Nunca houve uma mulher como Margarita Chascarrillo. Nem como Esperanza Leticia Glass. Pelo menos, não nos quadrinhos.
Maggie e Hopey, como são mais conhecidas, são algumas das mais apaixonantes personagens femininas de HQ de todos os tempos.
Boa notícia então, que após um longo período sem mandar notícias, eis a dupla de volta ao Brasil, no álbum Lôcas: Maggie, A Mecânica, recém-lançado pela Gal Editora.
Fãs mais antigos devem lembrar de Love & Rockets, a imortal revista independente dos irmãos Jaime e Gilbert Hernandez, que teve cerca de uma dúzia de edições lançadas no Brasil há uns vinte anos, pela editora Record.
De lá para cá, uma ou outra edição esporádica aparecia de vez em quando, por diferentes editoras.
Agora, espera-se, a série tenha voltado de vez.
Lançada em 1981, Love & Rockets revelou o enorme talento dos irmãos Hernandez, cada um em seu universo narrativo próprio. Jaime com suas Lôcas e Gilbert com sua Sopa de Gran Peña (ou Heartbreak Soup).
Enquanto Jaime delirava com punketes latinas dos subúrbios de L.A. e mecânicas de foguetes, Gilbert criou todo um universo marquesiano / amadiano em torno de Palomar, uma vilazinha latina em um país não identificado, com muito realismo fantástico e figuras pitorescas.
Ambos foram igualmente bem sucedidos com suas criações, as quais continuam a ser publicadas até hoje nos Estados Unidos, depois de múltiplas premiações e aclamação geral.
Demasiado humanas
No álbum lançado pela Gal, a saga começa do início de novo, mostrando as primeiras HQs de Lôcas.
Nelas, conhecemos as já citadas Maggie e Hopey, além de uma vasta galeria de personagens que orbita em seu torno, como Izzy, uma melancólica escritora com vários segredos do passado e Penny Century, uma linda oportunista casada com H.R. Costigan, um milionário com chifres.
Amantes ocasionais, Maggie e Hopey habitam um mundo muito particular, no qual a cena punk de Los Angeles convive em harmonia com foguetes, dinossauros e super-heróis.
Com o tempo, Jaime foi deixando de lado o aspecto mais fantasioso da HQ, optando por uma abordagem mais realista e próxima da crônica de costumes.
Com seus desenhos espetaculares, narrativa ágil e diálogos engraçados, as Lôcas também vivem (mais ou menos) em um tempo cronológico semelhante ao nosso.
“Hoje em dia, essas personagens estão na casa dos 40 anos de idade”, conta Jaime, em breve entrevista por email.
“Então, muita coisa mudou para algumas delas, como aconteceria na vida real. Já para outras, nada nunca muda”, diz.
Jaime conta que se inspirou – até certo ponto – em pessoas que conheceu para criar suas personagens: “Às vezes são pessoas que conheço, mas, de forma geral, são simples observações de como as pessoas agem, meio que me colocando dentro delas e esperando que eu traga para fora algo que o leitor vá reconhecer”, explica.
Após 50 edições lançadas pela editora independente Fantagraphics Books, Love & Rockets chegou ao fim, em 1996.
Em 2001, os irmãos se reuniram e lançaram Love & Rockets Volume 2, que ainda é publicada nos Estados Unidos.
Maggie, hoje uma quarentona acima do peso, vive de maiô e se dedica a administrar um condomínio.
Talvez essa característica, a de serem figuras tão humanas, seja uma das razões de Love & Rockets ser tão cultuada entre os leitores: as personagens são tão bem delineadas que parecem mais velhas amigas.
Que mais novos leitores tenham o prazer de conhece-las deste vez. E que não sumam.
Love & Rockets: Lôcas - Maggie, A Mecânica / Jaime Hernandez / Gal / 152 p. / R$ 39,90 / www.galeditora.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Páginas
▼
sexta-feira, agosto 31, 2012
quarta-feira, agosto 29, 2012
PROJEÇÃO 5 COM NOVOS CONVIDADOS INTERNACIONAIS
Convidados internacionais
Jon Appleton (ao lado, photo Joe Mehling) e Paul J. Botelho levam música eletroacústica ao Palácio
da Aclamação. Appleton, veterano, se destaca pela rica biografia e
escopo de atividades. Evento tem entrada gratuita
Em setembro, a fina flor da vanguarda internacional está no MAB. A quinta projeção sonora do Música de Agora na Bahia traz à cidade os premiados compositores e performers Jon Appleton e Paul J. Botelho.
O primeiro é o que se pode chamar de um verdadeiro gênio visionário, com uma produção tão vasta, quanto diversa.
Oriundo das mitológicas colinas de Hollywood, Califórnia, Jon Appleton é um dos pioneiros da música eletroacústica, além de ter sido um dos responsáveis, ao lado de Sydney Alonso e Cameron Jones, a desenvolver o primeiro modelo comercial de sintetizador digital, o Synclavier – instrumento que definiu boa parte da sonoridade da música pop produzida desde então.
Entre outros feitos, Appleton também compôs balés para a revolucionária companhia novaiorquina de dança Pilobolus, colaborou com o lendário jazzista Don Cherry, fundou o Centro Theremin de Música Eletrônica no Conservatório de Moscou (no qual ainda ministra um curso anual) e, mais recentemente, tem se dedicado a compor peças de coral em estilo “Quase Romântico”.
Já Paul Botelho, Professor Assistente de Composição Musical na Universidade de Bucknell, é um dos mais destacados compositores e performers do cenário acadêmico a explorar técnicas diferenciadas de exploração da voz.
Ph.D. em Composição Musical pela Universidade de Princeton, lança mão do seu vasto conhecimento em composições eletroacústicas, óperas de ato único e peças de instalação multimídia.
Nesta projeção sonora especial, ambientada no luxuoso cenário do Palácio da Aclamação, a dupla vai apresentar o público baiano onze peças de sua autoria, utilizando diferentes técnicas, indo da mídia fixa às intervenções vocais, ao piano, computador e vídeo.
Mais uma noite especial e incomum proporcionada pelo MAB, parecida com nada do que você já ouviu antes.
Mês a mês, o Música de Agora na Bahia vem trazendo a nova música de concerto produzida nas academias mais avançadas daqui e do mundo ao público baiano.
SERVIÇO:
Projeção 5 do Música de Agora na Bahia: Projeção especial com os convidados internacionais Jon Appleton e Paul J. Botelho
Local: Palácio da Aclamação
Segunda-feira, 03.09.12, 20 horas
ENTRADA GRATUITA
Conheça: Paul Botelho e Jon Appleton.
Siga o MAB: http://www.musicadeagoranabahia.com (clique em Blog).
Em setembro, a fina flor da vanguarda internacional está no MAB. A quinta projeção sonora do Música de Agora na Bahia traz à cidade os premiados compositores e performers Jon Appleton e Paul J. Botelho.
O primeiro é o que se pode chamar de um verdadeiro gênio visionário, com uma produção tão vasta, quanto diversa.
Oriundo das mitológicas colinas de Hollywood, Califórnia, Jon Appleton é um dos pioneiros da música eletroacústica, além de ter sido um dos responsáveis, ao lado de Sydney Alonso e Cameron Jones, a desenvolver o primeiro modelo comercial de sintetizador digital, o Synclavier – instrumento que definiu boa parte da sonoridade da música pop produzida desde então.
Entre outros feitos, Appleton também compôs balés para a revolucionária companhia novaiorquina de dança Pilobolus, colaborou com o lendário jazzista Don Cherry, fundou o Centro Theremin de Música Eletrônica no Conservatório de Moscou (no qual ainda ministra um curso anual) e, mais recentemente, tem se dedicado a compor peças de coral em estilo “Quase Romântico”.
Já Paul Botelho, Professor Assistente de Composição Musical na Universidade de Bucknell, é um dos mais destacados compositores e performers do cenário acadêmico a explorar técnicas diferenciadas de exploração da voz.
Ph.D. em Composição Musical pela Universidade de Princeton, lança mão do seu vasto conhecimento em composições eletroacústicas, óperas de ato único e peças de instalação multimídia.
Nesta projeção sonora especial, ambientada no luxuoso cenário do Palácio da Aclamação, a dupla vai apresentar o público baiano onze peças de sua autoria, utilizando diferentes técnicas, indo da mídia fixa às intervenções vocais, ao piano, computador e vídeo.
Mais uma noite especial e incomum proporcionada pelo MAB, parecida com nada do que você já ouviu antes.
Mês a mês, o Música de Agora na Bahia vem trazendo a nova música de concerto produzida nas academias mais avançadas daqui e do mundo ao público baiano.
SERVIÇO:
Projeção 5 do Música de Agora na Bahia: Projeção especial com os convidados internacionais Jon Appleton e Paul J. Botelho
Local: Palácio da Aclamação
Segunda-feira, 03.09.12, 20 horas
ENTRADA GRATUITA
Conheça: Paul Botelho e Jon Appleton.
Siga o MAB: http://www.musicadeagoranabahia.com (clique em Blog).
segunda-feira, agosto 27, 2012
BRITTANY HOWARD: "NOS JUNTAMOS, COMEÇAMOS A COMPOR CANÇÕES E A TOCÁ-LAS AO VIVO"
Sai no Brasil álbum de estreia do Alabama Shakes, apontada como a grande revelação do rock em 2012, comparada a Janis Joplin
Tem artista que passa a vida inteira aí fazendo sucesso e nunca diz nada de interessante – nem no trabalho em si, nem em entrevistas, nada.
Já outros chegam metendo o pé na porta e dizendo a que vieram. Tudo de forma muito simples e direta, como a frase que abre este post.
Brittany Howard, da banda norte-americana Alabama Shakes (foto de Pieter M. van Hattem / Getty Images), é uma dessas, e em suas primeiras palavras gravadas, ela não teve receio de rasgar o peito (e a garganta): “Abençoe meu coração / abençoe minha alma / Não achei que chegaria aos 22 anos / Deve ter alguém lá em cima dizendo ‘vamos lá, Brittany, você tem que levantar / Você tem que se segurar’”.
Hold On, o hit da banda que é a revelação do rock em 2012, abre o disco que derrubou Adele das paradas.
Nada mal para quem, há mais ou menos um ano, dirigia um caminhão de limpeza. Em questão de um ano, o Alabama Shakes saiu da obscuridade para os maiores festivais do hemisfério norte.
Em turnê mundial, Brittany fala em entrevista exclusiva sobre a banda e a carreira em ascensão.
Acredito que vocês já sabiam que tinham algo especial como uma banda, mas imaginavam estourar tão rápido? Como vocês fazem para não enlouquecer com o assédio?
Brittany Howard: É difícil saber por que exatamente estamos fazendo tanto sucesso. Esperamos que seja por causa das canções e que as pessoas estejam se conectando com elas. Honestamente, andamos tão ocupados com essa turnê que não tivemos sequer chance de parar pra pensar nisso. Estamos bem focados em só fazer os melhores shows que pudermos.
O que está acontecendo no Alabama neste momento? Há uma nova cena de southern rock?
BH: Não há exatamente uma cena acontecendo no Alabama, pelo menos de onde viemos. Há, é claro, o Muscle Shoals, que é onde muitos álbuns clássicos foram gravados, mas fora dele, não há assim uma cena, especialmente para a música ao vivo. Em grande parte, são bandas cover.
Boa parte da imprensa especializada te compara à Janis Joplin. Faz sentido, mas sinto que há mais de Otis Redding do que da Janis em você.
BH: Honestamente, eu não ouvi muito Janis enquanto crescia. Nunca fui muito familiarizada com sua música. Muita gente me pergunta sobre isso e nem sei direito que dizer. Acho que outras comparações são mais adequadas. De qualquer forma, é sempre uma honra ser comparada à uma lenda.
A coisa anda tão feia no mainstream que quando uma boa banda como o AS surge, é logo eleita “a salvação do rock”. Como se sente com esse tipo de coisa?
BH: É uma honra dizerem isso sobre a banda. Mas vemos tantas bandas novas ótimas na estrada agora mesmo, que achamos que há outras merecendo mais este título. Mas não sei se existe tal coisa.
Longe de serem mais uma banda de revival do soul, o Alabama Shakes traz sangue novo e uma urgência contemporânea ao rock de orientação blueseira. Foi uma busca consciente? Ou foi natural?
BH: Antes de tudo e principalmente, nos consideramos uma banda de rock ‘n’ roll. Mas o soul e o blues são as principais influências no nosso som e somos mesmo fãs. Somos influenciados por música do mundo todo. Apenas nos juntamos, começamos a compor canções juntos e toca-las ao vivo.
Vejo que vocês estão em turnê com Jack White e já tocaram até com Neil Young & Crazy Horse no famoso anfiteatro Red Rocks (Arizona). Como foi tocar com alguns dos maiores herois vivos do rock? E você já aprendeu o que dizer diante de vinte mil pessoas (vi você dizer que não sabia o que falar diante de tanta gente em outra entrevista)?
BH: A experiência com Jack foi inacreditável em tantos níveis. Na turnê, aprendemos muito sobre como fazer um “show”. Jack é um profissional consumado que presta atenção em cada detalhe de sua música e do seu show. Eu realmente pude perceber isto. Honestamente, somos todos grandes fãs de sua música. Já foi maravilhoso simplesmente poder assisti-lo tocar. E ele foi tão legal conosco. Os shows evoluíram, também. Tem sido interessante, por que é nossa primeira exposição na temporada de festivais (no verão do hemisfério Norte). Você olha adiante e vê vinte mil pessoas esperando você tocar, e isso é surreal, fantástico.
Finalmente, a pergunta que todo mundo que curte rock ‘n’ roll no Brasil quer saber: quando vocês fazem shows por aqui?
BH: Soubemos que há muitos posts no Facebook pedindo para irmos tocar no Brasil. Se você nos dissesse há um ano atrás que tinha gente no Brasil, Austrália, África do Sul e outros países ao redor do mundo ouvindo nosso disco, a gente ia te chamar de maluco. Esperamos chegar logo no Brasil. As conversas já estão rolando, então vai acontecer em algum ponto do futuro próximo. Mal podemos esperar!
MICRO-RESENHA:
Historinha clássica de sucesso no rock: o patinho feio, por quem ninguém dava nada, carregava dentro de si toda a poesia, o talento e a voz – ah, a voz! – de uma geração. Tudo destilado por anos de bullying e indiferença. A estreia do ano. Boys & Girls / Alabama Shakes / Rough Trade - Lab 344 / R$ 27,90
Entrevista publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde em 22.08.2012. Agradecimentos ao pessoal do LAb 344 pela oportunidade.
Tem artista que passa a vida inteira aí fazendo sucesso e nunca diz nada de interessante – nem no trabalho em si, nem em entrevistas, nada.
Já outros chegam metendo o pé na porta e dizendo a que vieram. Tudo de forma muito simples e direta, como a frase que abre este post.
Brittany Howard, da banda norte-americana Alabama Shakes (foto de Pieter M. van Hattem / Getty Images), é uma dessas, e em suas primeiras palavras gravadas, ela não teve receio de rasgar o peito (e a garganta): “Abençoe meu coração / abençoe minha alma / Não achei que chegaria aos 22 anos / Deve ter alguém lá em cima dizendo ‘vamos lá, Brittany, você tem que levantar / Você tem que se segurar’”.
Hold On, o hit da banda que é a revelação do rock em 2012, abre o disco que derrubou Adele das paradas.
Nada mal para quem, há mais ou menos um ano, dirigia um caminhão de limpeza. Em questão de um ano, o Alabama Shakes saiu da obscuridade para os maiores festivais do hemisfério norte.
Em turnê mundial, Brittany fala em entrevista exclusiva sobre a banda e a carreira em ascensão.
Acredito que vocês já sabiam que tinham algo especial como uma banda, mas imaginavam estourar tão rápido? Como vocês fazem para não enlouquecer com o assédio?
Brittany Howard: É difícil saber por que exatamente estamos fazendo tanto sucesso. Esperamos que seja por causa das canções e que as pessoas estejam se conectando com elas. Honestamente, andamos tão ocupados com essa turnê que não tivemos sequer chance de parar pra pensar nisso. Estamos bem focados em só fazer os melhores shows que pudermos.
O que está acontecendo no Alabama neste momento? Há uma nova cena de southern rock?
BH: Não há exatamente uma cena acontecendo no Alabama, pelo menos de onde viemos. Há, é claro, o Muscle Shoals, que é onde muitos álbuns clássicos foram gravados, mas fora dele, não há assim uma cena, especialmente para a música ao vivo. Em grande parte, são bandas cover.
Boa parte da imprensa especializada te compara à Janis Joplin. Faz sentido, mas sinto que há mais de Otis Redding do que da Janis em você.
BH: Honestamente, eu não ouvi muito Janis enquanto crescia. Nunca fui muito familiarizada com sua música. Muita gente me pergunta sobre isso e nem sei direito que dizer. Acho que outras comparações são mais adequadas. De qualquer forma, é sempre uma honra ser comparada à uma lenda.
A coisa anda tão feia no mainstream que quando uma boa banda como o AS surge, é logo eleita “a salvação do rock”. Como se sente com esse tipo de coisa?
BH: É uma honra dizerem isso sobre a banda. Mas vemos tantas bandas novas ótimas na estrada agora mesmo, que achamos que há outras merecendo mais este título. Mas não sei se existe tal coisa.
Longe de serem mais uma banda de revival do soul, o Alabama Shakes traz sangue novo e uma urgência contemporânea ao rock de orientação blueseira. Foi uma busca consciente? Ou foi natural?
BH: Antes de tudo e principalmente, nos consideramos uma banda de rock ‘n’ roll. Mas o soul e o blues são as principais influências no nosso som e somos mesmo fãs. Somos influenciados por música do mundo todo. Apenas nos juntamos, começamos a compor canções juntos e toca-las ao vivo.
Vejo que vocês estão em turnê com Jack White e já tocaram até com Neil Young & Crazy Horse no famoso anfiteatro Red Rocks (Arizona). Como foi tocar com alguns dos maiores herois vivos do rock? E você já aprendeu o que dizer diante de vinte mil pessoas (vi você dizer que não sabia o que falar diante de tanta gente em outra entrevista)?
BH: A experiência com Jack foi inacreditável em tantos níveis. Na turnê, aprendemos muito sobre como fazer um “show”. Jack é um profissional consumado que presta atenção em cada detalhe de sua música e do seu show. Eu realmente pude perceber isto. Honestamente, somos todos grandes fãs de sua música. Já foi maravilhoso simplesmente poder assisti-lo tocar. E ele foi tão legal conosco. Os shows evoluíram, também. Tem sido interessante, por que é nossa primeira exposição na temporada de festivais (no verão do hemisfério Norte). Você olha adiante e vê vinte mil pessoas esperando você tocar, e isso é surreal, fantástico.
Finalmente, a pergunta que todo mundo que curte rock ‘n’ roll no Brasil quer saber: quando vocês fazem shows por aqui?
BH: Soubemos que há muitos posts no Facebook pedindo para irmos tocar no Brasil. Se você nos dissesse há um ano atrás que tinha gente no Brasil, Austrália, África do Sul e outros países ao redor do mundo ouvindo nosso disco, a gente ia te chamar de maluco. Esperamos chegar logo no Brasil. As conversas já estão rolando, então vai acontecer em algum ponto do futuro próximo. Mal podemos esperar!
MICRO-RESENHA:
Historinha clássica de sucesso no rock: o patinho feio, por quem ninguém dava nada, carregava dentro de si toda a poesia, o talento e a voz – ah, a voz! – de uma geração. Tudo destilado por anos de bullying e indiferença. A estreia do ano. Boys & Girls / Alabama Shakes / Rough Trade - Lab 344 / R$ 27,90
Entrevista publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde em 22.08.2012. Agradecimentos ao pessoal do LAb 344 pela oportunidade.
terça-feira, agosto 21, 2012
LOBO DO MAR, AVENTUREIRO, MÍSTICO, ERUDITO: ESTAMOS FALANDO DE CORTO MALTESE OU DE HUGO PRATT?
As vidas do artista italiano Hugo Pratt (1927-1995) e de sua principal criação, o enigmático marinheiro Corto Maltese, são tão cheias de aventuras, viagens e experiências iniciáticas que, por vezes, fica difícil diferir o que aconteceu com quem.
Cultuado (especialmente na Europa), o personagem tem suas aventuras contadas em pouco mais de uma dezena de álbuns produzidos por Pratt.
Com uma história de publicação errática no Brasil, seus álbuns já passaram por várias editoras.
A mais recente, a Nemo, tem concentrado esforços para trazer o material ainda inédito que resta, em edições luxuosas de capa dura.
Em 2011, lançou A Juventude, ambientado na Iª Guerra Mundial. Agora, soltou As Helvéticas, possivelmente sua aventura mais – na falta de termo melhor – esotérica.
Na melhor tradição prattiana, essa HQ também está recheada de citações literárias, referências obscuras e metáforas elaboradas – um dos charmes da HQ, de quem até Umberto Eco já se disse fã.
No início da história, Corto e um amigo, o professor Jeremiah Steiner, vão ao vilarejo suíço de Savuit Sur Lutry, aonde se encontrarão com o escritor alemão Herman Hesse, para realizarem uma pesquisa sobre o alquimista Paracelso.
Por aí já dá para ter uma ideia da salada entre realidade e fantasia engendrada por Pratt: dois personagens fictícios (Corto e Steiner) em busca de outros dois, reais (H.H. e Paracelso).
Lá chegando, Corto embarca em uma série de eventos e delírios inexplicáveis. Entra em um livro, encontra-se com arquétipos de cavaleiros medievais, feiticeiros e até a própria Morte.
Incrédulo, Corto se debate, tentando voltar à realidade, mas é conduzido em uma busca pelo Santo Graal e pela resolução do enigma da “rosa alquímica”, um antigo símbolo místico.
A história toda parece refletir bem as obsessões de Hugo Pratt, entre os quais estavam os grandes mistérios da antiguidade europeia (não por acaso, era da Maçonaria).
Verborrágica (traço dos quadrinhos italianos em si, não apenas de Pratt), a HQ conquista o leitor mais pelo fascínio em torno dos seus temas obscuros do que pelo seu próprio ritmo.
Na introdução, textos e fotos da região em que a história se passa complementam muito bem a leitura com informações sobre Paracelso, Herman Hesse e os cavaleiros Parsifal (ou Percival) e Klingsor, arquétipos com quem Corto se encontra na narrativa.
Mais uma bela edição para colecionadores. Em breve, a editora solta mais um álbum inédito de Corto: Mu.
Uma existência, muitas vidas
Se fosse adaptada ao cinema, a vida de Hugo Pratt renderia um filme do tipo épico, com umas três horas de duração, estilo Lawrence da Arábia (1962).
Filho de um soldado fascista de ascendência inglesa (daí o sobrenome Pratt), este conterrâneo de Federico Felinni (de Rimini) foi morar com a família em Veneza, ainda pequeno.
Criado em ambiente cosmopolita (seu avô materno era judeu marrano – convertidos ao Cristianismo na marra, com o perdão do trocadilho – e a avó era turca).
Em 1937, Hugo, pai e mãe foram enviados por Mussolini à Abissínia (hoje, Etiópia), país dominado pelos italianos.
Em 1941, seu pai foi capturado pelos ingleses, morrendo no ano seguinte. Hugo e a mãe foram para um campo de prisioneiros, no qual começou a ganhar revistas em quadrinhos dos soldados.
Enviados de volta à Itália pela Cruz Vermelha, Pratt, que já desenhava, integrou-se em 1945 ao chamado Grupo de Veneza, união de artistas que criaram uma lendária revista em quadrinhos, a Asso di Picche (Ás de Espadas).
O sucesso da revista rendeu a Pratt um convite da Editorial Abril, da Argentina (de Cesare Civita, irmão do Victor, que fundou a Abril brasileira), um convite para trabalhar em Buenos Aires.
Foi aí que ele deslanchou, trabalhando com o grande Hector German Oesterheld (O Eternauta, Che), em títulos como Ernie Pike e Sgt. Kirk.
Foi em Sgt. Kirk que Pratt iniciou a HQ A Balada do Mar Salgado, primeira aventura de Corto Maltese e considerada um clássico absoluto da narrativa sequencial.
A esta altura, ele já tinha passado por três casamentos, dos quais teve quatro filhos. Em 1959, mudou-se para Londres, casou de novo, correu pela Irlanda e voltou à Veneza.
Em 1963, retornou a Argentina, de onde partiria, em 1964 (logo neste ano), para o Brasil, aonde fez extensa jornada pelo Mato Grosso, Amazonas (na trilha do desaparecido Coronel Percy Fawcett) e pela Bahia.
A passagem pelo Brasil rendeu dois álbuns – Sob o Signo de Capricórnio e L’Uomo del Sertão – e mais filhos: com uma índia xavante e com uma certa Doroteia dos Santos, filha-de-santo baiana.
Dessa relação, ele teve uma filha, Victoriana Aureliana Gloriana dos Santos.
Mudou-se para a Suíça (Helvécia...) em 1984, aonde viveu até morrer de câncer, em 1995.
Hoje, em Grandvaux, aonde está enterrado, há uma estátua de Corto Maltese a guardar a cidade, contemplando a foz do rio Rhone com o lago Leman (na foto acima, pescada deste site).
Corto Maltese – As Helvéticas / Hugo Pratt / Nemo/ 96 p./ R$ 49/ www.grupoautentica.com.br/nemo
Cultuado (especialmente na Europa), o personagem tem suas aventuras contadas em pouco mais de uma dezena de álbuns produzidos por Pratt.
Com uma história de publicação errática no Brasil, seus álbuns já passaram por várias editoras.
A mais recente, a Nemo, tem concentrado esforços para trazer o material ainda inédito que resta, em edições luxuosas de capa dura.
Em 2011, lançou A Juventude, ambientado na Iª Guerra Mundial. Agora, soltou As Helvéticas, possivelmente sua aventura mais – na falta de termo melhor – esotérica.
Na melhor tradição prattiana, essa HQ também está recheada de citações literárias, referências obscuras e metáforas elaboradas – um dos charmes da HQ, de quem até Umberto Eco já se disse fã.
No início da história, Corto e um amigo, o professor Jeremiah Steiner, vão ao vilarejo suíço de Savuit Sur Lutry, aonde se encontrarão com o escritor alemão Herman Hesse, para realizarem uma pesquisa sobre o alquimista Paracelso.
Por aí já dá para ter uma ideia da salada entre realidade e fantasia engendrada por Pratt: dois personagens fictícios (Corto e Steiner) em busca de outros dois, reais (H.H. e Paracelso).
Lá chegando, Corto embarca em uma série de eventos e delírios inexplicáveis. Entra em um livro, encontra-se com arquétipos de cavaleiros medievais, feiticeiros e até a própria Morte.
Incrédulo, Corto se debate, tentando voltar à realidade, mas é conduzido em uma busca pelo Santo Graal e pela resolução do enigma da “rosa alquímica”, um antigo símbolo místico.
A história toda parece refletir bem as obsessões de Hugo Pratt, entre os quais estavam os grandes mistérios da antiguidade europeia (não por acaso, era da Maçonaria).
Verborrágica (traço dos quadrinhos italianos em si, não apenas de Pratt), a HQ conquista o leitor mais pelo fascínio em torno dos seus temas obscuros do que pelo seu próprio ritmo.
Na introdução, textos e fotos da região em que a história se passa complementam muito bem a leitura com informações sobre Paracelso, Herman Hesse e os cavaleiros Parsifal (ou Percival) e Klingsor, arquétipos com quem Corto se encontra na narrativa.
Mais uma bela edição para colecionadores. Em breve, a editora solta mais um álbum inédito de Corto: Mu.
Uma existência, muitas vidas
Se fosse adaptada ao cinema, a vida de Hugo Pratt renderia um filme do tipo épico, com umas três horas de duração, estilo Lawrence da Arábia (1962).
Filho de um soldado fascista de ascendência inglesa (daí o sobrenome Pratt), este conterrâneo de Federico Felinni (de Rimini) foi morar com a família em Veneza, ainda pequeno.
Criado em ambiente cosmopolita (seu avô materno era judeu marrano – convertidos ao Cristianismo na marra, com o perdão do trocadilho – e a avó era turca).
Em 1937, Hugo, pai e mãe foram enviados por Mussolini à Abissínia (hoje, Etiópia), país dominado pelos italianos.
Em 1941, seu pai foi capturado pelos ingleses, morrendo no ano seguinte. Hugo e a mãe foram para um campo de prisioneiros, no qual começou a ganhar revistas em quadrinhos dos soldados.
Enviados de volta à Itália pela Cruz Vermelha, Pratt, que já desenhava, integrou-se em 1945 ao chamado Grupo de Veneza, união de artistas que criaram uma lendária revista em quadrinhos, a Asso di Picche (Ás de Espadas).
O sucesso da revista rendeu a Pratt um convite da Editorial Abril, da Argentina (de Cesare Civita, irmão do Victor, que fundou a Abril brasileira), um convite para trabalhar em Buenos Aires.
Foi aí que ele deslanchou, trabalhando com o grande Hector German Oesterheld (O Eternauta, Che), em títulos como Ernie Pike e Sgt. Kirk.
Foi em Sgt. Kirk que Pratt iniciou a HQ A Balada do Mar Salgado, primeira aventura de Corto Maltese e considerada um clássico absoluto da narrativa sequencial.
A esta altura, ele já tinha passado por três casamentos, dos quais teve quatro filhos. Em 1959, mudou-se para Londres, casou de novo, correu pela Irlanda e voltou à Veneza.
Em 1963, retornou a Argentina, de onde partiria, em 1964 (logo neste ano), para o Brasil, aonde fez extensa jornada pelo Mato Grosso, Amazonas (na trilha do desaparecido Coronel Percy Fawcett) e pela Bahia.
A passagem pelo Brasil rendeu dois álbuns – Sob o Signo de Capricórnio e L’Uomo del Sertão – e mais filhos: com uma índia xavante e com uma certa Doroteia dos Santos, filha-de-santo baiana.
Dessa relação, ele teve uma filha, Victoriana Aureliana Gloriana dos Santos.
Mudou-se para a Suíça (Helvécia...) em 1984, aonde viveu até morrer de câncer, em 1995.
Hoje, em Grandvaux, aonde está enterrado, há uma estátua de Corto Maltese a guardar a cidade, contemplando a foz do rio Rhone com o lago Leman (na foto acima, pescada deste site).
Corto Maltese – As Helvéticas / Hugo Pratt / Nemo/ 96 p./ R$ 49/ www.grupoautentica.com.br/nemo
sábado, agosto 18, 2012
JOSHUA REDMAN: "HÁ MÚSICOS DE JAZZ EM CADA ESQUINA DO GLOBO, E ISSO É MARAVILHOSO"
Enquanto há quem só compartilhe ignorância e selvageria travestida de música, o primeiro Recôncavo Jazz Festival chega à Praça da Aclamação de Cachoeira com o lema “Compartilhando a boa música”.
Discussões estéreis e politicamente corretas sobre o que é ou não boa música à parte (de preferência, bem longe), o importante mesmo é que, além de trazer boas atrações locais e nacionais, o festival promove um encontro que promete ser histórico, botando no mesmo palco o saxofonista norte-americano Joshua Redman (leia sua entrevista abaixo) com o orgulho da casa, a Orkestra Rumpilezz.
Além do festival, eles se apresentam dia 22 no TCA, em São Paulo (dias 25 e 26) e Belo Horizonte (28).
ENTREVISTA: JOSHUA REDMAN
Como surgiu a parceria com Letieres Leite e a Orkestra Rumpilezz? Já tinha ouvido falar deles? O que achou do som?
Joshua Redman (photo by Siebe van Ineveld): A colaboração foi ideia do meu primo, (o norte-americano) Eric Taller (da produtora Ginga P.). Honestamente, acho que ainda não tinha ouvido falar muito, até que Eric me deu um CD e me falou muito animado sobre eles e sua música. Fiquei interessado numa possível colaboração com eles em algum momento. Devo admitir que sou meio ignorante em relação a música brasileira, quer dizer, conheço a música de algumas das suas lendas, mas não sou tão versado assim. É triste dizer, mas é que gostaria de saber mais. E estou ansioso pela viagem para aprender sobre a música daí, em particular, a tradição baiana e a música brasileira em geral. Tudo que já ouvi, eu adorei então gostaria de aprender amais. Logo da primeira vez que ouvi o CD (da Orkestra Rumpilezz) eu adorei. Achei muito original, com todos aqueles sopros e tambores, sem a seção rítmica tradicional com baixo, piano, guitarra, etc. Achei incrível a forma com que Letieres conseguiu produzir tanto lirismo, tanta melodia e conteúdo harmônico apenas com sopros, estou realmente impressionado com esses ritmos poderosos, é incrivel, é uma música incrivelmente sofisticada. E olha que, quando ouvi pela primeira vez algumas faixas, eu não conseguia sequer distinguir o tempo em que eles estavam tocando. Mas só a forma sofisticada com que os ritmos se entrecruzam... Aquilo realmente me tocou e eu sinto ali uma conexão verdadeira com a tradição da música africana. Quero muito tocar com eles em vários niveis, mas especialmente pela educação rítmica que vou angariar.
Você já veio ao Brasil antes, mas nunca à Bahia, estado com a maior população afrobrasileira e a maior influência africana sobre a cultura. O que espera encontrar, ver, ouvir, comer?
Bem, minhas expectativas são para ouvir, aprender, ter experiências, me divertir e, especialmente, fazer fortes conexões musicais e pessoais. Só quero estar aberto a grande música e ao povo, quero conhecer a boa comida, mas me tornei vegetariano recentemente, então não sei se poderei comer todas as opções da cozinha baiana. Só espero poder sair da experiência mais sábio e inspirado.
Às vezes, músicos como você e, digamos, (o pianista) Brad Melhdau trazem influências de outros gêneros ao jazz. Melhdau gravou Radiohead e você, Eric Clapton e Led Zeppelin. Isso é muito incomum?
JR: Não acho que seja incomum. Sim, eu e Brad somos mais abertos a gravar e tocar músicas fora da tradição do jazz desde o início, mas acho que, hoje, a maioria dos músicos de jazz tem a mente bem aberta. O jazz é uma música aberta, é parte da própria tradição do jazz estar aberto a influências de fora. É muito natural trazer músicas que crescemos ouvindo, de dentro ou de fora do jazz.
É que as vezes o jazz parece meio fechado numa concha...
JR: Não acho que fica na concha. Os músicos de jazz... alguns são muito focados no âmago da coisa, na tradição da linguagem. Eu acho que isso é ótimo, eles fazem um ótimo trabalho. E todo músico deve buscar o que é bom, natural, verdadeiro e honesto para si. Se é natural para você trabalhar apenas com a tradição do jazz, é o que você deve fazer para criar música com paixão. Mas se assim como eu, é natural para você olher para fora do jazz em busca de inspiração, então é isso que você deve fazer.
Você já tocou com uma lista classe A, indo dos Rolling Stones a B.B. King, de Herbie Hancock a Stevie Wonder. Tem alguém com que gostaria de tocar mas ainda não teve chance?
JR: Me sinto tão abençoado, tão sortudo na minha carreira, já que pude trabalhar com tantos grandes músicos, tanto mestres como esses que você mencionou, quanto muitos outros dentro do jazz, como Charlie Haden, meu pai, Dewey Redman, Milt Jackson, Clark Terry, Herbie Hancock, Roy Hinds, Pat Metheny, McCoy Tyner, Chick Corea, todos eles me deram a honra. Além da benção de tocar com grandes músicos da minha própria geração, como Brad Melhdau, Christian McBride, Brian Blade, Greg Hutchinson, Larry Goldings, Kevin Hayes, a lista é enorme. É por isso que eu toco, acho que não teria me tornado músico se não tivesse tido essas oportunidades, eu devo tudo a eles: apoio, incentivo, influência. Mas sim, claro, adoraria tocar com (o pianista) Keith Jarret, apear de saber que nunca vai acontecer, mas devo dizer. Mas sou muito grato por todas as oportunidades que já tive.
O jazz é um gênero musical nascido e criado nos Estados Unidos. Mas é lícito dizer que hoje, se trata de música universal, como blues ou rock?
JR: Sim, com certeza, jazz é uma música que é americana, especificamente de origem afro americana, mas com certeza se tornou uma música do mundo. A primeira parte da história do jazz, eu acho, é provavelmente a que teve os músicos, mais influentes e importantes – e eram afroamericanos ou americanos –, no sentido de desenvolver a linguagem. Agora o jazz se tornou uma música mundial, você encontra músicos de jazz literalmente em cada esquina do globo, eu acho isso maravilhoso. Nesse estágio de evolução, o jazz é agora interativo, coletivo e abarca tudo o que pode, diferentes perspectivas, diferentes conceitos.
Hoje há grandes músicos de jazz que jamais pisaram em Nova York, Nova Orleans ou Chicago. Como você vê esse fenômeno de desterritorialização? O que há de bom e de ruim nisso?
JR: Acho que é ótimo, é música mundial, a informação musical viaja tão rápido, é uma revolução tecnologia que a nova geração sofreu. Você não precisa ir até Nova York para ouvir grandes bandas de jazz nova iorquinas, põe na tela da internet e um segundo e ouve. Sim, é uma globalização do jazz que se acelerou muito, eu acho maravilhoso. A internet acelerou tudo. Em geral, acho muito bom. Há mais informação musical acessível instantaneamente para mais músicos. O aspecto negativo... eu acho que (o jazz) é, em algum nivel, uma música do povo e das comunidades, e que deveria ter mais algum... sentido de conexão com o seu lugar, em um sentido físico. O jazz é a música da cidade, da vila, da vizinhança, as pessoas tocam e ouvem juntas em um local. Eu acho que com todos os avanços na tecnologia, que são maravilhosos e permitem a tráfego de informações, não podemos perder de vista a importância que o jazz tem na existência em espaços físicos, no sentido de agregar pessoas em comunidade, para tocar e ouvir. É importante preservar isso, mesmo no meio de todos os avanços tecnológicos. O excesso de informação também pode gerar uma perda de foco. Lembro que, quando estava crescendo, significava tanto comprar um disco na loja. Você pegava aquele disco, botava para tocar, tinha uma relação física com o disco e a música. E agora tem tanta música – e tudo linka a outra coisa. Então, acho mais difícil as pessoas ouvirem música com foco e atenção, a consequência é ter menos profundidade. Mas acho que os músicos mais sérios e dedicados sabem como usar as ferramentas tecnológicas a seu favor.
Recôncavo Jazz Festival: programação
Dia 23 de agosto (quinta-feira): Filarmônica Minerva Cachoeirana (BA), - Joshua Redman (EUA) & Orkestra Rumpilezz (BA).
Dia 24 de agosto (sexta-feira): Filarmônica Lyra Ceciliana (BA), Saravá Jazz Bahia Sexteto (BA), Esdra Neném Ferreira (MG)
Dia 25 de agosto, sábado: Filarmônica 25 de Junho, Mondicá Trio (BA), Retro_Visor (BA, foto de Solange Valadão), Suíte para os Orixás (MG)
Apresentações solo: Além dos shows na Praça, preste atenção nas apresentações de músicos de rua nas esquinas
Master classes: Os músicos Ricardo Cheib, Mauro Rodrigues e Esdra Neném Ferreira vão ministrar master classes na Sede da Lyra Ceciliana.
Veja mais detalhes no www.reconcavojazz.com.br
Entrevista publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde, no dia 16.08.2012
Discussões estéreis e politicamente corretas sobre o que é ou não boa música à parte (de preferência, bem longe), o importante mesmo é que, além de trazer boas atrações locais e nacionais, o festival promove um encontro que promete ser histórico, botando no mesmo palco o saxofonista norte-americano Joshua Redman (leia sua entrevista abaixo) com o orgulho da casa, a Orkestra Rumpilezz.
Além do festival, eles se apresentam dia 22 no TCA, em São Paulo (dias 25 e 26) e Belo Horizonte (28).
ENTREVISTA: JOSHUA REDMAN
Como surgiu a parceria com Letieres Leite e a Orkestra Rumpilezz? Já tinha ouvido falar deles? O que achou do som?
Joshua Redman (photo by Siebe van Ineveld): A colaboração foi ideia do meu primo, (o norte-americano) Eric Taller (da produtora Ginga P.). Honestamente, acho que ainda não tinha ouvido falar muito, até que Eric me deu um CD e me falou muito animado sobre eles e sua música. Fiquei interessado numa possível colaboração com eles em algum momento. Devo admitir que sou meio ignorante em relação a música brasileira, quer dizer, conheço a música de algumas das suas lendas, mas não sou tão versado assim. É triste dizer, mas é que gostaria de saber mais. E estou ansioso pela viagem para aprender sobre a música daí, em particular, a tradição baiana e a música brasileira em geral. Tudo que já ouvi, eu adorei então gostaria de aprender amais. Logo da primeira vez que ouvi o CD (da Orkestra Rumpilezz) eu adorei. Achei muito original, com todos aqueles sopros e tambores, sem a seção rítmica tradicional com baixo, piano, guitarra, etc. Achei incrível a forma com que Letieres conseguiu produzir tanto lirismo, tanta melodia e conteúdo harmônico apenas com sopros, estou realmente impressionado com esses ritmos poderosos, é incrivel, é uma música incrivelmente sofisticada. E olha que, quando ouvi pela primeira vez algumas faixas, eu não conseguia sequer distinguir o tempo em que eles estavam tocando. Mas só a forma sofisticada com que os ritmos se entrecruzam... Aquilo realmente me tocou e eu sinto ali uma conexão verdadeira com a tradição da música africana. Quero muito tocar com eles em vários niveis, mas especialmente pela educação rítmica que vou angariar.
Você já veio ao Brasil antes, mas nunca à Bahia, estado com a maior população afrobrasileira e a maior influência africana sobre a cultura. O que espera encontrar, ver, ouvir, comer?
Bem, minhas expectativas são para ouvir, aprender, ter experiências, me divertir e, especialmente, fazer fortes conexões musicais e pessoais. Só quero estar aberto a grande música e ao povo, quero conhecer a boa comida, mas me tornei vegetariano recentemente, então não sei se poderei comer todas as opções da cozinha baiana. Só espero poder sair da experiência mais sábio e inspirado.
Às vezes, músicos como você e, digamos, (o pianista) Brad Melhdau trazem influências de outros gêneros ao jazz. Melhdau gravou Radiohead e você, Eric Clapton e Led Zeppelin. Isso é muito incomum?
JR: Não acho que seja incomum. Sim, eu e Brad somos mais abertos a gravar e tocar músicas fora da tradição do jazz desde o início, mas acho que, hoje, a maioria dos músicos de jazz tem a mente bem aberta. O jazz é uma música aberta, é parte da própria tradição do jazz estar aberto a influências de fora. É muito natural trazer músicas que crescemos ouvindo, de dentro ou de fora do jazz.
É que as vezes o jazz parece meio fechado numa concha...
JR: Não acho que fica na concha. Os músicos de jazz... alguns são muito focados no âmago da coisa, na tradição da linguagem. Eu acho que isso é ótimo, eles fazem um ótimo trabalho. E todo músico deve buscar o que é bom, natural, verdadeiro e honesto para si. Se é natural para você trabalhar apenas com a tradição do jazz, é o que você deve fazer para criar música com paixão. Mas se assim como eu, é natural para você olher para fora do jazz em busca de inspiração, então é isso que você deve fazer.
Você já tocou com uma lista classe A, indo dos Rolling Stones a B.B. King, de Herbie Hancock a Stevie Wonder. Tem alguém com que gostaria de tocar mas ainda não teve chance?
JR: Me sinto tão abençoado, tão sortudo na minha carreira, já que pude trabalhar com tantos grandes músicos, tanto mestres como esses que você mencionou, quanto muitos outros dentro do jazz, como Charlie Haden, meu pai, Dewey Redman, Milt Jackson, Clark Terry, Herbie Hancock, Roy Hinds, Pat Metheny, McCoy Tyner, Chick Corea, todos eles me deram a honra. Além da benção de tocar com grandes músicos da minha própria geração, como Brad Melhdau, Christian McBride, Brian Blade, Greg Hutchinson, Larry Goldings, Kevin Hayes, a lista é enorme. É por isso que eu toco, acho que não teria me tornado músico se não tivesse tido essas oportunidades, eu devo tudo a eles: apoio, incentivo, influência. Mas sim, claro, adoraria tocar com (o pianista) Keith Jarret, apear de saber que nunca vai acontecer, mas devo dizer. Mas sou muito grato por todas as oportunidades que já tive.
O jazz é um gênero musical nascido e criado nos Estados Unidos. Mas é lícito dizer que hoje, se trata de música universal, como blues ou rock?
JR: Sim, com certeza, jazz é uma música que é americana, especificamente de origem afro americana, mas com certeza se tornou uma música do mundo. A primeira parte da história do jazz, eu acho, é provavelmente a que teve os músicos, mais influentes e importantes – e eram afroamericanos ou americanos –, no sentido de desenvolver a linguagem. Agora o jazz se tornou uma música mundial, você encontra músicos de jazz literalmente em cada esquina do globo, eu acho isso maravilhoso. Nesse estágio de evolução, o jazz é agora interativo, coletivo e abarca tudo o que pode, diferentes perspectivas, diferentes conceitos.
Hoje há grandes músicos de jazz que jamais pisaram em Nova York, Nova Orleans ou Chicago. Como você vê esse fenômeno de desterritorialização? O que há de bom e de ruim nisso?
JR: Acho que é ótimo, é música mundial, a informação musical viaja tão rápido, é uma revolução tecnologia que a nova geração sofreu. Você não precisa ir até Nova York para ouvir grandes bandas de jazz nova iorquinas, põe na tela da internet e um segundo e ouve. Sim, é uma globalização do jazz que se acelerou muito, eu acho maravilhoso. A internet acelerou tudo. Em geral, acho muito bom. Há mais informação musical acessível instantaneamente para mais músicos. O aspecto negativo... eu acho que (o jazz) é, em algum nivel, uma música do povo e das comunidades, e que deveria ter mais algum... sentido de conexão com o seu lugar, em um sentido físico. O jazz é a música da cidade, da vila, da vizinhança, as pessoas tocam e ouvem juntas em um local. Eu acho que com todos os avanços na tecnologia, que são maravilhosos e permitem a tráfego de informações, não podemos perder de vista a importância que o jazz tem na existência em espaços físicos, no sentido de agregar pessoas em comunidade, para tocar e ouvir. É importante preservar isso, mesmo no meio de todos os avanços tecnológicos. O excesso de informação também pode gerar uma perda de foco. Lembro que, quando estava crescendo, significava tanto comprar um disco na loja. Você pegava aquele disco, botava para tocar, tinha uma relação física com o disco e a música. E agora tem tanta música – e tudo linka a outra coisa. Então, acho mais difícil as pessoas ouvirem música com foco e atenção, a consequência é ter menos profundidade. Mas acho que os músicos mais sérios e dedicados sabem como usar as ferramentas tecnológicas a seu favor.
Recôncavo Jazz Festival: programação
Dia 23 de agosto (quinta-feira): Filarmônica Minerva Cachoeirana (BA), - Joshua Redman (EUA) & Orkestra Rumpilezz (BA).
Dia 24 de agosto (sexta-feira): Filarmônica Lyra Ceciliana (BA), Saravá Jazz Bahia Sexteto (BA), Esdra Neném Ferreira (MG)
Dia 25 de agosto, sábado: Filarmônica 25 de Junho, Mondicá Trio (BA), Retro_Visor (BA, foto de Solange Valadão), Suíte para os Orixás (MG)
Apresentações solo: Além dos shows na Praça, preste atenção nas apresentações de músicos de rua nas esquinas
Master classes: Os músicos Ricardo Cheib, Mauro Rodrigues e Esdra Neném Ferreira vão ministrar master classes na Sede da Lyra Ceciliana.
Veja mais detalhes no www.reconcavojazz.com.br
Entrevista publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde, no dia 16.08.2012
quinta-feira, agosto 16, 2012
DOUTOR JOÃO & A POÇÃO ANTI-MEDIOCRIDADE
Nova Orleans é aqui – ou qualquer lugar em que ouvidos felizardos ouçam Locked Down (recém-lançado no Brasil), o novo e espetacular álbum do xamã, macumbeiro vudu, ex-cafetão, ex-viciado e veterano gênio da música, Dr. John (na foto de Lisa Houlgrave).
Para que fique claro logo de início: excetuando-se a remota possibilidade de um retorno dos Beatles (ou do Led Zeppelin), será este o disco a encabeçar as mais confiáveis listas de “Melhores Álbuns de 2012”.
Razões para isto não lhe faltam. Na ativa desde o final dos anos 1950, Malcolm John “Mac” Rebennack, Jr., o Dr. John, é criminosamente pouco conhecido no Brasil, mas na sua quebrada – o calorento e colorido sul dos Estados Unidos – é adorado e reconhecido como uma referência.
Sua música reflete como poucas a riqueza cultural daquela região e pode ser comparada a um prato tradicional da culinária cajun (descendentes dos colonizadores franceses da Louisianna), o gumbo: um cozidão picante que leva carnes, mariscos, legumes, arroz e embutidos.
No seu trabalho, o bom Doutor mistura, com a habilidade de quem conhece muito bem o seu quintal, elementos de blues, jazz, big bands, zydeco (som típico de N.O, de forte influência francesa), boogie woogie e rock.
Aos 13 anos, foi pupilo do lendário Professor Longhair (1918-1980), um dos pianistas que formataram o som de Nova Orleans.
Logo estava atuando como pianista e guitarrista, acompanhando ao vivo e em estúdio diversos artistas locais, como Frankie Ford, Joe Tex e o próprio Longhair.
A vida louca de Nova Orleans, contudo, era demais para alguém tão jovem e talentoso. Logo, estava injetando heroína na veia (vício que só largou em 1989) e pior, traficando.
Não parou por aí: chegou mesmo a gerenciar um bordel e até uma clínica de abortos ilegais. Destruiu bares em brigas, trocou tiro com a polícia e foi em cana.
Em 1965, saiu da cadeia e deixou a cidade em direção a Los Angeles.
E foi lá que Mac Rebennack, Jr. se tornou Dr. John (ao lado, na foto de Jim Marshall), persona que ele criou inspirado nos antigos medicine shows, charlatões fantasiados de índio que percorriam os Estados Unidos do século 19, início do século 20, vendendo frascos de remédios do tipo “cura-tudo”.
Após uma estreia arrasadora em 1968 com o clássico álbum Dr. John, Night Tripper: Gris Gris, engatou uma carreira estável, inluente e de relativo sucesso, com mais de duas dezenas de álbuns lançados desde então.
Megagumbo gourmet
O que nos traz de volta à 2012, quando o bom Doutor oferece aos nossos ouvidos mais um frasco de maravilhas curativas para a mediocridade reinante: Locked Down é uma sequência de dez socos direto no estômago à base de jams de funk, blues, jazz e rock, temperados com o afrobeat da hora e encimados por letras furiosas contra o governo, Wall Street, Ku Klux Klan, CIA e outras instâncias venenosas, entoadas na sua voz característica: anasalada e surrada.
Mais: tudo em Locked Down soa urgente, vibrante, agora. Aí entra a mão do produtor, ninguém menos que o jovem Dan Auerbach, guitarrista e vocalista de uma das melhores – senão a melhor – banda da atualidade, The Black Keys.
Aqui, Auerbach mostra todos os truques que aprendeu com Danger Mouse (produtor dos últimos três CDs dos BK) para fazer com que o som eminentemente vintage de Dr. John soe atual.
(Ao lado, Auerbach, o guitarrista Brian Olive e Dr, John no estúdio em Nashville, foto de Alysse Gafkjen).
A principal característica que fãs de longa data do Doutor vão notar aqui é que o homem deixou o piano – seu instrumento de preferência – de lado para rechear suas composições com os acordes psicodélicos providos por teclados Hammond e órgãos Fender Rhodes e Farfisa.
Adicione-se a isso as guitarras funky de Auerbach e Brian Olive, baixo acústico, flautas, sax barítono, percussões e os vocais das McCrary Sisters e o megagumbo do Doutor João está pronto para ser degustado.
Da entrada com Locked Down à sobremesa, com God’s Sure Good, um repasto para gourmet nenhum botar defeito.
Locked Down / Dr. John / Nonesuch - Warner / R$ 34,90 / www.nonesuch.com / www.nitetripper.com
Para que fique claro logo de início: excetuando-se a remota possibilidade de um retorno dos Beatles (ou do Led Zeppelin), será este o disco a encabeçar as mais confiáveis listas de “Melhores Álbuns de 2012”.
Razões para isto não lhe faltam. Na ativa desde o final dos anos 1950, Malcolm John “Mac” Rebennack, Jr., o Dr. John, é criminosamente pouco conhecido no Brasil, mas na sua quebrada – o calorento e colorido sul dos Estados Unidos – é adorado e reconhecido como uma referência.
Sua música reflete como poucas a riqueza cultural daquela região e pode ser comparada a um prato tradicional da culinária cajun (descendentes dos colonizadores franceses da Louisianna), o gumbo: um cozidão picante que leva carnes, mariscos, legumes, arroz e embutidos.
No seu trabalho, o bom Doutor mistura, com a habilidade de quem conhece muito bem o seu quintal, elementos de blues, jazz, big bands, zydeco (som típico de N.O, de forte influência francesa), boogie woogie e rock.
Aos 13 anos, foi pupilo do lendário Professor Longhair (1918-1980), um dos pianistas que formataram o som de Nova Orleans.
Logo estava atuando como pianista e guitarrista, acompanhando ao vivo e em estúdio diversos artistas locais, como Frankie Ford, Joe Tex e o próprio Longhair.
A vida louca de Nova Orleans, contudo, era demais para alguém tão jovem e talentoso. Logo, estava injetando heroína na veia (vício que só largou em 1989) e pior, traficando.
Não parou por aí: chegou mesmo a gerenciar um bordel e até uma clínica de abortos ilegais. Destruiu bares em brigas, trocou tiro com a polícia e foi em cana.
Em 1965, saiu da cadeia e deixou a cidade em direção a Los Angeles.
E foi lá que Mac Rebennack, Jr. se tornou Dr. John (ao lado, na foto de Jim Marshall), persona que ele criou inspirado nos antigos medicine shows, charlatões fantasiados de índio que percorriam os Estados Unidos do século 19, início do século 20, vendendo frascos de remédios do tipo “cura-tudo”.
Após uma estreia arrasadora em 1968 com o clássico álbum Dr. John, Night Tripper: Gris Gris, engatou uma carreira estável, inluente e de relativo sucesso, com mais de duas dezenas de álbuns lançados desde então.
Megagumbo gourmet
O que nos traz de volta à 2012, quando o bom Doutor oferece aos nossos ouvidos mais um frasco de maravilhas curativas para a mediocridade reinante: Locked Down é uma sequência de dez socos direto no estômago à base de jams de funk, blues, jazz e rock, temperados com o afrobeat da hora e encimados por letras furiosas contra o governo, Wall Street, Ku Klux Klan, CIA e outras instâncias venenosas, entoadas na sua voz característica: anasalada e surrada.
Mais: tudo em Locked Down soa urgente, vibrante, agora. Aí entra a mão do produtor, ninguém menos que o jovem Dan Auerbach, guitarrista e vocalista de uma das melhores – senão a melhor – banda da atualidade, The Black Keys.
Aqui, Auerbach mostra todos os truques que aprendeu com Danger Mouse (produtor dos últimos três CDs dos BK) para fazer com que o som eminentemente vintage de Dr. John soe atual.
(Ao lado, Auerbach, o guitarrista Brian Olive e Dr, John no estúdio em Nashville, foto de Alysse Gafkjen).
A principal característica que fãs de longa data do Doutor vão notar aqui é que o homem deixou o piano – seu instrumento de preferência – de lado para rechear suas composições com os acordes psicodélicos providos por teclados Hammond e órgãos Fender Rhodes e Farfisa.
Adicione-se a isso as guitarras funky de Auerbach e Brian Olive, baixo acústico, flautas, sax barítono, percussões e os vocais das McCrary Sisters e o megagumbo do Doutor João está pronto para ser degustado.
Da entrada com Locked Down à sobremesa, com God’s Sure Good, um repasto para gourmet nenhum botar defeito.
Locked Down / Dr. John / Nonesuch - Warner / R$ 34,90 / www.nonesuch.com / www.nitetripper.com
terça-feira, agosto 14, 2012
ZONA HARMÔNICA RESGATA TRIOS DE GAITA, FORMAÇÃO ESQUECIDA NA MÚSICA BRASILEIRA
Diz o senso comum que “brasileiro não tem memória”.
Como todo clichê tem seu fundo de verdade – ou não seria clichê – aqui vai mais um dado brasileiro perdido no tempo, cortesia do gaitista e pesquisador baiano Luiz Rocha: “Entre os anos 1930 e 60, o Brasil teve vários trios de gaitistas, de relativo sucesso”.
Imerso nas suas pesquisas e nos encontros / workshops que costuma promover, o Papo de Gaita, Luiz acabou formando ele mesmo um trio naqueles moldes, o Zona Harmônica (na foto de Tainã El-Bachá), que atualmente cumpre temporada todas as sextas-feiras de agosto no Visca Sabor & Arte.
Formado por Luiz (gaita diatônica), Breno Pádua (cromática e diatônica) e Ramon El-Bachá (gaita baixo), mais o percussionista Ricardo Hardmann, os músicos mandam ver versões de standards como Summertime (G. Gershwin) e Tequila (The Champs), além de hits radiofônicos mais recentes, como Smooth (Santana) e autorais, como Medo de Chutar Alguém (composta pelo trio).
“Os trios antigos usavam uma (gaita) cromática, uma gaita baixo e uma de acordes, mas nós usamos basicamente as ditônicas, que são as comumente usadas no bues”, conta.
“A ironia é que não temos blues no repertório”, ri Luiz. “Buscamos temas consagrados de diversos gêneros, músicas conhecidas por ouvintes de vários perfis. E aí as transportamos para estética da gaita”, explica.
Gaita made in China
O Zona Harmônica em si é fruto dos Papos de Gaita. “Uma vez mostrei no encontro uma gaita baixo que me foi emprestada por Léo Barros, ex-integrante do único trio de gaita dos anos 60 em Salvador, o Harmônica Trio. Ramon, que é médico e fã de gaita, se interessou. Algum tempo depois, ele viajou à China, para uma convenção, e trouxe uma gaita baixo de lá. Foi o que faltava para formarmos o trio. Um negócio da China, literalmente”, diverte-se Luiz.
Embalado, o grupo foi aprovado em um edital setorial de música da Fundação Cultural do Estado (Funceb).
“Ainda não fechamos as datas, mas entre outubro e dezembro, estaremos rodando por algumas cidades do interior, com o workshop Papo de Gaita e o show do Zona Harmônica”, comemora Luiz.
Zona Harmônica / shows às sextas-feiras de agosto, 21 horas / Visca Sabor & Arte (R. Guedes Cabral, 123, Rio Vermelho) R$ 15
Veja: www.papodegaita.com
NUETAS:
Luiz Natureza vem aí
Conhece Luiz Natureza? Não se envergonhe. Um dos melhores e mais bem guardados segredos da música baiana está prestes a ser revelado. Quem não quiser esperar o álbum que o produtor andré t. está concluindo, deve comparecer ao show que esse simpático senhor, fã de Roberto Carlos e ska, faz nesta sexta-feira, no Dubliner’s Irish Pub. 22 horas, R$ 10. Depois não digam etc e tal...
Música para pimpolhos
O senhor ou a senhora dona de casa tem filhos? Faça-lhes um favor e leve-os ao concerto da Orquestra Castro Alves (segunda a sair do Projeto Neojibá), dentro do projeto Música para Brincar, na Concha Acústica do TCA. Regência do equatoriano David Calderón e participação do jovem Yuri Azevedo, aquele menino que ganhou um prêmio em Campos do Jordão. Domingo, 17 horas, R$ 10 e R$ 5
Como todo clichê tem seu fundo de verdade – ou não seria clichê – aqui vai mais um dado brasileiro perdido no tempo, cortesia do gaitista e pesquisador baiano Luiz Rocha: “Entre os anos 1930 e 60, o Brasil teve vários trios de gaitistas, de relativo sucesso”.
Imerso nas suas pesquisas e nos encontros / workshops que costuma promover, o Papo de Gaita, Luiz acabou formando ele mesmo um trio naqueles moldes, o Zona Harmônica (na foto de Tainã El-Bachá), que atualmente cumpre temporada todas as sextas-feiras de agosto no Visca Sabor & Arte.
Formado por Luiz (gaita diatônica), Breno Pádua (cromática e diatônica) e Ramon El-Bachá (gaita baixo), mais o percussionista Ricardo Hardmann, os músicos mandam ver versões de standards como Summertime (G. Gershwin) e Tequila (The Champs), além de hits radiofônicos mais recentes, como Smooth (Santana) e autorais, como Medo de Chutar Alguém (composta pelo trio).
“Os trios antigos usavam uma (gaita) cromática, uma gaita baixo e uma de acordes, mas nós usamos basicamente as ditônicas, que são as comumente usadas no bues”, conta.
“A ironia é que não temos blues no repertório”, ri Luiz. “Buscamos temas consagrados de diversos gêneros, músicas conhecidas por ouvintes de vários perfis. E aí as transportamos para estética da gaita”, explica.
Gaita made in China
O Zona Harmônica em si é fruto dos Papos de Gaita. “Uma vez mostrei no encontro uma gaita baixo que me foi emprestada por Léo Barros, ex-integrante do único trio de gaita dos anos 60 em Salvador, o Harmônica Trio. Ramon, que é médico e fã de gaita, se interessou. Algum tempo depois, ele viajou à China, para uma convenção, e trouxe uma gaita baixo de lá. Foi o que faltava para formarmos o trio. Um negócio da China, literalmente”, diverte-se Luiz.
Embalado, o grupo foi aprovado em um edital setorial de música da Fundação Cultural do Estado (Funceb).
“Ainda não fechamos as datas, mas entre outubro e dezembro, estaremos rodando por algumas cidades do interior, com o workshop Papo de Gaita e o show do Zona Harmônica”, comemora Luiz.
Zona Harmônica / shows às sextas-feiras de agosto, 21 horas / Visca Sabor & Arte (R. Guedes Cabral, 123, Rio Vermelho) R$ 15
Veja: www.papodegaita.com
NUETAS:
Luiz Natureza vem aí
Conhece Luiz Natureza? Não se envergonhe. Um dos melhores e mais bem guardados segredos da música baiana está prestes a ser revelado. Quem não quiser esperar o álbum que o produtor andré t. está concluindo, deve comparecer ao show que esse simpático senhor, fã de Roberto Carlos e ska, faz nesta sexta-feira, no Dubliner’s Irish Pub. 22 horas, R$ 10. Depois não digam etc e tal...
Música para pimpolhos
O senhor ou a senhora dona de casa tem filhos? Faça-lhes um favor e leve-os ao concerto da Orquestra Castro Alves (segunda a sair do Projeto Neojibá), dentro do projeto Música para Brincar, na Concha Acústica do TCA. Regência do equatoriano David Calderón e participação do jovem Yuri Azevedo, aquele menino que ganhou um prêmio em Campos do Jordão. Domingo, 17 horas, R$ 10 e R$ 5
quinta-feira, agosto 09, 2012
ASTROS NO ZÊNITE CRIATIVO
Que mané Roswel, que nada.
Foi em Londres, há exatos 40 anos, que os homens que vieram do espaço sideral caíram na Terra.
Ziggy Stardust, o líder dos extraterrestres denominados Aranhas de Marte, não veio pedir a ninguém que o levassem ao “nosso” líder.
Ziggy, na verdade, veio salvar a Terra, que se acabaria dentro de cinco anos.
É sério, o cara na televisão até chorou quando deu a notícia. Acompanhado de sua banda (os Aranhas), Ziggy caiu na estrada e levou a todos a mensagem de amor e união que salvaria o planeta.
Tragicamente, Ziggy caiu nas inúmeras tentações que cercam os rock stars, entrou em depressão e acabou por cometer suicídio, tornando-se o Rock ‘n’ Roll Suicide definitivo.
Essa é – mais ou menos – a narrativa completa de um dos álbuns mais geniais e influentes da história do rock: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, do astro inglês David Bowie (foto: Brian Ward).
Lançado originalmente em 6 de junho de 1972, uma nova versão remasterizada acaba de chegar às lojas brasileiras – infelizmente, sem as várias faixas extras que abrilhantaram relançamentos anteriores, como a versão Sound + Vision, de 1990.
Mas nada que diminua o valor da obra, que se sustenta – e como! – por si só, claro.
Além de, finalmente, catapultar Bowie ao estrelato mundial – o homem já vinha tentando estourar há, pelo menos, uns seis anos antes disso – Ziggy Stardust garantiu ao seu criador um posto definitivo no panteão dos grandes gênios do rock, ombro a ombro com os Beatles, Stones, Hendrix etc.
Fatores diversos
Quando um avião cai, os especialistas sempre dizem que não foi por causa de um único fator, mas vários, que se acumularam e levaram a tragédia.
Da mesma forma, nunca é por causa de apenas uma razão que uma obra de arte se destaca sobre todas as outras.
Ziggy Stardust é presença certa em qualquer lista de melhores álbuns de todos os tempos principalmente por que conjugou sofisticação conceitual e lírica com acessibilidade.
Ou seja: em que pesem suas elaboradíssimas letras, composições e arranjos, tudo isso junto parece falar diretamente com cada ouvinte, sem que este precise fazer grandes esforços para entender, para penetrar na obra.
Criado pleno auge da febre do chamado “álbum conceitual” – terreno restrito a dinossauros progressivos como Yes, Genesis e King Crimson – Ziggy conseguiu contar sua história sem aborrecer ninguém.
Sem contar a banda d'Os Aranhas de Marte, uma coisa realmente de outro mundo, com o genial guitarrista Mick Ronson, Trevor Bolder (baixo) e Mick Woodmansey (bateria).
O resultado é um sentido de maravilhamento que toma o ouvinte faixa após faixa, da abertura desesperada de Five Years (o mundo vai acabar!) ao gran finale emocionante de Rock ‘n’ Roll Suicide, Ziggy Stardust realmente nos carrega para outros mundos – e sem sair do lugar.
Que mané Roswell.
Se Ziggy Stardust foi o disco que catapultou David Bowie ao estrelato, pode-se dizer que Mama Said fez o mesmo pelo seu autor, o cantor norte-americano Lenny Kravitz (foto: James Calderaro).
A principal diferença entre os dois – além da geração – é que, ao contrário de Ziggy, Mama nada tinha de original.
Tudo neste disco – tudo mesmo – foi pescado por Kravitz de outros discos e músicos dos anos 1970, de Jimi Hendrix aos Beatles, passando por nomes menos óbvios, como o soulman Curtis Mayfield (as faixas It Ain’t Over ‘Til It’s Over – o hit do disco – e What Goes Around Comes Around são descaradamente Mayfield) e as bandas Procol Harum (do hit A Whiter Shade of Pale) e Mother's Finest.
O que não quer dizer que Mama Said não tenha seus méritos. Assim como seus contemporâneos da banda Black Crowes, Kravitz conhece muito bem suas fontes e como utiliza-las.
Eminentemente um LP de baladas, Kravitz acertou ao convidar Slash, o icônico guitarrista do Guns ‘n’ Roses (então no auge), para solar em Always on The Run, um dos dois ou três hard rocks do álbum.
Recheado, o CD duplo comemorativo traz lados B de singles e muitas faixas ao vivo gravadas na época.
Mama Said - 21st Anniversary Deluxe Edition / Lenny Kravitz / Virgin - EMI / R$ 44,90 (álbum duplo)
Foi em Londres, há exatos 40 anos, que os homens que vieram do espaço sideral caíram na Terra.
Ziggy Stardust, o líder dos extraterrestres denominados Aranhas de Marte, não veio pedir a ninguém que o levassem ao “nosso” líder.
Ziggy, na verdade, veio salvar a Terra, que se acabaria dentro de cinco anos.
É sério, o cara na televisão até chorou quando deu a notícia. Acompanhado de sua banda (os Aranhas), Ziggy caiu na estrada e levou a todos a mensagem de amor e união que salvaria o planeta.
Tragicamente, Ziggy caiu nas inúmeras tentações que cercam os rock stars, entrou em depressão e acabou por cometer suicídio, tornando-se o Rock ‘n’ Roll Suicide definitivo.
Essa é – mais ou menos – a narrativa completa de um dos álbuns mais geniais e influentes da história do rock: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, do astro inglês David Bowie (foto: Brian Ward).
Lançado originalmente em 6 de junho de 1972, uma nova versão remasterizada acaba de chegar às lojas brasileiras – infelizmente, sem as várias faixas extras que abrilhantaram relançamentos anteriores, como a versão Sound + Vision, de 1990.
Mas nada que diminua o valor da obra, que se sustenta – e como! – por si só, claro.
Além de, finalmente, catapultar Bowie ao estrelato mundial – o homem já vinha tentando estourar há, pelo menos, uns seis anos antes disso – Ziggy Stardust garantiu ao seu criador um posto definitivo no panteão dos grandes gênios do rock, ombro a ombro com os Beatles, Stones, Hendrix etc.
Fatores diversos
Quando um avião cai, os especialistas sempre dizem que não foi por causa de um único fator, mas vários, que se acumularam e levaram a tragédia.
Da mesma forma, nunca é por causa de apenas uma razão que uma obra de arte se destaca sobre todas as outras.
Ziggy Stardust é presença certa em qualquer lista de melhores álbuns de todos os tempos principalmente por que conjugou sofisticação conceitual e lírica com acessibilidade.
Ou seja: em que pesem suas elaboradíssimas letras, composições e arranjos, tudo isso junto parece falar diretamente com cada ouvinte, sem que este precise fazer grandes esforços para entender, para penetrar na obra.
Criado pleno auge da febre do chamado “álbum conceitual” – terreno restrito a dinossauros progressivos como Yes, Genesis e King Crimson – Ziggy conseguiu contar sua história sem aborrecer ninguém.
Sem contar a banda d'Os Aranhas de Marte, uma coisa realmente de outro mundo, com o genial guitarrista Mick Ronson, Trevor Bolder (baixo) e Mick Woodmansey (bateria).
O resultado é um sentido de maravilhamento que toma o ouvinte faixa após faixa, da abertura desesperada de Five Years (o mundo vai acabar!) ao gran finale emocionante de Rock ‘n’ Roll Suicide, Ziggy Stardust realmente nos carrega para outros mundos – e sem sair do lugar.
Que mané Roswell.
Habilidoso na pilhagem musical, Kravitz estourou com Mama Said
Se Ziggy Stardust foi o disco que catapultou David Bowie ao estrelato, pode-se dizer que Mama Said fez o mesmo pelo seu autor, o cantor norte-americano Lenny Kravitz (foto: James Calderaro).
A principal diferença entre os dois – além da geração – é que, ao contrário de Ziggy, Mama nada tinha de original.
Tudo neste disco – tudo mesmo – foi pescado por Kravitz de outros discos e músicos dos anos 1970, de Jimi Hendrix aos Beatles, passando por nomes menos óbvios, como o soulman Curtis Mayfield (as faixas It Ain’t Over ‘Til It’s Over – o hit do disco – e What Goes Around Comes Around são descaradamente Mayfield) e as bandas Procol Harum (do hit A Whiter Shade of Pale) e Mother's Finest.
O que não quer dizer que Mama Said não tenha seus méritos. Assim como seus contemporâneos da banda Black Crowes, Kravitz conhece muito bem suas fontes e como utiliza-las.
Eminentemente um LP de baladas, Kravitz acertou ao convidar Slash, o icônico guitarrista do Guns ‘n’ Roses (então no auge), para solar em Always on The Run, um dos dois ou três hard rocks do álbum.
Recheado, o CD duplo comemorativo traz lados B de singles e muitas faixas ao vivo gravadas na época.
Mama Said - 21st Anniversary Deluxe Edition / Lenny Kravitz / Virgin - EMI / R$ 44,90 (álbum duplo)
segunda-feira, agosto 06, 2012
MICRO-RESENHAS POR QUE SIM
Eletrobardo inspirado
O ex-Screaming Trees Mark Lanegan, bardo da voz cavernosa, dá leve guinada aos sons eletrônicos neste belo novo álbum. Ouça: Harborview Hospital, Quiver Syndrome (a mais rock), Leviathan e Ode To Sad Disco (electro esvazia-pistas). Entre os melhores de 2012. Mark Lanegan Band / Blues Funeral / 4AD - Lab 344 / R$ 29,90
Nada contra, mas o seguinte é este:
A primeira frase da primeira música do primeiro registro da banda baiana Tabuleiro Musiquim entrega o jogo logo de cara: “Menina da Gamboa entrou na roda pra sambar”. Compreende-se que a rapaziada é mais nova e talvez não tenha tido seus respectivos sacos cheios até a boca com esse tipo de poesia soteropolitana deslumbrada pra turista ver, tão em voga nos anos 1970 e 80. O que não se compreende é como ainda tem gente que acha graça nessa cidade e insiste em cantar suas belezas (?), mesmo no estado deplorável e semidestruído em que ela se encontra (fico quase tocado com tanta boa vontade desses meninos). Mas enfim, tem coisas que só a juventude faz por você. Rock tropical pós-Los Hermanos, rebobinando A Cor do Som e Caetano para uma juventude excessivamente conectada em comunidades virtuais e evidentemente desligada do mundo real. (Mas não levem a mal: os músicos em si mandam bem e ainda devem evoluir bastante. O que parece necessário é um certo endurecimento do discurso. Não é hora para poemas-exaltação. A hora é de cânticos de guerra, chacotas impiedosas aos canalhas e imbecis e chamados urgentes a razão para os que restam – opinião do blogueiro, claro...) Tabuleiro Musiquim / Idem / Independente / ouça, baixe: www.palcomp3.com/tabuleiromusiquim
Baixinha, sexy e bem-sucedida
A baixa estatura (1,52 m) não só não impediu que a australiana Kylie Minogue se tornasse uma das cantoras mais sexies da música pop, mas também uma das mais bem sucedidas. Aqui, os 21 sucessos dos seus 25 anos de carreira. Kylie Minogue / The Best of / EMI / R$ 49,90, R$ 34,90 (sem DVD)
HQs de oportunidade
Em clima de Olimpíadas, chega às bancas essa divertida seleção de HQs Disney em torno do tema – uma antiga tradição da Ed. Abril. São dez HQs, sendo quatro delas, inéditas. Entre os destaques, a épica Os Anéis Olímpicos, com Indiana Pateta e Mickey, e Esporte de Inverno, escrita e desenhada pelo mestre Carl Barks. Para crianças de 8 a 80 anos. Disney Olímpico / Vários autores / Abril/ 304 p. / R$ 15,95 / www.jovem.abril.com.br
Republiqueta revisitada
Costaguana é o país fictício criado pelo imortal Joseph Conrad (1857-1924), no seu livro Nostromo (1904). Aqui, o colombiano Vásquez recupera Costaguana em um premiado romance histórico envolvendo o próprio Conrad e a construção do Canal do Panamá. Elogiadíssimo pela crítica. História Secreta de Costaguana / Juan Gabriel Vásquez / L&PM / 264 p. / R$ 42 / www.lpm.com.br
No início, era o rádio
Numa galáxia distante, há muitos e muitos anos atrás, não havia MP3, internet – sequer existia televisão. Mas já existia música (e como), que era transmitida via rádio. Aqui, o grande Sérgio Cabral conta como o maxixe e o choro se espalharam no Brasil do início do século 20 e deram início a tudo. MPB na Era do Rádio / Sérgio Cabral / Cia. Editora Nacional / 144 p. / R$ 34,90 / www.editoranacional.com.br
"I'll be back"
Muito já se investigou (e se especulou) sobre a morte de Hitler e alguns dos principais oficiais nazistas. Nesta ficção histórica, Eric Frattini brinca com as possibilidades de sobrevivência do Führer com habilidade, envolvendo-o em uma intrincada trama para lançar o Quarto Reich e tocar o terror mundo afora. O Ouro de Mefisto / Eric Frattini / Jangada / 432 p. / R$ 45 / www.pensamento-cultrix.com.br
A fonoaudióloga canta
Dona de voz cristalina, a cantora e fonoaudióloga Beth Amin cometeu um belo álbum que ela mesma defino como “uma bruma de nostalgia, procura de beleza poética”. Quem procura, acha. Faixas: Eu (de Florbela Espanca), Ouvindo Você e outras. Beth Amin / Poesia à Toa / Canto Discos / R$ 25
Encaixotando Madonna
Outro dia, Madonna caiu no choro ao cantar Like a Virgin em um show. Não deve ser fácil se sentir “como uma virgem” quase aos 60. Nesta caixa, mais algumas razões para chorar. De alegria (True Blue, 1986), (Like A Prayer, ‘88) e de raiva (Confessions on a Dance Floor, 2005). Madonna / Original Album Series / Warner / R$ 67,90
Etérea e dançante
Grimes é a jovenzinha inglesa Claire Boucher, cuja música já foi definida como “Kraftwerk versus Enya”. “Gary Numan com Cocteau Twins” também define bem o que é a música ao mesmo tempo dançante e etérea da moça. Ouça antes que a gentalha transforme em algum hype idiota. Grimes / Visions / 4AD - Lab 344 / R$ 27,90.
Sempre Shakespeare
Uma das peças escritas no período final de sua vida, Péricles, de Shakespeare, é considerado uma espécie de pré-Rei Lear. Também tem a característica de se situar entre a dramaturgia e o romance, já que é narrado pelo bardo medieval John Gower. Um Shakespeare menos badalado, mas não menos genial. Péricles, príncipe de Tiro / William Shakespeare / Iluminuras / 176 p. / R$ 38 / www.iluminuras.com.br
Para leitores de fôlego...
Um dos luminares da literatura francesa, Stendhal (1783-1841) influenciou até o tijolão Guerra & Paz de Tolstói, com esta obra. Na volta da Batalha de Waterloo, jovem idealista se envolve em sequência de eventos que incluem intrigas políticas, brigas, romances, fugas, envenenamentos. Épico. A Cartuxa de Parma / Stendhal / Penguim Companhia / 616 p. / R$ 35 / www.companhiadasletras.com.br
A Odisseia é uma epopeia
A batalha contra o gigantesco Ciclope, a tentação do canto das sereias, a fúria de Poseidon – estas são apenas algumas das dificuldades que o herói Ulisses enfrenta nesta imortal obra escrita há milênios, adaptada para os quadrinhos com desenvoltura e plenamente acessível aos jovens de hoje. Odisseia / Homero, Christophe Lemoine e Miguel Lalor Imbiriba / L&PM / 60 p. / R$ 25 / www.lpm.com.br
"Mergulhar... / no azul piscina"....
Uma das HQs mais bonitas lançadas este ano, a premiada O Gosto do Cloro é uma clássica história “garoto encontra garota” – só que inteiramente ambientada em uma piscina. A leveza dos corpos na água se reflete na narrativa enxuta de poucas palavras e arte deslumbrante de Bastien Vivés - aqui nadando de braçada... O Gosto do Cloro / Bastien Vivès / Barba Negra / 144 p. / R$ 49,90 / www.editorabarbanegra.com.br
Mocinha da Nova Zelândia
Kimbra é aquela mocinha bonita que canta com o astro neozelandês Gotye no hit Somebody That I Used To Know. Na linha pop eletrônico, ela até que manda bem em seu primeiro disco. Ó bela superstar da Oceania, livrai-nos de Rihanna e Katy Perry, pelo amor de Jah? Kimbra / Vows / Warner / R$ 24,90
Não é ruim. Mas também não é bom...
CD novo de Marilyn Manson: nada que cause celeuma – até por que originalidade nunca foi seu forte. Graças a baixa expectativa, o “Antichrist Superstar” até que soa renovado. Destaques: Hey Cruel World e You’re So Vain, de Carly Simon. Marilyn Manson / Born Villain / Cooking Vynil - LAb 344 / R$ 32,90
Amado mestre
Um dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros, o português Jayme Cortez (1926- 1987) deixou, além de inúmeras HQs, vasta obra didática que são referência no ensino do desenho. Além deste título, foram relançados Vamos Aprender Desenho e Curso Prático de Desenho Artístico. Coisa de mestre. A Técnica do Desenho / Jayme Cortez / Criativo / 96 p. / R$ 29,90 / www.jaymecortez.blogspot.com.br/
Fundador
Primeiro volume da Trilogia USA, obra que consagrou o norte-americano (de origem portuguesa) John Dos Passos (1896-1970), Paralelo 42 é um painel dos Estados Unidos nos anos pré-1ª Guerra Mundial. O autor segue a trajetória de cinco personagens entre corporações corruptas e gangues. Clássico e grandioso. Paralelo 42 / John Dos Passos / Benvirá / 352 p. / R$ 44,90 / www.benvira.com.br
Estrelas do catálogo
Detentora de vasto catálogo erudito, a Decca Records solta todo ano uma coletânea, visando ouvintes novos ou ocasionais. Este CD duplo cumpre a tarefa a contento, misturando performers veteranos (Pavarotti, Karajan) e recentes (Bartolli, Dudamel, Netrebko). Vários Artistas / Classical 2012 / Decca - Universal Music / R$ 44,90
O ex-Screaming Trees Mark Lanegan, bardo da voz cavernosa, dá leve guinada aos sons eletrônicos neste belo novo álbum. Ouça: Harborview Hospital, Quiver Syndrome (a mais rock), Leviathan e Ode To Sad Disco (electro esvazia-pistas). Entre os melhores de 2012. Mark Lanegan Band / Blues Funeral / 4AD - Lab 344 / R$ 29,90
Nada contra, mas o seguinte é este:
A primeira frase da primeira música do primeiro registro da banda baiana Tabuleiro Musiquim entrega o jogo logo de cara: “Menina da Gamboa entrou na roda pra sambar”. Compreende-se que a rapaziada é mais nova e talvez não tenha tido seus respectivos sacos cheios até a boca com esse tipo de poesia soteropolitana deslumbrada pra turista ver, tão em voga nos anos 1970 e 80. O que não se compreende é como ainda tem gente que acha graça nessa cidade e insiste em cantar suas belezas (?), mesmo no estado deplorável e semidestruído em que ela se encontra (fico quase tocado com tanta boa vontade desses meninos). Mas enfim, tem coisas que só a juventude faz por você. Rock tropical pós-Los Hermanos, rebobinando A Cor do Som e Caetano para uma juventude excessivamente conectada em comunidades virtuais e evidentemente desligada do mundo real. (Mas não levem a mal: os músicos em si mandam bem e ainda devem evoluir bastante. O que parece necessário é um certo endurecimento do discurso. Não é hora para poemas-exaltação. A hora é de cânticos de guerra, chacotas impiedosas aos canalhas e imbecis e chamados urgentes a razão para os que restam – opinião do blogueiro, claro...) Tabuleiro Musiquim / Idem / Independente / ouça, baixe: www.palcomp3.com/tabuleiromusiquim
Baixinha, sexy e bem-sucedida
A baixa estatura (1,52 m) não só não impediu que a australiana Kylie Minogue se tornasse uma das cantoras mais sexies da música pop, mas também uma das mais bem sucedidas. Aqui, os 21 sucessos dos seus 25 anos de carreira. Kylie Minogue / The Best of / EMI / R$ 49,90, R$ 34,90 (sem DVD)
HQs de oportunidade
Em clima de Olimpíadas, chega às bancas essa divertida seleção de HQs Disney em torno do tema – uma antiga tradição da Ed. Abril. São dez HQs, sendo quatro delas, inéditas. Entre os destaques, a épica Os Anéis Olímpicos, com Indiana Pateta e Mickey, e Esporte de Inverno, escrita e desenhada pelo mestre Carl Barks. Para crianças de 8 a 80 anos. Disney Olímpico / Vários autores / Abril/ 304 p. / R$ 15,95 / www.jovem.abril.com.br
Republiqueta revisitada
Costaguana é o país fictício criado pelo imortal Joseph Conrad (1857-1924), no seu livro Nostromo (1904). Aqui, o colombiano Vásquez recupera Costaguana em um premiado romance histórico envolvendo o próprio Conrad e a construção do Canal do Panamá. Elogiadíssimo pela crítica. História Secreta de Costaguana / Juan Gabriel Vásquez / L&PM / 264 p. / R$ 42 / www.lpm.com.br
No início, era o rádio
Numa galáxia distante, há muitos e muitos anos atrás, não havia MP3, internet – sequer existia televisão. Mas já existia música (e como), que era transmitida via rádio. Aqui, o grande Sérgio Cabral conta como o maxixe e o choro se espalharam no Brasil do início do século 20 e deram início a tudo. MPB na Era do Rádio / Sérgio Cabral / Cia. Editora Nacional / 144 p. / R$ 34,90 / www.editoranacional.com.br
"I'll be back"
Muito já se investigou (e se especulou) sobre a morte de Hitler e alguns dos principais oficiais nazistas. Nesta ficção histórica, Eric Frattini brinca com as possibilidades de sobrevivência do Führer com habilidade, envolvendo-o em uma intrincada trama para lançar o Quarto Reich e tocar o terror mundo afora. O Ouro de Mefisto / Eric Frattini / Jangada / 432 p. / R$ 45 / www.pensamento-cultrix.com.br
A fonoaudióloga canta
Dona de voz cristalina, a cantora e fonoaudióloga Beth Amin cometeu um belo álbum que ela mesma defino como “uma bruma de nostalgia, procura de beleza poética”. Quem procura, acha. Faixas: Eu (de Florbela Espanca), Ouvindo Você e outras. Beth Amin / Poesia à Toa / Canto Discos / R$ 25
Encaixotando Madonna
Outro dia, Madonna caiu no choro ao cantar Like a Virgin em um show. Não deve ser fácil se sentir “como uma virgem” quase aos 60. Nesta caixa, mais algumas razões para chorar. De alegria (True Blue, 1986), (Like A Prayer, ‘88) e de raiva (Confessions on a Dance Floor, 2005). Madonna / Original Album Series / Warner / R$ 67,90
Etérea e dançante
Grimes é a jovenzinha inglesa Claire Boucher, cuja música já foi definida como “Kraftwerk versus Enya”. “Gary Numan com Cocteau Twins” também define bem o que é a música ao mesmo tempo dançante e etérea da moça. Ouça antes que a gentalha transforme em algum hype idiota. Grimes / Visions / 4AD - Lab 344 / R$ 27,90.
Sempre Shakespeare
Uma das peças escritas no período final de sua vida, Péricles, de Shakespeare, é considerado uma espécie de pré-Rei Lear. Também tem a característica de se situar entre a dramaturgia e o romance, já que é narrado pelo bardo medieval John Gower. Um Shakespeare menos badalado, mas não menos genial. Péricles, príncipe de Tiro / William Shakespeare / Iluminuras / 176 p. / R$ 38 / www.iluminuras.com.br
Para leitores de fôlego...
Um dos luminares da literatura francesa, Stendhal (1783-1841) influenciou até o tijolão Guerra & Paz de Tolstói, com esta obra. Na volta da Batalha de Waterloo, jovem idealista se envolve em sequência de eventos que incluem intrigas políticas, brigas, romances, fugas, envenenamentos. Épico. A Cartuxa de Parma / Stendhal / Penguim Companhia / 616 p. / R$ 35 / www.companhiadasletras.com.br
A Odisseia é uma epopeia
A batalha contra o gigantesco Ciclope, a tentação do canto das sereias, a fúria de Poseidon – estas são apenas algumas das dificuldades que o herói Ulisses enfrenta nesta imortal obra escrita há milênios, adaptada para os quadrinhos com desenvoltura e plenamente acessível aos jovens de hoje. Odisseia / Homero, Christophe Lemoine e Miguel Lalor Imbiriba / L&PM / 60 p. / R$ 25 / www.lpm.com.br
"Mergulhar... / no azul piscina"....
Uma das HQs mais bonitas lançadas este ano, a premiada O Gosto do Cloro é uma clássica história “garoto encontra garota” – só que inteiramente ambientada em uma piscina. A leveza dos corpos na água se reflete na narrativa enxuta de poucas palavras e arte deslumbrante de Bastien Vivés - aqui nadando de braçada... O Gosto do Cloro / Bastien Vivès / Barba Negra / 144 p. / R$ 49,90 / www.editorabarbanegra.com.br
Mocinha da Nova Zelândia
Kimbra é aquela mocinha bonita que canta com o astro neozelandês Gotye no hit Somebody That I Used To Know. Na linha pop eletrônico, ela até que manda bem em seu primeiro disco. Ó bela superstar da Oceania, livrai-nos de Rihanna e Katy Perry, pelo amor de Jah? Kimbra / Vows / Warner / R$ 24,90
Não é ruim. Mas também não é bom...
CD novo de Marilyn Manson: nada que cause celeuma – até por que originalidade nunca foi seu forte. Graças a baixa expectativa, o “Antichrist Superstar” até que soa renovado. Destaques: Hey Cruel World e You’re So Vain, de Carly Simon. Marilyn Manson / Born Villain / Cooking Vynil - LAb 344 / R$ 32,90
Amado mestre
Um dos maiores nomes dos quadrinhos brasileiros, o português Jayme Cortez (1926- 1987) deixou, além de inúmeras HQs, vasta obra didática que são referência no ensino do desenho. Além deste título, foram relançados Vamos Aprender Desenho e Curso Prático de Desenho Artístico. Coisa de mestre. A Técnica do Desenho / Jayme Cortez / Criativo / 96 p. / R$ 29,90 / www.jaymecortez.blogspot.com.br/
Fundador
Primeiro volume da Trilogia USA, obra que consagrou o norte-americano (de origem portuguesa) John Dos Passos (1896-1970), Paralelo 42 é um painel dos Estados Unidos nos anos pré-1ª Guerra Mundial. O autor segue a trajetória de cinco personagens entre corporações corruptas e gangues. Clássico e grandioso. Paralelo 42 / John Dos Passos / Benvirá / 352 p. / R$ 44,90 / www.benvira.com.br
Estrelas do catálogo
Detentora de vasto catálogo erudito, a Decca Records solta todo ano uma coletânea, visando ouvintes novos ou ocasionais. Este CD duplo cumpre a tarefa a contento, misturando performers veteranos (Pavarotti, Karajan) e recentes (Bartolli, Dudamel, Netrebko). Vários Artistas / Classical 2012 / Decca - Universal Music / R$ 44,90
quinta-feira, agosto 02, 2012
MICRO-RESENHAS PARA TOMAR FÔLEGO...
Indecisão artística
Surgida em meio à onda neosoul britânica, a cantora Estelle chega ao segundo álbum ainda sem uma “cara” definida: ela é só mais uma diva hip hop de butique (como em International Serious) ou uma real representante do R&B decente, como em Do My Thing ou Thank You? Decida-se, moça! Estelle / All of Me / Atlantic - Warner / R$ 29,90
Livro dois...
A Aleph, editora especializada em ficção científica, segue republicando, em nova tradução, a clássica saga Duna, de Frank Herbert. Neste segundo volume, se passaram 12 anos desde a ascensão de Paul Atreides ao trono de Arrakis. Com o império em expansão, os fremen levam sua guerra santa aos confins do universo. Messias de Duna / Frank Herbert / Aleph / 216 p. / R$ 39 / www.editoraaleph.com.br
Mestre da espionagem ainda em forma
Em férias, casal inglês conhece russo misterioso e concorda em atuar em seu favor como intermediário em acordo com o MI6 (serviço britânico de inteligência). Claro, isso é só o início da mais nova rede de intrigas internacionais tramada pelo mestre do gênero, John Le Carré. Bem elogiado pela crítica estrangeira. Nosso Fiel Traidor / John Le Carré / Record / 345 p. / R$ 49,90 / www.record.com.br
Max na manha
A brutalidade que tornou Max Cavallera famoso à frente do Sepultura continua intacta no oitavo (já?) álbum da sua banda, Soulfly. Enslaved não chega trazer inovações, mas carrega nas tintas sombrias em faixas matadoras como World Scum e Redemption of Man By God. Soulfly / Enslaved / Roadrunner - Warner / R$ 29,90
Mais para o mito, menos para a religião
Excelente HQ brasileira que parte da ficção histórica para recriar o ambiente da esotérica Paris do século XIX em que Kardec codificou o espiritismo. O grande mérito aqui, além dos desenhos belíssimos de Rodrigo Rosa, é a abordagem distante da religiosidade e mais próxima à mitologia. Kardec / C. Ferreira e R. Rosa / Barba Negra / 128 p. / R$ 34,90 / www.editorabarbanegra.com.br
Os dentuços do Del Toro
Parte final da Trilogia da Escuridão, Noite Eterna mostra como a humanidade perdeu a guerra contra os vampiros. Com os dentuços no poder, água, energia e televisão são restabelecidos para os humanos sobreviventes, nada mais que um criatório de alimento para os monstros. Noite eterna / Guillermo del Toro e Chuck Hogan / Rocco / 416 p. / R$ 44,50 / www.rocco.com.br
O náufrago definitivo
Perto de completar 300 anos de lançado (em 2019), este livro se tornou sinônimo de náufrago perdido em ilha deserta, tamanha sua força narrativa e mitológica. Inclui extensa (e excelente) introdução de John Richetti, professor da Universidade Columbia e especialista na obra de Defoe. Robinson Crusoé /Daniel Defoe / Penguin - Cia. das Letras / 408 p. / R$ 28 / www.companhiadasletras.com.br
"Imexíveis"
O que dizer de uma banda que atravessou três décadas sem jamais se vender – mesmo quando saiu da independência e assinou com a Warner? Neste CD duplo, a irretocável carreira do REM, do início ao fim. REM / Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage 1982 - 2011 / Warner / R$ 49,90
Lado A...
O The Cult foi (ainda é) uma grande banda mediana. Neste DVD, clipes de todas as suas fases: gótica (She Sells Sanctuary), hard rock (Love Removal Machine) e grunge (Star). Com muitos extras, é material completo, perfeito para fãs. The Cult / Pure: Anthology 1984 - 1995 / Lab 344 / R$ 37,90
...Lado B...
Lançada lá fora como uma caixa com seis CDs, Rare Cult chega ao Brasil resumido ao Best Of: um CD, 15 faixas. São sobras de estúdio, lados B de single e curiosidades. Entre o esquisito (Sea and Sky) e o arrebatador (Bleeding Heart Graffitti). Para os fãs. The Cult / Best of Rare Cult / Beggar’s Banquet - Lab 344 / R$ 27,90
O lado Bon da história
Documentário apócrifo (não tem um depoimento sequer dos membros da banda) sobre os anos iniciais do AC/DC, com o vocalista original Bon Scott. Bacana, mas nem tanto. Acompanha CD com bandas de terceira fazendo covers. AC/DC e vários artistas / History, Roots & Renditions (CD+DVD) / Music Brokers / R$ 47,90
A essa altura, já passou o hype
Sensação de 2011 nas raves e festivais alternativos mundo afora, o DJ californiano Skrillex é o nome de destaque do dubstep. Na real, nada que nomes como Prodigy ou Underworld já não tenham feito melhor, com 15 anos de antecedência. Skrillex / Bangarang EP / Warner / R$ 16,90
Growrl!
O quinteto metálico Lamb of God pode não demonstrar grande personalidade neste terceiro álbum, mas mantém o ataque digno da linha Pantera / Sepultura que o caracteriza. Velocidade, fúria e vocais rosnados para quem precisa. Lamb of God / Resolution / Roadrunner - Warner / R$ 34,90
Convertei-vos!
Figuraça, ativista do rock local, Irmão Carlos e sua banda O Catado largam coleção de funks de rachar o assoalho com percussões de lata e tiradas de categoria: “Sedução barata eu mato com o pé”. Irmão Carlos & O Catado / Agora é Agora, Depois é Depois / Big Bross / R$ 12 / Download: www.myspace.com/irmaocarloseocatado
Metal Fantasia
Os alemães do Blind Guardian, capazes de disparar milhões de notas por minuto e com predileção por temas como batalhas entre dragões, elfos e feiticeiros, comemoram 25 anos com esta coletânea dupla. Metal ortodoxo, só para apreciadores. Blind Guardian / Memories of a Time to Come / EMI / R$ 41,90
Acho chatão, mas há quem idolatre
Considerado pela Rolling Stone Brasil o melhor disco de 2008, Dear Science, da cultuada banda TV on The Radio, finalmente ganha edição nacional, via Lab 344. Pós-funks e esquizo-souls sobre crise econômica, falência moral e desespero. TV on The Radio / Dear Science / Lab 344 / R$ 29,90
Duo afinado
Surgida na onda trip hop dos anos 1990, o duo formado pela cantora Alison Goldfrapp e o músico Will Gregory rebobina os sucessos de uma carreira errática, porém legítima e de muito talento. Pérolas como Lovely Head, Believer e muitas outras merecem audição. Goldfrapp / The Singles / EMI / R$ 29,90
Um coelho e sua espada
Por trás de sua aparência inofensiva de coelho, Miyamoto Usagi traz a alma guerreira de um feroz samurai em jornada solitária pelo Japão medieval. A premiada HQ de Stan Sakai chega ao seu terceiro volume no Brasil. Sempre entre a vida e a morte, Usagi vive suas mais tocantes aventuras. Usagi Yojimbo: O Limiar da Vida e da Morte / Stan Sakai / Devir / 216 p. / R$ 32 / www.devir.com.br
O primeiro ladrão sedutor
O mito do ladrão sedutor e bem vestido nasceu com Arsène Lupin, o anti-herói francês criado por Maurice Leblanc (1864- 1941) como uma resposta do outro lado do Canal da Mancha ao detetive Sherlock Holmes. Aqui, os nove primeiros contos do personagem, incluindo seu encontro com o rival britânico, ou melhor, “Herlock Sholmes”. Arsène Lupin: Ladrão de Casaca / Maurice Leblanc / L&PM / 208 p. / R$ 16 / www.lpm.com.br
Páginas velozes
Jack Eisley nunca imaginou a enrascada em que ia se meter ao se deixar paquerar por uma bela loura no bar do aeroporto. Conversa vai, conversa vem, a criatura sussurra no ouvido de Jack: “Envenenei sua bebida”. Daí em diante começa mais uma alucinada trama policial de um dos melhores jovens autores americanos. A Loura / Duane Swierczynsky / Rocco / 256 p. / R$ 34,50 / www.rocco.com.br
Surgida em meio à onda neosoul britânica, a cantora Estelle chega ao segundo álbum ainda sem uma “cara” definida: ela é só mais uma diva hip hop de butique (como em International Serious) ou uma real representante do R&B decente, como em Do My Thing ou Thank You? Decida-se, moça! Estelle / All of Me / Atlantic - Warner / R$ 29,90
Livro dois...
A Aleph, editora especializada em ficção científica, segue republicando, em nova tradução, a clássica saga Duna, de Frank Herbert. Neste segundo volume, se passaram 12 anos desde a ascensão de Paul Atreides ao trono de Arrakis. Com o império em expansão, os fremen levam sua guerra santa aos confins do universo. Messias de Duna / Frank Herbert / Aleph / 216 p. / R$ 39 / www.editoraaleph.com.br
Mestre da espionagem ainda em forma
Em férias, casal inglês conhece russo misterioso e concorda em atuar em seu favor como intermediário em acordo com o MI6 (serviço britânico de inteligência). Claro, isso é só o início da mais nova rede de intrigas internacionais tramada pelo mestre do gênero, John Le Carré. Bem elogiado pela crítica estrangeira. Nosso Fiel Traidor / John Le Carré / Record / 345 p. / R$ 49,90 / www.record.com.br
Max na manha
A brutalidade que tornou Max Cavallera famoso à frente do Sepultura continua intacta no oitavo (já?) álbum da sua banda, Soulfly. Enslaved não chega trazer inovações, mas carrega nas tintas sombrias em faixas matadoras como World Scum e Redemption of Man By God. Soulfly / Enslaved / Roadrunner - Warner / R$ 29,90
Mais para o mito, menos para a religião
Excelente HQ brasileira que parte da ficção histórica para recriar o ambiente da esotérica Paris do século XIX em que Kardec codificou o espiritismo. O grande mérito aqui, além dos desenhos belíssimos de Rodrigo Rosa, é a abordagem distante da religiosidade e mais próxima à mitologia. Kardec / C. Ferreira e R. Rosa / Barba Negra / 128 p. / R$ 34,90 / www.editorabarbanegra.com.br
Os dentuços do Del Toro
Parte final da Trilogia da Escuridão, Noite Eterna mostra como a humanidade perdeu a guerra contra os vampiros. Com os dentuços no poder, água, energia e televisão são restabelecidos para os humanos sobreviventes, nada mais que um criatório de alimento para os monstros. Noite eterna / Guillermo del Toro e Chuck Hogan / Rocco / 416 p. / R$ 44,50 / www.rocco.com.br
O náufrago definitivo
Perto de completar 300 anos de lançado (em 2019), este livro se tornou sinônimo de náufrago perdido em ilha deserta, tamanha sua força narrativa e mitológica. Inclui extensa (e excelente) introdução de John Richetti, professor da Universidade Columbia e especialista na obra de Defoe. Robinson Crusoé /Daniel Defoe / Penguin - Cia. das Letras / 408 p. / R$ 28 / www.companhiadasletras.com.br
"Imexíveis"
O que dizer de uma banda que atravessou três décadas sem jamais se vender – mesmo quando saiu da independência e assinou com a Warner? Neste CD duplo, a irretocável carreira do REM, do início ao fim. REM / Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage 1982 - 2011 / Warner / R$ 49,90
Lado A...
O The Cult foi (ainda é) uma grande banda mediana. Neste DVD, clipes de todas as suas fases: gótica (She Sells Sanctuary), hard rock (Love Removal Machine) e grunge (Star). Com muitos extras, é material completo, perfeito para fãs. The Cult / Pure: Anthology 1984 - 1995 / Lab 344 / R$ 37,90
...Lado B...
Lançada lá fora como uma caixa com seis CDs, Rare Cult chega ao Brasil resumido ao Best Of: um CD, 15 faixas. São sobras de estúdio, lados B de single e curiosidades. Entre o esquisito (Sea and Sky) e o arrebatador (Bleeding Heart Graffitti). Para os fãs. The Cult / Best of Rare Cult / Beggar’s Banquet - Lab 344 / R$ 27,90
O lado Bon da história
Documentário apócrifo (não tem um depoimento sequer dos membros da banda) sobre os anos iniciais do AC/DC, com o vocalista original Bon Scott. Bacana, mas nem tanto. Acompanha CD com bandas de terceira fazendo covers. AC/DC e vários artistas / History, Roots & Renditions (CD+DVD) / Music Brokers / R$ 47,90
A essa altura, já passou o hype
Sensação de 2011 nas raves e festivais alternativos mundo afora, o DJ californiano Skrillex é o nome de destaque do dubstep. Na real, nada que nomes como Prodigy ou Underworld já não tenham feito melhor, com 15 anos de antecedência. Skrillex / Bangarang EP / Warner / R$ 16,90
Growrl!
O quinteto metálico Lamb of God pode não demonstrar grande personalidade neste terceiro álbum, mas mantém o ataque digno da linha Pantera / Sepultura que o caracteriza. Velocidade, fúria e vocais rosnados para quem precisa. Lamb of God / Resolution / Roadrunner - Warner / R$ 34,90
Convertei-vos!
Figuraça, ativista do rock local, Irmão Carlos e sua banda O Catado largam coleção de funks de rachar o assoalho com percussões de lata e tiradas de categoria: “Sedução barata eu mato com o pé”. Irmão Carlos & O Catado / Agora é Agora, Depois é Depois / Big Bross / R$ 12 / Download: www.myspace.com/irmaocarloseocatado
Metal Fantasia
Os alemães do Blind Guardian, capazes de disparar milhões de notas por minuto e com predileção por temas como batalhas entre dragões, elfos e feiticeiros, comemoram 25 anos com esta coletânea dupla. Metal ortodoxo, só para apreciadores. Blind Guardian / Memories of a Time to Come / EMI / R$ 41,90
Acho chatão, mas há quem idolatre
Considerado pela Rolling Stone Brasil o melhor disco de 2008, Dear Science, da cultuada banda TV on The Radio, finalmente ganha edição nacional, via Lab 344. Pós-funks e esquizo-souls sobre crise econômica, falência moral e desespero. TV on The Radio / Dear Science / Lab 344 / R$ 29,90
Duo afinado
Surgida na onda trip hop dos anos 1990, o duo formado pela cantora Alison Goldfrapp e o músico Will Gregory rebobina os sucessos de uma carreira errática, porém legítima e de muito talento. Pérolas como Lovely Head, Believer e muitas outras merecem audição. Goldfrapp / The Singles / EMI / R$ 29,90
Um coelho e sua espada
Por trás de sua aparência inofensiva de coelho, Miyamoto Usagi traz a alma guerreira de um feroz samurai em jornada solitária pelo Japão medieval. A premiada HQ de Stan Sakai chega ao seu terceiro volume no Brasil. Sempre entre a vida e a morte, Usagi vive suas mais tocantes aventuras. Usagi Yojimbo: O Limiar da Vida e da Morte / Stan Sakai / Devir / 216 p. / R$ 32 / www.devir.com.br
O primeiro ladrão sedutor
O mito do ladrão sedutor e bem vestido nasceu com Arsène Lupin, o anti-herói francês criado por Maurice Leblanc (1864- 1941) como uma resposta do outro lado do Canal da Mancha ao detetive Sherlock Holmes. Aqui, os nove primeiros contos do personagem, incluindo seu encontro com o rival britânico, ou melhor, “Herlock Sholmes”. Arsène Lupin: Ladrão de Casaca / Maurice Leblanc / L&PM / 208 p. / R$ 16 / www.lpm.com.br
Páginas velozes
Jack Eisley nunca imaginou a enrascada em que ia se meter ao se deixar paquerar por uma bela loura no bar do aeroporto. Conversa vai, conversa vem, a criatura sussurra no ouvido de Jack: “Envenenei sua bebida”. Daí em diante começa mais uma alucinada trama policial de um dos melhores jovens autores americanos. A Loura / Duane Swierczynsky / Rocco / 256 p. / R$ 34,50 / www.rocco.com.br