Fãs e admiradores da chamada Nona Arte estão em festa no Brasil. O mercado de quadrinhos adultos para livrarias nunca foi tão variado e aberto a novidades. Uma simples busca na seção de HQs de qualquer boa casa do ramo revela opções da mais alta qualidade e para todos os gostos.
Das obras políticas e geniais de Alan Moore (Watchmen, V de Vingança) ao lirismo infantil e inteligente de Bill Waterston (Calvin & Haroldo), passando por Frank Miller (Sin City, 300 de Esparta), Will Eisner (Avenida Dropsie, Sundiata), Osamu Tezuka (Adolf, Buda), Neil Gaiman (Sandman) e muitos outros, a oferta de HQs em livrarias brasileiras nunca foi tão vasta e de boa qualidade - tanto no sentido gráfico, quanto editorial.
O mais interessante é que cada vez mais, estas obras buscam agradar não apenas ao leitor habitual de quadrinhos, mas também ao público em geral, que não costuma ler esse tipo de coisa. Para isso, as editoras se apóiam em edições caprichadas, não raro recorrendo a recursos de luxo, como capa dura, papel couchê de alta gramatura e materiais extras, como páginas com sketches, entrevistas e pin-ups (ilustrações especiais), entre outros mimos, além da arte de encher os olhos.
Um caso exemplar são as edições recentes da série Sandman (Conrad Editora), de Neil Gaiman. É humanamente impossível passar batido por aqueles livrões de formato diferenciado - bem maior do que o habitual - e a já reconhecida qualidade da série em si, de longe o melhor trabalho do autor inglês e uma das melhores da década de 80, pródiga em obras geniais que mudaram o rumo dos quadrinhos, como a citada Watchmen e O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (também lançada este mês em edição de luxo pela Panini).
Dois exemplos de boas opções de quadrinhos que podem fisgar o público em geral acabam de chegar às livrarias e sites de compras: Samurai: O Céu e a Terra e Mistérios Divinos, ambos lançamentos da editora Devir Livraria. O primeiro é de autoria da dupla Ron Marz e Luke Ross, o segundo, de Neil Gaiman e P. Craig Russel.
Marz, com passagens por títulos como Lanterna Verde, Surfista Prateado e Cyberforce, nunca foi assim uma brastemp, mas faz aqui o que talvez seja o melhor trabalho de sua carreira, contando a história de Shiro, um samurai do século 18 que perde sua morada, seus companheiros e tem sua mulher sequestrada por conquistadores chineses.
Irado, o guerreiro solitário parte à China para resgatar sua amada, apenas para descobrir que ela foi vendida para um mercador de escravos árabe. Em seu encalço, Shiro acaba indo parar na fétida Paris do Rei Luís XIV, onde a bela Yoshiko agora é cortesã. Shiro cruza espadas com os mosqueteiros e vive uma grande aventura evolvendo um ardiloso embaixador espanhol com planos obscuros de derrubar o rei francês.
Excetuando-se um furinho de roteiro aqui e ali - providenciais para um desenvolvimento mais ágil da história - Samurai é uma leitura bastante agradável, com potencial para cativar fãs de aventuras e romances típicos de filmes como O Último Samurai (com Tom Cruise) e O Clã das Adagas Voadoras.
O grande atrativo de Samurai, porém, é a estupenda arte de Luke Ross, pseudônimo de Luciano Queirós, um dos muitos brasileiros que hoje são astros do mercado americano de HQ. Dono de um traço extremamente elegante e de registro fotográfico, Luke se aprofundou em pesquisas via livros, filmes e sites da internet para recriar, com o máximo de precisão histórica, os ambientes, vestimentas, palácios e armas das mais diversas nacionalidades mostrados ao longo da graphic novel.
"A maior parte do trabalho de pesquisa eu faço mesmo pela internet. Antes de começarmos a produção da série, o Ron também me enviou alguns livros que ajudaram bastante na busca por referências históricas", conta o desenhista, em entrevista para A Tarde por telefone. Ele revela que trafega bastante também por sites de museus e fotologs pessoais de gente que faz turismo pelo mundo e publica suas lembranças de férias na rede.
Luke, contudo, não se limita a meramente copiar o que vê em cartões postais e fotos alheias, tendo um cuidado extra para não ofender o rigor histórico que ele mesmo se exige. "No Palácio de Versalhes, por exemplo, tem um monumento na entrada, que só foi colocado lá no século XIX. Como a história se passa cem anos antes, resolvi não incluí-lo em prol da coerência histórica", revela. Luke admite que o forte da sua recriação de época está mesmo é nos vestuários, onde caprichou mais, "até para compensar possíveis erros em outras áreas. Existem sites de moda muito bons que mostram a evolução do vestuário através dos séculos, que me ajudaram muito".
Luke tem razão em caprichar tanto. Nos Estados Unidos, o público habitual de quadrinhos é extremamente exigente. O desenhista conta que em um determinado fórum de discussão da Dark Horse (editora original da obra), um fã elogiou seu trabalho recriando os estilos de luta japonês (samurais) e francês (mosqueteiros), mas que o estilo do espadachim espanhol "não estava correto". E olha que o artista conta que estudou diversos filmes e quadrinhos japoneses e europeus para elaborar as coreografias de luta. "Assisti um monte de filmes do [Akira] Kurosawa", garante.
Outro ponto no qual Luke foi muito bem sucedido foi na difícil tarefa de destacar as diferenças entre os rostos chineses dos japoneses, muitas vezes, imperceptíveis aos olhos ocidentais. "Assistindo aos filmes dos dois países, dá para perceber que a estrutura anatômica é diferente. O rosto chinês é mais fino e tem as maçãs mais pronunciadas. Já o rosto japonês é mais largo, macilento", diferencia.
Sucesso de vendas, Samurai: O Céu e a Terra, que originalmente foi lançada como uma minissérie em cinco edições nos EUA, já ganhou uma continuação. O terceiro número já está nas comic shops americanas, enquanto Ross ainda finaliza a quarta edição em sua casa em, São Paulo. "Eu tô atrasado, mas o Ron, o pessoal da editora e os fãs, todos concordamos em segurar um pouco a ansiedade em prol da qualidade do resultado final", conta. No Brasil, Luke torce por boas vendas da edição da Devir, condição básica para a continuação ter sua chance de publicação aqui também.
ASSASSINATO NO PARAÍSO - Graças a sua série Sandman, iniciada em 1988 e concluída alguns anos depois, Neil Gaiman é hoje um superstar dos quadrinhos. Muita gente que não lê (ou não lia) quadrinhos é hoje leitor assíduo, graças a sua fantástica saga de Morpheus, o Mestre dos Sonhos que ficou 70 anos aprisionado no porão de uma mansão em Londres, e quando finalmente se libertou, teve de lutar para recuperar seu reino e pôr ordem no chamado Sonhar (The Dreaming), a dimensão para onde todos vamos quando dormimos e sonhamos.
Sua galeria de personagens secundários também fez grande sucesso, gerando séries derivadas com a Morte (a irmã mais velha do Sonho), Destino (outro membro da família) e Merv Pumpkinhead, o fanfarrão servente do Sonhar.
Com o recente relançamento de todos os 75 números de Sandman em 10 luxuosos volumes em capa dura pela Conrad Editora, Gaiman surfa a crista da onda nas vendas de quadrinhos de luxo no Brasil, e a prova disso é o lançamento deste Mistérios Divinos em formato similar ao da série que lhe deu fama.
Em Mistérios..., acompanhamos um jovem inglês perdido em Los Angeles, que, sentado em um banco de praça, encontra um estranho senhor que lhe propõe contar uma história em troca de um cigarro. Ele lhe conta sobre uma trama de assassinato no Paraíso, nos primórdios do tempo. A graça da história é ambientar uma típica trama policial no ambiente angelical, com direito a detetive durão (o anjo da vingança Raguel) e diversos suspeitos que se acusam entre si, em meio ao projeto Divino de criação do Universo.
É como aquelas histórias atuais onde há uma grande empresa, vaidades inflamadas e um assassinato corporativo, onde a investigação, sempre sob controle de alguém mais poderoso (nesse caso, Todo-Poderoso), deverá acabar de forma a não incomodar aqueles no comando da situação.
Apesar de bastante interessante e da arte muito bacana de Russel (premiado artista da edição nº 50 de Sandman, Ramadan), Mistérios Divinos está longe de ser o melhor trabalho do autor e merecia uma edição menos luxuosa, e por conseguinte, menos cara (R$ 42) para o fã de quadrinhos.
Links:
Devir: http://www.devir.com.br/index.php
Luke Ross: http://fotolog.terra.com.br/samuraihe:24
Ron Marz: http://en.wikipedia.org/wiki/Ron_Marz
Neil Gaiman: http://www.neilgaiman.com/
P. Craig Russel: http://pcraigrussell.net/
Matéria publicada no jornal A Tarde do dia 7 de março de 2007. Texto sem a edição do jornal.
"Luke, eu sou seu pai".
ResponderExcluirA quem se interessa pelo tema, sugiro a leitura do artigo "Livrarias em alta, bancas em baixa", do senhor Gonçalo Júnior, publicado na Revista Cult desse mês...
ResponderExcluirhttp://revistacult.uol.com.br/website/
Quem puder ajudar...
ResponderExcluir"Amigos,
Eu detesto spams, mas desta vez é coisa séria! O pai de Luisão (guitarrista, ex-integrante da Penélope), um grande amigo, está precisando urgentemente de sangue A- ou O-, em Salvador. Se alguém puder doar, será ótimo. Se não, por favor repasse para os conhecidos, e estará ajudando bastante!
O contato dele é luisaopereira@gmail.com.
Abraços e obrigada,
Gabriela"
Rory Gallagher eu ouvi bem garoto, um brother tinha uma fita cassete dele estraçalhando ao vivo, era muito impressionante mesmo, guitarrista de primeira linha... Depois ouvi um vinil da antiga banda dele, o Taste. Legal também, mas solo ele voou mais alto - ou ao menos é que me parece...
ResponderExcluirrory è deus.
ResponderExcluirPilha total para o lançamento do novo disco do...
ResponderExcluir(rufem os tambores) Linkin Park. Como foi produzido por Rick Rubin, vale esperar até estrear o clipe na MTV, só para ter certeza de que é uma bosta, mesmo. Me poupem.
http://bizz.abril.com.br/barulhoonline/35978_comentarios.shtml
é verdade a tour nacional do camisa de vênus??
ResponderExcluirestão espalhando isso por ai
Publicada a autobio do produtor Tony Visconti (Bowie, Bolan, Morrissey e por aí vai).
ResponderExcluirhttp://www.omelete.com.br/Conteudo.aspx?id=100004351&secao=game
Analise da semana em Tutty Vasquez:
ResponderExcluirCom todo respeito
De Lula, no lançamento de campanha pela camisinha: ?Sexo é uma necessidade orgânica.? Isso quer dizer o seguinte: fodam-se!
Depois da análise da semana, fiquem agora com a Frase do Dia, que me foi enviada agora mesmo pelo meu amigo Seco Norris:
ResponderExcluir"No mundo atual está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do Mal de Alzheimer. Daqui a alguns anos, teremos velhas de seios grandes e velhos de pau duro, mas eles não se lembrarão para que servem".
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> >> Dráuzio Varella
A primeira imagem de Watchmen, O Filme, já veio escondida no trailer de 300 (estréia 30 de março!), que é do mesmo diretor, Zack Snyder. Brrr.
ResponderExcluirhttp://www.omelete.com.br/conteudo.aspx?id=100004370&secao=cine