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terça-feira, junho 04, 2019

CONEXÃO MÁXIMA

O Enigma Lexeu, álbum de estreia do Letieres Leite Quinteto, é uma charada e uma ponte. Descubra HOJE, em show na Sala do Coro do Teatro Castro Alves

Lexeu 1, Lexeu 2, Lexeu 3, Lexeu 4 e Lexeu 5. Foto João Atala
O vasto universo da percussão afrobaiana traduzido em linguagem de jazz ortodoxo. Ou o jazz ortodoxo traduzido para o universo da percussão baiana. Seja qual for a ordem, essa parece ser a missão artística da vida de  Letieres Leite.

Em O Enigma Lexeu, estreia do Letieres Leite Quinteto (show de lançamento hoje, na Sala do Coro do TCA), ele parece dar continuidade – por outras vias – ao que já vem fazendo na Orkestra Rumpilezz.

Com sete faixas, O Enigma Lexeu chega bonito: gravado de forma  analógica, ao invés do onipresente registro digital (via Pro Tools), ou seja, como antigamente, na fita de rolo.

Não à toa, sairá prioritariamente em LP de vinil. A versão digitalizada já pode ser ouvida nas plataformas digitais e o maestro Letieres assegura que uma versão em CD também logo chegará às lojas.

“Uma questão clara (e científica) é a captação na fita de toda gama de harmônicos ofertadas em todas as suas dinâmicas”, afirma Letieres.

“E como o nosso planejamento era para contemplar uma gravação prioritariamente  para vinil (haverá também em outros formatos, CD e  plataformas digitais) a gravação sendo analógica nos confere esta fidelidade que o áudio nestas condições nos oferece”, acrescenta o maestro, compositor, arranjador e soprista.

Liderado por Letieres no sax e flauta, o Quinteto conta com os experientes Luizinho do Jêje (percussões), Ldson Galter (contrabaixo), Marcelo Galter (teclados) e Tito Oliveira (bateria).

No fone de ouvido, a conexão Bahia / África / EUA se evidencia na percussão onipresente, em dinâmica com as frases tipicamente jazzísticas de sax, flauta e piano.

São sete faixas – nenhuma com menos de sete minutos e meio: Casa do Pai, Três Yabás, Patinete Rami Rami, Catalunya Vuelve a Casa (em memória do baterista espanhol Roger Blàvia), Tramandaí, Honra ao Rei e Mestre Moa do Katendê (composta por Letieres em 2005, para homenagear seu primeiro mestre de música, quando aluno secundarista, no projeto da etnomusicóloga Emília Biancardi).
 
Ressignificando lexeu 

Psiu, não conta pra ninguém que eles são os lexeus. Foto João Atala
Além de construir a ponte entre o que Letieres chama de UPB (Universo Percussivo Baiano) e o jazz, o álbum também é um mapa para músicos e ouvintes desvendarem juntos o tal Enigma Lexeu do título.

Informa o Dicionário de Baianês que “lexeu” é “Carro em mau estado; algo fudido, esculhambado”.

Certamente, não tem conexão com o elegantérrimo som que se extrai dos sulcos deste vinil. Quem sabe Letieres tem a resposta?

“Ainda não sabemos exatamente quem é Lexeu, mas posso dizer que é uma das outras pessoas que os músicos acessam em si quando estão com as máscaras, em busca de uma conexão mais profunda no momento em que estão fazendo música. Daí ser um enigma”, despista.

Talvez, então, seja uma  narrativa. “Seria exatamente a busca desta conexão máxima, não racional, de entrega incondicional ao que a música está nos propondo no momento que a estamos vivenciando”, afirma Letieres.

Mais intuitivo do que técnico, portanto. Mais ligado às tradições africanas do que eurocêntricas, por dedução.

“É mais uma questão de consciência. Em geral, quando se estuda ritmo, você tem menos oferta de aprofundamento nas estruturas do que nas outras áreas de estudo musical, como harmonia e melodia”, diz.

“O fato de quase a totalidade dos gêneros da música popular ocidental (blues, samba, jazz, rock etc) terem suas origens fundamentadas nas músicas de matriz africana, mereceriam uma abordagem nos estudos e  academias de música, por exemplo, a partir da ótica destas culturas e não somente pela forma eurocêntrica”, exorta o maestro.

Seja lá o que for – ocidental ou africano, Enigma Lexeu é certamente um deleite aos apreciadores do jazz – ortodoxo ou de vanguarda.

Lançado o álbum hoje à noite, Letieres e o selo Rocinante (especializado em LPs de vinil) buscarão faze-lo circular Brasil e mundo afora.

Certamente, shows na Europa, Ameriocado Norte e Ásia não estão fora de cogitação. “A nossa gravadora Rocinante busca parcerias no exterior para distribuição, e as turnês e show são a consequência natural destes processos, quando começamos a tocar o formato do disco em algumas apresentações que fizemos no Rio (Blue Note) e em São Paulo (Casa de Francisca)”, conclui Letieres.


Letieres Leite Quinteto: O Enigma Lexeu / Show de lançamento / Hoje,  20 horas / Sala do Coro do Teatro Castro Alves / R$ 40 e R$ 20 / Vendas: Bilheteria TCA e Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br)

O Enigma Lexeu / Letieres Leite Quinteto / Rocinante / produção: Sylvio Fraga e Letieres Leite /  Nas plataformas digitais / Breve em LP e CD



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