Não é uma retrospectiva, ainda bem, mas algumas considerações minhas sobre o ano de 2004, o ano no qual o rock baiano tentou alçar vôo, tentou, tentou, e não conseguiu, tal qual a galinha.Porra, podem pensar alguns, que especie de analogia é esta entre o rock feito na Bahia e o vôo do galinacio?Quem poderia pensar uma coisa destas? Calma que eu conto a origem desta historia . Estava eu numa das matinês que a São Roque promoveu durante o ano , no dia que tocou Theatro de Serafim, Coiotes, e Roney Jorge, e àquela altura do ano eu ainda estava entusiasmado com a possibilidade do rock feito na Bahia neste ano se firmar. Motivos para minha animação não faltavam, senão vejamos;
1-) O sucesso nacional de Pitty com dimensões avassaladoras, e os constantes endossos que ela dava à cena local em diversos programas de audiencia nacional.
2-) A decadência do axé, sua evidente perda do monopolio do publico jovem atual na geração eu chamo de pós-axé.
3-) E o principal , o surgimento de inumeras bandas talentosas, alem da confirmação de bandas mais veteranas, ainda lançando trabalhos relevantes.
Pois bem, voltando ao show, cruzo com o antologico Miguel Cordeiro, pra quem não conhece, vocal dos Coiotes, artista plastico, precussor do grafite(Faustino), parceiro do Camisa de Venus(Simca Shambord) e agitador rocker.Comentei com Miguel que achava que este ano o rock baiano estava em ascenção e tinha tudo pra se firmar.Ao que ceticamente ele retrucou, que o rock baiano estava em ascensão como o vôo da galinha, tenta, tenta , chega a decolar , mas jamais firma vôo.Naquele momento senti que Miguel tinha feito uma especie de profecia, tentei replicar dizendo que ele estava sendo pessimista, e ele encerou a parada dizendo que na Bahia quem é realista é considerado pessimista.Chego ao final do ano, e tenho que dá razão a Miguel, o rock baiano perdeu uma oportunidade pra se firmar um pouco mais. Apesar de iniciativas como o Rock Loco, dos selos Frangote, Estopim e Big Bross com lançamento de discos e realização de eventos com bandas locais e de fora, novos bloggers, maior exposição na midia nacional da cena local ,ect., não houve significativa atração de publico para estas iniciativas, e consequentemente não houve como atrair patrocinadores .Os motivos? A eterna falta de locais adequados para shows(não só de rock), a falta de uma politica cultural voltada para o incentivo da musica alternativa(não só o rock), e talvez principalmente uma incrivel desunião da cena local( do rock mesmo), que em alguns momentos beirou ao grotesco.Não acho que todo mundo do rock tem que ser amiguinho, mas em certos momentos aonde os interesses são comuns, as diferenças tem que ser postas de lado.Aqui neste momento explico a questão do Socialismo Baiano citado acima.Otavio Mangabeira(que dá nome à Fonte Nova), que foi um politico com inclinações socialistas, que uma vez irritado com a mesquinhez das coisas da Bahia disse num discurso:
- Vocês sabem como é o Socialismo Baiano? É o seguinte, o sujeito paga 100 pra ver o vizinho perder 50.
A principal alegação de pessoas da cena é que os shows de rock são caros.Dos 5 reais dos shows do Calypso aos 15/30 cobrados pelo show de Pitty na Concha passando pela consumação no Tapioca, o choro era generalizado, e em alguns momentos segmentos do rock local chegaram a meio que fazer campanha contra a alguns eventos, e passaram a incentivar um lugar grotesco como o nho caldos.Alias o nho caldos tá conseguindo o que a separação de Jean Claude, a doença de Lurdes, os vizinhos e a Sucom não conseguiram, fechar o Calypso.Se o nho caldos quer fazer o rock gratis dele, que faça num horario que não choque com os outros(Ideario inclusive), mas não ,tem fazer no horario pra fuder com os outros.E isso com o apoio de uma rapaziada iisshperta, que não paga os 5 reais da entrada, mas gasta 20 no carrinho no meio da rua. O que só faz comprovar a tese do Socialismo Baiano. No show de Pitty e Banda ,representantes legitimos do underground local, pude aferir o quanto o sucesso de alguem pode incomodar . Pitty e banda, que só fazem falar bem da cena baiana na midia nacional, abriram mão de propostas financeiras vantajosas de blocos carnavalescos, para bancar do bolso um evento que tinha figuras do rock local no comando. A reação contra o evento foi tão forte que me causou nojo. Tá bom o preço do ingresso deveria ter sido mais barato, mas se neguinho não gosta de determinada banda, não vá ao show, mas não faça campanha contra.Se Pitty tiver juizo, no proximo show em Salvador vem bancada por um bloco, que paga altos cachês e tem publico que PRESTIGIA os eventos a cena a qual estão ligadas. É isso ,em 2004 o tiro de misericordia no rock baiano foi dado pelo nhô caldos(Miguel Cordeiro , de novo).
Bramz, estou estupefacto. sua análise fria e direta do que está realmente acontecendo aqui me deixou até arrepiado. parabéns, meu velho. só gostaria de acrescentar q, além da cultura pra cuspir na estrutura, um pouco de brio e vergonha na cara de vez em quando tb não faz mal a ninguém...
ResponderExcluira melhor coisa de 2004 foi a festa de quinta do rockloco...suceso...
ResponderExcluirA festa do rock loco realmente me deixou de alma lavada.Acabou ate a cerveja.Ah, e o cd natalino dos Retrofoguetes?quéquiéisso, grande sacada provando que talento aqui não falta.nem tudo esta perdido(espero eu).
ResponderExcluirParabens braminha pelas sabias palavras!
ResponderExcluirQuanto ao Retrofoguetes, os cds - ativar retrofoguetes e o Natal dos Retrofoguetes - sao geniais!
Abraco
Mauro/Sangria
Dependendo de asas próprias realmente tamo cheio de galináceos por ai. Mas além de achar que temos gente com capacidade e autonomia de vôo próprio, há sempre a possibilidade de contar com a ajuda de umas asas artificiais. Logo ali no aeroporto :) Fechar o Calypso, no entanto, pode ser o começo pra muitos sairem da acomodação. Com todo o meu respeito à importâcia do lugar e, sobretudo, à Jean e Lurdes, mas sem saudosismo nenhum. Abçs.
ResponderExcluirMarcos
Marcos, será q não era mais negócio fechar o famigerado nhô caldos, não?
ResponderExcluirChico, se um lugar como o Nhô Caldos consegue fragilizar a cena do Rio Vermelho, há algo de podre no reino da Dinamarca.
ResponderExcluirNão é questão de fechar este ou aquele lugar, o que precisa mudar urgente é a mentalidade, é logico que merecemos melhor que o Calypso, que dirá o grotesco nhô caldos. A cena do rock enfrenta dificuldades que vão desde a má vontade da politica cultural à apatia/comodidade comportamental( a tal da "baianidade"), e com uma divisão deste porte na cena fica impossivel.Não é que a partir de amanhã todo mundo fica amiguinho, isto seria o anti-rock, mas o publico do rock tem que prestigiar mais os eventos da cena a qual estão ligados. Marcelo Nova no excelente livro "Dias de Luta", de Ricardo Alexandre, fala que rock na Bahia sempre foi minoritario e dividido, o que o Camisa de Venus conseguiu durante um periodo foi juntar as minorias.Bingo! Não estou pedindo nada demais, hoje Salvador é a unica capital que não tem um festival de musica alternativa e/ou de rock. Não estou falando de Curitiba, Belo Horizonte, Goiania, Recife, Brasilia, ect., estou falando de João Pessoa, Natal, e Porto Velho!!!!! Estamos incrivelmente isolados e atrasados.
ResponderExcluirBrahma e companheiros, sendo sincero e direto, o que faz uma banda ou um artista "alçar vôo"? Qualidades artísticas à parte, mídia. Ainda hoje, tempo da chamada democratização da mídia via Internet, só se consegue mídia de massa pelo jabá. Ou estou enganado? Espero que sim. A MTV apóia como pode vários trabalhos underground (e isso é louvável), mas o destaque no final das contas vai mesmo para alguns nomes maiores. Sem falar na Globo e as outras emissoras...
ResponderExcluirSim, os artistas baianos deveriam ser mais solidários uns com os outros etc etc etc... Mas no final das contas acho isso uma grande utopia. É louvável que Pitty esteja falando da "cena" baiana, mas duvido que essa "cena" possa se reunir com pelo menos um objetivo em comum para empreender algo. O veneno escorreria...
Nhô Caldos? O que há a se falar a mais do que já foi dito?
Perdão pelo ceticismo. Como outros, acho que perdi a fé. Continuo gravando discos de amigos que curto bastante, como Retrofoguetes e Nancyta, esperando que alguém possa tirar algo de positivo deles, mas como posso acreditar que eles possam "alçar vôo" sem fortunas envolvidas?
andré t
Produtor musical
Surpresa bacana sua participação André. Seguinte velhinho, concordo com voce em quase tudo , partilho do seu ceticismo, só acho que enquanto nós não jogar-mos a toalha devemos continuar tentando, cada um da sua maneira , contribuir para reverter de alguma forma o estado das coisas. Sua forma de contribuição é de produzir discos do caralho made in Bahia, melhor que em muitos centros tidos como mais rock .Já comentei em post anterior sobre o VMB 2004 o quanto me senti vingado quando Pitty ( a banda toda) ganhou o premio, devido aos anos de ironia e gozações que tive que aturar quando comentava com figurões da MTV Brasil sobre a cena rock da Bahia. Tô sabendo que tem gente da MTV Brasil apostando no Cascadura, quase 2 anos depois que eu passei a demo dos caras pra lá, por sinal produzida por você.Só porque agora caiu nas graças de alguma pessoa chave, alias demorô, mas tão tendo que reconhecer que alem dos caras serem bons pra caralho, ainda por cima tem pontecial comercial. Nos sabemos que talento aqui não falta e enquanto não jogar-mos a toalha espero que pinte algum projeto da cena alternativa local ,no qual os interesses comuns sejam maiores que as divergencias, tipo um festival da cena alternativa.Por que não?
ResponderExcluirBrahma,
ResponderExcluirComo disse Miguel Cordeiro, obrigado pelos seus superfaturados elogios. Mas a verdade é que tenho a sorte de trabalhar com gente tão capaz e talentosa.
É, acho que não podemos jogar a toalha, devemos continuar trabalhando pelo que acreditamos, só que é extremamente frustrante às vezes...
Quanto a idéia de um festival independente, me diga QUEM bancaria algo assim aqui, quando o carnaval é o que atrai os turistas e o próprio baiano? Quem tem um negócio provavelmente não vai querer investir assim na imagem de um bando de roqueiros despreparados (já ouvi isso, você provavelmente também). Essas pessoas investem naquilo que dá visibilidade (carnaval) ou então naquilo que é considerado de bom gosto (a nossa velha MPBaiana).
Espero que 2005 nos traga mais resistência, e coragem para nossos empreendedores.
Abraços,
andré t
"Salvador é a unica capital que não tem um festival de musica alternativa e/ou de rock."
ResponderExcluirEntendeu agora porque desde 2003 que eu não vou a mais nenhum show de rock baiano?
(exceções aos espetaculares de Gustavo Mullen e Karl Hummel na Persona Non Grata e no Camisa de Venus --- SEM o intelectualóide sem público Marcelette EgoNova)
Desde sempre, eu DESPREZO os roqueiróides subdesenvolvidos baianos.
É sempre a máfia de panelinhas dos fracassados metidos a merda; a cocaína fajuta; o anti-espetáculo deprimente da incompetência mantendo a miséria. A merda que só fede mais a cada dia.
Terceiro Mundo... pfff...