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sexta-feira, março 31, 2017

O CORAÇÃO DA MULHER BIÔNICA

Estreia: Trama cyberpunk de visual alucinante, Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell  traz Scarlett Johansson como uma androide em busca da própria identidade 

Scarlett
Versão live action fiel de um clássico desenho animado japonês, Vigilante do Amanhã: Ghost in The Shell é uma delirante ficção científica cyberpunk com referências várias, como Blade Runner, Pinóquio, Robocop e Matrix.

Scarlett Johansson é Major, uma androide de última geração a serviço de um órgão governamental obscuro, o Setor 9.

Major é a primeira de uma nova espécie: seu cérebro é humano e seu corpo, uma máquina ultraconectada, ágil, super forte etc.

Ela não se lembra quem foi quando ainda era humana, já que suas memórias foram apagadas pelo Setor 9.

Em suas missões, Major é auxiliada pelo seu parceiro Batou (Pilou Asbæk), pelo chefe do Setor (Takeshi Kitano) e sua “médica” (Juliette Binoche).

Na trama, acompanhamos sua investigação para deter Kuze (Michael Pitt), um super hacker capaz de possuir qualquer pessoa ou máquina, já que no futuro descrito pelo filme, tudo e todos estarão conectados em uma rede global / neural.

O filme é bem fiel à sua fonte de 1995, O Fantasma do Futuro (Ghost in The Shell), de Mamoru Oshii, que por sua vez é baseado no mangá homônimo, de Masamune Shirow.

Pilou Asbaek como Batou, o fiel parceiro de Major
O diretor Rupert Sanders chega mesmo a reproduzir sequências inteiras do desenho – o que em si, não é ruim, já que boa parte do público ocidental nunca viu o original.

Humano versus máquina

Visualmente alucinante, a cidade do filme tem no clássico Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) sua evidente referência – com o acréscimo de holografias publicitárias do tamanho de edifícios por todo canto.

Nesse futuro, como de resto em qualquer obra que se alinha à estética cyberpunk, a humanidade não é muito diferente da que temos hoje, apesar de todas as melhorias e implantes cibernéticos: os ricos e fortes seguem oprimindo os pobres e fracos e as conexões entre os poderes político e econômico são tão ou mais corruptas.

Nesse cenário, Major surge como uma alma frágil – apesar de toda a sua força –, às voltas com suas memórias truncadas, um sentimento de isolamento que só quem é a única (ou a primeira) de sua espécie é capaz de sentir.

O conflito a leva a buscar sua identidade (Robocop) e até sua mãe (Pinóquio).

Essas questões do conflito humano versus máquina servem como pano de fundo para a trama de ação sci fi em um blockbuster multimilionário – portanto, não dá mesmo para esperar muita profundidade.

Mas tem lá seu charme – aliás,  inescapável até pela presença da protagonista.

O final difere um pouco da versão japonesa, pendendo para o lado comercial do cinemão norte-americano, mas nada que chegue a anular a experiência que, recomenda-se, seja em 3D.

Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell / Dir.: Rupert Sanders / Com Scarlett Johansson, Pilou Asbæk, Takeshi Kitano, Juliette Binoche / Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / 14 anos

terça-feira, março 28, 2017

LIDERADA POR EX-MAR REVOLTO, ALQUÍMEA LANÇA ÁLBUM SÁBADO NO ESPANHOL

Allefe, Geo e Petão. Foto Ney Santos
Membro fundador da antológica banda baiana Mar Revolto, o guitar hero Geo Benjamin volta à cena local liderando o power trio Alquímea.

A banda lança o álbum Flower Power neste sábado, com um show no festival de cervejas artesanais Beer, Rock & Blues, no Centro Espanhol.Com um som fortemente calcado no suíngue pesado e psicodélico de Jimi Hendrix, Flower Power é um bom veiculo para a excelência instrumental de Geo, Petão (baixo) e Állefe (bateria) – que diga-se de passagem, são pai e filho.

“Hendrix sempre foi a minha referencia e inspiração, e ainda é. Na minha adolescência eu comecei tocando contra baixo em bandas de escola e quando eu ouvi Hendrix pela primeira vez, eu tinha 16 anos, quis mudar imediatamente pra a guitarra. Aquele som pra mim soava mágico e muito original, apesar de um pouco estranho. Enquanto meus amigos (Octávio Américo e Raul Carlosgomes, do Mar Revolto) ouviam Beatles e Rolling Stones, eu só ouvia Hendrix”, conta Geo.

“Sim, a banda Alquímea tem o clássico modelo do Power Trio, típico das bandas de rock do final da década de 60 e o nosso repertório autoral  tem à ver com aquela década, onde se processou grandes transformações no mundo com o surgimento da cultura hippie ou movimento da contra-cultura. Por isso o CD chama-se Flower Power, onde se ouve na faixa de mesmo nome: "...sou mais um, vivi o Flower Power, creio ainda existe amor. Sou um a mais, de espinho, espada e amor no peito pra salvar a flor..."; se referindo à necessidade de unirmo-nos em favor da  preservação ambiental, uma das tônicas do nosso trabalho e uma das tônicas da geração Paz & Amor, declara.

Pioneiro da música independente no Brasil, Geo lembra que o primeiro álbum do Mar Revolto (1979) foi gravado fora das grandes gravadoras, as quais à época, dominavam o mercado com mãos de ferro.

"Na época da formação da banda, éramos basicamente uma banda de rock influenciada por tudo que ouvíamos na época embora com estilo próprio: Beatles, Rolling Stones, Led Zepplin, Hendrix, Cream, Deep  Purple, Yes, The Who e etc. Fazíamos um trabalho autoral e tocávamos em colégios, universalidades, teatros e no interior da Bahia, sempre levando mensagens de otimismo e de positividade nos nossos shows. Depois de atuar bastante na Bahia, sentimos a necessidade de ir pra outros centros e de registrar em disco o nosso trabalho. Isso foi muito antes do surgimento da Axé Music. Moramos no Rio de Janeiro no intuito de gravar o nosso primeiro disco, onde colocamos no nosso rock elementos da musica nordestina. Tal gravação aconteceu em 79. Esse disco (Long Play), foi um marco na história dos discos independente no Brasil pois apesar de existirem algumas gravadoras interessadas em nos contratar, nós preferimos fazer a nossa gravação de uma maneira totalmente independente, coisa dificílima na época, pois recusamos a nos adequar aos interesses do mercado promovido pelas multi-nacionais do disco, que queriam que gravássemos um tipo de música "água com açúcar", totalmente diferente da filosofia e proposta musical do grupo Mar Revolto", relata.

O Mar Revolto no tempo flower power. Geo é primeiro à esquerda em cima?
“Assim sendo,  gravamos o nosso primeiro LP, sendo esse, o quinto LP independente feito no Brasil (um marco na historia), contrariando os interesses econômicos e de controle de mercado por parte das gravadoras existentes na época, das quais sentimos posteriormente uma certa perseguição por tal atitude, pois elas tinham receio que essa ideia de "ser independente" poderia vir a atrapalhar no futuro o seu controle mercadológico e de artistas "fabricados". Durante toda essa vivencia no eixo Rio, SP e BH, onde fizemos inúmeros shows em teatros, clubes e festivais, efetivamente tivemos o reconhecimento não só dos seguidores/fans da Bahia, Rio, SP e BH, que sempre nos acompanhou, mas sobretudo dos inúmeros artistas, produtores, poetas, atores, diretores de teatros, músicos, artistas plásticos, jornalistas e etc, que reconheceram no trabalho do Mar Revolto a autenticidade na música e na filosofia promovida pela banda. Achamos então, que o nosso trabalho e o nosso dever fôra cumprido”, acrescenta.

Há alguns anos, Carlinhos Brown, que acompanhou a banda entre 1981 e 83, anunciou que ia produzir e lançar um álbum novo do Mar Revolto. O disco está gravado há algum tempo, mas ainda aguarda lançamento. Senta que lá vem história.

“Carlinhos Brown foi um dos integrantes do Mar Revolto em uma das fases da banda entre os anos 1981 a 1983, antes da banda terminar. Após o termino da banda eu fui morar no Rio de Janeiro, abandonando mais tarde a atividade de músico depois de ter acompanhado em excursão  o artista Gilberto Gil e nos anos 90 montei um estúdio de gravação, produtora e selo musical, trabalhando exclusivamente como produtor musical, prestando serviços de produção, locação de estudio e lançamentos de artistas de diversas gravadoras multinacionais sediadas no Brasil. Após esse período já de volta à Bahia, sempre que encontrava com Brown, ele manifestava, por diversas vezes, o interesse em fazer um CD com o Mar Revolto, tendo o rock como estilo musical que ele estava muito interessado em se envolver, compondo, tocando e cantando. A princípio eu não me mostrava muito interessado pois já havia tempos que eu não tocava e estava ocupado com outras coisas. Raul Carlosgomes, me ligou certa vez dizendo que Brown tinha falado com ele pra a gente se reunir e "fazer um som". Combinamos então em nos encontrar em um determinado estúdio: eu, Raul (bateria) e Octávio Américo (baixo) pra ver se ainda a gente se entendia musicalmente. Pois bem, quando começamos a tocar e improvisar vimos que a "energia" e a sintonia ainda tava no "sangue". Liguei imediatamente pra Carlinhos Brown e falei que tava rolando o som. Ele apareceu em minutos com muita vontade de nos ver juntos, tocando. Quando abriu a porta a gente já tava a mil, aí ele pegou imediatamente o microfone e mandou ver. A sintonia foi perfeita. Nessa mesma tarde compomos uma música, "Marina dos Mares", minha em parceria com ele e após esse "ensaio", ele nos convidou pra participar do seu CD que estava em fase de produção. Participamos como Mar Revolto desse seu CD solo,  e daí que veio a ideia de gravarmos um CD de rock com o título de "Carlinhos Brown é Mar Revolto". Começamos a montar o repertório imediatamente e em seguida a ensaiar. Músicas inéditas de Brown feitas exclusivamente para o projeto e músicas antigas do Mar Revolto que não tinham sido gravadas anteriormente mas que sofreram um upgrade nas letras, compostas por Brown, além de três  músicas minhas em parceria com ele sendo uma dessas com participação de Raul e Octávio. Depois de alguns meses o CD foi finalizado com a capa e tudo mais . Durante o processo, nos apresentamos no Festival Gueto Square, dentro do festival de Verão em SSA, no Festival de Inverno de Conquista e na entrega do prêmio Bahia Recall no TCA, sempre anunciando o lançamento desse novo CD. A partir daí, Brown começou a ficar muito ocupado, cumprindo uma extensa agenda de shows no Brasil  e no exterior. Sentimos que seria difícil ele conseguir lançar o CD da maneira que ele queria,  ao mesmo tempo que ele começou a sentir vontade de remixar o disco todo e logicamente de remasterizar todo o material, pois, inventivo como todos sabemos que é Carlinhos Brown, ele queria o máximo de satisfação pessoal nesse trabalho e a todo momento quando se tinha tempo, ele queria sempre melhorar a produção. A partir daí, acredito que por falta de tempo, por indisponibilidade de técnico de gravação nesse período para dar continuidade ao processo de remixagem e por ele ter que ficar ausente por causa dos compromissos na Europa, Estados Unidos e Ásia, o projeto foi caindo no esquecimento. Mas, acho que qualquer dia ele ainda lança, pois esse trabalho é atemporal”, aposta Geo.

Com o fim do Mar Revolto, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde atuou em estúdios.

“Sim, após o termino do Mar Revolto, como tinha falado antes, fui morar no Rio. Lá, depois de alguns anos tocando com vários artistas e trabalhando como músico em alguns estúdios, resolvi montar uma produtora com estúdio próprio e um selo musical distribuído pela Polygram, hoje Universal Music. Tive uma relação muito boa com todas as gravadoras sediadas no mercado, onde produzi diversos artistas, a exemplo da cantora Amelinha (Polygram), Cia. Clic com a cantora Carla Vizi (Polygram), o trio dance music de nome Lilith liderada pela globeleza Valéria Valença (Polygram), cuja musica Todo Amor é Bom, composição minha e do saudoso Bruno Nunes foi abertura do seriado Sex Appeal da Rede Globo;  a banda de reggae Central do Brasil (Wanner/Continental), a cantora baiana Silvinha Torres em parceria com o também saudoso Wesley Rangel (BMG), a cantora amazonense Eliana Prints (Geo&Cia/Polygram), o grupo carioca de samba Fora de Série (Virgen/EMI) entre outros menos conhecidos. Passaram também pelo meu estúdio, nomes como Jorge Vercilo, Ana Carolina, Cássia Eller, Gilberto Gil, Paulinho Boca, Moraes Moreira, Edil Pacheco, Armandinho, Jussara Silveira, José Augusto, Negritude Junior, Banda Eva, Banda Mel, Beto Barbosa, Banda Magnificos, Reginaldo Rossi e Jerry Adriani entre tantos outros”, relata.

Sal da Terra

Foto Ney Santos
De volta à Bahia, Geo mora em Santo Antônio de Jesus, onde toca um hotel fazenda com um estúdio de gravação e montou a banda.

"Esse foi um 'achado' mágico. Desde quando voltei do Rio, depois de ficar 18 anos trabalhando com produções em estúdio, eu vim me estabelecer  em Santo Antônio de Jesus, onde eu tinha passado parte da minha infância e adolescência antes de me mudar para Salvador, quando integrei o Mar Revolto. Posteriormente ao meu regresso, tive o prazer de conhecer Petão, hoje baixista da Alquímea, que trabalhava como músico e produtor de diversos artistas da região, tendo realizado trabalhos com Seu Jorge, Edson Gomes, Peu Meurray, entre outros, e que tinha um filho de 9 anos que tocava muito a bateria e era uma espécie de menino prodígio da cidade, muito elogiado e respeitado por todos. O filho de Petão chamava-se Állefe que a partir da idade de quatro anos, já tinha começado a tocar bateria, tendo ainda bem jovem acompanhado o guitarrista Kiko Loureiro em apresentações de shows e oficinas de música. Állefe sempre recebeu muitos convites para morar em SP e nos Estados Unidos para acompanhar artistas consagrados e continuar os estudos do instrumento. O tempo foi passando, Állefe continuou no interior, sempre estudando o instrumento e tocando com muitos músicos de SAJ e de Salvador. Durante todo esse tempo, eu sempre estava de olho neles pois já tinha a ideia de dar continuidade ao projeto Alquímea que eu tinha começado com outros músicos locais e aquela pegada de pai e filho tinha tudo a ver com a ideia do Power Trio que eu realmente queria: um baixista marcante, seguro e presente, e um baterista livre, solto, com técnicas jazzisticas aplicadas ao rock. Pronto, Alquímea tava de cara nova, tendo o pai Petão no baixo, o filho Állefe na bateria e eu, Geo Benjamin, como uma espécie de 'mãe' do projeto,  na guitarra e vocal. Enfim, a família tava formada", relata Geo.

No momento, as suas atenções estão voltadas para a Alquímea.

“O trabalho de divulgação do CD da banda Alquímea já começou. Já esta sendo executada  em mais de doze rádios no interior da Bahia a música O Sal da Terra, composição de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, lançada em LP pelo Beto em 1981, que fez muito sucesso na época. Fizemos um arranjo na nossa pegada rock nessa música que é de uma poesia e de um lirismo maravilhoso e que tem uma mensagem totalmente de acordo com "os tempos atuais", onde, na canção, prega-se a fraternidade universal, a união entre os seres humanos e um futuro mundo novo sem opressões, desigualdades e com a paz reinando no planeta. Também uma das tônicas presente  no contexto do nosso trabalho autoral, que pode ser ouvida nas músicas que compõe o CD Flower Power. Além das rádios convencionais, estamos   também sendo executadas em várias web rádios, destacando-se a Radio Rock Freeday que também lançou recentemente um CD na sua coletânea anual com a música "Roubalheira" além da musica O Sal da Terra estar sendo executada em sua programação diária”, conta.

“Após essa temporada de lançamento do CD e shows incluindo o interior da Bahia, queremos fazer o mesmo em SP. Acredito que no segundo semestre mas, antes disso, em Maio, já estarei indo pra preparar o terreno pra nossa excursão”, conclui Geo.

Alquímea / Festival Beer, Rock & Blues / Sábado, 19 horas / Clube Espanhol / R$ 35 /  www.alquimea.com



NUETAS

Malgrada, Búfalos

O Malgrada Trio e o duo Búfalos Vermelhos & A Orquestra de Elefantes são as atrações no Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto puder.

Primata rodando

O guitarrista master Ricardo Primata promove desde ontem uma série de workshops por várias cidades. Ontem ele passou por Juazeiro e Petrolina. Hoje ele está em Senhor do Bonfim (na Rios Eletrônica), amanhã é Jacobina (Eletrônica Ednailsom).  Quinta-feira é em Conceição do Coité (Musical Show) e sexta, Feira de Santana (Som Brasil).

Velas para Sputter

Rodrigo Sputter Chagas (Honkers) comemora aniversário discotecando sexta-feira, 17h30, no Brooklyn (Bonocô Center, Loja 17). Grátis.

sexta-feira, março 24, 2017

PSICOPATA MULTIFACETADO

Estreia: Com Fragmentado, M. Night Shyamalan confirma retorno à boa forma. O diretor esteve em São Paulo para série de entrevistas e falou sobre o novo filme

Casey (Anya Taylor-Joy) encara Kevin (James McAvoy) no cativeiro
Em São Paulo para lançar seu novo filme, Fragmentado (Split), o diretor norte-americano de origem indiana M. Night Shyamalan chegou para  a longa rodada de entrevistas tranquilão: cabelos revoltos,  coturnos, calças rasgadas e muita disposição para responder à enxurrada de perguntas que lhes foram dirigidas.

Dando longas e ponderadas respostas para cada repórter, ele contou que teve a ideia para Fragmentado há 17 anos.

Não a toa, logo depois de lançar Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), filme que – alerta de spoiler –  tem uma conexão direta com o filme da hora, sobre um sequestrador psicopata com 23 personalidades diferentes.

“Lembro de contar a umas duas pessoas sobre a ideia dessas garotas sequestradas. E, na época, isso era uma ideia agressiva, nova, ainda não tinham saído (filmes como) Jogos Mortais, O Albergue, nada disso”, diz.

“Aí elas percebiam que esse cara que as tinha raptado tinha esse distúrbio quando ouviam uma mulher do outro lado da porta e pediam socorro. E quando ‘ela’ abre a porta, era o próprio cara, vestido de mulher. Essa era a premissa. Eu parti daí”, conta.

Com um elenco inspiradíssimo, o filme é protagonizado por James McAvoy (o jovem Professor Xavier dos filmes dos X-Men) como Kevin, que sofre de TDI (transtorno dissociativo de identidade).
No filme, ele chega atuar como até dez dessas personalidades.

“Eu nem cheguei a desenvolver todas as outras personalidades. No máximo, mais cinco ou seis. Então trabalhamos de acordo com o roteiro. Esqueça que ele fazia uma mulher ou uma criança. Temos um ator e um papel. Pensamos: ‘quem é esse personagem?’ O que ele trazia para o trabalho eram os sotaques, o aspecto físico, coisas assim. E ele é muito bom com sotaques. E ele é britânico, escocês, então...”, ri o diretor.

Segundo o diretor, Fragmentado segue um modelo de escrita semelhante ao que o escritor Michael Crichton, de O Parque dos Dinossauros costumava imprimir em seus livros.

"Sou um grande fã do Michael Crichton - ele era médico -, e como ele escrevia suas histórias. Ele escrevia dez coisas (em uma história). Nove era reais, cientificamente comprovadas. A décima era lorota. E aí você tinha dinossauros em uma ilha (como em Parque dos Dinossauros). Mas a gente não sabia qual delas era fantasia. E a aí a gente ficava 'peraí, é possível ter dinossauros em uma ilha'? Eu adoro isso, como ele utilizava esse conhecimento acadêmico e o transformava em um lance imaginativo. Para mim, que venho de uma família de médicos, minha tia era psiquiatra, minha mulher é psicóloga, esse lance acadêmico é interessante para mim, sabe?", conta.

M Night Shyamalan Foto Gage Skidmore/Wikicommons
O que o universo quer

Fragmentado parece confirmar a remissão de Shyamalan perante público e  crítica após uma sequência de fracassos como O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013). Mas ele diz não se importar muito com o que se escreve sobre ele.

"Eu escrevo todos eles (filmes), então, tenho que ser honesto sobre quem eu sou. Quando era jovem, fiz meus dois primeiros filmes (Praying with Anger, de 1992 e Olhos Abertos, de 1998), os quais ninguém viu. Eram filmes bem família, mas ninguem viu. Depois disso, fiz sucesso (com O SextoSentido, de 1999) e todo mundo viu, depois veio Corpo Fechado, Sinais, a Vila. Depois disso, voltei a fazer filmes para a família e as crianças de novo (O Último Mestre do Ar, de 2010, Depois da Terra, de 2013), fiquei bem sentimental nesses filmes. Mas você tem que ser quem é, senão você está apenas mentindo enquanto escritor. Meus filhos eram mais jovens, agora estão quase com vinte anos, então eu estou naturalmente ficando mais 'sombrio' de novo, voltando ao que eu era antes de ter filhos. Estou sendo mais fiel ao que sou. Quando você tem crianças pequenas, você tenta agrada-las, canta musiquinhas de princesas e tal. Você quer contar histórias para essas pessoas que você ama. Agora, com elas mais velhas, me sinto bem para voltar ao lado sombrio. E se você se mantém fiel ao que é, sua audiência não vai embora, eles sentem que sua integridade está lá", conta.

“Não leio muito (as resenhas). É difícil para o artista começar a olhar muito para fora de si. Começa a ficar esquisito. Não tenho esse impulso, não desejo ficar tipo (arregala os olhos) 'olha só para o que escreveram no Times'! (risos) e tal. Não acontece até porque não entendo muito, compreendo que, em geral, gostaram ou não. E tudo bem. Vamos falar de filosofia por um minuto. Filosoficamente, como ser humano e, principalmente, como artista, você quer concentrar suas energias no que você faz”, afirma.

“Li uma vez: o universo quer que você ponha toda a sua energia nas coisas que você pode controlar. E nenhuma energia nas coisas que o universo controla. Se você começa a botar energia nas coisas que o universo controla, isso vai te esmagar. Se você põe sua energia somente nas coisas que você controla, o universo vai te dar oportunidades de crescer e crescer. Acredito muito nisso”, afirma.

"Patricia" com suas prisioneiras Marcia e Claire
"Se você escreve canções, concentre-se em escrever canções. E não se preocupe se não está 'conectando' ou assim ou assado. Veja o U2. Boy (1980) e October (1981) não venderam muito. 'Cara, devíamos mudar nosso som'. Não faça isso, se concentre no que sabe fazer. E aí Joshua Tree (1987) aconteceu e todo mundo foi comprar Boy e October. 'Oh, essa banda é real'! Eles foram uma banda de bar por muito tempo, certo? Quando você está fazendo algo incrível e aquilo tem sua própria voz, você se foca naquilo que importa. Então Fragmentado saiu agora e tem sido bem recebido. Tudo bem, estou fazendo a coisa certa. Quando Corpo Fechado saiu as resenhas foram variadas e eu prestei atenção nisso. E eu gostei demais de Corpo Fechado. (Enfático) Gostei muito mesmo! Quando saiu, pensei 'é isso aí, isso é o trabalho que eu devo fazer, esse tipo de abordagem independente do cinema mainstream, essa fusão'. Mas ninguém entendeu direito, especialmente nos Estados Unidos. Se eu pudesse voltar no tempo, diria a mim mesmo o que te digo agora: 'não se importe com isso, este não é seu lugar, é do universo'", reflete Shyamalan.

Perguntado sobre a influência do cineasta David Lynch em seu trabalho, o diretor não se fez de rogado, tecendo loas ao cultuado diretor de Coração Selvagem (1990).

"Enorme influência. Acho que David Lynch tem essa atitude de que falamos. Ele não se importa se o filme dele foi bem ou mal aceito, nada disso, tipo 'qual foi a bilheteria de Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001)', nem imagino ele prestando atenção nessas coisas. (risos) Assim, ele tem essa voz muito, muito clara. Então por 20, trinta anos, seus filmes tem se tornado clássicos: Cidade dos Sonhos, Veludo Azul (1986). Ele estava muito, muito a frente de todo mundo com aquele humor sombrio e você ficava: 'o que está acontecendo?' Eu amo, amo esse lance esquisito, que nos deixa com medo e rindo ao mesmo tempo. Quando eu estava escrevendo Fragmentado eu tinha os DVDs de Veludo Azul e Cidade dos Sonhos ao meu lado o tempo todo só... (faz um gesto como se estivesse captando vibrações)", conta, caindo na risada com os repórteres à sua volta.

Fragmentado (Split, 2016) / De M. Night Shyamalan / Com James McVoy, Anya Taylor-Joy e Betty Buckley / Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinemark, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / 14 anos

*O repórter viajou a convite da Universal Pictures

RESENHA: Tradição hitchcockiana

Kevin na terapia com a Dra. Fletcher (Betty Buckley)
Existe um antigo mito científico segundo o qual os seres humanos só usam 10% da sua capacidade cerebral. Em Fragmentado, M. Night Shyamalan parece partir desse dado – que apesar de incorreto, abre espaço para a imaginação – para construir seu novo filme.

Estrelado por um James McAvoy em estado de graça, o filme tem sido saudado pela crítica como um retorno à grande forma de filmes como O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) e Corpo Fechado (Unbreakable, 2000).

De fato, Fragmentado é um filme bastante tenso, que deixa pouco espaço para o espectador relaxar na cadeira em seus quase 120 minutos de projeção.

Tudo começa com o sequestro de três garotas adolescentes, Casey (Anya Taylor-Joy), Claire (Haley Lu Richardson) e Marcia, (Jessica Sula)  por Kevin, um homem com TDI (transtorno dissociativo de identidade). Basicamente, Kevin tem 23 identidades / personalidades diferentes.

No filme, conhecemos algumas delas. Há Barry, o fashionista efeminado. Dennis, o sombrio sequestrador. Hedwig, um ciciante menino de nove anos. Patricia, uma mulher.

Kevin tem acompanhamento psiquiátrico da Dra. Karen Fletcher (Betty Buckley), que não faz ideia do sequestro triplo.

Ela acredita que o transtorno pode ser a chave para destravar regiões inativas do cérebro, levando os pacientes a passarem até mesmo por transformações físicas e químicas absurdas – sobrenaturais, mesmo.

Visitadas no cativeiro ora por Dennis, ora por Hedwig, ora por Patricia, as meninas tentam de todas as formas se libertar, enquanto ouvem o doidão balbuciar sobre a chegada d'Ele, uma suposta “fera”, a 24ª personalidade a emergir em breve.

"Hedwig", o menino ciciante fã de Kanye West
Shyamalan joga muito bem com as expectativas dos espectadores enquanto desenvolve a trama principal e uma secundária, relacionada à infância de de uma das meninas, Casey, imersa em suas memórias no cativeiro.

Em excelente forma, McAvoy vai sem esforço do rigoroso Dennis para o infantil Hedwig (que fala como se fosse uma criança banguela) para o afetado Barry.

Funciona muito bem, como um ótimo filme de suspense na tradição  hitchcockiana, talvez o melhor elogio que se possa fazer à Shyamalan.

Mas, no geral, a impressão que fica de Fragmentado é a de um filme que faz parte de uma trama maior, que Shyamalan vem construindo há vários anos, uma mitologia própria – inclusive com um inesperado aceno à Corpo Fechado.

Não a toa, já anunciou ter um esboço de 24 páginas para compor e  fechar uma trilogia. Se vai ser bom, isso ainda está por ser visto.

Por hora, este filme já nos serve muito bem para duas horas regulamentares de tensão inofensiva na sala escura.

quarta-feira, março 22, 2017

SEXO, LÁPIS DE OLHO & ROCK 'N' ROLL: CONHEÇA TRIGGER, O HARD ROCK GLAM DA BAHIA

Ícaro, Gabriel e Ákillas, foto Edgard Chaves
30 anos atrás, a cena rock internacional era dominada por bandas de visual extravagante e som hard rock festivo.

Eram os tempos do glam hard rock (ou rock farofa) de bandas como Mötley Crüe, Bon Jovi, Poison, Cinderella, Ratt, Europe e muitas (muitas!) outras.

Seu reinado terminou quando um rapaz de nome Kurt despejou sua angústia adolescente nas paradas, em 1991.

Se a cena foi pro saco, o mesmo não se pode dizer da ideia das bandas glam – que remontam, pelo menos no visual, à ícones do rock dos anos 1970, como David Bowie e New York Dolls.

Está aí o power trio baiano Trigger, que não deixa o colunista mentir.

Armados com guitarra (Gabriel Heiligen, vocalista), baixo, teclado (Ícaro Bastos), bateria (Áquilas Gomes), laquê, batom e lápis de olho, o Trigger faz sua própria versão de heavy pop extemporâneo com categoria, caprichando nos arranjos vocais, típicos do estilo.

“Infelizmente não pude ser contemporâneo da grandiosidade dos anos 1980, pois nasci na década de 90. Além disso, nessa época o Hard Rock e suas vertentes ainda possuíam os holofotes dos veículos de mídia e em decorrência disso alcancei algumas coisas. Acredito que, como a grande maioria, foi no período da adolescência em que meu contato com Hard/Glam foi selado pela eternidade (risos). Por ter sempre um violão em casa e já vir de uma família com 'genética musical', acabei despertando interesse no instrumento e isso foi um catalisador para que conhecesse mais propriamente o estilo”, conta Ícaro.

“O álbum The Final Countdown (1986) da banda sueca Europe foi o grande responsável para que eu mergulhasse de cabeça nesse universo. Foi bastante impactante pra mim na época em que descobri a banda. Ainda hoje fico maravilhado com sensação de ‘Você pode ser e fazer qualquer coisa!’, que esse álbum me transmite. Acredito que esse o qual considero inclusive o maior apelo do estilo, foi responsável por me conquistar efetivamente, afinal as musicas comumente representavam tudo o que eles viviam intensamente o qual me identifiquei a primeira ouvida”, diz.

O baterista Ákillas, que também toca na Indominous do grande vocalista Ronaldo Pitanga, conta história similar: "Me identifiquei com o estilo apesar de não ter vivido os anos 80 mais por influência de meu pai, o qual além de ouvir muita música dessa época, possuía um visual bem Street, com direito a jaqueta de couro e calça jeans colada. Viver com isso se tornou um estilo de vida total pra mim, que além de colecionar vários discos de vinil e fitas cassete, desde a minha infância sinto como se eu estivesse nos anos 80... Algo como se meu espírito tivesse de fato vivido essa época. Como também nasci nos anos 90 ainda peguei muita coisa da época, como os estilos musicais e o visual. Sempre que escuto uma música ou disco automaticamente me vem o sentimento da alegria, das festas, das mulheres e da energia que o som transmite, que nos enche de prazer para sempre 'celebrar' juntos até o sol clarear".

Alegria de ser glam

Com um EP de quatro faixas já lançado, o Trigger participou de uma coletânea nacional de bandas  de hard rock / AOR, Road Songs.

“No momento estamos divulgando paralelamente nosso Debut EP, que vem recebendo constantemente elogios da critica especializada e encontra-se disponível nas principais plataformas digitais como o Spotify, e a coletânea Road Songs, que pode ser adquirida diretamente conosco em nossa página oficial no facebook (www.facebook.com/triggeroficial). Entregamos em mãos ou despachamos pelo correio para todo o Brasil”, conta Áquilas.

"Nutrimos um grande carinho pela Road Songs Collection. A mesma foi idealizada em meados de 2016 pelo nosso grade amigo e parceiro Rodrigo Marenna e lançada em dezembro do mesmo ano, de forma 100% independente. O Marenna, que é gaúcho de Caxias do Sul e encabeça um projeto de Melodic Rock / A.O.R., que inclusive esta tendo um excelente retorno da critica especializada nacional e internacional, lançou a ideia, a qual foi logo de cara abraçada e apoiada por nós, totalizando assim seis bandas do Brasil (Marenna, RS | Adellaide, SP | Trigger, BA| Vallet, SP | Hot Foxxy, PR | FairOff, SP). Nós do Trigger tivemos a honra de participar desse projeto, principalmente por poder levar um pouco do nome da Bahia e do Nordeste para o mundo, fora que ter um registro em conjunto com aqueles que nós consideramos pessoas maravilhosas e do bem, era um desejo constantemente manifestado por todos. Este primeiro volume parte da ideia de unir nossos trabalhos que são direcionados ao Hard Rock, A.O.R e Melodic Rock, para divulgar material inédito das citadas bandas. São no total 11 faixas que apresentam toda musicalidade, diversidade e potencial das bandas e assim como estamos felizes pela recepção positiva do EP do Trigger, a Road Songs vem colhendo doces frutos, inclusive a mesma atravessou os oceanos e chegou ao Japão, sendo distribuída por lá pela ASM - Anderstein Music", relata Ícaro.

Enquanto isso, o trio vai gravando o primeiro CD. “O álbum já se encontra com as músicas devidamente selecionadas e compostas. Estamos atualmente na fase de pré-produção dos arranjos para podermos ter uma visão mais concreta das músicas e assegurar que todos os elementos que desejamos agregar se façam presentes no momento da gravação. Posso adiantar que se você gostou de nosso EP, esse disco será superior em termos de composição e em alguns momentos o flerte do peso e melodia se fará presente, mas claro sem deixar de ser ambientado e principalmente soar como as bandas mainstream dos gloriosos anos 80”, afirma Ícaro.

Nesse meio tempo, os membros da banda vão lidando com as dores e delícias de cultivar um visual tão carregado.

"Na minha família só alguns são mais conservadores, porém os demais já estavam acostumados por que sabem que eu sou um cara totalmente clássico e sempre gostei de usar esse visual extravagante, seja na rua ou para assistir shows. Já as pessoas da rua sempre falam comigo, mas alguns conhecidos mais próximos também já estão acostumados. Me lembro que no começo da banda o pessoal sempre jogava piadinhas, falavam e alguns, mais ortodoxos, nos criticavam demais por usar esse visual. A parte mais legal é que quando subíamos no palco para tocar, eles paravam e, após o show, até quem não era fã direto do estilo apertava a nossa mão e demonstrava respeito. É como costumo dizer: Não julgue antes de conhecer a pessoa ou o trabalho delas. Apenas observe o que elas são capazes de fazer", afirma Ákillas.

“Quando estamos indo ensaiar ou estamos em algum espaço público, estaríamos sendo hipócritas se falasse que algumas pessoas não desviam o olhar ou tecem comentários maliciosos, os quais sempre levamos no bom humor e fazemos questão de demonstrar com simpatia, a alegria do que é ser Glam.  Em sua grande maioria, as pessoas principalmente perguntam o porquê estamos vestidos daquela maneira. Semana passada, por exemplo, eu estava no Shopping da Bahia e uma simpática atendente de uma loja de souvenirs achou meu visual bastante 'curioso' e veio me perguntar se eu era um Mágico (risos). Já outras de cara logo fazem uma associação do visual com a música e com isso acabam pedindo para tirar fotos com um sorriso e brilho estampado nos olhos. Admito que fico bastante orgulhoso quando isso acontece, pois para mim essa é uma das principais filosofias do Glam... Espalhar a alegria independente de idade, cor ou classe social”, conclui.

www.facebook.com/triggeroficial

NUETAS

Fim de temporada 1

A banda gótica industrial Modus Operandi fecha sua temporada comemorativa de vinte anos na cena com duas super bandas convidadas:  Declinium e Game Over Riverside. Sábado, 20 horas, no  Buk Porão (Pelourinho), R$ 10.

Fim de temporada 2

O bluesman master Alvaro Assmar e sua Mojo Blues Band também encerram temporada de quatro sábados na Varanda do Sesi (Rio Vermelho), neste sábado. 22 oras, R$ 30.

Rockambo em Feira

Retrofoguetes, Duda Spínola, Bilic, Psicordélico  e DJ BigBross fecham o Rockambo In Conexão de março no Centro Cultural Amélio Amorim em Feira de Santana, às 16h30, R$ 5. O projeto Rockambo segue com shows e workshops para Irará e Santa Bárbara nos próximos meses. Bravo!

sábado, março 18, 2017

MICRO-RESENHAS PASSADAS, MAS COM ADITIVOS E PAPELÃO MISTURADO PARA DISFARÇAR O CHEIRO

Poema aos mortos de guerra

Linda edição fac-símile do poema publicado por Cecília Meirelles (1901-1964) em 1955, uma elegia aos soldados  brasileiros mortos em combate na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial. Com xilogravuras do espanhol Manuel Segalá, Cecília se inspirou após uma visita ao cemitério do título. Pistoia, cemitério militar brasileiro / Cecília Meireles / Global/ 24 p./ R$ 35






Fim de saga draconiana

Uma das franquias de fantasia mais bem sucedidas dos últimos tempos, Como Treinar o Seu dragão chega ao fim neste livro, o 12º da série. Tudo gira em torno de Soluço Spantosicus Strondus III, um jovem e franzino viking e Banguela, seu dragãozinho desprovido de presas. Como combater a fúria de um dragão / Cressida Cowell / Intrínseca / 496 p. / R$ 44,90






Confronto de gigantes

Aqui, todos os casos de Sherlock Holmes, o maior detetive de todos os tempos, contra James Moriarty, a maior inteligência criminosa da Inglaterra vitoriana. Em um romance (O vale do Medo) e seis contos, o filé da imortal criação de Sir Arthur Conan Doyle. O Livro de Moriary / Arthur Conan Doyle / Penguin Companhia/ 416 p./ R$ 39.90 /  E-book: R$ 27,90







Painel pesado

A rádio on line e produtora baiana Rock Free Day soltou esta coletânea com 17 bandas de todo o Brasil, provando que o rock vai bem, obrigado. Breve nas plataformas de streaming. Inclui o hino local Dance With The Devel, da Lo Han. Vários artistas /  Rock Freeday Collection Vol. 1 / Gratuito / Solicite cópia: rockfreeday@gmail.com







Pink Floyd das araucárias

Produzido pelo Cachorro Grande Beto Bruno, o álbum de estreia da banda curitibana Trem Fantasma bate um bolão na linha psicodélica, com letras em português. Ouça: Antimatéria e Dublinenses. Trem Fantasma / Lapso / Selo Fonográfico 180 / CD: R$ 25 / Baixe: www.tremfantasma.mus.br







Enquanto o álbum não sai

De volta aos palcos em 2016 após hiato de dez anos, a banda baiana de heavy metal Drearylands volta à prateleiras com este EP de sete faixas, um tiragosto (com jeitão de banquete) para o álbum que sai ainda em 2017. Técnica, peso, melodia e letras rebuscadas. Nota dez. Drearylands / No Poetry Lasts / MS Metal Records / R$ 15







O bofe de Burroughs

Escrito em 1952, Queer só foi publicado em 1985, por conta de sua temática homossexual explícita. Na obra, o precursor dos beatniks relata sua paixão não correspondida por Eugene, seu parceiro em uma viagem em busca do alucinógeno ayahuasca. Queer / William S. Burroughs / Companhia das Letras / 144 p. / R$ 39.90 / E-book: R$ 27,90







Fantasia genérica

Físico, paraquedista e piloto de helicóptero, L. C. Del Rio estreia na ficção com a trilogia de fantasia A Lei dos Puros, ambientada no futuro distópico de um governo totalitário. Claro, um grupo de jovens rebeldes vai combater o sistema. O autor se baseia em experiências próprias para narrar cenas de ação. A lei dos Puros: o poder da esperança / L. C. Del Rio / Asas de Prata / 514 p. / R$ 39






Cabeça de aquário

Quando não está expondo em locais como Instituto Tomie Ohtake e Galeria Vermelho, o artista plástico Tiago Judas cria tiras para seu personagem Kocinas, um sujeito meio fora de órbita que tem um aquário com peixinho e tudo no lugar do cérebro. Criado em 1998 e já publicado na revista Piauí, ele volta nesta coletânea, reunindo todas as tiras já publicadas e algumas inéditas. Humor refinado. Hídrico / Tiago Judas / Veneta/  224 p. / R$ 22,45






Rap baiano barril

Um dos principais nomes do rap baiano soltou seu novo trabalho. Oito petardos verbais-musicais de Daganja, com participações de Ravi Lobo, Nego Galo, Max B.O e do nigeriano Teekay Omoyele. Aqui é barril, man! Daganja / Bonde36 / Santa Fé / Disponível nas plataformas de streaming







Garagem paulista

Duo paulistano de rock de garagem. Som acelerado, abafado e nervoso, dá aquela suadeira nos shows, como em Eu Só Ganho. Nem tudo é quebradeira: Make You See dá um respiro, mas quem quer saber disso? FingerFingerrr / Mar / Independente / Baixe: www.fingerfingerrr.com







Indie mineiro

Terceiro álbum da banda indie mineira Pelos. Trabalho muito interessante, especialmente pela dinâmica que equilibra influências do  Radiohead com a negra voz (belíssima) do cantor Robert Frank. Refinado. Pelos / Paraíso Perdido nos Bolsos / Independente / Baixe: www.pelos.art.br

quinta-feira, março 16, 2017

LUTA ESTUDANTIL EM FOCO

Estreia: Com sessão gratuita e debate na Sala Walter da Silveira, Carlos Pronzato lança hoje seu novo documentário, Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná

Cena de Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná
No dia 26 de outubro do ano passado, uma adolescente de aparência frágil e visivelmente nervosa subiu ao púlpito da Assembleia Legislativa do Paraná e, com muita bravura, expôs algumas verdades sobre a sucateada educação pública aos senhores deputados.

Tornada símbolo da luta estudantil durante o movimento de ocupação das escolas paranaenses, Ana Júlia Ribeiro é uma das principais entrevistadas no documentário Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná, do cineasta, escritor e ativista Carlos Pronzato.

O filme tem exibição (com entrada gratuita) seguida de debate com o diretor hoje, na Sala Walter da Silveira, às 19 horas.

Uma hora antes, Pronzato aproveita a oportunidade e lança no Café da Walter seu livro mais recente, O milagre da Luz e outros contos em Trastevere, escrito durante um período de alguns meses residindo no bairro boêmio de Roma que compõe o título da obra.

No documentário, Pronzato volta suas lentes para o movimento dos estudantes secundaristas paranaenses contra a Reforma do Ensino Médio proposta – sem debates prévios com a população, sempre é bom lembrar – pelo governo federal.

O movimento também se colocou contra a PEC 55, aquela  que congela investimentos sociais por 20 anos.

No auge do movimento, que se espalhou pelo Brasil em 2016, mais de mil escolas foram ocupadas no Brasil – 850 só no Paraná.

“O documentário inicia contextualizando o tema no Paraná. Não esqueçamos que a trama se desenrola na popularmente denominada ‘República de Curitiba’ e, portanto, uma resistência política da contundência que se viu pode parecer insólita”, afirma Pronzato.

Chile, São Paulo, Paraná

Entusiasta dos movimentos estudantis, Pronzato já realizou alguns documentários sobre diversos episódios de revolta juvenil: A Revolta do Buzu (2004), A Rebelião dos Pingüins: Estudantes Secundaristas Chilenos Contra o Sistema (2007), Acabou a Paz, Isto Aqui Vai Virar o Chile (2016) e A Escola Toma Partido (2016).

“Desde A Revolta do Buzu (2003) e até diria antes, desde o episódio denominado Maio Baiano (2001), onde a participação estudantil também foi expressiva, que venho acompanhando as lutas estudantis”, conta Pronzato.

O cineasta vê o movimento paranaense dentro do contexto de ocupações de escolas que, na realidade, se iniciou no Chile (contra a privatização total da educação), e depois foi exportado para São Paulo.

“O antecedente imediato e prático das ocupações do Paraná foram as lutas dos secundaristas paulistas em 2015  que, por sua vez, se inspiraram nas lutas dos estudantes chilenos, os Pinguins, contra a privatização total da educação naquele país e foram referência continental”, conta.

“Portanto, há uma sequência constante de lutas da base social, que são as que acompanho, que vem se incrementando nas suas pautas – os estudantes do Paraná desbordaram as pautas educativas e partiram para cima da PEC 55. (No filme) Um estudante define assim: ‘tem que pegar geral’! O tratamento ao tema no documentário  é o de tomar o pulso rebelde destas reivindicações, oferecendo o cinema como uma ferramenta de apoio e de transformação social e política”, afirma.

"A importância de conhecermos o que são estas lutas reside no fato de que afetam a todos, não apenas aos estudantes, o âmbito dos envolvidos na questão se expande como um círculo na água, embora isto seja de difícil entendimento para muitos, ou por desconhecimento, ou por interesses políticos / partidários ou por má fé. Sempre me coloco do lado afetado, que não dispõe dos meios infinitamente mais contundentes dos grupos empresariais hegemônicos de comunicação, com todo seu arsenal diário informativo e propagandístico de ataque às justas reivindicações da população. Ou seja, o lado 'contra os estudantes' tem ao seu dispor todos os meios possíveis, além dos do próprio governo federal ilegítimo atual, para distorcer a realidade dos fatos. Minha trincheira nesta diária batalha é do lado oposto, é com os estudantes", detalha Pronzato.

No filme, Pronzato contextualiza a situação precária da educação pública no Paraná, remontando inclusive ao vexaminoso episódio de 2015, quando professores em greve foram surrados pela polícia na rua, a mando do governo.

“(Em Ocupa Tudo) Também se aborda a violenta repressão do governo Beto Richa aos professores e trabalhadores da Educação no dia 29 de abril de 2015 como outro antecedente imediato para este levante estudantil”, conta o cineasta.

“Partindo desta realidade, foi utilizada uma estratégia de construção semelhante ao filme realizado sobre as ocupações de São Paulo (Acabou a Paz): ou seja, traçar um histórico indo as fontes, às primeiras escolas que vivenciaram a experiência e a relação estabelecida entre elas para que o movimento se tornasse o maior da História com suas 850 ocupações”, relata.

Carlos Pronzato
"Uma nota de grande satisfação foi termos uma música cedida por Chico César (Mel da Mocidade). Outra questão fundamental é a concordância geral entre os estudantes dos benefícios coletivos e pessoais que as ocupações trouxeram para suas vidas, ao recriar por eles mesmos uma pedagogia diferente daquela imposta pelo sistema educativo diariamente, criando suas próprias demandas de aulas convidando especialistas sobre diversos temas, além do próprio cuidado com o espaço físico, algo em que o Estado é também é omisso. Os estudantes deram verdadeiras aulas de cidadania", afirma.

Outro ponto fundamental no filme e nas reivindicações dos alunos é o protesto veemente contra o projeto Escola Sem Partido.

"Abordei este tema no documentário A Escola toma partido (2016) no qual fazemos referência a uma professora paranaense que tinha sido afastada da sua escola por propor em aula o estudo do Karl Marx através de uma música que os próprios alunos criaram em forma de rap (Baile de Favela). Esta professora, Gabriela Viola (Gabi) foi localizada e entrevistada em Ocupa Tudo e conta como os próprios alunos colaboraram para ser reconduzida ao cargo através de um gigantesco protesto nas redes sociais. O PL Escola sem Partido é um projeto, arquitetado e proposto por Partidos da direita desde 2004, e que ressurge agora como resposta  desesperada ao crescimento da insatisfação estudantil perante o desmonte da Educação no país. Os estudantes paulistas acenderam o sinal de alerta em 2015 e os paranaenses deram continuidade ao temor das elites e os seus parlamentares e gestores nos governos. A luta contra este engendro jurídico das elites também é abordado no documentário como um dos três focos da luta estudantil, além da MP 746 e a PEC 55/241", diz o diretor.

Apesar de contar com o apoio de parte da população, também há quem destile muito ódio contra quem tenta lutar por direitos básicos no Brasil.

Ana Júlia Ribeiro em Ocupa Tudo, uma das principais entrevistadas
"Há uma imposição diária (des)informativa através de jornais e programas populares televisivos de impacto contundente, e também radiofônicoss e da imprensa escrita, que agem em favor do grande capital que precisa abafar qualquer tipo de protesto. Qualquer luta popular que conteste esta práxis do grande empresariado sempre será combatida por ele. Aliado a isto, temos hoje uma confusão provocada por estes setores para desmobilizar os protestos, incluindo num mesmo rótulo todo o arco da esquerda, eleitoral ou não, tanto aquela que costuma participar de alianças espúrias para manter a governabilidade, quanto aquela que atua de forma mais radical e honesta, sem ambições de participar da corrompida institucionalidade. As ocupações de Escolas são um sopro de oxigênio na dissoluta democracia representativa, instaurando processos de ação direta e decisões tomadas por consenso em assembleias, colocando a estudantada como uma autentica e corajosa vanguarda das lutas populares, enfrentando inclusive a repressão", afirma.

No fundo, o que parece estar em questão é a mal-disfarçada intenção do poder hegemônico de privatizar totalmente a educação, já que tudo que é público e gratuito tem o horror da direita.

"O motivo é evidente: não incomodar o longo rosário de abusos históricos, injustiças sociais e lucro exorbitante dos grandes grupos econômicos que se apropriam do Estado para delinquir e dos empresários da Educação, numa atuação conjunta. Formar indivíduos / máquinas explorados sempre foi uma constante desde a Revolução industrial para a criação de grandes fortunas e a única possibilidade de fugir a este triste destino é através da Educação, seja esta formal ou não, mas também através da autoeducação ou de outros tantos métodos educativos já testados positivamente ao longo do tempo", diz Pronzato.

Símbolo da luta estudantil após o histórico discurso na ALEP, Ana Júlia tem papel fundamental nas ocupações e no filme.

“Ana Julia, de apenas 16 anos, é um exemplo de estudante que o sistema não consegue alienar, e como ela há milhares nas ocupações que se opõem a destruição quotidiana que o sistema educativo propõe na sua cartilha de formação de indivíduos autômatos, servis ao capitalismo brutal em que sobrevivemos. Sua defesa contundente das ocupações, através de um belíssimo e histórico depoimento na ALEP, como meio de obstaculizar a imposição goela abaixo dessas MPs de privatização total, através de uma reforma educativa não discutida, daquilo que o Estado deveria defender como direito público, universal e gratuito, incomoda aqueles que visam apenas o lucro. Entre outras pautas defendidas por Ana Julia e pelo conjunto dos estudantes também está a oposição ao Projeto de Lei Escola sem Partido, tentativa de criar indivíduos em série sem senso crítico, prontos para serem manipulados pelo empresariado que só visa lucro. Pelo que sei, Ana Julia é constante e ativa na defesa dos direitos a uma educação de qualidade, sendo convidada a inúmeras atividades, reivindicando as históricas ocupações do seu Estado”, conta Pronzato.

Sobre seu livro, o diretor / escritor diz que "este é o meu segundo de contos, o anterior foi Jorge Amado no elevador e outros contos na Bahia (2009, Editora A, RJ). Como o anterior, tem um cenário geográfico único e traz personagens populares, a maioria imigrantes, na tentativa de atingir seus sonhos quotidianos, alguns mirabolantes, outros mais possíveis, mas todos inseridos num contexto de opressão que os impulsa a criar assas para viver. No livro há uma relação de interculturalidade dos habitantes do Trastevere à dos cidadãos do mundo que por ali passam e muitos ficam deslumbrados pela efervescência cultural e pela História da própria cidade. No fundo, a escrita deste livro é uma tentativa de trilhar o mesmo caminho dos temas dos documentários na plataforma específica da ficção. No geral, uma visão entusiasmada e carinhosa da boemia do bairro mais famoso de Roma, onde vivi alguns meses em 2014", conclui.

Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná / Dir.: Carlos Pronzato / Exibição do filme e debate com o diretor / Hoje, 19 horas / Sala Walter da Silveira (Biblioteca Pública do Estado da Bahia - Barris) / gratuito

Lançamento: O milagre da Luz e outros contos em Trastevere / Carlos Pronzato / Hoje, 18 horas / Café da Walter (Sala Walter da Silveira)

terça-feira, março 14, 2017

BASEADO NA ALEMANHA, QUARTETO BAIANO ESCARNIUM VOLTA À SALVADOR PARA SHOW SÁBADO

Escarnium, foto Nestor Carrera
Ninguém segura o metal baiano. Olha a Escarnium, outro expoente do death metal local: depois de assinar contrato de 20 (sim, vinte) anos com o selo alemão Testimony Records, a banda se mudou de vez para a Alemanha.

Por isso mesmo, é imperdível para os fãs o show que eles fazem em Salvador neste sábado, com Headhunter DC e Graveren.

"Seguimos com o mesmo line up, mas como as atividades do Escarnium estão cada vez mais corridas, turnês e mais turnês, além de gravações, acontece que em algumas apresentações eventualmente ocorrem substituições no line up. Temos alguns músicos parceiros de outras bandas que sempre nos dão uma força quando precisamos", conta por email o vocalista Victor Elian.

O show é parte de uma turnê com mais de 30 datas, divulgando o novo álbum, Interitus, e que varre o Brasil do Rio Grande Norte ao Rio Grande do Sul, estica até a Argentina e depois sobe para o México.

Tem mais. Entre setembro e outubro de 2016, a Escarnium realizou sua terceira turnê pela Europa, passando pela Alemanha, Itália, República Tcheca, Belgica, Eslovênia e Holanda, em uma excursão que contou com o apoio do Edital Mobilidade Artística 2016, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA).

Provavelmente, foi a primeira banda do metal extremo baiano a utilizar o recurso dos editais – no que estão certíssimos.

“Foi uma surpresa a princípio, mas com o tempo começamos a perceber que na verdade foi apenas consequência de um trabalho árduo. No projeto descrevemos todas as nossas atividades, desde o inicio da banda, e tudo que trouxemos para o cenário metal baiano e nacional. Quem nos conhece de perto sempre soube que temos uma atuação incisiva e direta na cena do metal, e que não nos limitamos somente ao status de membros de uma banda. Produzimos muito, não só musicalmente falando, mas também em atitudes. Foram muitos eventos e festivais que aconteceram, pois estávamos diretamente ligados a eles. A Secretaria de Cultura, como todas as outras, em teoria, está aí para servir aos interesses da comunidade. Os editais estão lá para qualquer um se inscrever, para que eles analisem o impacto que o projeto irá causar e decidam apoiar ou não”, observa Victor Elian.

“O fato é que esta prática é pouco divulgada e, no final,  as mesmas pessoas sempre estão se inscrevendo e ganhando. Tudo que fazemos é tributado, qualquer centavo gasto com a banda ou em eventos são tributados, então apenas fomos atrás do que temos direito, como quaisquer outros cidadãos. A meu ver, essa (nossa) independência absoluta não foi abalada em nenhum sentido. No nosso projeto está bem claro que fazemos parte de uma cultura subterrânea, que há tempos existe e por tempos viverá. E não saímos dela, continuamos à margem da sociedade por opção, por fidelidade aos nossos ideais. Nós estamos acostumados a nós mesmos agendarmos os nossos shows, nós mesmos dirigirmos durante as turnês (tanto no Brasil como no exterior), nós mesmos fazermos a divulgação da banda... Enfim, são inúmeras atividades que fazemos por conta própria. E isso não irá mudar: o Escarnium será sempre uma banda que anda com as próprias pernas, e dirigida somente por nós. Não cedemos a tendências, e não mudaremos nossa conduta. Quando alguém entrar em contato conosco, pode ter certeza de que quem irá responder será um integrante da banda. Não queremos e não temos intermediários”, afirma.

O recurso dos editais sempre foi visto meio de esguelha pelo pessoal do metal, já que isso implicaria, em tese, em certo comprometimento com governos de ocasião.

“Esta turnê já estava programada para acontecer, assim como todas as outras que fizemos e faremos: o edital nos ajudou e nos deu conforto para fazermos de maneira mais digna. Sobre críticas em relação ao edital, nunca chegou nenhuma até mim. E se chegar, é irrelevante, pois nunca focamos no que outras bandas estão fazendo ou pensando, seguimos nossa estrada sem olhar para os lados. Críticos sempre existirão, mas a partir do momento que os críticos não estão vendo a situação do mesmo ângulo e posição que nós estamos, suas ideias são apenas devaneios pessoais”, conta.

“Por mais que algumas pessoas possam discordar, acredito que mais e mais as pessoas deveriam correr atrás desse tipo de recurso, de algo que é seu por direito”, afirma.

Sobre o contrato de longuíssimo prazo com a Testimony Records, Victor é só elogios: "O Testimony Records está fazendo um excelente trabalho de distribuição do nosso último trabalho em estúdio: nosso novo álbum intitulado “Interitus”. Assim como todos os outros selos com os quais trabalhamos (os brasileiros Misanthropic Recs e Cianeto Discos, o mexicano Vomit Recs e o norte-americano Redefining Darkness), o Testimony Recs é um selo independente de música extrema, que busca divulgar e promover bandas do cenário underground. E em relação à minha mudança para a Alemanha, decidi vir pra cá por vários motivos, tanto profissionais como pessoais", afirma.

"A Escarnium é uma banda que nunca teve períodos de inércia: nossas atividades são incessantes, e em breve estaremos completando dez anos de trabalho ininterrupto. Em março deste ano começaremos a turnê Interitus - Darkness and Beyond Tour. Já são 15 shows marcados no Brasil, 8 cidades mexicanas e provavelmente 20 cidades europeias, sendo que teremos a presença da banda mexicana Hacavitz nos shows do México e Europa. Em Salvador tocaremos no dia 18.03, no Irish Pub, local conhecido pelo público da cena. O metal baiano é soberano e forte: temos várias excelentes bandas e pessoas dedicadas. Mas claro, como qualquer outro lugar tem seus defeitos, porém a meu ver as qualidades superam os defeitos", analisa.

Contra a massificação

Instalado na cidade de Hamm (Renânia do Norte-Vestfália), o quarteto baiano demonstra, além do seu som arrasador, consciência social de boa cepa no discurso do vocalista, que saúda as outras culturas alternativas baianas: “Nada é novidade no Velho Continente: existem inúmeras bandas cruzando a Europa a todo o tempo, e inclusive já tocamos aqui com bandas de diversos locais do mundo, como Rússia, Colômbia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, México, e por aí vai. Essa coisa do “existe metal na terra do axé?” geralmente é proferida por pessoas leigas, e aqui na Europa não existe essa diferenciação de regiões do Brasil, isso acontece mais por aí mesmo. Sem dúvidas existe uma indústria fortíssima do axé no estado, que nos atrapalha e muito, por sinal. E atrapalha não só o metal, mas também outras manifestações artísticas e culturais. Mesmo assim ainda acontecem atividades no “submundo” cultural baiano, e pessoas que fazem as coisas não só por dinheiro ou status. E não só no heavy metal: a representação da cultura alternativa está presente também na cultura do rap, do pixo, do punk, dos movimentos afro, LGBT, entre outros”, afirma Victor.

Victor Elian à frente da Escarnium, ao vivo
“A necessidade de se expressar vem à tona quando existe a massificação das ideias e do modo de agir. Essas regras normativas impostas pela sociedade em que vivemos sufocam, e jogam à margem tudo que é tido como diferente, o que tem como consequência o desenvolvimento dessas atividades, que dão espaço de fala para aqueles que desejam e precisam ser ouvidos. Por isso citei não só o heavy metal, mas todos os outros movimentos e expressões acima. Se não nos é retirado espaço, então criamos nós mesmos este espaço. No caso do heavy metal, usamos este espaço para ir de encontro a tudo aquilo que não concordamos, e expressamos o descontentamento e insatisfação que temos perante a sociedade e suas políticas, e religiões que nos são impostas a força há mais de 500 anos. É importante lembrar que o heavy metal (e no nosso caso, o death metal) é mais do que música para simples entretenimento. Estamos gritando e indo de encontro a coisas que nos sufocam o tempo inteiro. Transformamos nosso ódio, a tragédia e a decadência em arte e refletimos como um espelho o que vemos. Não queremos que essa expressão também seja alvo da massificação das ideias, mas sim que sirva sempre como exemplo de resistência e não-conformismo”, conclui o músico.

Headhunter D.C., Escarnium e Graveren / Sábado, 20 Horas /  Dubliner’s Irish Pub / R$ 20 / www.facebook.com/escarnium



NUETAS

Soft Porn e Bilic

Soft Porn e Bilic fazem a night   Quanto Vale o Show? hoje. Vale lembrar que o show da Soft é para concorrer no Prêmio Caymmi de Música, então os meninos vão subir com sangue nos zóio. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto puder.

Pali e Skanibais

Separe aquele modelito two tone (preto & branco) para o Baile Do Ska, com shows de Pali e Skanibais. Sexta-feira na Commons. 22 horas, R$ 15 (www.commons.com.br/listaamiga) ou R$ 20 na porta.

Modus, Jato, Social

A banda gótica industrial Modus Operandi segue sua temporada comemorativa de 20 anos convidando Autópsia Social e Jato Invisível. Sábado, no Buk Porão (Pelourinho),  20 horas, R$ 10.

segunda-feira, março 13, 2017

MESTRE DO SOUL.BR

Baiano que fez história na soul music nacional, Hyldon lança aos 65 anos As Coisas Simples da Vida, um de seus melhores trabalhos

Hyldon aos 65, foto Daryan Dornelles
Nome incontornável da soul music brasileira, Hyldon lançou no final de 2016 As Coisas Simples da Vida, um álbum de inéditas que traz suas maiores virtudes como músico – e também seu maior pecado como artista baiano: sua discrição e absoluto  desapego à fama.

Talvez por isso o autor de hits perenes como Na Rua na Chuva na Fazenda e As Dores do Mundo (ambas de 1975) seja tão pouco lembrado na própria terra – plena de artistas extravagantes, muitos famosos por razões que pouco ou nada tem a ver com música.

Já na faixa-título ele explicita o espírito da obra, a qual diz muito da sua essência como artista e como pessoa: “As coisas mais belas da vida / São simplesmente naturais / A mãe amamentando o filho / O encontro dos casais / Viajar num livro bom, num instrumento musical / Comer frutas no quintal, dormir em paz / Dinheiro, sucesso, poder / Podem se acabar como num passe de mágica”, canta Hyldon.

“Eu sou um cara simples. Não sonho ir à Nova York. Tenho uma vida simples. Eu gosto de ser assim, de andar na rua de chinelos, frequentar lugares normais”, diz o artista por telefone, do Rio de Janeiro.

“Detesto esse negócio de área vip, curralzinho, acho ridículo. Detesto paparazzo, nunca tive fissura pela fama. Muita gente entra na meio artístico pela necessidade de se afirmar, de ser famoso. Eu sou músico por que tenho necessidade de me expressar. Por isso preservo muito minha vida pessoal”, acrescenta.

Por mais Hyldon nas rádios

Gravado de forma independente por Hyldon (que acumulou a função de produtor) e sua banda, As Coisas Simples da Vida foi, pouco depois de concluídos os trabalhos, “pescado” pela gravadora Deck, que o lançou em CD e – para felicidade do artista – também em LP de vinil.

Nos tempos da casinha de sapê
“Acabei de gravar o disco em setembro. Aí com o disco pronto, marquei reunião com a Deck. Aí Rafael Ramos, que é  um diretor de gravadora como eram os diretoras de gravadora de  antigamente, pessoas que gostavam de música, adorou o disco”, conta.

“Aí acertei tudo com ele, mas ‘quero que saia em LP também’, já que a Polysom (única fabrica de  discos de vinil do Brasil) é da Deck. Acertamos de sair agora em  fevereiro, mas aí ele conversou com a Pitty (também da Deck) e foi ela que botou a pilha para lançar logo. Então Pitty é a madrinha desse disco”, ri.

Com dez faixas,  As Coisas Simples da Vida soa atemporal. Poderia ter sido gravado em 1975 ou ontem – coisa de artista que sabe que sua obra não é descartável como  hits de verão.

“O público fala comigo reclamando do nivel musical, que tá muito baixo, não se faz mais música como antigamente, aquelas melodias bonitas e tal. Comecei a reparar que é verdade, as músicas  estão cada vez mais sintéticas, não tem introdução nem solo”, vê.

”Resolvi fazer na contramão disso. Todas as músicas desse disco tem introdução e solos de instrumentos. A ideia era essa, fazer um disco mais calmo, de baladas. Aí quando chegou ali pelo meio, achei que tava faltando dar um esquentada: ‘vai ficar chato, vou botar um suingue aqui’”, relata.

Daí vieram canções com mais apelo de pista, como Um Trem para Bangu, Papai e Mamãe (outra ode à vida simples de menino criado no interior – Hyldon passou a infância na cidade de Senhor do Bonfim) e Todo Mundo é Dono da Rua.

O resultado é álbum belíssimo, que não por acaso, figura em diversas listas de melhores do ano de 2016, como a da revista Rolling Stone.

“A música tá pobre porque o que toca nas rádios não é a realidade da música brasileira. Se você pegar as listas de melhores do ano, meu disco tá em varias delas, mas não se ouve tocar uma música dele. Os artistas deveriam discutir isso. Rádios são concessões públicas. No mínimo, devia ter cota para música sem jabá”, diz.

Agora é torcer por um show urgente de  Hyldon e sua  banda em Salvador.

As Coisas Simples Da Vida / Hyldon / Deck - DPA Discos / Produzido por Hyldon / LP: R$ 99,90 / CD: R$ 19,90

quinta-feira, março 09, 2017

ENTRETENIMENTO DE PROPORÇÕES GIGANTESCAS

Estreia: Kong: A Ilha da Caveira traz de volta às telas o gorilão mais famoso do cinema em filme que se assiste como um passeio de montanha-russa

Ilha da Caveira, terra de contrastes, como diria o velho jargão turístico
Em meados de 2016 o Universal Orlando Resort, em Orlando (Flórida), inaugurou seu novo brinquedão: Skull Island: Reign of King Kong.

Amanhã, os cinemas recebem o filme no qual a atração se baseou: Kong: A Ilha da Caveira.

O paralelo  não é a toa: o filme do diretor estreante em blockbusters Jordan Vogt-Roberts pode (ou deve) mesmo ser assistido como se passeia em uma montanha-russa monstruosa dos mega-parques da Flórida: com direito a muitos sustos, sobressaltos e emoções baratas a granel.

E sem deméritos por isso. Afinal, ninguém vai ao cinema assistir a um filme estrelado pelo gorilão mais famoso de todos os tempos em busca de reflexões mais profundas do que um saco  – ou melhor, balde – de pipoca.

A boa notícia é que Kong: A Ilha da Caveira tem seu charme – muito por conta da estética vintage (com o perdão pela má palavra) que o permeia, além de algumas citações cinematográficas e literárias  pontuais, como uma espécie de piscadela de olho do diretor aos espectadores atentos.

A sinopse pode ser resumida em duas frases: exploradores viajam a ilha desconhecida para investiga-la.

E se deparam com uma série de monstros, incluindo um gorila do tamanho de um edifício de 30 andares. Mais simples, impossível. Como um brinquedo.

Boas-vindas arrasadoras

John Goodman, John C. Reilly, Brie Larson e Tom Hiddleston
Apesar de ambientado em 1973, a ação se inicia quase 30 anos antes, em 1944, quando dois combatentes aéreos, um norte-americano e um japonês, caem na mesma ilha – e prosseguem o combate em terra (citação: Inferno no Pacífico, 1968, de  John Boorman).

30 anos depois, logo após a retirada das tropas norte-americanas do Vietnã, um grupo de exploradores civis e militares chegam à ilha – até então, fora de qualquer mapa – para descobrir que riquezas ela oferece, antes dos russos.

Os militares são liderados por Preston Packard (Samuel L. Jackson, olhar de psicopata nível Jack Nicholson). Já os civis, entre cientistas e geólogos, são liderados por Bill Randa (o grande John Goodman) e James Conrad (Tom Hiddleston), um ex-militar.

Outros personagens de destaque são a fotógrafa pacifista Mason Weaver (a estrela em ascenção Brie Larson) e o militar Jack Chapman (Toby Kebbell).

O engraçadíssimo John C. Reilly dá as caras ali pelo meio do filme, mas é melhor descobrir quem é seu personagem na sala escura.

Mas não se apegue a eles, não. Suas vidas pouco importarão na lógica de ação alucinante e escala gigantesca proposta pelo filme.

Aproveite para confraternizar com os simpáticos habitantes locais
Logo ao chegar na ilha com uma tropa de soldados em uma esquadrilha de helicópteros (citação: Apocalypse Now, 1979, de Francis Ford Coppola), o grupo recebe – em dialeto local – a galinha pulando.

A sequência de “boas-vindas” do dono da ilha aos invasores é um primor de cinema-catástrofe em termos de ação, edição e som.

A partir daí, em terra, os sobreviventes divididos em dois grupos passam a percorrer a ilha tentando sobreviver e, quem sabe, descobrir os segredos do local.

Samuel L. Jackson, o militar endurecido pelos anos (e pela derrota humilhante) no Vietnã assume uma personalidade obsessiva em relação ao macacão (citação: Capitão Ahab, Moby Dick, 1851, de Herman Melville), pondo os sobreviventes em risco.

Contar mais estraga as surpresas do filme.

Talvez o maior elogio que se pode fazer à obra é que ela honra a tradição de escapismo espetacular iniciada no clássico de 1933 (King Kong, de Ernest B. Schoedsack) e retomada por Peter Jackson na refilmagem de 2005 (sem esquecer o subestimado remake de 1976).

Só faltou retomar a relação de fascínio de Kong pela mocinha, presente inclusive na versão de 1976, com a inesquecível Jessica Lange tomando banho de cachoeira na mão do bichão.

Aqui, ela é apenas ligeiramente ensaiada com Brie Larson, a futura Capitã Marvel.

Mas, ei, não se pode ter tudo, certo?

Kong: A Ilha da Caveira (Kong: Skull Island, 2017) / Direção: Jordan Vogt-Roberts / Com Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson,  John Goodman, Brie Larson,  Terry Notary, John C. Reilly e  Toby Kebbell /Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinesercla Shopping Cajazeiras, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, Orient Shopping Center Lapa, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / Classificação: livre