ACABOU O PAPEL - O bicho pegou bonito na festinha de Natal do Rock Loco quinta-feira passada, no Miss Modular. O rock local em peso compareceu para prestigiar. Foi aquela coisa: não deu pra quem quis. Tanto que a cerveja acabou ali pelas duas, duas e meia da manhã. Falha nossa, foi mal aí a galera que depois veio reclamar (Leão & cia). Em todo caso, vamo ver se a gente consegue organizar mais uma pra marcar esse verão 2005, antes que acabe (o verão, não o Rock Loco, claro).
AQUELA COISA GLAUBER - Sei que muita gente vai torcer o nariz, mas não deixem (aqueles que se interessam) de alugar na locadora mais próxima o documentário Glauber o filme, labirinto do Brasil, de Sílvio Tendler. Preciosíssimo registro de nosso mais importante, revolucionário, fodão e tresloucado cineasta, Glauber o filme apresenta imagens até então inéditas do funeral e enterro do ilustre conquistense, além de um porrilhão de depoimentos de gente que entende da obra e conviveu com o homem. Cineastas, escritores, diretores de fotografia, críticos e atores, entre outros, dão sua visão, contam anedotas (João Ubaldo Ribeiro quase se mija de rir e acaba provocando a mesma reação no espectador) teorizam e discutem a vida, a obra e a morte do cineasta que quebrou com a noção de que cinema só serve pra contar historinhas com começo, meio e fim. Para ele, o cinema era uma coisa tão poderosa, que não poderia ser só isso. Ele queria revolucionar, influir, mostrar a cara do povão sem retoques na tela. Barroco como só um baiano poderia ser, preenchia seus filmes com símbolos, discursos, transformava-os em verdadeiras catedrais fílmicas com múltiplos significados, muitos deles pouco (ou nada) entendidos até hoje. Cometeu, no mínimo, duas obras fundamentais para o cinema mundial: Deus e o diabo na terra do sol (1964) e Terra em transe (1967), fimes cujas imagens transbordam de força poética, mas uma poesia muito macha, um verdadeiro soco direto no focinho dos poderosos, da ditadura, das oligarquias, estúdios de cinema e meios de comunicação. Esses, pelo menos, são os que consegui assistir e gostar, ainda na época da faculdade. Não são filmes fáceis (pelo menos para nós, jovens cabeçinhas acostumadas com o feijão com arroz das novelas globais). Mas é fácil se apaixonar por eles depois de conhecer as idéias que estão por trás de suas cenas. Na verdade, o Glauber Rocha pessoa, como personalidade, sempre foi ainda mais interessante que seus filmes. De um carisma irresistível, podemos até traçar um paralelo entre o cineasta e Raulzito, provavelmente sua contraparte musical mais óbvia. (Me acorrejam se eu estiver falando muita besteira, por favor.) Só mesmo caras como esses pra me dar um orgulho retado de ser baiano. Em todo caso, todo baiano que se preze precisa conhecer a vida e a obra desse cara que botava pra fuder, não comia nada de ninguém (esculhambava tanto com a direita quanto com a esquerda em uma época perigosíssima para livres pensadores) e era rock pra caralho. É maravilhoso ve-lo esbravejando para as câmeras já no fim de sua vida (a despeito de seu péssimo estado de saúde), contra o isolamento a que suas contínuas contradições acabaram por conduzi-lo. Me lembra, no jeitão de sincronizar os gestos e a fala, até de pessoas conhecidas, amigos nossos do rock mesmo. Talvez pelo fato de que, como diz um dos slogans do documentário, existe um Glauber em cada um de nós. Glauber era mais do que uma pessoa, um cineasta, um artista, um pensador. Glauber era um arquétipo, um mártir, um beat, quase um santo, morto pela sua própria incapacidade de aceitar o estado de coisas a que chegamos. Dá para imaginar Glauber vivo nos dias de hoje, convivendo com a Bahia terra da alegria de Ivete Sangalo, Carla Perez, Lícia Fábio, Michele Marie, Paulinho Vilhena, Dado Dolabela e Luana Piovani? Não, não dá. Por isso mesmo, ele não está mais entre nós. Sim, mas voltando ao doc do Tendler, o filme em si é meio careta (que ironia), mas vale muito a pena, pois conta a história de Glauber direitinho. Na verdade, esse filme devia era ser adotado de imediato em escolas públicas e particulares pra ver se essa garotada cresce menos abilolada e mais consciente. E como diz o próprio Tendler no final do filme, "como diria Nélson Pereira dos Santos, essa é toda a história. Quem não gostou, que vá pra puta que pariu, escreva outro filme".
A festa do Rock Loco foi memoravel, mostrando mais uma vez que existe galera bem informada na terrinha, afins de diversão com uma trilha sonora bacana e contemporanea, e pra não nos acusarem de alienados, sintonizada com cenas que estão acontecendo EM O TODO O BRASIL. Quanto a Glauber, ele foi um dos poucos genios autenticos paridos na idolatrada salve salve, e faz uma falta danada nestes tempos de baianidade pre-fabricadada e isolacionismo cultural.
ResponderExcluirVelhinhos,se eu conseguisse me lembrar seria lindo prá comentar. Mas só sei que foi difudê prá caráio, caí na esbórnia, os djs estavam insanos ( ou era eu? ) e o pós foi mais bizarro ainda (pós festa, não pós tudo). Quero mais.
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