Marcelo Nova faz três shows em clima intimista a partir de hoje até domingo, acompanhado por guitarristas locais, revisitando sucessos da carreira e covers
Artista polêmico por natureza e que dispensa apresentações, Marcelo Nova retorna à Salvador para três shows em clima intimista no Balcão Botequim, acompanhado apenas pelos violões e guitarras do duo Operários do Blues, formado por Cândido Amarelo Neto e Eric Assmar.
No repertório, as canções que fizeram sua fama na banda Camisa de Vênus, da carreira solo, e, eventualmente, covers.
“Eu não privilegio esse negócio de época de carreira, não, bicho. O que eu posso te dizer é que vai ter canções de Marcelo Nova no show. As que eu fiz sozinho, as que eu fiz com Raul Seixas e as que eu fiz com o Camisa“, enumera, durante entrevista por telefone de sua casa em São Paulo, onde se estabeleceu há mais de 20 anos. “Eu não tenho set list. Esse negócio me entedia muito“, acrescenta.
Salvo engano, será a primeira vez que Marcelo faz um show desse tipo em Salvador, segundo o próprio. “Rapaz, eu costumo fazer esse tipo de show, mas não me lembro se já fiz um desses aí em Salvador“, confessa, rindo.
Será também a primeira vez que tocará com a revelação da guitarra Eric Assmar, filho de um contemporâneo seu, Álvaro Assmar, que na época do Camisa de Vênus, tocava na banda Cabo de Guerra. “Eu não tô preocupado com isso, não. Eles (a dupla de guitarristas) é que têm que se preocupar comigo“, brinca.
Sobre a maldição do “toca Raul“, frase que acompanha 10 entre 10 músicos Brasil afora em shows, Marcelo lembra que, de fato, toca Raul “desde que ele estava vivo, então esse negócio de ‘toca Raul‘ pra mim, não faz sentido, constata.
Conhecido pela língua solta e o destemor com que expressa suas opiniões fortes, Marcelo teve sua primeira experiência com o cinema no ano passado, quando atuou no filme O Magnata, produzido e roteirizado por Chorão, da banda Charlie Brown Jr.
Seu papel, uma espécie de Grilo Falante, era a consciência do personagem principal (vivido por Paulo Vilhena) e lhe valeu uma indicação de Melhor Ator Coadjuvante no IV Prêmio Fiesp/Sesi-SP de Cinema Paulista. “Quando eu soube, eu disse o seguinte: como o Brasil tá ruim de ator“, disparou.
Não gosto! – Sua relação com Salvador, a Bahia e suas características específicas (a chamada baianidade, seja a nagô ou não) sempre foi conflituosa. Na verdade, ele diz com todas as letras que não gosta mesmo e pronto.
“Eu gosto de ir aí trabalhar e rever os amigos. Mas veja bem, eu não gosto de praia, sol, acarajé, carnaval, trio elétrico, velhos baianos, novos baianos, abará, Pelourinho, Porto da Barra, Itapoan e Iansã. Da Bahia, eu só gosto de Pitty, que nem mora aí“ completa, quase às gargalhadas com a lista feita no improviso.
A última notícia que Marcelo teve de Salvador foi a da polêmica provocada pelo coordenador do curso de medicina da Ufba, que disse que “baiano só sabe tocar berimbau por que só tem uma corda“.
Mas Marcelo ainda foi além: “O cara falou umas verdades aí e ficou todo mundo chocadinho. A única coisa que eu corrigiria da fala dele é que o baiano ainda toca mal o berimbau“, largou.
Nero do rock – Responsável por moldar o perfil de uma das bandas mais influentes do rock brasileiro em todos os tempos, Marcelo não tem acompanhado muito o atual momento do rock nacional.
“Eu sou de outra época, meu amigo. Eu toquei fogo aí na Bahia, eu fui o Nero do rock baiano e depois toquei fogo no Brasil, também. O fogo era a minha passionalidade, mas hoje não tem mais incêndio, só faísca. Hoje, tudo é mercado“, lamenta.
“Depois eu cansei. Banda de rock é coisa de adolescente. Toda banda deveria ser proibida de tocar depois dos 40 anos. Esse negócio de andar em bando, todo mundo de camisa preta, xingando garçom, não dá mais pra mim“, afirma.
Néctar – Nos anos 70, antes de montar a Camisa de Vênus, Marcelo era dono de uma loja de discos que ficava na Barra, chamada Néctar, especializada em rock.
“Era muito chato naquela época em Salvador. Mas era engraçado também, por que minha loja só vendia discos de rock. Então, imagine só uma loja segmentada para o rock, em Salvador, nos anos 70. Aí nego entrava e perguntava: ‘tem João Gilberto?‘ Eu gritava de lá: ’Não!’ ‘Tem Simone?‘ “Não!’ O bom não era nem vender, era gritar com quem entrava lá“, ri Marcelo.
Marcelo Nova & Os Operários do Blues
Hoje e sábado, 22 horas | Domingo, 18 horas
Balcão Botequim | R. da Paciência, 233, Rio Vermelho (3334- 7450)
R$ 90 (mesa para 4 pessoas com kit de salgadinhos) e R$ 25 (cadeira)
Censura 18 anos (hoje e sábado) e 12 anos (domingo)
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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sexta-feira, junho 27, 2008
quarta-feira, junho 25, 2008
A INQUIETAÇÃO DO CACHORRÃO DO HIP HOP
Snoop Dogg tenta apontar caminhos para o rap sair da vala comum do gangsta, em momento para lembrar como tudo começou
Snoop Dogg todo mundo conhece. Mas que ele era capaz de cantar – e bem – pouca gente sabia, até sair o impagável clipe do hit Sensual Seduction, onde emula o combo soul funk Zapp, bastante popular no início dos anos 80. Seu último CD, Ego Trippin‘, ainda reserva outras surpresas, como um inesperado country onde homenageia Johnny Cash.
Esse ligeiro desvio do rapper aponta para uma bem-vinda inquietação artística, muito provavelmente advinda do desgaste que o hip hop mainstream, estagnado no estilo gangsta rap desde os anos 90, já demonstra há tempos.
Marrentos, quase sempre musculosos e ostentando jóias, armas, mulheres submissas e mansões, os astros do hip hop seduziram a juventude do mundo inteiro esfregando na cara dos ianques brancos e conservadores todo o poderio e popularidade que o sucesso e o dinheiro podem comprar.
Uma merecida revanche pelos séculos de segregação escancarada e ódio racial (especialmente nos estados sulistas). Mas isso é o bastante?
E quanto à longa e sofisticada tradição musical negra oriunda do blues e do jazz, que legou ao mundo grandes gênios como Louis Armstrong, Duke Ellington, Marvin Gaye, James Brown, John Coltrane, Miles Davis, Ray Charles, Stevie Wonder e tantos outros, que encheriam uma página só com seus nomes?
O que seria da música pop e da própria cultura do século XX sem essas figuras? Para começar, sequer haveria Beatles e Rolling Stones na Inglaterra, já que eles só se interessaram por música por que gostavam do blues e do do rock primordial americano.
Daí volta-se ao rap, a música negra americana predominante nas últimas duas décadas.
Esse pessoal honra essa tradição? A verdade é dura, mas deve ser encarada: dificilmente.
Antes de tudo, é bom diferir o que é rap e o que é hip hop. Rap é a música formada pelo ritmo e pela poesia – daí o termo, um acrônimo para rhythm and poetry. Hip hop é a cultura urbana que engloba o rap, mais breakdance, grafite e DJing, entre outras atividades.
Na verdade, desde o fim dos anos 60, o grupo novaiorquino The Last Poets já praticava uma forma arcaica de rap, rimando protestos virulentos contra o racismo sobre bases de tambores.
Mas foi somente em 1979, com o hit Rapper‘s Delight, da Sugarhill Gang, que o estilo se popularizou. Sobre uma linha de baixo sinuosa, surrupiada do hit Good Times (Chic), dois rappers iam rimando sobre a base, mais ou menos da mesma forma que os toasters da Jamaica faziam desde os anos 50. Estes, por sua vez, se inspiravam no soul americano, captado via rádio. Fechou-se aí um interessantíssimo círculo de intercâmbio cultural.
Na sua primeira década, o rap e a cultura hip hop viveram um frutífero momento de estabelecimento de suas bases estéticas e ideológicas, com representações legítimas e criativas, como Public Enemy, Run DMC, Afrika Bambaata, Whodini e outros.
GANGSTA RAP DOMINOU A PRODUÇÃO
A coisa começou a degringolar nos anos 90, quando a indústria fonográfica começou a perceber a mina de ouro que tinha em mãos. Daí a fabricar seus próprios “astros“ do hip hop, como o branquelo azedo Vanilla Ice, foi um pulo.
Os negros dos guetos, por sua vez, começaram a ficar cada vez mais agressivos, e, consequentemente, sem direção. A cultura da gangues dava o tom das letras, incluindo ameaças de morte.
Depois dos distúrbios raciais que aterrorizaram Los Angeles em 1992, decorrentes da absolvição dos policiais brancos que surraram o negro Rodney King, foi que o gangsta rap decolou de vez. No mesmo ano, o rapper Ice T. e sua banda Body Count surgiram com a canção Cop Killer (Assassino de Tiras), proibida logo de cara.
Ao mesmo tempo, rappers cada vez mais ricos começaram a ostentar essa riqueza nos clipes, tornando-se tão fúteis e sem graça quanto os brancos que os oprimiam.
Pregando violência, misoginia e ostentação, o chamado gangsta rap tornou-se a tendência predominante do hip hop, gerando nomes como Tupac, Notorious B.I.G. (não a toa, ambos já mortos, assassinados por gangues rivais), Wu-Tang Clan e o próprio Snoop Dogg.
Este último, como se pôde notar, foi o mais esperto da turma. Agora estrelando um reality show nos moldes do The Osbournes, Snoop Dogg‘s Fatherhood, ele não apenas foi quem mais ampliou seu espectro de alcance popular, mas também quem, com seu último CD, Ego Trippin‘, começou um discreto movimento para, de fato, trazer a música de volta ao rap.
Extenso, com nada menos que 21 faixas, Ego Trippin‘ está longe de ser uma ruptura radical com os cânones do gênero, mas aponta direções, cantando e investindo no synth pop (tendência compartilhada com Kanye West) da ultra-grudenta Sexual Eruption (suavizada na MTV para Sensual Seduction). Há até mesmo um country suingado, My Medicine, onde o abusado rapper saúda um mito do estilo: “Gostaria de dedicar esta gravação ao meu chefe , Johnny Cash, um verdadeiro gangster americano“.
É na irreverência, na ironia e na volta às raízes que o rap pode voltar a ser um gênero interessante. Outra saída seria se mirar nos brasileiros Racionais MCs, que nunca caíram na fórmula fácil da ostentação.
Snoop Dogg todo mundo conhece. Mas que ele era capaz de cantar – e bem – pouca gente sabia, até sair o impagável clipe do hit Sensual Seduction, onde emula o combo soul funk Zapp, bastante popular no início dos anos 80. Seu último CD, Ego Trippin‘, ainda reserva outras surpresas, como um inesperado country onde homenageia Johnny Cash.
Esse ligeiro desvio do rapper aponta para uma bem-vinda inquietação artística, muito provavelmente advinda do desgaste que o hip hop mainstream, estagnado no estilo gangsta rap desde os anos 90, já demonstra há tempos.
Marrentos, quase sempre musculosos e ostentando jóias, armas, mulheres submissas e mansões, os astros do hip hop seduziram a juventude do mundo inteiro esfregando na cara dos ianques brancos e conservadores todo o poderio e popularidade que o sucesso e o dinheiro podem comprar.
Uma merecida revanche pelos séculos de segregação escancarada e ódio racial (especialmente nos estados sulistas). Mas isso é o bastante?
E quanto à longa e sofisticada tradição musical negra oriunda do blues e do jazz, que legou ao mundo grandes gênios como Louis Armstrong, Duke Ellington, Marvin Gaye, James Brown, John Coltrane, Miles Davis, Ray Charles, Stevie Wonder e tantos outros, que encheriam uma página só com seus nomes?
O que seria da música pop e da própria cultura do século XX sem essas figuras? Para começar, sequer haveria Beatles e Rolling Stones na Inglaterra, já que eles só se interessaram por música por que gostavam do blues e do do rock primordial americano.
Daí volta-se ao rap, a música negra americana predominante nas últimas duas décadas.
Esse pessoal honra essa tradição? A verdade é dura, mas deve ser encarada: dificilmente.
Antes de tudo, é bom diferir o que é rap e o que é hip hop. Rap é a música formada pelo ritmo e pela poesia – daí o termo, um acrônimo para rhythm and poetry. Hip hop é a cultura urbana que engloba o rap, mais breakdance, grafite e DJing, entre outras atividades.
Na verdade, desde o fim dos anos 60, o grupo novaiorquino The Last Poets já praticava uma forma arcaica de rap, rimando protestos virulentos contra o racismo sobre bases de tambores.
Mas foi somente em 1979, com o hit Rapper‘s Delight, da Sugarhill Gang, que o estilo se popularizou. Sobre uma linha de baixo sinuosa, surrupiada do hit Good Times (Chic), dois rappers iam rimando sobre a base, mais ou menos da mesma forma que os toasters da Jamaica faziam desde os anos 50. Estes, por sua vez, se inspiravam no soul americano, captado via rádio. Fechou-se aí um interessantíssimo círculo de intercâmbio cultural.
Na sua primeira década, o rap e a cultura hip hop viveram um frutífero momento de estabelecimento de suas bases estéticas e ideológicas, com representações legítimas e criativas, como Public Enemy, Run DMC, Afrika Bambaata, Whodini e outros.
GANGSTA RAP DOMINOU A PRODUÇÃO
A coisa começou a degringolar nos anos 90, quando a indústria fonográfica começou a perceber a mina de ouro que tinha em mãos. Daí a fabricar seus próprios “astros“ do hip hop, como o branquelo azedo Vanilla Ice, foi um pulo.
Os negros dos guetos, por sua vez, começaram a ficar cada vez mais agressivos, e, consequentemente, sem direção. A cultura da gangues dava o tom das letras, incluindo ameaças de morte.
Depois dos distúrbios raciais que aterrorizaram Los Angeles em 1992, decorrentes da absolvição dos policiais brancos que surraram o negro Rodney King, foi que o gangsta rap decolou de vez. No mesmo ano, o rapper Ice T. e sua banda Body Count surgiram com a canção Cop Killer (Assassino de Tiras), proibida logo de cara.
Ao mesmo tempo, rappers cada vez mais ricos começaram a ostentar essa riqueza nos clipes, tornando-se tão fúteis e sem graça quanto os brancos que os oprimiam.
Pregando violência, misoginia e ostentação, o chamado gangsta rap tornou-se a tendência predominante do hip hop, gerando nomes como Tupac, Notorious B.I.G. (não a toa, ambos já mortos, assassinados por gangues rivais), Wu-Tang Clan e o próprio Snoop Dogg.
Este último, como se pôde notar, foi o mais esperto da turma. Agora estrelando um reality show nos moldes do The Osbournes, Snoop Dogg‘s Fatherhood, ele não apenas foi quem mais ampliou seu espectro de alcance popular, mas também quem, com seu último CD, Ego Trippin‘, começou um discreto movimento para, de fato, trazer a música de volta ao rap.
Extenso, com nada menos que 21 faixas, Ego Trippin‘ está longe de ser uma ruptura radical com os cânones do gênero, mas aponta direções, cantando e investindo no synth pop (tendência compartilhada com Kanye West) da ultra-grudenta Sexual Eruption (suavizada na MTV para Sensual Seduction). Há até mesmo um country suingado, My Medicine, onde o abusado rapper saúda um mito do estilo: “Gostaria de dedicar esta gravação ao meu chefe , Johnny Cash, um verdadeiro gangster americano“.
É na irreverência, na ironia e na volta às raízes que o rap pode voltar a ser um gênero interessante. Outra saída seria se mirar nos brasileiros Racionais MCs, que nunca caíram na fórmula fácil da ostentação.
sexta-feira, junho 20, 2008
GARGANTA PRIVILEGIADA E TÉCNICA ÚNICA
Fenômeno da música, o cantor Bobby McFerrin se apresenta neste sábado no Teatro Castro Alves
Se houvesse um concurso para apontar o maior cantor do mundo, este título, muito provavelmente, cairia no colo do americano Bobby McFerrin. Estourado mundialmente como hit Don‘t Worry, Be Happy, de 1988, ele se tornou conhecido por abrigar, dentro do próprio corpo, uma banda inteira, além de uma infinidade de vozes diferentes. É esse prodígio assombroso da música que se apresenta amanhã para os baianos, na nobre sala principal do Teatro Castro Alves.
É bom que se diga logo: McFerrin sobe ao palco desacompanhado, armado apenas com seu talento e sua técnica. “Apenas“, claro, é um termo inexato, pois o homem sozinho vale por um orquestra inteira. Usando apenas a boca, a garganta e batuques no próprio peito, McFerrin executa com perfeição temas de Bach, Beatles, George Gershwin e Thelonious Monk, entre outros clássicos da música mundial.
“Levei um bom tempo até descobrir que poderia fazer um show inteiro sozinho. Da idéia inicial até conseguir colocá-la em prática, foram uns seis anos para desenvolver minha técnica“, revela o cantor em entrevista por telefone de um hotel em Brasília, onde se apresentou na última quinta-feira (19).
“De início eu ficava um pouco atemorizado pela idéia de subir num palco sozinho, sem uma banda“, lembra. “Mas eu não conseguia deixar de pensar nisso. Ao longo do anos, eu fui matutando, juntando as peças, desenvolvendo a técnica, pensando sempre em como eu poderia fazer as pessoas ouvirem a linha de baixo, a melodia e as harmonizações“, detalha.
O resultado, como se sabe, foi algo inédito e espantoso, até mesmo para seus pais, professores de canto. “Eles ainda se confundem com minha técnica. Digo, meu pai morreu tem dois anos, mas antes disso, ele ainda não conseguia entender como eu faço o que faço“, lembra.
De fato, para meros mortais é um tanto incompreensível como ele consegue articular performances incríveis como as de Blackbird (Beatles), Ave Maria (Bach) e o tema da Pantera Cor-de-Rosa (Henry Mancini), além da óbvia Don‘t Worry, Be Happy, todas facilmente encontráveis no site You Tube.
Que não se espere a execução do hit no TCA esta noite, contudo. Antes da entrevista, a assessoria da produtora do evento passou instruções expressas aos meios de comunicação para que não se fizessem quaisquer perguntas sobre a música, devidamente excluída do repertório pelo próprio cantor.
Vontade satisfeita, o ganhador de dez prêmios Grammy que já vendeu 20 milhões de álbuns mundo afora, fala livremente: “Eu chego, faço o que sei e pronto. Cresci ouvindo diferentes estilos de música e meus pais tinham uma formação erudita, então ouvi muita ópera também. Nasci nos anos 50, portanto, cresci com o rock dos anos 60, ouvindo Jimi Hendrix, Janis Joplin, James Brown, Stevie Wonder, Marvin Gaye. Mais tarde, descobri Paul Simon e Sergio Mendes e Brasil 66, provavelmente, a primeira coisa de música brasileira que ouvi“, lembra.
Esse ecletismo, que se reflete no seu repertório, o credenciou para engatar parcerias extraordinárias com alguns dos mais conceituados músicos do planeta, como o violoncelista Yo-Yo Ma, os pianista Chick Corea e Herbie Hancock e a Orquestra Filarmônica de Viena, entre outros. A colaboração que mais o marcou, porém, foi comCorea. “Ele entendeu completamente meu trabalho. Quando nos apresentamos juntos, parece que habitamos o mesmo corpo“, elogia.
Maestro, McFerrin se define como apenas um músico folk
Aquele jovem sorridente que assombrou – e deliciou – o planeta, ao aliar técnica apurada e frescor pop em Don‘t Worry, Be Happy, cresceu, amadureceu e se tornou um dos mais respeitados nomes da world music atual.
Um de seus parceiros musicais, o pianista e trilheiro de cinema Herbie Hancock, o apontou como embaixador do jazz e da música erudita, certamente devido ao seu fácil diálogo com qualquer tipo de público, mesmo com toda a sofisticação que salta aos ouvidos ao ouvir seu trabalho.
Com formação de maestro, McFerrin já conduziu representações significativas da música erudita, como a Filarmônica de Nova Iorque, as Orquestras Sinfônicas de Cleveland, Chicago e Filadélfia, e, na Europa, a Filarmônica de Viena.
Apesar de todo esse eruditismo, McFerrin prefere se definir como um músico folk na acepção mais pura – e globalizada – da palavra. “Eu amo a música africana e de outras culturas, e isso meio que se torna a minha paleta sonora. É aí que eu faço meu repertório, eu busco essas memórias, sentimentos e sons. Nunca me perguntei o que eu queria ser, se um músico clássico ou de jazz, então decidi que a melhor definição seria a de músico folk, por que o músico folk extrai a sua arte da cultura das comunidades. Então, às vezes eu estou às voltas com o folk africano, com o folk brasileiro, e assim por diante“, explica.
Apesar da sua imensa capacidade, McFerrin volta e meia se depara com canções que são um desafio. “Uma vez assisti um grupo vocal feminino da Bulgária que tem uma técnica inacreditável, eu fiquei estupefato“, confessa.
BOBBY MCFERRIN | Hoje, 21 horas | Teatro Castro Alves | Pça. Dois de Julho, s/n, Campo Grande (3535-0600). | R$ 100 e R$ 50 (filas A a P); R$ 80 e R$ 40 (filas Q a Z), R$ 60 e R$ 30 (filas Z1 a Z11)
Se houvesse um concurso para apontar o maior cantor do mundo, este título, muito provavelmente, cairia no colo do americano Bobby McFerrin. Estourado mundialmente como hit Don‘t Worry, Be Happy, de 1988, ele se tornou conhecido por abrigar, dentro do próprio corpo, uma banda inteira, além de uma infinidade de vozes diferentes. É esse prodígio assombroso da música que se apresenta amanhã para os baianos, na nobre sala principal do Teatro Castro Alves.
É bom que se diga logo: McFerrin sobe ao palco desacompanhado, armado apenas com seu talento e sua técnica. “Apenas“, claro, é um termo inexato, pois o homem sozinho vale por um orquestra inteira. Usando apenas a boca, a garganta e batuques no próprio peito, McFerrin executa com perfeição temas de Bach, Beatles, George Gershwin e Thelonious Monk, entre outros clássicos da música mundial.
“Levei um bom tempo até descobrir que poderia fazer um show inteiro sozinho. Da idéia inicial até conseguir colocá-la em prática, foram uns seis anos para desenvolver minha técnica“, revela o cantor em entrevista por telefone de um hotel em Brasília, onde se apresentou na última quinta-feira (19).
“De início eu ficava um pouco atemorizado pela idéia de subir num palco sozinho, sem uma banda“, lembra. “Mas eu não conseguia deixar de pensar nisso. Ao longo do anos, eu fui matutando, juntando as peças, desenvolvendo a técnica, pensando sempre em como eu poderia fazer as pessoas ouvirem a linha de baixo, a melodia e as harmonizações“, detalha.
O resultado, como se sabe, foi algo inédito e espantoso, até mesmo para seus pais, professores de canto. “Eles ainda se confundem com minha técnica. Digo, meu pai morreu tem dois anos, mas antes disso, ele ainda não conseguia entender como eu faço o que faço“, lembra.
De fato, para meros mortais é um tanto incompreensível como ele consegue articular performances incríveis como as de Blackbird (Beatles), Ave Maria (Bach) e o tema da Pantera Cor-de-Rosa (Henry Mancini), além da óbvia Don‘t Worry, Be Happy, todas facilmente encontráveis no site You Tube.
Que não se espere a execução do hit no TCA esta noite, contudo. Antes da entrevista, a assessoria da produtora do evento passou instruções expressas aos meios de comunicação para que não se fizessem quaisquer perguntas sobre a música, devidamente excluída do repertório pelo próprio cantor.
Vontade satisfeita, o ganhador de dez prêmios Grammy que já vendeu 20 milhões de álbuns mundo afora, fala livremente: “Eu chego, faço o que sei e pronto. Cresci ouvindo diferentes estilos de música e meus pais tinham uma formação erudita, então ouvi muita ópera também. Nasci nos anos 50, portanto, cresci com o rock dos anos 60, ouvindo Jimi Hendrix, Janis Joplin, James Brown, Stevie Wonder, Marvin Gaye. Mais tarde, descobri Paul Simon e Sergio Mendes e Brasil 66, provavelmente, a primeira coisa de música brasileira que ouvi“, lembra.
Esse ecletismo, que se reflete no seu repertório, o credenciou para engatar parcerias extraordinárias com alguns dos mais conceituados músicos do planeta, como o violoncelista Yo-Yo Ma, os pianista Chick Corea e Herbie Hancock e a Orquestra Filarmônica de Viena, entre outros. A colaboração que mais o marcou, porém, foi comCorea. “Ele entendeu completamente meu trabalho. Quando nos apresentamos juntos, parece que habitamos o mesmo corpo“, elogia.
Maestro, McFerrin se define como apenas um músico folk
Aquele jovem sorridente que assombrou – e deliciou – o planeta, ao aliar técnica apurada e frescor pop em Don‘t Worry, Be Happy, cresceu, amadureceu e se tornou um dos mais respeitados nomes da world music atual.
Um de seus parceiros musicais, o pianista e trilheiro de cinema Herbie Hancock, o apontou como embaixador do jazz e da música erudita, certamente devido ao seu fácil diálogo com qualquer tipo de público, mesmo com toda a sofisticação que salta aos ouvidos ao ouvir seu trabalho.
Com formação de maestro, McFerrin já conduziu representações significativas da música erudita, como a Filarmônica de Nova Iorque, as Orquestras Sinfônicas de Cleveland, Chicago e Filadélfia, e, na Europa, a Filarmônica de Viena.
Apesar de todo esse eruditismo, McFerrin prefere se definir como um músico folk na acepção mais pura – e globalizada – da palavra. “Eu amo a música africana e de outras culturas, e isso meio que se torna a minha paleta sonora. É aí que eu faço meu repertório, eu busco essas memórias, sentimentos e sons. Nunca me perguntei o que eu queria ser, se um músico clássico ou de jazz, então decidi que a melhor definição seria a de músico folk, por que o músico folk extrai a sua arte da cultura das comunidades. Então, às vezes eu estou às voltas com o folk africano, com o folk brasileiro, e assim por diante“, explica.
Apesar da sua imensa capacidade, McFerrin volta e meia se depara com canções que são um desafio. “Uma vez assisti um grupo vocal feminino da Bulgária que tem uma técnica inacreditável, eu fiquei estupefato“, confessa.
BOBBY MCFERRIN | Hoje, 21 horas | Teatro Castro Alves | Pça. Dois de Julho, s/n, Campo Grande (3535-0600). | R$ 100 e R$ 50 (filas A a P); R$ 80 e R$ 40 (filas Q a Z), R$ 60 e R$ 30 (filas Z1 a Z11)
terça-feira, junho 17, 2008
LOVE, HATE AND... MICRO-RESENHAS
Baranga arma o barraco
Rock ‘n‘ roll old school, com base de hard blues na linha de bandas como Motorhead, AC/DC e Circus of Power. Esta é a Baranga, banda paulista que chega ao terceiro CD, Meu Mal, refinando sua proposta de fazer rock pesadão com letras em português, sempre celebrando o rock (claro), o álcool, carrões, a vida louca nas grandes cidades e, como não poderia deixar de ser, as mulheres. O CD abre acelerado com Filho Bastardo e a faixa-título, lembrando muito o Motorhead. A velocidade cai um pouco no resto do CD, mas o peso se mantém, com destaque para Não Mora Mais Aqui (“Este é um blues / de quem não volta pra casa“), Predador (“Sem pudor, sem amor / o que ela quer é um predador“) e A Vida é Uma Só (“pra curtir sem dó“). Rockão sem firulas, direto na jugular.
Meu Mal
Baranga
Voice Music
R$ 20
www.barangarock.com.br
Espelho sci-fi da sociedade
Marco da ficção científica em quadrinhos, a série O Incal revelou, ainda nos anos 80, os talentos do escritor e cineasta chileno Alejandro Jodorowsky e do desenhista francês Jean Moebius Giraud para muita gente ao redor do mundo. Em Antes do Incal, o autor retorna ao personagem principal da série-mãe, o detetive particular John Difool, numa série de três magníficos álbuns publicados no Brasil pela Devir, que já havia lançado a série original em 2006. Com o fechamento de Antes do Incal – com os desenhos do iugoslavo Zoran Janjetov, um claro discípulo de Moebius –, pode-se perceber todo o alcance e a profundidade da crítica de Jodorowsky à natureza humana. Que o leitor não se engane: a ambientação espacial de ficção científica é só um artifício para Jodorowsky abordar problemas bem atuais, como o poder desembestado da televisão, tráfico de drogas, prostituição, política etc.
Antes do Incal Volume 3
Jodorowsky / Janjetov
Devir
96 p. | R$ 42
www.devir.com.br
Coletânea precoce, talento inegável
Eles são novinhos e fazem as meninas gritarem feito loucas. Diferente de nulidades emo como Fall Out Boy e Simple Plan, contudo, o McFly (sobrenome de Michael J. Fox em De Volta para o Futuro), prefere não pintar os olhos, voltando-os para o pop perfeito de bandas como Beach Boys, Beatles e Monkees. O resultado soa atual e atemporal ao mesmo tempo, qualidade raríssima. Não vai salvar o rock, mas está milhas acima de quase tudo que aparece no mainstream hoje em dia, com peso na medida, boas melodias e refrões para cantar junto. Destaques: Five Colours in Her Hair, Please, Please, That Girl (que chega a lembrar o Stray Cats) e o cover de Don‘t Stop me Now, do Queen.
Greatest Hits
McFly
Universal
R$ 22,90
www.mcflyofficial.com
Alan Moore: bom até nos Wildcats
Diz um velho ditado nos quadrinhos que “não existem personagens ruins, e sim, maus escritores“. Alan Moore, o maior nome vivo da indústria de HQs, provou isso duas vezes, ao fazer dos gibis Supremo (uma cópia do Superman) e WildCats (cópia dos X-Men) duas pequenas pérolas das HQs de super-heróis. Em Guerra de Gangues, 2º e último livro reunindo a fase de Moore com os Cats, ele faz o que costuma fazer: vira o mundo dos personagens de cabeça pra baixo, acabando com as motivações bobas do grupo e criando outras mais interessantes, estabelecendo um novo e mais elevado patamar para o próximo escritor. Recapitulando: os Wildcats eram uma equipe de SSPs (Seres Super-Poderosos) reunidos na Terra para combater os Demonitas, raça alienígena eternamente em guerra com os Querubins, raça da qual o líder dos Cats, Lorde Emp (um Professor Xavier de segunda) faz parte. Alan Moore pegou os Cats, botou a equipe numa nave e os mandou de volta para Khera, planeta dos Querubins. Lá chegando, eles decobrem que a guerra contra os Demonitas acabou há séculos - o que de cara, tornou toda as ações do grupo na Terra, inúteis. Na Terra, amigos dos Cats montam uma outra equipe mais bizarra para continuar a guerra que já acabou e eles ainda não sabem. Moore explora os dois cenários com a habilidade de sempre, desenvolvendo os personagens e seus dramas pessoais. Outro lance típico de Moore é todo o cenário sócio-político-cultural que ele cria para o planeta dos Querubins, tudo detalhadamente elaborado, como sempre. O primeiro volume, De Volta Pra Casa, ainda pode ser facilmente encontrado em livrarias e comic shops. Lápis das feras Travis Charest, Dave Jonhson, Aaron Wiesenfeld e outros.
Wildcats - Guerra de gangues
Moore / Vários
Pixel Media
192 p.| R$ 36,90
pixelquadrinhos.com.br
Ruim no estúdio, pior ainda ao vivo
O tempo passa, o tempo voa, e o rock mainstream americano continua... uma porcaria sem tamanho. O que dizer de uma banda que só se sustenta por causa do seu baixista emo, um pavãozinho tatuado de nome Pete Wentz, alçado à condição de símbolo sexual por uma mídia histérica, movida à ganância e dólares à granel? Por que musicalmente, o Fall Out Boy é simplesmente nulo. Suas músicas, que só se tornam hits por conta da lavagem cerebral promovida pela MTV americana, são todas iguais: um emocore pop sem personalidade, nem sabor. Mas a pergunta que fica mesmo é a seguinte: qual a diferença entre o Bon Jovi nos anos 80 e o Fall Out Boy nos anos 2000? A marca de laquê?
Live in Phoenix
Fall Out Boy
Universal
R$ 26,90
www.falloutboyrock.com
Clássico inédito em versão bilíngüe
A menos famosa das Irmãs Brontë, Anne (1820-1849), finalmente tem sua obra inédita, A moradora de Wildfell Hall (1848), lançada no Brasil. Se suas irmãs Emily (O morro dos ventos uivantes) e Charlotte (Jane Eyre) causaram comoção na Inglaterra vitoriana com suas abordagens ousadas (para a época) de temas como amor, morte e traição, a caçula Anne era uma feminista, que reivindicava o direito da mulher à busca da felicidade. No livro, a personagem Helen vai contra a família ao escolher casar-se com Arthur Huntington, que após o matrimônio, revela-se um tremendo canalha. Excelente edição, com texto bilíngüe.
A moradora de Wildfell Hall
Anne Brontë
Editora Landmark
368 p. | R$ 40,50
www.editoralandmark.com.br
Rock ‘n‘ roll old school, com base de hard blues na linha de bandas como Motorhead, AC/DC e Circus of Power. Esta é a Baranga, banda paulista que chega ao terceiro CD, Meu Mal, refinando sua proposta de fazer rock pesadão com letras em português, sempre celebrando o rock (claro), o álcool, carrões, a vida louca nas grandes cidades e, como não poderia deixar de ser, as mulheres. O CD abre acelerado com Filho Bastardo e a faixa-título, lembrando muito o Motorhead. A velocidade cai um pouco no resto do CD, mas o peso se mantém, com destaque para Não Mora Mais Aqui (“Este é um blues / de quem não volta pra casa“), Predador (“Sem pudor, sem amor / o que ela quer é um predador“) e A Vida é Uma Só (“pra curtir sem dó“). Rockão sem firulas, direto na jugular.
Meu Mal
Baranga
Voice Music
R$ 20
www.barangarock.com.br
Espelho sci-fi da sociedade
Marco da ficção científica em quadrinhos, a série O Incal revelou, ainda nos anos 80, os talentos do escritor e cineasta chileno Alejandro Jodorowsky e do desenhista francês Jean Moebius Giraud para muita gente ao redor do mundo. Em Antes do Incal, o autor retorna ao personagem principal da série-mãe, o detetive particular John Difool, numa série de três magníficos álbuns publicados no Brasil pela Devir, que já havia lançado a série original em 2006. Com o fechamento de Antes do Incal – com os desenhos do iugoslavo Zoran Janjetov, um claro discípulo de Moebius –, pode-se perceber todo o alcance e a profundidade da crítica de Jodorowsky à natureza humana. Que o leitor não se engane: a ambientação espacial de ficção científica é só um artifício para Jodorowsky abordar problemas bem atuais, como o poder desembestado da televisão, tráfico de drogas, prostituição, política etc.
Antes do Incal Volume 3
Jodorowsky / Janjetov
Devir
96 p. | R$ 42
www.devir.com.br
Coletânea precoce, talento inegável
Eles são novinhos e fazem as meninas gritarem feito loucas. Diferente de nulidades emo como Fall Out Boy e Simple Plan, contudo, o McFly (sobrenome de Michael J. Fox em De Volta para o Futuro), prefere não pintar os olhos, voltando-os para o pop perfeito de bandas como Beach Boys, Beatles e Monkees. O resultado soa atual e atemporal ao mesmo tempo, qualidade raríssima. Não vai salvar o rock, mas está milhas acima de quase tudo que aparece no mainstream hoje em dia, com peso na medida, boas melodias e refrões para cantar junto. Destaques: Five Colours in Her Hair, Please, Please, That Girl (que chega a lembrar o Stray Cats) e o cover de Don‘t Stop me Now, do Queen.
Greatest Hits
McFly
Universal
R$ 22,90
www.mcflyofficial.com
Alan Moore: bom até nos Wildcats
Diz um velho ditado nos quadrinhos que “não existem personagens ruins, e sim, maus escritores“. Alan Moore, o maior nome vivo da indústria de HQs, provou isso duas vezes, ao fazer dos gibis Supremo (uma cópia do Superman) e WildCats (cópia dos X-Men) duas pequenas pérolas das HQs de super-heróis. Em Guerra de Gangues, 2º e último livro reunindo a fase de Moore com os Cats, ele faz o que costuma fazer: vira o mundo dos personagens de cabeça pra baixo, acabando com as motivações bobas do grupo e criando outras mais interessantes, estabelecendo um novo e mais elevado patamar para o próximo escritor. Recapitulando: os Wildcats eram uma equipe de SSPs (Seres Super-Poderosos) reunidos na Terra para combater os Demonitas, raça alienígena eternamente em guerra com os Querubins, raça da qual o líder dos Cats, Lorde Emp (um Professor Xavier de segunda) faz parte. Alan Moore pegou os Cats, botou a equipe numa nave e os mandou de volta para Khera, planeta dos Querubins. Lá chegando, eles decobrem que a guerra contra os Demonitas acabou há séculos - o que de cara, tornou toda as ações do grupo na Terra, inúteis. Na Terra, amigos dos Cats montam uma outra equipe mais bizarra para continuar a guerra que já acabou e eles ainda não sabem. Moore explora os dois cenários com a habilidade de sempre, desenvolvendo os personagens e seus dramas pessoais. Outro lance típico de Moore é todo o cenário sócio-político-cultural que ele cria para o planeta dos Querubins, tudo detalhadamente elaborado, como sempre. O primeiro volume, De Volta Pra Casa, ainda pode ser facilmente encontrado em livrarias e comic shops. Lápis das feras Travis Charest, Dave Jonhson, Aaron Wiesenfeld e outros.
Wildcats - Guerra de gangues
Moore / Vários
Pixel Media
192 p.| R$ 36,90
pixelquadrinhos.com.br
Ruim no estúdio, pior ainda ao vivo
O tempo passa, o tempo voa, e o rock mainstream americano continua... uma porcaria sem tamanho. O que dizer de uma banda que só se sustenta por causa do seu baixista emo, um pavãozinho tatuado de nome Pete Wentz, alçado à condição de símbolo sexual por uma mídia histérica, movida à ganância e dólares à granel? Por que musicalmente, o Fall Out Boy é simplesmente nulo. Suas músicas, que só se tornam hits por conta da lavagem cerebral promovida pela MTV americana, são todas iguais: um emocore pop sem personalidade, nem sabor. Mas a pergunta que fica mesmo é a seguinte: qual a diferença entre o Bon Jovi nos anos 80 e o Fall Out Boy nos anos 2000? A marca de laquê?
Live in Phoenix
Fall Out Boy
Universal
R$ 26,90
www.falloutboyrock.com
Clássico inédito em versão bilíngüe
A menos famosa das Irmãs Brontë, Anne (1820-1849), finalmente tem sua obra inédita, A moradora de Wildfell Hall (1848), lançada no Brasil. Se suas irmãs Emily (O morro dos ventos uivantes) e Charlotte (Jane Eyre) causaram comoção na Inglaterra vitoriana com suas abordagens ousadas (para a época) de temas como amor, morte e traição, a caçula Anne era uma feminista, que reivindicava o direito da mulher à busca da felicidade. No livro, a personagem Helen vai contra a família ao escolher casar-se com Arthur Huntington, que após o matrimônio, revela-se um tremendo canalha. Excelente edição, com texto bilíngüe.
A moradora de Wildfell Hall
Anne Brontë
Editora Landmark
368 p. | R$ 40,50
www.editoralandmark.com.br
terça-feira, junho 10, 2008
A GUERRA SECRETA DOS LIBERTÁRIOS
Primeiro encadernado de Os Invisíveis traz surpreendente saga de luta contra a opressão oculta sob o véu da realidade
Uma das séries de quadrinhos mais aclamadas e interessantes dos anos 90 finalmente ganha um lançamento brasileiro à altura da sua importância: Os Invisíveis, criada pelo escocês Grant Morrison, teve seu primeiro encadernado, Revolução 1, recém-lançado pela editora Pixel Media, detentora dos direitos de publicação do selo Vertigo / DC no Brasil.
Mistura alucinante de tramas de conspiração com ficção científica, Os Invisíveis, é, ao mesmo tempo, um grito de despertar, um chamado à revolução libertária e um mapa que traça rotas para se atingir outros níveis de percepção da realidade.
Tudo isso – e mais um pouco – embalado em referências várias, de eventos e vultos históricos como John Lennon e os escritores Percy Byshe Shelley (Uma Defesa da Poesia e Outros Ensaios), Mary Shelley (Frankensteisn), George Byron e Marquês de Sade (120 Dias de Sodoma)– todos transformados em personagens – à mitologias diversas, teoria do caos, cultura pop e psicodelia.
(Nas duas páginas ao lado, trecho em que King Mob toma um ácido para fazer contato com o espírito de John Lennon. Nesse mesmo número, um outro personagem, residente em Liverpool, presencia um bate-papo entre os jovens Lennon e Stuart Stucliffe ao entrar inadvertidamente em uma encruzilhada temporal ou algo assim).
Revolução 1 compila os 8 primeiros números da revista e apresenta ao leitor a temática da série, uma guerra secreta entre duas forças que se digladiam através dos séculos: os Invisíveis e seus inimigos, revelados ao longo da série.
Os Invisíveis trabalham sempre em pequenas células de cinco integrantes, mais ágeis e fáceis de operar. Anarquistas libertários, eles lutam contra todas as formas de opressão existentes.
Nos quatro primeiros números, o leitor conhece os personagens principais através do recrutamento do mais novo Invisível: Jack Frost, um jovem de Liverpool destinado a se tornar o novo Buda. Os outros são Ragged Robin, a telepata com rosto de boneca, Boy, uma ex-policial de Nova Iorque, Lorde Fanny, um xamã e travesti brasileiro, e por fim, King Mob, o estiloso líder do grupo, fisicamente baseado no próprio autor.
A rigor, qualquer pessoa pode ser um Invisível, inclusive nem nem saber disso ou jamais ter contato com qualquer um do grupo. Para entrar nele, Jack Frost passa por um penoso processo de iniciação com Tom O'Bedlam, um vagabundo das ruas de Londres.
Esse processo envolve rituais exóticos, como fumar um bolor azulado que cresce no subterrâneo abandonado da cidade, enxergar pelos olhos de um pombo, uma surra à beira do Tâmisa e um salto sem pára-quedas, do alto da torre do Canary Wharf.
A segunda metade do álbum, Arcádia, mostra a equipe voltando ao passado, onde encontra Mary Shelley e os outros escritores já citados, numa missão para recuperar a cabeça do profeta João Batista, que é mantida "viva" e murmurando coisas desconexas (ou não), encaixada sobre um estranho aparelho de tecnologia arcaica.
Os Invisíveis é assim: a cada página, uma revelação é jogada na cara do leitor. A cada quadrinho, uma reflexão sobre a natureza humana e as amarras que a contêm assalta as certezas que parecem tão naturais. Os Invisíveis é como uma piscina infinita de referências, diversão e loucura. Quem for bravo o bastante que caia dentro...
Os Invisíveis - Revolução 1
Morrison / Vários
Pixel Media / Vertigo
228 p. | R$ 44,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Uma das séries de quadrinhos mais aclamadas e interessantes dos anos 90 finalmente ganha um lançamento brasileiro à altura da sua importância: Os Invisíveis, criada pelo escocês Grant Morrison, teve seu primeiro encadernado, Revolução 1, recém-lançado pela editora Pixel Media, detentora dos direitos de publicação do selo Vertigo / DC no Brasil.
Mistura alucinante de tramas de conspiração com ficção científica, Os Invisíveis, é, ao mesmo tempo, um grito de despertar, um chamado à revolução libertária e um mapa que traça rotas para se atingir outros níveis de percepção da realidade.
Tudo isso – e mais um pouco – embalado em referências várias, de eventos e vultos históricos como John Lennon e os escritores Percy Byshe Shelley (Uma Defesa da Poesia e Outros Ensaios), Mary Shelley (Frankensteisn), George Byron e Marquês de Sade (120 Dias de Sodoma)– todos transformados em personagens – à mitologias diversas, teoria do caos, cultura pop e psicodelia.
(Nas duas páginas ao lado, trecho em que King Mob toma um ácido para fazer contato com o espírito de John Lennon. Nesse mesmo número, um outro personagem, residente em Liverpool, presencia um bate-papo entre os jovens Lennon e Stuart Stucliffe ao entrar inadvertidamente em uma encruzilhada temporal ou algo assim).
Revolução 1 compila os 8 primeiros números da revista e apresenta ao leitor a temática da série, uma guerra secreta entre duas forças que se digladiam através dos séculos: os Invisíveis e seus inimigos, revelados ao longo da série.
Os Invisíveis trabalham sempre em pequenas células de cinco integrantes, mais ágeis e fáceis de operar. Anarquistas libertários, eles lutam contra todas as formas de opressão existentes.
Nos quatro primeiros números, o leitor conhece os personagens principais através do recrutamento do mais novo Invisível: Jack Frost, um jovem de Liverpool destinado a se tornar o novo Buda. Os outros são Ragged Robin, a telepata com rosto de boneca, Boy, uma ex-policial de Nova Iorque, Lorde Fanny, um xamã e travesti brasileiro, e por fim, King Mob, o estiloso líder do grupo, fisicamente baseado no próprio autor.
A rigor, qualquer pessoa pode ser um Invisível, inclusive nem nem saber disso ou jamais ter contato com qualquer um do grupo. Para entrar nele, Jack Frost passa por um penoso processo de iniciação com Tom O'Bedlam, um vagabundo das ruas de Londres.
Esse processo envolve rituais exóticos, como fumar um bolor azulado que cresce no subterrâneo abandonado da cidade, enxergar pelos olhos de um pombo, uma surra à beira do Tâmisa e um salto sem pára-quedas, do alto da torre do Canary Wharf.
A segunda metade do álbum, Arcádia, mostra a equipe voltando ao passado, onde encontra Mary Shelley e os outros escritores já citados, numa missão para recuperar a cabeça do profeta João Batista, que é mantida "viva" e murmurando coisas desconexas (ou não), encaixada sobre um estranho aparelho de tecnologia arcaica.
Os Invisíveis é assim: a cada página, uma revelação é jogada na cara do leitor. A cada quadrinho, uma reflexão sobre a natureza humana e as amarras que a contêm assalta as certezas que parecem tão naturais. Os Invisíveis é como uma piscina infinita de referências, diversão e loucura. Quem for bravo o bastante que caia dentro...
Os Invisíveis - Revolução 1
Morrison / Vários
Pixel Media / Vertigo
228 p. | R$ 44,90
www.pixelquadrinhos.com.br
quinta-feira, junho 05, 2008
MICRO-RESENHAS QUE DÃO NO COURO
Bardo punk na maturidade
Com o talento amadurecido pelas décadas de luta no underground, Wander Wildner chega ao seu quinto – e muito provavelmente, melhor – álbum de músicas inéditas, La Cancion Inesperada. Mais melancólico, mas também mais esperto, o punk brega deste gaúcho universal vem embalado na luxuosa produção da dupla Kassin e Berna Ceppas, darlings da nova MPB (Orquestra Imperial etc), que, inteligentemente, ressaltaram a voz roufenha do cantor em elaborados arranjos acústicos, incluindo sanfonas (ou gaita, para os sulistas), violões, violoncelos, clavinetes, órgãos e teclados Rhodes. A ênfase, como ele mesmo vem dizendo em entrevistas, não é mais no rock, e sim, nas – inesperadas – canções. Destacando-se entre estas, portanto, pode-se citar como pontos altos do CD a regravação do clássico regional Amigo Punk (da Graforréia Xilarmônica), O Reverendo Rock Gaúcho, Um Bom Motivo e a linda faixa título. Desde já, um dos discos do ano.
La Cancion Inesperada
Wander Wildner
Independente
R$ 22,90
www.wanderwildner.com.br
Da vingança fatal enquanto arte
Uma das HQs mais elogiadas dos últimos tempos, 100 Balas tem seu primeiro encadernado relançado no Brasil, com os cinco primeiros números do original americano. Trama policial de estilo realista e sombrio, 100 Balas mostra pessoas que sofreram na mão de criminosos recebendo a visita de um sujeito sinistro chamado Agente Graves. Ele entrega à essas pessoas uma maleta com um revólver, cem balas irrastreáveis e as provas contra o desafeto em questão. Como cada um lida com essa oferta do Agente é a grande graça da história, além da conspiração secreta por trás de tudo isso. Lindos desenhos do argentino Eduardo Risso numa das HQs mais inteligentes da atualidade.
100 Balas - Atire primeiro
Azzarelo / Risso
Pixel Media
128 p. | R$ 14,90
pixelquadrinhos.com.br
Nascido pronto para qualquer pista
Já se disse por aí que Ready for The Floor era única coisa boa deste CD, que o Hot Chip perdeu a mão e até que o disco era ruim mesmo, com exceção da faixa já citada. De fato, Ready for the Floor, com sua linha de baixo elástica, é a música de maior impacto do CD. De fato também, o álbum anterior, The Warning (2006), era melhor como um todo. Contudo, Made in the Dark não soa como um retrocesso na evolução do Hot Chip rumo ao estrelato mundial, mas apenas mais um passo nesse sentido. Faixas como Shake a Fist, Hold On e One Pure Thought são a prova disso. Salvo engano, o Hot Chip representa para esta época o que o New Order foi para a sua própria: pop eletrônico indie de ponta.
Made in the Dark
Hot Chip
EMI
R$ 28,90
www.hotchip.co.uk
Rock de família que bate na trave
Atuante na cena alternativa local já há alguns anos, a banda Anacê lança o primeiro CD, O Mundo, trazendo um rock pop limpo, bem comportado e família – até porque todos os integrantes são parentes. Uma banda “família“, literal e esteticamente, já que o som é perfeitamente acessível à pessoas de qualquer idade. O que seria ser uma qualidade, porém, acaba se tornando um ponto fraco. A despeito da produção sempre correta de andré t., das boas execuções e da bela voz da band leader Candice, é possível notar que a Anacê precisa desenvolver uma personalidade mais definida, além de ousar mais nas composições, ainda meio quadradas. Potencial, eles têm – só falta desenvolver.
O Mundo
Anacê
Independente
R$ 5
www.anace.com.br
Retorno à Avenida Dropsie
"Will Eisner não estava apenas à frente do seu tempo; os dias de hoje ainda estão tentando alcançá-lo". A frase, do premiado escritor americano John Updike (Coelho Corre), dá uma ligeira idéia do peso e da importância do criador do personagem Spirit e do próprio conceito de graphic novel (romance gráfico, ainda que sobre isso haja controvérsias). Falecido em 2004, Eisner dedicou toda a sua vida a criar, desenhar, escrever, ensinar, divulgar e aperfeiçoar o ofício da arte seqüencial. Em A força da vida, ele voltou seu olhar mais uma vez para os sofridos habitantes da Avenida Dropsie (distrito novaiorquino do Bronx e título de outro álbum seu), lar de uma comunidade de judeus pobres, como ele mesmo foi. O comunismo americano, a luta proletária, a pobreza, a guerra, o preconceito, as relações humanas e o próprio sentido da vida são apenas alguns dos temas abordados em mais esta obra-prima de um gênio da literatura ilustrada. Obrigatório.
A força da vida
Will Eisner
Devir
152 p. | R$ 38
www.devir.com.br
Nas baladas em NY, com Moby
Apesar de colecionar alguns singles bastante agradáveis ao longo de sua carreira, o DJ, produtor e músico americano Moby sempre cultivou uma imagem de eco-xiita vegetariano chatonildo dura de engolir. Com seu novo álbum, Last Night, ele tenta mostrar ao público o verdadeiro Moby: um baladeiro novaiorquino que bebe, dança e curte a night até de manhã. O álbum é conceitual, com a seqüência das faixas acompanhando uma noite de curtição pelos clubes da cidade, da preparação para sair (Ooh Yeah), passando pelo auge do delírio na pista (Disco Lies) até a volta pra casa, acabado e de alma lavada (Last Night). Um belo tributo à noite da cidade que nunca dorme.
Last Night
Moby
Mute / EMI
R$ 32,90
www.moby.com
Branca de Neve não é mais aquela
Fábulas, a série atual de maior sucesso do selo Vertigo, parte da premissa de que, após serem expulsos de suas terras mágicas por uma entidade maligna conhecida como O Adversário, todos os personagens dos contos de fadas migraram de mala e cuia para Nova Iorque. Lá, vivem em um condomínio administrado por Branca de Neve e policiado pelo Lobo Mau, que assumiu forma humana e se reabilitou. Oscilando entre o cômico, o policial e o dramático, Fábulas prende o leitor pela narrativa muito bem amarrada, diálogos instigantes e as muitas referências espalhadas pelas páginas.
Fábulas - Lendas no Exílio
Willingham / Medina
Pixel Media
128 p. | R$ 23,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Com o talento amadurecido pelas décadas de luta no underground, Wander Wildner chega ao seu quinto – e muito provavelmente, melhor – álbum de músicas inéditas, La Cancion Inesperada. Mais melancólico, mas também mais esperto, o punk brega deste gaúcho universal vem embalado na luxuosa produção da dupla Kassin e Berna Ceppas, darlings da nova MPB (Orquestra Imperial etc), que, inteligentemente, ressaltaram a voz roufenha do cantor em elaborados arranjos acústicos, incluindo sanfonas (ou gaita, para os sulistas), violões, violoncelos, clavinetes, órgãos e teclados Rhodes. A ênfase, como ele mesmo vem dizendo em entrevistas, não é mais no rock, e sim, nas – inesperadas – canções. Destacando-se entre estas, portanto, pode-se citar como pontos altos do CD a regravação do clássico regional Amigo Punk (da Graforréia Xilarmônica), O Reverendo Rock Gaúcho, Um Bom Motivo e a linda faixa título. Desde já, um dos discos do ano.
La Cancion Inesperada
Wander Wildner
Independente
R$ 22,90
www.wanderwildner.com.br
Da vingança fatal enquanto arte
Uma das HQs mais elogiadas dos últimos tempos, 100 Balas tem seu primeiro encadernado relançado no Brasil, com os cinco primeiros números do original americano. Trama policial de estilo realista e sombrio, 100 Balas mostra pessoas que sofreram na mão de criminosos recebendo a visita de um sujeito sinistro chamado Agente Graves. Ele entrega à essas pessoas uma maleta com um revólver, cem balas irrastreáveis e as provas contra o desafeto em questão. Como cada um lida com essa oferta do Agente é a grande graça da história, além da conspiração secreta por trás de tudo isso. Lindos desenhos do argentino Eduardo Risso numa das HQs mais inteligentes da atualidade.
100 Balas - Atire primeiro
Azzarelo / Risso
Pixel Media
128 p. | R$ 14,90
pixelquadrinhos.com.br
Nascido pronto para qualquer pista
Já se disse por aí que Ready for The Floor era única coisa boa deste CD, que o Hot Chip perdeu a mão e até que o disco era ruim mesmo, com exceção da faixa já citada. De fato, Ready for the Floor, com sua linha de baixo elástica, é a música de maior impacto do CD. De fato também, o álbum anterior, The Warning (2006), era melhor como um todo. Contudo, Made in the Dark não soa como um retrocesso na evolução do Hot Chip rumo ao estrelato mundial, mas apenas mais um passo nesse sentido. Faixas como Shake a Fist, Hold On e One Pure Thought são a prova disso. Salvo engano, o Hot Chip representa para esta época o que o New Order foi para a sua própria: pop eletrônico indie de ponta.
Made in the Dark
Hot Chip
EMI
R$ 28,90
www.hotchip.co.uk
Rock de família que bate na trave
Atuante na cena alternativa local já há alguns anos, a banda Anacê lança o primeiro CD, O Mundo, trazendo um rock pop limpo, bem comportado e família – até porque todos os integrantes são parentes. Uma banda “família“, literal e esteticamente, já que o som é perfeitamente acessível à pessoas de qualquer idade. O que seria ser uma qualidade, porém, acaba se tornando um ponto fraco. A despeito da produção sempre correta de andré t., das boas execuções e da bela voz da band leader Candice, é possível notar que a Anacê precisa desenvolver uma personalidade mais definida, além de ousar mais nas composições, ainda meio quadradas. Potencial, eles têm – só falta desenvolver.
O Mundo
Anacê
Independente
R$ 5
www.anace.com.br
Retorno à Avenida Dropsie
"Will Eisner não estava apenas à frente do seu tempo; os dias de hoje ainda estão tentando alcançá-lo". A frase, do premiado escritor americano John Updike (Coelho Corre), dá uma ligeira idéia do peso e da importância do criador do personagem Spirit e do próprio conceito de graphic novel (romance gráfico, ainda que sobre isso haja controvérsias). Falecido em 2004, Eisner dedicou toda a sua vida a criar, desenhar, escrever, ensinar, divulgar e aperfeiçoar o ofício da arte seqüencial. Em A força da vida, ele voltou seu olhar mais uma vez para os sofridos habitantes da Avenida Dropsie (distrito novaiorquino do Bronx e título de outro álbum seu), lar de uma comunidade de judeus pobres, como ele mesmo foi. O comunismo americano, a luta proletária, a pobreza, a guerra, o preconceito, as relações humanas e o próprio sentido da vida são apenas alguns dos temas abordados em mais esta obra-prima de um gênio da literatura ilustrada. Obrigatório.
A força da vida
Will Eisner
Devir
152 p. | R$ 38
www.devir.com.br
Nas baladas em NY, com Moby
Apesar de colecionar alguns singles bastante agradáveis ao longo de sua carreira, o DJ, produtor e músico americano Moby sempre cultivou uma imagem de eco-xiita vegetariano chatonildo dura de engolir. Com seu novo álbum, Last Night, ele tenta mostrar ao público o verdadeiro Moby: um baladeiro novaiorquino que bebe, dança e curte a night até de manhã. O álbum é conceitual, com a seqüência das faixas acompanhando uma noite de curtição pelos clubes da cidade, da preparação para sair (Ooh Yeah), passando pelo auge do delírio na pista (Disco Lies) até a volta pra casa, acabado e de alma lavada (Last Night). Um belo tributo à noite da cidade que nunca dorme.
Last Night
Moby
Mute / EMI
R$ 32,90
www.moby.com
Branca de Neve não é mais aquela
Fábulas, a série atual de maior sucesso do selo Vertigo, parte da premissa de que, após serem expulsos de suas terras mágicas por uma entidade maligna conhecida como O Adversário, todos os personagens dos contos de fadas migraram de mala e cuia para Nova Iorque. Lá, vivem em um condomínio administrado por Branca de Neve e policiado pelo Lobo Mau, que assumiu forma humana e se reabilitou. Oscilando entre o cômico, o policial e o dramático, Fábulas prende o leitor pela narrativa muito bem amarrada, diálogos instigantes e as muitas referências espalhadas pelas páginas.
Fábulas - Lendas no Exílio
Willingham / Medina
Pixel Media
128 p. | R$ 23,90
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segunda-feira, junho 02, 2008
DUFFY, CANTORA-REVELAÇÃO DE 2008, DIVIDE A CRÍTICA
Ela é lourinha, nasceu e cresceu num lugarejo isolado da costa Norte do País de Gales, mas canta como uma diva negra da Motown.
Ela é Aimee Anne Duffy, ou simplesmente, Duffy, a cantora-sensação que vem sendo considerada a Amy Winehouse da vez com os hits Rockferry e Mercy, um soul incendiário que lembra os melhores momentos de Aretha Franklin.
Ao contrário de Winehouse, responsável por estabelecer de vez a onda de novas cantoras soul pop retrô junto à nomes como Joss Stone, Leona Lewis e Macy Gray, a bem comportada Duffy não é exatamente uma unanimidade da crítica, que a acusa de ser uma armação desprovida de personalidade, a exemplo da resenha de Greg Cochrane para Rockferry no influente semanário inglês New Musical Express.
Ora, estilo próprio por estilo próprio, nenhuma das cantoras citadas o tem de fato, pois todas apenas recauchutam um estilo retrô que muitos acreditavam morto.
Arrotos da crítica à parte, o que vale mesmo é o feeling de quem ouve. Produzido pelo guitarrista Bernard Butler (ex-Suede, banda referência da geração britpop que consagrou Oasis e Blur), Rockferry é um álbum de imensas qualidades.
De sonoridade sofisticada, o disco apresenta rebuscados arranjos de cordas emoldurando o vozeirão de Duffy em melodias encantadoras, claramente inspiradas na era de ouro do pop negro americano e mesmo britânico à moda Dusty Springfield, a precursora cantora inglesa, resgatada do ostracismo nos anos 90 por Quentin Tarantino, que incluiu o hit Son of a Preacher Man, na trilha do filme Pulp Fiction.
Referências à parte, Duffy pode não ter superado Amy Winehouse na estréia, mas deixou Joss Stone e Leona Lewis, com seus trabalhos inconsistentes, comendo poeira lá atrás. O tempo dirá, afinal, quem é Duffy, se uma deusa ou uma armação.
Rockferry
Duffy
Universal
26,90
www.iamduffy.com
Ela é Aimee Anne Duffy, ou simplesmente, Duffy, a cantora-sensação que vem sendo considerada a Amy Winehouse da vez com os hits Rockferry e Mercy, um soul incendiário que lembra os melhores momentos de Aretha Franklin.
Ao contrário de Winehouse, responsável por estabelecer de vez a onda de novas cantoras soul pop retrô junto à nomes como Joss Stone, Leona Lewis e Macy Gray, a bem comportada Duffy não é exatamente uma unanimidade da crítica, que a acusa de ser uma armação desprovida de personalidade, a exemplo da resenha de Greg Cochrane para Rockferry no influente semanário inglês New Musical Express.
Ora, estilo próprio por estilo próprio, nenhuma das cantoras citadas o tem de fato, pois todas apenas recauchutam um estilo retrô que muitos acreditavam morto.
Arrotos da crítica à parte, o que vale mesmo é o feeling de quem ouve. Produzido pelo guitarrista Bernard Butler (ex-Suede, banda referência da geração britpop que consagrou Oasis e Blur), Rockferry é um álbum de imensas qualidades.
De sonoridade sofisticada, o disco apresenta rebuscados arranjos de cordas emoldurando o vozeirão de Duffy em melodias encantadoras, claramente inspiradas na era de ouro do pop negro americano e mesmo britânico à moda Dusty Springfield, a precursora cantora inglesa, resgatada do ostracismo nos anos 90 por Quentin Tarantino, que incluiu o hit Son of a Preacher Man, na trilha do filme Pulp Fiction.
Referências à parte, Duffy pode não ter superado Amy Winehouse na estréia, mas deixou Joss Stone e Leona Lewis, com seus trabalhos inconsistentes, comendo poeira lá atrás. O tempo dirá, afinal, quem é Duffy, se uma deusa ou uma armação.
Rockferry
Duffy
Universal
26,90
www.iamduffy.com