"Este seu olhar, quando encontra o meu, fala de coisas quem nem posso acreditar" |
Creed II, porém, acertou ao evitar o caminho mais fácil, optando por transformar o embate entre os filhos de Apollo Doutrinador Creed e Ivan Drago em uma jornada de autoconhecimento e superação do ódio.
Continuação de Creed (2015), que vem a ser uma continuação da franquia Rocky, de Sylvester Stallone, Creed II se conecta mais diretamente à Rocky IV (1985).
Neste filme, Apollo (Carl Weathers) é morto em pleno ringue por Ivan Drago (Dolph Lundgren), o super lutador soviético, então símbolo do regime “inimigo”, na época da Guerra Fria.
Stallone, com seu olhar de peixe morto e uma peruca invocada |
30 e poucos anos depois, Ivan Drago ressurge na Filadélfia (onde vive Rocky), acompanhado pelo filho, Viktor (o lutador romeno Florian Munteanu), para desafiar o herdeiro de Rocky e Apollo: Adonis Creed (a estrela em ascenção Michael B. Jordan).
O jovem lutador, claro, aceita o desafio. Como poderia recusar? É o filho do homem que matou seu pai ao vivo, diante das câmeras, dando a cara para bater (literalmente).
Conflito estabelecido, Creed busca Rocky, já aposentado, para treiná-lo. Rocky recusa e aconselha o jovem lutador a evitar a luta, já que há tanto sentimento envolvido.
Em meio a tudo isso, Bianca (Tessa Thompson), esposa de Adonis, aceita seu pedido de casamento e revela estar grávida. E quem quiser saber mais, que vá ao cinema.
Viktor e Ivan Drago: personagens de potencial, mas mal aproveitados |
Dirigido por Steven Caple Jr., Creed II está longe de ser um filme perfeito.
Para começar, a história da ruína de Ivan Drago e filho após a derrota para Rocky poderia ser bem melhor detalhada – daria um outro filme, praticamente.
Ivan, aliás, é tranquilamente o personagem mais subestimado e mal aproveitado pelo filme.
Quando o filme começa, Ivan e Viktor estão na Ucrânia dos dias de hoje. À medida que Viktor vai ganhando lutas, a elite russa volta a cortejar o velho lutador e seu filho.
Este, porém, demonstra imensa mágoa pela forma como seu pai foi escorraçado por esta mesma elite nos anos 1980.
Tessa Thompson, a Valquíria de Thor Ragnarok, é a esposa grávida e surda |
O drama da gravidez de Bianca, que é deficiente auditiva e teme que sua filha também seja, é apenas arranhado pela superfície.
A própria luta definitiva entre Adonis e Viktor, enfim, apesar de belamente filmada, é também resolvida de forma brusca e convencional.
Tudo isto leva a conclusão de que, na verdade, o maior adversário de Adonis em Creed II não é Viktor: é ele mesmo.
Ao encarar de frente o trauma da morte trágica do pai, Adonis – beneficiado pela boa atuação de Jordan, que não tem aquele eterno olhar de peixe morto de Stallone – cresce na tela, tornando-se um personagem de grande empatia junto ao público.
Creed dando marretada no deserto durante a inevitável "training montage" |
De alguma forma, porém, mesmo com todos os defeitos, Creed II acaba conquistando os espectadores, especialmente os que já são fãs da franquia, dada sua profunda conexão com a mitologia original: Apollo Creed, Viktor Drago, Rocky (e seu olhar bovino).
Mais do que mais uma vitória (banal) no ringue, o que vale é a jornada até ela.
Creed II / (Idem, 2019) / Dir.: Steven Caple Jr. / Com Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Sylvester Stallone, , Dolph Lundgren, Phylicia Rashad, Florian Munteanu / Cinemark, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, Mobi Cine Salvador, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela
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