprado na Central do Carnaval, Vídeo Hobby e CD Air. Boa causa, boa música.
Um Natal Feliz Para Todos
Vários
Independente
R$ 18
HQs de ponta para gente grande
A melhor revista de HQs adultas nas bancas chega à sua 8ª edição arrasadora. Em 100 páginas, 4 das melhores séries da atualidade: Planetary (de Warren Ellis e John Cassaday), Promethea (de Alan Moore e J.H. Williams), DMZ (de Brian Wood e Ricardo Burchielli) e John Constantine Hellblazer (de Brian Azzarello e Richard Corben). Planetary continua com sua trama alucinante, envolvendo anjos, super-seres e a mitologia da ficção científica e cultura pop do século XX. Promethea é o gênio de Alan Moore delirando sem amarras. Hellblazer mostra Constantine na prisão. Coitados do outros presos. E DMZ continua mostrando Manhattan transformada em uma zona de guerra.
Pixel Media Magazine nº 8
Vários
Pixel Media
100 p. R$ 9,90
www.pixelquadrinhoscom.br
Três heróis e muitos Batmen
Excelente edição especial mostrando o encontro dos três integrantes da equipe Planetary com o Batman. Elijah Snow, Jakita Wagner e O Baterista, os chamados Arqueólogos do Desconhecido, vão à Gotham City em busca de um homem responsável por várias mortes grotescas. O interessante é que, no universo de Planetary, o Batman não existe. Mas o tal sujeito tem o poder de saltar de realidade em realidade, levando os heróis junto. A cada salto, eles encontram - e enfrentam - um Batman diferente, incluindo o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (1986), o gordinho Bruce West da série de TV (66), a retomada clássica de Neal Adams (73) e o original de Bill Finger, (38), de arma na mão. Bom jumping point para novos leitores, já que não é necessário ser leitor de Planetary para entender a história em si.
Planetary / Batman: Noite na Terra
Warren Ellis / John Cassaday
Pixel Media
52 p. R$ 11,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Sax e piano num clube esfumaçado
Joe Lovano tem o jazz no sangue. Filho de Tony Big T Lovano, considerado o maior saxofonista de Cleveland (EUA), já tocou com muitos gigantes do estilo e é considerado um dos melhores saxes da atualidade. Já o pianista Hank Jones, um pouco mais velho, é considerado pelos entendidos uma espécie de ponte entre o velho swing dos anos 40 e o complexo bop dos anos 50. Juntos, Joe e Hank fizeram um magnífico show no Dizzy‘s Club (Nova Iorque), registrado neste CD ao vivo, lançado no Brasil em função da apresentação de Lovano no último TIM Festival. Se não chega a ser genial, é muitíssimo bem executado. Um must para os apreciadores.
Kids: Live at Dizzy‘s
Joe Lovano & Hank Jones
Blue Note / EMI
R$ 28,90
http://www.bluenote.com/
Uma das mulheres mais influentes do rock, Siouxsie Sioux é remanescente da primeira hora do punk inglês, acompanhada da sua banda The Banshees. Separada do marido e baterista Budgie, esta jovem de 50 anos - garganta intacta - retorna à cena renovada e remoçada, produzindo uma obra que soa atual, mas sem abrir mão de sua identidade. Em Into a Swan, mostra o caminho das pedras as bandas neófitas que emulam o som dos anos 80. Here Comes That Day é musical de cabaré brechtiano em grande estilo, They Follow You tem pegada Bowie e About to Happen trás a urgência sugerida pelo título. E as batidas tribais características também continuam lá. CD bastante regular, que se ouve com prazer e surpresa do início ao fim. Grande "estréia".
Mantaray
Siouxsie
Universal
R$ 25,60
www.siouxsiemantaray.com
Nem Sansão, nem Dalila, nem nada
O título deste disco, Every Second Counts (Cada Segundo Conta, em português) é perfeito por que ilustra perfeitamente a agonia que é ter de ouví-lo. O ouvinte conta mesmo cada segundo para que ele acabe logo. Este é o quarto CD da bandinha de pop-punk Plain White T‘s, de Chicago. Só no terceiro, All That We Needed (2005), conseguiu se destacar dos milhões de outras bandas exatamente iguais a ela, graças à insossa baladinha acústica Hey There, Delilah (E Aí, Dalila), descaradamente incluída no presente CD. Ainda fez mais algum sucesso com uma cover do hit Umbrella, de Rihanna. Mas não adianta, pois apenas resvalam na mesmice brutal que acomete 99,9% das bandas do gênero.
Every Second Counts
Plain White T‘S
Universal
R$ 25,10
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Astros baianos por uma boa causa
O médico Eduardo Gil, um dos fundadores do bloco Eva, é o idealizador deste projeto solidário: um CD com versões de clássicos natalinos, com renda revertida para as instituições caridade Espaço Lar Vida e Naspec. O destaque é a música-tema, reunindo nomes como Durval Lelys, Luiz Caldas, Carla Visi, Armandinho e Fábio Cascadura (!). Mas o filé do CD mesmo é o trio Armandinho, Dodô & Osmar, que comparece com uma versão - para ouvir de joelhos - de Boas Festas, de Assis Valente. Inclusive, há de se louvar o fantástico trabalho de produção de andré t., que resgatou a sonoridade clássica do famoso trio original do carnaval baiano. É de se pensar o que esse rapaz faria se tivesse oportunidade de produzir um CD cheio para Armandinho, Dodô & Osmar. Se tem alguém capaz de devolvê-los à sua glória original, esse alguém é andré t. Alô, Armandinho! Se liga aí, rapaz! Ainda no CD, Cascadura e Retrofoguetes fazem bonito como sempre, o primeiro debulhando ótima versão para Merry Christmas (I Don't Wanna Fight Tonight), dos Ramones. E até o traidô do movimento Tuca Fernandes (ex-Diário Oficial, como muitos por aqui devem se lembrar), surpreende, com versão bluesy de Noite Feliz. O CD pode ser comprado na Central do Carnaval, Vídeo Hobby e CD Air. Boa causa, boa música.
Um Natal Feliz Para Todos
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HQs de ponta para gente grande
A melhor revista de HQs adultas nas bancas chega à sua 8ª edição arrasadora. Em 100 páginas, 4 das melhores séries da atualidade: Planetary (de Warren Ellis e John Cassaday), Promethea (de Alan Moore e J.H. Williams), DMZ (de Brian Wood e Ricardo Burchielli) e John Constantine Hellblazer (de Brian Azzarello e Richard Corben). Planetary continua com sua trama alucinante, envolvendo anjos, super-seres e a mitologia da ficção científica e cultura pop do século XX. Promethea é o gênio de Alan Moore delirando sem amarras. Hellblazer mostra Constantine na prisão. Coitados do outros presos. E DMZ continua mostrando Manhattan transformada em uma zona de guerra.
Pixel Media Magazine nº 8
Vários
Pixel Media
100 p. R$ 9,90
www.pixelquadrinhoscom.br
Três heróis e muitos Batmen
Excelente edição especial mostrando o encontro dos três integrantes da equipe Planetary com o Batman. Elijah Snow, Jakita Wagner e O Baterista, os chamados Arqueólogos do Desconhecido, vão à Gotham City em busca de um homem responsável por várias mortes grotescas. O interessante é que, no universo de Planetary, o Batman não existe. Mas o tal sujeito tem o poder de saltar de realidade em realidade, levando os heróis junto. A cada salto, eles encontram - e enfrentam - um Batman diferente, incluindo o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (1986), o gordinho Bruce West da série de TV (66), a retomada clássica de Neal Adams (73) e o original de Bill Finger, (38), de arma na mão. Bom jumping point para novos leitores, já que não é necessário ser leitor de Planetary para entender a história em si.
Planetary / Batman: Noite na Terra
Warren Ellis / John Cassaday
Pixel Media
52 p. R$ 11,90
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Sax e piano num clube esfumaçado
Joe Lovano tem o jazz no sangue. Filho de Tony Big T Lovano, considerado o maior saxofonista de Cleveland (EUA), já tocou com muitos gigantes do estilo e é considerado um dos melhores saxes da atualidade. Já o pianista Hank Jones, um pouco mais velho, é considerado pelos entendidos uma espécie de ponte entre o velho swing dos anos 40 e o complexo bop dos anos 50. Juntos, Joe e Hank fizeram um magnífico show no Dizzy‘s Club (Nova Iorque), registrado neste CD ao vivo, lançado no Brasil em função da apresentação de Lovano no último TIM Festival. Se não chega a ser genial, é muitíssimo bem executado. Um must para os apreciadores.
Kids: Live at Dizzy‘s
Joe Lovano & Hank Jones
Blue Note / EMI
R$ 28,90
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quarta-feira, dezembro 12, 2007
A MAFALDA DO ORIENTE MÉDIO
Cia. das Letras lança consagrada série de Marjane Satrapi em volúme único. Já o filme, sabe lá quando estréia por aqui...
Na década de 1980, o cartunista americano Art Spiegelman marcou época ao publicar uma história autobiográfica intitulada Maus, em que contava como seu pai sobreviveu ao campo de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. Na narrativa, Spiegelman ia e voltava no tempo, estabelecendo relações de causa e efeito entre a psique em frangalhos do pai, após os horrores da Guerra, e sua própria dificuldade de relacionamento com ele. Obra-prima dos quadrinhos mundiais, Maus se tornou a única HQ - ou romance gráfico - a ser premiada com o Pulitzer, prêmio máximo da imprensa americana, fazendo escola.
Persépolis, série de quatro álbuns em quadrinhos da Companhia das Letras (que também publicou Maus há pouco tempo), retoma com brilhantismo o estilo narrativo de Spiegelman. Estão lá a arte - a princípio simples - em preto & branco, a narrativa memorialista e os horrores da guerra. Escrita e desenhada com muita sensibilidade e inteligência pela iraniana Marjane Satrapi, Persépolis apresenta a vida da menina Marjane durante a Revolução Islâmica que derrubou o xá Rezah Pahlevi, em 1979, e a guerra Irã-Iraque que se seguiu.
No primeiro volume, a autora inicia a obra mostrando o descontentamento popular com o regime do xá, simpático e dócil com os imperialistas ocidentais, sua derrubada e a subseqüente instalação dos fundamentalistas no poder. No segundo, enfoca a repressão e o início da Guerra Irã-Iraque (1980-88), o que leva os pais da autora a enviarem-na à Europa. O terceiro volume transfere a narrativa para a Áustria, onde Marjane vive por quatro anos, sua dificuldade de adaptação ao modo de vida ocidental e a adolescência problemática, longe dos pais. No quarto, ela volta ao Irã, onde conhece o rapaz com quem viria a se casar, e ingressa na Escola de Artes Gráficas de Teerã.
Filha de intelectuais liberais, Marjane havia estudado numa escola francesa e laica até o estouro da revolução que empurrou o Irã de volta para a Idade Média. Todo o choque cultural que se seguiu é muito bem explorado nos volumes 1 e 2 da série. Homem sem barba era considerado infiel. Mulher sem véu era tachada de prostituta, correndo o risco de ser apedrejada nas ruas pela turba ensandecida. As escolas bilíngües foram fechadas, assim como as universidades. Mesmo sob esse clima de repressão e terror, Marjane e seus pais ainda tentavam levar uma vida mais ou menos normal.
Logo depois, o ditador iraquiano Saddam Hussein invadiu o Irã, dando início à um conflito que deixou um milhão de mortos. Logo, alimentos e outros itens de necessidade básica sumiram das prateleiras, instalando o caos em Teerã, que vez por outra ainda era bombardeada pelos caças dos iraquianos.
Um dos momentos mais tocantes da série é quando Marjane, ao voltar da escola, descobre que a casa da sua vizinha foi atingida no bombardeio. "Não havia ninguém em casa", disse sua mãe, tentando tranqüilizá-la. O texto que se segue é de uma simplicidade esmagadora: "Quando a gente passou na frente da casa dos Baba-Levy, toda destruída, percebi que ela me puxava discretamente. Algo me dizia que os Baba-Levy estavam lá. Uma coisa chamou minha atenção. Então eu vi um bracelete de turquesa, o que a Neda ganhou da tia, de presente de 14 anos... O bracelete ainda estava preso no... não sei... Grito nenhum poderia aplacar meu sofrimento e minha raiva".
O trauma revoltou a jovem, que se tornou cada vez mais rebelde, o que culminou com sua expulsão da escola. Segundo a tradição islâmica, mulheres virgens não poderiam ser mortas, mesmo que fossem consideradas infiéis. Contudo, isso não era problema para os soldados, que casavam à força com elas e estupravam-nas, para então executá-las.
Temendo destino parecido para Marjane, seus pais a enviaram a Viena, onde viveu pelos quatro anos seguintes. Lá, a autora estabelece o tema central de Persépolis: o sentimento de não-pertencimento, de ser uma eterna estranha numa terra estranha.
Na Europa, ela era uma oriental, vista com desprezo por uns e interesse exótico por outros. De volta ao Irã, no volume 4, ela era uma ocidentalizada, uma infiel. Essa inadequação constante moldou sua personalidade, ora voltando-a para os livros e o isolamento, ora empurrando-a para o enfrentamento. Com o fracasso do seu casamento e a crescente insatisfação com o Irã, Marjane resolve voltar à Europa, desta vez para a França, onde desenvolveu os quatro álbuns desta série.
Imenso sucesso de público e crítica, Persépolis vendeu 400 mil exemplares só na terra do Asterix, ganhando o prêmio de Melhor Historia em Quadrinhos na Feira do Livro de Frankfurt em 2004. Com tanto sucesso, Persépolis está virando um aguardado longa-metragem de animação em preto & branco, com estética igual aos quadrinhos de origem.
Dirigido pela própria Satrapi em parceria com o francês Vincent Paronnaud, o elenco que dublará os personagens é estelar, contando com a eterna deusa Catherine Deneuve e sua filha (com Marcello) Chiara Mastroianni. A estréia é prometida ainda para este ano, na Europa. Com sorte, pode chegar ao Brasil em DVD, em 2008.
segunda-feira, dezembro 10, 2007
4 SEMANAS PARA RENOVAR O TERROR NAS HQS
Álbum 30 dias de noite é relançado para aproveitar estréia no cinema
30 dias de noite
Steve Niles / Ben Templesmith
Devir
88 p. R$ 29,90
www.devir.com.br
As melhores histórias de terror costumam partir de idéias muito simples, porém diabólicas. Chupadores de sangue. Criaturas metade homem, metade lobo. Mortos que se levantam do cemitério. Mas com o tempo e o uso indiscriminado, essa mitologia do horror acaba se desgastando. Daí, de vez em quando, surge a necessidade de se abordar esses mesmos mitos sob um novo ângulo, ou no mínimo, com alguma originalidade.
Foi isso que conseguiu o escritor americano Steve Niles ao criar, em parceria com o desenhista Ben Templesmith, a minissérie em três edições 30 dias de noite, lançada nos EUA no início da década pela editora IDW. Lançada no Brasil (encadernada em um único volume) em 2003 pela Devir, 30 dias de noite volta agora às livrarias numa segunda edição, aproveitando o burburinho causado pela estréia da adaptação para o cinema - na última sexta (7.12) em todo o Brasil, com ótimas resenhas dos críticos.
Sua premissa básica, como costuma acontecer com os melhores clássicos do terror, é diabolicamente simples. Barrow, no Alasca, é uma cidadezinha gelada, mas pacífica.
Localizada no extremo norte da América do Norte, quase no circulo Ártico, tem de conviver todos os anos com mais de dois meses inteiros de sol a pino (no verão, entre 10 de maio e 2 de agosto) e 30 dias de noite (no inverno, entre 18 de novembro e 17 de dezembro).
Localizada no extremo norte da América do Norte, quase no circulo Ártico, tem de conviver todos os anos com mais de dois meses inteiros de sol a pino (no verão, entre 10 de maio e 2 de agosto) e 30 dias de noite (no inverno, entre 18 de novembro e 17 de dezembro).
Ora, se tem uma coisa que os vampiros têm medo, de acordo com a mitologia clássica, é do sol. Dessa forma, uma cidade mergulhada na escuridão durante trinta dias ganha contornos claros de um farto banquete para chupadores de sangue mais espertos.
É isso que acontece com Barrow. Um grupo de 20 vampiros, muito bem preparados, ruma para a cidade bem no momento em que o sol se põe pela última vez antes dos 30 dias noturnos. Cortam toda a comunicação com o mundo exterior, o fornecimento de energia, e por fim, bloqueiam as saídas da localidade.
Transformada em uma ratoeira gigante, os vampiros atacam de surpresa a população indefesa, gerando cenas de puro horror, com muito sangue espirrando, vísceras expostas e desmembramentos, magnificamente deitados no papel pela arte pintada em tons impressionistas de Ben Templesmith.
Em meio ao deus-nos-acuda, Steve Niles centra sua narrativa na dramática luta de um casal de policiais para se salvar e expulsar os monstros da cidade. Contar mais é estragar as surpresas que os autores reservaram para os leitores.
Mas há que se destacar o excelente trabalho da dupla ao criar uma atmosfera realmente aterrorizante para seu pequeno conto de horror. O isolamento dos personagens, o frio, a morte iminente e a presença abjeta dos vampiros são quase palpáveis, proporcionando uma leitura perturbadora - e também muito divertida para os apreciadores do gênero, finalmente brindados com uma história realmente original de vampiros.
30 dias de noite fez tanto sucesso que, além de gerar duas continuações em HQ, ainda deu uma bela alavancada nas carreiras dos dois autores, hoje considerados nomes quentes na indústria americana de entretenimento.
As continuações, Dias sombrios e Retorno à Barrow, já foram lançadas pela mesma Devir, em edições bem-cuidadas. Com o bom resultado que o filme vem tendo nas bilheterias, é bem capaz que em breve vejamos as segunda e terceira parte da Trilogia de Barrow em cartaz nos cinemas.
30 dias de noite
Steve Niles / Ben Templesmith
Devir
88 p. R$ 29,90
www.devir.com.br
quinta-feira, dezembro 06, 2007
METENDO O PÉ NA PORTA DE NOVO, NA RAÇA!
Quase dez anos depois, o festival Boom Bahia retorna à cena em grande estilo, com o melhor da música e da cultura alternativa em dois dias no Pelourinho, de graça
Salvador, essa madrasta malvada para os filhos que ousam pensar diferente, não merece, mas mesmo assim, vai abrigar amanhã e depois, bem no seu coração (o Pelourinho), uma nobre - e porque não dizer, ousada - iniciativa: a retomada definitiva do circuito underground, com a volta do festival Boom Bahia.
A ousadia fica por conta do seu idelizador e organizador, o professor doutor em comunicação (e rock, claro) Messias Guimarães Bandeira, o Messias GB da antológica – e infelizmente, extinta – banda brincando de deus. De aparência frágil, mas com idéias poderosas na cabeça e nenhum medo no coração, Messias está bancando o festival do próprio bolso.
É isso mesmo: ele não conta com patrocinadores ou leis de incentivo. Apenas seus muitos amigos, funcionários de confiança e a enorme vontade de agitar o viciado cenário da cultura local.
"Nosso plano é bem simples: primeiro dominamos o mundo, depois a gente vê o que faz", brinca Messias em entrevista por telefone, apesar da correria e do stress em que uma empreitada desse porte fatalmente incorre. "Eu acho que se não for agora, será da próxima vez", acrescenta.
Ele idealizou e realizou a primeira edição do Boom Bahia em 1997, com as bandas Dois Sapos e Meio, Penélope, brincando de deus, Cascadura e Dead Billies. No ano seguinte, adicionou ao elenco local boas bandas de fora, como Pavilhão 9 e mundo livre s.a. Nas duas edições, conseguiu chamar atenção para a cena local, inclusive de veículos do eixão Rio/SP.
Nesta retomada, o Boom Bahia conseguiu montar um painel bem significativo do circuito alternativo atual: às consolidadas Cascadura, Retrofoguetes e Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta e Rebeca Matta, somam-se ainda os talentos de Alex Pochat, Berlinda, Theatro de Seraphin e Pessoas Invisíveis. Correndo por fora, os azarões ainda pouco conhecidos Tágua e Subaquático podem surpreender.
Das três atrações que Messias conseguiu trazer de fora, o destaque, sem dúvida, fica para o ídolo gaúcho Wander Wildner, bardo supremo do punk brega. Desta vez acompanhado da baixista e da baterista da lendária banda punk paulista Mercenárias (!), Wander desfiará seu longo rosário de sucessos do undeground, como Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo, Lugar do Caralho, Bebendo Vinho e muitas outras que serão cantadas em coro pelo seu fiel - e cada vez mais numeroso - público baiano.
A sergipana Snooze também deverá fazer um showzaço. Seu último CD, auto-intitulado e lançado pela Monstro Discos, é um primoroso exercício de criatividade sem amarras na linha do indie rock clássico que a banda segue já há mais de uma década. A cearense Montage é um bom chamariz para a moçada hypada e/ou fashion (perdão pelas más palavras) com seu electro punk poser e de sexualidade ambígua escancarada.
"A missão do Boom Bahia é a mesma de 10 anos atrás: registrar o momento atual da produção independente e colocar Salvador no roteiro nacional desses eventos", explica Messias. O Boom Bahia já está associado à Abrafin, Associação Brasileira de Festivais Independentes, "apesar de ser praticamente um ano zero de novo", observa.
"O Boom celebra o momento atual. Fazer música independente em 2007 é bem diferente do que em 1997, com a internet e o baratamento das tecnologias", conclui.
Boom Bahia
Sábado e domingo
Com Montage, Rebeca Matta, Cascadura e outros (sábado)
Com Wander Wildner, Retrofoguetes, Ronei Jorge, Snooze e outros (domingo)
Praça Teresa Batista (Pelourinho)
DJs a partir do meio-dia, bandas a partir das 14h30
Grátis
Prioridade na entrada para quem doar um livro
Programação completa e mais informações: www.boombahia.com.br
Salvador, essa madrasta malvada para os filhos que ousam pensar diferente, não merece, mas mesmo assim, vai abrigar amanhã e depois, bem no seu coração (o Pelourinho), uma nobre - e porque não dizer, ousada - iniciativa: a retomada definitiva do circuito underground, com a volta do festival Boom Bahia.
A ousadia fica por conta do seu idelizador e organizador, o professor doutor em comunicação (e rock, claro) Messias Guimarães Bandeira, o Messias GB da antológica – e infelizmente, extinta – banda brincando de deus. De aparência frágil, mas com idéias poderosas na cabeça e nenhum medo no coração, Messias está bancando o festival do próprio bolso.
É isso mesmo: ele não conta com patrocinadores ou leis de incentivo. Apenas seus muitos amigos, funcionários de confiança e a enorme vontade de agitar o viciado cenário da cultura local.
"Nosso plano é bem simples: primeiro dominamos o mundo, depois a gente vê o que faz", brinca Messias em entrevista por telefone, apesar da correria e do stress em que uma empreitada desse porte fatalmente incorre. "Eu acho que se não for agora, será da próxima vez", acrescenta.
Ele idealizou e realizou a primeira edição do Boom Bahia em 1997, com as bandas Dois Sapos e Meio, Penélope, brincando de deus, Cascadura e Dead Billies. No ano seguinte, adicionou ao elenco local boas bandas de fora, como Pavilhão 9 e mundo livre s.a. Nas duas edições, conseguiu chamar atenção para a cena local, inclusive de veículos do eixão Rio/SP.
Nesta retomada, o Boom Bahia conseguiu montar um painel bem significativo do circuito alternativo atual: às consolidadas Cascadura, Retrofoguetes e Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta e Rebeca Matta, somam-se ainda os talentos de Alex Pochat, Berlinda, Theatro de Seraphin e Pessoas Invisíveis. Correndo por fora, os azarões ainda pouco conhecidos Tágua e Subaquático podem surpreender.
Das três atrações que Messias conseguiu trazer de fora, o destaque, sem dúvida, fica para o ídolo gaúcho Wander Wildner, bardo supremo do punk brega. Desta vez acompanhado da baixista e da baterista da lendária banda punk paulista Mercenárias (!), Wander desfiará seu longo rosário de sucessos do undeground, como Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo, Lugar do Caralho, Bebendo Vinho e muitas outras que serão cantadas em coro pelo seu fiel - e cada vez mais numeroso - público baiano.
A sergipana Snooze também deverá fazer um showzaço. Seu último CD, auto-intitulado e lançado pela Monstro Discos, é um primoroso exercício de criatividade sem amarras na linha do indie rock clássico que a banda segue já há mais de uma década. A cearense Montage é um bom chamariz para a moçada hypada e/ou fashion (perdão pelas más palavras) com seu electro punk poser e de sexualidade ambígua escancarada.
"A missão do Boom Bahia é a mesma de 10 anos atrás: registrar o momento atual da produção independente e colocar Salvador no roteiro nacional desses eventos", explica Messias. O Boom Bahia já está associado à Abrafin, Associação Brasileira de Festivais Independentes, "apesar de ser praticamente um ano zero de novo", observa.
"O Boom celebra o momento atual. Fazer música independente em 2007 é bem diferente do que em 1997, com a internet e o baratamento das tecnologias", conclui.
Boom Bahia
Sábado e domingo
Com Montage, Rebeca Matta, Cascadura e outros (sábado)
Com Wander Wildner, Retrofoguetes, Ronei Jorge, Snooze e outros (domingo)
Praça Teresa Batista (Pelourinho)
DJs a partir do meio-dia, bandas a partir das 14h30
Grátis
Prioridade na entrada para quem doar um livro
Programação completa e mais informações: www.boombahia.com.br
segunda-feira, dezembro 03, 2007
RESISTÊNCIA ROCKER NAS AREIAS DE PIATÃ
Extinção do Palco do Rock teria sido aventada em reunião do Conselho do Carnaval, mas Emtursa nega ter a intenção de acabar com o evento
Todo ano é a mesma agonia. O Palco do Rock, criado e organizado pela Associação Cultural Clube do Rock (ACCR), e que acontece desde 1994 no coqueiral de Piatã durante o Carnaval, agoniza com falta de verba, equipamentos precários e ameaças de cancelamento.
Na semana passada, a entidade organizadora procurou os meios de comunicação para denunciar que a Emtursa, órgão da prefeitura que organiza o Carnaval, estaria cogitando acabar de vez com a festa do pessoal das camisas pretas.
Segundo o Clube do Rock, no último dia 13 de novembro, foi realizada mais uma reunião semanal do chamado Conselho do Carnaval. Durante a reunião, o diretor de Eventos e Festas Populares da Emtursa, Paulo Roberto Carvalho, teria proposto a extinção do Palco do Rock. A reportagem buscou falar com a Emtursa para apurar o que de fato houve.
Esbarrou na assessoria de imprensa do órgão, que afirmou com veemência que essa proposta não está em discussão, e portanto, ninguém se pronunciaria a respeito. A assessoria admitiu que a proposta "pode ter acontecido" durante a reunião, mas que ela não entrou na pauta, portanto, não existe essa possibilidade de dar um fim no P.d.R..
Sandra de Cássia, presidente do Clube do Rock, conta que essa informação lhe foi passada pelo Diretor Executivo do Sindicato dos Músicos da Bahia, Sidney Zapatta. Ele teria inclusive solicitado uma cópia da ata da reunião, onde estaria registrada a proposta de Paulo Roberto, mas esta lhe foi negada.
Bem ou mal, o fato é que a Emtursa nega querer acabar com o P.d.R., o que tranquilizou, pelo menos por enquanto, a comissão organizadora do evento.
"A verdade é que a Emtursa não quer que a gente cite para os meios de comunicação as falhas da organização do Carnaval, especialmente as que acontecem longe do circuito, nos palcos de bairro, que são enormes", afirma Sandra.
Ela ainda reclama que há mais de uma década, o recurso para pagar o cachê das bandas foi cortado.
"Só recebemos um mínimo para operacionalizar o evento. As bandas tocam de graça. O estranho é que isso só acontece no Palco do Rock. No palco do hip hop, que só surgiu em 2007, todo mundo que sobe ganha cachê, assim como em todos os palcos de bairro. Por que só o do rock não tem direito? Que democracia é essa? Aonde está a tão propalada diversidade do Carnaval baiano? Isso é uma imensa farsa!", esbravejou.
Até 8 mil pessoas /dia comparecem no Palco do Rock, armado no Coqueiral de Piatã desde 1994. Apesar de polêmico e de dividir opiniões mesmo no meio rocker local, ele cumpre seu papel.
Sandra explica que o interesse em manter o Palco do Rock não se deve apenas a ter quatro dias de shows grátis para agradar aos apreciadores, mas também em "criar e sedimentar um mercado de trabalho para todos esses músicos que têm um público sufocado o ano inteiro. Mas até os equipamentos que nos cabem são os piores possíveis, em péssimo estado de conservação. Mas nós não arredamos pé e vamos continuar batalhando por esse espaço, até para garantir uma real diversidade", concluiu.
GRADE - O Palco do Rock divulgou também alguns nomes selecionados para 2008: The Honkers, Vandex, Jazz Rock Quartet, Intra, Aluga-se, Pastel de Miolos, Theo & Os Irmãos da Bailarina, Canibal Brasil, Ulo Selvagem, Dimensões Distorcidas e Desrroche. Em breve, sai a lista completa.
Todo ano é a mesma agonia. O Palco do Rock, criado e organizado pela Associação Cultural Clube do Rock (ACCR), e que acontece desde 1994 no coqueiral de Piatã durante o Carnaval, agoniza com falta de verba, equipamentos precários e ameaças de cancelamento.
Na semana passada, a entidade organizadora procurou os meios de comunicação para denunciar que a Emtursa, órgão da prefeitura que organiza o Carnaval, estaria cogitando acabar de vez com a festa do pessoal das camisas pretas.
Segundo o Clube do Rock, no último dia 13 de novembro, foi realizada mais uma reunião semanal do chamado Conselho do Carnaval. Durante a reunião, o diretor de Eventos e Festas Populares da Emtursa, Paulo Roberto Carvalho, teria proposto a extinção do Palco do Rock. A reportagem buscou falar com a Emtursa para apurar o que de fato houve.
Esbarrou na assessoria de imprensa do órgão, que afirmou com veemência que essa proposta não está em discussão, e portanto, ninguém se pronunciaria a respeito. A assessoria admitiu que a proposta "pode ter acontecido" durante a reunião, mas que ela não entrou na pauta, portanto, não existe essa possibilidade de dar um fim no P.d.R..
Sandra de Cássia, presidente do Clube do Rock, conta que essa informação lhe foi passada pelo Diretor Executivo do Sindicato dos Músicos da Bahia, Sidney Zapatta. Ele teria inclusive solicitado uma cópia da ata da reunião, onde estaria registrada a proposta de Paulo Roberto, mas esta lhe foi negada.
Bem ou mal, o fato é que a Emtursa nega querer acabar com o P.d.R., o que tranquilizou, pelo menos por enquanto, a comissão organizadora do evento.
"A verdade é que a Emtursa não quer que a gente cite para os meios de comunicação as falhas da organização do Carnaval, especialmente as que acontecem longe do circuito, nos palcos de bairro, que são enormes", afirma Sandra.
Ela ainda reclama que há mais de uma década, o recurso para pagar o cachê das bandas foi cortado.
"Só recebemos um mínimo para operacionalizar o evento. As bandas tocam de graça. O estranho é que isso só acontece no Palco do Rock. No palco do hip hop, que só surgiu em 2007, todo mundo que sobe ganha cachê, assim como em todos os palcos de bairro. Por que só o do rock não tem direito? Que democracia é essa? Aonde está a tão propalada diversidade do Carnaval baiano? Isso é uma imensa farsa!", esbravejou.
Até 8 mil pessoas /dia comparecem no Palco do Rock, armado no Coqueiral de Piatã desde 1994. Apesar de polêmico e de dividir opiniões mesmo no meio rocker local, ele cumpre seu papel.
Sandra explica que o interesse em manter o Palco do Rock não se deve apenas a ter quatro dias de shows grátis para agradar aos apreciadores, mas também em "criar e sedimentar um mercado de trabalho para todos esses músicos que têm um público sufocado o ano inteiro. Mas até os equipamentos que nos cabem são os piores possíveis, em péssimo estado de conservação. Mas nós não arredamos pé e vamos continuar batalhando por esse espaço, até para garantir uma real diversidade", concluiu.
GRADE - O Palco do Rock divulgou também alguns nomes selecionados para 2008: The Honkers, Vandex, Jazz Rock Quartet, Intra, Aluga-se, Pastel de Miolos, Theo & Os Irmãos da Bailarina, Canibal Brasil, Ulo Selvagem, Dimensões Distorcidas e Desrroche. Em breve, sai a lista completa.
quinta-feira, novembro 29, 2007
ADEUS À VISÃO DA ÍNDIA DE LÁBIOS DE MEL
Xingu!, do artista Sérgio Macedo, é declaração de amor e grito de alerta contra extermínio de cultura nativa
O mercado de HQs para adultos está - até segunda ordem - em franca expansão no Brasil. Isso é bom também para os autores nacionais, que estão conseguindo colocar seus trabalhos nas prateleiras das livrarias em edições - senão luxuosas - bem-cuidadas e atraentes para o leitor adulto.
Nessa seara, um dos lançamentos mais interessantes em 2007 é o álbum Xingu!, do artista mineiro Sérgio Macedo. Lançado na França em 1988, só agora chega ao Brasil.
Macedo é um daqueles grandes artistas brasileiros que o Brasil não conhece, até por que vive, desde 1982, na ilha de Moorea, na Polinésia Francesa.
Dono de um perfeito registro fotográfico e cores deslumbrantes em aquarela, ele já publicou dezenas de álbuns de HQ na Europa, em oito línguas diferentes, angariando muitos fãs, admiradores e prêmios. Suas ilustrações e HQs já adornaram as capas e páginas de algumas das maiores revistas alternativas da Europa, como Actuel, Circus, Metal Hurlant, Rock & Folk e muitas outras.
Há dez anos, ganhou o conceituado Benjamin Franklin Award, nos Estados Unidos, como a melhor obra multicultural de 1997, escolhido entre 1.100 livros, pelo álbum Lakota : An Illustrated History. Em 2007, ganhou o tardio reconhecimento da comunidade quadrinística brasileira ao receber o Troféu HQMIX, na categoria Grande Mestre.
IN LOCO - O álbum em questão, Xingu!, nasceu de uma estadia de dois meses do autor com sua esposa, a coreógrafa taitiana Nita, na aldeia Kayapó Metuktire, liderada pelo lendário cacique Raoni, ou Rop-Ni, como é chamado no dialeto da tribo, em 1987.
Lançado na França logo no ano seguinte, Xingu! é o testemunho de Sérgio diante da grandeza de um povo frente às adversidades e crueldades praticadas pelo homem branco contra os povos nativos brasileiros. É um álbum que rompe com a visão romântica que se tinha até algum tempo atrás, das índias de "lábios de mel". Aqui os lábios são esticados e botocados, como os de Raoni.
Francamente impressionado, especialmente pela figura imponente e a liderança firme do famoso cacique, retratado com admiração e enorme respeito, o artista faz sua declaração de amor à cultura indígena e um grito de alerta contra o seu extermínio.
Na história em si, o leitor acompanha o aventureiro-alter ego de Macedo, o misterioso Vic Voyage, que estrela quase todos os seus álbuns, em visita ao Brasil, ir com um amigo à reserva do Xingu.
Lá ele toma conhecimento da cultura local, o modo de vida indígena e os conflitos por terra, madeira e caça que atormentam os nativos. Voyage até distribui um sopapo aqui e outro ali nos bandidos (madeireiros e caçadores), mas a estrela do álbum é mesmo a comunidade indígena, seus chefes e guerreiros.
Ao longo de todo o álbum, vemos como vivem os Kayapós, suas caças, danças, pinturas corporais, lendas e credos, magnificamente retratados na arte primorosa do autor. Por conta disso, muitos trechos de Xingu! valem por uma aula ou mesmo um documentário sobre os índios daquela região.
O ponto fraco do álbum é que o tempo não foi muito generoso com esse didatismo, tornando sua narrativa algo dura, datada. O próprio Macedo admitiu, em entrevista por telefone, que fez o álbum "para gringo ver, para instruir e denunciar aos estrangeiros o extermínio da cultura e dos povos indígenas brasileiros. Na época, eu nem imaginava que esse trabalho ia sair no Brasil algum dia", contou.
Uma outra característica de Xingu! é que suas ilustrações, provavelmente inspiradas nas muitas fotografias batidas pelo autor na aldeia Kayapó, deixam a HQ com um jeitão de álbum de fotos posadas com balões de diálogo, o que endurece ainda mais a narrativa.
Por exemplo: nas páginas 54 e 55, há um importante debate entre os líderes indígenas, que fazem discursos inflamados em defesa da sua terra - mas as ilustrações não expressam toda a raiva que falas como "Quem não sair, a gente mata, come vivo", proferida por Raoni, expressam.
Esses detalhes, contudo, não invalidam o prazer de ler e contemplar uma obra tão apaixonada e esteticamente bem resolvida quanto Xingu!. Encarando-se dessa forma, fica a impressão de que, mais do que oferecer um mero entretenimento, o que o autor queria mesmo era falar dos índios e das questões que os cercam.
AR LIVRE - Adepto da vida ao ar livre e da prática do surfe, Macedo segue uma filosofia de vida que vai na contramão do modo de vida ocidental. Morou na Europa ainda nos anos 70 e foi embora de lá por não suportar "o clima de museu e o niilismo crescente dos europeus".
"Lá tem muita cultura e estrutura, mas eles não sabem rir, o pessoal é meio deprimido", disse. "Eu moro na Polinésia, que é um arquipélago formado por 130 ilhas, e todo mundo vive bem lá, não há criminalidade. Eu vivo de short e sem camisa, ao ar livre", acrescenta.
De volta ao País depois de uma longa ausência, Macedo lamenta a crescente idiotização proporcionada pelos meios de comunicação. "O Brasil é um país lindo, mas a violência e o controle cerebral que a TV faz nas pessoas, é algo de assustador", declarou.
Sérgio não tem lido muita HQ. "Os roteiros são muito sombrios e pessimistas. Tem desenhistas brasileiros muito bons, mas que apenas copiam estilo dos super-heróis americanos e mangás japoneses. Não tenho saco. Gosto de ler coisas positivas, que proponham soluções", concluiu.
segunda-feira, novembro 26, 2007
MICRO-RESENHAS FANFARRONAS
Mistério e conspiração na Islândia
Uma legista viciada em antidepressivos descobre os restos mortais de uma mulher neanderthal numa caverna da Islândia. O problema é que, até onde se sabe, os neanderthais jamais chegaram àquela parte do planeta. Para completar, o cadáver vestia um casaco da Benetton e tinha uma obturação em um dos molares. Está armado o cenário para uma ótima trama de mistério e investigação. Murphy, o roteirista, é veterano das HQs das Tartarugas Ninja e oferece uma narrativa segura e constante, que casam bem com os desenhos corretos de Mike Hawthorne. Boa opção para que sente falta do clima de mistério e conspiração na linha Arquivo X.
Umbra
Stephen Murphy / Mike Hawthorne
Devir
136p. R$ 25
www.devir.com.br
Maduro e talentoso, ainda que eclético
Mauricio Baia é velho conhecido do circuito alternativo desde os anos 90, quando era o líder da banda Baia & Os Rockboys. Depois que o guitarrista Tonho Gebara faleceu em 2004, os Rockboys se dissolveram e Baia partiu para o vôo solo, da qual este Habeas Corpus é o primeiro CD. Letrista articulado e muito influenciado por Raul Seixas e Zé Ramalho, este baiano radicado no Rio aborda com lirismo e bom humor o caos do trânsito (Autoramas Urbanos), a vida dura (Maria da Penha) etc. CD de um artista maduro e muito bem produzido, que só peca no ecletismo excessivo, como se tivesse de mostrar que transita bem por "todos os ritmos".
Habeas Corpus
Maurício Baia
Independente
R$ 12
http://www.mauriciobaia.com.br/
Pop eletrônico de difícil classificação
O grupo americano Hot Chip se apresentou no último TIM Festival, fato que motivou o lançamento deste seu 2º CD no Brasil, The Warning. Seu som é como uma espécie de releitura - ou mesmo atualização - do synth pop do Prince inicial (fase Dirty Mind, circa 1980) e de Giorgio Moroder, o rei da disco music. New Order também parece ser uma grande influência aqui. Apesar das referências fáceis, The Warning não é um CD de digestão imediata. Há uma certa estranheza indefinível, intrigante, percorrendo faixas como Careful, Tchaparian e Colours - o que é ótimo, em tempos onde tudo já vem tão mastigadinho. Mas Over and Over e And I Was a Boy From School, não têm mistério: é pista na certa. E Look After Me dá até para dançar juntinho. Mesmo! No saldo final, um dos lançamentos mais interessantes do ano, hypes deslumbrados à parte.
The Warning
Hot Chip
EMI
R$ 28,90
http://www.hotchip.co.uk/
A formação de um detetive paspalho
O Incal, série de HQs do chileno Alejandro Jodorowsky e do francês Moebius fez grande sucesso entre os admiradores do estilo Heavy Metal (a revista, não o estilo musical) de quadrinhos: ficção científica com muita psicodelia, crítica social, ação e violência. Alguns anos após encerrar a série, Jodorowsky voltou ao Incal através do seu personagem principal, o detetive particular John Difool. Em Antes do Incal, álbum de excelente qualidade gráfica da editora Devir, acompanhamos duas aventuras de Difool na infância e juventude. Moebius não desenha mais, mas o iugoslavo Zoran Janjetov, claramente um discípulo, dá conta do recado direitinho.
Antes do Incal
Alejandro Jodorowsky & Zoran Janjetov
Devir
96 págs R$ 42
www.devir.com.br
Vampiros, história e muita aventura
A insônia do vampiro, do escritor carioca Ivan Jaf, é um achado para fisgar os leitores adolescentes para o mundo das letras. Além de ser uma aventura com elementos do terror clássico, conjuga vários dados históricos do Brasil e da Europa para construir sua narrativa. O personagem principal, um vampiro português do século 18, rememora sua longa vida no divã do psicanalista devido à sua insônia, que não o deixa dormir (durante o dia, claro). Na psicanálise, além de narrar suas aventuras através dos séculos, instrui o leitor sobre o terremoto de Lisboa (1755), o Iluminismo e os tempos do império, por exemplo. Ótimas ilustrações do experiente Marcelo Campos (Marvel DC etc). Educação e diversão em um pacote só.
A insônia do vampiro
Ivan Jaf , com ilustrações de Marcelo Campos
Editora Ática
144 p. R$ 21,90
www.atica.com.br
Uma legista viciada em antidepressivos descobre os restos mortais de uma mulher neanderthal numa caverna da Islândia. O problema é que, até onde se sabe, os neanderthais jamais chegaram àquela parte do planeta. Para completar, o cadáver vestia um casaco da Benetton e tinha uma obturação em um dos molares. Está armado o cenário para uma ótima trama de mistério e investigação. Murphy, o roteirista, é veterano das HQs das Tartarugas Ninja e oferece uma narrativa segura e constante, que casam bem com os desenhos corretos de Mike Hawthorne. Boa opção para que sente falta do clima de mistério e conspiração na linha Arquivo X.
Umbra
Stephen Murphy / Mike Hawthorne
Devir
136p. R$ 25
www.devir.com.br
Maduro e talentoso, ainda que eclético
Mauricio Baia é velho conhecido do circuito alternativo desde os anos 90, quando era o líder da banda Baia & Os Rockboys. Depois que o guitarrista Tonho Gebara faleceu em 2004, os Rockboys se dissolveram e Baia partiu para o vôo solo, da qual este Habeas Corpus é o primeiro CD. Letrista articulado e muito influenciado por Raul Seixas e Zé Ramalho, este baiano radicado no Rio aborda com lirismo e bom humor o caos do trânsito (Autoramas Urbanos), a vida dura (Maria da Penha) etc. CD de um artista maduro e muito bem produzido, que só peca no ecletismo excessivo, como se tivesse de mostrar que transita bem por "todos os ritmos".
Habeas Corpus
Maurício Baia
Independente
R$ 12
http://www.mauriciobaia.com.br/
Pop eletrônico de difícil classificação
O grupo americano Hot Chip se apresentou no último TIM Festival, fato que motivou o lançamento deste seu 2º CD no Brasil, The Warning. Seu som é como uma espécie de releitura - ou mesmo atualização - do synth pop do Prince inicial (fase Dirty Mind, circa 1980) e de Giorgio Moroder, o rei da disco music. New Order também parece ser uma grande influência aqui. Apesar das referências fáceis, The Warning não é um CD de digestão imediata. Há uma certa estranheza indefinível, intrigante, percorrendo faixas como Careful, Tchaparian e Colours - o que é ótimo, em tempos onde tudo já vem tão mastigadinho. Mas Over and Over e And I Was a Boy From School, não têm mistério: é pista na certa. E Look After Me dá até para dançar juntinho. Mesmo! No saldo final, um dos lançamentos mais interessantes do ano, hypes deslumbrados à parte.
The Warning
Hot Chip
EMI
R$ 28,90
http://www.hotchip.co.uk/
A formação de um detetive paspalho
O Incal, série de HQs do chileno Alejandro Jodorowsky e do francês Moebius fez grande sucesso entre os admiradores do estilo Heavy Metal (a revista, não o estilo musical) de quadrinhos: ficção científica com muita psicodelia, crítica social, ação e violência. Alguns anos após encerrar a série, Jodorowsky voltou ao Incal através do seu personagem principal, o detetive particular John Difool. Em Antes do Incal, álbum de excelente qualidade gráfica da editora Devir, acompanhamos duas aventuras de Difool na infância e juventude. Moebius não desenha mais, mas o iugoslavo Zoran Janjetov, claramente um discípulo, dá conta do recado direitinho.
Antes do Incal
Alejandro Jodorowsky & Zoran Janjetov
Devir
96 págs R$ 42
www.devir.com.br
Vampiros, história e muita aventura
A insônia do vampiro, do escritor carioca Ivan Jaf, é um achado para fisgar os leitores adolescentes para o mundo das letras. Além de ser uma aventura com elementos do terror clássico, conjuga vários dados históricos do Brasil e da Europa para construir sua narrativa. O personagem principal, um vampiro português do século 18, rememora sua longa vida no divã do psicanalista devido à sua insônia, que não o deixa dormir (durante o dia, claro). Na psicanálise, além de narrar suas aventuras através dos séculos, instrui o leitor sobre o terremoto de Lisboa (1755), o Iluminismo e os tempos do império, por exemplo. Ótimas ilustrações do experiente Marcelo Campos (Marvel DC etc). Educação e diversão em um pacote só.
A insônia do vampiro
Ivan Jaf , com ilustrações de Marcelo Campos
Editora Ática
144 p. R$ 21,90
www.atica.com.br
quinta-feira, novembro 22, 2007
"FESTA ESTRANHA COM GENTE ESQUISITA"
2ª Convenção de Tatuagem da Bahia traz Matanza, uma porrada de bandas locais e freak show
Com o perdão do clichê renatorrussiano, está aí uma boa definição - preconceitos bobos à parte - para o que vai ser a 2ª Convenção de Tatuagem da Bahia, que começa a partir de amanhã e vai até domingo no Ginásio de Esportes de Lauro de Freitas.
Em sua segunda edição, o evento trará shows de rock, stands de tatuadores de várias partes do Brasil, campeonato de skate, exposições de carros antigos e motos, além de apresentações de suspensão e Freak Show da performer La Chica Ganchos, de Goiânia (no sábado).
Para quem não conhece a modalidade, "suspensão" consiste em ficar pendurado por ganchos presos no teto que são introduzidos na carne do adepto, mais ou menos como uma peça no açougue. Como é de se imaginar, não é uma cena para qualquer estômago. Se o espectador for fã da série de filmes de terror Hellraiser - Renascido do Inferno, ajuda.
Na parte musical, o destaque é a banda carioca Matanza, que segue divulgando seu último CD, A Arte do Insulto (2006). O grupo do carismático vocalista Jimmy London aproveita a estadia e lança por aqui seu primeiro gibi, Matanza Comix, com HQs do guitarrista Donida, também autor de todas as capas dos CDs da banda. No repertório do show, só sucessos do underground, como Clube dos Canalhas, Maldito Hippie Sujo, Pé na Porta Soco na Cara e Ela Roubou Meu Caminhão, entre outros.
Rock local - Com três dias de shows e um bom elenco, a Convenção ficou foi com cara de um belo festival de rock, com muitas bandas locais - o que é ótimo, e espera-se, aconteça todos os anos. Na sexta, a bombada Cascadura vai mostrar - mais uma vez - por que é o maior nome do rock baiano - e um dos maiores do Brasil - nos dias de hoje. Atenção também para Demoiselle, com sua ótima vocalista Ivana Vivas e as feras Toni Oliveira e Ricardo The Flash Alves nas guitarras.
No sábado, além da Matanza, as bandas Retrofoguetes, Os Mizeravão, Lou e Theatro de Seraphin, mais os goianos da Yglo, se apresentam em uma noite de estilos bem diversos entre si. Haverá desde o country core da banda carioca à surf music dos Retros, passando pelo pós-punk refinado da Theatro, os covers escrachados dos Mizeravão e o hard rock de Goiânia.
No domingo, o estilo é mais definido: rock pesado, sem refresco pro ouvido de ninguém. O heavy metal comanda a cena com a clássica banda baiana de metal extremo Headhunter DC como atração principal.
Outras atrações são a conceituada Cobalto e os goianos (de novo!) Necropsy Room, além da adorada Sangria e seu rock pesadíssimo e muito pessoal, as covers de hard rock da experiente King Kobra e - a ainda pouco conhecida - Hell Label.
A Cobalto vem sendo apontada como uma das melhores bandas de heavy metal moderno do país, inclusive com apresentações na Europa, elogiadas pela imprensa especializada. Já a Headhunter conta com mais de 20 anos de atividades, sendo uma referência do estilo.
2ª Convenção de Tatuagem da Bahia Sexta, sábado e domingo A partir das 16 h (sexta) e 12 h (sábado e domingo) Ginásio de Esportes de Lauro de Freitas R$ 10 Informações e programação: www.convencaotattooba.com
Com o perdão do clichê renatorrussiano, está aí uma boa definição - preconceitos bobos à parte - para o que vai ser a 2ª Convenção de Tatuagem da Bahia, que começa a partir de amanhã e vai até domingo no Ginásio de Esportes de Lauro de Freitas.
Em sua segunda edição, o evento trará shows de rock, stands de tatuadores de várias partes do Brasil, campeonato de skate, exposições de carros antigos e motos, além de apresentações de suspensão e Freak Show da performer La Chica Ganchos, de Goiânia (no sábado).
Para quem não conhece a modalidade, "suspensão" consiste em ficar pendurado por ganchos presos no teto que são introduzidos na carne do adepto, mais ou menos como uma peça no açougue. Como é de se imaginar, não é uma cena para qualquer estômago. Se o espectador for fã da série de filmes de terror Hellraiser - Renascido do Inferno, ajuda.
Na parte musical, o destaque é a banda carioca Matanza, que segue divulgando seu último CD, A Arte do Insulto (2006). O grupo do carismático vocalista Jimmy London aproveita a estadia e lança por aqui seu primeiro gibi, Matanza Comix, com HQs do guitarrista Donida, também autor de todas as capas dos CDs da banda. No repertório do show, só sucessos do underground, como Clube dos Canalhas, Maldito Hippie Sujo, Pé na Porta Soco na Cara e Ela Roubou Meu Caminhão, entre outros.
Rock local - Com três dias de shows e um bom elenco, a Convenção ficou foi com cara de um belo festival de rock, com muitas bandas locais - o que é ótimo, e espera-se, aconteça todos os anos. Na sexta, a bombada Cascadura vai mostrar - mais uma vez - por que é o maior nome do rock baiano - e um dos maiores do Brasil - nos dias de hoje. Atenção também para Demoiselle, com sua ótima vocalista Ivana Vivas e as feras Toni Oliveira e Ricardo The Flash Alves nas guitarras.
No sábado, além da Matanza, as bandas Retrofoguetes, Os Mizeravão, Lou e Theatro de Seraphin, mais os goianos da Yglo, se apresentam em uma noite de estilos bem diversos entre si. Haverá desde o country core da banda carioca à surf music dos Retros, passando pelo pós-punk refinado da Theatro, os covers escrachados dos Mizeravão e o hard rock de Goiânia.
No domingo, o estilo é mais definido: rock pesado, sem refresco pro ouvido de ninguém. O heavy metal comanda a cena com a clássica banda baiana de metal extremo Headhunter DC como atração principal.
Outras atrações são a conceituada Cobalto e os goianos (de novo!) Necropsy Room, além da adorada Sangria e seu rock pesadíssimo e muito pessoal, as covers de hard rock da experiente King Kobra e - a ainda pouco conhecida - Hell Label.
A Cobalto vem sendo apontada como uma das melhores bandas de heavy metal moderno do país, inclusive com apresentações na Europa, elogiadas pela imprensa especializada. Já a Headhunter conta com mais de 20 anos de atividades, sendo uma referência do estilo.
2ª Convenção de Tatuagem da Bahia Sexta, sábado e domingo A partir das 16 h (sexta) e 12 h (sábado e domingo) Ginásio de Esportes de Lauro de Freitas R$ 10 Informações e programação: www.convencaotattooba.com
quinta-feira, novembro 15, 2007
PUNK: UMA IDEOLOGIA
Os recentes atos de violência gratuita em São Paulo, atribuídos a punks, difamam movimento pacifista
Nos últimos meses, alguns episódios de violência gratuita ocorridos em São Paulo reacenderam na mídia um certo sensacionalismo contra o movimento punk. No dia 20 de outubro, um grupo de 20 auto-denominados "punks" espancou um jovem de 17 anos na saída de um show no Hangar 110, o templo do estilo na capital paulista. Uma semana antes, uma fatia de pizza custou a vida do atendente de um quiosque no Centro, morto a facadas. No total, só esse ano, já são seis mortes registradas em brigas e agressões envolvendo pessoas identificadas como "punks" em São Paulo.
Tudo isso é um prato cheio para que o sensacionalismo barato da grande mídia reduza um movimento sério, filosoficamente embasado e - por incrível que pareça - francamente pacifista como o punk à uma gangue de monstrinhos urbanos, prontos para agredir e matar a qualquer momento.Em reação à esta movimentação de demonização do punk, o Movimento Anarco-Punk de São Paulo divulgou no fim de outubro, uma carta aberta, onde se posiciona frente aos últimos acontecimentos. Leia aqui o conteúdo desta carta.
O fato é que, qualquer pessoa minimamente mais informada que tenha paciência para pesquisar - mesmo superficialmente - a base do movimento e do pensamento punk vai perceber que violência gratuita não faz parte do ideário de não-conformismo e autogestão que são suas marcas mais fortes. O punk é, por definição, um proletário e um rebelde contra as convenções impostas pela sociedade, seja ela capitalista ou socialista-totalitarista, tanto quanto foram os jovens da geração perdida dos anos 20, os beatniks dos anos 50 ou os hippies dos anos 60 e 70.
A diferença é que o punk é um movimento conceitualmente violento, que prega uma ruptura radical com sociedade em favor de um estilo de vida próprio, auto-gerido, que tem no lema "do it yourself" (faça você mesmo) e nas idéias anarquistas de autores como Mikhail Bakunin e Pierre-Joseph Proudhon, entre outros, sua base teórica.
Agora, como qualquer movimento não-conformista, o punk também foi cooptado pela indústria cultural, que o distorceu, diluiu, suavizou, empacotou e colocou na prateleira para vender, como mais um produto. E também como qualquer movimento, o punk caiu no imaginário popular como um estereótipo: o cara de cabelo moicano, roupas rasgadas e alfinetes, que se monta para desfilar pela ruas da cidade. Estereótipo muito bem caricaturado pelo cartunista Angeli, com seu personagem Bob Cuspe.
A partir do momento em que a indústria cultural se apropria dos signos e símbolos do punk e os colocam na prateleira, qualquer alienado pode se apropriar dessa estética para expressar seu vazio espiritual - o que inclui os recentes atos de violência gratuita.
O ativista americano Craig O'Hara, em seu ótimo livro A Filosofia do punk: Mais do que barulho (Radical Livros, R$ 34), foi direto na mosca desta questão: "É verdade que o desemprego e condições sociais escassas provocam sensações irritantes de alienação e frustração. Também é verdade que essas sensações podem ser expressas de várias maneiras. O crime tem sido a resposta mais popular de tempos recentes".
É interessante notar que na sua fala, O'Hara se refere à Inglaterra dos anos 70, e não à São Paulo da primeira década do século 21. Ainda assim, isso não justifica os assassinatos e agressões cometidos por jovens desorientados e mal-informados quanto ao movimento que eles próprios dizem pertencer.
"Esses caras não são punks. O sujeito veste uma roupa rasgada, sai batendo em gente na rua e se diz punk. Assim é fácil, né?", questiona o artista plástico e músico Miguel Cordeiro. Testemunha ocular do movimento aqui em Salvador e em Nova Iorque, onde passou temporada no efervescente biênio 1982/83, Miguel era chapa de Marcelo Nova desde os anos 70, tendo acompanhado o início e o estouro do Camisa de Vênus, originalmente, uma banda punk.
"A violência que se atribui ao punk é na verdade, muito mais conceitual, de quebra de comportamentos do que violência física, literal. Mas a gente vive num país com muita falta de informação. Nem todo mundo é esclarecido o bastante para compreender a proposta libertária do punk. É muito mais fácil vestir uma roupa rasgada e posar de punk do que realmente se comprometer com as idéias do movimento", resume Miguel.
Até porque, desde o seu momento de definição e subsequente estouro, na Londres de 1976, o punk morreu, ressuscitou - em 1981, com o movimento Punk's Not Dead, título de um álbum histórico da banda escocesa Exploited - e se fragmentou em inúmeras vertentes e variações.
"De 76 para cá, já houve todo tipo de distorção e variação. Na Europa, os punks são quase hippies, vivem em squats (casas abadonadas que são ocupadas e transformadas em centros culturais), protestam contra o capitalismo, a guerra do Iraque, a crueldade contra os animais, o McDonald's. Você vê aquela dança violenta nos shows, mas ninguém se machuca, e depois tá todo mundo se abraçando", conta Marcos Rodrigues, arquiteto e baixista que milita no rock baiano desde os anos 80 e atualmente, toca na Theatro de Seraphin.
Essa dança violenta a qual Marcos se refere, chamada "pogo", também é abordada por Miguel, que a compara com uma conhecida dança folclórica baiana: "Você já viu o maculelê, certo? É uma coreografia agressiva, que é melhor não chegar perto, para não tomar uma paulada. É a mesma coisa com os punks. O pogo é como uma coreografia", afirma.
“Punk é uma forma de luta“
Os episódios de violência em São Paulo servem apenas para cobrir com uma cortina de fumaça o maior legado do punk, que é o seu avançado ideal de liberdade individual e auto-gestão. Acima de tudo, o que o punk propõe é todo um modo de pensar que implica em um rompimento radical com o status quo.
Bandas de rock, jovens de moicano, tudo isso é apenas uma faceta - a mais visível e emblemática - de uma idéia que é um movimento e um estilo de vida, ao mesmo tempo. Fragmentado, o movimento punk tem diversas vertentes, como os vegans, os straight edges, os queer punks, os crust punks, os gutter punks, os nerd punks, as riot grrrls, os quincy punks e mesmo os populares e odiados / amados emos."
Ao meu ver, os punks são atores sociais que expressam seus sentimentos em relação ao mundo e à forma como vivem", define Willyams Martins, artista plástico e vocalista da banda de punk rock Dever de Classe, com 20 anos de fundada.
"Infelizmente, não há uma hegemonia em relação ao pacifismo típico do punk. Muita gente se infiltra no movimento de forma inconsequente, sem compromisso com seus ideais libertários, apenas para extravasar. Mas o punk é uma forma de luta, uma forma de interpretar o mundo em que vivemos e de exigir uma reparação da nossa contemporaneidade", afirma.
Lili, como é conhecido, aponta os signos da indumentária punk como sinais de protesto e não de moda meramente estética. "O moicano era um protesto contra o extermínio dos índios tomahawk (tribo nativa norte-americana). As roupas pretas indicam preocupação com o mundo, que não é tão colorido quanto imaginavam os hippies. E por aí vai", explica.
"Já o anarquismo que o movimento prega tem um significado diferente daquele que está no Dicionário Aurélio, no sentido da baderna. O anarquismo punk persegue os ideais de autogestão e desobediência civil caros à intelectuais como Enrico Malatesta, Bakunin e Proudhon. Um mundo sem pátria, sem religião, sem propriedade e sem patrão: um mundo auto-gestionário", conclui.
PUNK ROCK - No sentido musical, a coisa é ainda mais ampla, pois na verdade, o punk rock, no seu sentido mais puro, já existia muito antes do estouro da denominação punk na Londres de 1976.
Salvo engano, pode-se dizer que o marco zero da estética punk no rock é o álbum Velvet Underground and Nico, de 1967. Com seu som totalmente na contramão da psicodelia colorida da época, o grupo liderado por Lou Reed causou estranhamento e hojeriza na época do seu lançamento.
Contudo, os poucos gatos pingados que não se identificavam com a estética hippie ouviram o disco e montaram suas próprias bandas, gerando anos depois, a cena do clube CBGB‘s de Nova Iorque, fartamente documentada no livro Mate-me por favor, de Legs McNeil e Gillian McCain.
Paralelo à isso, ainda na primeira metade da década de 70, grupos como o MC-5 e os Stooges, ambos de Detroit, radicalizaram no som distorcido e na atitude contestadora. O primeiro, se aliando aos ativistas radicais dos Panteras Negras e pichando "fuck you" nas janelas da gravadora. Já o segundo, além de escancarar todo o tédio e a descrença no futuro adotados depois pela geração "no future" inglesa, ainda revelou o fantástico frontman Iggy Pop, modelo básico do vocalista de punk rock: seco como um vara-pau, totalmente alucinado e potencialmente perigoso - especialmente para si mesmo.
Os anos 80 trouxeram o hardcore, que se espalhou pelo mundo, e o estilo gótico de bandas como Bauhaus e Sisters of Mercy.
Em 1991, o Nirvana estourou na América, abrindo as portas das gravadoras majors para todo o rock alternativo americano, que até então, vivia relegado aos porões.
Nos últimos meses, alguns episódios de violência gratuita ocorridos em São Paulo reacenderam na mídia um certo sensacionalismo contra o movimento punk. No dia 20 de outubro, um grupo de 20 auto-denominados "punks" espancou um jovem de 17 anos na saída de um show no Hangar 110, o templo do estilo na capital paulista. Uma semana antes, uma fatia de pizza custou a vida do atendente de um quiosque no Centro, morto a facadas. No total, só esse ano, já são seis mortes registradas em brigas e agressões envolvendo pessoas identificadas como "punks" em São Paulo.
Tudo isso é um prato cheio para que o sensacionalismo barato da grande mídia reduza um movimento sério, filosoficamente embasado e - por incrível que pareça - francamente pacifista como o punk à uma gangue de monstrinhos urbanos, prontos para agredir e matar a qualquer momento.Em reação à esta movimentação de demonização do punk, o Movimento Anarco-Punk de São Paulo divulgou no fim de outubro, uma carta aberta, onde se posiciona frente aos últimos acontecimentos. Leia aqui o conteúdo desta carta.
O fato é que, qualquer pessoa minimamente mais informada que tenha paciência para pesquisar - mesmo superficialmente - a base do movimento e do pensamento punk vai perceber que violência gratuita não faz parte do ideário de não-conformismo e autogestão que são suas marcas mais fortes. O punk é, por definição, um proletário e um rebelde contra as convenções impostas pela sociedade, seja ela capitalista ou socialista-totalitarista, tanto quanto foram os jovens da geração perdida dos anos 20, os beatniks dos anos 50 ou os hippies dos anos 60 e 70.
A diferença é que o punk é um movimento conceitualmente violento, que prega uma ruptura radical com sociedade em favor de um estilo de vida próprio, auto-gerido, que tem no lema "do it yourself" (faça você mesmo) e nas idéias anarquistas de autores como Mikhail Bakunin e Pierre-Joseph Proudhon, entre outros, sua base teórica.
Agora, como qualquer movimento não-conformista, o punk também foi cooptado pela indústria cultural, que o distorceu, diluiu, suavizou, empacotou e colocou na prateleira para vender, como mais um produto. E também como qualquer movimento, o punk caiu no imaginário popular como um estereótipo: o cara de cabelo moicano, roupas rasgadas e alfinetes, que se monta para desfilar pela ruas da cidade. Estereótipo muito bem caricaturado pelo cartunista Angeli, com seu personagem Bob Cuspe.
A partir do momento em que a indústria cultural se apropria dos signos e símbolos do punk e os colocam na prateleira, qualquer alienado pode se apropriar dessa estética para expressar seu vazio espiritual - o que inclui os recentes atos de violência gratuita.
O ativista americano Craig O'Hara, em seu ótimo livro A Filosofia do punk: Mais do que barulho (Radical Livros, R$ 34), foi direto na mosca desta questão: "É verdade que o desemprego e condições sociais escassas provocam sensações irritantes de alienação e frustração. Também é verdade que essas sensações podem ser expressas de várias maneiras. O crime tem sido a resposta mais popular de tempos recentes".
É interessante notar que na sua fala, O'Hara se refere à Inglaterra dos anos 70, e não à São Paulo da primeira década do século 21. Ainda assim, isso não justifica os assassinatos e agressões cometidos por jovens desorientados e mal-informados quanto ao movimento que eles próprios dizem pertencer.
"Esses caras não são punks. O sujeito veste uma roupa rasgada, sai batendo em gente na rua e se diz punk. Assim é fácil, né?", questiona o artista plástico e músico Miguel Cordeiro. Testemunha ocular do movimento aqui em Salvador e em Nova Iorque, onde passou temporada no efervescente biênio 1982/83, Miguel era chapa de Marcelo Nova desde os anos 70, tendo acompanhado o início e o estouro do Camisa de Vênus, originalmente, uma banda punk.
"A violência que se atribui ao punk é na verdade, muito mais conceitual, de quebra de comportamentos do que violência física, literal. Mas a gente vive num país com muita falta de informação. Nem todo mundo é esclarecido o bastante para compreender a proposta libertária do punk. É muito mais fácil vestir uma roupa rasgada e posar de punk do que realmente se comprometer com as idéias do movimento", resume Miguel.
Até porque, desde o seu momento de definição e subsequente estouro, na Londres de 1976, o punk morreu, ressuscitou - em 1981, com o movimento Punk's Not Dead, título de um álbum histórico da banda escocesa Exploited - e se fragmentou em inúmeras vertentes e variações.
"De 76 para cá, já houve todo tipo de distorção e variação. Na Europa, os punks são quase hippies, vivem em squats (casas abadonadas que são ocupadas e transformadas em centros culturais), protestam contra o capitalismo, a guerra do Iraque, a crueldade contra os animais, o McDonald's. Você vê aquela dança violenta nos shows, mas ninguém se machuca, e depois tá todo mundo se abraçando", conta Marcos Rodrigues, arquiteto e baixista que milita no rock baiano desde os anos 80 e atualmente, toca na Theatro de Seraphin.
Essa dança violenta a qual Marcos se refere, chamada "pogo", também é abordada por Miguel, que a compara com uma conhecida dança folclórica baiana: "Você já viu o maculelê, certo? É uma coreografia agressiva, que é melhor não chegar perto, para não tomar uma paulada. É a mesma coisa com os punks. O pogo é como uma coreografia", afirma.
“Punk é uma forma de luta“
Os episódios de violência em São Paulo servem apenas para cobrir com uma cortina de fumaça o maior legado do punk, que é o seu avançado ideal de liberdade individual e auto-gestão. Acima de tudo, o que o punk propõe é todo um modo de pensar que implica em um rompimento radical com o status quo.
Bandas de rock, jovens de moicano, tudo isso é apenas uma faceta - a mais visível e emblemática - de uma idéia que é um movimento e um estilo de vida, ao mesmo tempo. Fragmentado, o movimento punk tem diversas vertentes, como os vegans, os straight edges, os queer punks, os crust punks, os gutter punks, os nerd punks, as riot grrrls, os quincy punks e mesmo os populares e odiados / amados emos."
Ao meu ver, os punks são atores sociais que expressam seus sentimentos em relação ao mundo e à forma como vivem", define Willyams Martins, artista plástico e vocalista da banda de punk rock Dever de Classe, com 20 anos de fundada.
"Infelizmente, não há uma hegemonia em relação ao pacifismo típico do punk. Muita gente se infiltra no movimento de forma inconsequente, sem compromisso com seus ideais libertários, apenas para extravasar. Mas o punk é uma forma de luta, uma forma de interpretar o mundo em que vivemos e de exigir uma reparação da nossa contemporaneidade", afirma.
Lili, como é conhecido, aponta os signos da indumentária punk como sinais de protesto e não de moda meramente estética. "O moicano era um protesto contra o extermínio dos índios tomahawk (tribo nativa norte-americana). As roupas pretas indicam preocupação com o mundo, que não é tão colorido quanto imaginavam os hippies. E por aí vai", explica.
"Já o anarquismo que o movimento prega tem um significado diferente daquele que está no Dicionário Aurélio, no sentido da baderna. O anarquismo punk persegue os ideais de autogestão e desobediência civil caros à intelectuais como Enrico Malatesta, Bakunin e Proudhon. Um mundo sem pátria, sem religião, sem propriedade e sem patrão: um mundo auto-gestionário", conclui.
PUNK ROCK - No sentido musical, a coisa é ainda mais ampla, pois na verdade, o punk rock, no seu sentido mais puro, já existia muito antes do estouro da denominação punk na Londres de 1976.
Salvo engano, pode-se dizer que o marco zero da estética punk no rock é o álbum Velvet Underground and Nico, de 1967. Com seu som totalmente na contramão da psicodelia colorida da época, o grupo liderado por Lou Reed causou estranhamento e hojeriza na época do seu lançamento.
Contudo, os poucos gatos pingados que não se identificavam com a estética hippie ouviram o disco e montaram suas próprias bandas, gerando anos depois, a cena do clube CBGB‘s de Nova Iorque, fartamente documentada no livro Mate-me por favor, de Legs McNeil e Gillian McCain.
Paralelo à isso, ainda na primeira metade da década de 70, grupos como o MC-5 e os Stooges, ambos de Detroit, radicalizaram no som distorcido e na atitude contestadora. O primeiro, se aliando aos ativistas radicais dos Panteras Negras e pichando "fuck you" nas janelas da gravadora. Já o segundo, além de escancarar todo o tédio e a descrença no futuro adotados depois pela geração "no future" inglesa, ainda revelou o fantástico frontman Iggy Pop, modelo básico do vocalista de punk rock: seco como um vara-pau, totalmente alucinado e potencialmente perigoso - especialmente para si mesmo.
Os anos 80 trouxeram o hardcore, que se espalhou pelo mundo, e o estilo gótico de bandas como Bauhaus e Sisters of Mercy.
Em 1991, o Nirvana estourou na América, abrindo as portas das gravadoras majors para todo o rock alternativo americano, que até então, vivia relegado aos porões.
segunda-feira, novembro 12, 2007
NOTAS URGENTES E MICRO-RESENHAS
BOOM BAHIA'S BACK!
Como Brama já adiantou nos comments do post passado, nosso sacerdote do rock Messias GB ressuscitou o Boom Bahia Festival, que acontecerá na Praça Thereza Batista do Pelourinho, nos próximos dias 8 e 9 de dezembro. Nomes confirmados: Wander Wildner (parece que é com banda!), Valv (MG) e Vamoz! (PE). Outros nomes devem surgir até lá. Messias disse que ainda conversa com as bandas locais, para fechar a grade. O festival ocorrerá concomitantemente (foi mal) à primeira edição mensal da Feira Hype, que ele está querendo fazer a partir desse mês. Haverá DJs (nosso bom e velho Rogério Big Brother já está confirmado e virá matar as saudades da galera), stands etc. Bravo, Messiah! Vamos acompanhando para incluir mais novidades aí.
LOBÃO E CASCA
Histórica a reunião no palco da Concha de Lobão e Fábio Cascadura. Fábio chamou a atenção da platéia para "o momento muito espcial que a cultura baiana está vivendo", e anunciou o Boom Bahia para o povo. Depois cantaram juntos Maluco Beleza de Raulzito. Legal, mas podiam ter escolhido uma menos óbvia. Mas foi um grande show, tanto do Casca quanto de Lobão, com destaque para o instrumentista Eduardo Bologna, que debulhou todos os instrumentos de corda possíveis. Mais sobre Bologna na resenha de Tchello Palma, logo abaixo.
Folk rock brazuca inspirado
Uma gratíssima surpresa, este CD do cantor paulista Tchelo Palma. Oriundo dos musicais de Oswaldo Montenegro (mas relevem, o cara não tem nada a ver com as ondas do bardo carioca), Tchelo demonstra em seu terceiro (!) CD ser um compositor inspirado e muito sensível, de sonoridade francamente influenciada por gigantes do folk rock como Neil Young, Bob Dylan, Nick Drake, Leonard Cohen e Wilco. Não à toa, quatro das 13 faixas do CD são covers e / ou releituras: Essa Canção (This Song, de Badly Drawn Boy), Don‘t Think Twice, It‘s Alright (Dylan), Day is Done (Drake) e Hey, That‘s No Way To Say Goodbye (Cohen). Apesar da temeridade que é regravar Dylan e Cohen, o rapaz se saiu bem, em interpretações corretas e muito dignas. Mas o filé de Tchelo são suas pungentes e melancólicas composições próprias, como a desesperada Qualquer Nota ("eu não reguei as plantas / eu bebo mesmo é gargalo / não conta pra ninguém / mas o que eu gosto mesmo é rock 'n' roll"), a doce Nossa Última Canção e a roqueira Como Se Não Fosse. Vocalista versátil, Palma tanto impressiona com um vozeirão rouco à Joe Cocker, quanto canta baixinho à Nick Drake. Para mim, uma das melhores coisas que ouvi esse ano. Destaque para a produção exata de Eduardo Bologna, o mesmo do Acústico MTV de Lobão.
Tchelo Palma
Tchelo Palma
Karranka Sonora / Lua Discos
R$ 22,50
www.myspace.com/tcpalma
Ninguém pediu, mas eles voltaram
O Genesis é uma das bandas responsáveis pela má-fama que o rock progressivo ganhou nos anos 70. Seus álbuns quase sempre contavam uma história em faixas longas, digressivas e viajantes. Tudo mudou, porém, quando o vocalista Peter Gabriel saiu da banda e o baterista Phil Collins foi içado à beira do palco. Em pouco tempo, o grupo deixou de ser fetiche de estudantes de teatro cabeça e caiu no gosto do grande público com canções pop ligeiras, banais e não raro, ruins mesmo. Essa coletânea dupla festeja o retorno do grupo aos palcos com repertório quase todo da fase Collins. Ou seja: é um disco para fãs do baixinho careca. Se não é seu caso, fuja.
Turn It On Again - The Hits
Genesis
EMI
R$ 39,90
http://www.genesis-music.com/
Como Brama já adiantou nos comments do post passado, nosso sacerdote do rock Messias GB ressuscitou o Boom Bahia Festival, que acontecerá na Praça Thereza Batista do Pelourinho, nos próximos dias 8 e 9 de dezembro. Nomes confirmados: Wander Wildner (parece que é com banda!), Valv (MG) e Vamoz! (PE). Outros nomes devem surgir até lá. Messias disse que ainda conversa com as bandas locais, para fechar a grade. O festival ocorrerá concomitantemente (foi mal) à primeira edição mensal da Feira Hype, que ele está querendo fazer a partir desse mês. Haverá DJs (nosso bom e velho Rogério Big Brother já está confirmado e virá matar as saudades da galera), stands etc. Bravo, Messiah! Vamos acompanhando para incluir mais novidades aí.
LOBÃO E CASCA
Histórica a reunião no palco da Concha de Lobão e Fábio Cascadura. Fábio chamou a atenção da platéia para "o momento muito espcial que a cultura baiana está vivendo", e anunciou o Boom Bahia para o povo. Depois cantaram juntos Maluco Beleza de Raulzito. Legal, mas podiam ter escolhido uma menos óbvia. Mas foi um grande show, tanto do Casca quanto de Lobão, com destaque para o instrumentista Eduardo Bologna, que debulhou todos os instrumentos de corda possíveis. Mais sobre Bologna na resenha de Tchello Palma, logo abaixo.
Folk rock brazuca inspirado
Uma gratíssima surpresa, este CD do cantor paulista Tchelo Palma. Oriundo dos musicais de Oswaldo Montenegro (mas relevem, o cara não tem nada a ver com as ondas do bardo carioca), Tchelo demonstra em seu terceiro (!) CD ser um compositor inspirado e muito sensível, de sonoridade francamente influenciada por gigantes do folk rock como Neil Young, Bob Dylan, Nick Drake, Leonard Cohen e Wilco. Não à toa, quatro das 13 faixas do CD são covers e / ou releituras: Essa Canção (This Song, de Badly Drawn Boy), Don‘t Think Twice, It‘s Alright (Dylan), Day is Done (Drake) e Hey, That‘s No Way To Say Goodbye (Cohen). Apesar da temeridade que é regravar Dylan e Cohen, o rapaz se saiu bem, em interpretações corretas e muito dignas. Mas o filé de Tchelo são suas pungentes e melancólicas composições próprias, como a desesperada Qualquer Nota ("eu não reguei as plantas / eu bebo mesmo é gargalo / não conta pra ninguém / mas o que eu gosto mesmo é rock 'n' roll"), a doce Nossa Última Canção e a roqueira Como Se Não Fosse. Vocalista versátil, Palma tanto impressiona com um vozeirão rouco à Joe Cocker, quanto canta baixinho à Nick Drake. Para mim, uma das melhores coisas que ouvi esse ano. Destaque para a produção exata de Eduardo Bologna, o mesmo do Acústico MTV de Lobão.
Tchelo Palma
Tchelo Palma
Karranka Sonora / Lua Discos
R$ 22,50
www.myspace.com/tcpalma
Ninguém pediu, mas eles voltaram
O Genesis é uma das bandas responsáveis pela má-fama que o rock progressivo ganhou nos anos 70. Seus álbuns quase sempre contavam uma história em faixas longas, digressivas e viajantes. Tudo mudou, porém, quando o vocalista Peter Gabriel saiu da banda e o baterista Phil Collins foi içado à beira do palco. Em pouco tempo, o grupo deixou de ser fetiche de estudantes de teatro cabeça e caiu no gosto do grande público com canções pop ligeiras, banais e não raro, ruins mesmo. Essa coletânea dupla festeja o retorno do grupo aos palcos com repertório quase todo da fase Collins. Ou seja: é um disco para fãs do baixinho careca. Se não é seu caso, fuja.
Turn It On Again - The Hits
Genesis
EMI
R$ 39,90
http://www.genesis-music.com/
sábado, novembro 03, 2007
MICRO-RESENHAS PARA QUEM PRECISA DE MICRO-RESENHAS
Bruce, ainda descaralhante de bom
Magic, o novo de Bruce Springsteen é descaralhante de bom. Confirma as criticas que alçam o disco a categoria de obra-prima. Acho que poucas pessoas, fora os fãs do cara, esperavam um petardo tão violento dele a esta altura do campeonato. é um disco para quem gosta de rock'n'roll, na linhagem de phil spector. uma parede de som maciça e compacta sustenta melodias epicas belissimas, cantadas a plenos pulmões de forma derramada, impulsionada por uma sessão ritmica dos infernos (com a E-Street Band botando pra fuder), só que envolto num tom algo desesperançado. Bruce (the boss) Springsteen retoma o som bombastico de "born to run", e o rock'n'roll exarcerbado do "the river" sem o populismo rocker do"born in the usa". o (ex)otimista ficou sobrio e sombrio, coisas da América de bush. o disco é excelente do começo ao fim , mas atinge picos com a ácida "you'll be coming down", com o delirio sonoro de "gypsy biker", com a byrdsiana e cabeçona "your worst own enemy", e com as contaões crueis de " girls in their summer clothes". Melhor coisa que escutei até agora este ano. Fuckin' rock'n'roll jukebox. (Micro-resenha por Osvaldo Bramz).
Magic
Bruce Springsteen
Sony
Us$9.99 (na Amazon)
www.brucespringsteen.net
Escocesa passa no teste do 2º disco
Depois do sucesso do disco de estréia, Eye to The Telescope (2005), a cantora folk pop escocesa KT Tunstall passou com dignidade pelo duro teste do segundo álbum. Drastic Fantastic não é brilhante, mas deverá manter fiéis seus fãs de primeira hora, além de lhe garantir novos. A faixa de abertura, Little Favours, é uma pérola pop de levada envolvente, intrumental vigoroso, melodia vocal marcante e refrão pegajoso (no melhor sentido do termo). Apesar de ser a melhor faixa do CD, isso não quer dizer que agora é só tirar o disquinho do aparelho e pronto. If Only, Hold On, Funnyman e I Don‘t Want You Now acrescentam qualidade ao conjunto final, fazendo um disquinho bem agradável de ouvir. A arte de capa e o encarte são um show à parte.
Drastic Fantastic
KT Tunstall
EMI
R$ 31,90
www.kttunstall.com
A obra oculta de Mrs. Shelley
A escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851) ganhou fama imorredoura e reservou um lugar para si na cultura universal quando escreveu Frankenstein, ou o Prometeu moderno (título original), obra-prima do terror que refletia sobre a fragilidade do espírito humano e a busca pelo outro em um contexto assustador que misturava romance, horror e sci-fi. E é na mesma seara da ficção científica que a Editora Landmark lança em edição bilíngüe, outra obra da autora até hoje inédita no Brasil: O último homem. Considerada ainda mais rica e complexa do que o velho Frank, nesta obra, Shelley tratou da extinção da humanidade após uma pandemia. Parece atual?
O último homem
Mary Shelley
Ed. Landmark
496 p. R$ 51,50
www.editoralandmark.com.br
Chiclete remasterizado
Em um Brasil cada vez mais careta, violento e fútil, essa coleção em 16 números da revolucionária revista Chiclete com Banana (1985-1995), vem mais do que a calhar. Oásis de inteligência, anarquia e idéias, a revista do cartunista Angeli não apenas revelou uma fantástica geração de humoristas e artistas gráficos (Laerte, Glauco, Luiz Gê, entre outros), como gerou revistas filhotes: as igualmente saudosas Circo, Geraldão e Piratas do Tietê. A acidez das críticas disparadas para todos os lados era tanta, que praticamente escorria da revista. Cumprindo o papel de resgatar essas páginas indispensáveis do história dos quadrinhos, do humor e do jornalismo brasileiro, a Editora Devir convocou o publisher original Toninho Mendes e incumbiu o Pequeno Lobatinho (um de seus personagens na revista) de selecionar, entre as 2.300 mil páginas produzidas, 800 com o que de melhor foi publicado ao longo dos vinte e poucos números da revista. Serão 16 volumes de Chiclete com Banana - Antologia Para Colecionadores, todos os meses nas bancas. Os números 1 e 2 já saíram, apresentando em suas capas o emblemático Bob Cuspe e a assanhada Mara Tara, respectivamente. No nº 1, os destaques são o próprio punk da periferia (Bob), Los 3 Amigos (e seu encontro com o temido León de Tchácara), Penas (HQ antológica de Laerte), Rê Bordosa e o próprio Angeli em Crise. Já no nº 2, atenção para o atualíssimo dossiê sobre o movimento New Imbeciw, Doy Jorge (de Glauco), o guru Ralah Rikota ("Os homens levantem os braços e as mulheres, as saias") e seu clássico encontro com Mr. Natural (personagem similar de Robert Crumb). Básico, indispensável.
Chiclete com Banana Antologia
Angeli, vários
Sampa / Devir
48 págs. R$ 5,90
http://www.devir.com.br/
Pop banal + Cique de Soleil = Pink
No DVD Live From Wembley Arena, a cantora Pink oferece aos seus fãs não apenas um show filmado no famoso estádio inglês de Wembley com seus maiores sucessos, mas uma megaprodução, com direito a muitas coreografias com bailarinos incansáveis, diversas trocas de figurino, cenários majestosos e até mesmo acrobacias circenses da moçoila - em ótima forma física, diga-se - em tecido. Nada contra, mas toda essa perfumaria parece mais um artifício para desviar a atenção das composições banais que formam a sua obra. Enfim: um show de música que mais parece uma sessão do bregão e insuportável Cirque de Soleil. Socorro!
Live From Wembley Arena
P!nk
Zomba / Sony
R$ 44,90
http://www.pinkspage.com/
Anos 80 e a arte do culto ao nada
A onda de nostalgia barata que ocasionou o enorme sucesso das festas Ploc 80's suscita a seguinte pergunta: o que já era ruim vinte, 25 anos atrás, de repente ficou bom? A mera passagem do tempo deu uma nova perspectiva para barbaridades do nível de Mama Maria (Grafitte), Chorando Se Foi (Kaoma), Tindolelê (Cid Guerreiro) ou Reluz (Marcos Sabino)? A resposta é não - para certas coisas simplesmente não há salvação, por pior ainda que o cenário nacional tenha ficado desde então. O fato é que as pessoas estão tão desesperadas por qualquer emoção barata que acabam caindo na nostalgia do culto ao nada. O retrato (cultural) de uma nação.
Festa Ploc 80‘s 2
Vários
Performance
R$ 19,90 (CD)
http://www.performance.art.br/
Magic, o novo de Bruce Springsteen é descaralhante de bom. Confirma as criticas que alçam o disco a categoria de obra-prima. Acho que poucas pessoas, fora os fãs do cara, esperavam um petardo tão violento dele a esta altura do campeonato. é um disco para quem gosta de rock'n'roll, na linhagem de phil spector. uma parede de som maciça e compacta sustenta melodias epicas belissimas, cantadas a plenos pulmões de forma derramada, impulsionada por uma sessão ritmica dos infernos (com a E-Street Band botando pra fuder), só que envolto num tom algo desesperançado. Bruce (the boss) Springsteen retoma o som bombastico de "born to run", e o rock'n'roll exarcerbado do "the river" sem o populismo rocker do"born in the usa". o (ex)otimista ficou sobrio e sombrio, coisas da América de bush. o disco é excelente do começo ao fim , mas atinge picos com a ácida "you'll be coming down", com o delirio sonoro de "gypsy biker", com a byrdsiana e cabeçona "your worst own enemy", e com as contaões crueis de " girls in their summer clothes". Melhor coisa que escutei até agora este ano. Fuckin' rock'n'roll jukebox. (Micro-resenha por Osvaldo Bramz).
Magic
Bruce Springsteen
Sony
Us$9.99 (na Amazon)
www.brucespringsteen.net
Escocesa passa no teste do 2º disco
Depois do sucesso do disco de estréia, Eye to The Telescope (2005), a cantora folk pop escocesa KT Tunstall passou com dignidade pelo duro teste do segundo álbum. Drastic Fantastic não é brilhante, mas deverá manter fiéis seus fãs de primeira hora, além de lhe garantir novos. A faixa de abertura, Little Favours, é uma pérola pop de levada envolvente, intrumental vigoroso, melodia vocal marcante e refrão pegajoso (no melhor sentido do termo). Apesar de ser a melhor faixa do CD, isso não quer dizer que agora é só tirar o disquinho do aparelho e pronto. If Only, Hold On, Funnyman e I Don‘t Want You Now acrescentam qualidade ao conjunto final, fazendo um disquinho bem agradável de ouvir. A arte de capa e o encarte são um show à parte.
Drastic Fantastic
KT Tunstall
EMI
R$ 31,90
www.kttunstall.com
A obra oculta de Mrs. Shelley
A escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851) ganhou fama imorredoura e reservou um lugar para si na cultura universal quando escreveu Frankenstein, ou o Prometeu moderno (título original), obra-prima do terror que refletia sobre a fragilidade do espírito humano e a busca pelo outro em um contexto assustador que misturava romance, horror e sci-fi. E é na mesma seara da ficção científica que a Editora Landmark lança em edição bilíngüe, outra obra da autora até hoje inédita no Brasil: O último homem. Considerada ainda mais rica e complexa do que o velho Frank, nesta obra, Shelley tratou da extinção da humanidade após uma pandemia. Parece atual?
O último homem
Mary Shelley
Ed. Landmark
496 p. R$ 51,50
www.editoralandmark.com.br
Chiclete remasterizado
Em um Brasil cada vez mais careta, violento e fútil, essa coleção em 16 números da revolucionária revista Chiclete com Banana (1985-1995), vem mais do que a calhar. Oásis de inteligência, anarquia e idéias, a revista do cartunista Angeli não apenas revelou uma fantástica geração de humoristas e artistas gráficos (Laerte, Glauco, Luiz Gê, entre outros), como gerou revistas filhotes: as igualmente saudosas Circo, Geraldão e Piratas do Tietê. A acidez das críticas disparadas para todos os lados era tanta, que praticamente escorria da revista. Cumprindo o papel de resgatar essas páginas indispensáveis do história dos quadrinhos, do humor e do jornalismo brasileiro, a Editora Devir convocou o publisher original Toninho Mendes e incumbiu o Pequeno Lobatinho (um de seus personagens na revista) de selecionar, entre as 2.300 mil páginas produzidas, 800 com o que de melhor foi publicado ao longo dos vinte e poucos números da revista. Serão 16 volumes de Chiclete com Banana - Antologia Para Colecionadores, todos os meses nas bancas. Os números 1 e 2 já saíram, apresentando em suas capas o emblemático Bob Cuspe e a assanhada Mara Tara, respectivamente. No nº 1, os destaques são o próprio punk da periferia (Bob), Los 3 Amigos (e seu encontro com o temido León de Tchácara), Penas (HQ antológica de Laerte), Rê Bordosa e o próprio Angeli em Crise. Já no nº 2, atenção para o atualíssimo dossiê sobre o movimento New Imbeciw, Doy Jorge (de Glauco), o guru Ralah Rikota ("Os homens levantem os braços e as mulheres, as saias") e seu clássico encontro com Mr. Natural (personagem similar de Robert Crumb). Básico, indispensável.
Chiclete com Banana Antologia
Angeli, vários
Sampa / Devir
48 págs. R$ 5,90
http://www.devir.com.br/
Pop banal + Cique de Soleil = Pink
No DVD Live From Wembley Arena, a cantora Pink oferece aos seus fãs não apenas um show filmado no famoso estádio inglês de Wembley com seus maiores sucessos, mas uma megaprodução, com direito a muitas coreografias com bailarinos incansáveis, diversas trocas de figurino, cenários majestosos e até mesmo acrobacias circenses da moçoila - em ótima forma física, diga-se - em tecido. Nada contra, mas toda essa perfumaria parece mais um artifício para desviar a atenção das composições banais que formam a sua obra. Enfim: um show de música que mais parece uma sessão do bregão e insuportável Cirque de Soleil. Socorro!
Live From Wembley Arena
P!nk
Zomba / Sony
R$ 44,90
http://www.pinkspage.com/
Anos 80 e a arte do culto ao nada
A onda de nostalgia barata que ocasionou o enorme sucesso das festas Ploc 80's suscita a seguinte pergunta: o que já era ruim vinte, 25 anos atrás, de repente ficou bom? A mera passagem do tempo deu uma nova perspectiva para barbaridades do nível de Mama Maria (Grafitte), Chorando Se Foi (Kaoma), Tindolelê (Cid Guerreiro) ou Reluz (Marcos Sabino)? A resposta é não - para certas coisas simplesmente não há salvação, por pior ainda que o cenário nacional tenha ficado desde então. O fato é que as pessoas estão tão desesperadas por qualquer emoção barata que acabam caindo na nostalgia do culto ao nada. O retrato (cultural) de uma nação.
Festa Ploc 80‘s 2
Vários
Performance
R$ 19,90 (CD)
http://www.performance.art.br/
sexta-feira, outubro 26, 2007
115 ANOS BEM ANIMADOS
A Quinzena Animada, que começa hoje na Sala Walter, comemora o Dia Internacional do Animador com mostras inéditas
O cinema de animação quem diria, é mais antigo ainda do que o convencional. Esse dado, ignorado pela maioria das pessoas - fãs de animação ou não -, apenas reforça a importância da data de hoje: exatos 115 anos atrás, o cientista diletante francês Emile Reynaud exibiu no Musée Grevin em Paris, no seu chamado Teatro Ótico, uma seqüência de imagens desenhadas em movimento, chamada Le Clown et Les Chiens (O Palhaço e Os Cães). Ele conseguiu isso através de uma máquina criada por ele mesmo, denominada Praxinoscópio, que vinha a ser uma versão melhorada do Zoótropo, aparato inventado pelo inglês William George Horner anos antes. O famoso cinematógrafo dos Irmãos Lumiére, marco zero do cinema, só viria mais de três anos depois, em dezembro de 1895.
Foi daí que o dia 28 de outubro foi instituído pela Associação Internacional do Filme de Animação (ASIFA) como o Dia Internacional da Animação. É para comemorar a data que a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) organizou o evento Quinzena Animada, que ocorrerá de hoje até 10 de novembro, com curadoria de Chico Liberato e Arnaldo Galvão. Liberato, para quem não está ligando nome à pessoa, é o realizador do único longa-metragem baiano de animação, o mitológico Boi Aruá (1983).
Serão 15 dias de intensa atividade, entre mostras, oficinas e encontros. O ponto de partida é a mostra Os Melhores do Mundo. Através da ASIFA, mais de 50 países terão programação semelhante. Só no Brasil, a mostra será realizada em 50 cidades simultaneamente, as 19 horas. Na sessão de hoje, diversos curtas experimentais nacionais e estrangeiros, como Vida Maria (de Márcio Ramos, Fortaleza, 2006), Mobsquad (de Fons Schiedon, SP, 2006) e Cidade-Fantasma (de Lisandro Santos, RS, 1999), entre vários outros.
Imperdível também é a Mostra McLaren Remasterizada, que exibirá dez obras de Norman McLaren, animador canadense que é um dos criadores do National Film Board of Canada, provavelmente, a maior produtora de animações não-comerciais do mundo.
McLaren é considerado o autor da mais diversificada e reconhecida obra autoral individual do cinema de animação do século XX.
Entre os animadores que ministrarão oficinas na Quinzena, o destaque fica com o carioca-canadense Daniel Schorr, profissional de larga experiência no National Film Board of Canada.
Schorr nasceu e se formou em Comunicação Social ainda no Rio de Janeiro, mas logo mudou-se para Montreal, onde reside e trabalha há 16 anos. Já ganhou prêmios no Festival de Havana, Anima Mundi (SP) e Cine Ceará e Festival de Recife, entre outros. A Oficina Canadá, com ênfase nas técnicas de recorte, textura e transparência sobre luz tem inscrições gratuitas para até 40 pessoas e acontecerá entre os dias 29 e 1º.
Outro curso interessante é a Oficina Bacana de Clementino, onde os participantes farão filmes na técnica de pixilation, onde pessoas são animadas ao vivo. Os resultados desta oficina ministrada por Rafael Ferreira, animador carioca radicado em Fortaleza, serão transformados em drops de 10 segundos, que serão exibidos na TVE.
Abertura sábado 28 de outubro, 19h
Sala Walter da Silveira
Rua General Labatut, 27, Barris
Entrada gratuita
Confira a programação completa e as oficinas no site www.quinzenanimada.com.br