Páginas

sexta-feira, setembro 27, 2013

PUNHOS DE AÇO NO RINGUE DA MORTE

O Boxeador, nova graphic novel de Reinhard Kleist (Cash), traz a chocante história real do polonês que sobreviveu à Auschwitz graças a lutas de boxe até a morte

Os fãs brasileiros de quadrinhos já sabem: Reinhard Kleist é aquela fera alemã que fez Cash, Castro e Elvis (todos pela editora gaúcha 8Inverso), biografias em HQ que se leem como romances, de tão fluidas e sensíveis que são.

Agora, o homem volta com o que talvez seja seu melhor trabalho: O Boxeador: A História Real de Hertzko Haft.

Aqui, ele traz a tona mais um aspecto cruel da 2ª Guerra Mundial: as lutas clandestinas de boxe nos campos de concentração, na quais o vencedor continuava vivo e o perdedor era sumariamente executado.

Adaptado a partir do livro do filho de Hertzko, Alan Scott Haft, intitulado na Alemanha como "Um Dia Eu Vou Te Contar Tudo" (ainda inédito no Brasil), O Boxeador é, literalmente, um soco no estômago.

Em alguns momentos chega mesmo a lembrar, a obra-prima Maus (Cia das Letras), de  Art Spiegelman, graças à própria temática de campo de concentração, à narrativa enxuta e à expressiva arte em preto & branco.

Entrevista exclusiva

Premiada com o Grand Prix 2013 do Festival de Quadrinhos de Lyon (França), a obra consolida a carreira e a fama de Kleist, que, aos 43 anos, desponta como um dos principais quadrinistas europeus contemporâneos. Nesta entrevista exclusiva para o Caderno 2+, o artista, nascido em Hürth, fala d’O Boxeador, suas escolhas de personagens, armadilhas narrativas, fatos versus ficção, carreira, influências artísticas, quadrinhos alemães e sua recente passagem pelo Rio de Janeiro.

Além de uma vida incrível, o que atraiu sua atenção para a história de Hertzko Haft? Confesso que nunca avia ouvido falar nessas lutas de boxe em campos de concentração....

Reinhard Kleist: Nem eu. Quando vi o livro de Alan Haft sobre seu pai em uma livraria de Berlim, me surpreendi com a capa e quis saer mais. Daí me vi nessa incrível história, que ficou na minha cabeça por um bom tempo, ainda que eu me recusasse a conta-la em graphic novel. Seria muito difícil. O personagem principal não é um cara legal, a história é dividida em duas partes e eu achei que a segunda não era muito forte. Depois de um tempo, percebi que esses pontos eram justamente os mais desafiadores. Como posso contar essa história de forma que simpatizemos com Hertzko, apesar dele matar pessoas? E será que a segunda parte não seria ainda mais emocionante, por que ficaríamos curiosos em saber se ele seria feliz no final? E é surpreendente o quanto desejamos que ele seja feliz, apesar de ser um personagem tão malvado.

Hertzko pós-guerra, boxeur profissional, lutou contra Rocky Marciano
Naqueles duros dias de guerra, Haft teve de matar para poder sobreviver, mas você fez um bom trabalho ao não julga-lo por isso, apenas contando a história e deixando as conclusões para cada leitor. Como se evita esse tipo de armadilha narrativa?

RK: Eu sempre tento deixar claro ao leitor por que o personagem faz o que faz. Quando ele atira no casal de idosos, eu escrevi ao Alan para perguntar o que ele achava que seu pai estava pensando naquele momento. A resposta foi: nada. Para Hertzko, eles eram apenas alemães. Você deve entender isso à luz do que ele estava passando naquele momento.

O Boxeador tem enorme potencial para render uma senhora adaptação cinematográfica? Será que ainda veremos essa história nas telas?

RK: Alan me contou que uma produtora americana quer fazer um grande filme d'O Boxeador. Mas não sei maiores detalhes.

Elvis, Cash, Castro, Haft. Que outro personagem da vida real você pretende abordar em seguida? Pode nos revelar ao menos um? E por que?

Berlinoir, um dos poucos projetos ficcionais de Kleist
RK: Depois d'O Boxeador, eu reiniciei um antigo projeto chamado Berlinoir. É sobre vampiros em Berlim, uma coisa totalmente diferente. Agora estou trabalhando em uma história sobre uma esportista somali que participou das Olimpíadas de 2008 e infelizmente, morreu no ano passado. Seu nome era Samia Yusuf Omar e sua história é extremamente tocante. Depois disso, vou fazer outro livro sobre um músico.

Suas biografias em quadrinhos já abordaram um polonês, um cubano e dois norte-americanos. Se você fosse escolher um personagem alemão, quem seria? Por que?

RK: É bem óbvio que não estou escolhendo personagens alemães. Temos uma grande história. O lance é que não costuma ser um processo intencional, as histórias chegam a mim meio que por acaso. Eu as encontro enquanto pesquiso outras histórias ou, no caso de Fidel Castro, surgiu a partir de um projeto da minha editora, a Carlsen, que queria um livro de viagem e eu escolhi ir a Cuba. Aproveitei a oportunidade para pesquisar sobre Castro.

Você esteve no Rio de Janeiro há pouco tempo (para a Bienal do Livro). Curtiu a experiência? Teve alguma inspiração para algum trabalho futuro?

RK: Gostei muito e a plateia brasileira é simplesmente incrível. Mas no momento estou com tantos projetos que não consigo focar em mais nada.

Sua opção em contar histórias de pessoas reais é por considerar a realidade muito mais interessante e surpreendente do que a ficção? Você ainda faz ficção?

RK: Neste momento, acho que histórias reais são mais desafiadoras. Gosto do processo de pesquisar e combinar fatos e ficção. Quando você conta uma história como esta, é você que precisa preencher os espaços entre os fatos e dar ao leitor uma sensação de como foi estar ali. Estar nas florestas com os revolucionários ou em um palco com Johnny Cash. É um tipo de - como disse (o jornalista e escritor alemão) Volker Skierka - "verdade sentida".

Aqui no Brasil, fora seus trabalhos, conhecemos muito pouco dos quadrinhos alemães contemporâneos. Que autores você nos recomendaria buscar?

RK: A cena de HQ na Alemanha se desenvolveu bastante nos últimos anos. De fato, os quadrinhos alemães tem se tornado cada vez mais populares mundo afora. Aqui estão alguns artistas cujo trabalho eu realmente aprecio e que deveriam ser descobertos no Brasil. Isabel Kreitz, ótimo estilo em preto & branco (e tudo no lápis!). Barbara Yelin, de estilo muito expressivo, conta histórias muito sensíveis. Thomas von Kummant, grande trabalho de arte, com histórias de orientação mais para a ficção científica / fantasia. Uli Oesterle, faz histórias sombrias em um estilo bem na linha do Mike Mignola (Hellboy).

Muitos artistas europeus (e brasileiros também) trabalham para as grandes empresas corporativas norte-americanas, como a Marvel e a DC ou até mesmo em companhias médias, como Image, Dark Horse e Avatar Press. Alguma dessas já te convidou para desenhar algo para elas? Você o faria, se fosse convidado? Por que?

RK: Não, mas há alguns anos, estive em Nova York para conversar com a DC, mas eles se recusaram a trabalhar comigo. Agora eu também não o faria mais. Estou muito "mimado" sendo meu próprio autor e também por que não consigo trabalhar dentro daqueles prazos apertados lá deles. Eu me sentiria muito limitado. Me sinto mais como um artista e autor do que como provedor de arte para essas empresas. Mas, bem, eu definitivamente adoraria desenhar o Batman ao menos uma vez...

Quais foram os artistas que o influenciaram e o inspiraram?

RK: No início da minha carreira, eram os artistas mais visuais, como Dave McKean (capista de Sandman), Kent Williams (Blood: Uma História de Sangue) ou Bill Sienkiewicz (Elektra: Assassina). Mas as histórias sofriam muito com minhas tentativas de ser tão bom quanto eles. Agora eu me foco mais na narrativa e coloco a arte completamente a serviço da história. Não quero impressionar ninguém com uma imagem, eu quero criar algo como um filme na cabeça dos leitores. Então, hoje minha hoje vem mais de Will Eisner (Spirit), Baru (Hervé Barulea, quadrinista francês) ou Hugo Pratt (Corto Maltese).

O Boxeador: A História Real de Hertzko Haft / Reinhard Kleist / 8Inverso/ 200 p./ R$ 51/ www.8inverso.com.br

quarta-feira, setembro 25, 2013

PODCAST CCR 9: VERSÕES MELHORES QUE AS ORIGINAIS

Olhaí a menina Siouxsie aí do lado. Ela canta Dear Prudence (dos Beatles) nesta edição do Podcast Clash City Rockers.

Marcão Rodrigues toca sozinho esta edição compacta, em uma parte só (o pessoal andou viajando).

Edição é dedicada às releituras que superaram (pelo menos na visão dos membros do podcast) as versões originais.

Ele põe para tocar as versões escolhidas dele, mais as sugestões de Sérgio Cebola Martinez e Caio Tuy.

Enjoy, kids...




terça-feira, setembro 24, 2013

RICARDO PRIMATA FAZ SHOWS EM SP E PE, AMPLIA ESCOLA, RELANÇA 2º CD E JÁ PENSA NO 3º

Em uma cidade cheia de talentos musicais pouco ou nada valorizados pelo grande público, Ricardo Primata (foto: Carol Bandeira) é um dos poucos que sabem aliar talento musical real com tino empresarial e (muito) trabalho duro.

“Acho que eu só não trabalho quando estou dormindo”, ri o guitarrista.

“E olhe lá. Por que já aconteceu de  eu sonhar com uma música, acordar, pegar a guitarra e gravar a melodia no celular. Depois trabalhei em cima e criei o arranjo. Então, na verdade, eu  trabalho até dormindo”, diverte-se.

Dois anos após sua última aparição nesta coluna, Primata volta com muitas novidades. De São Paulo, aonde estava na semana passada, ele bateu um papo com a Coletânea.

“Vim participar da Expomusic 2013, feira de negócios que reúne artistas, empresários, produtoras e fornecedores, como os meus endorsers (patrocinadores). Cada endorser tem um stand com palco e eu estou fazendo seis apresentações ao todo, de quinta até domingo”, enumera Primata.

Shows e ampliação

Além de aparecer e fazer contatos, ele aproveita para divulgar a segunda tiragem do seu segundo CD, Espelho da Alma (2011), que traz duas músicas-bônus e faixa interativa com o clipe de Repentes (faixa que conta com as participações ilustres de Armandinho e Bule-Bule).

Depois da Expomusic, o virtuose da guitarra tem mais três apresentações à vista: dia 5, na Convenção de Tatuagem (Parque de Exposições), dia 17 em Recife e dia 7 de novembro em Salvador (ambos no Teatro Eva Herz da  Livraria Cultura).

No palco, só ele mesmo e a guitarra: “Esse formato de workshow viabiliza correr por várias cidade,  pois a logística é bem mais simples do que um show com banda”, percebe.

Na verdade, Primata está mesmo é tirando o atraso, depois seis meses dedicado à sua menina dos olhos: “Estava só focado na ampliação da minha escola de música. Estou trabalhando para transforma-la em referência”, avisa Primata.

“A Escola de Música Ricardo Primata fica no Rio Vermelho, tem seis salas de aula, auditório com 100 lugares, sala de ensaio e oferece dez cursos. Inauguramos em dezembro”, conta.

Nada mal para quem começou só com uma sala. Com tudo isso - escola de música, patrocinadores, carreira -, Primata nos mostra que talento e trabalho duro ainda podem funcionar nesta cidade. “Tudo feito com muito suor e dedicação integral”, conclui.

Em 2014, ele lança CD novo ("Já tenho várias composições prontas" e retoma os shows com banda completa.

Ouça: www.ricardoprimata.com.br

NUETAS

Garage rock night com Honkers, T-Buzz e Jonsóns

Três das melhores bandas de garagem da cidade em uma única noite: The Honkers, Os Jonsóns e Teenage Buzz vão botar o Dubliners Irish Pub abaixo no sábado. 22 horas, R$ 10.

Vivendo do Ócio, Scambo e Irmão Carlos

Mas a concorrência tá forte. No mesmo sábado, outras três bandas prometem uma sequência memorável: Vivendo do Ócio, Scambo e Irmão Carlos & O Catado se apresentam na The Hall (Pituba). Atenção no horário: 15 horas (bravo!). 1º lote: R$ 20, 2º: R$ 30, portaria: R$ 40, camarote: R$ 30.

Clã Assmar & Luiz Rocha no B-23

O trio Álvaro Assmar, Eric Assmar (violões) e Luiz Rocha (gaita) fazem o show Acoustic Blues no B-23 Lounge Music Bar. Só feras, soltando os cachorros. Quinta-feira, 21 horas, R$ 30.

domingo, setembro 22, 2013

DOS DESTROÇOS DA GUERRA ÀS TELAS DE CINEMA, UMA TRAJETÓRIA ÚNICA

Biografia: Maior astro canino de todos os tempos, Rin Tin Tin, seus descendentes e criadores tem suas histórias contadas e analisadas  em livro de notável sensibilidade

Foto "autografada" de 1931: "Fielmente seu, Rin TinTin"
Às vezes, os assuntos mais insuspeitos são capazes de gerar as narrativas mais interessantes.

A jornalista e escritora norte-americana Susan Orlean conseguiu tal feito de forma brilhante em seu livro Rin Tin Tin: A Vida e a Lenda (Valentina).

Quem tem menos de 40 anos e está coçando a cabeça neste momento, saiba: Rin Tin Tin (1918- 1932) foi um dos maiores astros de quatro patas de todos os tempos e, certamente, o cachorro pastor alemão mais famoso na história da raça, tendo estrelado dezenas de filmes no período de transição do cinema mudo para o falado (entre as décadas de 1920 e 30).

O que torna o livro sobre este cão uma leitura interessante – e não apenas para seus prováveis fãs – é que, nele, Susan Orlean não se limita a contar a história  de um cachorro.

De forma magistral, a jornalista costura  múltiplas narrativas que se relacionam com a sua trajetória e a de seus descendentes.

Há a vida de Leland Lee Duncan (1892-1960), um jovem ligeiramente desajustado que, em meio aos combates no front francês de 1918, descobre, nos destroços de um canil inimigo bombardeado, dois filhotes de pastor alemão quase mortos.

Prata da casa da revista The New Yorker, uma das publicações mais exigentes  do mundo, Susan traça o (difícil) perfil psicológico de Duncan de acordo com os diários escritos pelo próprio homem.

Sujeito estranho, Duncan escreveu centenas de páginas entusiasmadas sobre Rinty (como era chamado), seu treinamento, seus filmes, suas turnês – e absolutamente nenhuma palavra sobre seus dois casamentos. Sua primeira esposa, não à toa, pediu o divórcio por não conseguir “concorrer” com o pet.

Gente, cães, cinema e mais

Com Rin Tin Tin e Duncan como eixos, Susan deriva a todo momento, desvendando e analisando, a partir de pontos de vista muito pessoais e sensíveis, fatos e assuntos diversos, como, por exemplo,  a própria criação da raça pastor alemão – desenvolvida em 1899 pelo militar germânico Max von Stephanitz – e sua eventual popularização mundo afora, muito graças ao sucesso de Rin Tin Tin.

Lee Duncan e seu espólio da 1ª Guerra, o pequeno Rin Tin Tin
Em outros momentos, a autora analisa a relação entre homens e animais domésticos ao mesmo tempo em que a relaciona com o advento do cinema, sempre com notável sensibilidade: “A invenção do cinema veio num momento em que os animais estavam começando a deixar de ter um papel central na civilização (...). A capacidade de se emocionar com os animais passou a ser sinal de humanidade a partir do momento em que os humanos começaram a se separar deles, e assim segue até hoje”, escreve.

Igualmente tocantes são os depoimentos muito pessoais que ela expõe aqui e ali, enquanto narra sua investigação sobre Rin Tin Tin.

Em Paris, ao visitar Le Cimetière des Chiens (O Cemitério dos Cães), aonde Rinty está enterrado, faz toda uma descrição do local e dos costumes dos donos de cachorros parisienses do século 19 (quando os cães começaram a despontar como animais domésticos urbanos e o lugar foi criado) e tenta entender como os restos do cão foram parar lá, já que Duncan, que estava falido à época, não deixou nenhum registro do translado.

Ao se deparar com o humilde pouso final do cão, a autora libera toda a  emoção de sua epifania: “A singeleza do túmulo me entristeceu. Como, porém, eu sabia que para Lee sempre haveria um Rin Tin Tin, isso não era mais do que o estalido de uma roda a girar. O primeiro Rin Tin Tin morrera, mas ainda vivia – e ainda vive – uma ideia, mais do que um ser, sempre diferente, mas essencialmente o mesmo”, escreve.

Detalhadíssima, a narrativa de Susan segue os descendentes de Rin Tin Tin e seus criadores ao longo das décadas, passando pela Segunda Guerra Mundial, o seriado dos anos 1950 (muito popular no Brasil até os anos 1980), até hoje em dia.

Um livro surpreendente e magnético.

ENTREVISTA - Susan Orlean: "Rin Tin Tin simbolizou um tipo especial de personagem"

Neta de imigrantes húngaros, Susan Orlean (foto: Gasper Tringale) nasceu em Cleveland, Ohio, e é uma das mais respeitadas jornalistas e escritoras dos Estados Unidos. Integra a equipe da revista The New Yorker desde 1992 e colabora para publicações como Rolling Stone, Vogue e Esquire. É autora do romance Adaptação, base do filme homônimo.

Hoje em dia, com Hollywood obcecada por animais e heróis gerados por computador, o que seu livro nos diz sobre a própria natureza do cinema?

SUSAN ORLEAN: Ele discute algumas verdades básicas: as pessoas são fascinadas por animais, em qualquer forma (digitais ou vivos, na vida ou nas telas). E as pessoas também são atraídas por histórias interessantes, não importa de que maneira elas sejam contadas. Nosso interesse em histórias de amor e perda, descobertas e aventura, permaneceu totalmente consistente, mesmo com todo o desenvolvimento que as plataformas narrativas passaram.

Os filmes do Rin Tin Tin seriam possíveis de ser feitos hoje, visto o monitoramento rigoroso das organizações de proteção à vida animal nos EUA?

SO: Sim, certamente. Animais continuam a ser extensivamente utilizados em cinema e televisão e existem leis monitorando sua segurança e saúde. Mesmo que a PETA prefira que eles não sejam utilizados de qualquer maneira, a maioria das pessoas está confortável com as condições a que os animais de Hollywood são expostos, e o fato é que eles são supervisionados pelos representantes da American Humane todo o tempo.

Quando você decidiu escrever este livro, qual história exatamente você queria desvendar? Há muitas narrativas em Rin Tin Tin: A Vida e a Lenda – todas muito bem amarradas, aliás.

SO: Obrigada! Eu sabia que o livro seria uma história cheia, com muitas dimensões; eu quase a visualizava como um círculo ou um globo, muito mais do que como uma história linear. Eu queria contar todas essas histórias, o que foi um desafio enorme, claro, mas todas elas me pareciam importantes: a história dos cachorros em nossa cultura, a história de Hollywood, a história da natureza modificadora da guerra e as histórias mais pessoais de Lee Duncan e Bert Leonard (produtor do seriado de TV dos anos 1950). Além, é claro, da história do próprio Rin Tin Tin.

Lee e Rinty anos mais tarde, já velhos amigos
Você  era fã? Ou o interesse surgiu como jornalista adulta?

SO: Eu cresci loucamente apaixonada por Rin Tin Tin. Ele era o cachorro com o qual sonhava, desde que eu era muito jovem. Eu havia esquecido dele, mas no minuto em que cruzei com o nome dele em 2004, fui invadida por todas aquelas mesmas emoções.

O que, na sua opinião, fez com que Rin Tin Tin (e Lassie, também) desaparecessem da TV e do cinema?

SO: À medida que entramos em tempos menos inocentes, a TV começou a  focar mais em histórias de crime, médicos, relacionamentos – a paixão por cachorros pareceu entrar em declínio e nossa cultura se tornou mais cínica. Os programas infantis foram  direcionados para a animação, distanciando-se do live action. A programação "para toda a família" foi substituída por programas estritamente adultos ou estritamente infantis. O tom familiar de Rin Tin Tin e Lassie não era mais popular.

Houve muitos outros astros caninos no cinema e na TV, como Lassie, Benji, K-9, Beethoven, mais recentemente tivemos Marley. Por que Rin Tin Tin? Ele foi uma espécie de modelo para todos que vieram depois?

SO: Ele simbolizou um tipo especial de personagem: leal, corajoso, heroico, inteligente, engenhoso – algo que realmente "dava liga", da primeira vez que ele surgiu na cultura popular, nos anos 1920. Essas qualidades definitivamente inspiraram muitos outros personagens caninos por muito tempo, ainda que sua versão mais recente seja um cachorro como Marley, que faz mais o tipo do companheiro divertido, e não do heroi.

Você espera que, algum dia, Rin Tin Tin tenha um grande retorno? Ainda há lugar para ele neste mundo e nos corações das crianças de hoje?

SO: Espero que sim. É um personagem que precisaria evoluir para se tornar moderno, mas não acredito que já não há interesse em personagens espertos, leais e corajosos. Fora que jamais deixaremos de amar os cachorros.

Rin Tin Tin: A Vida e A Lenda / Susan Orlean / Trad: Pedro Jorgensen Jr. / Valentina / 294    p./ R$ 44, 90 / www.editoravalentina.com.br




sexta-feira, setembro 20, 2013

FESTIVAL DA PRIMAVERA PROMOVE VIROTE COM MÁRCIO MELLO, BAIANA SYSTEM ETC.

Baiana System (foto Filipe Cartaxo): atração de sábado, às 22 horas, no Largo da Dinha
Pontapé inicial de um novo calendário de eventos para Salvador projetado pela prefeitura, o Festival da Primavera já ganhou o apelido de “Virada Cultural do Rio Vermelho”, graças ao seu formato “virote”, começando amanhã e terminando no domingo.

“O bairro tem tudo a ver com nosso projeto”, afirma Guilherme Bellintani, titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Cultura e Turismo .

“É um bairro muito intenso, cultural e com uma sociedade civil bem organizada – algo fundamental para nosso planejamento”, acrescenta.

O Festival começa ao pôr do sol de sábado (por volta das 16 horas) e segue ininterruptamente até a noite do domingo. “Vai ter um palco no Largo de Santana (Dinha), aonde vão se apresentar  Baiana System, Cortejo Afro, Márcio Mello, Luis Caldas e Cacau do Pandeiro”, enumera o secretário.

“Diversos bares e restaurantes do bairro estarão em festival gastronômico, assim como  todos os estabelecimentos terão programação específica para o festival”, afirma.

Para repor as energias, no domingo  haverá o café da manhã  das baianas e depois,  atividade fisica com a Academia Villa Forma, seguida da programação infantil do projeto Ruas de Lazer.
A programação divulgada pela Secretaria ainda abriga exposição de carros antigos, oficinas diversas, mostras de artesanato, apresentações de capoeira, palhaços, vídeos – uma infinidade de atividades.

A ideia é que, no ano que vem, a virada cultural cresça e se espalhe por outros bairros da cidade. “A gente acredita muito que os eventos que crescem são os eventos que são bem aceitos pela comunidade”, diz.

“Não vamos fazer mega eventos da noite para o dia. E sim, fazer com que eventos médios se tornam grandes. E, quem sabe, atraiam um fluxo turístico”, conclui o secretário.

Márcio Mello encerra ciclo Solitário Punk

Márcio Mello (foto Flickr Solitário Punk): sábado, 19h30 e hoje, no Dubliner's, com Keko e o Camisa
Artista profundamente identificado com o bairro, o cantor Márcio Mello foi uma escolha  acertada da programação, já que, por 15 anos (1998 a 2012), ele fez shows gratuitos no 2 de Fevereiro. Este ano, justamente, foi o primeiro que ele não fez o evento.

“Vou tirar o atraso”, brinca ele. “(O bairro) tava precisando mesmo de algo nesse sentido. É a casa da boemia”, vê.

Ele conta que não fez seu tradicional show de Iemanjá este ano por “falta de verba, mesmo. Foram 15 anos do meu bolso. Iemanjá merece, mas esse ano não rolou. Dei uma flor, foi mais barato. Acho que não vou fazer mais. Uma hora as coisas acabam, né bicho?”, decreta.

Ele ainda conta que, com este show no sábado, pretende encerrar o ciclo do seu último CD, Solitário Punk (2009). “Vou fechar essa temporada de cinco anos com esse show. Esse é o último. No verão eu já quero fazer um show novo”, avisa.

“Estou criando um novo trabalho, voltado para o som eletrônico, tô abrindo mão da banda. Estou precisando mudar, viver uma coisa nova, com novos parceiros, como  um DJ indiano maluco que conheci. Vai ter discotecagem, guitarra, uma outra direção musical”, adianta.

Antes do show na Virada, Márcio participa, hoje à noite da festa / show de aniversário de Keko Pires, com Camisa de Vênus e  uma pá de outros convidados.

"Vou ensaiar com os caras hoje (ontem, quinta-feira). Acho que vou cantar Sílvia, com o Camisa e uma música minha com Keko. Vai ser loucura mesmo, rock 'n' roll. Vai ser um prazer participar, né? É sempre uma brincadeira, tudo em casa, na loucura de Keko", conclui Márcio.

Festival da Primavera /  Amanhã e domingo, a partir das 16 horas / Palco no Largo de Santana: Cortejo Afro, Márcio Melo e Baiana System (sábado), Canela Fina, Cacau do Pandeiro & Orquestra Yemanjá e Luiz Caldas  (domingo) / Gratuito Programação completa.

quarta-feira, setembro 18, 2013

DISCOS QUE NOS ARRASTARAM PARA A LAMA: CLASH CITY ROCKERS PODCAST 8

O marginal que arrastou o Brama menino pra lama...
Tema: Discos que nos arrastaram para a lama, com Bramis, Marcos Rodrigues, Caio e Nei Bahia.

Ouça Braminha dando aula  de Todd Rundgren, Nei de Led, Caio de Beatles e Marcos de.... o que? IRON? Brincadeirinha (ou quase). É Television, mesmo. Vá, sacana!







Clash City Rockers #08 - Primeira parte



Agora ouça Nei desancando o BRock 80's ("Caetanófilos de guitarra distorcida"), e... ah, ouve aí, vai.

Clash City Rockers #08 - Segunda parte


FEIRENSES DO TANGERINA JONES TRAZEM ROCK 70'S (COM COWBELL!) PARA O DUBLINER'S SEXTA

E foi goooooooooooool.... do Flu de Feira!!!!!!
O colunista está com febre. E a receita do médico é mais cowbell.

Então, além de clássicos do Blue Öyster Cult e Doobie Brothers, o Doutor Roque receitou a banda feirense Tangerina Jones (foto: Eduardo Quintela) e seu  hit subterrâneo Ice Cream Rock ‘n’ Roll.

A música, além de um irado cowbell (aquele instrumento de percussão com um som similar ao sino de vaca), tem uma letra sensacional, vê só: “Onde Ziggy está / pedras vão rolar / Einstein e Cobain / leem literatura zen”.

Entendi nada, gostei muito.



Rock ‘n’ roll do bão, com gosto de Rolling Stones e cerveja espirrando na pista, a Tangerina Jones é uma daquelas bandas que nos fazem e acreditar que nem tudo está perdido.

Ficou curioso(a)? Compareça ao Dubliner’s sexta-feira e confira os T-Jones junto a  duas outras bandas da hora: Falsos Modernos e Callangazoo.

Formada por Eduardo Quintela e Rodrigo Santos (guitarras), Hebert Almeida (vocal), Lucas Lira (baixo) e Iury Souza (bateria), a Tangerina Jones integra a hoje agitada cena rock feirense, que hoje conta com bandas como SAL,  Calafrio, Novelta e Uyatã Rayra & A Ira de Rá.

“Acho que a coisa do rock autoral aqui começou a  tomar força com o trabalho do Clube de Patifes”, opina Eduardo.

Rock com suíngue

The Bruce Dickinson: ele sabe o que quer
”Começamos com  a ideia de fazer  som folk. Hebert é o letrista e eu faço os riffs. Ele tinha todos aqueles discos do Leonard Cohen, Bob Dylan e tal. Mas acabou que fomos em outras direções, como Rolling Stones e David Bowie”, acrescenta.

Depois de tocar bastante em Feira e rodar um pouco (Salvador, Vitória da Conquista), a T-Jones já formou público fiel em sua cidade.

“Nosso som é  pra frente,  com balanço. É que o rock entrou numa linha ou pesada demais ou lenta. Perdeu o balanço. O que a gente gosta é de som com suingue”, demarca.

"Acompanhem nosso trabalho, que nosso disco vai ser lançado em breve. Estamos começando a ir mais a Salvador. Tocamos ano passado no Big Bands, vamos sexta-feira agora e já temos proposta para voltar mais pro fim do ano. E olhem mais para interior: o rock baiano não se resume a Salvador. A angústia de buscar coisas novas na Bahia faz com que sejamos mais fortes e busquemos a diferença. Por que para a gente, nada é fácil", desabafa Eduardo.

"Nossa ideia é falar da vida na Bahia, mas não a Bahia estereotipada. É a vida de uma galera que curte algo diferente no interior. E goza e sofre por isso, como qualquer jovem no mundo", reflete.

No Soundcloud, a banda já soltou cinco faixas plenas de suingue, suor e... cowbell. Suas cinco faixas já registradas, gravadas em um gravador de duas pistas, não poderiam soar mais 70’s.

Agora é aguardar o primeiro CD.

Tangerina Jones, Callangazoo e Falsos Modernos / Dubliner’s Irish Pub / Sexta-feira, 23 hs / R$ 10 (lista); R$ 15

Ouça: www.soundcloud.com/tangerinajones


EXTRA: A ORIGEM DO MAIS COWBELL:


More Cowbell! - watch more funny videos     


NUETAS

Velhas Virgens faz 25

A debochadísima banda paulista Velhas Virgens volta a Salvador para fazer seu show comemorativo de 25 anos. Correção enviada pela organização: A banda está em tour comemorativa dos 15 anos do álbum "Vocês não sabem como é bom aqui dentro". A de 25 anos foi no ano passado. Loucura vai perder. Groove Bar, sexta-feira, 22 horas,  R$ 30 (1º Lote), R$ 40 (2º Lote).

E Keko Pires faz... ?

O músico Keko Pires comemora seu aniversário com a festa Envelheço na Cidade. No palco, Keko, Camisa de Vênus e convidados (Márcio Mello, Diana Marinho, Dão, Luisinho Assis, Stina Sia, Bruno Nunes e Morotó Slim).  Sexta-feira,  Portela Café, 22 horas, R$ 30.

Daganja no 116

Sexta também tem o rapper Daganja & Banda (mais dois DJs) no 116 Graus (Antigo Tarrafa). 22 horas, R$ 10.

terça-feira, setembro 17, 2013

"Lasciate ogni speranza, voi che entrate"... É O PODCAST CCR COM A PARTICIPAÇÃO DESTE QUE VOS ESCREVE

Depois de gravar semana passada esse podcast com Marcos Rodrigues, Osvaldo Braminha Silveira e Caio Estagiário de Cebola Tuy, passei a semana inteira achando que ele ainda não tinha sido publicado.

Só hoje, outro membro desta pequena confraria, o senhor Nei Bahia, me passou o endereço correto de onde ele se encontrava.

Valeu, Nei!

São quase duas horas de rock, fuleiragem e quatro malucos bebendo vinho e falando. Quase sempre ao mesmo tempo.

Em suma: ouçam por sua própria conta e risco. E relevem as merdas que falo aqui e ali. OK?

Podcast Clash City Rockers nº 7 - Parte 1



Podcast Clash City Rockers nº 7 - Parte2


segunda-feira, setembro 16, 2013

FAVOR COMPARECER:

Em tempo: a arte deste cartaz do show da Úteros é do meu compadre e sócio deste espaço, Sr. Daniel Wildberger.

HOJE: ORQUESTRA OURO PRETO FAZ CONCERTO GRATUITO "THE BEATLES" NA REITORIA DA UFBA

De bandas cover dos Beatles, Salvador até que anda bem servida ultimamente.

Mas uma orquestra executando o melhor do repertório dos Fab Four não é algo que se veja / ouça todo dia.

Na verdade, só hoje mesmo, quando a Orquestra Ouro Preto (ao lado, foto: Rafael Mota) iniciar seu concerto no Salão Nobre da Reitoria da Ufba.

Mais do que uma orquestra: a apresentação contará ainda com uma banda de rock (baixo, guitarra, violão e bateria) atuando junto ao grupo erudito, todos sob a regência do maestro Rodrigo Toffollo.

No repertório, os clássicos Day Tripper, Yesterday, Help!, Eleanor Rigby, Something e Hey Jude, com arranjos do violinista Mateus Freire.

“A diferença nesse concerto é justamente essa junção entre as duas formações”, afirma Toffollo.

“A proposta deu tão certo que já tocamos em Liverpool, a convite da International Beatle Week. Nos apresentamos na Philharmonic Hall de Liverpool e a recepção daquelas pessoas que respiram Beatles não poderia ser melhor”, garante.

"Minas Gerais tem uma cultura beatlemaníaca muito forte desde o Clube da Esquina. Inclusive, esse é segundo ano Beatle Week de BH", acrescenta.

Latinidades, Alceu, Nelson

Orquestra Ouro Preto em ação. Foto: Naty Tôrres
Patrocinada pela Petrobras, a OOP segue de vento em popa com outros belos projetos.

Indicada ao Grammy Latino (categoria melhor disco instrumental), pelo álbum Latinidades, o grupo já levou este concerto  homônimo à Portugal e Espanha.

“Em Latinidades, trabalhamos a música latina de concerto. Por que no Brasil, nós compramos muito a música erudita europeia, mas em nenhum momento nos vendem música alemã ou italiana. Nos vendem música  europeia”, observa.

“Por isso temos essa proposta de música latina de concerto. Somos mais fortes juntos, mostrando uma assinatura sangüínea muito forte”, acredita.

Já no concerto Valencianas, a OOP explora o repertório do pernambucano Alceu Valença. No concerto, canções como  La Belle Du Jour, Coração Bobo, Tropicana, Anunciação, Sino de Ouro e Porto da Saudade ganharam arranjos orquestrais.

O espetáculo foi gravado ao vivo no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no final de 2012. O registro será lançado em DVD em setembro próximo, com distribuição nacional pela Deck Disc.

Em outra frente ainda, o aclamado diretor Nelson Pereira dos Santos (Rio 40 Graus, Vidas Secas) dirige o documentário Concerto para Ouro Preto.

O filme tem como foco trajetória da Orquestra e as inspiradoras paisagens ouro-pretanas e ainda terá o privilégio de apresentar repertório inédito de Heitor Villa-Lobos, nunca antes registrado. A expectativa é que o longa comece a ser rodado ainda em 2012.

“Em 13 de anos de atividades, abrimos várias portas. É um bom momento para a OOP”, conclui Rodrigo Toffollo.

Orquestra Ouro Preto apresenta Série The Beatles em Salvador / Hoje,  20h30 /  Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia / Entrada Gratuita

sábado, setembro 14, 2013

MICRO-RESENHAS PARA ALEGRAR (OU NÃO) SEU FINDE

Chegando bonito

Promissora estreia da banda baiana Falsos Modernos. Em dez faixas despretensiosas porém divertidíssimas, botam no bolso boa parte da combalida cena pop rock brasileira. Ouvir Balada Sem Lei e sem bater no mínimo os pezinhos é sinal de rigor mortis. A capa é de Bruno Aziz. Falsos Modernos / Perfil de Cena / Independente / facebook.com/bandafalsosmodernos










Pela primeira vez em língua portuguesa

Líder do Big Allanbik, uma referência do blues no Brasil, Big Gilson lança seu 12º álbum solo – o primeiro cantado em português. Além das autorais, gravou Erasmo, Celso Blues Boy, Autoramas e B Negão. Desce redondo, como uma boa dose de Jack D. Big Gilson / Aqui, Pra Você! / Coqueiro Verde / R$ 22,90








Super livro

O recente filme de Zack Snyder é aqui esmiuçado em seus mínimos detalhes. Da escalação do elenco ao figurino, dos efeitos especiais à cenografia, o mundo d’O Homem de Aço é todo reconstituído neste belo livrão de arte em capa dura. Para os fãs, não há presente mais... "super". O Homem de Aço / Christopher Nolan, Zack Snyder, Daniel Wallace / Panini Books/ 160 p./  R$ 89/ paninicomics.com.br








Agora sim, pode apertar

A senhora dona de casa que teve tremeliques de êxtase com aquela bobajada de 50 Tons de Cinza pode agora descobrir o verdadeiro prazer da submissão neste clássico duplo: do erotismo (publicado em 1954) e das HQs, adaptado pelo mestre italiano Guido Crepax. Perversão com elegância e arte. A História de O / Guido Crepax, Pauline Réage / L&PM/ 184 p./  R$ 38/ lpm.com.br









Jó japa

Sexta parte (de dez) deste mangá, obra-prima autobiográfica de um sobrevivente da bomba atômica em Hiroshima. Neste volume, Gen – que às vezes, parece um psicopata, tamanho o seu otimismo – segue na luta inglória pela sobrevivência na cidade destruída, em meio à sociedade corrompida. O protagonista é uma espécie de Jó à japonesa: quanto mais apanha - e ele apanha muito, especialmente na cabeça - mais fé e determinação ele tem. Gen Pés Descalços Vol. 6 / Keiji Nakazawa / Conrad/  272 p./ R$ 29/ lojaconrad.com.br









Novos choros

Mais sofisticado gênero da música brasileira, o choro ganha novas (e belas) composições no primeiro CD do grupo paulista Cadeira de Balanço. Um luxo, com composições inéditas de feras como Nelson Ayres, Hamilton de Holanda, Toninho Ferragutti e outras feras. Aplausos! Cadeira de Balanço / Bagunça generalizada / Choro Music / R$ 19,90







Psicoanálise

Fora de catálogo no Brasil há quase 50 anos, o livro que baseou o clássico de Hitchcock aproveita o sucesso do seriado Bates Motel e volta às livrarias. Livremente inspirado no assassino real Ed Gein, a narrativa de Bloch surpreende pela fluidez e naturalidade com que descreve as atrocidades de Norman Bates. Psicose / Robert Bloch / DarkSide Books / 240 p. / R$ 39,90 / R$ 59,90 (capa dura) / darksidebooks.com.br








Endless summer

Com três membros originais – incluindo o genial e atormentado Brian Wilson – os Beach Boys seguem no seu verão sem fim com este ao vivo em que repassam a carreira de 50 anos. Lindo, emocionante.  The Beach Boys / Live In Concert: 50th Anniversary Tour / EMI / Blu-ray: R$ 77 / DVD: R$ 55 / CD: R$ 40









Soulpop.br

Baixista de Lulu Santos, Jorge Aílton investe solo nesta leva de canções de bom apelo pop em que transita entre Jovem Guarda (De Repentemente) e soul.BR (Vida Pequena de Um Grande Amor). Lulu canta em Chega de Longe. Decente. Jorge Ailton / Apresenta Canções Em Ritmo Jovem / Independente / R$ 19







Ainda não mostrou a que veio

Darling da rapeize indie, a banda The National pode dever até as calças ao Joy Division. Mas isso não os impede de evoluir em seu estilo, como atesta este novo CD. Nada extraordinário, mas cumpre ao que se propõe (deixar o ouvinte melancólico?), especialmente na sua primeira metade - antes que o tédio se instale. The National / Trouble Will Find Me / Lab 344 / R$ 34,90 / LP importado: R$ 149,90








Nerdlândia com alguma sacanagem

Premiada, esta série de HQ indie mostra o dia a dia de um grupo de amigos nerds que giram em torno de Rob Hoffman, um autor de gibis de sacanagem. Alternando comédia, drama e algum erotismo, a HQ cativa pelos desenhos detalhados e diálogos dignos de uma sitcom das boas. Perdido e Mal Pago: Nerds em apuros / Bob Fingerman / Gal/ 112 p./ R$ 36/ galeditora.com.br









Aula de jornalismo literário

Fala-se muito em jornalismo literário, mas hoje em dia, poucos o praticam de forma tão brilhante quanto J.J. Sullivan. De um festival de rock cristão ao furacão Katrina e  uma experiência de quase morte, ele tem sempre um ponto de vista original a oferecer. Pulphead: O outro lado da América / John Jeremiah Sullivan / Companhia das Letras/ 328 p./ R$ 49,50/ companhiadasletras.com.br







Vozerón caliente

Cultuada na  Europa, a espanhola (de origem da Guiné Equatorial) Concha Buika tem tomado de assalto os fãs de latin jazz e flamenco com seu vozeirão rouco e quente. Versões de Ne Me Quitte Pas, Suenno Con Ella, Siboney, No Lo Sé (com Pat Matheny) e outras. Buika / La Noche Más Larga / Warner / R$ 34,90 









Indie fofo, ainda?!?

Indie rockers do interior paulista, a banda Cabana Café faz, em seu primeiro CD, uma equilibrada mistura entre a MPB “fofa” da moçadinha cool (Rá) e um rock  experimental, com um toque de Stereolab (Busca Vida). Se optar pela segunda via, promete. Cabana Café / Panari / Baixe: cabanacafe.com.br






Relato antropológico

Notícias surpreendentes vindas do Ceará dão conta do avistamento de membros de uma tribo que se acreditava há muito desaparecida. Quatro indivíduos da espécie roqueirus brasilianus foram vistos praticando música elaborada, o que constitui séria ameaça ao status quo. Relatos dão conta de que são inteligentes (Sr. Coronel) e sensíveis (Mar Fechado), mas também bravos (Massarrara). Selvagens à Procura de Lei / Universal - Marroquino Music / R$ 19,90






Dias em Krypton

Todos conhecem o super-herói de capa esvoaçante e colante azul, mas afinal, como era seu planeta natal, Krypton? Como viviam seus habitantes? Krypton era uma utopia condenada à destruição? E como ele foi destruído? Estas e muitas outras perguntas são respondidas neste belo romance de ficção científica ambientado no planeta natal do maior herói de todos os tempos. Os Últimos Dias de Krypton / Kevin J. Anderson / Casa da Palavra/ 464 p./ R$ 39,90/ fantasycasadapalavra.com.br




Não cheira nem...

Projeto do músico americano Michael Benjamin Lerner, o Telekinesis faz salada de rock alternativo em Dormarion. Há pós-punk (Ghost and Creatures), folk (Lean on Me), punk pop (Empathetic People) e por aí vai. OK no geral, mas carece de foco e identidade. Telekinesis / Dormarion  / Lab 344 / R$ 29,90









Jazz.br

Violonista gaúcho, Cau Karam e o quarteto À Deriva misturam música brasileira, jazz e erudita para criar sons originais e plenos de nuances. Experimental sem ser hermética, evoca paisagens bem brasileiras. Cau Karam & Grupo À Deriva / De Senhores, Baronesas, Botos, Urubus, Cabritos e Ovelhas / Tratore / R$ 29,90








Languidez com substância

Celebrada, Peyroux volta com um álbum em que a ideia era homenagear a fase country  de Ray Charles (revolucionária na época), mas acabou derivando por Leonard Cohen e Warren Zevon. O resultado é sedutor, enfatizando o caráter múltiplo de Charles e sua interpretação lânguida. Ente o blues e o jazz lounge, um senhor disco. Madeleine Peyroux / The Blue Room / Universal / R$ 29,90








Nada como se fuder na vida para estimular a veia artística...

Conhecida pelo hit Suddenly I See, a escocesa  KT Tunstall exorciza, no novo CD, as dores recentes da morte do pai e um divórcio na sequência. O resultado, diz a crítica, é seu melhor trabalho. De fato, uma obra enxuta, melodiosa e evocativa. KT Tunstall / Invisible Empire // Crescent Moon / EMI / R$ 29,90









Yorkshire calling

Terceira parte da aclamada quadrilogia policial Red Riding, 1980 segue a trilha de corpos e corrupção deixada pelo estripador de Yorkshire (norte da Inglaterra). Depois que o investigador original tentou um “autoexorcismo” (com martelo e um prego), a Scotland Yard envia outro – que mal sabe o terror que o aguarda. Os quatro livros renderam uma trilogia de ótimos telefilmes para a BBC, já lançados em DVD no Brasil. Red Riding: 1980 / David Peace / Benvirá/ 536 p./ R$ 39,90/ benvira.com.br





MAIS DO QUE UMA AUTOBIOGRAFIA, UMA LONGA CONVERSA FRANCA COM O HOMEM DE PRETO

Chega ao Brasil Cash: a autobiografia de Johnny Cash, leitura obrigatória para fãs do pioneiro do rock e lenda da música

Cash, o pioneiro do rockabilly
Existem artistas que marcam sua época. E existem artistas destinados à  eternidade. Johnny Cash pertencia à segunda categoria.

Morto há dez anos e dois dias (12 de setembro de 2003), suas palavras definitivas sobre sua passagem por este planeta estão deitadas nas páginas de sua autobiografia, finalmente lançada no Brasil.

Escrita em parceria com Patrick Carr, Cash: A Autobiografia de Johnny Cash oferece ao leitor algo mais do que um mero relato cronológico da trajetória de uma personalidade.

Indisciplinado – e não daria para esperar outra coisa do Homem de Preto  – sua narrativa dança em devaneios entre o agora (1997, quando o livro foi escrito), o passado e suas ideias sobre a vida, Deus, o amor, as drogas, loucura, pobreza, riqueza, fama, ostracismo –  tudo o que ele conheceu em uma vida mais rica do que a maioria das pessoas jamais conhecerá.

Nascido John R. Cash em 26 de fevereiro de 1932, nos cafundós do Arkansas, ele foi um dos principais pioneiros brancos do rock.

Integrou o lendário Million Dollar Quartet, grupo relâmpago formado por ele e sua “turma” da gravadora Sun Records:  Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins.

Com o fim do primeiro ciclo do rock ‘n’ roll em 1959, voltou-se para a música de raiz – no caso, o country e o folk que ouvia na sua infância, catando algodão em Dyess (Arkansas), aonde sua família, paupérrima, tinha uma pequena propriedade concedida pelo governo a colonos.

Johnny & June, no dia do casamento
Ao longo de uma trajetória artística de quase 50 anos, conheceu de tudo e um pouco mais que uma vida inteira na estrada pode oferecer.

Mas, além de ter sido esse cometa humano, sua autobiografia impressiona mesmo é pelo grau de sinceridade e intimidade com o leitor, que ele impõe em suas páginas.

Na verdade, ler este livro é quase como estar em uma sala á meia-luz com o velho Johnny, ouvindo-o falar.

“Endosso a frase de Kris Kitofferson (autor do clássico Me and Bobby McGee) sobre mim: ‘Ele é uma contradição ambulante, parte verdade e parte ficção’” escreve, logo nas primeiras páginas.

Tamanha intimidade, como diz o comercial, não tem preço.

Em muitas passagens, ele simplesmente descreve aonde está e o que está fazendo naquele momento, antes de mergulhar em suas memórias: “Hoje estou sentado na varanda dos fundos, no topo do meu morro, olhando para o norte sobre o Caribe, na direção de Cuba. (...) É tranquilo aqui”, escreve ele, de sua casa em Cinnamon Hill, Jamaica.

Caverna, Cadillac, ostracismo

Mas  isso é só a doce cobertura do bolo. Saborosos mesmos são seus relatos.

Mesmo os de sabor amargo, como o relato sobre seu vício em anfetaminas, barbitúricos e qualquer outra substância  em comprimidos.

“A primeira coisa e talvez a pior a respeito disso tudo era que todo comprimido que eu tomava era uma tentativa de atingir o estado maravilhoso e natural de euforia que senti na primeira vez (..). Nunca foi tão bom como da primeira vez”, conta Cash.

Cash, the rebel rouser
Essa frustração constante rendeu inúmeros quartos de hotel destruídos, shows cancelados e acidentes de automóvel, entre outros contratempos.

“Chutava, socava, quebrava, cortava, atirava neles, enfiava minha faca bowie. Quando estava drogado, não me importava com nada, tamanho meu egoísmo”, diz.

Como cristão fervoroso que era, também não tinha pudor em demonstrar arrependimento: “Me perturba confrontar o fato de que, para muitos, o tipo de vandalismo de hotel de beira de estrada em que fui pioneiro é agora um símbolo de rebeldia roqueira, uma mistura inofensiva e mesmo admirável de exuberância juvenil e desprezo pelas convenções. Não era dessa maneira para mim. Era mais sombrio e mais profundo. Era violência”, reflete.

Alguns episódios parecem tão espetaculares que, fosse outro que não o Man in Black contando, seria difícil acreditar.

Em uma ocasião, transportou, drogado, um tanque de propano chacoalhando solto no porta-malas de um Cadillac. Claro que ele explodiu: “Assim que senti a concussão, puxei o trinco e rolei para fora”, lembra, o próprio 007 caipira.

O auge do fundo do poço foi quando, em 1967, ele entrou em uma caverna para morrer:“Estacionei meu jipe e comecei a rastejar; rastejei até que, depois de duas ou três horas, as pilhas da minha lanterna acabaram e deitei para morrer na escuridão total.Estava mais longe de Deus do que nunca”.

Horas depois, teve uma epifania ("Não sou eu que decido minha hora de morrer. Só Deus é capaz disso") e se arrastou para fora, horas depois.

Ao longo de quase 300 páginas, Cash conta, sem censura, estas e muitas outras histórias de sua vida, como os lendários shows no presídio de Folsom, seu romance com June Carter, seu ostracismo “(fiquei invisível nos anos 80”) e ressurgimento nas mãos do grande produtor Rick Rubin, nos anos 1990.

Cash: a autobiografia de Johnny Cash / Johnny Cash e Patrick Carr / LeYa / 280 p. / R$ 39,90 / www.leya.com



quarta-feira, setembro 11, 2013

ÂNGULOS RETOS PARA UM NOVO MUNDO

Mostra bauhaus.foto chega a Salvador com legado fotográfico da lendária escola 

Logotipo Bauhaus na escola original em Dessau
Há quase 100 anos, uma escola superior de arquitetura e design  revolucionou para sempre estes campos com uma visão nova e totalmente adequada ao mundo pós-revolução industrial.

Amanhã, uma exposição de fotos chega ao Instituto Cultural Brasil-Alemanha para contar um pouco mais dessa história.

bauhaus.foto, a mostra em questão, chega à cidade após passar por São Paulo e segue daqui para Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro.

Traz 50 imagens-chave da lendária escola criada em 1919 por Walter Gropius em Dessau, cidade a uma hora de Berlim.

“A Bauhaus foi, no início do século 20, um dos mais influentes movimentos artísticos da modernidade europeia”, resume Alfons Hug,  idealizador da mostra e diretor do Instituto Goethe do Rio de Janeiro.

“(A Bauhaus) Foi escola e estilo ao mesmo tempo, além de ser uma inédita forma de interpretar o mundo e de querer melhora-lo. Talvez foi o único momento, depois do construtivismo russo,  em que arte e design iam de mãos dadas”, acrescenta Alfons.

A pretensão de Walter Gropious (ao lado) era criar “uma arquitetura adaptada ao nosso mundo de máquinas, rádios e carros velozes”, e desta forma, projetar “desde colheres até cidades”.

Infelizmente, o sonho durou pouco: no mesmo ano em que assumiu o poder na Alemanha (1933), Adolf Hitler mandou fechar a escola.

Walter Gropious: pensando em ângulos retos?
“O que incomodava (ao Partido Nacional-Socialista) era o fato de a Bauhaus ser um movimento de esquerda que não se submetia às regras e ao nacionalismo do novo regime”, avalia Alfons Hug.

Seu legado, no entanto ainda está muito vivo. “Acho que o melhor símbolo da arquitetura da Bauhaus é o conjunto de escola e casas em Dessau que  sobreviveu até hoje. Mas a Bauhaus continua muito viva”, garante Hug.

“Por exemplo, na favela de Jacarezinho (RJ), a Bauhaus de Dessau iniciou no ano 2000 um projeto para melhorar a infraestrutura da comunidade”, diz.

“Já no caso da fotografia e do filme da Bauhaus, pude observar, em São Paulo, um interesse muito grande por parte dos jovens artistas e dos estudantes de arte”, observa.

Bauhaus@Bahia

Com curadoria de Anja Guttenberger, do Arquivo Bauhaus / Museu de Design em Berlim, a mostra constitui uma oportunidade imperdível para artistas, arquitetos, designers, estudantes e demais interessados.

“A Bauhaus foi a mais importante escola de arte moderna do mundo”, opina Nivaldo Andrade, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), departamento Bahia.

“Não era uma escola de arte no sentido tradicional. Ela juntava artistas de diversas vertentes: designers, pintores, arquitetos. Grande nomes da arte e arquitetura moderna foram professores lá: Paul Klee, Wassily Kandinsky, Mies van der Rohe, e claro, Walter Gropius”, enumera.

Para Andrade, o que caracterizava o estilo Bauhaus era a ortogonalidade, ou seja: “Os ângulos retos, de 90 graus. Volumes retos em formas de blocos, tetos planos. Vários blocos articulados de forma assimétrica. Até então a arquitetura era simétrica. Com a Bauhaus surgiu a assimetria”, ensina.

“O edifício que temos aqui semelhante é o atual  Iceia (Instituto Central de Educação Isaías Alves), inaugurado com Escola Normal no Barbalho, construído na década de 1930 por um arquiteto que estudou na Alemanha e cujo nome se perdeu”, conta Nivaldo.

1930: a "verdadeira" banda Bauhaus
Ele conta que, em 1943, o Museum of Modern Arts de Nova York (o famoso MoMA), promoveu uma mostra intitulada Brazil Builds: Architecture New and Old 1652 - 1942 (O Brasil Constrói: A Nova e a Velha Arquitetura 1652 -1942), cujo catálogo trazia uma foto do Iceia.

"Essa foto trazia uma legenda com a seguinte informação: 'prédio projetado por um arquiteto que estudou na Alemanha'. (O arquiteto e professor da Ufba) Paulo Ormindo de Azevedo escreveu um artigo no qual diz (que o projeto do Iceia) foi do Alexander Buddeüs, o mesmo arquiteto que projetou o Instituto do Cacau, que tem óbvia influência da Bauhaus. Eu não acho que foi o Buddeus por que ele era alemão, e a informação do catálogo da Brazil Builds é que o projeto foi de um 'arquiteto brasileiro que estudou na Alemanha'", defende.

(NOTA: o texto que encontrei - está linkado mais acima - diz: "The plain exteriors and efficient planning of Salvador's Normal School are German-inspired". Mais adiante, acrescenta, já traduzido: "Uma escola ampla, bem projetada por um arquiteto brasileiro formado na Alemanha").

"O antigo Hospital Santa Teresinha, atual Hospital Otávio Mangabeira, no bairro da Caixa d'Água, também apresenta influências da Bauhaus. Foi projetado por um engenheiro do Rio, mas não tenho seu nome comigo agora", acrescenta.

O próprio ensino de arquitetura e artes no Brasil foi muito influenciado pela Bauhaus. Na Escola de Belas Artes da Ufba foi Maria Célia Amado Calmon uma figura importante nisso, além de Mário Cravo, que também trouxe isso a partir dos anos 1950. O arquiteto Diógenes Rebouças também aplicou princípios da Bauhaus no projeto da antiga Fonte Nova, hoje demolida", continua.

Marcos Rodrigues, doutor em arquitetura e urbanismo e professor da Ufba e da Unifacs, aponta o prédio dos Correios no Comércio como o melhor exemplo de Bauhaus na Bahia: “O Instituto do Cacau e o Iceia tem muita influência da Bauhaus, mas no  prédio dos Correios eu a  vejo mais evidente”, opina.

"Seguramente, a Bauhaus foi a mais importante escola de arquitetura e design, e provavelmente, a mais influente também. Sua influência é absurda. Inventou o movimento moderno no design de tudo: de produto, gráfico e arquitetura", vê.

Balcão na Bauhaus Dessau
Para Marcos, a Bauhaus foi  primeira escola a privilegiar o que ele define como "estética da técnica".

"Basicamente, era uma estética da tecnologia. Foram eles que começaram a cortar a ideia de que, em arquitetura, as belas artes eram a coisa mais importante. Eles estabeleceram que a arquitetura tinha uma estética própria: a técnica . Veio na esteira do movimento industrial, então era para se trabalhar com a indústria, a habitação popular. Eles lidavam com o que a indústria produzia em série. Evidente que isso não foi a cabo até pelo nazismo, mas era uma coisa bem da época, uma estética da técnica. Sobretudo da técnica industrial, isso confere a repetição, mas foi feito com um refinamento tal - até do ponto de vista da produção em massa - que hoje em dia são peças de luxo, como as cadeiras Bauhaus, que são vendidas por uma fortuna. O que não deixa de ser um paradoxo", expõe.

“Sobre a fotografia, acredito que era uma atividade meio marginal da escola, apesar de ter um ateliê específico. Sei que faziam muitas experiências, mas confesso que não conheço muito essa produção. Por isso mesmo, esta é um a exposição muito importante”, conclui.

Bauhaus.foto / Galeria do Goethe- Institut/ICBA / Abertura: amanhã, 18h30 /  até 5 de outubro, das 9 horas  às 18h30 (seg. a sex.) e  9h  às 13 horas (sáb.) / Gratuito

Crédito fotos: Bauhaus Archiv Berlin