Na capa do seu álbum Blue Train (1957), vemos John Coltrane com a mão no queixo e o olhar distante.
O registro do fotógrafo Francis Wolff – e as incontáveis horas de audição do jazzista norte-americano – marcaram para sempre um jovem do outro lado do Atlântico.
Não é por outro motivo que é a sua reprodução desta imagem icônica que estampa a capa de Coltrane, elogiada HQ biográfica de um dos mais geniais e influentes músicos do século 20.
“A primeira vez que ouvi Coltrane eu tinha 16 anos”, conta Paolo, por email.
“Eu tinha essa coletânea de faixas raras e alternativas de sessões com ele, Lee Morgan, Bud Powell, Kenny Dorham, Horace Silver. A capa era a foto do álbum Blue Train, de Francis Wolff, com design de Reid Miles”, diz.
Obcecado, Paolo devorou o álbum até gravar na mente cada nota.
“Posso lembrar e cantar cada nota ainda hoje. Me impressionou muito o som, a atitude na vida e na arte de Coltrane. Para mim, ele é um dos mais poderosos e completos músicos na história da humanidade”, diz.
Solo em quadrinhos
Em Coltrane, a HQ, o traço elegante e preciso de Paolo Parisi se presta a atuar como o sax do músico que dá título a obra, solando sobre sua vida e obra com aquela atitude de quem se recusa a aceitar ideias prontas.
“A ideia era criar uma narrativa não-sequencial no livro todo, como algo próximo a um solo de free jazz. Uma seleção de fragmentos curtos da vida pessoal, carreira e música do Trane”, afirma Paolo.
“Poderia escrever centenas de linhas sobre o sentido da história, mas é muito mais legal quando o leitor constrói seu próprio sentido”, acredita o autor.
Por isso mesmo, Paolo dividiu o livro em quatro capítulos, cada um com o nome de uma das quatro faixas de A Love Supreme (1965), álbum divisor de águas na sua carreira e considerado sua obra-prima,
“No A Love Supreme encontramos esta peculiaridade única: quatro partes, e não, quatro faixas. O próprio termo ‘parte’ remete a uma ‘seção’ de algo maior. Em um certo sentido, me remete também aos capítulos de um romance”, percebe.
Indicado tanto para fãs de jazz, quanto de boas HQs, Coltrane tem leitura ágil e agradável em suas idas e vindas no tempo.
Com diálogos curtos e muitas passagens rápidas, Paolo guia o leitor pela vida e obra do saxofonista, cobrindo desde passagens de sua infância pobre na racista Carolina do Norte, até suas parcerias com Miles Davis, Thelonious Monk e Duke Ellington, além das relações amorosas, o vício em drogas e a consciência política.
“Podemos vê-lo sendo músico e homem nos anos 1950 e 60 nos Estados Unidos, seus relacionamentos, seu gênio – mas também seus limites e fragilidade. Isto é o que realmente me interessa, o que talvez seja o foco do livro”, afirma.
Ao tentar captar a essência da alma de Coltrane no nanquim, Paolo decifra para o leitor algo que está no âmago do próprio gênero.
“Penso no jazz como uma forte expressão de comunidade, algo urbano feito por gente pobre, que não tinha nada além de música. Jazz como pertencimento, como unidade espiritual”, diz.
Coltrane / Paolo Parisi / Veneta / 128 páginas / R$ 44,90
ENTREVISTA COMPLETA: PAOLO PARISI
Para você, o que é importante ao produzir uma biografia de um músico em quadrinhos? Quadrinhos são silenciosos, música não. Como resolve esse dilema?
Paolo Parisi: Não penso em quadrinhos como uma mídia silenciosa. Por que seria? O que você quer dizer com "silenciosa"? Eu sinto os sons quando leio algo, por que estou dentro da trama, se a narrativa é boa . Não acho que seja um dilema. É apenas um ponto de vista diferente.
PP: A música está sempre presente em minha vida, esta ligação com o som é mais forte do que com outras mídias, e também como designer gráfico, sou apaixonado pelas capas dos selos Blue Note Impulse!. A primeira vez que ouvi Coltrane eu tinha 16 anos. Eu tinha essa coletânea de faixas raras e alternativas de sessões com ele, Lee Morgan, Bud Powell, Kenny Dorham, Horace Silver. A capa era a foto do álbum Blue Train, de Francis Wolff, com design de Reid Miles. Ouvi esse disco por muito tempo para aprender, até gravar em minha mente cada melodia, refrão, batida. Se tornou uma obsessão, eu acho. Posso lembrar e cantar cada nota ainda hoje. Me impressionou muito o som, a atitude na vida e na arte de Coltrane. Para mim, ele é um dos mais poderosos e completos músicos na história da humanidade. Ele sempre representou uma espécie de guia para mim. Penso no jazz como uma forte expressão de comunidade, algo urbano feito por gente pobre que não tinha nada além de música. Jazz como pertencimento, como unidade espiritual. Vamos pensar na AACM de Chicago (Association for the Advancement of Creative Musicians) ou no Black Artists Group de Saint Louis. Aqui encontramos um link estritamente musical para a política e a educação na comunidade afrodescendente americana. Penso no Coltrane ativista também: ouça o Olatunji Concert ou Live in Japan ou Ascension ou “Alabama” (composição dedicada às vítimas de uma bomba da Ku Klux Klan em uma igreja de Birmingham em 1963). Ornette Coleman disse uma vez: “Acho que o som tem uma relação mais democrática com a informação, por que você não precisa do alfabeto para entender música”. Música é um ambiente concreto, a mídia das mudanças sociais. Um código de entendimento imediato. Neste sentido, considero os quadrinhos também como uma mídia democrática, barata, impactante e com conteúdos de altas qualidades culturais. "Coltrane" é a consequência natural de todo este material: meu amor pelo jazz, narrativa e cultura pop.
Você escolheu uma narrativa não-cronológica para ilustrar os principais momentos da vida de Coltrane. Como você organiza esses momentos em uma narrativa coerente?
PP: A ideia era criar uma narrativa não-sequencial no livro todo, como algo próximo a um solo de free jazz. Uma seleção de fragmentos curtos da vida pessoal, carreira e música do Trane. Poderia escrever centenas de linhas sobre o sentido da história, mas é muito mais legal quando o leitor constrói seu próprio sentido. No A Love Supreme encontramos esta peculiaridade única: quatro partes, e não, quatro faixas. O próprio termo "parte" remete a uma "seção" de algo maior. Em um certo sentido, me remete também aos capítulos de um romance. Essas quatro partes criam o todo do álbum, concluindo com um solo / poema espiritual (Psalm), do próprio Trane. A Love Supreme também a "fronteira" para a produção seguinte do saxofonista: Ascension, de 1965, no qual Trane começa a experimentar explicitamente algo realmente diferente dos álbuns anteriores, em termos de sonoridade e composição. Eu só trabalhei deste ponto de partida: uma história do Trane em quatro capítulos que remetem às quatro partes do álbum. Podemos ve-lo sendo músico e homem nos anos 1950 e 60 nos Estados Unidos, seus relacionamentos, seu gênio - mas também seus limites e fragilidade. Isto é o que realmente me interessa, o que talvez seja o foco do livro. Também vemos estritamente relacionadas ao mundo do jazz, a máquina dos negócios e, não menos importante, a luta política e social dos movimentos pelos direitos civis da comunidade afro-americana.
Como você se inspira para desenhar os músicos em ação? Por meio de vídeos e fotografias ou você frequenta cafés e casas de show com papel e lápis?
PP: Não costumo desenhar em público. Geralmente, me inspiro em fotografias e vídeos, livros, capas de discos, material da web ou simplesmente catados na rua.
Muitos músicos norte-americanos de jazz tiveram de migrar para a Europa, em busca da atenção que não encontravam em sua terra natal. O jazz é mais afeito ao gosto europeu?
PP: Muitos artistas diferentes se mudaram para Paris em busca de novos empregos e trabalhos. Acho que, se você quer viver da própria arte (ou pelo menos tentar), deve estar pronto para se mudar para onde sua arte funciona melhor. Na França, a cena é vibrante, e consequencialmente, há uma forte política para promover a cultura em seu sentido total.
A Itália tem uma das maiores indústrias de HQ do mundo, liderada pela Sergio Bonelli Editore. Como esta indústria dialoga com artistas independentes como você? Ou são dois mundo separados?
PP: Tenho alguns amigos que trabalham como cartunistas profissionais, mas não estou tão interessado na indústria dos quadrinhos. Prefiro ligar meu trabalho às pessoas e editores que entendem o faço.
A lava-chato foi parar no Bleeding cCool, graças a capa da última Época, inspirada em uma capa clássica dos X-Men.
ResponderExcluirhttp://www.bleedingcool.com/2016/03/15/swipe-file-days-of-future-past-and-of-brazil-present/
O clássico single Common People, do Pulp, saiu na França acompanhada de uma pequena HQ ilustrada por Jammie Hewlett, de Tank Girl e Gorillaz. Aí um carinha pegou e editou um clipe juntando as duas coisas.
ResponderExcluirhttps://youtu.be/1_fCELuMsAs
Cool, of course.
se a época fosse a veja..."tudo bem", porque quem lançava os xis men aqui eram eles...num tiveram que pagar royalities não?? vai ver a pessoa que fez a capa era fan da hQ...
ResponderExcluirEssa quadrinho do Coltrane vai entrar pra minha lista de presentes pra dia 30...
xi japa, o bicho tá pegando pra ti:
ResponderExcluirhttp://www.brasilpost.com.br/2016/03/15/stj-japones-da-federal_n_9468912.html?utm_hp_ref=brazil
por essas e outras fujo desses "heróis" da vida real...ainda mais no Brasil...e quando se quer pagar de moralista...só tem safado...pior q se tirar todos o povo vai e coloca outros...ou um monte de pastores...
https://br.cinema.yahoo.com/post/141143440647/capit%C3%A3o-am%C3%A9rica-guerra-civil-ganha-trailer-em
ResponderExcluirlembrei de vc...
Entrevista massa, Poetinha. Um achado.
ResponderExcluirO trabalho parece muito bom, e é legal saber que Paolo curte tanto o Blue Train, um dos meus álbuns preferidos de Trane.
Congratulations, little boy.
https://esportes.yahoo.com/noticias/antes-elimina%C3%A7%C3%A3o-na-champions-league-102000267.html
ResponderExcluirviva o povo do 1o mundo!!!!
Cuidado amiguinhos, não saiam de casa de camisa vermelha, senão, sabe como é, "homens de bem" podem se juntar para te linchar.
ResponderExcluirOu quem sabe, camponeses com ancinhos e pás podem te queimar vivo nas chamas da inquisição.
Enfim, a caça as bruxas comunistas está nas ruas. Voltamos a 1964. E vcs sabem como terminou da última vez.
Vamos ver quanto tempo leva para o feitiço virar contra o feiticeiro - de novo.
Sabe como é: brasileiro é descarado, ADORA tomar tapa na cara de "otoridade".
Como eu gostaria de ter nascido sueco, meu deus.
quer ver umas suequinhas né danado???
ResponderExcluirsegundo olavim e os de direita...nunca houve inquisição...isso é coisa de comunista, num se tem documentos...aliás a "revolução de 64" só deu uns paus nuns gatos pingados...umas unhinhas arrancadas...morreu pouca gente...ia ser pior se os comuna assumissem aqui...até parece que iam...nunca vi um país tão egoísta quanto esse...num tem como ter...não que eu quisesse...mas num tem como...acho engraçado chamar de ditadura e golpe do pt...a maioria num quis? blz...se a galera votar em lula 2018, paciência, democracia é assim...se votar em outro, paciência...espera sua vez...
falando em inquisição, tu viu A BRUXA? bacana vú!
pensei que a justiça fosse imparcial, quer dizer, sabemos que num é...mas em tempos de rede social, seria melhor vc se mantar distante de coisas que podem ser contra vc:
http://www.brasilpost.com.br/2016/03/17/juiz-itagiba-catta-preta_n_9487270.html?1458234372&utm_hp_ref=brazil
foda é que quem instaura isso, tá seguro em casa:
http://www.brasilpost.com.br/2016/03/17/protestos-dia-17-de-marco_n_9487392.html?utm_hp_ref=brazil
clima tenso da porra...amizades acabando e as porra por conta disso...o que mais me irrita é que até parece que essa bosta num foi sempre assim...nunca vi tanta raiva contra um governo, pior q fica parecendo que defendemos ele...mas não é isso...só num podemos esquecer de bater nos outros que querem enfraquecer esse...
a cbf deveria lançar no meio dus potrestu:
http://www.brasilpost.com.br/2016/03/17/protestos-nike-camisa-cbf_n_9486348.html?utm_hp_ref=brazil
pra vender pros coxinha...deve ser uns 300 contos uma camisa dessa...é mole??
interessante esse video, artistas dos mais variados gêneros (pior q num vi um do Rock), sem cachê, pedindo democracia:
http://www.brasilpost.com.br/2016/03/17/video-tv-poeira-golpe_n_9484372.html?utm_hp_ref=brazil
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/aecio-e-bolsonaro-sao-os-candidatos-a-presidente-preferidos-pelos-manifestantes-8p3z9qr29cdfp13hqnapw8zes
ResponderExcluirMeu medo vai se tornar verdade...tou dizendo que esse pode ser o 2o turno e a galera diz q tou viajando...eu anulo sem medo de ser feliz...que o caos se instale no país...num querem isso? tomem!!
Cara...tenha medo:
https://www.youtube.com/watch?v=b3n3klKU3qc
https://www.youtube.com/watch?v=zAVANk1mQ0w
...E o death metal chega a alta costura europeia:
ResponderExcluirhttp://www.bleedingcool.com/2016/03/17/swipe-file-necroscope-vs-vetements-on-the-catwalk/
Ora, o que seria de nós sem a indústria da moda para se apropriar e banalizar as estéticas que amamos, não é mesmo?
O que seria de nós?
Para os "petralhas", pão com mortadela.
ResponderExcluirE para os coxinhas?
Filé mignon, claro!
http://www.brasilpost.com.br/2016/03/17/file-mignon-fiesp_n_9490212.html?utm_hp_ref=brazil
Esse país é um grande buffet, mesmo! Vamos comer, gente!
Neste momento infeliz precisamos, mais do que nuca, ouvir os homens verdadeiramente sábios. O filósofo Leandro Karnal me parece um deles.
ResponderExcluirNo vídeo abaixo, do programa Café Filosófico, o homem dá um verdadeiro show de sabedoria (com algum senso de humor) em dois minutinhos:
https://www.facebook.com/ricardogiorgio/videos/10204447613965838/
Ouçamos os sábios, galera! Não vamos cair no lero-lero dos exaltados que se arvoram em salvadores da nação, por que esses serão os primeiros a nos trair.
Correção: Karnal, na verdade, não é filósofo - embora fale como um. É historiador.
ResponderExcluirO mesmo vídeo, agora no you tube, para quem não conseguir abrir no link anterior:
ResponderExcluirhttps://youtu.be/LI_i8iTyP5U
Quem semeia ódio colhe....
ResponderExcluirhttp://www.brasilpost.com.br/2016/03/18/expulsao-revoltados-online_n_9497028.html?utm_hp_ref=brazil
Que se matem de uma vez.
São esses os aloprados que querem "salvar" a nação da corrupção (de um único partido, claro) e da ameaça comunista?
ResponderExcluirhttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/estudante-agredida-por-vandalos-na-paulista-conta-sua-historia/
Thanks, but no, thanks.
"Cria cuervos y te sacarán los ojos"...
ResponderExcluirhttp://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-besta-do-fascismo-a-solta-o-lider-do-revoltados-online-e-chamado-de-comunista-por-seus-caes-por-kiko-nogueira/
A-DO-RO.
Num pariu mateus, feladaputa? Agora balança!
Acho que já recomendei isso aqui antes, mas nunca é demais:
ResponderExcluirhttps://youtu.be/MP9evk0f7Qg
Trata-se da trilha sonora, criada pela banda escocesa Mogwai, para a série francesa Les Revenants, a qual volta ao ar amanhã, no canal +Globosat, 21h30.
Ficadjica!
esse disco do Mogwai é fodaço...aliás foi esse que me fez querer escutar os outros com mais atenção...mas creio que goste mais desse...
ResponderExcluirAlexandre Frotta líder dos revoltados online???
Carajo!!
Comprovado pela lava jato???
Num boto a mão no fogo por Lula, nem por nenhum outro, nem os que estão julgando, mas o cara nem réu é ainda...Alexandre Frota ou é vidente...ou tem contatos quentes...
tenha medo do q vai acontecer...povo nem sabe o q fala.
tem gente q fala q o PSDB é comunista e quer dar o golpe tb...fhc e aécio comunista...era o q faltava...
É o ovo da serpente brotando, Sputter. A Veja, Olavo, Constantino e outros aloprados tanto fizeram que conseguiram. vamos ver onde isso vai parar.
ResponderExcluirChico...vc e sua Sra foram mais do que convidados pelos diretores do fime q atuei (e q fizeram aquele clipe dos Honkers do barco) pra assistir a estréia dele no Cinema do museu...5a agora...20 horas...elenco com rockers baianos... Filme sobre rock...trilha sonora rocker...como faz pra eles entrarem em contato com VC? Dou seu mail? Eles me pediram pra te chamar...QQ coisa diz pro trampo q vc vai cobrir o evento...foi o filme q sua Sra me filme filmando, circulando de calça colada pelo irdeb...q vergonha... Heheheh
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