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quarta-feira, junho 26, 2019

DA FEITIÇARIA À SEDUÇÃO DA WICCA MODERNA

Estudo clássico do fenômeno, História da Bruxaria, de Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander, sai em nova e ampliada edição

Le Sabbat des sorcières (1508), de Hans Baldung Grien
Já dizia aquele outro lá que não acreditava em bruxas, mas que sim, elas existem. De fato, elas existem mesmo. Embora quase nunca sejam tão feias e malignas  como a ficção e a religião oficial as pintou (e também as massacrou) ao longo de séculos.

Isso é o mínimo que se pode aprender lendo a nova e revisada edição do livro  História da Bruxaria, de Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander.

Publicado no Brasil pela primeira vez em 1993, pela editora Campus, A History of Witchcraft, de Russell, é considerado um dos mais sérios e completos estudos historiograficos e antropológicos do fenômeno da bruxaria em diferentes povos e cantos do mundo  ao longo da história.

Esta edição, recém-lançada pelo selo Goya, da editora Aleph, é o mesmo livro de 1993, mas amplamente atualizado e vitaminado por Brooks Alexander, colaborador de Russell, com um novo prefácio, uma nova introdução e dois capítulos completamente novos, “que atualizam a história da bruxaria moderna”, escreve Russell na apresentação.

Antes de mais nada, é bom avisar os incautos, se é que já não ficou claro: este livro não ensina ninguém a ser bruxo, não há qualquer receita de feitiço, sortilégio ou “trabalho” aqui.

Trata-se, muito antes disso, de um livro que conta o surgimento e o desenvolvimento da bruxaria – e mais do que isso: mostra como o mito da bruxa má, estabelecido nos primórdios do cristianismo, serviu como uma belíssima desculpa para os poderosos perseguirem e eliminarem  indesejáveis de seus pedaços.

Muito didático, Russell inicia o livro com um capítulo intitulado “O que é uma bruxa?”, no qual demonstra, entre outras coisas, que a figura arquetípica da bruxa de nariz pontudo, gargalhada histérica e montada em uma vassoura (arquétipo de fundo misógino, diga-se de passagem), foi estabelecido ao longo de séculos, abarcando obras que vão desde as pinturas de Francisco Goya (1746- 1828) até os filmes de princesa da Disney.

“Provavelmente, nenhuma bruxa, em tempo algum, jamais teve as características desse estereótipo”, escreve Russell. “Todavia, bruxas existem realmente. De fato, a bruxaria é considerada como uma religião de pleno direito por numerosas instituições, inclusive as forças armadas e os sistema legal dos Estados Unidos”, afirma.

Magic Circle (1886), de John William Waterhouse 
Daí em diante, Russell faz um passeio pelo mundo antigo, tratando dos primeiros registros arqueológicos de atividades de bruxaria em diversas partes do mundo, da Europa à Ásia, passando pela África e Américas pré-colombianas.

Ficção que vira  realidade

Mas o bicho, como se sabe, realmente começou a pegar na idade média, quando a igreja católica começou a associar tudo o que a desagradava à bruxaria. Desta forma, judeus, hereges e dissidentes cristãos, como os cátaros, foram todos jogados no mesmo balaio.

Os que não conseguiram fugir da Europa tiveram um de dois destinos: ou se converteram (os “cristãos novos”) ou foram  perseguidos, torturados e queimados vivos.

Em fins do século 19, a bruxaria foi “reabilitada” após alguns estudiosos afirmarem que bruxaria era, na verdade, uma ancestral religião  europeia pré-cristã, que sobreviveu ao longo dos séculos, a hoje popular wicca ou dianismo.

Russell e Brooks refutam completamente essa hipótese do paganismo pré-cristão dedicado à deusa Diana apontando diversas fontes (historiadores, antropólogos), mas admitem que, de fato, essa narrativa acabou se estabelecendo como “oficial”, influenciando de forma definitiva as diversas correntes e grupos neopagãos dedicados ao culto da Deusa, da Mãe Terra e outras denominações.

Então, quando hoje vemos – aqui mesmo em Salvador eles existem – grupos de homens e mulheres em roupas rituais saudando o sol, a lua cheia, etc, pode acreditar que, de fato, há de tudo ali: um pouco de ficção, um outro tanto de tradição pagã primitiva e sim, também muita fé.

Didático e acessível, História da Bruxaria é leitura altamente recomendável, tanto para quem acredita, quanto para os céticos, pero no mucho.

História da Bruxaria /  Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander / Goya - Aleph / 280 páginas / R$ 66,60

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