Chico e banda no TCA, foto de Mila Cordeiro / Divulgação |
Com exceção das quatro últimas fileiras (Z8, Z9, Z10 e Z11), que restaram vazias, o público se acomodou em todo o resto do teatro.
Após ser anunciado pelo sistema de som e ter as cortinas levantadas diante de si e da banda, Chico abriu um show que pareceu seguir fielmente um roteiro, iniciando a apresentação com Minha Embaixada Chegou, samba de 1934 do baiano Assis Valente.
“Minha embaixada chegou / Deixa o meu povo passar / Meu povo pede licença / Pra na batucada desacatar”, anunciou Chico, elegante em impecável blazer preto, para delírio das senhoras no recinto.
Estabelecido o consulado provisório até domingo, o titular foi de pouca conversa: saiu desfiando seu repertório, começando com a pouco lembrada – e maravilhosa – Partido Alto: “Diz que deu, diz que dá / Diz que Deus dará”.
Ainda morno no início, Chico foi ficando mais a vontade em um show difícil de ser tematizado em uma caixinha só.
Ao longo da apresentação, diversas facetas de sua produção artística surgiam no palco: o Chico romântico (Retrato em Branco e Preto, A Moça do Sonho, Todo Sentimento), o Chico latino (Iolanda), o Chico feminino (Palavra de Mulher, A História de Lily Braun), o Chico novo (Casualmente, Tua Cantiga – aplaudidíssima, Desaforos, Jogo de Bola).
Ainda no repertório do CD As Caravanas – executado na íntegra – fez questão de saudar o neto xará Chico Brown, seu parceiro na lírica Massarandupió.
Mal começou a canção, pediu para a banda parar, pois havia errado a letra. Aplausos massivos da plateia.
Ao longo da canção, a armação do cenário de Hélio Eichbauer começou a balançar suavemente. Aí ficou claro do que realmente se trata o parangolé: uma rede.
Nada mais apropriado para acompanhar uma música tão praieira.
As Caravanas somos nós
Noite de quita 17 de maio no TCA. Foto Mila Cordeiro / Divulgção |
Gota D’Água mal havia começado e um longo suspiro coletivo ecoou na Sala Principal do TCA. Justificado.
Mas o Chico que as pessoas mais queriam ver parecia mesmo ser o Chico político – que surgiu renovado na espetacular faixa-título do álbum e da turnê, na qual descreve um caótico domingo de sol na Zona Sul, com direito à característica batida de funk carioca: “Com negros torsos nus deixam em polvorosa / A gente ordeira e virtuosa que apela / Pra polícia despachar de volta / O populacho pra favela / Ou pra Benguela, ou pra Guiné”.
A essa altura, a apresentação já se encaminhava para o terço final, com o povo já visivelmente se remexendo nas cadeiras, doido para descer para a frente o do palco.
A deixa foi depois que Chico apresentou a banda e, ao som de Grande Hotel, botou um chapéu de malandro carioca e dedicou o show ao seu parceiro nesta canção, o mítico baterista Wilson das Neves, morto no ano passado.
Em êxtase, senhoras, senhores – e jovens, claro – se levantaram e desceram para a beira do palco. Chegamos à Derradeira Estação, com direito à reprise de Minha Embaixada Chegou.
A música termina e Chico sai. Volta ao violão, com Geni e o Zepelin. Gritos de “Lula livre” e “Fora Temer” são ouvidos. Um coxinha solitário berra “Lula na cadeia”. Ninguém dá bola.
O show se conclui e Chico sai de novo. Mas quem disse que o povo está satisfeito? Chico volta e manda Paratodos: “O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano / Meu maestro soberano / Foi Antonio Brasileiro”.
Agora sim, o círculo se fecha. A embaixada é do povo. As Caravanas somos todos nós.
Chico chega junto da plateia, dá uma sambadinha (gritinhos histéricos) e, sem aviso, dispara a correr de um lado para outro de um jeito meio engraçado, batendo nas mãos que se estendem para tocar o ídolo.
É, todos aqueles babas com o Polytheama (seu time) e caminhadas pela orla definitivamente valeram a pena.
(Confira a funny running de Chico e o fim do show no vídeo abaixo, gravada pelo celular do blogueiro).
❤️
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