Cash, o pioneiro do rockabilly |
Morto há dez anos e dois dias (12 de setembro de 2003), suas palavras definitivas sobre sua passagem por este planeta estão deitadas nas páginas de sua autobiografia, finalmente lançada no Brasil.
Escrita em parceria com Patrick Carr, Cash: A Autobiografia de Johnny Cash oferece ao leitor algo mais do que um mero relato cronológico da trajetória de uma personalidade.
Indisciplinado – e não daria para esperar outra coisa do Homem de Preto – sua narrativa dança em devaneios entre o agora (1997, quando o livro foi escrito), o passado e suas ideias sobre a vida, Deus, o amor, as drogas, loucura, pobreza, riqueza, fama, ostracismo – tudo o que ele conheceu em uma vida mais rica do que a maioria das pessoas jamais conhecerá.
Nascido John R. Cash em 26 de fevereiro de 1932, nos cafundós do Arkansas, ele foi um dos principais pioneiros brancos do rock.
Integrou o lendário Million Dollar Quartet, grupo relâmpago formado por ele e sua “turma” da gravadora Sun Records: Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins.
Com o fim do primeiro ciclo do rock ‘n’ roll em 1959, voltou-se para a música de raiz – no caso, o country e o folk que ouvia na sua infância, catando algodão em Dyess (Arkansas), aonde sua família, paupérrima, tinha uma pequena propriedade concedida pelo governo a colonos.
Johnny & June, no dia do casamento |
Mas, além de ter sido esse cometa humano, sua autobiografia impressiona mesmo é pelo grau de sinceridade e intimidade com o leitor, que ele impõe em suas páginas.
Na verdade, ler este livro é quase como estar em uma sala á meia-luz com o velho Johnny, ouvindo-o falar.
“Endosso a frase de Kris Kitofferson (autor do clássico Me and Bobby McGee) sobre mim: ‘Ele é uma contradição ambulante, parte verdade e parte ficção’” escreve, logo nas primeiras páginas.
Tamanha intimidade, como diz o comercial, não tem preço.
Em muitas passagens, ele simplesmente descreve aonde está e o que está fazendo naquele momento, antes de mergulhar em suas memórias: “Hoje estou sentado na varanda dos fundos, no topo do meu morro, olhando para o norte sobre o Caribe, na direção de Cuba. (...) É tranquilo aqui”, escreve ele, de sua casa em Cinnamon Hill, Jamaica.
Caverna, Cadillac, ostracismo
Mas isso é só a doce cobertura do bolo. Saborosos mesmos são seus relatos.
Mesmo os de sabor amargo, como o relato sobre seu vício em anfetaminas, barbitúricos e qualquer outra substância em comprimidos.
“A primeira coisa e talvez a pior a respeito disso tudo era que todo comprimido que eu tomava era uma tentativa de atingir o estado maravilhoso e natural de euforia que senti na primeira vez (..). Nunca foi tão bom como da primeira vez”, conta Cash.
Cash, the rebel rouser |
“Chutava, socava, quebrava, cortava, atirava neles, enfiava minha faca bowie. Quando estava drogado, não me importava com nada, tamanho meu egoísmo”, diz.
Como cristão fervoroso que era, também não tinha pudor em demonstrar arrependimento: “Me perturba confrontar o fato de que, para muitos, o tipo de vandalismo de hotel de beira de estrada em que fui pioneiro é agora um símbolo de rebeldia roqueira, uma mistura inofensiva e mesmo admirável de exuberância juvenil e desprezo pelas convenções. Não era dessa maneira para mim. Era mais sombrio e mais profundo. Era violência”, reflete.
Alguns episódios parecem tão espetaculares que, fosse outro que não o Man in Black contando, seria difícil acreditar.
Em uma ocasião, transportou, drogado, um tanque de propano chacoalhando solto no porta-malas de um Cadillac. Claro que ele explodiu: “Assim que senti a concussão, puxei o trinco e rolei para fora”, lembra, o próprio 007 caipira.
O auge do fundo do poço foi quando, em 1967, ele entrou em uma caverna para morrer:“Estacionei meu jipe e comecei a rastejar; rastejei até que, depois de duas ou três horas, as pilhas da minha lanterna acabaram e deitei para morrer na escuridão total.Estava mais longe de Deus do que nunca”.
Horas depois, teve uma epifania ("Não sou eu que decido minha hora de morrer. Só Deus é capaz disso") e se arrastou para fora, horas depois.
Ao longo de quase 300 páginas, Cash conta, sem censura, estas e muitas outras histórias de sua vida, como os lendários shows no presídio de Folsom, seu romance com June Carter, seu ostracismo “(fiquei invisível nos anos 80”) e ressurgimento nas mãos do grande produtor Rick Rubin, nos anos 1990.
Cash: a autobiografia de Johnny Cash / Johnny Cash e Patrick Carr / LeYa / 280 p. / R$ 39,90 / www.leya.com
Grande Cash...lembro que nos anos 90 eu conhecia poucas pessoas que gostavam do Johnny, lembro dos caras dos dead billies, eu e acho que Pj dos Honkers...vc e a galera + velha deveria, mas nunca falamos sobre o Cash...até uma amiga rockabilly de sp achava o som do johnny lento, num dava pra dançar, uma ex minha num curtia, depois que saiu o filme, todo mundo sempre gostou do johnny, até essa ex e minha amiga...é o poder do cinema...lembro que comprei uma coleta dele com 32 faixas, lá pelos idos de 99 por 5,90...
ResponderExcluirQuero ler essa bio!!!
O que cada vez mais chama a atenção são as biografias de rock que NÃO são lançadas nesse país-esgoto: o OURO e o DIAMANTE --- OS MELHORES LIVROS.
ResponderExcluirTroca de e-mails:
Livaria Saraiva :
"Cliente Ernesto Ribeiro, que tal um empurrãozinho pra você ler livros melhores?"
Ernesto Ribeiro:
"Livaria Saraiva, que tal um empurrãozinho pra vocês venderem livros melhores?"
Minhas 4 sugestões pra vocês levarem meu dinheiro (e o de milhares de rockers):
CRIATURAS FLAMEJANTES --- biografia dos gênios criadores do Rock n Roll. Elvis, Jerry Lee, Bill Haley, Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins, Gene Vincent, Eddie Cochran...
NEON ANGEL --- Autobiografia de Cherie Currie. A vocalista das Runaways. A História da primeira banda de rock só de garotas --- e todas menores de idade.
LAST GANG IN TOWN --- A biografia do The Clash. Tudo sobre Joe Strummer, o líder das massas que Bono Bosta do CU2 sempre fingiu ser.
ROTTEN: NO IRISH, NO BLACKS, NO DOGS --- a Autobiografia de John Lydon. O criador do Movimento Punk. A História do vocalista dos Sex Pistols. O rocker mais inteligente do mundo, o mais culto e articulado, o melhor escritor e a personalidade mais importante e revolucionária da música pop desde 1977.
Os músicos mais chocantes e influentes da História da Música.
Tá bom ou quer mais?
Se algum dia vocês quiserem ganhar dinheiro vendendo uma biografia que PRESTE, me avisem.
Porque Caetano Veloso, Lobão, Merdonna e Justin Biba jamais irão emporcalhar minha estante.
ia falar desse criaturas flamejantes, vc comprou com um cara que indiquei né man?
ResponderExcluirbaratinho...
bicho, repare nesse livro, que na verdade é um CApÌTULO de um grande livro chamado country...ou seja lançaram um livro cortado.
o + interessante nesse livro foi descobrir que a gíria rock and roll já tava fora de moda há 2 décadas, que ela existia eu sabia, mas q tava morta, não...ressuscitaram...um "golpe de marketing" cara de pau-heehheeh
e que os cantores de rockabilly eram mal vistos pelos de country...
Acréscimos para a descrição das 4 Melhores Biografias de Rock que NUNCA SERÃO lançadas aqui no país-esgoto:
ResponderExcluirCRIATURAS FLAMEJANTES --- Os egos que consumiram os pioneiros do rock numa fogueira de vaidades --- e fogueiras de verdade queimando pilhas de milhares de discos de rock, "a música do demônio" condenada pelos pais de família em toda a América Cristã, que proibiam os filhos de ouvir esse som satânico que "não é música, é barulho!" Garotos brancos tocando música de pretos que só falavam em sexo. Entenda porque o Rock já nasceu maldito.
LAST GANG IN TOWN --- O Movimento Punk como via de outros movimentos extremistas radicais. Comunismo. Guerra de Classes. O ex-Império Britânico como um país instável de Terceiro Mundo. Atentados terroristas. Guerra civil. Gangues de rua. Racismo e confrontos sociais. As ruas da Grã-Bretanha pegando fogo como campo de batalha em pleno Jubileu da Rainha. Campanha pregando o assassinato em massa de todos os ricos e exploradores no mundo inteiro. E isso é só o começo. Recomendado para os puxa-sacos da Monarquia que param tudo pra acompanhar a vidinha fútil da gentalha inútil dos parasitas reais.
NEON ANGEL : STORY OF A RUNAWAY --- Memórias de uma adolescente. Embora seja uma leitura tão pesada, forte e brutal que é até desaconselhável para menores. Um verdadeiro soco no estômago. Família devastada. Vício em álcool e drogas pesadas. Lesbianismo. Triângulo amoroso na banda. Abuso sexual, moral e verbal. Estupro. Aborto forçado. A cantora adolescente nas mãos de um psicopata serial killer. Seqüestro. Espancamento. Tortura. Assassinatos. E por aí vai.
ROTTEN: NO IRISH, NO BLACKS, NO DOGS --- Uma análise de História, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Política. Reputações destruídas de celebridades e ídolos pop revelados como a verdadeira escória. A sociedade podre de castas da Inglaterra como um caldeirão explodindo de ódios, miséria e discriminação. A família real britânica como uma máfia de nazistas pisoteando o próprio povo ignorante, preconceituoso e alienado. Crianças morrendo de meningite. Violência urbana, caos social, ódios raciais e alienação religiosa pelos olhos do homem que estava no olho do furacão --- e quebrou a História do Rock & Roll em duas partes: antes e depois do PUNK. O maior movimento de contestação de todos os tempos. O último terremoto que chacoalhou a cultura ocidental.
Sputter, eu tentei comprar, mas o Henrique Vagner disse que não tinha mais no estoque de onde ele vendia os exemplares.
ResponderExcluirSe tiver algum sobrando, eu compro no Mercado Livre ou na Estante Virtual.
eu te emprestei o meu??
ResponderExcluirfoi isso?
num acha no estante não?
deve ser bem fácil...
oh, mano...
ResponderExcluirvocê não me emprestou...
vou pesquisar nos sites de compras.
mais uma vez, muitíssimo obrigado.
Sputter, isso que vc fala do Cash (depois do filme, todo mundo é fã desde criancinha), aconteceu igual com The Doors e Jim Morrison no início da década de 90: depois do filme do Oliver Stone, todo mundo virou fã desde sempre. Sacal.
ResponderExcluirquiser empresto...
ResponderExcluirlê-se numa sentada...
mas lembro que já vi vendendo na estante virtual...e não é caro...
Chico, comecei ouvir Doors em 1993...já tinha rolado o filme...
Eu li que no começo dos 90´s, Nick Cave era bem desconhecido, na fase que morou em sp...