A arte em xilogravura... |
Lançado pela Veneta, a HQ é um voo livre sobre as origens do gênero, resgatando alguns de seus pioneiros e suas histórias – o que equivale dizer que também conta um pouco da história do Rio de Janeiro no início do século 20, e portanto, também do Brasil.
Produzida ao longo de dez anos, a obra tem na arte de Sánchez tanto um de seus pontos fortes quanto um ponto fraco.
Explica-se: inicialmente, a ideia era fazer a HQ inteirinha em xilogravura (técnica de gravura em madeira), especialidade do artista.
“Para meu espanto, depois de pesquisada e escrita, a primeira das três partes iguais do livro estava pronta em um ano! Toda em xilogravura! No entanto, a vida anda, o sujeito não pode desprezar a oportunidade de viajar e aprender”, diz Patati no prefácio.
“João criou um estilo ‘xiloderivado’ para prosseguir. Ele desenhou quando pôde, e as duas outras HQs se esticaram longamente, sem que me faltasse notícia delas. Tudo junto, foram dez anos!”, conta.
Aí é que está: o primeiro capítulo, todo em majestosa xilografia, como se pode ver na reprodução ao lado, acostuma “mal” os olhos do leitor, que, quando chega nos dois outros, se depara com uma arte que, apesar de bonita, simplesmente não está à altura.
Isto prejudica um pouco a experiência da leitura, ainda que fique claro, conforme as páginas avançam, que o artista foi esquentando, evoluindo em seu estilo “xiloderivado”, produzindo, sim, belas páginas mais ao final do livro.
...e a arte "xiloderivada" de Sanchez |
Descontado este desequilíbrio, a HQ em si vale a leitura (e a apreciação de sua arte).
Como já foi dito, ela traz três histórias independentes entre si, ligadas pelo próprio tema e um personagem recorrente, o fictício Camunguelo, um violeiro e compositor de sambas, contemporâneo dos pioneiros que vão aparecendo na história, como Mano Elói, Tia Ciata (que não aparece, mas é várias vezes citada), Ismael Silva, Cartola, Noel Rosa etc.
A primeira HQ, com suas gravuras absolutamente deslumbrantes, ambientada em 1901, mostra a população de ex-escravos sofrendo o diabo ao voltar das guerras do Paraguai e de Canudos, iludidos pela promessa do governo de uma casa para cada soldado, nunca cumprida.
E aí vemos a origem das favelas (nome da plantinha que vinha nas botas dos soldados chegados de Canudos).
Visto hoje, o episódio é uma amarga lição de história que explica (em parte) o caos vivido pela Cidade Maravilhosa mais de um século depois, fruto, como sempre, do descaso histórico do Estado para com as populações mais pobres.
O segundo episódio também traz uma forte carga histórica ao enfocar a última noite do Morro do Castelo, área de fundação da cidade e que foi abaixo em 1922, a mando do então prefeito Carlos Sampaio, para se livrar da população proletária que lá vivia e deixar a cidade “bacana” para as comemorações do Centenário da Independência.
Na HQ, vemos Camunguelo e namorada, na véspera da demolição do morro, relembrando episódios como a Revolta da Chibata (1910) e o exílio forçado de revoltosos para Belém, além da lenda do tesouro jesuíta que até hoje cerca a história do Morro.
A terceira HQ é um encontro em um botequim, já em 1930, de Camunguelo com Noel, Cartola e Ismael. O papo gira em torno da venda de sambas, muito comum então, para os cantores do rádio.
Couro de gato – Uma história do samba / Carlos Patati e João Sánchez / Veneta/ 144 p./ R$ 54,90
conheci o Patati numa feira de livros aqui em Salvador, no mesmo dia em que conheci o Nilton Santos, lendário jogador do Botafogo e seleção. Quem me apresentou o Patati foi o meu amigo falecidoo, o poeta Zeca de Magalhães...lembro que teve uma época que o Patati tava bem mal de diabetes, diziam que tava na beira da cova, no começo dos anos 20900...e ele taí até hj, na época do face eu ainda tinha contato com ele, depois q saí em 2014, nunca mais soube notícia dele...bom saber boas novas dele!!!
ResponderExcluirse vacilar ele me falou desse projeto, que pelo tempo que não nos falamos, me esqueci.