terça-feira, novembro 06, 2018

CAÇADOR DE CORRUPTOS PEGO COM MALA CHEIA DE CLICHÊS

Baseado em uma HQ nacional, O Doutrinador desperdiça oportunidade de fazer comentário realmente pertinente sobre o Brasil

"Os meus olhos coloridos me fazem refletir"
E eis que o Brasil, esse país que só vai pra frente, finalmente chega à era dos heróis dos quadrinhos no cinema. O Doutrinador, já em cartaz, é a adaptação de uma HQ independente de Luciano Cunha.

Essencialmente história de origem do personagem, ao filme se seguirá uma série de TV com mesmo elenco e equipe, em 2019, no canal Space.

Direto ao ponto: O Doutrinador é superficial de doer – mesmo para um filme de, digamos, “super-herói”.

Seu roteiro, que passou por nada menos que 14 mãos,  é problemático e crivado de clichês.

Seu protagonista surge praticamente do nada, em uma espécie de epifania no meio de uma situação tensa, de forma muito inverossímil – e ainda sofre pela pouca expressividade do ator que o encarna, Kiko Pissolato, uma espécie de Henry Cavill (ator do Superman mais recente) brasileiro: imponente e bonitão, mas com rosto de pedra,  sem nuances.

Mas  calma, não é um caso de perda total. A fotografia, que aproveita muito do caótico e luxuoso cenário urbano de São Paulo (embora a trama se passe numa tal de Santa Cruz) é sombria e colorida ao mesmo tempo, pertinente ao tema e  ao clima do filme.

As cenas de ação, quando se restringem a uma escala menor, também não ofendem, com lutas bem coreografadas e efeitos razoáveis.

O mesmo não se pode dizer de cenas em escala maior, as quais felizmente, são poucas.

A cena do auge final chega ser constrangedora, recorrendo a uma computação gráfica chinfrim digna de filmes classe Z americanos, daqueles que são lançados direto em DVD.

Contagem de clichês

"Nossa, que cassetete grande você tem"
De certa forma sintonizado com o momento brasileiro, O Doutrinador apresenta um herói  – vigilante mascarado é um termo mais adequado – dedicado a eliminar políticos corruptos.

Seu alter ego é Miguel, membro de um esquadrão de elite da Polícia Federal que – surpresa –, está investigando um gigantesco esquema de corrupção envolvendo políticos influentes (clichê 1, vá anotando), como o governador Sandro Correia (Du Moscovis no automático).

Separado e com uma filhinha, Miguel sofre, como todo herói, uma grande tragédia pessoal (clichê 2).

No trabalho, a investigação tem um revés e os políticos que Miguel tem certeza de que são culpados são liberados pela Justiça, enquanto sua força-tarefa é limada do caso (clichê 3).

Deprimido, Miguel se isola e sai para correr pela cidade de abrigo esportivo ouvindo rock pesado nos fones (clichê 4).

A partir daqui o filme se perde de vez, com o personagem “se descobrindo” um super combatente do crime com as mãos nuas, entrando e saindo de lugares vigiados sem entendermos como ou por que.

Assumida a identidade do vigilante, ele ainda encontra uma aliada na hacker-gatinha-punk (clichê 5) Nina  (Tainá Medina).

Conclusão: assista por sua própria conta e risco. E melhor sorte na série de TV.

O Doutrinador / Dir.: Gustavo Bonafé / Com Kiko Pissolato, Samuel de Assis, Tainá Medina, Eduardo Moscovis / Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinesercla Shopping Cajazeiras, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / 12 anos

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