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quarta-feira, dezembro 11, 2019

VIVENDO O SONHO

Saga do blues baiano segue viva com a RestGate Blues, que lança primeiro EP dia 19

RestGate Blues, foto Nti Uirá
Salvo engano, o  blues chegou tarde à Bahia, ali na virada entre as décadas de 1980 e 1990, quando bandas como Talkin’ Blues e 14º Andar começaram a fazer sessions semanais em bares como o Atelier (Nazaré) e Club 45 (Barra).

Foi no primeiro que Jr. Wyll, que já ouvia blues em casa, nos vinis do pai, se batizou no gênero ao som do saudoso mestre Álvaro Assmar e de outros que estão aí até hoje, como Oyama Bittencourt (hoje Água Suja), Cláudio Lacerda (Ramal 12), Mario Danneman  etc.

Muitos anos se passaram, Wylsel (seu nome) se alistou na Marinha  e se tornou fuzileiro naval. Curiosamente, foi entre colegas de caserna que teve suas primeiras experiências tocando blues em uma banda.

Depois de dar baixa, formou com o amigo Viriato um duo. Ele na gaita e voz, Viriato no violão.

Em 2002, tocavam em um ponto de ônibus no bairro do Resgate.

De lá para cá, a RestGate Blues já teve diversas formações, se mudou para o Capão e depois voltou à capital, acabou e retornou.

A partir de 2014, Wylsel e sua esposa / produtora, Nanci Nunes, resolveram botar o antigo projeto pra frente, começando a se apresentar regularmente em bares e restaurantes da cidade.

Agora, finalmente, Jr. Wyll (voz e harmônica), Atila Caribé (guitarra), Uirá Tiago (bateria) e Rayan Ribeiro (baixo) lançam o primeiro trabalho da RestGate Blues: é o EP Vivendo Blues, que terá show de lançamento no dia 19 próximo (uma quinta-feira), no Jazz na Avenida (Boca do Rio).

No mesmo dia, o EPzinho de cinco faixas estará disponível no Spotify, iTunes, Amazon,  Google Play e YouTube.

“Gravamos tudo de forma totalmente independente, e com aquela velha ajuda de grandes amigos”, conta Wyll.

Blues on the road

Lançado o disquinho, que terá versão física em breve, garante Wyll, a ideia do quarteto é cair na estrada e tocar muito.

“Estamos preparando uma turnê por cidades da Bahia para 2020. Já se confirmaram Feira de Santana, Serrinha, Amargosa, Santo Antonio de Jesus e algumas cidades da Chapada Diamantina: Lençóis, Itaberaba, Palmeiras, Vale do Capão”, conta o bluesman.

“Também estão nos planos e em negociação, casas noturnas em Aracaju, São Paulo e Rio de Janeiro. Bem como alguns festivais de blues pelo Brasil que também já sinalizaram interesse nos nossos attacks”, afirma.

Além disso, a RestGate pretende lançar simultâneo ao EP de estúdio uma versão acústica, que já está pronta e deve sair também estes dias.

RestGate Blues / lançamento Vivendo blues / Dia 19 (quinta-feira), 19 horas / Jazz na Avenida / Colaborativo

EXTRA: Jr. Wyll relata sua história e a da RestGate Blues em suas próprias palavras:

RestGate Blues, foto Nti Uirá
"Então, da formação original hoje só temos o Wyll (eu) o vocalista e harmonicista. Inicialmente eramos apenas um duo (voz e harmônica - Wyll, e violão - Viriato Sampaio), que tocava num ponto de ônibus no bairro do Resgate em Salvador, em 2002. Em 2009 mudei para o Vale do Capão, onde passei a tocar sozinho na taberna de um cordobês. Dois anos depois, o Viriato que acabava de concluir a sua faculdade de engenharia, foi também para o Vale e voltamos a tocar juntos. E no réveillon de 2010/2011, tocamos pela primeira vez com o formato atual: voz, harmônica, guitarra, baixo e bateria. Foi quando o duo virou banda, no Vale do Capão. Um ano depois, percebendo que algo estava dando certo naquele projeto, e somando isto à vontade de continuar com o sonho antigo de fazer blues, e com o término de um casamento no Vale do Capão, resolvi que não ficaria por lá, pois já estávamos tendo alguns convites para tocar em Salvador e que no Vale não seria possível seguir com o projeto sem ter muitas dificuldades (não que em Salvador fosse ser fácil..rsrs). Acontece que, pouco tempo depois em uma visita ao Vale, juntamente com o Viriato, ele iniciou um relacionamento e resolveu ficar por lá. Então voltei a procurar um guitarrista em Salvador que soubesse tocar o blues - missão quase impossível (até hoje)! Tendo em vista que eu não fazia parte do grupo fechado de músicos que se dedicavam ao estilo em nossa cidade. E isso iniciou um processo de entra e sai de músicos na banda, que atrapalhava muito os processos e a intenção de gravar. Tamanha demora para o lançamento de um trabalho, reside basicamente aí. Sou um ex-fuzileiro e tive a minha primeira banda de blues no quartel. Lá, tinha acesso a excelentes músicos que tocam todo tipo de música. Inclusive o blues! Só que a partir do momento que saí de lá, e não conhecia ninguém que sequer ouvisse o blues - por mais que frequentasse - aos 20 / 21 anos, o Atelier Presciliano Silva e conhecesse o nome de cada um dos caras que lá tocavam. Então foi muito difícil formar e manter uma formação longeva de uma banda de blues, em Salvador, com músicos que não eram do blues. Este primeiro guitarrista do qual falei antes, quando o conheci, estava começando a aprender o violão, e tocava uma coisa que ele chamava de 'funkeado' (rs). Ele pegava musicas como Odara do Caetano, e umas coisas da Ivete Sangalo, e tocava em ritmo de funk. Ao ver que ele se iniciava no instrumento, tratei de contaminá-lo logo com 200 CDs de blues dos mais variados. E quando ele começou a tirar alguns sons, começamos a tocar no tal ponto de ônibus. Pouco tempo depois, comecei a encorajá-lo a comprar uma guitarra. Foi quando partimos para tocar em bares como o Etrusco, Whiskritório, Sankofa e Zen Thai, bares de Salvador onde tocamos muitas e muitas vezes, a convite da amiga, atriz e cantora Denise Correia, da banda Na Veia da Nega, que nos deu uma força imensa no inicio dessa trajetória, abrindo espaço para tocarmos em vários lugares na cidade. Cerca de um ano depois quando conheci a Nanci Nunes - minha mulher, cuja entrada na banda como produtora ajudou a elevar com muito trabalho, organização e muita dedicação o nível do projeto - começamos a tocar no D'Venetta, no Santo Antonio, onde passamos quase três anos tocando todas as quartas, e reunindo um publico que já começava a disseminar por aí o nosso trabalho".



"O blues chegou à Salvador no final dos anos 80, talvez mais no começo dos 90. O Atelier se inicia em '93. O Atelier reunia essa turma! E eu frequentava o lugar. Ia com uns amigos do quartel e ficávamos lá meio 'peixe fora d'água', querendo tocar, mas sem coragem para abordar os caras. Era pra gente um lugar especial, onde caras especiais (Álvaro Assmar, Mario Danneman, Jerry Marlon, Oyama Bittencourt, Guiga, Miguel Arcanjo, Mauricio Simões, Carlos Lacerda, entre outros...), estavam fazendo algo que gostaríamos de fazer. Blues. Digo que fui 'iniciado' no blues dentro de casa pelos meus pais, ainda que eles não tivessem noção de que faziam isso - pois tudo era dentro da minha cabeça e coração, e depois de adulto, foi que eu também concretizei isso. Mas eu não encontrava esse tipo de música fora de casa. E descobrir o Atelier foi incrivel! Eu nunca fui do Rock. Curtia o LP dos Secos e Molhados aos 6 anos de idade, por conta de duas musicas e que 'coincidentemente' eram dois blues - ou pareciam muito: Mulher Barriguda e Prece Cósmica. Na primeiro, pode-se ouvir uma gaita estridente, e era o que me chamava a atenção. Um dia encontrei numa coleção de chaveiros da minha mãe, um que era uma pequena gaita, e passei fazer barulho com ela quando percebi que tinha o mesmo som do instrumento que eu gostava na música do Secos & Molhados. Até que entre os tantos LPs que o meu velho comprava surgiram BB King, Junior Wells e mais tarde o Harp Attack (um álbum que reúne Billy Branch, Junior Wells, James Cotton e Carey Bell, quatro dos maiores harmonicistas do mundo), e isso pra mim foi a maior pancada! Dos outros integrantes da gang, apenas o Átila (guitarrista) já veio por caminhos de blues, é ex-integrante da Meia Noite no Ali, banda parceira que se fez presente nas casas noturnas da cidade há uns cinco ou seis anos atras. E que acabou. O Uirá (baterista) tem outras influências, vindo a conhecer o blues após entrar na banda primeiramente como roadie, depois passou a substituir o Samuel (baterista entre 2016 / 17), passando a assumir a bateria da gang. E o Rayan (baixista) está pouco mais de um ano na gang, é estudante de musica popular na UFBA e também tem uma influência bastante variada. Iniciando seu contato com o blues, também ao entrar pra gang".

"Gravamos Vivendo Blues que é o single do EP, há dois anos no Estúdios WR. No 'WR de Portas Abertas', um projeto que viabilizou a muitos artistas o sonho de gravar com extrema qualidade uma música. Isso nos ajudou muito e nos aproximou da possibilidade de um lançamento. Só que não basta ter a música para lançá-la, né? Então todas as outras coisas que rodeiam este processo - e muito disso é dinheiro, foram e voltaram varias vezes, inclusive com o anuncio de um lançamento em 2018, que não aconteceu. Neste ano de 2019 decidimos que não dava para terminarmos mais um ano sem lançar um trabalho que já estava completamente concebido, e que só precisava de ação. E então metemos a mão na massa! Gravamos tudo de forma totalmente independente, e com aquela velha ajuda de grandes amigos. Um deles, o Diogo Rios, cantor e compositor, possui equipamentos e muito boa vontade, de cara topou e incentivou muito para que iniciássemos este processo logo. Gravamos na casa dele guitarras, baixo, gaita e vozes com um amigo do Diogo, que possui uma placa e que também se disponibilizou a um custo de amigo fazer a gravação. Por questão de tempo, a bateria só foi ser gravada depois... o que fez com que quase tudo tivesse que ser gravado novamente rsrs. Pois ficou tudo meio fora do beat! Então pegamos quase do zero, gravamos uma das baterias inicialmente no estúdio Carmo44, da banda Vivendo do Ócio, com os irmãos Luca e Davide Bori. E demos continuidade no estúdio O Puleiro, do produtor e amigo Rodrigo Medeiros - dessa vez, com um novo amigo e grande promessa para a produção musical - ao meu ver, que é o Victor Jessy, que também é cantor e compositor e estagia na WR, onde refizemos as vozes. Daí foi necessário regravar algumas guitarras e pronto, o Victor começou a mixar. Foi uma semana que se encerrou no dia 3 último, com uma sessão que começou 9h da manhã e acabou as 23h no estúdio O Puleiro, em Piatã. Acredito que hoje seja perfeitamente possível se virar sem o produtor fonográfico profissional. Evidentemente que se o artista leva realmente a sério o seu trabalho e deseja lançar bons materiais, precisa estudar e trabalhar muito para conhecer profundamente o caminho no qual está passando. Existem grandes exemplos não somente no Brasil, e não somente de artistas novos, mas muitos grandes artistas que conhecem o caminho e se desenrolam independentemente. Penso que isso poderá ser cada vez mais possível para bandas novas e independentes".

NUETAS

Amigos Velhos sexta

Uma das melhores novidades do rock local em 2019, a banda Meus Amigos Estão Velhos faz seu último show do ano no esquemão street do Bardos Bardos. A coluna recomenda. Sexta, 19h, sugere-se uma colaboração de R$ 10.

Carne Doce, Andréa

Alimentada por certo hype, a banda goiana Carne Doce estreia em Salvador sábado, na despedida do TOCA! 2019. Andrea Martins (Canto dos Malditos na Terra do Nunca) faz as honras da casa, apresentando set list do primeiro álbum solo (sai em 2020). 20 horas, no Pátio do Goethe Institut, R$ 50, Lote 2: R$ 30 e R$ 60.

Scalene, Informais, Iorigun

A banda brasiliense Scalene volta à cidade para show com as baianas Os Informais e Iorigun. Domingo, 16h, no Portela Café. R$ 35 (Sympla).

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