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quarta-feira, dezembro 12, 2018

BAHIA DE TODOS OS SONS

Segunda edição do CMC Festival 2018 - Ciclo de Música Contemporânea traz à cidade artistas sonoros experimentais de diversas vertentes 

Arto Lindsay: parceria com Julien Desprez e Ilê Aiyê. Foto Anitta Boa Vida
Ao contrário do que muitos pensam, música, além de entretenimento e trilha sonora de balada, também é uma forma de arte – em múltiplas maneiras, plataformas e estilos.

A segunda edição do CMC Festival 2018 - Ciclo de Música Contemporânea pode ser uma boa introdução aos desavisados, além de ótima pedida aos apreciadores habituais.

“Esta edição foi possível graças aos apoios institucionais, trabalho que vimos construindo pacientemente há 3 anos. Além do Goethe Institut (Icba) que já é uma parceiro antigo, contamos com uma parceria direta com o Ministério da Cultura da França, via Coaxx Coletif (associação de músicos criativos, baseada em Paris, da qual Julien Desprez faz parte), conta Edbrass Brasil, coordenador e curador do CMC.

“Na linha dos apoios diretos destacamos o Pro-Helvetia (fundação suíça para a cultura), que possibilitou a vinda do Luca Forcucci, e o Teatro Vila Velha, além dos apoios dos programas de Residência Artística Vila Sul (Goethe Institut) e Instituto Sacatar, que viabilizou a vinda da Cara Stacey. Por outro lado, a falta de um patrocinador ainda persiste, mas acho que é uma questão de (pouco) tempo. A cada edição é um novo aprendizado e isso reflete também na composição da equipe, no trabalho de captação de recursos, etc. Continuamos trabalhando com uma ética colaborativa com outros produtores locais e do Brasil, artistas e técnicos, que acreditam e apostam no projeto, mas numa perspectiva de ampliarmos essa rede da música criativa na América Latina”, acrescenta.

Cara Stacey, da África do Sul: parceria com suíço Luca Forcucci
Este ano, tendo como tema a questão dos territórios, das fronteiras e  margens, o CMC traz em seus três dias (de hoje até sexta-feira) 14 artistas de destaque no cenário da música experimental mundial, que atuarão em seis concertos e outras atividades.

"Este ano ainda foi uma curadoria centralizada. A aposta em 'problematizar a questão dos territórios, das fronteiras, das margens, propondo um encontro entre as tradições e as vanguardas musicais, borrando distinções com outras pulsações' permitiu pensar a programação, menos focada em nomes, mas em duplas de atrações, que em alguns casos são abordagens diferentes do material sonoro", observa Edbrass.

Destaque para duas sessões do Painel dos Inventores, definido no material de divulgação do CMC como “um bate-papo performado sobre arte, ciência e tecnologias ligadas às práticas artísticas contemporâneas”. Os Paineis rolam amanhã e sexta-feira, das  17h às 19 horas, na Biblioteca do Icba - Goethe Institut.

Samy Ben Redjeb, foto Alexander Habermehl
"Os encontros acontecem dias 13 e 14, das 17 às 19 horas na Biblioteca do Goethe Institut e reunirão os artistas multimídias, inventores, programadores e pesquisadores Pedro Filho, Bruno Rohde, Glerm Soares e Victor Valentim, respectivamente, que compartilharão suas experiências e descobertas com o público. Resumindo, é um bate-papo sobre temas complexos de maneira acessível ao grande público. Cito como exemplo o tema explorado pelo artista e programador Bruno Rohde: 'ESMERIL (2018) é uma plataforma livre para criação, performance e distribuição musical - um aplicativo que reproduz músicas em formato aberto e permite uma nova experiencia de escuta interativa, com manipulação de parâmetros para criação em tempo real de novas composições. [ARRAST_VJ] (2017) é um software livre para criação e performance audiovisual, desenvolvido como ferramenta expressiva e didática em live cinema, vj, live visuals, video mapping, visual music, instalações e outras práticas", detalha.

Nos concertos e nos Paineis, artistas atuando solo ou em duo / grupo.

Um encontro que deve ser bastante curioso é o que une dois guitarristas: o norte-americano /  pernambucano Arto Lindsay e o francês Julien Desprez com Thiago Nassif e percussionistas do Ilê Aiyê – concerto que Edbrass vê como  simbólico deste CMC.

“A questão proposta na curadoria este ano vem a ser uma pergunta sobre qual seria o papel de um festival produzido na Bahia neste contexto global de ascensão de um pensamento nacionalista, territorial, avesso às diferenças e aos entrelaçamentos culturais que caracterizam a produção afro-diaspórica nas Américas”, diz.

Julien Desprez, da França, foto Alexia Allsaints
“Juntar um Mestre do Ilê Aiyê como o Mário Pam e mais oito percussionistas a dois expoentes (Lindsay e Desprez) da guitarra criativa experimental do cenário mundial, foi a nossa primeira tentativa de resposta”, afirma o produtor.

De fato, foi o encontro entre Lindsay, Desprez, Nassif e o Ilê um dos motores para a própria realização do festival este ano. ”Eu sou absolutamente fã do Arto, desde a época do No Wave (movimento de vanguarda dos anos 70) até os discos mais pops e atuais. A possibilidade de vê-lo junto com esses dois artistas luminosos, que são o Julien Desprez e o Thiago Nassif, impulsionou todo o trabalho destes meses”, conta.

E tudo começou com um telefonema inesperado: “Era o Thiago Nassif, dizendo que o Arto queria falar comigo. Levei um susto. AÍ fui informado que o Desprez faria uma turnê por São Paulo e Rio, e que eles prepararam um projeto especial para tocar exclusivamente em Salvador”, relata.

“De lá para cá, já se passaram seis meses e, não só o show, mas o festival tomou forma e cresceu muito nesse período”, acrescenta.

"O Ciclo de Música Contemporânea - CMC hospeda a residência artística de Julien Desprez, referência quando se fala em guitarra experimental na Europa. Na sua estadia em Salvador, está desenvolvendo pesquisas ligadas a gestualidade no samba de roda, percorrendo algumas cidades do recôncavo baiano, além de colaborar com músicos e outros agentes locais", conta Edbrass.

Resumo de três noites

João Meirelles e Bruno Abdala, foto Filipe Cartaxo
Em três noites de concertos, Edbrass tentou desenhar toda a diversidade trazida pelos diferentes artistas.

“Na primeira noite, unimos o experimentalismo com sintetizadores, uma proposta mais drone (estilo minimalista), ambiente do duo João Meirelles & Abdala, com um DJ especializado em música africana dos anos 70 e 80, Samy Ben Redjeb (selo Analog Africa), descreve Edbrass.

“Na segunda noite teremos um enfoque mais voltado para a experiência de som e projeção de imagens, aproximando-nos do universo do cinema expandido. É uma noite em que o público pode esperar um clima mais poético e imersivo. E o encerramento traz a participação de um dos nomes de destaque na cena experimental nordestina,  Eric Barbosa (CE), e o grande encontro da Noise Music com o Samba Reggae”, detalha.

CMC Festival 2018 - Ciclo de Música Contemporânea / De hoje até sexta-feira /  Teatro Vila Velha (Hoje) e Goethe Institut (amanhã e sexta) / R$ 30 e R$ 15/ vendas: Bilheterias TVV, Goethe Institut, Ingresso Rápido e Sympla / www.cmc2018.webnode.com

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