Reverendo. Fotos: Marcelo Ribeiro |
Não por acaso, ele é carinhosamente conhecido como “Reverendo” – desde os tempos em que apresentava o programa Lado B na MTV Brasil.
O fato é que poucos jornalistas especializados – talvez nenhum – conhecem tão bem os subterrâneos da música pop planetária quanto Massari.
E isso é facinho de comprovar: basta uma passada de olhos em seu novo livro, Mondo Massari, uma coletânea de textos e entrevistas que acaba de chegar às livrarias.
A seguir, entrevista por email com o Reverendo, onde ele fala um pouco de si mesmo, do livro, Frank Zappa, Islândia, MTV Brasil e – com inesperado entusiasmo – do nosso querido rock baiano.
ENTREVISTA: FABIO MASSARI
Pode nos contar um pouco sobre como você começou nesse negócio de ouvir rock – e depois, de escrever sobre isso?
Fabio Massari: Acho que dá pra dizer que começou naturalmente, sem forçação de barra ou com algo que tenha deflagrado o interesse. Minha família não é, digamos, musical – mas a vitrola estava lá e discos circulavam. E curti rádio desde sempre: música e todo tipo de conversa, falação mesmo, programas esportivos, humorísticos etc. Sou radialista de formação e predileção! O rock chegou no embalo de Elvis, Beatles, Secos & Molhados, Elton John, Suzi Quatro, Raul Seixas e, claro, Alice Cooper: aqui sim, o momento de revelação, transformação. Muscle Of Love (1973) é o LP que inaugura minha coleção (pelo menos decidi assim num artigo para a saudosa revista General), marco-zero (ainda que não tenha sido o primeiro de fato).
Desde os tempos da MTV, você era, volta e meia, referido como especialista em Frank Zappa (1940-1993), compositor de rock com bagagem erudita e sobre quem você escreveu o livro Zappa: Detritos Cósmicos. Como você avalia o seu legado?
FM: Zappa tinha mesmo essa “bagagem erudita”, ainda que haja divergências entre especialistas quanto à intensidade desses “estudos”. Acho que era tudo mais intuitivo e a pesquisa era conduzida à sua maneira, sem muito envolvimento com formatos acadêmicos. Mas ele se deliciava com outros gêneros e subgêneros. Nas suas composições (vale lembrar que se definia pura e simplesmente como “American composer”) tinha de tudo: jazz, blues, psicodelia, colagens vanguardistas, marchinhas mil e... no fim das contas, sua música não se parecia com nada disso. Além das possibilidades infinitas do legado, acho que destaca-se a postura de um artista em plena sintonia com seu tempo, que não tinha medo de encarar os “atrasa-lado” corporativos e que se dedicava à sua arte – e aos fãs – com todo o carinho e respeito do universo.
Lembro que no Lado B vc entrevistou em uma ou duas ocasiões a banda baiana brincando de deus, pioneira do indie rock brasileiro (e orgulho de parte dos doidões locais, fãs do chamado - por aqui, de forma meio jocosa - "rock triste"). Você tem alguma lembrança da brincando de deus? Considera relevante alguma outra banda da cena baiana?
FM: Como assim? Mas é claro! O rock triste fez muito parte da trilha sonora do Lado B (e atividades televisivas com nossa chancela). A brincando de deus era uma das prediletas, sempre muito legal encontrar o pessoal – e nos batemos muitas vezes nos festivais da vida. O Messias (Bandeira, vocalista) sempre foi um cara muito interessante de entrevistar e de conversar na camaradagem, fora das câmeras. Sempre teve um discurso elaborado, consistente, pensava a banda, a cena em contextos bem demarcados. Era mesmo bem interessante. Aliás ele foi um dos responsáveis por irmos cobrir a cena in loco, no histórico festival Boom Bahia. Na verdade, esse momento anos 90 me pareceu muito “quente” para a cena local. De minha parte, curti muito várias bandas. Estão todas aqui (cassetes, CDs e uns vinis legais). (Dr.) Cascadura (clássico ainda subestimado) e Dead Billies (a certa altura, a melhor banda “ao vivo” do país, talvez do planeta). E Inkoma, Lisergia, Dois Sapos & Meio, Saci Tric, Crac!, Úteros em Fúria e Treblinka. E a mais espetacular gema discográfica (CD-R) da divisão baiana da minha coleção: Guizzzmo! Viva o Grande Irmão (referência a Rogério Big Brother - ou Big Bross -, produtor local).
A geração da qual a brincando de deus fez parte - a primeira turma do indie brasuca, incluindo Pin Ups, PELVs, Killing Chainsaw, Low Dream, Second Come e Mickey Junkies, entre outras - é hoje meio que desconsiderada pela geração pós-Los Hermanos: por que cantavam em inglês e não reverenciavam nossa MPB, entre outras razões. Como você vê isso? Essa geração merece uma revisão crítica?
"Deveria existir uma revisão crítica e pronto" |
Você escreveu um livro sobre o rock islandês, Rumo à Estacão Islândia. Porque? Ele é de fato extraordinário? Ou você foi movido pelo exotismo da coisa?
FM: O projeto era, acima de qualquer coisa, pessoal, de corte discográfico-existencial! Investigação que poderia ter sido na Nova Zelândia ou Bahia. Discos e personagens e algumas de suas histórias. No caso da Islândia, ela possui cena riquíssima de sons e é um lugar loucamente belo!
Ainda existe lugar nas rádios comerciais para programas como os seus ou só na internet?
FM: Nas comerciais o espaço é cada vez menor, sem dúvida, mas não é impossível. Na net o que mais existe é espaço para programas autorais, convencionais ou não.
Qual foi o critério de seleção para os textos do livro?
FM: Mondo Massari reune o material que produzi com essa marca. Programa da MTV (no livro conto do surgimento e dou uma amostra das entrevistas), colunas na Rolling Stone e Yahoo. A segunda parte traz entrevistas do programa ETC, que apresentei na Oi FM até o começo de 2012. Como o ETC quase se chamou Mondo Massari, fecha-se um ciclo: TV, revista, net e rádio. Um diário de bordo geral da minha Enterprise pessoal.
Como foi para você ver a MTV Brasil acabar no ar?
FM: Trabalhei lá de fevereiro de 1991 a fevereiro de 2003: 12 anos de muita coisa legal realizada, tudo certo e resolvido. Foi legal ter participado da despedida. Só tenho curiosidade para saber o que vai ser do arquivo da MTV Brasil: Que fim vai levar? Quem vai levar e para fazer o que?
Que grande banda ou ídolo (vivo) vc gostaria de entrevistar mas ainda não teve oportunidade? E o que vc perguntaria à ele (ela)?
FM: Não sei nem por onde começar! David Bowie e Tom Waits e Les Claypool e Robbie Robertson...
Grandes selos costumam ser associados à grandes cenas. Seattle, Sub Pop. Madchester, Factory. Bay Area, Alternative Tentacles. E por aí vai. Que outras cenas / selos ainda pouco conhecidos você poderia nos recomendar?
FM: Essence Music, de Juiz de Fora.
Você tem alguma antena escondida acoplada à nuca? Aonde posso conseguir uma pra mim também? Ou é de nascença?
FM: Se tenho ainda não percebi nem localizei; mas se tenho, tenho certeza de que vossa excelencia também tem!
PROSA CATIVANTE DO REVERENDO CONSERVADA NAS PÁGINAS DE MONDO MASSARI
Nos anos 1990, quando a informação era privilégio apenas de rádios, TVs e jornais, quem queria ouvir o que havia de melhor, mais novo e instigante no rock planetário tinha destino certo: o programa Lado B, da MTV Brasil.
O apresentador, um sujeito magro, simpático e muito bem falante, era o jornalista e radialista Fabio Massari.
À frente do Lado B, o Reverendo Massari catequizou gerações de jovens que hoje tentam seguir seus passos na incessante busca pelos – como ele costuma dizer – “bons sons”.
Busca que ele jamais cessou, como se pode ver nesta preciosa coletânea sob a chancela Mondo Massari – que já foi programa na MTV (pós-Lado B) e coluna na Rolling Stone e Yahoo.
Está aqui, conservado para a posteridade, o cativante (e criativo) discurso oral do radialista, que fala do que há de mais obscuro e interessante na música pop com tanta propriedade, que é impossível não querer ouvir os artistas que ele recomenda.
No livro, entrevistas com gente do porte de John Cale, Marianne Faithfull, Karlheinz Stockhausen e Glen Matlock, além de bandas maneiríssimas como Yo La Tengo, X, Television, The Bellrays, The Mars Volta, Cavalera Conspiracy, The Kills e muitas outras. Há ainda relatos de shows (The Police em 1982), artigos, resenhas e muito mais.
Uma bíblia dos bons sons para aficionados e neófitos.
Mondo Massari / Fábio Massari / Ideal/ 476 p. / R$ 49,90 / www.edicoesideal.com
Mais Mondo Massari aqui:
ResponderExcluirhttp://mondomassari.com.br/
aqui:
http://monkeybuzz.com.br/artigos/7917/viagem-ao-mondo-massari/
e aqui, entrevista bala em vídeo com Barcinski:
http://r7.com/N3A4
Então... Jack White odeia Dan Auerbach.
ResponderExcluirhttp://www.spin.com/articles/jack-white-dan-auerbach-beef-karen-elson-emails/
"Apparently Music City isn't big enough for two blues-rock titans"...
Sorry aí o momento TMZ. Mas fiquei chocado com essa bobagem.
Aqui pra nós, sou mais o Auerbach.
ResponderExcluirCabelim de um, cabelim do outro!
Jack já brigou com o Billy Childish tb...sou + o Crianção do que os 2 citados aqui-heheeheeheh
ResponderExcluirhttp://gloriousnoise.com/images/Jack-vs-Billy-large.jpg
apesar de toda fama de carrancudo de Billy, ele ja me enviou 3 postais bem carinhosos, quando enviei pra ele uns catálogos de arte.
Só lembrei de Ernesto e Old School lendo isso:
http://revistaforum.com.br/blog/2013/12/sonho-americano-conheca-10-fatos-chocantes-sobre-os-eua/
Fábio é a enciclopédia rock viva mais valiosa do Brasil! O resto é lixo!
ResponderExcluirSou mais Auerbach. Não sou fã do WS de jeito nenhum e acho Jack White bom, mas só bom. Acho ele totalmente superestimado!
ResponderExcluirO Black Keys só bombou a partir do sexto disco - Brothers (2010).
ResponderExcluirQuando estourou, já não eram garotos deslumbrados - aliás, ele nunca pareceram isso.
Já Mr. White, a despeito do seu imenso talento como guitarrista e compositor (sim, o cara É fodão) sempre me pareceu um pouco deslumbrado com a fama, "todo-poderoso", com trocentas bandas paralelas e seu visual de Tim Burton (no sentido Johnny Depp da coisa, quero dizer) do Mississipi (apesar de ser de Detroit, lá no Norte), casamento na Amazônia com pajelança etc e tal. Meio bobão.
Já o Auerbach parece que só quer que deixem ele tocar em paz com o Patrick Carney em alguma garagem nos cafundós de Akron, Ohio. Um sujeito muito reservado e quase mal-humorado, com pouca disposição para essas viadagens da fama.
Sou mais o Auerbach. Pau nele, Dan!
inclusive já li depoimentos do Auerbach relatando que eles sabem que esse momento de super exposição do Black Keys é algo que vai passar. Eles não tem o perfil de banda de arena. Acho massa que sejam, aliás. Ele é bom de timbre pra caramba, cuidadoso com arranjos, criativo, bom produtor (Dr.John que o diga. Porra, que disco é o "Locked Down"). Já Jack White eu acho só bom, nada mais. Insisto que acho ele subestimado. Toca muito, tem personalidade, mas pra mim falta alguma coisa. Acho ele algumas vezes exageradamente cru... Além do mais acho o WS é muito barulho por nada. Mas enfim, só minha opinião! :D
ResponderExcluirabs Chico!
subestimado não, superestimado... perdoem, devo estar doidao e não percebi...
ResponderExcluirAmanhã, post nuevo.
ResponderExcluirUm texto...
ResponderExcluirhttp://farofafa.cartacapital.com.br/2013/11/30/pororoca/
...um debate:
http://farofafa.cartacapital.com.br/2013/12/02/borbulhas-de-amor/
Enjoy.
Fábio Massari! Procuro há tempos um clipe passado no LADO B da nova velha MTV onde um sujeito era torturado e literalmente "moído" em uma mesa de tortura, como se entrasse um moedor de carne pelas costas e praticamente "drenava" o sujeito inteirinho! Era animal, bastante trash, e gostaria de saber se você se recorda da música e da banda!
ResponderExcluirAbraço - Marco Aurélio - marco1964@gmail.com
Olá, Marco, obrigado pela visita.
ResponderExcluirBicho, confesso que não sei de que vídeo vc está falando. Não me lembro de nenhum vídeo com essa descrição.
Mas se souber, te aviso pelo seu email!
Abraço!