Cápsula do tempo
Múltiplas leituras podem ser feitas a partir do CD triplo de Messias (brincando de deus). Um tratado sobre a passagem do tempo. Uma declaração de independência absoluta (inclusive de sua banda). Um dedo médio estendido para a burrice generalizada. Uma carta de amor e ódio para a cidade em que vive. O resultado de uma crise de meia-idade. Seja lá qual for a leitura, trata-se de uma obra aberta e genial – e que só deverá ser reconhecida daqui a uns 100 anos. Este resenhista mesmo ainda não digeriu todos os três discos - só o primeiro. Que é bom do início ao fim, ouve-se de uma tacada só. Não a toa, o próprio show de Messias é calcado quase todo no primeiro CD. Obrigatório – e muito provavelmente, o lançamento independente mais importante de 2010. Agora, a pergunta que não quer calar é a seguinte: Messias, cadê a prometida edição em vinil, meu fio? Messias / escrever-me, envelhecer-me, esquecer-me / Digitália / R$ 20 / www.reverbnation.com/messias / http://messias.ning.com/
TFC na ativa
Uma das melhores e mais importantes bandas da geração shoegaze britânica, a escocesa Teenage Fanclub evoluiu e se tornou a coisa mais próxima do pop perfeito e melodioso que era a busca de bandas como Byrds, Beatles e Big Star. Em seu oitavo álbum de estúdio, Shadows, o “fã-clube adolescente“ crava mais algumas pérolas para o seu já brilhante repertório, como Baby Lee, When I Still Have Thee e Sometimes I Don‘t Need to Believe In Anything. Teenage Fanclub / Shadows / Importado / Merge Records
A dura vida de um gênio
Um dos maiores gênios do século 20, Charles Chaplin tem sua vida – e a de seus pais – dissecadas nessa biografia do psiquiatra Stephen Weissman. Entre outras revelações, ele conta sobre a breve passagem que sua mãe, Hannah, teve pela prostituição, ao fugir para a África do Sul com um amante. Já o personagem Carlitos seria uma paródia do seu pai, um vagabundo alcoólatra. Chaplin, Uma Vida / Stephen Weissman / Larousse / 320 p. / R$ 44, 90 / http://www.larousse.com.br/
Muito doidos - em Marte!
Autor de diversos clássicos da ficção científica, o americano Philip K. Dick (1928-1982) misturava conceitos de metafísica (geralmente associados ao uso de alucinógenos) com noções pouco ortodoxas do gênero da FC. Neste livro de 1965, ele relata o vício em drogas exóticas de colonos em Marte. Deprimidos pela vidinha miserável no planeta vermelho, todos buscam uma fuga. Os Três Estigmas de Palmer Eldritch / Philip K. Dick / Aleph / 248 p. / R$ 42 / http://www.editoraaleph.com.br/
Terror no interior paulista
O encontro entre um artista fracassado e uma cantora decadente – por sua vez, perseguida por um psicopata, é o ponto de partida para uma trama de terror e erotismo ambientada numa cidade do interior de São Paulo. Romance finalista do Projeto Nascente (da Pró-Reitoria de Cultura da Universidade de São Paulo e do Grupo Abril), Anjo de dor tem ritmo cinematográfico e leitura ágil. Anjo de Dor / Roberto de Sousa Causo / Devir / 207 p. / R$ 25 / http://www.devir.com.br/
Sexo e poder
A parceria entre o conceituado escritor e cineasta chileno Alejandro Jodorowsky (O Incal) e o mestre italiano do erotismo Milo Manara (O Clic) não poderia dar em outra: a série Bórgia, aqui em seu 3º volume, é uma investigação sobre a corrupta família italiana, que, mesmo envolvida em golpes, escândalos e orgias, viu dois de seus membros ascenderem ao papado no século XV. Bórgia 3 - As chamas da fogueira / Jodorowsky & Manara / Conrad / 56 p. / R$ 43 / www.conradeditora.com.br
Raridade da Astrud
Taí um negócio raro: a cantora baiana Astrud Gilberto, em plena década de 1980, usando um diáfano vestidinho preto transparente, arrasando no festival de jazz da cidade suíça de Lugano, bem acompanhada por uma banda competente. Um raro e belo registro que traz os hits Águas de Março, Dindi e Girl From Ipanema. Astrud Gilberto / Lugano Festival Jazz 1985 / Coqueiro Verde / R$ 29,90
Sargento dubificado
Depois de verterem para o dub e o reggae os clássicos Dark Side of the Moon (Pink Floyd) e o OK Computer (Radiohead), o trio Easy Star All-Stars parte para a sua empreitada mais ambiciosa: conceder o tratamento “dubificante“ ao absoluto Sargeant Peppers Lonely Hearts Club Band (Beatles). Obviamente, os resultados soam desiguais, com pontos altos na faixa-título (com Junior Jazz) e She‘s Leaving Home (com Kirsty Rock). Easy Star All-Stars / Easy Star‘s Lonely Hearts Dub Band / Coqueiro Verde / R$ 20
A pequena família
O que aconteceria se A Grande Família fosse adaptada por Maurício de Sousa? Os Sousa, sem dúvida. Esta divertida série de tiras, publicadas em jornais entre 1968 e 1989, traz (quase) todos aqueles tipos das comédias de situação familiares: o esforçado pai de família, a dona de casa vaidosa, e claro, o jovem desempregado que vive encostado e procurando encrenca. Para dar boas risadas. Os Sousa - Desventuras em família / Maurício de Sousa / L&PM / 144 p. / R$ 11 / www.lpm.com.br
Bruxas classe média de meia-idade
Celebrado como um dos maiores escritores americanos do século XX, John Updike (1932- 2009) era também um dos mais ferozes críticos do seu tempo. Em um dos seus romances mais conhecidos (adaptado para o cinema em um filmaço de 1987), a chegada de um estranho de ares diabólicos à uma sonolenta cidadezinha vira a vida de três donas de casa desesperadas de cabeça para baixo. As bruxas de Eastwick / John Updike /Companhia de Bolso / 360 p. / R$ 26 / www.companhiadebolso.com.br
No que deu o hype
MGMT, a banda mais hypada de 2007, chega ao seu 2º CD andando na corda bamba entre o experimentalismo progressivo psicodélico e a chatice pura e simples – uma armadilha armada por eles mesmos e incentivada pela facção hypeira da imprensa. Há bons momentos, como Song For Dan Treacy (tributo ao líder da banda cult Television Personalities) e a faixa-título. Siberian Breaks, com 12 minutos (!) só fica boa na 2ª metade. Nem todos conseguem ser o Flaming Lips, certo? MGMT / Congratulations / Sony Music / R$ 19,90
Um, dois, três hits
O duo sergipano The Baggios lançou para download o matador single O Azar Me Consome, com três músicas. A faixa-título, um delicioso pastiche de Led Zeppelin (riff pesadão e suingado), Can’t Find My Mind (bom cover para uma paulada do The Cramps) e Canção dos Velhos Tempos, um folk que também lembra um pouco o Led e o Jethro Tull, pela flauta. Quando é mesmo que esses caras tocam em Salvador? The Baggios / O Azar me Comsome / Independente / Download gratuito: www.verbo21.com.br
Aprendam, crianças
Tom Petty volta a se reunir com sua banda original, The Heartbreakers, após uma década sem gravar nada juntos. O resultado é uma coleção de 15 canções de rock ‘n‘ roll estilo clássico cheias de tesão (mojo), baseado no rhythm ‘n‘ blues do sul dos EUA. Se parece coisa de veterano, é por que é isso mesmo – mas sem cheiro de mofo. O frescor criativo de Petty se mostra em rocks encharcados do pântano, como Running Man‘s Bible e The First Flash of Freedom. Tom Petty and The Heartbreakers / Mojo / Reprise-WEA / Importado
Lenha para queimar
Quem não dava mais nada por Billy Corgan deu com os burros n‘água depois de ouvir este EP, o primeiro de uma série que o líder dos Smashing Pumpkins está preparando. Com apenas quatro faixas, Billy & Cia dão o recado de que ainda tem muita lenha para queimar em faixas como Widow Wake My Mind (a melhor do disco, poderia estar no clássico CD Siamese Dream, de 1993) e A Song for a Son (com um pianão cheio de classe). The Smashing Pumpkins / Teargarden By Kaleidyscope Vol. 1: Songs For A Sailor / Importado
60 anos esta noite
Transmitido ao vivo pelo rádio, este concerto da orquestra de Duke Ellington em Zurique, em 1950, atravessou quase 60 anos no esquecimento para ter sua gravação encontrada (por acaso) há poucos anos, tendo sido lançada lá fora somente em 2007. Com uma qualidade de áudio surpreendente para um registro tão antigo, este CD traz diversos clássicos do jazz das big bands, como Take The A Train e St. Louis Blues, entre outros. Duke Ellington And His Orchestra / Live In Zurich, Switzerland 2.5.1950 / Biscoito Fino Internacional / R$ 34,90
Pop sem marketing
Dez anos atrás, Goldfrapp, o duo britânico formado pela cantora Allison Goldfrapp e pelo músico e produtor Will Gregory era uma das coisas mais vanguardistas a surgirem no cenário eletrônico alternativo, graças ao quase hermético CD Felt Mountain (2000). Em Head First, porém, a dupla abraça o eletropop radiofônico com a mesma abordagem classuda com que teceu seu manifesto da década anterior. Suave e melodioso, dá um banho nas cantoras de pop marketeiro atual, como Lady Gaga. Goldfrapp / Head First / EMI / R$ 29,90
Novos contos americanos
Um rapaz dirige pela estrada em direção ao litoral, com uma urna contendo as cinzas do avô. Uma dupla de picaretas encontra abrigo na fazenda de um casal de idosos. Um roteirista é internado com diagnóstico de suicida. Nos contos de Charles D‘Ambrosio, considerado um um dos mais hábeis narradores atuais, são os pequenos dramas americanos que ganham destaque. O Museu do Peixe Morto / Charles D‘Ambrosio / Grua Livros / 256 p. / R$ 42 / www.grualivros.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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terça-feira, agosto 31, 2010
quinta-feira, agosto 26, 2010
MUSAS OITENTISTAS DE VOLTA, EM BOA FORMA
Cyndi Lauper e Suzanne Vega lançam bons discos: a primeira, com standards de blues. E a segunda, com novas gravações de suas próprias músicas
Enquanto Madonna queria o vil metal, ela só queria se divertir. Quem se lembra de Cyndi Lauper como o contraponto maluquete (e de maquiagem borrada) ao materialismo patricesco da Rainha do Pop nos anos 1980, vai se surpreender com seu novo álbum, Memphis Blues (Lab 344), que acaba de chegar às lojas brasileiras.
O disco traz uma seleção de clássicos do blues tradicional norte-americano, com a participação de diversos músicos ligados ao estilo, como Sua Majestade B. B. King, o lendário pianista de Nova Orleans Allen Toussaint (em três faixas), a cantora Ann Peebles, o guitarrista da nova geração Jonny Lang e o gaitista Charlie Musselwhite.
A edição brasileira ainda traz duas faixas bônus, sendo que uma delas, a balada I Don‘t Want To Cry, traz o brazuca Leo Gandelman em um duelo “sax versus vocal“ com a cantora.
Memphis Blues traz Cyndi Lauper, aos 57 anos, de fôlego novo, em um momento especial da sua já longa carreira. O CD foi lançado logo após sua participação no reality show norte-americano The Celebrity Apprentice – uma versão de O Aprendiz, com celebridades.
Comandado pelo topete mais rico do mundo – o megaempresário Donald Trump – o programa teve direito a uma ousada performance da cantora no seu episódio final, cantando I‘m Just Your Fool (faixa de abertura do CD), enquanto se retorcia na imaculada mesa de reuniões do tubarão de Wall Street.
Não por acaso, Memphis Blues é seu álbum de maior vendagem desde 1986, quando lançou, ainda no auge da carreira, True Colors. Lançado nos Estados Unidos em junho ultimo, o CD debutou no Top 200 da Billboard em 26º lugar.
Nada como aparecer na TV para ajudar a levantar uma carreira na corda bamba.
O disco também marca sua saída da Sony / BMG, gravadora major que lançou todos os seus discos até então, para estrear em um selo independente, o Mercer Street Records.
Independente, mas limpinho: nas fotos de capa, encarte e divulgação, Lauper aparece como uma diva dos cabarés de Memphis (cidade berço do triunvirato blues / country / rock ‘n‘ roll) clicada pela badaladíssima fotógrafa da revista Vogue, Ellen Von Unwerth.
Blues X pop
Há pelo menos duas formas de se avaliar Memphis Blues. Uma é sob o viés pop que sempre a caracterizou. O outro, mais rigoroso, diz respeito ao pantanoso terreno no qual se aventurou: o blues.
Direto ao ponto: como um disco de pop norte-americano, o CD em questão bate um bolão com seu acento bluesy e reabilita a cantora, um dos talentos mais subestimados do cenário nos últimos 25 anos.
Já como um CD de blues propriamente dito, é arriscado bater na trave do óbvio dizer que a moça ainda precisa beber muito bourbon e fazer muito pacto com o coisa-ruim na encruzilhada para convencer, de fato.
Em suma: para os apreciadores hardcore do gênero, Lauper ainda é, digamos, café-com-leite.
Bronx X Memphis
Com sua característica voz meio esganiçada, Lauper se esforça para convencer e fazer bonito como cantora de blues, atingindo de fato boas performances em faixas como Down So Low, How Blue Can You Get? (com Jonny Lang cantando e solando sua guitarra) e Shattered Dreams, com Allen Toussaint.
B. B. King arrepia como só ele sabe fazer, cantando e tocando sua amada Lucille (incrível como uma única guitarra pode ter um som tão característico) em Early in the Morning.
Já em Rollin‘ and Tumblin‘, com a fantástica roufenha Ann Peebles, Lauper – inadvertidamente ou não – vira o jogo contra ela mesma. Seu sotaque do Bronx soa fake ao lado do gostoso (e legítimo) tom caipira do sul de Lady Peebles.
No saldo final, Memphis Blues é um bom CD – para fãs de Lauper e apreciadores não radicais de blues urbano.
Memphis Blues / Cyndi Lauper / Mercer Street Records - Lab 344 / R$ 27,90
SUZANNE, EM CLOSE-UP ÍNTIMO E PESSOAL
Ao surgir no cenário da música pop na segunda metade dos anos 1980, a cantora norte-americana Suzanne Vega proveu àquela década – até então, fortemente colorida em tons cítricos – a reserva de cinza (e sutileza) que lhe faltava.
Parte do repertório que a notabilizou retorna agora, no seu novo CD, Close-Up Vol 1, Love Songs, que acaba de chegar às lojas em edição nacional pelo selo independente Lab 344.
Parte de um projeto previsto para ter quatro volumes, a chamada Close-Up Series recupera, em novas gravações, as canções mais significativas do seu repertório, pescadas dos sete discos de estúdio lançados pela cantora e violonista desde sua estreia no LP homônimo Suzanne Vega, de 1985.
Cada volume terá um tema específico. Neste primeiro, o destaque são as canções de amor. O segundo volume será People and Places (pessoas e lugares). Seu maior sucesso, Luka, a comovente crônica urbana de um menino que sofre calado com a violência doméstica dos seus pais, está prevista para este segundo CD.
Divisora de águas
Fascinada desde criança por pioneiros da canção folk norte-americana como Woody Guthrie e Pete Seeger, Suzanne Vega encontrou seu caminho artístico após ver um show do Lou Reed, em 1979.
Foi ali, na junção da crônica urbana enegrecida pela fuligem da cidade grande, aliada às qualidades literárias das letras de Reed – e Bob Dylan e Leonard Cohen, também influências assumidas – que Vega soube reprocessar com personalidade suas raízes folk.
Seu enorme sucesso, com o estouro mundial de Luka, em 1987, abriu caminho para uma série de cantoras que seguiam mais ou menos o mesmo caminho do folk sutil e urbano, como Tracy Chapman, Natalie Merchant (revelada na banda 10,000 Maniacs), Michelle Shocked, Edie Brickell e outras.
Lou Reed e João Gilberto
De uma elegância à toda prova, as novas versões de Love Songs evidenciam a maturidade artística de Suzanne Vega, hoje aos 51 anos recém-completos, em julho último.
Ao invés de reinventar suas antigas composições, a cantora optou por simplesmente despi-las de eventuais exageros de produção, como os sintetizadores inseridos por Lenny Kaye em faixas como Marlene on the Wall (uma das melhores do álbum) e Small Blue Thing, ambas do já citado disco de estreia.
Os arranjos priorizam o violão dedilhado e a voz suave de Vega, adicionando uma guitarrinha elétrica aqui e uma percussãozinha ali.
A influência de Lou Reed aparece com toda a sua força em (If You Were) In My Movie, com seu canto falado e refrão melodioso no melhor estilo reediano – descontado o climão pesado quase sempre presente nas letras do ex-Velvet Underground.
Já Caramel traz a insupeitada sombra bossa-novística de João Gilberto, com Vega levando um quase sambinha ao violão, acompanhado de um estalar de dedos. Até a letra lembra bossa-nova: “não adianta / sonhar com caramelo / pensar em canela / e sentir saudades suas“. De fato, um doce de CD.
Close-Up Vol 1, Love Songs / Suzanne Vega / Lab 344 - Cooking Vinyl / R$ 32,90
Enquanto Madonna queria o vil metal, ela só queria se divertir. Quem se lembra de Cyndi Lauper como o contraponto maluquete (e de maquiagem borrada) ao materialismo patricesco da Rainha do Pop nos anos 1980, vai se surpreender com seu novo álbum, Memphis Blues (Lab 344), que acaba de chegar às lojas brasileiras.
O disco traz uma seleção de clássicos do blues tradicional norte-americano, com a participação de diversos músicos ligados ao estilo, como Sua Majestade B. B. King, o lendário pianista de Nova Orleans Allen Toussaint (em três faixas), a cantora Ann Peebles, o guitarrista da nova geração Jonny Lang e o gaitista Charlie Musselwhite.
A edição brasileira ainda traz duas faixas bônus, sendo que uma delas, a balada I Don‘t Want To Cry, traz o brazuca Leo Gandelman em um duelo “sax versus vocal“ com a cantora.
Memphis Blues traz Cyndi Lauper, aos 57 anos, de fôlego novo, em um momento especial da sua já longa carreira. O CD foi lançado logo após sua participação no reality show norte-americano The Celebrity Apprentice – uma versão de O Aprendiz, com celebridades.
Comandado pelo topete mais rico do mundo – o megaempresário Donald Trump – o programa teve direito a uma ousada performance da cantora no seu episódio final, cantando I‘m Just Your Fool (faixa de abertura do CD), enquanto se retorcia na imaculada mesa de reuniões do tubarão de Wall Street.
Não por acaso, Memphis Blues é seu álbum de maior vendagem desde 1986, quando lançou, ainda no auge da carreira, True Colors. Lançado nos Estados Unidos em junho ultimo, o CD debutou no Top 200 da Billboard em 26º lugar.
Nada como aparecer na TV para ajudar a levantar uma carreira na corda bamba.
O disco também marca sua saída da Sony / BMG, gravadora major que lançou todos os seus discos até então, para estrear em um selo independente, o Mercer Street Records.
Independente, mas limpinho: nas fotos de capa, encarte e divulgação, Lauper aparece como uma diva dos cabarés de Memphis (cidade berço do triunvirato blues / country / rock ‘n‘ roll) clicada pela badaladíssima fotógrafa da revista Vogue, Ellen Von Unwerth.
Blues X pop
Há pelo menos duas formas de se avaliar Memphis Blues. Uma é sob o viés pop que sempre a caracterizou. O outro, mais rigoroso, diz respeito ao pantanoso terreno no qual se aventurou: o blues.
Direto ao ponto: como um disco de pop norte-americano, o CD em questão bate um bolão com seu acento bluesy e reabilita a cantora, um dos talentos mais subestimados do cenário nos últimos 25 anos.
Já como um CD de blues propriamente dito, é arriscado bater na trave do óbvio dizer que a moça ainda precisa beber muito bourbon e fazer muito pacto com o coisa-ruim na encruzilhada para convencer, de fato.
Em suma: para os apreciadores hardcore do gênero, Lauper ainda é, digamos, café-com-leite.
Bronx X Memphis
Com sua característica voz meio esganiçada, Lauper se esforça para convencer e fazer bonito como cantora de blues, atingindo de fato boas performances em faixas como Down So Low, How Blue Can You Get? (com Jonny Lang cantando e solando sua guitarra) e Shattered Dreams, com Allen Toussaint.
B. B. King arrepia como só ele sabe fazer, cantando e tocando sua amada Lucille (incrível como uma única guitarra pode ter um som tão característico) em Early in the Morning.
Já em Rollin‘ and Tumblin‘, com a fantástica roufenha Ann Peebles, Lauper – inadvertidamente ou não – vira o jogo contra ela mesma. Seu sotaque do Bronx soa fake ao lado do gostoso (e legítimo) tom caipira do sul de Lady Peebles.
No saldo final, Memphis Blues é um bom CD – para fãs de Lauper e apreciadores não radicais de blues urbano.
Memphis Blues / Cyndi Lauper / Mercer Street Records - Lab 344 / R$ 27,90
SUZANNE, EM CLOSE-UP ÍNTIMO E PESSOAL
Ao surgir no cenário da música pop na segunda metade dos anos 1980, a cantora norte-americana Suzanne Vega proveu àquela década – até então, fortemente colorida em tons cítricos – a reserva de cinza (e sutileza) que lhe faltava.
Parte do repertório que a notabilizou retorna agora, no seu novo CD, Close-Up Vol 1, Love Songs, que acaba de chegar às lojas em edição nacional pelo selo independente Lab 344.
Parte de um projeto previsto para ter quatro volumes, a chamada Close-Up Series recupera, em novas gravações, as canções mais significativas do seu repertório, pescadas dos sete discos de estúdio lançados pela cantora e violonista desde sua estreia no LP homônimo Suzanne Vega, de 1985.
Cada volume terá um tema específico. Neste primeiro, o destaque são as canções de amor. O segundo volume será People and Places (pessoas e lugares). Seu maior sucesso, Luka, a comovente crônica urbana de um menino que sofre calado com a violência doméstica dos seus pais, está prevista para este segundo CD.
Divisora de águas
Fascinada desde criança por pioneiros da canção folk norte-americana como Woody Guthrie e Pete Seeger, Suzanne Vega encontrou seu caminho artístico após ver um show do Lou Reed, em 1979.
Foi ali, na junção da crônica urbana enegrecida pela fuligem da cidade grande, aliada às qualidades literárias das letras de Reed – e Bob Dylan e Leonard Cohen, também influências assumidas – que Vega soube reprocessar com personalidade suas raízes folk.
Seu enorme sucesso, com o estouro mundial de Luka, em 1987, abriu caminho para uma série de cantoras que seguiam mais ou menos o mesmo caminho do folk sutil e urbano, como Tracy Chapman, Natalie Merchant (revelada na banda 10,000 Maniacs), Michelle Shocked, Edie Brickell e outras.
Lou Reed e João Gilberto
De uma elegância à toda prova, as novas versões de Love Songs evidenciam a maturidade artística de Suzanne Vega, hoje aos 51 anos recém-completos, em julho último.
Ao invés de reinventar suas antigas composições, a cantora optou por simplesmente despi-las de eventuais exageros de produção, como os sintetizadores inseridos por Lenny Kaye em faixas como Marlene on the Wall (uma das melhores do álbum) e Small Blue Thing, ambas do já citado disco de estreia.
Os arranjos priorizam o violão dedilhado e a voz suave de Vega, adicionando uma guitarrinha elétrica aqui e uma percussãozinha ali.
A influência de Lou Reed aparece com toda a sua força em (If You Were) In My Movie, com seu canto falado e refrão melodioso no melhor estilo reediano – descontado o climão pesado quase sempre presente nas letras do ex-Velvet Underground.
Já Caramel traz a insupeitada sombra bossa-novística de João Gilberto, com Vega levando um quase sambinha ao violão, acompanhado de um estalar de dedos. Até a letra lembra bossa-nova: “não adianta / sonhar com caramelo / pensar em canela / e sentir saudades suas“. De fato, um doce de CD.
Close-Up Vol 1, Love Songs / Suzanne Vega / Lab 344 - Cooking Vinyl / R$ 32,90
terça-feira, agosto 24, 2010
SIRIUS ROCK: A INSPIRAÇÃO CÓSMICA DA ACORD
A luz branco-azulada da estrela Sirius, distante 2,6 parsecs (ou 8,57 anos-luz) da Terra (obrigado, Wikipédia), enviou suas vibrações cósmicas e inspirou a rapaziada da banda Acord (em foto de Pedro Coelho).
Sirius Rock, “a estrela mais brilhante que se pode observar“, como diz a letra, é uma das nova faixas da banda, liberadas para audição no MySpace.
O rockão empolgante, de estilo setentista e com a participação de Nancy Viegas nos vocais, compõe o primeiro álbum da banda soteropolitana, Não Há Mais Tempo Para Ficar Parado, com lançamento previsto para outubro.
O disco, produzido por andré t. (mas esse cara não tira férias, não?!?), marca um novo momento para a banda – que reformulou seu som, após alguns anos batalhando no cenário local: “A gente sentiu necessidade de criar uma música mais simples“, conta Pedro Caetano, cantor e guitarrista.
“Vínhamos de muitas mudanças em relação ao que estávamos produzindo antes. As composições estão mais simples, mais diretas. Mas apesar da simplicidade, a gente tem todo um cuidado com os arranjos“, garante.
Banda é prioridade
Formada por Pedro, Samir Carvalho (guitarra), Thiago Brandão (bateria), Diego Cerqueira (percussão) e Henrique Duarte (baixo), a Acord, assim como diversas outras bandas locais, nutre o sonho de se profissionalizar e, quem sabe, poder viver de sua música.
“Estamos investindo, plantando para colher. Queremos nos profissionalizar mesmo, criar um barulho por aqui, fazer um público local tocando com bandas que já tem uma certa audiência. E depois estender para outros mercados. Festivais são fundamentais“, diz Pedro, já esperto no circuito a seguir.
A tarefa é ingrata – vide a recente pausa forçada da excelente banda Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta – mas os carinhas estão na pilha: “Todos os componentes são muito envolvidos e priorizam a banda, mesmo. Seja compondo, arranjando ou ensaiando“.
Enquanto o CD não sai, vale a pena conferi-los dia 31 no Beatles Social Clube e no Tom do Sabor em setembro. Pelo que se ouve, a diversão é garantida.
Show: Acord e Maglore / Dia 11 de setembro de 2010 (sábado), 22 horas / Tom do Sabor (3311-3300) / R$ 15 até meia noite / R$ 20 após
Ouça: www.myspace.com/bandaacord
NUETAS, NUETAS
Rock triste em dobro
Quem estava com saudades da brincando de deus, pode ficar feliz (ops). Depois do show de retorno da banda (dezembro último, na saudosa Boomerangue), o quarteto de indie rock clássico sobe no palco do Groove Bar no próximo dia 10 de setembro (sexta-feira). Mas, antes disso, Messias faz mais um show de divulgação do seu espetacular CD triplo, escrever-me, envelhecer-me, esquecer-me, nesta sexta-feira (27), no Largo Tereza Batista (Pelô), 21 horas, de graça. Vamos lotar essa praça?
Navegação no ar
O álbum Bem-vindo à Navegação, do ex-Maria Bacana André Mendes, está todo disponível no endereço www.myspace.com/andremendesmusica. Diz ele que o CD físico sai em breve. Um show de lançamento bacana e um site oficial também estão nos planos e logo serão divulgados.
sexta-feira, agosto 20, 2010
BAIA É DA SOM LIVRE
Após quatro anos divulgando o extraordinário CD independente Habeas Corpus, Baia lança DVD gravado ao vivo pela major carioca, ganha prêmio e inicia nova fase na carreira. E hoje já tem show no Tom do Sabor
Na noite de 18 de dezembro de 2009, o cantor baiano (naturalizado carioca) Maurício Baia lotou o Circo Voador no Rio de Janeiro para gravar seu primeiro DVD ao vivo (foto de Clever Barbosa). O evento fechou um ciclo.
Afinal, quase 18 anos antes, em 1992, ele subiu pela primeira vez na vida em um palco: justamente no mesmo circo da Lapa, com sua antiga banda, Baia & Os Rockboys.
Agora, o cantor e compositor coroa o início de uma nova fase em sua carreira, em grande estilo, uma espécie de momento decisivo, o tudo ou nada: o DVD e CD gravado no Circo Voador saiu pela gravadora major Som Livre, que contratou o rapaz e aposta nele como uma grande promessa de sucesso.
Isso significa que, em breve, Baia deve ser figura mais ou menos fácil nos programas da Rede Globo (dona da Som Livre), nos canais por assinatura da rede, e, quem sabe, nas trilhas sonoras das novelas.
Mas não para por aí, não. Hoje, ele começa a turnê nacional de divulgação de Baia no Circo com um show pequeno no Tom do Sabor.
Daqui, parte para rodar pelas regiões Sul e Sudeste. Em dois ou três meses, volta para um show maior no Pelourinho. E em janeiro, deve estrear no Festival de Verão.
Em outra frente, seu projeto paralelo 4 Cabeça ganhou, semana passada, o prestigioso troféu de Melhor Grupo (MPB) no Prêmio da Música Brasileira.
Show de Lançamento CD e DVD Baia no Circo / Hoje, 23 horas / Tom do Sabor (3311-3300) / R. João Gomes, 249 / R$ 20
ENTREVISTA
Pergunta: Depois de passar a maior parte da carreira na independência, seu primeiro DVD ao vivo saiu por uma gravadora major, a Som Livre. Como foi isso?
Baia: A Som Livre é a gravadora que está mais diretamente ligada aos canais da Rede Globo, então, tem os programas de TV, os canais Multishow, GNT e tal – o que a torna muito interessante para qualquer artista.
Mas como foi que você chegou a eles? Ou eles chegaram a você?
Baia: Isso é que é o mais legal: as pessoas que hoje fazem parte do departamento de novos negócios estão ligadas no meu trabalho. Desde o primeiro momento que eu cheguei lá, disseram que eram fãs e cantavam os refrões (das minhas músicas). Eles gostam do meu trabalho, vão aos meus shows. Então, acabou sendo foi um movimento natural – tanto da minha parte, quanto da deles também.
Então, esta foi uma boa hora para você se filiar à uma major?
Baia: O que acontece também é que a Som Livre está em um momento muito bom com a Maria Gadu. Eles estão voltando a investir em artistas novos. O clima tá muito bom, sim, a turma está amarradona, feliz com o produto final. O que ajuda muito, né, quando as pessoas acreditam. E nem rodei muito as gravadoras, não. Apesar de até ter sido procurado por uma outra.
E agora? Você assinou contrato? Ele prevê que você vai lançar quantos discos pela gravadora? Vai rolar Domingão do Faustão, música em trilha de novela?
Baia: Assinei. O contrato prevê pelo menos mais um disco de estúdio e é negociável. Agora, a assessoria da Som Livre vai tentar me encaixar nos programas (da Rede Globo), mas ainda não há data marcada. Até por que o DVD acaba de chegar ao mercado. Você é a primeira pessoa (da imprensa) com quem eu falo. Novela, a Som Livre tá tentando. O problema é que não costuma rolar música ao vivo em trilha de novela. Então, ainda não sei se vamos recorrer a alguma gravação antiga ou se vou regravar algo em estúdio. Estamos chegando junto, batalhando aos pouquinhos.
Você está em um momento muito especial da carreira, correto? Semana passada, seu projeto paralelo 4 Cabeça ganhou o Prêmio de Música Popular Brasileira de melhor grupo...
Baia: Pois é, o 4 Cabeça é um projeto que eu capitaneei com o (compositor carioca) Luís Carlinhos. Fomos os produtores do CD que foi premiado no Prêmio da Música Brasileira. É uma premiação muito importante e ganhamos na categoria principal (MPB), o troféu de melhor grupo. Então (esse prêmio) acabou chegando junto com o DVD no mercado. É mesmo um momento de muita felicidade para mim.
A produção do DVD ficou caprichada. Como foi esse processo?
Baia: Meu primeiro pensamento foi não fazer economia porca, entende? Não teve “o barato que saiu caro“. O DVD foi feito, inicialmente, como produção minha. Aí eu uni todas as partes artísticas: diretor, cenografista etc. A produtora, a Carioca Filmes, eu mesmo contratei eles, foi um investimento meu, pessoal. Contratei a equipe de som, escritório de design, tudo de primeira. Não queria esse negócio de juntar três amigos com câmeras e cruzar os dedos. Só procurei gente do mais alto padrão. E, modéstia a parte, consegui. Trabalhei feito um cavalo, também (risos).
Sua música tem várias facetas e influências diferentes. Você se vê como um artista de MPB ? De rock? De folk? Ou esse negócio de rótulo não é contigo?
Baia: Não é que eu tenha nada contra rotulo, mas se você um dia disser que meu estilo é rock, só está me definindo em parte, por que rock, enquanto gênero, é muito abrangente. Então, hoje, eu eu me definiria como rock MPB. Ou melhor: MPB rock, por que o rock já foi absorvido (pela MPB).
No Rio, você já tem um bom público formado, mas muita gente Brasil afora ainda não te conhece. O recurso do DVD ao vivo, gravado diante de uma grande plateia, foi justamente para apresentar ao Brasil esse artista que está, digamos, “pronto“ para as grandes multidões?
Baia: Todo produto que a gente lança, a gente tenta atingir o maior público possível. Eu sei que não sou um artista tão fácil de as pessoas saírem cantando junto – mas essa também é minha força. Eu não tô indo atrás de nenhum segmento constituído. Eu faço um tipo de MPB rock que é segmentado, mas não é axé, nem sertanejo. Sim, o DVD visa me popularizar mais, mas assim como esses outros ritmos, eu faço uma linha de música que também é muito popular. Você vê aí Zé Ramalho, Lenine, Raul. Eu acredito em um fortalecimento desse segmento, que é um rock MPB. Não é o rock juvenil de agora. Tô até vendo aqui agora, o Serguei esculhambando n‘O Globo, dizendo que o rock virou melacueca, que todas as bandas estão iguais. Então, o meu trabalho é rock ‘n‘ roll – mas com com raízes fortes na música brasileira, no Nordeste. E tem sido assim, desde o meu primeiro trabalho.
Como foi receber Zé Ramalho, um dos seus ídolos, no seu show? Deu tremedeira?
Baia: Não, o Zé é meu amigo há mais de dez anos, sempre foi atencioso comigo, demonstrou conhecer meu trabalho, dava feedbacks. Desde a primeira vez que ele me viu no palco, ele disse que eu era um artista pronto. Isso me norteou. E como eu tinha participado do DVD dele, foi muito natural convidá-lo. E não foi o tipo de convite só para ele “abalizar“ o meu lance. Agora, estamos vendo a oportunidade de fazermos shows em dupla. Se der tudo certo, deve rolar também na Concha Acústica, no ano que vem.
E a turnê do DVD?
Baia: Começa por Salvador, que é minha cidade natal, como um renascimento. Depois de rodar o sul, devo voltar aí para um show maior no Pelô, em setembro ou outubro. E vamos começar a negociar para o Festival de Verão também.
Estreia em gravadora major traz Baia no auge da forma
BAIA NO CIRCO: RESENHA
Em recente entrevista para a revista Billboard, Lobão decretou: “a internet não vai salvar ninguém“. E arrematou: “lugar de artista é na gravadora“.
Descontada a possibilidade de que, daqui a mais ou menos uns dois anos, ele poderá se desdizer, o fato é que, conjunções astrais influindo ou não, Maurício Baia faz sua estreia numa major em momento que parece muito favorável à uma virada decisiva na carreira.
Artista maduro, cantor de voz própria e personal, performer carismático e letrista inspiradíssimo, o homem está no auge em Baia no Circo. Aqui e ali, até parece um pouco intimidado com a escala da coisa toda. Mas é uma impressão que passa rápido, dada sua larga experiência de palco.
Com 21 faixas no DVD e 17 no CD, Baia no Circo traz, além dos hinos da fase com os Rockboys (Na Fé, Doce Doçura) e de clássicos instantâneos como Habeas Corpus, Lembrei e Fulano, Beltrano e Sicrano, quatro faixas inéditas: Tá Tudo Mudando (em dueto com Zé Ramalho), Em Nome da Fome, Quando Eu Morrer (seu primeiro samba) e Os Dias de Hoje.
Tudo executado com garra por uma numerosa banda e um artista incomum.
Baia no Circo / Maurício Baia / DVD: R$ 27,90 / CD: R$ 17,90 / Som Livre
4 CABEÇA: LEMBREI (de Maurício Baia e Gabriel Moura)
Na noite de 18 de dezembro de 2009, o cantor baiano (naturalizado carioca) Maurício Baia lotou o Circo Voador no Rio de Janeiro para gravar seu primeiro DVD ao vivo (foto de Clever Barbosa). O evento fechou um ciclo.
Afinal, quase 18 anos antes, em 1992, ele subiu pela primeira vez na vida em um palco: justamente no mesmo circo da Lapa, com sua antiga banda, Baia & Os Rockboys.
Agora, o cantor e compositor coroa o início de uma nova fase em sua carreira, em grande estilo, uma espécie de momento decisivo, o tudo ou nada: o DVD e CD gravado no Circo Voador saiu pela gravadora major Som Livre, que contratou o rapaz e aposta nele como uma grande promessa de sucesso.
Isso significa que, em breve, Baia deve ser figura mais ou menos fácil nos programas da Rede Globo (dona da Som Livre), nos canais por assinatura da rede, e, quem sabe, nas trilhas sonoras das novelas.
Mas não para por aí, não. Hoje, ele começa a turnê nacional de divulgação de Baia no Circo com um show pequeno no Tom do Sabor.
Daqui, parte para rodar pelas regiões Sul e Sudeste. Em dois ou três meses, volta para um show maior no Pelourinho. E em janeiro, deve estrear no Festival de Verão.
Em outra frente, seu projeto paralelo 4 Cabeça ganhou, semana passada, o prestigioso troféu de Melhor Grupo (MPB) no Prêmio da Música Brasileira.
Show de Lançamento CD e DVD Baia no Circo / Hoje, 23 horas / Tom do Sabor (3311-3300) / R. João Gomes, 249 / R$ 20
ENTREVISTA
Pergunta: Depois de passar a maior parte da carreira na independência, seu primeiro DVD ao vivo saiu por uma gravadora major, a Som Livre. Como foi isso?
Baia: A Som Livre é a gravadora que está mais diretamente ligada aos canais da Rede Globo, então, tem os programas de TV, os canais Multishow, GNT e tal – o que a torna muito interessante para qualquer artista.
Mas como foi que você chegou a eles? Ou eles chegaram a você?
Baia: Isso é que é o mais legal: as pessoas que hoje fazem parte do departamento de novos negócios estão ligadas no meu trabalho. Desde o primeiro momento que eu cheguei lá, disseram que eram fãs e cantavam os refrões (das minhas músicas). Eles gostam do meu trabalho, vão aos meus shows. Então, acabou sendo foi um movimento natural – tanto da minha parte, quanto da deles também.
Então, esta foi uma boa hora para você se filiar à uma major?
Baia: O que acontece também é que a Som Livre está em um momento muito bom com a Maria Gadu. Eles estão voltando a investir em artistas novos. O clima tá muito bom, sim, a turma está amarradona, feliz com o produto final. O que ajuda muito, né, quando as pessoas acreditam. E nem rodei muito as gravadoras, não. Apesar de até ter sido procurado por uma outra.
E agora? Você assinou contrato? Ele prevê que você vai lançar quantos discos pela gravadora? Vai rolar Domingão do Faustão, música em trilha de novela?
Baia: Assinei. O contrato prevê pelo menos mais um disco de estúdio e é negociável. Agora, a assessoria da Som Livre vai tentar me encaixar nos programas (da Rede Globo), mas ainda não há data marcada. Até por que o DVD acaba de chegar ao mercado. Você é a primeira pessoa (da imprensa) com quem eu falo. Novela, a Som Livre tá tentando. O problema é que não costuma rolar música ao vivo em trilha de novela. Então, ainda não sei se vamos recorrer a alguma gravação antiga ou se vou regravar algo em estúdio. Estamos chegando junto, batalhando aos pouquinhos.
Você está em um momento muito especial da carreira, correto? Semana passada, seu projeto paralelo 4 Cabeça ganhou o Prêmio de Música Popular Brasileira de melhor grupo...
Baia: Pois é, o 4 Cabeça é um projeto que eu capitaneei com o (compositor carioca) Luís Carlinhos. Fomos os produtores do CD que foi premiado no Prêmio da Música Brasileira. É uma premiação muito importante e ganhamos na categoria principal (MPB), o troféu de melhor grupo. Então (esse prêmio) acabou chegando junto com o DVD no mercado. É mesmo um momento de muita felicidade para mim.
A produção do DVD ficou caprichada. Como foi esse processo?
Baia: Meu primeiro pensamento foi não fazer economia porca, entende? Não teve “o barato que saiu caro“. O DVD foi feito, inicialmente, como produção minha. Aí eu uni todas as partes artísticas: diretor, cenografista etc. A produtora, a Carioca Filmes, eu mesmo contratei eles, foi um investimento meu, pessoal. Contratei a equipe de som, escritório de design, tudo de primeira. Não queria esse negócio de juntar três amigos com câmeras e cruzar os dedos. Só procurei gente do mais alto padrão. E, modéstia a parte, consegui. Trabalhei feito um cavalo, também (risos).
Sua música tem várias facetas e influências diferentes. Você se vê como um artista de MPB ? De rock? De folk? Ou esse negócio de rótulo não é contigo?
Baia: Não é que eu tenha nada contra rotulo, mas se você um dia disser que meu estilo é rock, só está me definindo em parte, por que rock, enquanto gênero, é muito abrangente. Então, hoje, eu eu me definiria como rock MPB. Ou melhor: MPB rock, por que o rock já foi absorvido (pela MPB).
No Rio, você já tem um bom público formado, mas muita gente Brasil afora ainda não te conhece. O recurso do DVD ao vivo, gravado diante de uma grande plateia, foi justamente para apresentar ao Brasil esse artista que está, digamos, “pronto“ para as grandes multidões?
Baia: Todo produto que a gente lança, a gente tenta atingir o maior público possível. Eu sei que não sou um artista tão fácil de as pessoas saírem cantando junto – mas essa também é minha força. Eu não tô indo atrás de nenhum segmento constituído. Eu faço um tipo de MPB rock que é segmentado, mas não é axé, nem sertanejo. Sim, o DVD visa me popularizar mais, mas assim como esses outros ritmos, eu faço uma linha de música que também é muito popular. Você vê aí Zé Ramalho, Lenine, Raul. Eu acredito em um fortalecimento desse segmento, que é um rock MPB. Não é o rock juvenil de agora. Tô até vendo aqui agora, o Serguei esculhambando n‘O Globo, dizendo que o rock virou melacueca, que todas as bandas estão iguais. Então, o meu trabalho é rock ‘n‘ roll – mas com com raízes fortes na música brasileira, no Nordeste. E tem sido assim, desde o meu primeiro trabalho.
Como foi receber Zé Ramalho, um dos seus ídolos, no seu show? Deu tremedeira?
Baia: Não, o Zé é meu amigo há mais de dez anos, sempre foi atencioso comigo, demonstrou conhecer meu trabalho, dava feedbacks. Desde a primeira vez que ele me viu no palco, ele disse que eu era um artista pronto. Isso me norteou. E como eu tinha participado do DVD dele, foi muito natural convidá-lo. E não foi o tipo de convite só para ele “abalizar“ o meu lance. Agora, estamos vendo a oportunidade de fazermos shows em dupla. Se der tudo certo, deve rolar também na Concha Acústica, no ano que vem.
E a turnê do DVD?
Baia: Começa por Salvador, que é minha cidade natal, como um renascimento. Depois de rodar o sul, devo voltar aí para um show maior no Pelô, em setembro ou outubro. E vamos começar a negociar para o Festival de Verão também.
Estreia em gravadora major traz Baia no auge da forma
BAIA NO CIRCO: RESENHA
Em recente entrevista para a revista Billboard, Lobão decretou: “a internet não vai salvar ninguém“. E arrematou: “lugar de artista é na gravadora“.
Descontada a possibilidade de que, daqui a mais ou menos uns dois anos, ele poderá se desdizer, o fato é que, conjunções astrais influindo ou não, Maurício Baia faz sua estreia numa major em momento que parece muito favorável à uma virada decisiva na carreira.
Artista maduro, cantor de voz própria e personal, performer carismático e letrista inspiradíssimo, o homem está no auge em Baia no Circo. Aqui e ali, até parece um pouco intimidado com a escala da coisa toda. Mas é uma impressão que passa rápido, dada sua larga experiência de palco.
Com 21 faixas no DVD e 17 no CD, Baia no Circo traz, além dos hinos da fase com os Rockboys (Na Fé, Doce Doçura) e de clássicos instantâneos como Habeas Corpus, Lembrei e Fulano, Beltrano e Sicrano, quatro faixas inéditas: Tá Tudo Mudando (em dueto com Zé Ramalho), Em Nome da Fome, Quando Eu Morrer (seu primeiro samba) e Os Dias de Hoje.
Tudo executado com garra por uma numerosa banda e um artista incomum.
Baia no Circo / Maurício Baia / DVD: R$ 27,90 / CD: R$ 17,90 / Som Livre
4 CABEÇA: LEMBREI (de Maurício Baia e Gabriel Moura)
terça-feira, agosto 17, 2010
BOÇALIDADE (E COMPETÊNCIA) CONSERVADAS PARA A POSTERIDADE
Passado pouco menos de um ano do anúncio que decretou o fim da banda britânica Oasis, chega às lojas Time Flies... 1994-2009 (Som Livre), coletânea dupla que repassa a carreira dos irmãos mais birrentos do rock inglês desde Ray e Dave Davies, da lendária The Kinks.
Não que Noel (guitarra e vocais) e Liam (vocais) Gallagher estejam preocupados com isso. A banda, adorada por milhões e detestada por outros tantos, está, no que depender da dupla, morta e enterrada.
Recentemente, ao ser perguntado se aceitaria voltar ao Oasis, Liam declarou: "O único motivo que levaria o Oasis a se reunir é se nós estivéssemos quebrados. E eu estou longe da falência, e ficarei longe dela por muito, muito tempo".
Garoto símbolo da boçalidade brit pop, estilo de vida muito em voga a partir de meados dos anos 1990, Liam não apenas planeja lançar, com sua nova banda Beady Eye, “o disco que você vai ouvir nos próximos 50 anos”, como ele declarou para um canal de TV, como também já se expandiu para a moda, com a grife Pretty Green, inaugurada no último dia 29.
Grandes demais para o indie
(O nome da loja / grife, Pretty Green, é o título de um hit clássico do The Jam, banda inicial de Paul Weller. Weller foi para o britpop o que Neil Young foi para o grunge: godfather - padrinho. Não a toa, Liam Gallagher e Paul Weller, hoje, são sócios na Pretty Green - a loja).
Surgida para o grande público em 1994, e a princípio muito identificada com o indie rock inglês e a cena de Manchester, o Oasis rapidamente demonstrou que era grande demais para o fechado circuitinho indie.
Até por que, juntos, os irmãos Gallagher reuniam presunção o bastante para deixar para trás qualquer integrante dos Smiths, Jesus and Mary Chain ou My Bloody Valentine – todos reconhecidos malas, independente de suas óbvias qualidades.
Hoje, o Oasis é visto (e ouvido) muito mais como uma banda de classic rock – com claras, declaradas e fortíssimas influências dos Beatles – do que como uma banda indie.
Daí o deleite que é ouvir este Time Flies. O filé da produção de Noel, principal compositor da banda, está concentrado no disco 1, com os hits perfeitos dos três primeiros álbuns, insuperáveis em sua discografia: Supersonic, Roll With It, Live Forever, Stand By Me, Don't Look Back in Anger e, claro, Wonderwall, entre outras. Só faltou Champagne Supernova.
No disco dois, ainda há ótimos momentos, como Lyla, D'You Know What I Mean, The Shock of Lightning, Go Let It Out e Some Might Say, além de faixas inéditas, como Whatever e Lord, Don't Slow me Down. No saldo final, o testemunho inegável da passagem de mais uma grande banda.
Time Flies... 1994-2009 / Oasis / CD duplo / Som Livre / R$ 27,90
quarta-feira, agosto 11, 2010
RONEI JORGE & OS LADRÕES DE BICICLETA: A PAUSA, OS PLANOS ETC
A notícia de que a elogiada banda Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta ia parar por tempo indeterminado, enviada por meio de comunicado à imprensa, na quinta-feira passada (dia 5), pegou os apreciadores do grupo meio de surpresa.
No comunicado, o quarteto formado por Ronei Jorge (voz e guitarra), Edson Rosa (guitarra, teclado e vocal), Sergio Kopinski (baixo e vocal) e Maurício Pedrão (bateria), atribuía a decisão à “impossibilidade atual de os integrantes se dedicarem à banda com a entrega e o envolvimento que marcaram a sua trajetória até aqui“.
Ainda meio triste com a decisão, Ronei justificou, dizendo que “a coisa chegou num ponto em que começou a ficar difícil arranjar tempo até para todo mundo ensaiar e fazer show. Não conseguíamos nem viajar, as vezes“, conta.
Ele revela que “a disponibilidade maior esse ano era minha e de (Maurício) Pedrão“, mas evita colocar o peso da culpa pela pausa forçada nos outros dois integrantes.
“Não é uma coisa individual, não vejo assim. Como a banda são os quatro, o tempo tem que ser dos quatro. Não é uma coisa que dá para colocar tudo em uma pessoa. Claro que Edinho (Rosa) e Serginho (Kopinski) tiveram uma carga maior de trabalho esse ano, é verdade. Mas não acho que (a culpa) seja localizada em uma pessoa. Até por que somos um conjunto: ou vai todo mundo ou não vai ninguém“, demarcou, com a elegância que lhe característica.
“A vida é assim“, diz Edson Rosa. “Temos uma enorme sintonia de trabalho e um sonho em comum, mas tem horas que você tem demandas ainda maiores do outro lado. Temos que ser maduros para assumir que não dá mais“, acrescenta.
Já Maurício Pedrão faz questão de dissipar qualquer dúvida quanto à amizade que une os quatro integrantes, independente da banda. “O comunicado ficou meio formal, aí o pessoal achou até que a gente tinha brigado. Mas a banda só parou“, reitera o baterista.
“Teve que parar, até por estávamos recebendo muitos convites para tocar fora. Até no exterior – e recusando todos. Isso é chato, fica parecendo que somos arrogantes“, reflete.
Apesar de chateado, Ronei não pensa de forma alguma em parar. Ele só não definiu ainda qual será o formato do seu próximo trabalho: “Não tem como eu parar. Eu continuo compondo e estou pensando em fazer alguma coisa daqui para o fim do ano“, adianta.
“Se vai ser como artista solo, eu com uma banda, ou ainda, uma outra banda com nome próprio, eu ainda não defini“, continua.
De certo mesmo, Ronei aponta que o trabalho terá músicas do repertório dos Ladrões e “mais algumas que tem a ver com a direção que eu quero seguir“, conta.
Aos que, desde já, esperam pelo breve retorno da banda, Ronei acena com a possibilidade, mas não arrisca uma previsão: “Pode ser até ano que vem, quem sabe? Até por que não foi uma separação. Foi um acordo ocasionado pela impossibilidade levar a banda como queríamos“, afirma.
“Então, quando dizemos que é uma pausa, o fazemos muito honestamente. Não estamos fingindo que a banda acabou, ou algo assim. É pausa mesmo“, garante.
Ronei Jorge: um resumo
Ronei Jorge é cantor e compositor ligado ao rock local desde o início dos anos 1990, quando surgiu com a banda Mütter Marie.
De caráter meio lendário, deixou apenas duas faixas gravadas na coletânea em LP Bazar Musical Ssa Vol. 1 (1993).
Poucos anos depois, liderou a banda Saci Tric, com a qual lançou o CD Ao Vivo no Theatro XVIII (1999).
Em 2003, explicitou suas influências de música popular brasileira no seu projeto mais bem sucedido, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.
O segundo CD da banda, Frascos Comprimidos Compressas (2009) frequentou diversas listas da imprensa de melhores lançamentos do ano passado.
Baixe o CD Frascos Comprimidos Compressas:
www.roneijorgeeosladroesdebicicleta.com
Clipe de Vidinha, dirigido por Alessandro Soares.
No comunicado, o quarteto formado por Ronei Jorge (voz e guitarra), Edson Rosa (guitarra, teclado e vocal), Sergio Kopinski (baixo e vocal) e Maurício Pedrão (bateria), atribuía a decisão à “impossibilidade atual de os integrantes se dedicarem à banda com a entrega e o envolvimento que marcaram a sua trajetória até aqui“.
Ainda meio triste com a decisão, Ronei justificou, dizendo que “a coisa chegou num ponto em que começou a ficar difícil arranjar tempo até para todo mundo ensaiar e fazer show. Não conseguíamos nem viajar, as vezes“, conta.
Ele revela que “a disponibilidade maior esse ano era minha e de (Maurício) Pedrão“, mas evita colocar o peso da culpa pela pausa forçada nos outros dois integrantes.
“Não é uma coisa individual, não vejo assim. Como a banda são os quatro, o tempo tem que ser dos quatro. Não é uma coisa que dá para colocar tudo em uma pessoa. Claro que Edinho (Rosa) e Serginho (Kopinski) tiveram uma carga maior de trabalho esse ano, é verdade. Mas não acho que (a culpa) seja localizada em uma pessoa. Até por que somos um conjunto: ou vai todo mundo ou não vai ninguém“, demarcou, com a elegância que lhe característica.
“A vida é assim“, diz Edson Rosa. “Temos uma enorme sintonia de trabalho e um sonho em comum, mas tem horas que você tem demandas ainda maiores do outro lado. Temos que ser maduros para assumir que não dá mais“, acrescenta.
Já Maurício Pedrão faz questão de dissipar qualquer dúvida quanto à amizade que une os quatro integrantes, independente da banda. “O comunicado ficou meio formal, aí o pessoal achou até que a gente tinha brigado. Mas a banda só parou“, reitera o baterista.
“Teve que parar, até por estávamos recebendo muitos convites para tocar fora. Até no exterior – e recusando todos. Isso é chato, fica parecendo que somos arrogantes“, reflete.
Apesar de chateado, Ronei não pensa de forma alguma em parar. Ele só não definiu ainda qual será o formato do seu próximo trabalho: “Não tem como eu parar. Eu continuo compondo e estou pensando em fazer alguma coisa daqui para o fim do ano“, adianta.
“Se vai ser como artista solo, eu com uma banda, ou ainda, uma outra banda com nome próprio, eu ainda não defini“, continua.
De certo mesmo, Ronei aponta que o trabalho terá músicas do repertório dos Ladrões e “mais algumas que tem a ver com a direção que eu quero seguir“, conta.
Aos que, desde já, esperam pelo breve retorno da banda, Ronei acena com a possibilidade, mas não arrisca uma previsão: “Pode ser até ano que vem, quem sabe? Até por que não foi uma separação. Foi um acordo ocasionado pela impossibilidade levar a banda como queríamos“, afirma.
“Então, quando dizemos que é uma pausa, o fazemos muito honestamente. Não estamos fingindo que a banda acabou, ou algo assim. É pausa mesmo“, garante.
Ronei Jorge: um resumo
Ronei Jorge é cantor e compositor ligado ao rock local desde o início dos anos 1990, quando surgiu com a banda Mütter Marie.
De caráter meio lendário, deixou apenas duas faixas gravadas na coletânea em LP Bazar Musical Ssa Vol. 1 (1993).
Poucos anos depois, liderou a banda Saci Tric, com a qual lançou o CD Ao Vivo no Theatro XVIII (1999).
Em 2003, explicitou suas influências de música popular brasileira no seu projeto mais bem sucedido, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.
O segundo CD da banda, Frascos Comprimidos Compressas (2009) frequentou diversas listas da imprensa de melhores lançamentos do ano passado.
Baixe o CD Frascos Comprimidos Compressas:
www.roneijorgeeosladroesdebicicleta.com
Clipe de Vidinha, dirigido por Alessandro Soares.
terça-feira, agosto 10, 2010
MARCONY SCARAMUSSA, UMA NOVA VOZ PARA O ROCK BAIANO
Fãs do Radiohead, prestem atenção neste cara aí do lado. Marcony Scaramussa (na foto de Ricardo Soares) é o mais novo nome promissor do rock baiano. Bom guitarrista, o rapaz é dono da voz mais impressionante ouvida por este colunista desde a estreia da Formidável Família Musical – Damm, cada você, rapaz? – em 2005.
Sua voz é cristalina, cheia, ligeiramente aguda – mas com suavidade. “Ué? É Thom Yorke cantando em português?“, perguntaria um desavisado.
Não, mas a sensação é quase essa. Vamos aos fatos. Oriundo de bandas cover da cidade nas quais tocava guitarra, Marcony resolveu, há alguns anos, alçar voo e se mandar para a Califórnia.
”Eu sempre compus, apesar de ser meio tímido para assumir a frente uma banda. Era mais guitarrista mesmo. E compunha só para mim”, conta.
”Aí, morei um ano na Califórnia e lá tomei aulas de canto. Comecei a cantar nas ruas de São Francisco. Botava o case de guitarra no chão e o pessoal jogava uns trocados. Mas o foco nem era esse. Era mais a curtição de cantar na rua”, diz.
Quando Marcony encontra andré
Ao voltar, em 2007, resolveu gravar suas composições. Chegou a andré t. através do burburinho em torno do requisitado produtor.
Com andré, resolveu botar em prática no estúdio o que tinha aprendido com seus professores e no show do Radiohead que assistiu nos EUA.
”Esse show mudou minha vida e minhas concepções de música. Vi como eles se preocupam com a sonoridade dos discos, dos shows, a iluminação, o capricho todo na coisa”, conta
”Quando cheguei, disse: ‘vou trabalhar certo e fazer o melhor disco que eu puder, com uma sonoridade universal'. Nos preocupamos com cada detalhe dos arranjos, tudo para que as pessoas ouvissem cada detalhe”.
As gravações com andré t., que se apaixonou pelo trabalho do rapaz, levaram 1 ano e 3 meses – uma eternidade para um artista independente. O resultado está no MySpace, já que não há dinheiro para viabilizar o lançamento físico.
No momento, eles ensaiam para iniciar uma série de shows de divulgação, com o próprio andré nos teclados, Rafael Zumaeta no baixo e Mark Mesquita na bateria.
”Com certeza, teremos show em algum momento de setembro ou outubro”, promete. Tomara.
www.myspace.com/marconyscaramussa
NUETAS
Vote Vendo 147
A Vendo 147 está em campanha para tocar no festival Starts With You (SWU), que rola em Itu (SP). Para votar e dar uma força à banda: www.swu.com.br/pt/servicos/voce-faz-o-show.
Caçadores das Trevas
Caçadores das Trevas V reúne as bandas de heavy metal Keter, Metalwar, Behaviour e Rattle, no Prospect Club 81(antiga garagem dos Red Devils). 21 de agosto, 16 horas, R$ 10.
Nancy e Radiola free
Sábado tem Nancyta & Radiola grátis na Praça Pedro Archanjo (Pelô). Às 20 horas.
THEATRO DE SERAPHIN: DOZE POR OITO
O hit subterrâneo da Theatro de Seraphin acaba de ganhar este clipe, dirigido por Mauro Pithon.
É, ele mesmo, Maurão, cantor da Úteros em Fúria, da Sangria e da Bestiário, novo projeto dele e de Apú Tude, que, espera-se, veja em breve a luz do dia (ou da night).
O clipe já estreou na MTV no último sábado, dia 07/08, no Lab BR, e também estará disponível em breve no MTV Music: http://mtv.com.br/mtvmusic
Veja mais abaixo um breve resumo do senhor diretor sobre suas pretensões estéticas com este clipe.
Fala, Maurão!
"As referências estéticas do vídeo-clip “Doze por Oito”, de 4'30'', são os filmes “Luzes da cidade” (1931), de Charles Chaplin, “De olhos bem fechados” (1999), de Stanley Kubrick e “La dolce vita” (1960), de Federico Fellini. O Clip mescla técnicas de vídeo e animação em stop motion. Junto ao meu colega Adonis Jr., fiz um roteiro onde o baixo orçamento se aliou a criatividade. Ou seja, usamos a dificuldade financeira a nosso favor. Também contamos com o talento e gentil presença de dois fantásticos atores como Luisa Proserpio e Leonel Henckes. Minha intenção foi evitar que o clip fosse apenas uma legenda da música. Por isso optei por privilegiar o ponto de vista feminino da situação narrada pelo seu autor".
É, ele mesmo, Maurão, cantor da Úteros em Fúria, da Sangria e da Bestiário, novo projeto dele e de Apú Tude, que, espera-se, veja em breve a luz do dia (ou da night).
O clipe já estreou na MTV no último sábado, dia 07/08, no Lab BR, e também estará disponível em breve no MTV Music: http://mtv.com.br/mtvmusic
Veja mais abaixo um breve resumo do senhor diretor sobre suas pretensões estéticas com este clipe.
Fala, Maurão!
"As referências estéticas do vídeo-clip “Doze por Oito”, de 4'30'', são os filmes “Luzes da cidade” (1931), de Charles Chaplin, “De olhos bem fechados” (1999), de Stanley Kubrick e “La dolce vita” (1960), de Federico Fellini. O Clip mescla técnicas de vídeo e animação em stop motion. Junto ao meu colega Adonis Jr., fiz um roteiro onde o baixo orçamento se aliou a criatividade. Ou seja, usamos a dificuldade financeira a nosso favor. Também contamos com o talento e gentil presença de dois fantásticos atores como Luisa Proserpio e Leonel Henckes. Minha intenção foi evitar que o clip fosse apenas uma legenda da música. Por isso optei por privilegiar o ponto de vista feminino da situação narrada pelo seu autor".
quinta-feira, agosto 05, 2010
AGOSTO, MÊS DO DESGOSTO E DE... MICRO-RESENHAS
Voz, piano e pronto
Uma das poucas revelações da música pop da última década que é de fato um músico, Rufus Wainwright se desnuda de forma intensa neste novo CD. Contando apenas com o vozeirão e o piano, Wainwright fez seu disco mais intenso, com homenagem à sua mãe (e também cantora) em Martha, e até uma ária de uma ópera dele mesmo. Apesar de bonito, nenhuma melodia do álbum permanece na memória do ouvinte. Faltou um hit. Rufus Wainwright / All Days Are Nights: Songs For Lulu / Universal Music / R$ 29,90
O melhor e o pior
A música pop sueca, hoje reconhecida como uma das melhores do mundo, deve muito desta fama ao Abba, o adorável quarteto que emplacou hit atrás de hit, um mais perfeito que o outro. Neste programa da TV alemã transformado em DVD, jóias como Waterloo, Dancing Queen e S.O.S. Pena que, das 28 faixas, se aproveite apenas a primeira metade. O resto reflete a decadência criativa do grupo, nos anos 80. Abba / Thank You For the Music / Coqueiro Verde / R$ 24,90
Em Paris, com Jack
Americano descendente de franco-canadenses, Jack Kerouac (1922-1969), já de saco cheio da tietagem dos beatniks de araque que todo dia batiam a sua porta, viajou à França em 1966, em busca de suas origens mais profundas. Neste livro, ele relata suas andanças por Paris, bem como suas reflexões sobre o misticismo oriental que então fazia sua cabeça. Daí o título: satori, termo japonês, significa “iluminação súbita“. Satori em Paris / Jack Kerouac / L&PM / 128 p. / R$ 12 / lpm.com.br
Você ainda não viu esta história
A primeira vista, Yeshuah teria tudo para ser uma leitura enfadonha: a história da vida de Jesus, pela milionésima vez? Ledo engano: partindo dos escritos apócrifos do Mar Morto, Laudo Ferreira, desenhista experiente, oferece, nesta HQ adulta, uma visão realista – e com os nomes em hebraico – do parto de Miriam: sem Reis Magos, estrelinha, nada. Trabalho de fôlego, em três volumes. Yeshuah - Assim em Cima Assim embaixo / Laudo Ferreira e O. Viñole / Devir / 156 p / R$ 23 / devir.com.br
O moderno já foi
Rock ‘n‘ roll da pesada, como se fazia no tempo em que o gênero ainda não havia virado o Clube do Mickey. Resumidamente, assim é como se pode classificar o trabalho da banda baiana IV de Marte. À primeira vista / ouvida, há quem possa acha-los caídos (no sentido de ultrapassados), mas tem coisa mais caída e bunda-mole do que o rock mainstream atual? É hora de voltar às raízes – e nesse sentido, nada mais pra frentex do que esta banda. IV de Marte / Independente / R$ 10 / Vendas: 71-3385-7322
Dub brazuca de saias
Massarock é o pseudônimo da cantora Marietta Vital, integrante do soundsystem Dubversão. Experiente como backing vocal em discos de Zeca Baleiro e Guilherme Arantes, ela lança agora seu primeiro álbum, para download gratuito. Fissurada em reggae e dub, a moça gravou acompanhada de duas bandas: Rockers Control e Savages. Com sua voz delicada, dá um bom astral a faixas como Dread Under Pressure e Youth of Today. Massarock / Independente / Download gratuito: http://www.traquitana.org/
Memórias imaginárias
Dramaturgo, ator, cineasta, roteirista de histórias em quadrinhos, agitador cultural. O chileno Alejandro Jodoroswky conta nesta “autobiografia imaginária“, como ele mesmo define, sua trajetória de Santiago para Paris, via Cidade do México, dos anos 60 até os dias de hoje. Mais do que um relato de vida, tocante um testemunho do poder transformador da imaginação sem amarras. A Dança da realidade / Alejandro Jodorowsky / Devir/ 368 p. / R$ 34,50 / http://www.devir.com.br/
E o Superman com isso?
Mais conhecido como roteirista de (boas) HQs para a DC Comics, como a premiada Crise de Identidade (2006), o americano Brad Meltzer é também um romancista de sucesso, com thrillers como Os milionários e este O livro das mentiras. Mistura de O Código Da Vinci com Homens do amanhã (de Gerard Jones), faz uma curiosa conexão entre os assassinatos de Abel (por Caim) e o (nunca solucionado) de Mitchell Siegel, pai de Jerry, criador do Superman. O Livro das mentiras / Brad Meltzer / Planeta / 352 p. / R$ 49,90 / http://www.editoraplaneta.com.br/
Musa polimorfa
Terceiro CD da cantora e atriz francesa Charlotte Gainsbourg (filha do Serge), IRM parece confirmar uma certa característica camaleônica da moça. Se no seu álbum anterior, 5:55, ecos do genial duo Air (que produziu o disco) pareciam permear o trabalho, neste aqui, a mão (e também a voz) do cantor e produtor americano Beck aparecem a todo momento. Longe de denotar falta de personalidade, parece que o maior talento de Gaisnbourg é absorver para si o melhor de cada um. Charlotte Gainsbourg / IRM / Warner / R$ 29,90
Clássico inventado
Surgido no livro As incríveis aventuras de Kavalier & Clay (Record, 2002), de Michael Chabon, O Escapista é o mestre do subterfúgio, inimigo da tirania e campeão da liberdade. Na verdade, ele é um personagem fictício criado pelos dois quadrinistas fictícios do livro anterior. Aqui, ele é (re)trabalhado por Will Eisner, Howard Chaykin, Gene Colan, Harvey Pekar e Brian K. Vaughan, entre outros. As Incríveis Aventuras do Escapista / Michael Chabon e Vários artistas / Devir / 192 p. / R$ 44,50 / http://www.devir.com.br/
Clássico de fato
Mais conhecido como o criador de Tarzan, Edgar Burroughs também foi um prolífico escritor de ficção científica pulp. Sua série mais conhecida de FC é a de John Carter, um militar da Guerra da Secessão que vai parar em Marte, onde se envolve com uma princesa e várias nações em conflito. Inspiração de James Cameron para Avatar, este livro está sendo adaptado pela Disney. Uma princesa de Marte / Edgar Rice Burroughs / Aleph / 272 p. / R$ 39, 90 /www.editoraaleph.com.br
Uma das poucas revelações da música pop da última década que é de fato um músico, Rufus Wainwright se desnuda de forma intensa neste novo CD. Contando apenas com o vozeirão e o piano, Wainwright fez seu disco mais intenso, com homenagem à sua mãe (e também cantora) em Martha, e até uma ária de uma ópera dele mesmo. Apesar de bonito, nenhuma melodia do álbum permanece na memória do ouvinte. Faltou um hit. Rufus Wainwright / All Days Are Nights: Songs For Lulu / Universal Music / R$ 29,90
O melhor e o pior
A música pop sueca, hoje reconhecida como uma das melhores do mundo, deve muito desta fama ao Abba, o adorável quarteto que emplacou hit atrás de hit, um mais perfeito que o outro. Neste programa da TV alemã transformado em DVD, jóias como Waterloo, Dancing Queen e S.O.S. Pena que, das 28 faixas, se aproveite apenas a primeira metade. O resto reflete a decadência criativa do grupo, nos anos 80. Abba / Thank You For the Music / Coqueiro Verde / R$ 24,90
Em Paris, com Jack
Americano descendente de franco-canadenses, Jack Kerouac (1922-1969), já de saco cheio da tietagem dos beatniks de araque que todo dia batiam a sua porta, viajou à França em 1966, em busca de suas origens mais profundas. Neste livro, ele relata suas andanças por Paris, bem como suas reflexões sobre o misticismo oriental que então fazia sua cabeça. Daí o título: satori, termo japonês, significa “iluminação súbita“. Satori em Paris / Jack Kerouac / L&PM / 128 p. / R$ 12 / lpm.com.br
Você ainda não viu esta história
A primeira vista, Yeshuah teria tudo para ser uma leitura enfadonha: a história da vida de Jesus, pela milionésima vez? Ledo engano: partindo dos escritos apócrifos do Mar Morto, Laudo Ferreira, desenhista experiente, oferece, nesta HQ adulta, uma visão realista – e com os nomes em hebraico – do parto de Miriam: sem Reis Magos, estrelinha, nada. Trabalho de fôlego, em três volumes. Yeshuah - Assim em Cima Assim embaixo / Laudo Ferreira e O. Viñole / Devir / 156 p / R$ 23 / devir.com.br
O moderno já foi
Rock ‘n‘ roll da pesada, como se fazia no tempo em que o gênero ainda não havia virado o Clube do Mickey. Resumidamente, assim é como se pode classificar o trabalho da banda baiana IV de Marte. À primeira vista / ouvida, há quem possa acha-los caídos (no sentido de ultrapassados), mas tem coisa mais caída e bunda-mole do que o rock mainstream atual? É hora de voltar às raízes – e nesse sentido, nada mais pra frentex do que esta banda. IV de Marte / Independente / R$ 10 / Vendas: 71-3385-7322
Dub brazuca de saias
Massarock é o pseudônimo da cantora Marietta Vital, integrante do soundsystem Dubversão. Experiente como backing vocal em discos de Zeca Baleiro e Guilherme Arantes, ela lança agora seu primeiro álbum, para download gratuito. Fissurada em reggae e dub, a moça gravou acompanhada de duas bandas: Rockers Control e Savages. Com sua voz delicada, dá um bom astral a faixas como Dread Under Pressure e Youth of Today. Massarock / Independente / Download gratuito: http://www.traquitana.org/
Memórias imaginárias
Dramaturgo, ator, cineasta, roteirista de histórias em quadrinhos, agitador cultural. O chileno Alejandro Jodoroswky conta nesta “autobiografia imaginária“, como ele mesmo define, sua trajetória de Santiago para Paris, via Cidade do México, dos anos 60 até os dias de hoje. Mais do que um relato de vida, tocante um testemunho do poder transformador da imaginação sem amarras. A Dança da realidade / Alejandro Jodorowsky / Devir/ 368 p. / R$ 34,50 / http://www.devir.com.br/
E o Superman com isso?
Mais conhecido como roteirista de (boas) HQs para a DC Comics, como a premiada Crise de Identidade (2006), o americano Brad Meltzer é também um romancista de sucesso, com thrillers como Os milionários e este O livro das mentiras. Mistura de O Código Da Vinci com Homens do amanhã (de Gerard Jones), faz uma curiosa conexão entre os assassinatos de Abel (por Caim) e o (nunca solucionado) de Mitchell Siegel, pai de Jerry, criador do Superman. O Livro das mentiras / Brad Meltzer / Planeta / 352 p. / R$ 49,90 / http://www.editoraplaneta.com.br/
Musa polimorfa
Terceiro CD da cantora e atriz francesa Charlotte Gainsbourg (filha do Serge), IRM parece confirmar uma certa característica camaleônica da moça. Se no seu álbum anterior, 5:55, ecos do genial duo Air (que produziu o disco) pareciam permear o trabalho, neste aqui, a mão (e também a voz) do cantor e produtor americano Beck aparecem a todo momento. Longe de denotar falta de personalidade, parece que o maior talento de Gaisnbourg é absorver para si o melhor de cada um. Charlotte Gainsbourg / IRM / Warner / R$ 29,90
Clássico inventado
Surgido no livro As incríveis aventuras de Kavalier & Clay (Record, 2002), de Michael Chabon, O Escapista é o mestre do subterfúgio, inimigo da tirania e campeão da liberdade. Na verdade, ele é um personagem fictício criado pelos dois quadrinistas fictícios do livro anterior. Aqui, ele é (re)trabalhado por Will Eisner, Howard Chaykin, Gene Colan, Harvey Pekar e Brian K. Vaughan, entre outros. As Incríveis Aventuras do Escapista / Michael Chabon e Vários artistas / Devir / 192 p. / R$ 44,50 / http://www.devir.com.br/
Clássico de fato
Mais conhecido como o criador de Tarzan, Edgar Burroughs também foi um prolífico escritor de ficção científica pulp. Sua série mais conhecida de FC é a de John Carter, um militar da Guerra da Secessão que vai parar em Marte, onde se envolve com uma princesa e várias nações em conflito. Inspiração de James Cameron para Avatar, este livro está sendo adaptado pela Disney. Uma princesa de Marte / Edgar Rice Burroughs / Aleph / 272 p. / R$ 39, 90 /www.editoraaleph.com.br
terça-feira, agosto 03, 2010
POETA LOU
Lou Reed furou com os fãs brasileiros, quando, sem uma justificativa razoável – somente a velha e esfarrapada desculpa das “razões pessoais“ – cancelou sua vinda à Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa amanhã, na agradável cidade colonial carioca.
Para consolar, saiu pela Companhia das Letras o livro que já estava programado para aproveitar sua passagem pelo Brasil: Atravessar o fogo - 310 letras de Lou Reed.
O calhamaço com quase 800 páginas reúne a venerável produção poética de um dos maiores bardos do rock ‘n‘ roll, na tradução competente da dupla curitibana Christian Schwartz e Caetano W. Galindo.
De qualquer forma, pode-se dizer que o cano na Flip não doeu tanto: o homem nem ia cantar mesmo, só falar e ler suas letras – de fato, uma pena, mas uma perda menor do
que se tivesse cancelado um show.
E olha que, com o Reed de hoje em dia, nem isso é garantia de satisfação. No início de julho, ele, sua esposa Laurie Anderson e o jazzista John Zorn foram vaiados em um show no Canadá por que só tocaram música instrumental. Detalhe: o ingresso custou salgados 100 dólares.
O incidente das vaias em Montreal, protagonizado por um Lou Reed quase septuagenário – ele hoje tem 68 anos – porém, não tira do eterno líder do Velvet Underground nem um milímetro sequer do brilho de sua obra pregressa e da sua folha corrida de serviços prestados ao rock ‘n‘ roll e a cultura pop – que ele hoje parece olhar com desdém.
Afinal, a se contar do primeiro LP da sua banda Velvet Underground (o “disco da banana“, lançado em 1967) até hoje, são mais de 40 anos de uma produção cuja escala vai de no mínimo, instigante – nos seus momentos menos brilhantes – a absolutamente sublime – nas obras mais inspiradas.
E foi justamente inspiração o principal recurso dos tradutores de Atravessar o fogo para a singular tarefa de verter os indomáveis versos do poeta do Brooklyn para o português brasileiro coloquial. O principal, mas não o único, claro.
“Posso dizer que minha parte deu bastante trabalho. A dificuldade não estava nos textos em si – exceto, talvez, pelos discos do VU, antes da sua fase mais narrativa“, conta Christian Schwartz, professor e doutorando em História Social na Universidade de São Paulo (USP).
“Nestes primeiros discos, era sempre complicado achar a ponte de significado ideal para a travessia do leitor brasileiro – seja pelo nonsense próprio de algumas letras de rock, seja porque muita coisa era referência a personagens e, particularmente, a um espírito de época que, em certos momentos, me parecia intraduzível para os dias de hoje sem um recurso que sempre se procura evitar: notas de rodapé“, observa Christian.
Perguntas sem resposta
Em suma: não foi fácil para a dupla. Até porque o autor não é lá muito acessível a questionamentos, como ele mesmo escreve na introdução do livro: “Os tradutores me pedem explicações sobre palavras e frases que não posso dar. Algumas coisas me são desconhecidas. Algumas perguntas não podem ser respondidas. E certas vezes escrever significou apenas seguir o ritmo e o som e inventar palavras sem sentido algum além da sensação que transmitiam“, justifica Reed.
Restou a Christian e Caetano, além do conhecimento acumulado (que, felizmente, não é pouco), frequentar fóruns de discussão dos fãs. “Ideia, aliás, que as tradutoras de Reed na França e na China (!) também tiveram – e foi engraçado ver quais eram as dúvidas delas, que muitas vezes eram as minhas também“, ri Christian.
“Precisamos penar para achar o equilíbrio exato entre o prosaico brasileiro (a tradução nunca pretendeu ser poética) e o coloquial nova-iorquino dos anos 1970/80“, acrescenta.
Já no caso de Caetano, responsável pelas safras mais recentes, a pedreira The Raven (de 2003, versão para o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe), “foi um tanto mais difícil, por causa das referências ao mundo e ao texto de Poe. Mas OK, eu gosto de brincar de pastiche“, confessa o professor da Universidade Federal do Paraná e doutor em Linguística pela USP.
Para Caetano, a despeito das atuais pretensões eruditas de Reed, o que vai ficar mesmo do autor “é o Velvet Underground. Harold Bloom diz que os poetas tendem a durar dez anos no apogeu. A gente se engana ao pensar que deve ser diferente com música pop. Todo mundo decai seu tanto“, reflete.
Atravessar o Fogo - 310 Letras de Lou Reed / Lou Reed / Trad: Caetano W. Galindo e Christian Schwartz / Cia. das Letras / 792 p. / R$ 51,50
Para consolar, saiu pela Companhia das Letras o livro que já estava programado para aproveitar sua passagem pelo Brasil: Atravessar o fogo - 310 letras de Lou Reed.
O calhamaço com quase 800 páginas reúne a venerável produção poética de um dos maiores bardos do rock ‘n‘ roll, na tradução competente da dupla curitibana Christian Schwartz e Caetano W. Galindo.
De qualquer forma, pode-se dizer que o cano na Flip não doeu tanto: o homem nem ia cantar mesmo, só falar e ler suas letras – de fato, uma pena, mas uma perda menor do
que se tivesse cancelado um show.
E olha que, com o Reed de hoje em dia, nem isso é garantia de satisfação. No início de julho, ele, sua esposa Laurie Anderson e o jazzista John Zorn foram vaiados em um show no Canadá por que só tocaram música instrumental. Detalhe: o ingresso custou salgados 100 dólares.
O incidente das vaias em Montreal, protagonizado por um Lou Reed quase septuagenário – ele hoje tem 68 anos – porém, não tira do eterno líder do Velvet Underground nem um milímetro sequer do brilho de sua obra pregressa e da sua folha corrida de serviços prestados ao rock ‘n‘ roll e a cultura pop – que ele hoje parece olhar com desdém.
Afinal, a se contar do primeiro LP da sua banda Velvet Underground (o “disco da banana“, lançado em 1967) até hoje, são mais de 40 anos de uma produção cuja escala vai de no mínimo, instigante – nos seus momentos menos brilhantes – a absolutamente sublime – nas obras mais inspiradas.
E foi justamente inspiração o principal recurso dos tradutores de Atravessar o fogo para a singular tarefa de verter os indomáveis versos do poeta do Brooklyn para o português brasileiro coloquial. O principal, mas não o único, claro.
“Posso dizer que minha parte deu bastante trabalho. A dificuldade não estava nos textos em si – exceto, talvez, pelos discos do VU, antes da sua fase mais narrativa“, conta Christian Schwartz, professor e doutorando em História Social na Universidade de São Paulo (USP).
“Nestes primeiros discos, era sempre complicado achar a ponte de significado ideal para a travessia do leitor brasileiro – seja pelo nonsense próprio de algumas letras de rock, seja porque muita coisa era referência a personagens e, particularmente, a um espírito de época que, em certos momentos, me parecia intraduzível para os dias de hoje sem um recurso que sempre se procura evitar: notas de rodapé“, observa Christian.
Perguntas sem resposta
Em suma: não foi fácil para a dupla. Até porque o autor não é lá muito acessível a questionamentos, como ele mesmo escreve na introdução do livro: “Os tradutores me pedem explicações sobre palavras e frases que não posso dar. Algumas coisas me são desconhecidas. Algumas perguntas não podem ser respondidas. E certas vezes escrever significou apenas seguir o ritmo e o som e inventar palavras sem sentido algum além da sensação que transmitiam“, justifica Reed.
Restou a Christian e Caetano, além do conhecimento acumulado (que, felizmente, não é pouco), frequentar fóruns de discussão dos fãs. “Ideia, aliás, que as tradutoras de Reed na França e na China (!) também tiveram – e foi engraçado ver quais eram as dúvidas delas, que muitas vezes eram as minhas também“, ri Christian.
“Precisamos penar para achar o equilíbrio exato entre o prosaico brasileiro (a tradução nunca pretendeu ser poética) e o coloquial nova-iorquino dos anos 1970/80“, acrescenta.
Já no caso de Caetano, responsável pelas safras mais recentes, a pedreira The Raven (de 2003, versão para o poema O Corvo, de Edgar Allan Poe), “foi um tanto mais difícil, por causa das referências ao mundo e ao texto de Poe. Mas OK, eu gosto de brincar de pastiche“, confessa o professor da Universidade Federal do Paraná e doutor em Linguística pela USP.
Para Caetano, a despeito das atuais pretensões eruditas de Reed, o que vai ficar mesmo do autor “é o Velvet Underground. Harold Bloom diz que os poetas tendem a durar dez anos no apogeu. A gente se engana ao pensar que deve ser diferente com música pop. Todo mundo decai seu tanto“, reflete.
Atravessar o Fogo - 310 Letras de Lou Reed / Lou Reed / Trad: Caetano W. Galindo e Christian Schwartz / Cia. das Letras / 792 p. / R$ 51,50
PADRINHOS INFLUENTES
Há uma antiga anedota roqueira que dimensiona bem o tamanho da influência de Lou Reed – seja como músico ou poeta – e do Velvet Underground. Ela dizia que pouquíssimas pessoas assistiram ao show do VU. Mas todo mundo que viu, saiu correndo para formar a própria banda.
Pré-punk e art-rock na essência, o Velvet tinha na instrumentação – entre tosca e vanguardista – e na poesia suja de Reed suas marcas mais fortes.
Não por acaso, foi pedra fundamental para o surgimento de gerações de bandas que transitam entre o pós-punk, o experimental e o indie shoegaze, como Joy Division, REM, Jesus and Mary Chain, Cowboy Junkies, Teenage Fanclub, Yo La Tengo, Pavement, todos os grupos da geração chamada Class of ‘86 e muitas outras ainda hoje.
Nascido no Brooklyn em uma família de judeus, Lewis Allan Reed aprendeu sobre “a beleza da frase simples“ com seu mestre na Universidade de Syracuse, o renomado poeta norte-americano Delmore Schwartz.
Depois de sair do Velvet Underground em 1971, banda apadrinhada por Andy Warhol, saiu em carreira solo e caiu nas graças de David Bowie, que produziu seu maior hit: Walk on the Wild Side, de 1972.
BLU-REED VISIONS
Personalidades do rock baiano comentam suas letras preferidas de Lou Reed
Legendary Hearts, por Miguel Cordeiro (Koyotes)
Sem as letras das canções o rock´n´roll não sobreviveria ao teste da passagem do tempo. Lou Reed faz parte do seleto grupo de poetas roqueiros que direcionaram este gênero musical para outro patamar, ao mesclar os três ou quatro acordes básicos que o caracteriza com influências literárias – dos clássicos aos beats. A canção Legendary Hearts é exemplo disto. A partir de conflitos do dia a dia das relações afetivas da vida contemporânea, Lou Reed cria uma estória shakespeareana onde contrapõe o prazer efêmero com a eterna busca dos amores lendários que transcendem a existência humana.
Perfect day (Transformer, 1972), por Marcos Rodrigues (Theatro de Séraphin)
Perfect day é do mítico Transformer (1972), segundo álbum solo de Lou Reed depois do Velvet Undeground, e que tem produção de David Bowie. A canção foi regravada inúmeras vezes por artistas que vão de Patti Smith à Anthony and The Johnsons, passando por Duran Duran. Também fez parte da trilha sonora do cult movie Trainspotting (1996). Tudo isso torna a música conhecida e importante dentro da obra de Lou Reed. Nada disso, no entanto, explica a combinação mágica entre a letra, que faz um relato aparentemente suave do cotidiano banal (uma marca de Reed), com a melancólica melodia, de um tom menor quase jazzístico conduzido pelo piano e por cordas. Versos como "You Made Me Forget Myself/I Thought I Was Someone Else/Someone Good" deixam subtendido, no entedimento de muitos comentadores, que a música tem a ver com a dependência de Lou Reed com a heroína; daí sua utilização em Trainspotting. De uma forma ou de outra, o lirismo de Perfect Day transcede qualquer interpretação. It's just a perfect song.
Walk on The Wild Side, por Ricardo Spencer, cineasta
Vertido em apenas duas notas, o submundo de Nova York é exposto nesta crônica de Lou Reed. Como poeta da observação, é cinematográfico ao descrever personagens e hábitos, recortados deste mundo que ele nos apresenta. Segundo as palavras do próprio, "achei que seria engraçado apresentar às pessoas estes personagens que elas não gostariam de conhecer". Lou Reed se refere a sua turma, da Factory de Andy Warhol, do Max's Kansas City e do lado escuro das ruas. E assim o faz, estrofe a estrofe. "Holly came from Miami F-L-A / Hitchhiked her way across the U.S.A. / Plucked her eyebrows on the way / Shaved her legs and then he was a she / She sais, Hey babe, take a walk on the wild side." Poucas palavras e mil imagens no horizonte de um mundo escancarado, onde o seu protagonista é Haroldo Santiago. Lou descreve as pernas sendo raspadas e o homem se transformando em Holly Woodlawn, travesti portoriquenho que passou por várias em Nova Iorque até ser acolhida por Warhol e seus filmes. "Little Joe never once gave it away / Everybody had to pay and pay / A hussle here and a hussle there / New York City's the place where they said" é o trecho para Joe Dalessandro, ator de cinema underground, prostituto, e que Lou Reed expõe a maneira profissional de vender o corpo. Ainda Sugar Plum Fairy, Jackie Curtis e a mitológica Candy Darling, são devassadas com exuberância por Reed neste retrato de realidade. Nessas notas do underground.
All Tomorrow´s Parties, por Sérgio Cebola Martinez, Banda de Rock Triste e ex-Berlinda
Muitos já escreveram sob e sobre drogas. Poucos com tanta propriedade e crueza como Lou Reed. O mesmo vale para suas descrições das ruas, das vielas, do verdadeiro underground com suas prostitutas, traficantes, viciados, travestis, marginais de toda a espécie...a Nova York subterrânea. E poucos também, conseguem desenvolver em traços tão marcantes, personagens mergulhados neste contexto. É a Lisa (Lisa Says), Stephanie (Stephanie Says), Candy (Candy Says), e a personagem sem nome de que trata a canção All Tomorrow´s Parties, mergulhada em depressão. Em All Tomorrow´s Parties, Lou Reed identifica o desespero e solidão na busca pelo prazer e alienação de uma personagem que enfim, mergulha em seu próprio vazio existencial. Qual uma Cinderela do underground: “E quais trajes a pobre moça irá usar / Para todas as festas de amanhã / Um vestido de farrapos de não se sabe onde / Para todas as festas de amanhã / E onde ela irá, e o que ela fará / Quando for por volta da meia-noite? / Ela se virará mais uma vez para o palhaço dominical e vai chorar atrás da porta”. A narrativa segue, e Reed define do que se trata o tal “palhaço dominical”: “Para cada criança de Quinta há um palhaço de Domingo”. Chorando, após sua busca por prazer e felicidade, atrás da porta. Só, novamente.
The Kids, por Osvaldo Braminha Silveira (MTV Salvador)
The Kids é a musica central do mais sombrio dos discos de Reed, o conceitual Berlin. Com o badalado produtor Bob Ezrin no comando, apoiado por um time de super músicos, alem de orquestra, Berlin conta de forma desconexa a historia da junkie Caroline, em meio a decadência e promiscuidade através de Jim (Reed). Em The Kids, Reed, num canto falado laconico, narra numa balada arrastada que estavam tomando as crianças de Caroline porque ela estava transando com”homens , mulheres e todos os outros”, por causa das drogas, da protituição, enfim a degradação total. Os brutais acontecimentos descritos em The Kids levam Caroline ao suicídio. E Jim (agora se chamando de Waterboy) frio, indiferente, cruel. A narrativa criou tamanho impacto em Mike Scott , que ele batizou sua banda ( Waterboys) devido a esta musica.