Não pode ser real, mas é. Tem um zumbi com a cara toda ensangüentada e monstruosa - como a cara de um zumbi deve ser, afinal - caminhando em direção aos dois atônitos velhos amigos de infância. Desespero. Os caras começam a jogar coisas no bicho pra ver se ele se afasta. Lista telefönica, almofadas, cinzeiros, revistas, pedacos de pizza. E nada. De repente, um deles acha um antigo compacto de vinil, e sem pensar, o arremessa. O disquinho meio que se espatifa na testa do monstrengo e alguns cacos se cravam em sua cabeça. O zumbi cambaleia mais violentamente. Os dois se olham e correm para pegar mais discos. Esquecendo-se momentaneamente do morto vivo que continua a avançar em sua direção, os dois se agacham sobre uma caixa com os vinis e o seguinte diálogo se trava:
- Porra, você atirou meu Blue Monday prensagem original! Não dava pra ter olhado o que era antes, não?
- Sorry. Sign o? the times?
- No!
- Purple rain?
- No!
- Trilha sonora do Batman?
- Joga!
- Stone Roses?
- No!
- Second Coming?
- Eu gosto, pö!
- Opa! Dire Straits?
- Joga logo!
E o zumbi chegando. Essa cena maravilhosa é da comédia inglesa Todo mundo quase morto (Shaun of the dead), que chegou recentemente em algumas locadoras da cidade, não todas. Na que eu costumo freqüentar mesmo, não chegou. Até perguntei, pedi para ver se eles adquiriam e nada. Aí, por acaso, descobri que tem o diabo do filme na Vídeo Hobby da Pituba. Detalhe: só em VHS. Segundo um funcionário, tinha o DVD, mas este foi tirado de circulação, por uma das duas razões: ou o disco danificou, ou alguém comprou da loja.
De todo modo, para quem ainda não tinha ouvido falar, jah que o filme foi totalmente ignorado pelos exibidores brasileiros, vale a pena buscar por aí Todo mundo quase morto, que na capa da fita é descrito como uma "sátira imperdível de Madrugada dos mortos". Mais ou menos. Tá mais para uma sátira de todo o subgênero de filmes de terror inventado pelo diretor americano George Romero em 1967 (ou 68), quando ele lançou A Noite dos mortos-vivos, clássico absoluto que apresentou ao mundo o estilão aterrorizante que o deixou famoso. O Madrugada dos mortos que passou nos cinemas ano passado é um remake de Despertar dos mortos (Dawn of the dead), segundo filme da sua série que começou com a Noite... e todos pensaram que tinha terminado em 1985, quando ele lançou Dia dos mortos (Day of the dead), a terceira parte de sua trilogia. Mas que nada. O sucesso do remake Madrugada... animou o velho George e sites especializados já noticiam o início das filmagens de Land of the dead, quarta parte de sua série abandonada há 20 anos. Com o deus do filme B Dennis Hopper no elenco. Beleuza. Eu quero é mais.
Mas voltando ao Todo mundo quase morto, o filme é realmente imperdível por a) ser uma comédia inglesa e todo mundo sabe que o humor inglês é um dos melhores e mais esquisitos do mundo, b) ser ao mesmo tempo um filme de mortos-vivos na tradição Romeriana e todo mundo sabe que filmes de mortos vivos são os mais divertidos do mundo, c) ser ainda um filme romântico no meio disso tudo e todo mundo sabe que ser comédia inglesa, filme de morto vivo e romântico ao mesmo tempo não é fácil e d) a trilha é recheada de rock do bão (Specials, Queen etc) que realmente interfere de forma criativa no andamento do filme volta e meia.
Como na cena no pub em que o Shaun do título (um loser incorrigivel) e seus amigos (mais losers ainda) e namorada espancam um morto vivo à pauladas no ritmo de Don?t stop me now do Queen, tocada por uma jukebox emperrada. A cena, bizarra, vira um videoclip. Em dado momento, alguém pergunta: "Por que esse Queen ainda está tocando, meu deus?" E as antas e o morto vivo praticamente dançando ao som da música. Contando assim nem parece engraçado, mas na hora vc se acaba.
Zumbis sanguinários, piadas estúpidas, romance e rock. O que mais eu posso querer de um filme?
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