O clã Veloso mostra que tem samba no pé, foto Ney Coelho |
Reencontro de Caetano (e família) com o público soteropolitano. Reencontro do público com o festival da Educadora e os artistas que este revela.
Enfim, um momento de alegria e música como só na Bahia costuma acontecer.
Alegria também para os concorrentes que serão premiados no festival, o qual distribuirá R$ 62 mil em premiações para diversas categorias – um incentivo e tanto para novos artistas, além da visibilidade (ou audibilidade) vinda da veiculação das músicas concorrentes na rádio.
No júri, grandes nomes da Bahia como Carlos Capinam, Letieres Leite, Marcia Castro, Márcia Short e Leto Vieira decidirão a parada.
Finda a competição, sobem ao palco o duo Jota Veloso & Luciano Salvador Bahia. Ainda quentes da recente estreia do próprio programa na Educadora FM – Feita na Bahia –, Jota e Luciano apresentarão composições próprias e releituras de clássicos de compositores baianos.
O duo, como Caetano adianta nesta entrevista, ainda periga ressurgir diante do público na última música do gran finale, a cargo de Caetano e filhos, que se revezam entre violões e diversos instrumentos.
Na estrada desde outubro de 2017, o show Ofertório retorna à Concha Acústica dez meses depois de sua primeira apresentação por aqui, em janeiro último – uma bem-vinda segunda chance para quem perdeu e oportunidade para quem quer ver de novo.
No repertório, clássicos de diversas épocas: Alegria Alegria, Reconvexo, Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê, Sertão, O Leãozinho, Força Estranha, Oração Ao Tempo e o hit-surpresa Todo Homem, composto e cantado (em glorioso falsete) por Zeca Veloso.
Nesta entrevista por email, Caetano fala da evolução do quarteto familiar no palco, de festivais e do que espera do Brasil em 2019.
O repertório deste show é rigorosamente o mesmo apresentado em janeiro último na Concha Acústica? Ou houve modificações?
Família que faz música unida... Foto Rafael Berezinski |
O show Ofertório está na estrada desde outubro de 2017. Como o senhor avalia a evolução deste quarteto no palco de lá para cá?
CV: Estamos mais acostumados ao show. Parecemos um pouco mais com uma banda. Embora ainda sejamos mais parentes do que tudo.
Dada a boa fase no palco com Moreno, Zeca e Tom, há planos de levar esta banda ao estúdio? Tem previsão de gravar um novo álbum de inéditas com eles?
CV: O show foi inteiramente gravado, som e imagem, logo após a estreia, numa apresentação ao vivo (com umas duas ou três músicas gravadas em separado, na passagem de som). Dali é que veio o sucesso de Todo Homem e tudo pode ser visto e ouvido na internet ou em CDs e DVDs. Nunca planejamos gravar em estúdio, mas essa sugestão de gravar um grupo de inéditas é atraente. Vou conversar com os três e sentir o que sai daí.
A abertura do show está a cargo do seu sobrinho, Jota Veloso, e seu parceiro, Luciano Salvador Bahia. Há alguma interação prevista entre as duas bandas?
CV: É uma maravilha que seja Jota a abrir. E com o Luciano Salvador Bahia, cujo nome já diz tudo. Fica ampliado o sentido de dinastia popular-musical dos Velosos de Santo Amaro. (Gosto de dizer e escrever “Velosos”, no plural, como n'Os Maias de Eça de Queirós, porque Moreno sempre fala assim e com o ó aberto, “Velósos”, como deve mesmo ser o plural de “veloso”, que quer dizer peludo, e parece “velozes”.) Espero que Jota e Luciano possam e queiram se unir a nós num samba final, no bis, sei lá. A gente deve se encontrar na passagem de som e vê como rola.
O show deste sábado é na final do XVI Festival de Música Educadora FM. Como um artista que ganhou bastante notoriedade por meio de festivais competitivos de música (no final dos anos 1960), como o senhor vê a iniciativa da Educadora em manter um festival como este já há 16 anos?
CV: Festivais competitivos podem ser um estímulo. Pessoalmente não sou muito dado a competições. O que me anima é o pretexto de ter várias pessoas que fazem música postas num mesmo ambiente. Isso sempre enriquece. É bom que a Educadora faça isso. Para os que se animam com o aspecto competitivo, também é estimulante. Me lembro das plateias da Record em 1967/68.
Caetano, o que o senhor espera do Brasil em 2019?
Moreno manda ver no contrabaixo acústico com arco, foto Hércules Rakauskas |
Estamos em um momento meio estranho, no qual parece que artistas, professores e jornalistas se tornaram inimigos para uma parcela da população, em consonância com a chegada ao poder de líderes de extrema direita – e em várias partes do mundo, não apenas no Brasil. Muita gente está preocupada com os retrocessos que essa onda pode trazer. Como o senhor está vendo tudo isto?
CV: Há em muitos países gestos públicos de regressão. É normal. De todo modo, quase 100% inevitável. Para cuidar do nosso caso específico, devemos, nós brasileiros, ser o mais amadurecidos que pudermos ser. Temos dado mostras de maturidade desde a redemocratização. Em muitos aspectos, crescemos. Mas nossas fragilidades se mostram. É preciso saber reintroduzir elementos básicos de democracia onde ela estiver mais enfraquecida. Nunca esquecer que estamos numa situação democraticamente escolhida pela maioria dos eleitores. Respeitar as autoridades constituídas para poder exigir delas respeito. É assim que funciona.
16º Festival Música Educadora FM / Show principal: Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso: Ofertório / Hoje, 18 horas / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / R$ 80 e R$ 40 / Camarote: R$ 160 e R$ 80 / Vendas: Bilheterias do TCA, SACs Shoppings Barra e Bela Vista e site ingressorapido.com.br / 16 anos
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