Hyldon aos 65, foto Daryan Dornelles |
Talvez por isso o autor de hits perenes como Na Rua na Chuva na Fazenda e As Dores do Mundo (ambas de 1975) seja tão pouco lembrado na própria terra – plena de artistas extravagantes, muitos famosos por razões que pouco ou nada tem a ver com música.
Já na faixa-título ele explicita o espírito da obra, a qual diz muito da sua essência como artista e como pessoa: “As coisas mais belas da vida / São simplesmente naturais / A mãe amamentando o filho / O encontro dos casais / Viajar num livro bom, num instrumento musical / Comer frutas no quintal, dormir em paz / Dinheiro, sucesso, poder / Podem se acabar como num passe de mágica”, canta Hyldon.
“Eu sou um cara simples. Não sonho ir à Nova York. Tenho uma vida simples. Eu gosto de ser assim, de andar na rua de chinelos, frequentar lugares normais”, diz o artista por telefone, do Rio de Janeiro.
“Detesto esse negócio de área vip, curralzinho, acho ridículo. Detesto paparazzo, nunca tive fissura pela fama. Muita gente entra na meio artístico pela necessidade de se afirmar, de ser famoso. Eu sou músico por que tenho necessidade de me expressar. Por isso preservo muito minha vida pessoal”, acrescenta.
Por mais Hyldon nas rádios
Gravado de forma independente por Hyldon (que acumulou a função de produtor) e sua banda, As Coisas Simples da Vida foi, pouco depois de concluídos os trabalhos, “pescado” pela gravadora Deck, que o lançou em CD e – para felicidade do artista – também em LP de vinil.
Nos tempos da casinha de sapê |
“Aí acertei tudo com ele, mas ‘quero que saia em LP também’, já que a Polysom (única fabrica de discos de vinil do Brasil) é da Deck. Acertamos de sair agora em fevereiro, mas aí ele conversou com a Pitty (também da Deck) e foi ela que botou a pilha para lançar logo. Então Pitty é a madrinha desse disco”, ri.
Com dez faixas, As Coisas Simples da Vida soa atemporal. Poderia ter sido gravado em 1975 ou ontem – coisa de artista que sabe que sua obra não é descartável como hits de verão.
“O público fala comigo reclamando do nivel musical, que tá muito baixo, não se faz mais música como antigamente, aquelas melodias bonitas e tal. Comecei a reparar que é verdade, as músicas estão cada vez mais sintéticas, não tem introdução nem solo”, vê.
”Resolvi fazer na contramão disso. Todas as músicas desse disco tem introdução e solos de instrumentos. A ideia era essa, fazer um disco mais calmo, de baladas. Aí quando chegou ali pelo meio, achei que tava faltando dar um esquentada: ‘vai ficar chato, vou botar um suingue aqui’”, relata.
Daí vieram canções com mais apelo de pista, como Um Trem para Bangu, Papai e Mamãe (outra ode à vida simples de menino criado no interior – Hyldon passou a infância na cidade de Senhor do Bonfim) e Todo Mundo é Dono da Rua.
O resultado é álbum belíssimo, que não por acaso, figura em diversas listas de melhores do ano de 2016, como a da revista Rolling Stone.
“A música tá pobre porque o que toca nas rádios não é a realidade da música brasileira. Se você pegar as listas de melhores do ano, meu disco tá em varias delas, mas não se ouve tocar uma música dele. Os artistas deveriam discutir isso. Rádios são concessões públicas. No mínimo, devia ter cota para música sem jabá”, diz.
Agora é torcer por um show urgente de Hyldon e sua banda em Salvador.
As Coisas Simples Da Vida / Hyldon / Deck - DPA Discos / Produzido por Hyldon / LP: R$ 99,90 / CD: R$ 19,90
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