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quinta-feira, março 14, 2019

AS CANÇÕES QUE HERBERT FEZ PRA MIM

Colegas de geração, Biquíni Cavadão presta um terno tributo ao líder do Paralamas no álbum Ilustre Guerreiro

Miguel Flores, Álvaro Birita, Bruno e Coelho, foto Vinícius Mochizuki
Um das bandas mais longevas de sua geração, o Biquíni Cavadão vem comendo pelas beiradas e formando público desde 1983

Ora nas paradas de sucesso, ora fora delas, construiu sua carreira em paralelo aos Paralamas do Sucesso, cujo líder eles agora homenageiam no álbum-tributo Ilustre Guerreiro, já disponível.

Com oito faixas, o CD tem o título inspirado no próprio nome do homenageado: Herbert, informa o material de divulgação, é palavra de origem germânica cuja tradução é justamente “ilustre guerreiro”.

É uma bela homenagem, que soa ainda mais sincera quando se sabe da antiga ligação entre o Paralama-mór e o Biquíni: o primeiro era namorado da irmã do vocalista Bruno Gouveia e, mais tarde, foi o próprio Herbert quem sugeriu o nome Biquíni Cavadão para a banda do amigo – entre vários outros detalhes que conectam ambos os grupos.

“Os Paralamas sempre nos inspiraram muito em suas atitudes profissionais. Com eles aprendemos muito sobre o respeito mútuo. Seus shows sempre foram uma grande referência para nós”, conta Bruno Gouveia, por email.

“Emoção e alegria tem que fazer parte de toda apresentação. Todo show tem que ser um momento de gratidão com nosso público. E finalmente, sempre acreditar na música, letra e melodia”, acrescenta.

No repertório, duas facetas do Herbert compositor foram contempladas: a do jovem descolado em sua fase inicial (Vital e Sua Moto, Ska) e o hitmaker romântico, poético, que toma o resto da obra com grandes sucessos: Mensagem de Amor, Cuide Bem do Seu Amor, O Amor Não Sabe Esperar, Se Eu Não Amasse Tanto Assim, Só Pra Te Mostrar e Aonde Quer Que Eu Vá.

Apesar da predominância das canções de amor, o álbum soa bem variado, com a abordagem de cada canção fugindo bastante das versões originais.

O caso mais óbvio é Se Eu Não Te Amasse..., que do mela-cueca original foi convertido em um rock quase pesado em tempo acelerado.

“A busca (na seleção do repertório) foi desde a memória afetiva, com as primeiras faixas, passando por uma tentativa de cobrir diversas fases, além de apresentar também o compositor Herbert que fez músicas para além de sua própria banda”, conta Bruno.

“Daí, escolhermos músicas gravadas por Daniela Mercury (Só Pra Te Mostrar) e Ivete Sangalo (Se Eu Não Te Amasse...). Mas tudo isso, dando a cara do Biquíni Cavadão para cada uma das faixas”, afirma.

Juntos desde 1983, foto Vinícius Mochizuki
Faltou o Herbert político

Se o lado romântico de Herbert ficou super bem-representado, uma outra importante faceta sua, a do cronista social contestador, foi deixada de lado.

Uma pena, ainda mais dados tanto a qualidade das suas canções “de protesto”, quanto o momento atual, que as pede desesperadamente.

Mas há que se entender as razões do Biquíni: “Não foi proposital, apenas não aconteceu. Algumas, como Alagados, consideramos impossível de recriar, perfeita em sua concepção. Outras foram menos votadas na nossa seleção. Nos casos de Selvagem e Perplexo havia o contexto da época que já se perdeu no tempo, como  a censura do filme Je Vous Salue Marie, de Jean-Luc Godard (citada) em Selvagem  ou o Plano Cruzado de  José Sarney em Perplexo”, considera Bruno.

“Num ambiente em que (já faz tempo)  os extremistas dão o tom em ambos os lados, ficou ainda mais difícil dar um viés político às músicas, já que a mentalidade hoje é totalmente binária. Ou é zero ou é um. A crítica deveria servir como reflexão, não como um posicionamento a favor desta ou daquela ideologia”, acrescenta, acertando na mosca.

Feitas as considerações, vale apreciar o esforço do quarteto, que produziu um álbum bem pop e dançante e que conseguiu estabelecer sua própria identidade em canções bem conhecidas pelo grande público.

Além dos experientes músicos, parte do mérito certamente cabe ao produtor do disco, ninguém menos que Liminha: “Gravar com Liminha foi suprir uma lacuna em nossa trajetória. Pelo fato de sermos uma banda sem baixista desde o ano 2000 (com a saída do membro fundador André Sheik), a participação dele como produtor se fez dentro da banda, assumindo as quatro cordas”, conta Bruno.

“Isso fez com que trocássemos constantemente de ideias no desenvolvimento dos arranjos. As ideias vieram de todos os lados, mas claro que ele nos deu ótimos rumos”, diz.

Amigos de longa data, os Paralamas já receberam seus CDs para apreciar a homenagem: “Sabemos que ele está com o álbum e soubemos que todos curtiram. Como ainda não nos encontramos, deixamos para conversar sobre isto mais tarde, quando for a ocasião, e não por Whatsapp  ou telefone”, diz Bruno.

Agora é aguardar a próxima visita do Biquíni à cidade para apreciar o novo show ao vivo: “Estamos sedentos de saudade de Salvador. Sempre tocamos no Nordeste mas nossa última apresentação por aí foi no réveillon de 2018. Queremos mais! Estamos ansiosos para voltar”, conclui.

Ilustre Guerreiro / Biquini Cavadão / Independente /  Produzido por Liminha / R$ 29,90 / www.lojabiquini.com.br

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