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sexta-feira, maio 26, 2006

BRUNO AZIZ: UM HOMEM E SEUS DILEMAS

Bruno Aziz tem o rock n' roll no sangue. Deve ser coisa de família mesmo, por que, além de ser irmão de Tiaguinho Aziz, (atual baixista da Cascadura, com passagens pela brincando de deus, Rebeca Matta, Crack! e Nancyta & Os Grazzers, entre outras bandas), o cara é também primo de Yuri Aziz (guitarrista da Dever de Classe, clássica representação punk local). Só que o instrumento que Bruno escolheu pra tocar é outro. Não tem cordas, nem emite som. É o lápis.

O interessante é que, mesmo assim, o trabalho desse descendente de libaneses de 31 anos, nascido e criado em Salvador, continua sendo rock n' roll pra caralho. Disparando suas tirinhas carregadas de humor e eletricidade urbana desde o início dos anos 90 pelos fanzines da vida, Bruno é hoje um dos melhores cartunistas baianos, sempre com seus característicos traços oblíquos, econômicos, precisos.

Claramente influenciado pelos Tres Amigos (os cartunistas Angeli, Laerte e Glauco) e outros nomes dos quadrinhos underground brazuca, como Alan Sieber e Adão Iturrusgarai, Bruno traz em seus quadrinhos a vivência do jovem baiano que virou as costas para o lado mais festivo e turístico de Salvador - enquanto todo mundo corria atrás do trio elétrico - em busca do lado mais selvagem, alternativo e marginal da vida. Bruno sempre foi figura fácil na night rock soteropolitana - é parte da cena, mesmo.

E isso permeia seu trabalho, tornando-o um observador privilegiado de uma realidade que poucos conhecem. Isso, mais a carga de cultura pop de filmes, quadrinhos e televisão são a origem que dá vida a tiras sempre bem humoradas, mesmo que sejam de um puta humor negro. Não se assuste se topar com alguém cozinhando um suculento sarapatel de tripas humanas em uma de suas tiras. Ela está lá só fazendo sentido.

Das páginas xerocadas de fanzines caseiros, Bruno ascendeu, subiu na vida, e hoje, publica toda semana duas tirinhas coloridas no jornal de maior circulação do estado, A Tarde. Uma no Caderno Dez (suplemento para o público jovem que circula às terças-feiras) e outra no A Tardinha (suplemento infantil que circula aos sábados). Em ambas, demonstra pleno domínio de timing das piadas e sempre arranca boas risadas de seus leitores - seja ele de que idade for, leitor da Tardinha ou da Tardona. Isso é artigo raro, senhoras e senhores: é talento mesmo. Por isso ele está aqui hoje. Conheçam agora um pouco da sua história, influências e modo de pensar.

(NOTA: Desculpem começar essa entrevista com exatamente a mesma pergunta da anterior - de Flávio Luiz. É que eu tinha que começar de algum lugar...)

Chico Castro Jr.: Começar do começo: qual foi a sua primeira revista em quadrinhos que você se lembra de ter em mãos, lido, pirado e dito: é isso aqui que eu quero fazer na minha vida?

Bruno Aziz: Não teve assim uma revista. Desde pequeno eu gostava de animais, sabe? Então eu pegava uma enciclopédia e ficava copiando os desenhos. Comecei a desenhar por aí. Agora, de quadrinhos, claro, tem os clássicos que a gente lê lá na infância, Mônica e tal. Mas foi no final dos anos 80 mesmo, aquela fase do Chiclete com Banana, Geraldão, Circo, aqueles quadrinhos nacionais underground. Ali eu pirei.

CCJ: Piratas do Tietê...

BA: O trio básico, né? Laerte, Angeli e Glauco. E na Circo também, que tinha outros autores, inclusive aquela galera da Europa, como Moebius, foi aquilo que me deu o start.

CCJ: Animal, você lia também?

BA: Pô, a Animal era do caralho. Puta revista, papel couchê...

CCJ: Tinha aquele fanzine encartado no meio, o Mau.

BA: É, depois a Chiclete até fez um parecido na linha do Mau, o JAM... Mas a Animal era demais. Aquela época foi foda, uma das melhores de todos os tempos para o quadrinho mundial. Rolava bastante quadrinho de ficção. Depois os heróis tomaram conta.

CCJ: Aquela época dos anos 90, a era Image, com Spawn?

BA: Aí eu já tinha parado.

CCJ: Foi uma época bem ruim, na verdade.

BA: É, me desanimei. Uma revista mais ou menos daquela época de herói que eu me amarrava era a Liga da Justiça. Aquele trabalho foi revolucionário. Era J.M. de Matteis, se não me engano...

CCJ: Ah, aquela fase da Liga cômica, de de Matteis, Keith Giffen e Kevin Maguire...
BA: É, aquilo eu achei massa, depois perdeu um pouquinho [a graça], mas as primeiras revistas são bem legais.

CCJ: É verdade. Mas vem cá, como foi que você começou a fazer suas tirinhas? Eu tava fuçando umas coisas antigas minhas e encontrei um fanzine das antigas chamado Placebo, com várias tirinhas suas - muito boas por sinal. Como foi até chegar ali?

BA: Aí foi o seguinte: em 1988, '89, eu entrei na Escola Técnica da Bahia. Aí conheci uma galera lá que produzia quadrinhos e fazia um fanzine lá chamado Penico. E foi essa a galera daqui que me influenciou: o Hector Salas e o Afoba, que eram caras um pouquinho mais velhos que eu - dois, três anos - e curtiam quadrinhos pra caralho e curtiam fazer também. Fomos trocando idéia e comecei com eles, ainda bem bruto o traço e tal. Mas o lance de fazer quadrinhos eu comecei com essa galera.

CCJ: Nessas tirinhas mais antigas suas que tem no Placebo, dá pra se perceber uma influência bem clara de Glauco.

BA: É, o traço mais rapidinho... Na verdade, eu nunca tive técnica mesmo, nunca estudei desenho, sacou? Então eu busquei meu caminho sozinho, mesmo, né? Eu me lembro que anos atrás a gente ficava conversando pra caralho, eu, você, Apú (guitarrista da banda baiana Sangria) e vocês ficavam "tem que lançar esses seus quadrinhos, tem que lançar" e tal. Mas eu me sentia muito inseguro em relação ao traço sabe? Hoje em dia eu vejo aquelas tirinhas mais antigas e... eu gosto pra caramba do texto ainda, sacou? Mas eu sempre tive muita insegurança em relação ao traço. Aí talvez por isso eu não tenha corrido atrás depois que as coisas começaram a engatar, eu fui começando a mexer mais com ilustração, eu nunca procurei lançar e as pessoas me cobravam, né? Foi legal até, por que depois eu tive essa oportunidade de colocar os trabalhos lá no (Caderno) Dez.

CCJ: Mas isso já foi bem depois, né? Anos depois. Mas vem cá, esses caras, o Hector Salas e Afoba, eles continuam fazendo quadrinhos hoje em dia?

BA: O Hector faz, ele trabalha como designer, mas tá sempre fazendo coisas pra salão de humor... O Hector sempre correu muito atrás e eu ficava na cola dele, e acabei conhecendo muita gente através do Hector, como uma galera da UNEB que fazia uma revista, a Tudo com Farinha, acho que só saiu uns três números. Soube que tem uma galera nova que tá querendo relançar. Foi uma iniciativa massa, com mais qualidade e tal, mas nunca foi uma coisa que ultrapassasse a barreira do underground, sabe? Tinha aquele hype do lançamento, mas nunca ia além das mãos dos amigos e conhecidos. A gente fazia pra galera dos conhecidos, a galera da faculdade. O Hector chegou a ir pra São Paulo, fez uma revista chamada... (busca na memória), acho que chamava Crau, em parceria com alguns desenhistas de lá. Capa colorida e tudo. Eu participei também, fizemos um número, mas também não vingou. Aí eu desanimava muito.

CCJ: E como foi sua trajetória até chegar no Dez? Você hoje é meio que o cartunista oficial do Dez e também da Tardinha (encarte infantil que circula aos sábados), que é muito bacana...

BA: Eu saí da Escola Técnica e fui aprimorar meu trabalho com outras pessoas. Pegava uma técnica aqui, via como uma galera trabalhava ali... E aí, acho que depois de uns dois anos, isso em 1992, 93, pirei em fazer um fanzine. Desenhei minhas historinhas e chamei algumas pessoas, Afoba, Hector, falei: "vamo fazer por minha conta". O primeiro número saiu clandestinão, a gente conseguiu fazer com um amigo da galera, o Fortaleza. A mãe dele tinha uma gráfica, aí ele disse "é nenhuma, pode fazer lá". De noite a gente invadiu lá e fez. Esse primeiro número foi todo clandestino mesmo. Rodamos só uns cem números também, foi um pouquinho só. E era muito ligado à galera do rock n' roll, né? Então a gente fazia lançamento nos shows da Lisergia, distribuía nos shows... Nessa mesma época comecei a trabalhar no Liceu de Artes e Ofícios. Eu era aprendiz, trabalhava com uma galera que tava fazendo vídeo lá. Mas sempre fazendo também quadrinhos. Depois de um ano e meio, lancei o segundo número, eu mesmo banquei.

CCJ: Que é esse que eu tenho aqui.

BA: É esse número que você tem.

CCJ: Isso foi em 1995, 96?...

BA: Por aí...

CCJ: Rapaz, isso já tem onze anos? Na boa, desde essa época você já demonstrava um timing de tirinha muito apurado, as piadas se resolvem muito direitinho...

BA: É, eu gosto também, eu não mexeria ali mais não. O meu traço mudou, hoje tá muito mais limpinho. A hq, a historinha grande que tem lá eu acho meio...

CCJ: Aquela de uns meninos num playground e um atirador escondido? Aquela história é sua?

BA: É minha.

CCJ: É muito boa também.

BA: No primeiro número tinha uma história que eu gostava muito que chamava "Legalize jazz". Foi na época do hype do primeiro disco do Planet Hemp, e a historinha era no ano 2006! (Risos). A gente achava que 2006 era o futuro e estamos vivendo ele agora, né? Aí tinha um gurizinho chegando na favela pra comprar a massa e aí ele encontrava aqueles trafica - tudo mal encarado, marrento, e o guri todo sem jeito pergunta se tem maconha, pá. Os caras esculacham o guri, dão um pau na cara dele e ele sai todo quebrado, fudido, chega na saída da favela, o amigo dele pergunta: "E aí, cara, conseguiu?" "Tsc! Nada. O jeito vai ser comprar na banquinha de novo"! "Me dá um maço de Cannabys Light aí, porra"! (Risos). Aí tinha um aviso: "Evite problemas: maconha, só da Souza Cruz"! (Risos). Na verdade, só teve essas duas historinhas, mesmo. Essa daí e "O homem do 502-B", que é a do franco-atirador. Eu gosto muito delas. Até hoje. Meu traço ali tava mais solto. Hoje eu até sinto um pouco de falta disso, perdi um pouco isso.

CCJ: Mas você solta as petecas no seu fotolog, rola umas ilustrações bem loucas.

BA: É verdade. Mas ali na época do segundo número do Placebo eu comecei a trabalhar. Entrei no Liceu (de Artes & Ofícios) de novo. Fui trabalhar no Marketing com programação visual, diagramação, essas coisas. E tem uma coisa engraçada. A gente fez o lançamento desse segundo fanzine e ali ele esgotou. E eu achava que o fanzine tava massa e tal. Nem me lembro de quem era o show. Eu sei que ali pelo fim da noite, tinha um monte de fanzine no chão, jogado fora, sacou?

CCJ: Porra, isso é uma merda, já aconteceu comigo também.

BA: Pô! Aí... deu uma desanimadinha, sacou? Comecei a trabalhar, dei uma diminuída na produção de quadrinhos. Fiquei trabalhando com design e uma coisa e outra de ilustração. Cartilha, tal. Passei uma época boa fazendo muito material educativo, pra caramba, sabe? Ilustração pra ONG... Eu gosto de fazer, sabe? E fui deixando de fazer quadrinhos. De vez em quando o Hector vinha "vamo lá fazer uma coletânea, desenha um Dileminhas aí, tal".

CCJ: Nessa época já rolavam os Dilemas (série de tiras).

BA: Já rolavam. Aí eu desenhava uma coisa ou outra, mas fui deixando de lado. E foi aí que começaram meus problemas de coluna, né? Aí eu fiquei doente. Descobri que tinha hérnia de disco. Isso foi em 2000. Nessa época, eu já trabalhava na gráfica do Liceu. Foi de foder porque aprendi muito a mexer com design, mexendo no Corel Draw, Photoshop. Quando descobri que

tinha a hérnia de disco, fiquei mal, doente. Fiquei afastado do trabalho seis meses, em casa. Nesse tempo, pra não pirar o cabeção, já que eu tava meio deprimido, voltei a desenhar. Quando comecei a melhorar um pouquinho ficava desenhando deitado, às vezes sentado. Fiz umas três séries de Dilemas. Cada uma, com umas trinta tirinhas. Aí depois que fiquei bom, fui fazendo o acabamento delas no computador, tal, sem pressa. E aí, voltei a trabalhar. Saí do Liceu, entrei na Cipó (Comunicação Interativa, ong local que trabalha auxiliando jovens de comunidades carentes). Isso já foi em 2002. Fui dar aulas de quadrinhos pros adolescentes, lá. Fui super relutante, mas uma pessoa que trabalhava lá, Mary Travassos, que era coordenadora do Liceu na minha época de aprendiz, me chamou pra fazer isso lá. Foi super legal, fiquei um ano. Um dia a Mary chegou e disse que conhecia a Nadja Vladi, (editora) do caderno Dez (caderno semanal dirigido ao público jovem do jornal A Tarde). "Vamo fazer essa ponte aí, vou te apresentar pra ela". Eu levei meu trabalho pra Nadja. Na época, ela tava começando a fechar com o Adão Iturrusgarai (cartunista que é o "quarto membro" dos Los Tres Amigos, criador da Aline, entre outras). Não lembro se chegou a sair alguma coisa dele na época. Acho que aquilo foi até antes da Aline. Sei que eles iam fechar com o Adão, mas gostaram do meu trabalho. E aí falaram pra mim: "vamos fazer".

CCJ: Preferiram você.

BA: Foi. E aí, pô... fiquei super empolgado, né? Eu gosto pra caramba do Dez, sempre gostei, e gosto até hoje. Melhorou bastante daquela época pra cá, mas já era legal pra caramba. E aí fui publicando minhas tirinhas, eu já tinha muita coisa pronta. Só que tinha um problema com o texto, que era meio pesado. Era uma coisa que eu fazia, tinha muito o lance da sexualidade...

CCJ: Drogas, tal?

BA: Drogas, nem tanto. Agora, sexo tinha pra caramba! (Risos). Aí eu tive que dar uma limada. Nadja chegou e disse: "vai ser você, mas... tem que ser mais limpinho". E aí eu fui adequando o texto. O Hector até me falou que continuava gostando das minhas tirinhas, mas que os personagens tinham ficado "bonzinhos demais". (Risos). Mas eu gosto delas até hoje, mesmo mais light.

CCJ: Se não perde a pegada, o humor, beleza. Isso é que é o mais importante.

BA: Comecei por aí. E brincando, brincando, já tô nessa há quase... quatro anos. Naquela época eu ainda trabalhava na Cipó e como frila, fazendo direção de arte em casa. Resumindo: fiquei bom da coluna um ano, depois tive crise de novo, fiquei bom, as crises iam e vinham. E essas crises eram punks. Até que fiquei ruim de novo e fiquei um mês em encostado em casa. Conhecia umas pessoas através do Dez e que conheciam meu trabalho através do fotolog. Isso tem uns três anos. Fiquei um mês em casa, só fazendo a tirinha semanal pro Dez. O dinheiro era pouquíssimo, posso falar na boa, era R$ 25,00 por tirinha. Isso durante três anos. No começo é massa, divulgação da porra, é o maior jornal impresso do estado, vai pra Bahia toda e até pra outros estados. Mas chega uma hora que... Pô! Você começa a precisar (de dinheiro), né? Só em casa, fazendo os frilas e ao mesmo tempo com esse problema da porra (de coluna), toda hora crise. Foi nessa época que fiz o fotolog e aquilo acabou me motivando. Comecei a soltar mais o traço. Eu tava com o traço ainda muito preso na época aos padrões de ilustração editorial, cartilha, essas coisas. Foi legal, comecei a fazer outras viagens, soltei mais o traço. E fui conhecendo outras pessoas através do fotolog também. Nesse meio tempo, fui chamado para fazer frilas lá no jornal também. Há muito tempo atrás eu tirei as férias de um cara que tinha lá, o Gentil, isso em 1998. A outra vez foi em 2004, fiquei dois meses cobrindo as férias do Simanca e do Cau Gómez, na seqüência. Aí abriu as portas pra mim.

CCJ: Você ficou fazendo o cartum diário do jornal mesmo.

BA: Diário. Ao mesmo tempo, fui vendo como os caras trabalhavam lá. Pô, os caras são foda! Ganham prêmios por aí, não é a toa, não, eles são foda. Aí fui ganhando um pouco mais de segurança no meu traço, tal. Aí pensei, "pô, ainda vou ter que trabalhar no jornalzão, mesmo". Mas pô, não dá, o Simanca já faz a charge, ilustra um pouco, Cau Gómez também ilustra e o Gentil. Já são três pessoas. Não tinha muito espaço pra entrar ali, fora esse esquema de tirar férias, não. Mas o jornal resolveu fazer esse caderno infantil (A Tardinha). Aí tinha uma demanda muito grande de ilustração. Tive sorte e me chamaram lá. Já conhecia Iansã Negrão (diagramadora), que me indicou lá e conheci o Pierre que também trabalha lá, e que também me indicou. Mas tem uma galera n'A Tardinha, o Cedraz também publica o Xaxado lá, Flávio (Luiz)...

CCJ: Flávio é do Correio da Bahia.

BA: Ah, é verdade, Flávio é do Correio. Quem sai por lá também é o Luiz Augusto (tirinhas Fala, menino!). Que já saíam no Caderno 2, na verdade. Acho que eles queriam uma linha de trabalho mais flexível, eles viram lá minhas ilustrações mais soltas no fotolog... Nesse ponto, fotolog é importante pra caramba, divulga seu nome. Eles me pediram uma tirinha (para o suplemento infantil). Aí eu prontamente já tava com uma idéia.

CCJ: Como é mesmo o nome da tirinha infantil?


BA: Os Fabulosos Um Dois Três. São três super heroizinhos - na imaginação deles, né? Meio ficção científica, mas pra criança. E eu tô amarradão, cara. Tô amarradão de fazer esse trabalho pra criança, sabe? Me empolguei de novo.

CCJ: Pô, e é legal que sua tirinha sai ali, na mesma página que a tirinha infantil do Angeli (Ozzy)...

BA: Pois é, rapaz, tô lá todo metido, no meio entre o Ozzy e o Ziraldo! (Risos). Aí consegui pleitear também uma grana a mais, né? Pô! Vinte e cinco conto é o que nego cobra pra fazer um cartão de visita. Acho que nem isso! Agora eu ganho tipo metade do que os caras ganham, mas já deu um upgradezinho... Mas é foda, viu velho! Pra nego reconhecer, é foda! E olha que às vezes ainda atrasa e tal... E ainda rolou um clima, um problema administrativo por que eu trabalho lá registrado como ilustrador, deu um problema lá, eu nem sei como vai resolver ainda. Terceirizado, tal. Aí eu falei: "ó essa tirinha não é meu trabalho como ilustrador, isso é outro trabalho. Se não for pra me pagar pela tirinha, chamem outra pessoa pra fazer, meu trabalho é como ilustrador". Aí vão dar entrada na minha tirinha como um serviço separado. Tá lá, tá correndo [o processo].

CCJ: Você tem alguma perspectiva de lançar suas tirinhas em livro, tá em contato com alguma editora? Material pra isso não falta, né?

BA: Material não falta. Depois que eu tive essa oportunidade de trabalhar em jornal, tipo, pra mim é mais vantagem - no momento - eu me estabilizar aqui, sabe? No momento eu tô em contato com uma distribuidora de quadrinhos de São Paulo chamada Paca Tatu, e também com uma moça chamada Mônica, que trabalhou muito tempo na Folhinha (suplemento infantil da Folha de São Paulo), ela conhece o Angeli, Laerte, o Spacca... Eu tô tentando ver com ela se eu direciono a Dilemas para algum jornal do país, entende? Pra mim eu acho que é mais jogo, conseguir publicar em outros jornais pelo Brasil e ir solidificando meu nome por aí. E depois publicar minhas coletâneas. Agora eu tô gostando muito de fazer a tirinha infantil lá da Tardinha, é meu xodó. Daqui a um ano, dois, eu quero fazer uma coletânea legal dela, com certeza.

CCJ: Você se sente respeitado como artista, Bruno? Quando as pessoas te perguntam o que você faz da vida e você diz, "ah, eu faço quadrinhos", você sente que as pessoas respeitam isso?

BA: Não, não me sinto, não. É foda isso... Na verdade, tem gente que até respeita isso...

CCJ: Talvez por você circular muito pelo meio underground, que tem uma inclinação natural pelas artes...

BA: É rapaz, você vê, o jornal tá rolando (o respeito) agora, velho! Tô com 31 anos, trabalho com quadrinhos há mais de dez anos, uns doze, e agora eu tô conseguindo meu sustento... Meu sonho é isso mesmo, viver de ilustração, quadrinhos - e agora eu tô conseguindo. Mas é super difícil mesmo.

CCJ: Seus clientes - fora o trabalho da Tarde -, como é, rola empresa, ONG...

BA: Mais ONG, eu não tenho muito contato em agência de propaganda. Fiz uns postaizinhos pro Portela (Companhia da Pizza), ficaram bem legais, ele pirou.

CCJ: O cara é um incentivador das artes, né? Você, Flávio, Cau Gómez...

BA: Pô, Portela é massa. E paga bem.

CCJ: O que você tem lido ultimamente de quadrinhos, o que tem te chamado a atenção?

BA: Rapaz, tenho lido pouco quadrinhos ultimamente. Falta tempo mesmo, sabe? Tô louco pra ler uma historia do Grant Morrisson, Instinto de Sobrevivência...

CCJ: Rapaz, isso já rolou nas bancas.

BA: Você tem, é boa?

CCJ: Tenho, é ótimo.

BA: Comprou aonde?

CCJ: Uai, na banca!

BA: Na banca? Porra, tô louco para ler isso...

CCJ: Rapaz, se você não achar, me fale que eu te empresto.

BA: Pô... Da última vez que fui em São Paulo eu comprei uma Hellblazer, uma coletânea do John Constantine, que eu sou amarradão. Diz que saiu uma do Clive Barker também...

CCJ: Saiu, O Ladrão da Eternidade. Já vi aqui em Salvador. [Pausa]. Você tem uma vivência de rock n' roll que se reflete muito no seu trabalho, você já teve banda, seu irmão já tocou baixo pra [brincando de] deus e o mundo aqui em Salvador, seu primo toca na Dever de Classe... E agora você tá com uma nova série de tiras no Dez, chamada Rock Sujo...

BA: É, o que aconteceu foi que a editora do Dez, Nadja Vladi, encheu o saco da Dilemas (antiga série de tirinhas), chegou e falou: "pô, Bruno, quatro anos de Dilemas, já chega, né? Encheu o saco". Eu fiquei naquela [faz cara de perdido], "porra"...

CCJ: Bateu um desespero?


BA: Bateu. Aí ela falou, "vamo lá, pensa aí numa outra coisa, mais escrotinha", tal. Eu fiz "humpf! Peça uma coisa mais escrotinha e depois fiquei limando"! Inclusive quando eu fiz a primeiras, ela reclamou: " esses personagens do rock tá todo mundo (na tirinha) muito com cara de decadente, de velho"! Eu fiz [cara de perdido de novo] PÔ?!?!?! E aí?!?! (Risos). "Mas tem que ser teen", Nadja falou... Aí eu falei, é, vou ter que encarar de outra forma, fazer mais teen...

CCJ: Mas tá ótima, cara, eu tenho acompanhado.

BA: É bom ouvir isso, por que eu ando inseguro pra caralho. Tem que sair uma dessas por semana, eu tô assim... espremendo, sabe? Inclusive eu tô fazendo uma coisa que eu nunca fiz, que é escrever diálogos pra depois fazer a tirinha...

CCJ: Tem umas situações bem comuns ali pra quem freqüenta a night rock. O mala na fila da bilheteria, o mala que quer tocar violão na festinha...

BA: O mala que vive de filar cigarro... É festinha de rock, né?


CCJ: Sua pegada tá muito Angeli. Você já pensou que pode estar fazendo a crônica do underground baiano de hoje em dia - como Angeli fez a do underground paulista nos anos 80?

(Risos).

BA: Pô, já pensou, cara? Eu queria muito ter esse pique criativo desses caras, mas tô te falando, eu espremo pra sair uma tirinha por semana. Tem vezes que até sai mais, faço duas, três em casa, mas com esse problema de coluna eu não posso ficar muito tempo na prancheta ou no computador, saca? Atrapalha muito.

CCJ: Pergunta besta, só para concluir: se você pudesse ser um personagem de quadrinhos, super herói ou não, qual seria?

BA: Rapaz! Caralho, que pergunta massa! (Risos). Não sei... Pra falar a verdade, acho que eu queria ser um daqueles personagens das histórias do [Milo] Manara, pra comer aquelas mulheres maravilhosas! (Risos). Não, sei lá. [Pensa mais um pouco]. John Constantine, vá!

AGENDÓN

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O ADEUS DA DREARYLANDS - Do release: meu povo e minha pova,é o seguinte: muita gente já sabe... mas tem gente que não sabe (tá por fora, hein??) após encerrar as atividades do Drearylands em fevereiro... rolou a oportunidade de fazermos uma última apresentação em terras soteropolitanas para isso... reuni alguns dos músicos que já passaram pela banda e vamos participar do Maniac Metal Fest 3 será no dia 10/06, no Rock In Rio Café... a partir das 20h além da despedida do Drearylands, teremos ainda shows dos grupos Templarius(BA), Scarlet Peace(SE), Veuliah(BA) e Tuatha de Danann(MG). os ingressos já estão à venda na Andarilho Urbano, Smile, Rock Store, Pida, Alpha Vídeo e Maniac Records (71-3354-1735)... está R$ 15,00 e no dia subirá para R$ 20,00 se vale um pedido... quem puder, compra o ingresso antecipadamente, pois aí poderemos montar uma produção mais legal... o pedido é estranho, mas é necessário. é isso, nos vemos no dia 10 de junho. ósculos e amplexos a todas e todos, Leo "Lion" Leão.

Um comentário:

  1. Bruno Aziz é meu herói! A atitude dele é perfeita... Diz tudo o que eu sinto / penso desse esgoto miserável que é Salvador. É como se fosse Marcelo Nova nos quadrinhos... ou uma versão soteropolitana de Angeli... uma CATARSE!

    Continue assim, Bruno!

    Ah, e fodam-se os brasileiros, eles nunca respeitam o valor de ninguém porque animal não tem respeito por nada nem senso de valores. Brasileiro só valoriza a bosta mesmo.

    E o seu trabalho é ouro.

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