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quarta-feira, novembro 27, 2013

PODCAST CLASH CITY ROCKERS #17

CHVRCHES, synthpop hypado, dica de Marcão
Novidades e nem tanto assim.

Com Marcos Rodrigues, Osvaldo Braminha Jr. e Sérgio Cebola Martinez.

Big Star, CHVRCHES, Robyn Hitchcock, Jonathan Wilson etc.





PERFIL: ANTONIO CEDRAZ

Mais premiado quadrinista baiano, consagrado Mestre do Quadrinho Brasileiro (Prêmio Angelo Agostini), Antonio Cedraz pulou a fogueira do câncer e agora anuncia a volta do personagem que lhe deu fama: Xaxado e sua turma ganham tiras inéditas e desenho animado em 2014 

Antonio Cedraz e o mandacaru que tem em casa. Foto: CCJr.
Aos 68 anos, o cartunista baiano Antonio Cedraz está começando tudo de novo. E felicíssimo por isso.

Sertanejo forte danado, passou os últimos cinco anos travando uma luta feroz contra um câncer que começou no reto, passou para o intestino e chegou ao fígado.

Mas agora, depois de longo tratamento que incluiu radioterapia e um par de cirurgias, garante, está livre: “Agora é só acompanhar direitinho, periodicamente”, sorri.

“Uma doença dessas é uma prova e tanto. Minha vida sempre foi de luta e sonho. E nesse período eu descobri tanta coisa boa em minha vida. A lição que ficou foi a fé em Deus, que não pode esmorecer nunca. E o apoio da família e dos amigos. Só assim para um tratamento desses dar certo”, ensina Cedraz.

Nascido em Miguel Calmon (a 360 quilômetros de Salvador), distrito de Jacobina, cidade aonde foi criado, Cedraz é, muito provavelmente, o mais importante e premiado quadrinista da região Nordeste (exceção feita ao paraibano Mike Deodato, que desenha para a Marvel e é adorado nos EUA, mas aí é outro papo).

Seis vezes ganhador do Troféu HQMix, a mais importante premiação dos quadrinhos brasileiros, Cedraz é o criador da Turma do Xaxado – que para olhares menos atentos, poderia parecer uma mera adaptação nordestina da Turma da Mônica.

Uma segunda olhada, contudo, mostra uma criação que derruba qualquer tipo de suspeita. Terna e mordaz, a verve demonstrada em cada uma de suas tiras pode ser lida em dois níveis: a infantil, sempre com uma piadinha divertida. E a adulta, com forte conteúdo de crítica social, especialmente relativa às questões nordestinas.

Com a produção de tiras interrompida desde que descobriu que estava doente, Xaxado terá uma volta triunfal em 2014, com a retomada da produção de material inédito e até uma série de desenhos animados.

“O Xaxado sempre me surpreende”, diz Cedraz, sem esconder o entusiasmo do pai orgulhoso pela cria.

“Agora a Candida Liberato (produtora do animador baiano Chico Liberato) está produzindo 26 episódios de um minuto, para serem exibidos na TVE e na TV Brasil. Ainda não sei para quando”, afirma.

“E ano que vem vamos produzir tiras inéditas. Eu mesmo vou produzir algumas,  e outras, eu terceirizo”, conta Cedraz.

Isto não é um chapéu

Criado em 1998 a pedido do jornalista Sérgio Matos, então editor do caderno Municípios (hoje extinto) em A TARDE, o Xaxado foi um vencedor desde o início.

“Sérgio gostou na hora. Imediatamente após a publicação, comecei a receber cartas, telefonemas e emails de toda a Bahia”, diz.

Basicamente, um menino com chapéu de cangaceiro, Xaxado nasceu da preocupação de Cedraz em valorizar  a cultura brasileira.

“O Xaxado é um quadrinho tipicamente brasileiro. Um dos poucos”, acredita.

“O chapéu para mim simboliza o Nordeste. Aí criei uma história em que Xaxado ganhava do seu avô o chapéu, que ele recebeu do próprio Lampião”, conta.

Animado, Cedraz viu a ótima recepção para o personagem e sua turma como uma deixa para abrir seu próprio estúdio.

“Éramos eu, Tom Figueiredo (roteiros) e Sidney Falcão (desenhos). Depois veio o Vitor Souza (cores). Os Três Mosqueteiros, que como manda a tradição, são quatro. No caso, o D'Artagnan era eu mesmo”, diverte-se.

O personagem era tão querido na redação do jornal que gerou até disputa. “Eu tinha outro para mostrar à Susana Varjão (então editora do Caderno 2), mas ela disse que só queria ‘o cangaceirinho’. Aí tive que criar outro personagem para o Sérgio: Gabola, um malandro”, relata Cedraz.

No ano seguinte, 1999, Cedraz lançou a primeira coletânea de tiras do Xaxado na Bienal do Livro da Bahia.

“O livrinho concorreu ao HQMix de cara. E ganhou! Foi um orgulho duplo, por que além de ganhar o  prêmio, eu estava entre meus ídolos, que são o Maurício de Souza e o Ziraldo. Aí deslanchou”, relata.

Depois desse, Cedraz ganhou mais cinco trofeus HQMIx, sua obra se tornou objeto de estudo acadêmico dentro e fora do Brasil, Xaxado ainda é republicado no Caderno 2+ d’A TARDE e em jornais de Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e São Paulo, além de aparecer em uma edição da revista francesa La Bouche du Monde.

E mais: em 2008, o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), de Belo Horizonte, um dos principais eventos da área do Brasil, fez uma grande homenagem a Cedraz.

“Eles fizeram estátuas em tamanho natural dos personagens do livro Lendas e Mistérios (um dos premiados com o HQMix), além de uma exposição de tiras em tamanho grande e em Braille, foi bonito demais”, conta Cedraz.

Na semana passada Há algumas semanas, a primeira edição da Fliquinha (setor infantil da Festa Literária de Cachoeira), teve em Cedraz seu primeiro grande homenageado.

“No início, editora nenhuma queria publicar Xaxado. Hoje, os livrinhos infantis e HQs do Xaxado são publicados por quatro editoras diferentes do Brasil”, afirma.

Todo  herói tem sua Origem

Nada mal para quem começou desenhando por diletantismo, ainda nos anos 1960.

“Meu pai era de Conceição do Coité. Ele era tropeiro, ou seja: andava pelo sertão com uma tropa de dez burros e saía vendendo mercadorias de lugar em lugar”, relata Cedraz.

“Um dia, ele chegou no engenho do meu avô materno em Miguel Calmon, para comprar rapadura. Como a rapadura não estava pronta, ele teve de esperar três dias. Nesse meio tempo, conheceu a filha do dono, minha mãe”, conta.

O menino Cedraz, nascido algum tempo depois desse encontro, cresceu amando ler as revistas em quadrinhos da EBAL (Editora Brasil-América) e os cordeis de mestres do sertão, como Rodolfo Coelho Cavalcanti, além dos clássicos da literatura universal.

“Aos 16 anos, encontrei um rapaz de Jacobina, Uílson Miranda, desenhando na porta de uma livraria. Nunca tinha visto ninguém desenhando na minha frente, imagine. Adorei os desenhos dele e me perguntei se seria capaz também. Comprei lápis e papel, fiz meus desenhos e fui mostrar para Uílson. Ele disse que estavam melhores do que os dele, mas acho que foi só para me incentivar. Mas deu certo, por quer não parei mais”, ri Cedraz.

Logo Cedraz estava criando historinhas e pendurando no mural da escola. Com a cobrança dos colegas por mais histórias, Cedraz teve a ideia de mandar para o jornal A TARDE, “aos cuidados da página Criança, editada pelo Adroaldo Ribeiro Costa,  que foi meu grande incentivador”, cita.

O personagem Lubio foi seu primeiro personagem publicado em A TARDE. “Quando eu vi que ele tinha publicado, mandava mais três ou quatro. Peguei e mandei também para uma editora de São Paulo, a Edrel, que publicava revistinhas de piadas e cartuns. Eu era ousado. Aonde eu via que tinha jornal, revista, editora, eu mandava meu material”, conta.

Funcionário do Banco Econômico, nunca parou de desenhar e criar nas horas vagas.

Nos anos 1970, era o principal cartunista do Joba, suplemento infantil do Jornal da Bahia e criou o personagem Joinha, seu primeiro sucesso.

“O Joba marcou muita gente. E o Joinha está na gaveta, esperando para ser republicado”, diz.

 Com as graphic novels de Mauricio de Souza fazendo um baita sucesso, a pergunta que encerra essa matéria não poderia ser outra: ideias para alguma HQ adulta?

“Tenho ideias para HQ adulta, mas não quero tirar o foco do Xaxado”, conclui.

www.xaxado.com.br

Perfil publicado na revista Muito do dia 17 de novembro.

quinta-feira, novembro 21, 2013

PRIMEIRO FESTIVAL ALTERNATIVO DE LENÇÓIS ABRE NOVA TRILHA CULTURAL

Com homenagens a Peu Sousa e Jimmy Page, Lençóis terá três dias de muito rock ‘n’ roll com direito a mostra de artes visuais

Cascadura formação 2013, atração de sábado. Foto: Ricardo Ferro
Um dos principais centros turísticos do interior baiano, a cidade de Lençóis (425 km da capital) tem abrigado cada vez mais grandes eventos.

Esta semana, ela recebe mais um, de caráter especial: é o primeiro Festival Alternativo de Lençóis.

Serão três dias a partir de amanhã, com shows de rock e mostra de artes, tudo gratuito, na Praça Maestro Clarindo Pacheco (ou Praça do Neco’s).

Sobre o palco, algumas das principais bandas de rock da Bahia: Cascadura, Les Royales e a rediviva – pelo menos, por enquanto – Úteros Em Fúria, além de Rebeca Matta.

Esta última não fará seu show, mas sim uma participação especial no show do Cascadura, em uma homenagem ao guitarrista baiano Peu Sousa, morto no primeiro semestre.

Completam a grade duas outras bandas de Salvador: The Doors Cover e Leprechal Rios Toca Raul, além das atrações locais Maracatu Diamante, Rodrigo V8 e Síndrome do Rock.

Idealizado pela produtora Monique Ferrari, o Festival Alternativo de Lençóis surgiu como ideia em 2011, quando ela retornou à cidade depois de dez anos sem pintar por lá.

“Quando eu costumava ir com frequência, há quase 20 anos, fui apresentada a muitas músicas, bandas e artistas nas caixas de som dos bares”, diz.

Volta, Jimmy

“Tinha o Feito a Mão, o Lajedo (frequentado por Jimmy Page), Veneno (de Rosa, ex-dona do Creole Cajun, no Pelourinho), Daime Blues. Eu adorava sentar, ouvir o rock que saía das caixas de som, conhecer pessoas de vários lugares do mundo que passam por Lençóis”, relata.

A mítica passagem do ex-Led Zeppelin, aliás, é um dos motes do festival. Naquele mesmo ano, ela submeteu seu projeto ao edital Demanda Espontânea 2011 da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

"Com projeto já aprovado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, pensei em fazer um link homenageando a passagem de Jimmy Page por Lençóis. Em 2012, chamei Peu para participar do projeto na direção e produção artística. Ele chegou entrar em contato com alguns artistas e bandas e também pensava em montar uma banda de abertura, que tocaria todos os dias, com participações de artistas que fariam versões dos clássicos com Led Zeppelin, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Neil Young...enfim, o som que se ouvia naquelas caixas de som dos antigos bares de Lençóis", detalha Monique.

Depois da morte de Peu, a homenagem a Jimmy Page tomou outro caráter. O resultado pode ser visto na mostra Come Back Sir Rock And Roll, composta por posters criados por “power trios visuais” com curadoria de Andrea May.

“Como admiro muito o trabalho de Andrea, sugeri uma parceria e ela criou uma nova edição do projeto COLLAB - que é uma criação colaborativa em rede, convocando artistas do Brasil e do exterior, entre designers, ilustradores e fotógrafos”, detalha Monique.

Les Royales, atração de amanhã. Foto: La Fotita
Sobre a curadoria das bandas e artistas convidados, Monique conta que "Peu já tinha entrado em contato com Cascadura e Rebeca Matta. Com essa recente reunião comemorativa da Úteros em Fúria - e agora, com o festival sendo dedicado à Peu, fã declarado da banda, foi irresistível o convite. Nem acreditei quando eles aceitaram e fiquei ainda mais lisonjeada quando soube que é o último show deles por esses tempos. Já Les Royales é diversão garantida. E fazer um festival prestigiando o rock de Salvador sem ter Morotó e Rex não faz muito sentido. René (The Doors Cover, Banda de Rock) eu conheço do colégio, e recentemente o vi cantando na Banda de Rock e quis ele no festival. Nesse convite, ele me sugeriu ir com The Doors Cover, que acredito ter tudo a ver com a história de resgatar o rock na cidade. Teremos Leprechal Rios tocando Raul, mas esse já é lenda por lá", diz.

"Em relação as atrações de Lençóis, tem Maracatu Diamante que é um grupo formado por moradores de Lençóis e região, que se encontram semanalmente para tocar o tradicional Maracatu de Baque Virado. Eles fabricam seus próprios instrumentos e saem em cortejo pela cidade. Valadão, o idealizador do projeto, me garantiu que o som é pesado! Rodrigo V8 é um cara das antigas, nessa época de Lençóis rock'n'roll ele era dono do lendário bar Daime Blues. Síndrome do Rock é uma banda com uns meninos jovens e cheios de vontade de tocar", conta.

Rebeca Matta canta no sábado, com Cascadura. Foto: Tiago Lima
Sobre a homenagem a Peu no show de Cascadura com Rebeca Matta, Monique adianta que "Convidei o Daniel Todeschi, um grande amigo de Peu, de São Paulo, que fará projeções em homenagem. Outro amigo, daqui de Salvador, VJ Dexter, fará também uma homenagem, mas durante a participação de Rebeca Matta. Peu já tocou com Rebeca (na fase do disco Garotas Boas Vão Pro Céu, Garotas Más Vão Pra Qualquer Lugar) e tem algumas músicas em parceria com ela. Inclusive, ele participa do DVD ao vivo À Flor da Pele, com a música que dá nome ao trabalho, uma parceria dos dois. A relação de Peu e Rebeca ia além da música; ela era sua melhor amiga. Como Rebeca vai como convidada, mas sem sua banda, sugeri que a participação fosse no show do Cascadura. Fico contente por promover esse encontro, que é inédito. Mas ainda não tenho ideia de como será essa homenagem. Será uma boa surpresa, tenho certeza", aposta.

Como se trata da primeira edição do evento, Monique se certificou de que contará com o apoio da comunidade local.

“É nítido, pela quantidade de eventos, que a nova administração local está se empenhando em apoiar eventos que levem diversidade musical. Michelle Nonato, secretária de Turismo e Cultura de Lençóis, se colocou a disposição e está nos ajudando".

Além do poder público, hotéis e restaurantes da cidade também prestam apoio ao festival.

“Eu só tenho a agradecer, me sinto incentivada por todos os lados para realizar esse evento”, garante Monique.

Úteros Em Fúria, na formação atual, faz show domingo. Foto: Caio Tuy
A mão de Peu

De volta para seu segundo show após um hiato de 18 anos, a banda Úteros Em Fúria fechará a última noite do festival – domingo.

“Vai ser o mesmo show do Portela Café (5 de outubro último), sem os convidados”, diz Mauro Pithon, vocalista.

Ele diz que, por enquanto, não há previsão de novos shows. “Mas podemos voltar a tocar, se surgirem novas oportunidades bacanas, que tenham a ver com nossa história”, diz.

“Aceitamos tocar neste festival por ser uma homenagem a Peu Sousa, que era nosso amigo. E também por que nosso guitarrista Emerson Borel (morto em 2004) adorava Lençóis. Tem a ver com gente”, conclui.

Já a Cascadura, que vai realizar em seu show a homenagem a Peu (que era marido de Monique), vai voltar a tocar na cidade após mais de 15 anos.

“Foi em uma formação anterior, com Paulinho Oliveira e Maurício Braga. Eu nem estava na banda ainda”, conta o baterista Thiago Trad.

“Peu sempre foi de nossa relação. Ele ia muito nos shows do Cascadura e eu toquei com ele em uma banda alternativa, a Candy Dandy Bandy”, lembra.

Na homenagem com Rebeca Matta, a banda vai executar músicas do tempo em que Peu era guitarrista da cantora.

“Ela vai cantar três músicas. Estamos ensaiando para sair direitinho. Tem pelo menos duas que você sente muito a mão de compositor de Peu: Garotas Boas Vão Pro Céu e À Flor da Pele”, conclui Thiago.

Festival Alternativo de Lençóis / Sexta-feira, sábado e domingo / Praça Maestro Clarindo Pacheco,  Lençóis / Gratuito / https://www.facebook.com/festivalalternativodelencois

terça-feira, novembro 19, 2013

CANDICE & OS IMORAIS: POP ROCK À BRASILEIRA DE BOA SAFRA, NO CIRANDA CAFÉ

Os Imorais: Larriri, Tadeu, Alan, Guilherme e Candice Morais
Pop rock à brasileira, apta a tocar em qualquer rádio, com letras decentes que não ofendem  a inteligência e honram a já longa tradição nacional do gênero é o que oferece a banda baiana Candice & Os Imorais (na foto de Ricardo Prado).

Liderada pela cantora e publicitária por formação Candice Morais, a banda está com dois shows marcados no Ciranda Café, neste sábado e no dia 7.

Intitulado Meu & Seu, os shows  vão servir para o grupo esquentar os motores para o lançamento do seu primeiro álbum cheio, já gravado e previsto para sair em 2014.

Apesar de ainda não ter tocado muito pela night local, Candice & Os Imorais já tem história na cena.

Fundada em 2007 por Candice e o guitarrista Guilherme Carvalho, a banda foi ganhadora do Festival da Rádio Educadora FM em 2009 (categoria Música com letra), com a música Revele-me.

No ano seguinte, foi finalista na categoria Canção do Ano no – prematuramente morto – Prêmio Bahia de Todos os Rocks, com Urubu-Homem.

Uma banda soteropolitana

“Sempre tive vontade de cantar,  mas era tímida”, conta Candice.

“Até que convidei Guilherme, que era meu sócio em uma produtora de áudio para agências de propaganda, para ensaiar comigo. Eu queria superar essa timidez”, acrescenta.

Com a parceria firmada, entrou em cena o baixista Larriri Vasconcelos (da banda Radiola), que compôs Revele-me em cima da letra de Candice.

“Aí, para nossa surpresa, ganhamos na categoria Melhor Música com Letra no Festival da Educadora em  2009”, lembra.

“Com o prêmio, começamos a gravar nosso primeiro disco, que só terminamos recentemente. Agora, estamos ensaiando para estes primeiros shows deste primeiro CD”, acrescenta.

O CD foi produzido pelo mestre Tadeu Mascarenhas, que aproveitou e entrou na banda, tocando violão, teclado e acordeom. Completa o line up Alan Abreu, na bateria.

No repertório, as canções autorais mais alguns covers “que tem a ver com nosso som e formato. Aí entra Arnaldo Antunes, Bob Marley, Céu, Raul”, conta.

“Sabe como é, tem um negócio de um samba rock, umas brincadeiras. A gente brinca que somos uma banda soteropolitana. Então nossas músicas falam muito de engarrafamentos e prédios que não param de ser erguidos”, ri Candice.

Shows: Neste sábado e dia 7 de dezembro, 23 horas / Ciranda Café – Rua Fonte do Boi, 131 / R$ 10

https://soundcloud.com/candiceeosimorais




NUETAS

Lençóis alternativa

As bandas Úteros em Fúria, Cascadura (com participação de Rebeca Matta) e Les Royales são as atrações principais do primeiro Festival Alternativo de Lençóis, que acontece nesta semana, a partir de sexta-feira, na adorável cidade da Chapada Diamantina. Saiba: https://www.facebook.com/festivalalternativodelencois. Em tempo: a festa é  gratuita.

Paulinho & Lo Han

O quarto show da temporada A Coragem que Perturba, de Paulinho Oliveira, conta com o hard rock 70’s da Lo Han. Sábado, às 18 horas, no Dubliner’s. Ingresso: um quilo de alimento. O colunista já foi e recomenda.

The Voice no Portela

Também sábado, a banda Lily Braun lança CD no Portela Café. A cantora, Bruna, está no The Voice. 22 horas, R$ 20.

segunda-feira, novembro 18, 2013

A MENTE SUJA DE ROBERT CRUMB REÚNE HQs MAIS ESCANDALOSAS DO LENDÁRIO QUADRINISTA

Se, como vovó já dizia, “mente vazia é oficina de satanás”, o que dizer de uma mente brilhante como a de Robert Crumb?

A resposta está no álbum de luxo A Mente Suja de Robert Crumb.

O quadrinista norte-americano, como se sabe, é o criador de personagens emblemáticos da contracultura, como Fritz The Cat e Mr. Natural.

Sua influência é global e inestimável, tanto em termos criativos, quanto de atitude.

Aqui no Brasil, ele foi fundamental para Angeli e toda a geração da icônica revista deste último, a Chiclete Com Banana.

Em A Mente Suja, uma belíssima edição em capa dura, estão reunidas algumas das HQs mais sacanas, profanas, escandalosas e politicamente incorretas de todos os tempos.

Tanto que, hoje aos 70 anos, o próprio autor se diz “constrangido” por algumas delas, conforme declarou em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo.

Criadas e publicadas em fanzines e pequenas revistas independentes entre os anos 1960 e 70 (os chamados comix), a intenção de Crumb na época era justamente esta: chocar, constranger e abalar o falso moralismo vigente no American way of life, esfregando na cara dos leitores todo tipo de perversão em detalhes gráficos bem... detalhados.

Fosse outro artista, talvez não tivesse entrado para a história.

O fato é que Crumb é um gênio. E não só do desenho, mas também narrativo e conceitual.

Educação sexual via incesto

Na sua atitude rebelde de deliberadamente partir para o confronto ao Comics Code (conjunto de regras da indústria, criado nos anos 1950 depois de pressões políticas em meio à paranoia  McCarthista), Crumb não só meteu o pé na porta da hipocrisia, abrindo caminho para outros artistas fazerem o mesmo, mas também criou HQs realmente antológicas.

Talvez a mais escandalosa e famosa delas seja Joe Blow, na qual vemos uma tradicional família norte-americana branca, anglo-saxã e protestante partir alegremente para o incesto – tudo no sentido de melhor educar sexualmente os filhos.

Publicada no gibi Zap Comix nº 4, a HQ rendeu “o mais famoso processo anticomix”, como relata no prefácio o editor Rogério de Campos, levando ao banco dos réus dois pobres proprietários de comic shops.

Seja para fãs antigos ou neófitos em Crumb, A Mente Suja é um lançamento obrigatório, dada sua edição primorosa, seleção inexcedível e conteúdo, como já foi dito aqui, genial.

De seu chatô na França, aonde vive há 30 anos, Crumb sorri e agradece. Não sem um ligeiro constrangimento.

A Mente Suja de Robert Crumb / Robert Crumb / Veneta / 232 p. / R$ 59,90 / www.editoraveneta.com.br

sábado, novembro 16, 2013

PODCAST CLASH CITY ROCKERS #16

Postpunk. Rip it up and start again.

Com Marcos Rodrigues, Osvaldo Braminha Jr., Sérgio Cebola Martinez e Caio Tuy.






Parte 1


Parte 2


HQ HISTÓRICA BAIANA LANÇADA NO FIQ! DE BH

Ainda pouco conhecida na capital, a história do escravo rebelde conhecido como Lucas da Feira vem ganhando notoriedade, em boa parte, graças a HQ Sant’anna da Feira, Terra de Lucas, que tem teve lançamento nacional hoje anteontem, no 8° Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (MG), o FIQ!.

Assinada por Marcos Franco (roteiro) e Hélcio Rogério (arte), o álbum aprofunda a HQ de 2010 Lucas da Vila de Sant’Anna da Feira, de autoria da mesma dupla, em parceria com o roteirista Marcelo Lima (do sensível O Quarto Ao Lado).

Muito bem escrito, pesquisado e com desenhos espetaculares de Rogério, Sant’anna da Feira, Terra de Lucas, mostra a trajetória de um personagem histórico rico e controverso.

A exemplo de Lampião e Corisco, Lucas era o líder de um bando cruel e capaz de cometer atrocidades, mas que também  era visto como herói por muitos – especialmente pelo fato de ter sido um escravo que, realmente, tocou o terror para cima dos poderosos de sua época.

Esse fio de navalha moral é percorrido com notável equilíbrio pelo roteirista, que opta por uma narrativa enxuta, deixando eventuais julgamentos para os leitores.

A edição é caprichada, rodada em papel reciclado e com belíssimo prefácio assinado pela professora Renailda Ferreira Cazumbá, doutoranda em Memória, Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

Com uma narrativa que se utiliza de idas e vindas no tempo através de flashbacks, a HQ começa em 1846, com as autoridades soteropolitanas recebendo um apelo do juiz feirense, no sentido de engrossar os esforços na captura de Lucas.

O que só aconteceu dois anos depois disso, em 1848.

Pendurado em um pau de arara e depois encarcerado, Lucas remememora sua trajetória e aguarda sua execução.

Antes disso,  ele encontrará sua redenção espiritual através de um encontro místico com sua ancestralidade africana.

HQ de alto nível, Lucas tem recebido elogios entusiasmados da crítica especializada.

Fruto de anos de pesquisa do roteirista Marcos Franco, o álbum conta com desenhos que honram a tradição de alguns mestres brasileiros da HQ.

De traço firme e detalhado, arte de Rogério mostra influências de Mozart Couto, Rodval Matias e John Buscema.

Sant’anna da Feira, Terra de Lucas / Marcos Franco (roteiro) e Hélcio Rogério (arte) / 176 p. / R$ 30 / Vendas: santanadafeira@gmail.com

quinta-feira, novembro 14, 2013

SANITÁRIO SEXY, DE JUAZEIRO: MAIS UM SINTOMA DA FEBRE DE ROCK QUE VARRE O INTERIOR

Um novo flagelo está varrendo o interior da Bahia. O rock – sim, o velho e maldito rock ‘n’ roll – está se espalhando como uma praga bíblica por grandes e pequenas cidades, vilas, localidades e grotões da Boa Terra.

Esta coluna Este blog, ciente do seu papel cívico, vem denunciando o fato nestas mal-traçadas há anos.

Depois de mostrarmos os efeitos do flagelo em cidades como Itabuna, Feira de Santana, Alagoinhas e Vitória da Conquista, além de Camaçari, Lauro de Freitas e Dias d’Ávila (cidades da RMS - Região Metropolitana de Salvador), voltamos agora nossas atenções à outrora aprazível Juazeiro.

Sim, outrora aprazível.

Por que desde que o power trio Sanitário Sexy (foto: Cléber Jesus) começou a tocar seu rock ‘n’ roll faiscante, barulhento e sacana pela cidade, os pacatos habitantes da terra de João Gilberto e Ivete Sangalo não tem mais paz.

Flagelo em Salvador

O mais impressionante é a rapidez com que esses três jovens causam tanto estrago. “Na verdade, a banda era um projeto antigo meu”, confessa Armando (vocal e guitarra).

“Aí, há uns seis meses, encontrei os outros caras da banda. Gravamos um EP com cinco músicas e soltamos em julho”, relata Armando.

Singelamente intitulado Esbórnias da Vida, o disquinho está disponível para download gratuito e, assim, poderá seguir flagelando outras cidades da Bahia – inclusive  Salvador, aonde a Sanitário Sexy se apresenta no próximo dia 21, dentro do projeto Quintas Culturais.

“Vai ter outra banda também, mas ainda não nos informaram qual é. Mas estamos muito animados. E durante esse fim de semana deve rolar outro show. Ir até aí pra fazer um show só é pouco, né”, percebe.

Além de Armando (que na verdade é de Senhor do Bonfim), a Sanitário é formada por Everton Antonio (baixo e voz) e Uadsson Fonseca (bateria).

Vivendo em uma cidade separada de Petrolina (PE) apenas por uma ponte, o trio – e sua banda parceira local, a Semivelhos – se aproveita para espalhar seu evangelho de perdição nas duas cidades.

“É como se fosse uma cidade só. Se tem evento em uma das duas, você pode atravessar a ponte até andando”, conta.

Rock ‘n’ roll direto, sem firulas (perdão pelo clichê), o trio fala de sacanagem e bebedeira em letras divertidas em petardos arrasadores como Mulher Indiscreta, Oh Meu Bem e Não Pare de Dançar.

A coluna O blog aposta que esse trio ainda vai causar muito mais estrago.

Sanitário Sexy / Dia 21, 23 horas / Dubliner’s Irish Pub / R$ 5

Baixe: www.sanitariosexy.com.br




NUETAS

Inspire Music acelera com Autoramas, BNegão & cia

A série mensal esporádica, porém constante, de shows Inspire Music, do Zen Dining & Music chega à terceira edição neste domingo com Lutte (ex-Mosiah) e Davi Moraes. Em dezembro a programação vai ser intensa: vai ter BNegão Trio (RJ) e uma banda a confirmar no dia 1º, Autoramas (RJ - foto Lucas Correia) e Cascadura no dia 8 e Canto dos Malditos na Terra do Nunca e Vivendo do Ócio no dia 15. Sempre às 18 horas, com ingressos antecipados por R$ 25 à venda na Midialouca.

Honkers comemora

Para se programar: a festa Rockabilly Sessions deu uma folga para a banda residente Les Royales e convidou os incríveis The Honkers, os sergipanos da Tody’s Trouble Band  e a banda de um homem só Old Fat Crap para comemorar os dez anos do CD Underground Music for Underground People (Covered by an Underground Band), da primeira. Ufa. O apagar das vel(h)inhas será no Dubliner’s Irish Pub, no dia 7 de dezembro, às 22 horas, R$ 10.  R$ 15 com o dito CD, em  tiragem limitada de dez anos. É a maior crasse!

quarta-feira, novembro 13, 2013

ENSAIO DA FANFARRA LA ROQUESTRA LANÇA O BLOCO DA ROLHA MONSTRA

Depois de  tempos acomodado, o público que gosta de Carnaval, mas não necessariamente gosta do que lhe é oferecido pelos grandes blocos e suas crias corporativas (os camarotes), tem se movimentado para criar a própria folia.

O Bloco da Rolha Monstra é a opção da hora.

Animado pela fanfarra (ou charanga) La Roquestra (fotos: Carla Galrão), o bloco levará para as ruas do Rio Vermelho repertório de clássicos (e hits recentes) do rock e do pop em marchinha.

Quem quiser conferir, pode ir no primeiro ensaio aberto da Roquestra, depois de amanhã, no Portela Café.

“Foi no ano retrasado que começou esse papo”, conta o administrador Victor Monteiro, um dos diretores do bloco.

“A gente que gosta de rock e outros tipos de música que não a reinante só tinha duas opções no Carnaval. Ou a gente viajava ou ficava reclamando”, conta.

Cansado de reclamar, Victor e seus amigos resolveram botar a mão na massa.

“Resolvi que a gente também tem direito de brincar e ouvir o que a gente quiser. Então vamos voltar aos blocos de rua, como tem no Rio de Janeiro e Recife”, afirma

Bloco de fanfarra (ou seja: apenas com instrumentos de sopros e percussões), sem cordas e com a banda no chão, o Rolha Monstra foi pra rua à toque de caixa.

“Em 15 dias consegui umas camisas e escrevi os arranjos para seis ou sete músicas com Jovan Pacifico (trompete)", conta.

"Ensaiamos até o dia de sair (quarta-feira da semana de Carnaval) e fomos pra Barra. A resposta foi tão positiva que vi que existe um filão, por que a  procura foi grande”, relata Victor.

O protagonismo dos sopros

Agora, com mais tempo, Victor arregimentou uma banda de feras da música profissional: Normando (trompetes), Cayo (sax alto), Lucas Santana (sax tenor), Leo Couto (sax barítono), Fernando e Thim (trombones), Eduardo (sousafone), Rex (caixa) e Humberto (bumbo).

No repertório, só hits: Smells Like Teen Spirit (Nirvana), Killing in The Name (Rage Against the Machine), Paranoid (Black Sabbath), The Trooper (Iron maiden) e Highway to Hell (AC/DC), além de Beatles, Rolling Stones, Daft Punk, Cee-Lo Green e até Lady Gaga.

"Inclusive, a gente costuma jogar um frevo tradicional no meio de uma música do Black Sabbath e fica bem divertido", conta Victor.

“Cara, eu tô me divertindo demais”, conta Rex, baterista dos Retrofoguetes.

“Fora que era esse era meu sonho, tocar numa fanfarra, sabe? Tocar e andar ao mesmo tempo. Quando Victor me convidou, eu aceitei na hora”, conta o músico.

Tanto Victor quanto Rex reiteram que, para além da diversão, o bloco está cumprindo um papel de valorização dos instrumentos de sopro na música local.

“Promove a aproximação da galera de sopros com os músicos de percussão. Esses caras tocam na Osba, acompanhando artistas do Carnaval e tal. Agora eles estão se atentando para outras possibilidades, nas quais eles são os protagonistas. Por que quase sempre eles só figuram como  coadjuvantes”, vê Rex.

“Isso começou com a Orkestra Rumpilezz. Foi Letieres Leite quem nos mostrou que é possível fazer projetos de sucesso com sopros”, acredita Rex.

“Essa é o grande aprendizado aqui: os caras de sopro são os protagonistas, a voz. Tem sido bem interessante”, diz Victor.

Ensaio da Fanfarra La Roquestra / Quinta-feira, 22 horas / Portela Café / R$ 20


sexta-feira, novembro 08, 2013

PODCAST CLASH CITY ROCKERS # 15

Tema de hoje: Punk e Pré-punk.

Com Marcos Rodrigues, Caio Tuy e Sérgio Cebola Martinez.

Parte 1



Parte 2


QUADRINISTAS BRASILEIROS NA ALEMANHA E QUADRINISTAS ALEMÃES NO BRASIL

Página do trabalho de Montanaro em Munique
“Intercâmbio cultural” é uma expressão que, por ter sido tão abusada nos últimos anos – em ocasiões nem sempre à altura –, perdeu certa credibilidade.

Portanto, há que se louvar quando uma iniciativa valoriza de fato a prática.

O álbum Osmose: Brasil e Alemanha em Quadrinhos é a iniciativa em questão aqui.

Concebido e realizado pelo Goethe-Institut Porto Alegre em parceria com a editora Libreto, o projeto enviou, em 2012, três quadrinistas brasileiros à Alemanha e trouxe três quadrinistas alemães ao Brasil.

Do Brasil, Paula Mastroberti (de Porto Alegre), foi para Berlim. João Montanaro (São Paulo), foi para Munique. E Amaral (Teresina), foi à Hamburgo.

No caminho inverso, Mawill (de Berlim), foi para Porto Alegre. Birgit Weyhe (de Hamburgo), pousou em  São Paulo. E Aisha Franz (de Berlim), veio para Salvador.

Cada artista teve direito a um mês de residência na cidade visitada.

A ideia, segundo escreve no álbum Augusto Paim, curador do projeto, foi privilegiar quadrinistas de perfil autoral, os quais “expressam uma visão de mundo única e especial (...), que tratassem o quadrinho como uma das linguagens da arte  contemporânea”.

Página do trabalho de Aisha Franz em Salvador
Delírio urbano-tropical

Escolhida para visitar Salvador por um mês, Aisha, jovem (29 anos) quadrinista bávara, criou uma narrativa visual bastante interessante para ilustrar sua passagem pela capital baiana.

Sua visão de Salvador é um colorido delírio urbano-tropical, retratando Salvador ora como uma espécie de paraíso ensolarado, ora como uma bagunça (à moda indiana) de ruas engarrafadas, barulhentas e calorentas – algo totalmente verídico, obviamente.

Isso, claro, à primeira vista. Uma segunda olhada na HQ revela uma narrativa visual – com início, meio e fim – bastante sofisticada e sem palavras.

“Geralmente, eu uso o menor número possível de palavras nas minhas HQs, especialmente nas histórias curtas, então eu diria que este é só o jeito que eu trabalho, mesmo”, conta Aisha, em entrevista por email.

“Também não sou do tipo que faz quadrinhos em forma de diários ou algo assim, então minha abordagem para Salvador foi mais no sentido de expressar um sentimento, uma atmosfera que descrevesse minha experiência”, detalha a artista.

E pelo que se pode ver na HQ, foi uma experiência bastante intensa – que ela conseguiu resumir muito bem na narrativa enxuta.

Do “choque” e confusão inicial com a bagunça urbana até a ambientação e relaxamento, está tudo lá.

“O que realmente me impressionou foi a presença e o respeito pela mistura cultural na vida diária da Bahia. Nunca estive em um lugar aonde isso fosse tão forte”, afirma.

“Mas não tenho nada especialmente 'negativo' na memória. Acho que é sempre surpreendente estar uma cidade grande desconhecida, que ainda tem uma certa energia 'agressiva' e 'compulsiva', na qual você ainda não sabe nem pegar um ônibus no início”, reflete.

“Mas você se acostuma muito rapidamente, então, tudo ligeiramente 'negativo' logo se torna positivo e também normal bem rápido”, acrescenta.

Em Salvador, Aisha (de amarelo) ministrou workshop no ICBA
Talvez essa opinião fosse outra, caso a alemã firmasse residência na cidade. Do jeito que foi, a visita deixou saudade.

E o que mais lhe causa este sentimento não é outra coisa, senão: “O MAR! E a possibilidade de nadar todos os dias se assim eu quisesse. Acho que vi as praias mais lindas nos arredores de Salvador. Também viajei para uma ilha chamada Boipeba, que é um pequeno paraíso”, conta Aisha.

Além de viajar à Boipeba, Aisha bateu papo com apreciadores de HQ na RV Cultura & Arte e ministrou um workshop no ICBA - Instituto Goethe Salvador.

Talentosa, Aisha faz parte de uma nova geração de quadrinistas teutônicos, que inclui Reinhard Kleist e vem chamando cada vez mais atenção mundo afora pelas suas HQs autorais.

"Sim, até onde posso perceber, as cenas de quadrinhos estrangeiros estão se interessando mais e mais pelo que está ocorrendo no cenário quadrinístico alemão. Mas acho que é um desenvolvimento natural do fato de que há mais jovens fazendo quadrinhos - também por que esta mídia se tornou mais popular nos últimos anos aqui na Alemanha. Muitos deles estão se afastando dos estilos clássicos e experimentando mais tanto com esta mídia em si quanto em termos de narrativa", observa.

Apesar de uma ou duas HQs mais fracas (confesso que, apesar de plasticamente bonitos, achei que os trabalhos de Mastroberti e Amaral não disseram muito sobre suas estadas na Alemanha), Osmose é um álbum bem interessante, que faz jus à suas intenções.

Osmose: Brasil e Alemanha em Quadrinhos / Vários autores / Goethe-Institut PoA - Libreto / 88 p. / R$ 32 / http://blog.goethe.de/osmose/

terça-feira, novembro 05, 2013

PAULINHO OLIVEIRA VOLTA À CENA COM TEMPORADA EM HORÁRIO DE MATINÊ NO DUBLINER'S

Meio fora do circuito roqueiro há algum tempo, o guitar hero baiano Paulinho Oliveira (foto: Karina Muniz) volta à cena com uma belíssima temporada de cinco datas no Dubliner’s Irish Pub, iniciada sábado passado.

Cada dia terá músicos convidados e uma banda de abertura escolhida a dedo pelo homem.

Mas esperem, fica melhor ainda. O horário é ótimo (17 horas!) e a entrada é um quilo de alimento não perecível.

“Tudo que for arrecadado será doado à um orfanato, o Abrigo Lar Pérolas de Cristo, que fica em Paripe”, conta o músico.

Intitulado A Coragem Que Perturba, o show traz Paulinho experimentando banda nova e repertório idem.

Atenção para a escalação: Mark Mesquita (bateria), Danilo Acordaci (guitarra) e Arthur Caria (baixo).

“Essa é a terceira edição desse meu projeto de formação de plateias, com temporadas de show em horário de matinê”, conta.

“Originalmente, fazíamos no Teatro Sitorne,  mas desta vez, resolvi fazer em um local aonde rola  night – só que  no mesmo horário, para bombar. Chamei bandas novas atuantes e convidados para cantar comigo”, acrescenta Paulinho.

Sábado passado, a banda Rockstern abriu o primeiro show desta leva. Nos próximos sábados, virão Os Jonsóns (dia 9), Motherfucker (16), Lo Han (23) e Batrákia (30).

“Escolhi muito por afinidade, mas também por saber quem estão tocando mesmo por aí”, justifica.

Mais shows à vista

Patrocinado pela Petrobras e realizado pelo Sitorne Estúdio de Artes, o projeto ainda prevê outros dois shows.

“No dia 14 de dezembro, tocamos  no Projeto Tamar, em Praia do Forte. A sexta data será em janeiro. Será um evento de um dia inteiro com várias bandas no Pelô ou algo assim, de graça. Até o fim de novembro eu terei isso acertado”, diz.

Nos shows, Paulinho vai testar as músicas que entrarão no sucessor de Um Bom Motivo (2006).

“Cara, a gente acha força nem sabe de onde e segue. É matando um dinossauro por dia. Várias armações vieram, foram, outras virão e nós continuamos aqui”, afirma.

“Ainda  não tenho previsão para o CD novo, mas agora nem tenho mais desculpa”, conclui.

Paulinho Oliveira / Show: A Coragem que Perturba / Sábados de novembro (Dias 9, 16, 23 e 30), 17 horas / The Dubliner’s Irish Pub / Ingresso: 1 kg de alimento não-perecível ou lata de leite



NUETAS

Uma garrafa de rum

Formada por Lali Souza (voz), René Nobre (voz, violão e bandolim), Nuno Chuck Norris (baixo) e Rex (cajón), a Band on The Rum (sic - foto Eduardo Lubisco), faz show com releituras de Cat Stevens, Neil Young e Bob Dylan. Assista-os em vídeo, aqui. Sábado, 22 horas, no Visca Sabor & Arte. R$ 10.

Mike, Marvin e tal

A terceira edição do  evento Sexta do Rock bota no palco as bandas Mike Solta O Verbo, Circo de Marvin, Intrusos e Renegados of Planet. Nesta sexta-feira, às 22 horas, no Dubliner’s. R$ 10.

Night hard / stoner

Depois da matinê do tio Paulinho (foi mal, não resisti),  Lo Han e Novelta (de Feira de Santana) fazem a night hard / stoner rock do Dubliner’s Irish Pub. Sábado, às 23 horas, R$ 10. Chega de Dubliner’s por hoje.

sexta-feira, novembro 01, 2013

TRIPULAÇÃO A BORDO, DECOLAGEM AUTORIZADA

De volta após saída de membros e sete meses no limbo, banda  Retrofoguetes faz show de retorno a cena amanhã, no Commons Studio Bar. Baterista fundador, Rex dá extensa entrevista aonde revê tudo o que aconteceu nos últimos meses 

Retrofoguetes 2013: Rex, Julio, Morotó, Joe. Foto: Ricardo Prado
Divulgada em meados do mês passado, a notícia fez a alegria de muita gente: após um hiato de sete meses, nos quais ninguém sabia direito o que estava acontecendo, os Retrofoguetes anunciaram seu retorno à cena, com o primeiro show marcado para amanhã, na Commons.

O show marca o bem-vindo  fim de um período de incerteza, iniciado logo após a já tradicional participação da banda no Carnaval, quando o baixista CH Straatman anunciou que estava deixando seu posto.

Foi praticamente uma pá de cal na banda, que, meses antes, no fim de 2012, já havia perdido o guitarrista Morotó Slim, que também tinha saído naquela ocasião.

Sobraram o baterista-fundador Rex e o substituto de Morotó, o guitarrista Julio Moreno. Com outros problemas pessoais pesando sobre seus ombros, Rex preferiu, como ele mesmo diz, “ficar na minha”.

“Aproveitei e toquei com um monte de gente. Pela primeira vez, eu pude aceitar convites para tocar outros músicos. Toquei com Les Royales, Capitão Elvis & Os Presleys, Os Sete Cabeludos, The Doors Cover”, enumera o baterista.

"Tô tocando até numa charanga, com outros dez músicos. Tem também um trabalho com Ronei Jorge e Edinho (Rosa, guitarrista dos Ladrões de Bicicleta). É um lance autoral deles, que esta bem adiantado, meses trabalhando. Mas os caras voltaram a tocar com os Ladrões de Bicicleta, então este trabalho está meio de stand by no momento", revela.

“Mas ficou essa expectativa de que eu pudesse esclarecer,  já que eu  fui o remanescente da formação original da banda que eu montei, conceituei e batizei quando nossa banda anterior, os Dead Billies, ainda existiam. Foi na viagem para o VMB 2001, em São Paulo. Chamei Morotó e falei tudo isso pra ele. Eu nem contava com o final dos Dead Billies, era para ser um projeto paralelo. Então, de certa forma, é  uma coisa minha. Cabia a mim apagar a luz e fechar a porta – que era o que parecia estar acontecendo”, conta Rex.

"Mas a verdade é que o processo todo (das saídas de Morotó e CH) foi muito desgastante. Poderia ter sido menos, mas foi bem desgastante. Também passei por uma série de outros problemas pessoais nos últimos dois anos. Eu ainda não compreendi o processo, pois nada era muito claro. Eu não digeri tudo isso ainda", confessa.

"Na minha cabeça, eu criei as condições para que acontecesse. Quando substituí Morotó, foi muito triste para mim, pois o cara é um irmão. E (a saída dele) foi algo inexplicável. Ele mesmo nunca conseguiu explicar. Aí veio Júlio, que é um cara maravilhoso, parceiro mesmo, superinteligente, fã do nosso trabalho. Trouxe uma alegria grande, mas senti que ele ficou muito frustrado quando CH saiu e todo um trabalho (o que seria o terceiro álbum dos Retrofoguetes) foi jogado fora", relata Rex.

"Ele ficou esse tempo todo tentando me convencer: 'vambora arrumar um baixista para botar na banda' e tal. Eu fui contra, apesar de vários terem se colocado a disposição. Eu tenho uma ideia de banda que são aquelas pessoas e aquela ideia. Eu ia me sentir muito sozinho, já que eu seria o que restou da ideia, da formação inicial. Acho que isso tiraria um pouco da essência do trabalho. Disse para Julio que preferiria montar outra banda com ele, com outro nome, a continuar com os Retros", acrescenta.

"Não era o caso de chamar qualquer um. Para mim não seria problema acabar. Tenho muito orgulho e apego às coisas que fiz. Os Dead Billies e os Retros são minha escola, onde eu aprendi a tocar e ser profissional. São as bandas que me levaram pelo Brasil todo. Mas quando o Billies acabaram eu pensei: 'Fudeu. Nunca mais vou ter outra igual'. E não tive mesmo, mas tive uma tão boa quanto, que foi até mais além do que os Billies foram. Teve um alcance maior, fizemos muito mais coisas", reflete Rex.

"Se tivesse que acabar, seria triste, mas para mim... Veja, hoje eu toco com 28 músicos diferentes em sete bandas diferentes. E na minha cabeça, seria muito fácil reunir músicos e montar um novo trabalho. Graças a Deus, eu sempre soube cultivar amizades com muita gente boa, e o que não me falta é amigo músico talentoso para continuar tocando a vida toda se eu quiser", percebe.

Purgatório, retomada

Só que esses caras não são conhecidos como “Os Fabulosos Retrofoguetes” a toa.

E eis que não apenas Morotó Slim retornou ao seu posto – ao lado do já efetivado Julio – como o baixista original Joe Tromondo (outro ex-Dead Billies) também fez o caminho de volta ao lar.

"Fiquei na fé de algum dia ter de volta a velha turma, entende? Para minha surpresa, pois não fiz nenhum movimento ou esforço para trazer esses caras de volta. Morotó simplesmente virou para mim e disse que se eu quisesse voltar com a banda 'eu topo'. 'Como assim, você pediu para sair', eu respondi. Depois disso, ficou claro para mim que, para bom entendedor, meia palavra basta", limita-se a explicar.
 
"É tudo muito sintomático, os fatos se explicam por si. Agora vamos tocar. É um recomeço, não podemos esperar que funcione hoje automaticamente, por que não tocamos juntos há mais de dez anos. É uma nova banda, já que estamos com Joe, que não toca conosco há dez anos. E com Júlio, que pela primeira vez está definitivamente integrado. Estamos quebrando a cabeça nos ensaios para soar tudo bem. O bom é que é de verdade, não é uma reuniaozinha para um show. É a continuidade de um trabalho", observa.

Banda reunida, anúncio feito, soltaram logo uma música nova: a polca Brezhnev pode ser ouvida e baixada neste link.

“Foi o tempo que eu precisava para botar a cabeça no lugar e entender o que aconteceu”, afirma Rex.

“Fora isso, eu acho que bandas são ideias. Ideias que não se acabam enquanto houver a possibilidade dos talentos  envolvidos  se unirem e para trabalhar e realizar essa ideia”, acredita.

“Olha aí: Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta voltaram, a Úteros em Fúria fez uma reunião super bonita outro dia. E o publico vibra, pois a essência da coisa continua  ali”, continua.

“Isso pode acontecer um dia com os Dead Billies. Ou talvez nunca. O fato é que as pessoas continuam amigas e gostando de tocar juntas”, despista.

Amarradão, o baixista Joe diz que não vê a hora de voltar a subir no palco com seus velhos amigos.

“A gente estava se vendo muito ultimamente, e com aquela coisa toda da saída de Morotó  e CH eu senti que Rex tinha ficado bem triste, naquela indecisão: não sei se volto, não sei se acabo... Parecia  um purgatório”, conta.

“Aí eu disse ‘porra, se você quiser voltar com a banda, eu volto para tocar com vocês. E com Glauber (Dead Billies) também’. Mas essa é uma possibilidade mais distante. Aí ele: ‘então vamos voltar?’ Vamos. Simples assim”, relata Joe.

“O lance é que estou me divertindo demais nos ensaios e doido pra fazer mais músicas e cair na estrada”, resume.

Quanto aos planos futuros dos Retros, Rex conta o que vem (e o que não vem) aí: "Temos um álbum pré-produzido que vai ficar engavetado. Vamos pular esse e começar tudo de novo. Começamos a fazer músicas novas e acho que vamos lançar um EP temático antes do CD. Tudo ainda é muito novo e ainda não traçamos os planos, mas vamos sim, continuar e gravar o terceiro CD com andré t", revela.

"Carnaval? Retrofolia, com certeza! Julio já fazia parte há anos, e depois dese show já vamos começar pensar nisso. Ainda não sei se vai ter trio elétrico. Tivemos um convite de Jequié para levar o Retrofolia para lá. Estamos pensando em tudo isso, mas até sábado, estamos na função desse show. Ah! E deve ter o Natal dos Retrofoguetes também. Afinal, temos que manter nossas tradições. Mas é uma cosa de cada vez", conclui Rex.

Primeiro show de uma nova fase para uma das mais importantes bandas de rock da Bahia, a apresentação deste sábado promete ser histórica.

Reativar Retrofoguetes! / Amanhã, 22 horas /  Commons Studio Bar (Rua Doutor Odilon Santos, 224, Rio Vermelho) / R$ 30 porta / R$ 20 antecipado na Midialouca e lista (www.commons.com.br/listaamiga)